Upload
others
View
3
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 666
O BAIRRO, A FÁBRICA E A ESCOLA: A RESSIGNIFICAÇÃO DE UM ESPAÇO PÚBLICO PELA INSTALAÇÃO DO COLÉGIO PEDRO II EM REALENGO
Daniel Vilaça dos Santos1
Desde as últimas três décadas, a História da Educação como campo de estudos e
pesquisas espelha uma intensa dinâmica de revisão diametral. Tal inclinação revisionista traz
assertividade à produção do campo no que se refere à renovação de suas filiações, pertenças e
critérios de inteligibilidade: despontam novos loci discursivos, objetos e fontes de pesquisa
alinhados a perspectivas historiográficas precisas (NÓVOA, 1996; FALCON, 2006; GATTI
JÚNIOR, 2007). Dentre essas perspectivas, destaca-se uma tendência histórico-cultural
(XAVIER, 2011, 20; 33-37) que decorre da École des Annales, assimilando-lhe o
comprometimento com uma historiografia que se interessa por aspectos econômicos,
culturais e geográficos do escopo social.
O influxo da referida tendência pluraliza o campo empírico. Busca-se a não
homogeneização de sujeitos, ações e processos passados para que se consiga compreender a
sua complexidade. A orientação macroestrutural da dinâmica prevalecente é contestada, o
que implica no desinteresse pela problematização de processos educativos como se os
mesmos reproduzissem pari passu as conjunturas políticas e sociais que os precedessem e
cercassem. Desfralda-se a cena escolar de outras épocas, de modo que temáticas até então
intocadas são transformadas em objetos de operação historiográfica. É o caso da cultura e do
cotidiano escolares, da organização e do funcionamento interno das escolas, da construção do
conhecimento escolar, dos componentes curriculares, dos sujeitos educacionais (corpos
diretivo, docente, discente e técnico-administrativo), da imprensa pedagógica, dos livros
didáticos e toda a sorte de elementos materiais arrolados pelo ensino-aprendizagem (peças
de mobília, uniformes, cadernos, cadernetas de frequência, diários de classe, fichas de
registros de assentamentos, entre outros).
Em meio às temáticas supracitadas, identifica-se um relevante interesse pelo exame da
história das instituições educativas por sua simbologia, ideologia e materialidade, o que
suscita a constituição de um domínio específico no âmbito da História da Educação em seu
processo de renovação como campo de pesquisa. O importante desenvolvimento desse
1 Colégio Pedro II/ PPGE-UFRJ.
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 667
domínio corrobora para a investigação de especificidades de fenômenos educativos
circunscritos ao perímetro de diferentes regiões, cidades e municípios. Nessa direção, Werle,
Britto e Colau (2007, p. 148) afirmam que o investimento na “história das instituições
escolares [...] fomenta uma renovação metodológica e teórica ao instigar trabalhos que
discutem as relações dialéticas entre o universal e o particular”. No que concerne à
constituição de conhecimento histórico-crítico, Gatti Júnior (2007) dialoga com Magalhães
(1996) e esclarece que a riqueza dessa temática reside em sua capacidade de subsidiar e
patentear a identidade histórica específica de uma dada instituição escolar:
compreender e explicar a existência histórica de uma instituição educativa é, sem deixar de integrá-la na realidade mais ampla que é o sistema educativo, contextualizá-la, implicando-a no quadro de evolução de uma comunidade e de uma região, é por fim sistematizar e (re)escrever-lhe o itinerário de vida na sua multidimensionalidade, conferindo um sentido histórico (GATTI JÚNIOR, 2007, p. 183).
Ao comungar dessas ideias, este trabalho segue o lastro da matriz interpretativa de
cunho histórico-cultural e admite que estudos inscritos no perímetro da História das
Instituições Educativas não podem passar ao largo das orientações acima. Nesse sentido, este
texto propõe-se a refletir a respeito da criação de uma unidade do Colégio Pedro II (CPII) no
bairro de Realengo, na Zona Oeste do Município do Rio de Janeiro, entre os anos de 2001 e
2008. Ele é dividido em duas partes. Na primeira, apresenta-se o histórico da implantação da
unidade de ensino como uma iniciativa de um movimento de moradores do bairro e cercanias
para o reaproveitamento das instalações de uma fábrica desativada. Na segunda parte,
examina-se a configuração bairro/fábrica/escola, por intermédio da análise documental
(FARIA FILHO, 1998) e iconográfica (MAUAD, 2004) que apresenta os elementos
necessários para uma possível compreensão a respeito da transformação da fábrica em
escola. Para tanto, são mobilizados os conceitos de espaço, lugar, bairro e região (CERTEAU,
2013; 2014).
