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1 O Autor da Epístola Aos Hebreus Muito se tem especulado sobre o possível autor da Epístola aos Hebreus. São muitos os ministros que por força da tradição acreditam ser o apóstolo Paulo ao mencioná-lo em seus sermões como o seu legítimo autor; porém uma série de fatores contribuem para impossibilitar esta hipótese, uma vez que o estilo de linguagem e certas características que eram próprias do apóstolo estão ausentes nesta epístola. Diferente de todas as outras, o autor não se identifica e muito menos faz uma saudação como se vê em todas as epístolas paulinas, a despeito de notoriamente identificarmos para quem ela foi redigida, ou seja, para a nação de Israel. Entretanto, é da opinião da larga maioria que o seu autor pertenceu à escola paulina, daí o seu conteúdo possuir uma grande uniformidade com aquilo que Paulo ensinou em suas epístolas. Vejamos o que um especialista em linguagem bíblica disse sobre este assunto: Não se menciona o nome do autor. Com exceção da epístola aos Hebreus e da primeira epístola de João, todas as demais epístolas do Novo Testamento designam seu autor, seja pelo nome, seja pelo título. Desde o primeiro século, o problema da autoria da epístola aos Hebreus tem causado muita discussão. Várias são as respostas dadas pelos crentes da igreja primitiva. Na margem oriental do mar Mediterrâneo e perto de Alexandria atribui-se o livro a Paulo. Orígenes (anos 185-254 d.C.) considerava que os pensamentos do livro eram de Paulo, mas a linguagem e a composição pertencia a outrem. No norte da África, Tertuliano (155-225 d.C.) sustentava que Barnabé escreveu a epístola aos Hebreus. Embora a carta tenha sido conhecida primeiro em Roma e no Ocidente (I de Clemente, datada ao redor do ano 95 d.C. cita Hebreus com freqüência), a opinião unânime nesta região durante 200 anos foi que Paulo não escreveu a epístola aos Hebreus. Estes crentes da igreja primitiva não disseram quem, a seu ver, havia escrito a epístola. Simplesmente não o sabiam. Em nossos dias os crentes não devem ser dogmáticos acerca de um assunto mantido em dúvida durante tanto tempo. Todavia, os estudiosos das Sagradas Escrituras devem estudar o livro de Hebreus. Um cuidadoso exame do texto grego diz- nos muitas coisas sobre o autor. O livro está escrito num grego brilhante, da pena de um escritor eloqüente. Não se parece, pois, com o estilo de Paulo. Com freqüência, o apóstolo Paulo segue o fio de um novo pensamento antes de haver finalizado o anterior. O escritor da epístola aos Hebreus nunca segue esse processo. O vocabulário, as figuras de dicção e de pensamento apontam a influência alexandrina e filônica (Filo, 20 a.C. a 50 ou 60 d.C.). Paulo não tem essa origem intelectual. O escritor da carta aos Hebreus cita o Antigo Testamento diferentemente de Paulo. Frases de Paulo "como está escrito", "a Escritura diz", "boas novas da vossa fé e amor" nunca se encontram na epístola aos Hebreus, embora o escritor cite com profusão o Antigo Testamento. Não sendo Paulo o autor, quem será? Apolo parece preencher as condições que se encontram no livro. Vinha de Alexandria. Era homem eloqüente e instruído. Era poderoso nas Escrituras Sagradas. As seguintes passagens do Novo Testamento falam-nos de Apolo: Atos 18:24-28; 19:1; I Coríntios 1:12, 3:4-6, 22; 4:6; 16:12; Tito 3:13. É provável que nunca venhamos a estar seguros do nome do autor; se, porém, lermos a epístola com cuidado, chegaremos a conhecê-lo. A data mais aceita para a escritura desta epístola oscila entre os anos 68 e 70 d.C.. A. Berkeley Mickelsen Doutor em Filosofia e Letras

O Autor da Epístola Aos Hebreus

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Um Texto esclarecendo que o apóstolo Paulo não pode ser o autor da epístola aos Hebreus

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O Autor da Epístola Aos Hebreus

Muito se tem especulado sobre o possível autor da Epístola aos Hebreus. São muitos os ministros que por força da tradição acreditam ser o apóstolo Paulo ao mencioná-lo em seus sermões como o seu legítimo autor; porém uma série de fatores contribuem para impossibilitar esta hipótese, uma vez que o estilo de linguagem e certas características que eram próprias do apóstolo estão ausentes nesta epístola. Diferente de todas as outras, o autor não se identifica e muito menos faz uma saudação como se vê em todas as epístolas paulinas, a despeito de notoriamente identificarmos para quem ela foi redigida, ou seja, para a nação de Israel. Entretanto, é da opinião da larga maioria que o seu autor pertenceu à escola paulina, daí o seu conteúdo possuir uma grande uniformidade com aquilo que Paulo ensinou em suas epístolas.

