o Caos Dos Iluminados (Wanju)

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    O Caos dosIluminados

    Introduo Magia do

    Caos

    Wanju Duli

    2015

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    Sumrio

    Prefcio______________________________________5Introduo___________________________________7Captulo 1: Uma Breve Histria da Magia do Caos____14Captulo 2: Modelos da Magia____________________27Captulo 3: O Utilitarismo Espiritual_______________42Captulo 4: Os Psiconautas e os Exerccios Dirios____53Captulo 5: O Ritual da Morte Catica Iluminada_____69

    Anexo 1: Servidores e Sigilos Pictricos____________99

    Anexo 2: Fotos do Ritual______________________100Leituras Recomendadas________________________102

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    Prefcio

    Uma tarefa das mais rduas para o autor escrever um livro novo sobre um tema ainda poucoconhecido. Este livro cumpre esta tarefa, introduzum tema sobre o qual pouco foi escrito em lnguaportuguesa, a Magia do Caos. O prprio termoMagia do Caos j carrega consigo um fardo de

    conceitos e pr-conceitos, o que torna esta tarefaainda mais espinhosa. Mas Wanju Duli umadaquelas pessoas que carregam o Caos dentro de si eque fazem nascer de sua criatividade seres-estrelasdanantes.

    Assim o este livro. Ao l-lo lembrei da minhaprpria experincia ao tomar contato com a Magia doCaos, nos idos de 1997. A primeira obra que me

    impressionou foi The Book of Results do autoringls Ray Sherwin, que coincidentemente foi quemcunhou o termo Magia do Caos. Ray me disse quesua inteno era indicar uma magia da mudana, emcontraposio aos rgidos sistemas ritualsticos queexistiam at ento. Talvez seja a minha predileo porlivros curtos, que vo direto ao ponto, mas semperder a graa e a leveza que os transformam em arte.

    Talvez seja pelo brilhantismo dos autores, queousaram escrever sobre o novo e conseguiramdesenhar nas entrelinhas das suas obras os espritosintrodutrios essenciais Magia do Caos: A crenainstrumental; A construo de um paradigma novo;A subjetividade deste caminho feito da orientaopelos resultados.

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    Wanju Duli demonstra nesta obra comocompreender estes espritos de forma fcil e

    divertida. Mas no pra por a. Apresenta com humore clareza um dos temas mais controversos da Magiado Caos: a construo e uso de servidores criandoum paradigma novo, com base em paradigmas que jexistiam. Ler este livro executar uma operaomgica em si mesmo. Traz o vento do novo, que nosimpele alm daquilo que j conhecemos.

    Isto Magia do Caos.

    Lus. (Tambm conhecido por Zoakista; ZoZ;Night Bird). Fundador do Cl dos Adeptos da OcultaSophia (C.A.O.S.) (2003) Fundador da Kaos-Brasil.

    ( www.facebook.com/groups/kaos-brasil )

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    Introduo

    H rumores de que a Magia do Caos morreu.Porm, tais rumores existem h pelo menos duasdcadas. Eu devo confessar que nunca vi um cadverto vivo. Se h realmente algo morto nos arredores,estou certa de que poderosos necromantescontinuam a manter a lasanha voando(como diria

    Robert Anton Wilson).Particularmente nos ltimos anos houve tantosnovos lanamentos de livros de caosmo que aindano consegui ler nem metade dos mais populares. Apublicao de Epoch: The Esotericon & Portals ofChaos por Peter J. Carroll no ano passado foiespecialmente marcante. Ray Sherwin, por sua vez,lanou Vitriol: A Very Chaotic Scrapbook h

    poucos meses (embora seja uma autobiografia e noum livro inteiramente sobre MC). Com os doisfundadores to ativos, fcil concluir que coisasgrandes ainda esto acontecendo no que RamseyDukes chama de o submundo da Magia do Caos.