Um projeto de escola para uma região
A “pré-história” da efetiva instalação do Colégio Pedro II em Realengo toma fôlego no
ano de 2001, por uma iniciativa capitaneada por moradores de seu bairro-sede e suas
cercanias. O referido preâmbulo é desencadeado no mês de junho, no momento em que um
grupo de indivíduos decide procurar o CPII, em uma de suas unidades no bairro de São
Cristóvão, na Zona Central, munido da intenção de reaproveitar uma área de
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 668
aproximadamente 55.000 metros quadrados em seu bairro para a abertura de uma nova
unidade de ensino.
O referido intento vem no bojo de um plano de correção de uma expressiva debilidade
concernente à oferta de matrículas públicas de Ensino Médio, assim como para o
beneficiamento de um espaço público que se encontrava ocioso e abandonado há 24 anos, à
época. A notória necessidade de ampliar o número de matrículas públicas estava respaldada
em um levantamento entabulado por um movimento de natureza associativa, com o
propósito de atrair educação gratuita e de qualidade para os filhos da região.
Surgido em 08/08/1983, em um Brasil que se empenhava para a implementação da
democracia e do estado de direito, tal agrupamento é denominado “Movimento Pró-Escola
Técnica em Realengo” (RODRIGUES, 2012). O nome do movimento revela uma opção inicial
pelo estabelecimento de uma instituição escolar secundária que estivesse voltada para a
formação profissional e, por decorrência, para a integração de seus concluintes no mercado
de trabalho. De fato, essa foi, por vários anos, a principal demanda do movimento junto às
autoridades competentes. Entretanto, como se visse cada vez mais distante do resultado
esperado, o movimento decide reordenar seus dispositivos para que suas formas de
sociabilidade (CHARTIER, 1991) fossem renovadas pela interlocução com uma escola de
tradição pronunciada.
Assim é que a região de Realengo atinge o CPII, fato que se deve não apenas aos seus
resultados de excelência, mas, sobretudo, ao estofo histórico que a mesma soube incrustar
como ponto de referência na memória dessa coletividade (POLLAK, 1989). O CPII vem a ser
a primeira instituição de ensino secundário a ser estruturada no Brasil. O CPII foi fundado há
mais de um século e meio sob a insígnia de instituição modelar, inspirada na educação
clássica francesa, como parte de um amplo projeto civilizatório que consistia em reunir e
formar as elites, além de orientar a estruturação de seus congêneres em todo o país
(NEEDELL, 1993; CUNHA JUNIOR, 2008). O projeto de escola para a Zona Oeste baseia-se,
portanto, em uma tradição inventada (HOBSBAWM, 2006, p. 9), que é endossada ano após
ano quer por quem configura o CPII, quer por quem deseja fazer parte dessa configuração
(ELIAS, 2008).
Para além do reconhecimento do valor propositivo da educação, o empenho do
“Movimento Pró-Escola Técnica em Realengo” revela também seu intuito de ressignificar
parte da história e da identidade do bairro de Realengo e adjacências. Essa região deve parte
de sua estruturação e aparelhamento à tradição de sediar aquartelamentos e instituições
militares, tradição essa que se constitui a partir de 1850. A área ociosa que se deseja
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 669
reaproveitar encerra um interesse que remonta aos primórdios da fabricação de pólvora e
artefatos bélicos no Brasil, no século XIX (VIANA, 2010; 2016).
O espaço dotado de potencial transformador é parte da Fábrica de Cartuchos do
Exército (doravante FCE), um conjunto de prédios cuja pedra fundamental é lançada em
1874, em uma cerimônia que conta com a presença de D. Pedro II, o Imperador do Brasil.
Vinte e três anos depois, os geradores da FCE, já a pleno vapor, possibilitam a instalação de
iluminação elétrica em sua circunvizinhança, em parte delineada pelo Exército para abrigar o
efetivo da fábrica. Tamanha realização, quase uma interpresa, representa uma importante
inovação para a época, mormente para a tão distante região do centro do Rio de Janeiro,
outrora chamada de “sertão carioca” (VIANA, 2010; 2016).