Vejamos o que um especialista em linguagem bíblica disse sobre este assunto:

Não se menciona o nome do autor. Com exceção da epístola aos Hebreus e da primeira epístola de João, todas as demais epístolas do Novo Testamento designam seu autor, seja pelo nome, seja pelo título.

Desde o primeiro século, o problema da autoria da epístola aos Hebreus tem causado muita discussão. Várias são as respostas dadas pelos crentes da igreja primitiva. Na margem oriental do mar Mediterrâneo e perto de Alexandria atribui-se o livro a Paulo. Orígenes (anos 185-254 d.C.) considerava que os pensamentos do livro eram de Paulo, mas a linguagem e a composição pertencia a outrem. No norte da África, Tertuliano (155-225 d.C.) sustentava que Barnabé escreveu a epístola aos Hebreus. Embora a carta tenha sido conhecida primeiro em Roma e no Ocidente (I de Clemente, datada ao redor do ano 95 d.C. cita Hebreus com freqüência), a opinião unânime nesta região durante 200 anos foi que Paulo não escreveu a epístola aos Hebreus. Estes crentes da igreja primitiva não disseram quem, a seu ver, havia escrito a epístola. Simplesmente não o sabiam.

Em nossos dias os crentes não devem ser dogmáticos acerca de um assunto mantido em dúvida durante tanto tempo. Todavia, os estudiosos das Sagradas Escrituras devem estudar o livro de Hebreus. Um cuidadoso exame do texto grego diz-nos muitas coisas sobre o autor. O livro está escrito num grego brilhante, da pena de um escritor eloqüente. Não se parece, pois, com o estilo de Paulo. Com freqüência, o apóstolo Paulo segue o fio de um novo pensamento antes de haver finalizado o anterior. O escritor da epístola aos Hebreus nunca segue esse processo. O vocabulário, as figuras de dicção e de pensamento apontam a influência alexandrina e filônica (Filo, 20 a.C. a 50 ou 60 d.C.). Paulo não tem essa origem intelectual. O escritor da carta aos Hebreus cita o Antigo Testamento diferentemente de Paulo. Frases de Paulo "como está escrito", "a Escritura diz", "boas novas da vossa fé e amor" nunca se encontram na epístola aos Hebreus, embora o escritor cite com profusão o Antigo Testamento.

Não sendo Paulo o autor, quem será? Apolo parece preencher as condições que se encontram no livro. Vinha de Alexandria. Era homem eloqüente e instruído. Era poderoso nas Escrituras Sagradas. As seguintes passagens do Novo Testamento falam-nos de Apolo: Atos 18:24-28; 19:1; I Coríntios 1:12, 3:4-6, 22; 4:6; 16:12; Tito 3:13. É provável que nunca venhamos a estar seguros do nome do autor; se, porém, lermos a epístola com cuidado, chegaremos a conhecê-lo.

A data mais aceita para a escritura desta epístola oscila entre os anos 68 e 70 d.C..

A. Berkeley Mickelsen Doutor em Filosofia e Letras

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E por último, a fim de complementar os esclarecimentos prestados pelo Prof. Mickelsen, quero também deixar aqui registrado as palavras do Prof. Donald D. Turner, encontradas na introdução de seu livro: “Uma Exposição da Epístola aos Hebreus”:

Muitos nomes tem sido sugeridos em relação à paternidade literária desta carta,

entre os quais, em geral, se incluem os de Paulo, Lucas, Barnabé, Priscila e Áquila, Clemente de Roma e Apolo. Em vez de ser dogmáticos a isto, a maioria dos eruditos se contentam em dizer com Orígenes: “Quem escreveu a Epístola? Só Deus o sabe com certeza”.

Um exame cuidadoso do conteúdo da Epístola ensina algo do autor: a pessoa que a escreveu devia conhecer a história dos judeus e estar familiarizado com o seu sistema de adoração. Isto nos leva a dizer que o autor era possivelmente da linhagem judaica. Poderíamos passar muito tempo na apresentação dos argumentos que favorecem cada sugestão de autoria, mas tal discussão não é necessária neste estudo. Aqui apresentaremos um breve resumo das sugestões mais proeminentes.

Desafortunadamente, a igreja primitiva não demonstrou unanimidade nas suas conjeturas referentes ao autor de Hebreus. Em Roma considerava-se Paulo como o autor; em Alexandria sustentava-se opinião oposta, e em outras partes do Norte da África Barnabé era reconhecido como o autor.