    E cada vez mais sangue novo se une aometaparadigma caosta, trazendo consigo propostasousadas. H uma bela fuso de ideias de diferentesgeraes, provando que a Magia do Caos no foisomente relevante nos anos 70. Ela continua forteem 2015, porque como um camaleo: ela aceitaadquirir novas cores, ser moldada em formatosimprevisveis, numa alquimia constante erevolucionria. Essa capacidade de mudar pode atmesmo torn-la potencialmente imortal, mas no

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    futuro provavelmente ser conhecida por outrosnomes.

    E qual a relevncia da MC no contexto da magiatradicional? Alguns podem argumentar: Est tudoaqui, no est vendo? A cabala, a astrologia, agematria, o tarot, tudo se encaixa! No conseguecontemplar as fnords?! Oh, sim, ns conseguimoscontemplar! Essas fnords so muito bonitas. Maspode ser um pouco difcil arrancar um jogador dexadrez de sua partida e convidar-lhe a bolar seu

    prprio jogo.At porque no estamos aqui para converter

    ningum. O caosmo no est mais certo quenenhum outro sistema de magia. Mas tambm noest errado. Ele apenas clama seu direito de existnciae deseja ser visto como uma abordagem da magia todigna e respeitvel como qualquer sistema de magiaclssica.

    Ns sabemos que existe uma tendncia a rejeitar oque novo. reas da magia moderna como a Wicca ea Thelema, por exemplo, ainda enfrentam resistnciapor terem origem relativamente recente. EntoGerald Gardner e Aleister Crowley tentaram traaruma origem antiga para seus sistemas. At mesmoPeter J. Carroll clama que a IOT a herdeira mgica

    do Zos Kia Cultus de Austin Osman Spare e quetambm tem como base algumas ideias de Crowley. claro que nada totalmente original e osfundadores de uma linha de magia sempre seinspiram nas anteriores. Isso aceitvel e natural.

    No entanto, eu desconfio que essa averso aonovo contenha um preconceito velado. Oh, comoessas bandas de msica contemporneas so ruins!

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    No se faz mais msica como antigamente o quecostumam dizer as pessoas que continuam presas

    pela paixo msica feita em sua prpria gerao,sem interesse de tentar entender os novosparadigmas musicais que surgem. Cada um tem odireito de gostar do que quiser, mas sem atacar o queno gosta ou no entende.

    Evidentemente, os caostas tambm no estolivres desse mal. Quando ouvem falar que ummagista do caos membro da IOT, subitamente

    assumem um tom respeitoso: Ah, voc do Pacto!,simplesmente porque a IOT j tem algumas dcadasde existncia, adquirindo o carter de tradio.Contudo, existem muitos outros grupos caostasfortes e ativos. S para citar alguns exemplos: aArcanorium College de Peter J. Carroll e NikkiWyrd, a Kia Magic de Anton Channing e Jaq DHawkins, a Western Watchtowerde Julian Vayne eSteve Dee e a guilda AutonomatriX (AX).

    E o que falar dos grupos brasileiros? H a KaosBrasil, que j est nessa caminhada h um longotempo, com o famoso Caos O Jogo. H novosgrupos surgindo o tempo todo, utilizandoespecialmente a internet como ferramenta.

    A internet, por ser algo novo, frequentemente

    alvo de crticas quando usada, por exemplo, paraum ritual online. Muita gente ainda respeita mais asordens de magia que se encontram pessoalmente efazem rituais com varinhas e espadas, em vez demagistas fazendo rituais pela internet usando umcelular como varinha e um laptop como grimrio.

    Por experincia prpria, afirmo que rituais onlinee com uso de diversas tecnologias podem ser to

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    efetivos quanto rituais ao estilo antigo. E membrosde grupos online so capazes de formar laos to

    fortes quanto os que se encontram regularmente emtemplos. Eu tenho certeza de que todos que fizeramgrandes amizades pela internet entendem isso.

    A Magia do Caos parte do ocultismo ps-moderno. Aps a grande ousadia dos movimentos domodernismo na arte (surrealismo, dadasmo,futurismo, etc), muitos comearam a se perguntar sea arte estava morta. Afinal, todos os lances geniais da

    arte j no tinham sido produzidos? Bem, era o quese pensava sobre a fsica ps-newtoniana antes deEinstein.