Abandonada desde sua extinção no final dos anos de 1970, a FCE adorna-se de práticas
não reconhecidas por seus arredores, tendo em vista a instabilidade que as mesmas geram
para a circulação de moradores e transeuntes, principalmente quando crianças e jovens.
Pode-se afirmar que também aí reside o ímpeto de ressignificação que mobiliza a
comunidade. Constatada a intranquilidade, o “Movimento Pró-Escola Técnica em Realengo”
une-se a lideranças políticas locais e, por esse viés, conquista a positivação do tombamento2
do espaço da fábrica como patrimônio histórico. Na sequência, diligencia igualmente a
legalização da conversão da fábrica para finalidades de ensino, o que dissolve as especulações
comerciais e imobiliárias que rondam o espaço abandonado (HALAC, 2010?).
A ideia de abrir uma nova unidade é amadurecida por dois anos pela Direção Geral do
CPII, sendo a sua assimilação creditada igualmente a um desejo de ressignificação. O intento
dos moradores da Zona Oeste encontra o CPII sob certa estagnação, fruto de alguns anos de
políticas educativas de pouca envergadura. Por estagnação, entenda-se a insuficiência de
recursos materiais e humanos, traduzida em importantes perdas didático-pedagógicas.
Nesse contexto, infere-se que expandir a rede de unidades pode suscitar a visibilidade
necessária à dissolução do problemático quadro de estagnação. Essa previsão, por sinal, é
proveniente de uma meta formulada no final dos anos de 1980, como parte de um plano
diretor de longo prazo, cujo lema era “O Futuro Velho Colégio Pedro II”. Além de oxigenar as
atividades de ensino, esse plano sugere que a instituição diversifique seu espectro de ação,
debruçando-se de modo mais assertivo sobre atividades de pesquisa, extensão e cultura
(CHOERI, 20?). A criação de uma unidade em uma região menos privilegiada do Rio de
2 Lei Municipal nº 1.962, de 04 de maio de 1993, ratificada pelo Decreto Municipal nº 13.679, de 15 de fevereiro de 1995.
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 670
Janeiro passa, então, a ser vista como uma espécie de êmbolo propulsor da dimensão que
pode capacitar o colégio a enfrentar os desafios postos pelos próximos séculos.
Com efeito, o espaço destinado ao projeto de nova unidade de Realengo apresenta as
características necessárias para transformar o “velho CPII” em um “colégio do futuro”. Além
da iniciativa popular e da importância histórica da FCE, a conjuntura recém-formada na
esfera federal é favorável à ratificação dos esforços empreendidos por esse projeto, pelas
medidas que se visa empreender em prol da melhoria da qualidade da educação e da
equalização de oportunidades de desenvolvimento econômico, social e cultural. A partir dessa
linha de raciocínio, a Direção Geral do CPII decide transigir em favor de sua expansão,
independentemente da discordância de parte de sua comunidade, que reclama a correção de
distorções no aparelhamento da rede já existente.
Sem poder fazer jus às primeiras ações do governo federal, que visam à inserção de
jovens e adultos no mercado de trabalho pela educação tecnológica, a Unidade Experimental
de Realengo é levada a efeito por intermédio de um convênio com a Secretaria Municipal de
Educação. De modo geral, esse convênio prevê que a Prefeitura revitalize as ruínas da FCE ‒ a
essa altura já incorporada ao patrimônio do CPII ‒, e que 50% das vagas do concurso de
alunos sejam reservadas para candidatos da rede municipal. Nesses termos, a unidade
começa a funcionar de forma improvisada no prédio da Escola Municipal Gil Vicente, situada
a 700m3 da entrada principal da FCE, exatamente na mesma rua
4, no dia 06 de abril de
2004, no terceiro turno, com 186 alunos divididos em 06 turmas de primeira série do Ensino
Médio. Esse contingente é atingido após a realização de um certame extemporâneo e especial,
o qual reúne vinte questões objetivas sobre conteúdos de Língua Portuguesa e de Matemática
(HALAC, 2010?).
Contudo, ao final de 2004 a Prefeitura opta por descontinuar o sobredito convênio. Em
contrapartida, os moradores de Realengo solicitam que o colégio abra turmas em horário
diurno. Ainda sem uma sede e sob o risco de encerrar suas atividades, a unidade aloja-se por
um ano no centro comunitário da Paróquia São José, situado no bairro circunvizinho de
Magalhães Bastos. Em nova estrutura improvisada, a unidade aumenta seu efetivo, mantém
o curso noturno e implanta o turno vespertino (HALAC, 2010?).