Encontramos a Epístola pela primeira vez, nas vizinhanças de Roma. Clemente de Roma a usa com freqüência por volta do ano 96 d. C. Não menciona o nome do autor. No fragmento Muratoriano, da última parte do século II, declara-se que Paulo escreveu treze epístolas e omite-se a de Hebreus. Irineu, no princípio do século III, menciona doze das epístolas de Paulo, todas menos a de Filemom, e também não menciona a de Hebreus. De igual maneira, Hipólito, bispo de Roma no final do mesmo século, afirma que não reconhece Paulo como o autor de Hebreus.

As razões propostas contra a paternidade literária de Paulo são as seguintes: 1) O autor de Hebreus não menciona o seu nome, enquanto que Paulo sempre o

faz nas epístolas que se reconhecem como escritas por ele; 2) A frase que encontramos em Hebreus 2:3: “Como escaparemos nós, se não

atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram”, dá a entender que o autor ouviu o Evangelho de outros, mas Paulo declara a sua independência do homem na sua mensagem de Gálatas 1:11-24;

3) O autor de Hebreus sempre usa a Septuaginta, talvez com uma única exceção, enquanto que Paulo usa tanto o texto hebraico como o da Septuaginta;

4) O estilo e vocabulário de Hebreus são argumentos contra a paternidade literária de Paulo.

Embora estas considerações não sejam suficientes para refutar os argumentos a favor de Paulo, parece que nos conduzem nessa direção.

Tertuliano, por volta do ano 160 d.C., sugeriu em seus escritos o nome de Barnabé. A sua opinião representava a do Norte da África. O argumento a favor de Barnabé se associa com a epístola que leva o seu nome, e que se assemelha à de hebreus em vários aspectos. Porém, sabe-se que a mencionada epístola de barnabé é espúria. Além disso, se Barnabé fosse o autor de Hebreus, é sumamente estranho que o seu nome seja sugerido apenas no Norte da África nos tempos primitivos.

Em Alexandria encontramos outra opinião: Clemente de Alexandria aceitava a paternidade literária de Paulo, afirmando que a epístola foi escrita por Paulo em hebraico, e logo traduzida para o grego por Lucas. Esta seria a razão da diferença de estilo e vocabulário entre esta epístola e as demais escritas por Paulo. Clemente sugeriu que Paulo não escreveu o seu nome no cabeçalho da epístola, porque os hebreus tinham preconceitos contra ele, e se estes vissem o seu nome na epístola, não a leriam.

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Desde o segundo século tem havido algumas pessoas que atribuem a paternidade literária da Epístola de Lucas. O argumento mais aceitável em relação a esta opinião, é que o estilo e o vocabulário do Evangelho de Lucas e do Livro de Atos, são muito semelhantes ao que encontramos em Hebreus. Não podemos aceitar o raciocínio de Clemente de Roma, que vê aqui uma tradução do hebraico, porque o grego da epístola se escoa suavemente através da carta, e não mostra sinal algum de ser uma tradução. Contudo, ao considerar a experiência de Lucas, o seu companheirismo com o apóstolo Paulo, e sua cultura, é bem possível que Lucas tivesse escrito depois de ter aprendido de Paulo algo acerca dos costumes judaicos, porque os dois viajaram juntos durante vários anos. Há uma coisa, porém, que se apresenta como problema, se quisermos afirmar a paternidade literária de Lucas. Quando ele a escreveu? Se a carta foi escrita em Roma, precisamos crer que ele a escreveu durante o encarceramento de Paulo, e se é assim, porque ele não menciona o nome de Paulo?

Resta considerar uma conjetura, não porque ela tenha o apoio dos pais da igreja, mas porque parece ser lógica. Esta foi proposta pela primeira vez por Lutero, e desde então, muitos se simpatizam com a opinião. Lutero sugeriu o nome de Apolo. A única base da sua conjetura é a breve descrição de Apolo no Novo testamento, especialmente a referência de Atos 18:24: “E chegou a Éfeso um certo judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloqüente e poderoso nas Escrituras”. As características de Apolo são demonstradas pelo escritor de Hebreus. É quase certa que a carta foi escrita por um judeu, um homem culto, que tinha profundo conhecimento das Escrituras.

Apesar de não poder dogmatizar quanto à paternidade literária de Hebreus, devemos mencionar que a canonicidade da carta foi estabelecida independentemente das dúvidas quanto à sua autoria. Não há dúvida quanto a sua inspiração divina. A respeito disso, estamos de acordo com B. F. Westcott, que disse:

“Se afirmamos que o julgamento do Espírito se manifesta através do conhecimento da sociedade cristã, nenhum livro da Bíblia é mais reconhecido pelo consenso universal como apresentador de uma perspectiva divina dos fatos do Evangelho, cheio de lições para todas as épocas, do que a Epístola aos Hebreus”. (The Epistle to the Hebrews, p.lxxi).

“Exposição da Epístola Aos Hebreus” – Dr. D. D. Turner – Editora Batista Regular.

Pesquisa: Diógenes Dornelles

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