    O caosmo nasceu em meio a geraes pessimistasdo ps-guerra. Ento pode-se dizer que ele foi, defato, como um cadver voltando dos mortos. Noentanto, ele estava renascido: consideravelmente livrede suas vestimentas antigas; de seus robescerimoniais elaborados, de suas velas e bolas decristal. Afinal, como diz Ramsey Dukes emSSOTBME, dizer que um magista s genuno seusa robes e incensos como dizer que um cientistas real se usa culos grossos e aventais brancos.

    Quando se tenta enxergar as coisas por novospontos de vista, aumenta a probabilidade de se

    encontrar tesouros escondidos. Se voc busca porsurpresas, novos caminhos e criatividade na magia, aMagia do Caos um bom lugar para procurar. Casoseu interesse seja poder e conhecimento, sugiro quetente espiar em lugares no convencionais. Oscaostas possuem uma particular predileo porDeuses esquecidos e no muito populares, ou atmesmo inventam suas prprias entidades, que

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    possuem o potencial de despertar capacidadesmgicas incomuns.

    Aps o lanamento dos meus livrosAgracamalase Grimrio da Insolnciaem 2013,meu amigo Yuri (dono de um dos sites maisconhecidos sobre ocultismo no Brasil, o TudoSobre Magia e Ocultismo) estava conversandocomigo sobre a necessidade de livros introdutrios Magia do Caos no Brasil. Inicialmente eu pensei emme focar apenas em novas abordagens do caosmo, j

    que existem tantos livros introdutrios. Porm, oYuri me lembrou que a maior parte deles ainda notem traduo para portugus.

    Por isso ainda existe o interesse de se ter respostaspara perguntas como essas: Que raios Magia doCaos? Que histria essa de tudo permitido?Ento eu posso fazer qualquer coisa com magia echamar de MC? Onde esto os fundamentos? Umpirulito que eu chupei ontem tem tanto poder quantoo meu punhal cravejado de cristais, propriedade demeu bisav magista, utilizado em incontveisrituais?!

    Eu poderia responder resumidamente a essasperguntas. Como diz Jaq D Hawkins emUnderstanding Chaos Magic, a MC no em si um

    sistema ou filosofia, mas uma atitude que se aplica magia. O mote de Hassan i Sabbah Nada Verdadeiro, Tudo Permitidofoi popularizado porRobert Anton Wilson (RAW) e Robert Shea no livroIlluminatus! Trilogy em que so citadosconstantemente a Ordem dos Assassinos, osIlluminati e diversas sociedades secretassupostamente conspiratrias. Peter J. Carroll j foi

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    instrutor na Maybe Logic Academy de RAW. Essa somente uma frase constantemente repetida para

    enfatizar as grandes possibilidades que o caosmooferece. No um dogma. No mximo umcatma (ou seja, uma verdade absoluta que muda detempos em tempos, como descrito no PrincipiaDiscordia).

    Ou, como dizem por a: Tudo permitido,contanto que voc no seja pego.

    Digamos que um pouco complicado fazer

    qualquer coisa com magia e chamar de MC(especialmente coisas ilegais). H alguns autores(como o Frater Xon da IOT North America) queestabelecem uma diferena entre MC e magia ecltica.A primeira envolveria a criao de novos sistemas erituais, enquanto a outra seria apenas uma juno detradies pr-existentes. Contudo, a diferena podeser sutil. No , de forma alguma, rgida. No livroChaos Craft de Vayne e Dee mencionada adiferena entre hibridizao e sincretismo, que segueum princpio semelhante.

    Sobre a ltima pergunta, um mago pode fazer atmagia de mos vazias e de forma inconsciente.Todavia, h diferenas entre utenslios mgicos, pelosmais diversos aspectos: alguns deles mentais, outros

    no.Finalmente, para responder a pergunta sobre osfundamentos da Magia do Caos, eu primeiramentediria que pelo menos para mim no faz tantadiferena se um sistema de magia tem ou nofundamento (seja ele histrico, cientfico, artstico,etc) contanto que funcione. Porm, relevanteentender um pouco sobre o contexto em que o

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    caosmo nasceu, para que se compreenda o que ele setornou hoje.