Em 2006, a unidade inicia o ano letivo já no local da antiga FCE. Um terço do espaço é
restaurado com fundos de concursos. O espaço agora acomoda um pavilhão de salas de aula e
3 Distância percorrida a pé, de acordo com o aplicativo Google Maps.
4 Assinale-se, a título de ilustração, que esta rua leva o nome de Bernardo Pereira de Vasconcellos, Ministro do Império e
autor do projeto que cria o Imperial Collegio de Pedro II pelo Decreto de 02/12/1837 (CUNHA JUNIOR, 2008).
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 671
setores administrativos, duas quadras de esportes e um centro de inclusão digital, com
atividades e serviços para a região. Em setembro daquele ano, o curso noturno da Unidade
Realengo volta-se para a chamada “Educação Profissional Integrada com o Ensino Médio na
Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA)”, com três turmas de um curso
técnico em manutenção e suporte em informática. No ano seguinte, dá-se a inauguração do
espaço pelo Presidente da República e sua comitiva. O projeto apresentado ecoa nas
tratativas federais, gerando em 2008 um termo de cooperação com o Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE) (RODRIGUES, 2012). Aí está o epicentro do “Futuro
Velho Colégio Pedro II”.
O Colégio Pedro II de Realengo e a ressignificação de um espaço público
Na pesquisa acerca das instituições escolares, o espaço físico ocupado pelas escolas
constitui uma categoria analítica indispensável à composição do historial de uma dada
instituição. Do ponto de vista epistemológico, a base material mostra-se como reveladora do
funcionamento sistemático da escola e como tradutora reflexiva de práticas pedagógicas e
disciplinares. Dessarte, o espaço é parte constituinte do sentido e da identidade da escola
(FARIA FILHO, 1998; ESCOLANO, 2000; WERLE, BRITTO, COLAU, 2007).
No que concerne ao processo de instalação do CPII no bairro de Realengo, a
importância do espaço emerge de um jogo de inter-relações (ELIAS, 2008) que conforma a
identidade histórica da referida instituição. A principal chave de leitura da identidade
histórica do CPII de Realengo está na transformação de parte do espaço de uma fábrica
abandonada em uma escola, pela mobilização dos moradores da região. Então, tem-se um
conjunto de relações sociais que instauram a base material do CPII de Realengo. Entre os
pilares de sustentação dessa base estão um bairro, uma fábrica e uma escola específica, de
tradição pronunciada e resultados de excelência. Para a noção de bairro, parte-se dos
propósitos de Certeau (2013, p. 41-42):
[o] bairro surge como o domínio onde a relação espaço/tempo é a mais favorável para um usuário que deseja deslocar-se por ele a pé saindo de sua casa. Por conseguinte, é o pedaço de cidade atravessado por um limite distinguindo o espaço privado do espaço público: é o que resulta de uma caminhada, da sucessão de passos numa calçada, pouco a pouco significada pelo seu vínculo orgânico com a residência. [...] O bairro é uma noção dinâmica, que necessita de uma progressiva aprendizagem, que vai progredindo mediante a repetição do engajamento do corpo do usuário no espaço público até exercer aí uma apropriação. [...] Pelo fato do seu uso habitual, o bairro pode ser considerado como a privatização progressiva do espaço público. (Grifos do autor) (CERTEAU, 2013, p. 41-42)
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 672
Por essa ótica, interprete-se a constituição de associação para reivindicar a abertura de
uma escola como a síntese do sobredito vínculo orgânico, do qual decorre o desmonte do
arquétipo militar que tipifica o bairro. O próprio nome dessa associação, “Movimento Pró-
Escola Técnica”, denota a organicidade intrínseca à noção de bairro. Dessa organicidade
advêm a prática, a chamada aprendizagem progressiva, a assimilação ideológica de uma
escola dita “de elite”, o CPII, bem como a proposta de reuso de um espaço belicista
abandonado, a fábrica. A reunião desses elementos aflui para a apropriação de Realengo e
suas cercanias como espaços sociais. Assim, o efetivo reuso da fábrica pelo CPII, tornado
habitual a partir de 2006, propicia a gradativa privatização desse espaço público.
A visão de Certeau sobre a noção de região também elucida a narrativa referente à
história do CPII de Realengo. Cite-se, pois que uma região é “um encontro entre programas
de ação. A ‘região’ vem a ser portanto o espaço criado por uma interação” (CERTEAU, 2014,
p. 194). A história da criação da Unidade de Realengo do CPII é efetivamente composta de
um encontro de programas de ação: as medidas empreendidas pelos moradores e o projeto
de expansão do CPII são dois vértices que se entrelaçam, coadunando-se espontaneamente
com os investimentos do Governo Federal em prol da equalização do acesso à educação
básica. O resultado dessa interação é a remodelação das instalações da antiga FCE, agora
convertida em escola.
No âmago do programa de ação do “Movimento Pró-Escola Técnica”, encontram-se
duas proeminentes conquistas no que tange à ressignificação do espaço da fábrica desativada.
Imbuído do “princípio da eficácia da palavra” (BOURDIEU, 1996, p. 87), o Movimento dá
partida no processo de positivação do tombamento do espaço da fábrica como patrimônio
histórico; é o primeiro grande passo para a salvaguarda desse espaço como um genuíno
ponto de referência da memória histórica de Realengo. Contudo, é a legalização da conversão
da fábrica para finalidades de ensino, conquistada dois anos mais tarde, que proporciona a
estabilidade necessária à continuidade do programa de ação do Movimento. A firma se
concretiza com a criação da nova unidade do CPII.
Destaque-se o segundo e o sétimo parágrafos do Decreto Municipal nº 13.679, de 15 de
fevereiro de 1995:
CONSIDERANDO que a Lei Municipal n° 1.962/93, como manifestação de interesse do Poder Legislativo em matéria de exclusiva competência administrativa, indicou o Prédio da Fábrica de Cartuchos como digno na opinião da Câmara, da proteção do tombamento;
[...]
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 673
CONSIDERANDO o compromisso das autoridades militares em destinar parcela de seu complexo imobiliário para o atendimento da comunidade local, a qual pretende a construção de escola Técnica Federal na região [...].5
A letra fria do trecho do Decreto não reverbera o percurso do movimento associativo de
Realengo, ainda que a comunidade local tenha sido textualmente citada e seu intento tenha
sido concretizado com a criação de uma escola — nesse caso, uma nova unidade do CPII, com
finalidade propedêutica, e não uma escola de formação técnica. Isoladas, tanto a lei que
dispõe sobre o tombamento das instalações da fábrica, quanto o decreto que a ratifica
encerram normativas para o ordenamento do cotidiano de um grupo social em suas
idiossincrasias. Para que esses documentos integrem o relato sobre a identidade histórica do
CPII de Realengo, é preciso que eles sejam tomados não apenas por sua textualidade jurídica,
mas principalmente por seu sentido social, histórico e cultural. Segundo Faria Filho (1998, p.
106), importa tomar
[...] a lei como prática ordenadora e instituidora, voltada para as relações sociais. Aqui destaco tanto o caráter de intervenção social subjacente à produção e realização da legislação [...], quanto o fato de ser a legislação, em seus diversos momentos e movimentos, lugar de expressão e construção de conflitos e lutas sociais. (FARIA FILHO, 1998, p. 106)
Acrescente-se, ainda conforme Faria Filho (1998, p. 111), que “a natureza [desses]
documentos [implica] [...] a necessidade de referi-los constantemente ao lugar a partir do
qual são produzidos” (Grifo nosso). É da candência de seu contexto de produção que o
documento escrito emerge como um construto da lógica da vida. Posto isso, a lei do
tombamento e o decreto que assegura a conversão da fábrica em escola podem são como
casas de um jogo de tabuleiro, cujos peões ou pedestres são os membros do Movimento Pró-
Escola Técnica, os porta-vozes dos moradores do bairro de Realengo e cercanias. À medida
que os peões se movimentam, eles constroem seu espaço no interior do jogo. Certeau
compara esse processo de formação da espacialidade ao ato de falar:
Os jogos dos passos moldam espaços. [...] as motricidades dos pedestres [...] espacializam. [...] O ato de caminhar está para o sistema urbano como a enunciação [...] está para a língua ou para os enunciados proferidos. [...] é um processo de apropriação do sistema topográfico pelo pedestre [...]; é uma realização espacial do lugar. (CERTEAU, 2014, p. 163; 164, grifos do autor)
Nessa direção, a apropriação do lugar da antiga fábrica militar molda o espaço que
abriga do CPII de Realengo. Essa lógica fortalece a assertiva segundo a qual o entroncamento
5 RIO DE JANEIRO. Decreto Municipal nº 13.679, 15 fev. 1995. Dispõe sobre o tombamento do corpo principal da
Fábrica de Cartuchos do Exército. Disponível em <http://www.rio.rj.gov.br/>.