    Tendo isso em vista, abordaremos uma brevehistria da Magia do Caos no primeiro captulo. Noscaptulos seguintes irei explorar temas diversos quejulgo serem de valor para o iniciante. Contudo, eutambm desejo que esse livro seja uma leituraagradvel para aqueles que j esto cansados de sabersobre temas to extensivamente discutidos, comohistria da MC, Teoria do Caos, sigilos e servidores.

    Por isso, eu preparei algumas surpresas adicionais noscaptulos subsequentes.

    Longa vida ao caosmo! No me importo se a MCest viva, morta ou morta-viva. Ns somos magistas,porra! Possumos o poder de transitar entrediferentes realidades. E, como diria H.P. Lovecraft:em estranhas realidades, at a morte pode morrer.

    Wanju Duli, Porto Alegre, 29 de julho de 2015

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    Captulo 1: Uma Breve

    Histria da Magia do Caos

    No princpio era o Verbo. Opa. Histria errada.Vamos comear com Samuel Liddell MacGregor

    Mathers (1854-1918), um dos fundadores da GoldenDawn. Ele foi responsvel pela traduo de muitos

    livros relevantes para a magia tradicional e moderna,como O Livro da Magia Sagrada de Abramelin,As Chaves de Salomo e o Grimrio deArmadel. Como podem ver, ele popularizou agocia.

    Magistas como Eliphas Levi (1810-1875)apontavam a diferena entre a alta magia e a baixamagia. A primeira teria uma meta de evoluo

    espiritual, enquanto a segunda focaria na obteno deconquistas materiais. Ele seguia uma abordagem queposteriormente viria a ser identificada como Right-Hand Path (RHP, ou Caminho da Mo Direita).

    No livro Chaos Craft dito que o termo Left-Hand Path (LHP, ou Caminho da Mo Esquerda) foioriginalmente adotado pela Sociedade Teosfica paradesignar magistas maus, termo este que depois foi

    refinado pelo tantrismo, satanismo contemporneo(Anton LaVey, Michael Aquino e Stephen Flowers),dentre outras linhas de magia.

    O LHP surgiu principalmente como uma reao viso vigente do RHP, que ainda tinha uma ligaomuito forte com a religio, possuindo um objetivoprincipalmente espiritual. Como diria Ramsey Dukes(em seu livro BLAST Your Way to Megabuck$ with

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    my SECRET Sex Power Formula), a magia noprecisa pedir permisso para a cincia ou para a

    religio para atuar.Dizer que a matria inferior mente ou ao

    esprito um dos maiores preconceitos magsticosde todos os tempos, e que continua a ser propagadoat hoje, certamente com uma forte influncia dognosticismo.

    Por outro lado, h magistas que afirmam que amagia deve ter, necessariamente, efeitos prticos

    mensurveis, com alteraes do mundo material, eque a habilidade de manipular a matria seria ocritrio principal para medir o poder de um magista.Note que essa outra abordagem extremista. apenas uma verso reversa do preconceito anterior.

    Devido a esses e outros motivos, muitos nogostam dessa diviso da magia em RHP e LHP. Elareflete o dualismo simplista do mundo ocidental. Umdualismo que dita, dentre incontveis outras coisas,somente dois sexos e gneros como possveis,deixando hermafroditas (o belo filho de Hermes eAfrodite!) e transgneros como se estivessem defora desse mundo e precisassem mudar para seencaixar em padres artificialmente criados.

    Essa questo tem razes na Grcia Antiga, na

    filosofia de Plato, que concebeu um Mundo dasFormas perfeito e inatingvel, enquanto na Terraexistiriam apenas sombras das perfeies dessemundo. Essa filosofia encontra sua base namatemtica, em particular na geometria. Quadrados ecrculos perfeitos so idealizaes; eles no existemno mundo material. Deus seria o humano ideal doMundo das Ideias. Tal dualismo foi adotado pelo

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    cristianismo, principalmente atravs de SantoAgostinho.