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 674
entre o programa de ação da comunidade da Zona Oeste do Rio de Janeiro e o programa de
intencionalidades do CPII reelabora a espacialidade do lugar da fábrica desativada. Tal
entroncamento corrobora a distinção entre “espaços” e “lugares” elaborada por Certeau
(2014, p. 184):
Um lugar é a ordem (seja qual for) segundo a qual se distribuem elementos nas relações de coexistência. Aí se acha portanto excluída a possibilidade, para duas coisas, de ocuparem o mesmo lugar. Aí impera a lei do ‘próprio’: os elementos considerados se acham uns ao lado dos outros, cada um situado num lugar ‘próprio’ e distinto que define. Um lugar é portanto uma configuração instantânea de posições. Implica uma indicação de estabilidade. Existe espaço sempre que se tomam em conta vetores de direção, quantidades de velocidade e a variável do tempo. O espaço é um cruzamento de móveis. É de certo modo animado pelo conjunto dos movimentos que aí se desdobram. Espaço é o efeito produzido pelas operações que o orientam, o circunstanciam, o temporalizam e o levam a funcionar em unidade polivalente de programas conflituais ou de proximidades contratuais. [...] Em suma, o espaço é um lugar praticado. Assim a rua geometricamente definida por um urbanismo é transformada em espaço pelos pedestres. (CERTEAU, 2014, p. 184, grifos do autor)
No histórico de criação da Unidade de Realengo do CPII, a problemática do espaço
institucional encerra um ethos projetivo de renovação. A configuração bairro/fábrica/escola
revela, em uma perspectiva diacrônica, um esforço de bricolagem que redefine seja a
identidade do CPII, seja a identidade da região que o escolheu. Ambos experimentam
momentos de viragem. No cerne dessa viragem está a ressignificação de um estabelecimento
fabril. Os propósitos de Certeau levam ao entendimento dos mecanismos dessa transição: um
lugar próprio, de identidade belicista, silenciado e esvaziado, cede a outro lugar próprio, ora
praticado, desta feita com uma identidade pedagógica.
Os resultados obtidos na análise documental podem ser encadeados ao percurso pelos
recursos fotográficos arquivados pelo Centro de Inclusão Digital Professor Wilson Choeri, um
dos primeiros espaços do CPII de Realengo a serem inaugurados na outrora propriedade
militar. Com a preocupação de preservar a memória do processo de ressignificação do espaço
da fábrica, foram constituídas duas séries de fotografias. A primeira série reúne cinquenta
imagens digitalizadas da Fábrica de Cartuchos em funcionamento. Algumas delas trazem a
assinatura do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), o que as situa entre a segunda metade do
século XIX e início do século XX, o período compreendido pela obra desse que é considerado
como o principal cronista visual urbano da cidade do Rio de Janeiro6. Embora não indique
informações precisas sobre sua produção e autoria, a segunda série, que reúne sessenta e seis
6 Cf. http://www.ims.com.br/ims/explore/artista/marc-ferrez e http://brasilianafotografica.bn.br/?tag=marc-ferrez (Acesso em
30 mar. 2017)
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 675
fotos digitais, comporta uma certa preocupação estética. Nota-se que seu produtor
empenhou-se em registrar os diversos ambientes de mobilidade da fábrica sob a mesma
distância, ângulo e posição durante dois momentos: aquele que se caracteriza pelo abandono,
após a extinção e o fechamento da fábrica, ocorrido ao final dos anos de 1970, e o de sua
transformação em escola, sob a direção do CPII.
Para este trabalho, foram selecionadas três imagens dentre as duas séries mencionadas.
Todas retratam a fachada de um mesmo espaço físico da fábrica: a antiga casa do diretor da
fábrica, que hoje dá abrigo ao sobredito Centro de Inclusão Digital. Para a leitura e a
interpretação desses elementos como fontes históricas, toma-se por base o “princípio de
intertextualidade” previsto por Mauad (2004, p. 20) para análises dessa natureza. De acordo
com a pesquisadora,
[...] depreende-se que uma fotografia, para ser interpretada como texto (suporte de relações sociais), demanda o conhecimento de outros textos que a precedem ou que com ela concorrem para a produção da textualidade de uma época. Sendo assim, o uso de fotografias como fonte histórica obriga tanto as instituições de guarda quanto os historiadores ao levantamento da cultura histórica, que institui os códigos de representação que homologam as imagens fotográficas no processo continuado de produção de sentido social. (MAUAD, 2004, p. 20)
De acordo com Mauad (2004, p. 33), a análise de imagens fotográficas sobre um espaço
deve partir do pressuposto de que esse espaço atua como um campo semântico para o qual
converge o cabedal cultural relativo ao lugar retratado. Nesses termos, uma vez lidas como
suportes de relações sociais, essas imagens, as quais são apresentadas a seguir, afiançam,
igualmente em perspectiva diacrônica, quer a importância histórica da FCE, quer a
imbricação entre os programas de ação da comunidade de Realengo e suas cercanias e os
programas de intencionalidade da comunidade do CPII.
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 676
Figura 1 – Marc Ferrez, Caza do Director da Fábrica de Cartuchos do Exército, s.d. Fotografia digitalizada; 5,91 x 7,62 cm. Acervo do Centro de Inclusão Digital Professor Wilson Choeri, Colégio
Pedro II, Complexo de Realengo.
Figura 2 – Casa do Diretor da Fábrica de Cartuchos do Exército abandonada, sem referência de autoria e data. Fotografia digital; 6,99 x 6,94 cm. Acervo do Centro de Inclusão Digital Professor Wilson Choeri, Colégio Pedro II,
Complexo de Realengo.
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 677
Figura 3 – Casa do Diretor da Fábrica de Cartuchos do Exército ressignificada, 03 jul. 2007, sem referência de autoria. Fotografia digital; 9,66 x 11,85 cm. Acervo do Centro de Inclusão Digital Professor Wilson Choeri, Colégio
Pedro II, Complexo de Realengo.
Considerações Finais
No relato sobre a criação da Unidade de Realengo do CPII, o espaço da FCE se impõe
como solução a um projeto de ascensão social traçados por moradores de uma região. Pelo
mesmo espaço, a primeira instituição brasileira de ensino secundário, de pronunciada
tradição elitista, vislumbra o ensejo de se revigorar após alguns anos de inexpressividade.
Para o processo de oxigenação do CPII, o espaço da FCE estimula o desenvolvimento de
importantes projetos, servindo de referência, no seio da instituição como um todo, no que se
refere à concretização do ideal do governo federal de democratizar o acesso à educação básica
pela abertura de unidades de ensino em regiões menos privilegiadas do país. Entre 2008 e
2014, os dois terços da fábrica ainda em ruínas foram convertidos em mais dois pavilhões de
salas de aula, dois anfiteatros, com todos os espaços e insumos correlatos. Em decorrência, a
Unidade também passou a atender ao segundo segmento do ensino fundamental. Com ares
de campus universitário, o espaço ainda veio a abrigar uma unidade para o primeiro
segmento do ensino fundamental e outra destinada à educação infantil, pioneira e única em
toda uma rede de unidades. Como dispositivos de extensão e cultura, foram projetados uma
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 678
escola de música, um novo complexo poliesportivo e um teatro profissional. A criação da
escola de música e seu curso técnico em instrumentos musicais estenderam também a oferta
de ensino médio integrado. Em plano macro, o CPII abriu mais duas unidades. Foi
equiparado aos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, incorporando-lhes a
mesma estrutura, organização e pluralidade curricular. Iniciou um curso de mestrado
profissional em práticas educativas. E alguns departamentos pedagógicos organizaram
núcleos de estudos e pesquisas.
A fábrica convertida em escola cumpre transformar as perspectivas e os ciclos de vida
de quem a movimenta. O bairro de Realengo redesenha o arquétipo militar, com novas
potencialidades e ilustrações para o seu cotidiano. Assim, a nova espacialidade e a
aprendizagem dessa transformação espraiam um movimento de moralização e
homogeneização para uma região carente de aparelhamento técnico e cultural.