    Em seu livro Epoch, Carroll afirma que oocultismo ocidental est quase que integralmentefundamentado no neoplatonismo. No que odualismo ou o platonismo em si seja o problema. Aproblemtica em questo seria considerar essemodelo como o nico correto, julgando todos osoutros como errados ou incompletos.

    O ocultismo atual uma mistura de

    neopaganismo com neoplatonismo (ou seja, religiesjudaico-crists). A maior parte do que se estuda emsistemas clssicos como cabala, tarot, astrologia,hermetismo e alquimia, por exemplo, seriabasicamente neoplatonismo explicado de maneiramisteriosa.

    Novamente, no h nenhum problema comPlato, ele um fantstico filsofo. Tambm no hnada de errado no mistrio, pois atravs desimbolismos e linguagens hermticas possvelatingir profundas dimenses do inconsciente.Contudo, quando se estuda somente os sistemasclssicos, isso pode significar olhar para a realidadesob um ponto de vista um pouco limitado.

    Uma das propostas da Magia do Caos resgatar

    tradies pouco estudadas no ocultismo e trabalharmagicamente com elas sob novas interpretaes. EmEpoch, Carroll desenvolveu um novo sistemacabalstico (a Caobala), alm de uma nova astrologia(algum j ouviu falar no planeta ris, que quase dotamanho de Pluto?) e um novo tarot, que leva emconsiderao tanto divindades e mitologias antigas

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    quanto atuais, incluindo algumas que foram deixadasde lado pelo tarot tradicional.

    Mas vamos voltar um pouco no tempo e, em vezde falarmos sobre o livro mais recente de Carroll,lembremos de sua primeira obra: Liber Null, que literalmente o Livro Zero da MC, lanado em1978.

    Kenneth Grant (1924-2011) foi amigo de AustinOsman Spare (AOS, 1886-1956) e um dos maioresresponsveis por popularizar os seus escritos. Spare

    famoso no meio caosta principalmente por seustrabalhos com sigilos em The Book of Pleasure.At mesmo o termo Caos encontrado em suaobra, particularmente em um de seus desenhos. Nodiagrama mostrado em Liber Null, que cita todas aslinhas de magia que influenciaram na formao daIOT, AOS aparece em lugar de destaque, juntamentecom Crowley, embora seja inegvel que o primeirotenha ganhado mais destaque na MC do que osegundo.

    Liber Null foi originalmente escrito como umlivro de referncia para os trabalhos da IOT econtm o famoso Liber MMM. Posteriormente, em1992, Carroll lanou o Liber Kaos, cuja proposta eraapresentar uma substituio para o Sistema de

    Abramelin atravs do Liber KKK.Porm, Carroll no foi o nico a contribuir comliteratura caosta nos anos 70. Ray Sherwin lanou ofamoso The Book of Results no mesmo ano emque Carroll publicou o Liber Null. E em 1982 elelanaria The Theatre of Magick.

    O livro Sex Secrets of the Black MagiciansExposed (SSOTBME) de Ramsey Dukes (Lionel

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    Snell) teve sua primeira edio publicada poucos anosantes de Liber Null e, segundo Jaq D Hawkins, esse

    livro, juntamente com os escritos de AOS, foramalgumas das maiores influncias da IOT em seusanos iniciais.

    Um dos objetivos centrais da IOT, alm de umfoco na magia experimental, era diminuir a estruturahierrquica. Contudo, mesmo com a existnciasimblica dos graus reversos, do Insubordinado e daatmosfera mais livre de regras rgidas, ainda havia

    uma hierarquia, o que incomodou alguns magistascomo Ray Sherwin, que acabou saindo da IOT. Oprprio Peter Carroll tambm se retirou da ordemmuito mais tarde, para se dedicar mais ao trabalho, famlia e a projetos pessoais.

    Julian Vayne, em seu livro Deep Magic BeginsHere... (foi s recentemente que reparei que a capado livro mostra o Vayne vestido de Baphomet,batendo num tambor envolto em bolhas de sabo.Essa descoberta deixou meu dia mais feliz) comentaque, assim como muitos magistas, inicialmente noconcordava com o sistema de graus da IOT, j que aproposta da ordem seria a quebra de paradigmas. Eleconta que costumava andar com o Peter Carroll, oPhil Hine e o Dave Lee nos anos 80, mas que

    inicialmente no teve interesse em se inscrever para aordem. At que ele entendeu o motivo da existnciado sistema de graus.