Referências
BOURDIEU, Pierre. A linguagem autorizada: as condições sociais da eficácia do discurso ritual. In: ______. A economia das trocas linguísticas: o que falar quer dizer. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996. p. 81-96. CIAVATTA, Maria; ALVES, Nilda. (Orgs.). A leitura de imagens na pesquisa social: história, comunicação e educação. São Paulo: Cortez, 2004. CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. v.1. 22.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. ______; GIARD, Luce ; MAYOL, Pierre. A invenção do cotidiano: morar, cozinhar. Tradução de Ephraim Ferreira Alves e Lúcia Endlich Orth. v.2. 12.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Estudos Avançados. USP/São Paulo, v.5, n.11, p. 173-191, jan./abr. 1991. CHOERI, Wilson. O Colégio Pedro II de ontem, hoje e futuro: uma visão e análise crítica e prospectiva. [s.l.: s.n., 20?]. 140p. CUNHA JUNIOR, Carlos Fernando Ferreira. O Imperial Collegio de Pedro II e o ensino secundário da boa sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Apicuri, 2008. ELIAS, Norbert. O conceito de configuração. In: ______. Introdução à sociologia. Traduzido por Maria Luísa Ribeiro Ferreira. Lisboa, Portugal: Edições 70, 2008. p. 140-145. ESCOLANO, Agustín Benito. El espacio escolar como escenario y como representación. In: ______. Tiempos y espacios para la escuela. Madrid: Editorial Biblioteca Nueva, 2000.
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 679
FALCON, Francisco José Calazans. História cultural e história da educação. Revista Brasileira de Educação, v.11, n.32, p. 328-375, maio/ago. 2006. FARIA FILHO, Luciano Mendes de. A legislação escolar como fonte para a História da Educação: uma tentativa de interpretação. In: VIDAL, Diana Gonçalves, GONDRA, José Gonçalves, FARIA FILHO, Luciano Mendes de, DUARTE, Regina Horta. Educação, modernidade e civilização: fontes e perspectivas de análises para a história da educação oitocentista. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 1998. p. 89-125. ______. O espaço escolar como objeto da história da educação: algumas reflexões. Revista da Faculdade de Educação, São Paulo, v.24, n.1, p. 141-159, jan./jun. 1998. GATTI JÚNIOR, Décio. História e historiografia das instituições escolares: percursos de pesquisa e questões teórico-metodológicas. Natal, RN, Revista Educação em Questão, v.28, n.14, p. 172-191, jan./jun. 2007. HALAC, Oscar. A expansão do Colégio Pedro II. [s.l.: s.n., 2010?]. 140p. HOBSBAWN, Eric. Introdução: a invenção das tradições. In: ______; RANGER, Terence (Orgs.). A invenção das tradições. Traduzido por Celina Cardim Cavalcante. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006. p. 9-23. NEEDELL, Jeffrey D. Belle Époque tropical: sociedade e cultura de elite no Rio de Janeiro na virada do século. Tradução de Celso Nogueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. NÓVOA, António. História da educação: percursos de uma disciplina. Análise Psicológica. Lisboa, Portugal, v.14, n.4, 1996, p. 417-434. POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Traduzido por Dora Rocha Flaksman. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989. RODRIGUES, Vera Maria Ferreira. Solenidade de inauguração do Complexo Escolar Realengo do Colégio Pedro II. Rio de Janeiro, 04 de maio de 2012. Disponível em: <http://www.cp2.g12.br/atos_administrativos/98-comunicacaodestaques/destaques2012/192-discurso-da-professora-vera-maria-ferreira-rodrigues,-diretora-geral-do-col%C3%A9gio-pedro-ii.html>. Acesso em: 29 ago. 2014. VIANA, Claudius Gomes de Aragão. História, memória e patrimônio da Escola Militar do Realengo. 2010. 176p. Dissertação (Mestrado em Bens Culturais e Projetos Sociais). Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, Fundação Getúlio Vargas, 2010. ______. A Fábrica de Cartuchos do Realengo (1898-1977). Revista Digital Simonsen. Rio de Janeiro, n. 4, Jun. 2016. Disponível em: http://www.simonsen.br/revista-digital/wp-content/uploads/2016/06/47-Revista-Simonsen_N4-Claudius-Viana.pdfhttp://www.simonsen.br/revista-digital/wp-content/uploads/2016/06/47-Revista-Simonsen_N4-Claudius-Viana.pdf. Acesso em: 21 out. 2016. WERLE, Flávia Obino Corrêa; BRITTO, Lenir Marina Trindade de Sá; COLAU, Cinthia Merlo. Espaço escolar e História das Instituições Escolares. Diálogo Educacional. Curitiba, PR, v.7, n.22, p. 147-163, set./dez. 2007. XAVIER, Libânia. Matrizes interpretativas da história da educação no Brasil republicano. In: ______; TAMBARA, Elomar; PINHEIRO, Antonio Carlos Ferreira (Orgs.). História da educação no Brasil: matrizes interpretativas, abordagens e fontes predominantes na primeira década do século XXI. Vitória, ES: EDUFES, 2011. p. 19-43.