    Segundo Vayne, o sistema de graus na IOT nofunciona como indicativo de desenvolvimentoespiritual, mas como um grau de comprometimentocom a ordem. No entanto, quem permanece maistempo e avana para o segundo ou primeiro grau no

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    visto como "melhor", pois, como o autor lembra, natural que muitas pessoas precisem sair da ordem

    por questes pessoais, de trabalho e outras naturezas,ou mesmo por desejo de experimentar outrossistemas de magia. Alguns desses voltam alguns anosdepois e so bem recebidos pelo grupo. O queregressa poder compartilhar as coisas que aprendeuenquanto esteve fora.

    A propsito, no h nada de errado em um caostaestudar outros sistemas de magia ou religies, como

    xamanismo, wicca, budismo, cabala, umbanda ouqualquer outra coisa com a qual ele se identificar.Tais estudos so inclusive incentivados. A nicaobservao que um estudo de cabala, por exemplo,no tido como superior a criar, digamos, um ritualfeito com cuspe.

    Essa afirmao pode ser difcil de entender paraalguns, mas no caosmo dada muita nfase magiacriativa, a ponto de alguns considerarem melhor criarum nico feitio extremamente simples, mas que foiimaginado pelo magista, do que j ter realizadodezenas de feitios prontos retirados de grimriostradicionais.

    Claro que sempre h um perigo quandoclassificamos as coisas em termos de melhor ou pior.

    Assim como o magista no deve ser classificado ejulgado com base em seus sucessos em manipular omundo material, ele tambm no deve serconsiderado melhor se ele mais criativo.

    Cada magista nico, com um potencial singular etem sua prpria forma de viver a magia. Se eleescolhe focar seus estudos em sistemas antigos, sedeseja ler mais livros do que praticar, ou se deseja

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    trabalhar somente sozinho, todas essas so escolhassuas e devem ser respeitadas, contanto que ele no

    considere sua abordagem superior a outras.Afinal, o mundo no somente preto e branco.

    No significa que s porque uma magia antiga elaseja melhor (assim como no significa que ela melhor por ser contempornea ou desenvolvida deforma criativa). Um magista que l muitos livros deocultismo e aplica com sucesso os ensinamentos queaprendeu na vida diria no necessariamente menos

    prtico do que algum que veste um robe e segurauma espada dentro de um crculo.

    Os resultados objetivos de uma escolha ou outrapodem ser debatidos. No entanto, o magista no iroptar por um estilo de praticar sua magia somenteporque ele excelente, caso no se identifique comele.

    Lon Milo DuQuette em seu livro Ask Baba Lonnos lembra que toda a vida magia e tudo quefazemos ritual. Ele apenas escolheu tornar sua vidacomum mgica e sua vida mgica comum. Segundoele, a primeira coisa que deve ser feita pagar oaluguel e para isso ele realiza um ritual mgicoprolongado, cinco dias por semana, nove horas pordia, chamado ir ao trabalho.

    Alguns de vocs podem estar se perguntando: Euconheo a Magia do Caos e a IOT de hoje, mas porque ser que isso tudo comeou? Por queespecificamente os anos 70 foram a poca em quealgo to radical aconteceu na magia? O que estavaacontecendo nessa poca? Quais foram as outrasinfluncias desses magistas alm de Spare?

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    Vamos lembrar que Spare era um artista. Comomencionado na introduo, grandes revolues

    estavam acontecendo na arte nas dcadas anteriores.A Gerao Beat foi marcada por um grupo deautores desiludidos pelas catstrofes da SegundaGuerra Mundial. Esse foi o ambiente para quesurgissem movimentos bem aleatrios como odadasmo. Afinal, a guerra em si parecia no tersentido e nem o mundo que restou depois dela. Emvez de tentar encontrar sentido nesse caos, restava

    aos artistas apenas celebrar a aparente ausncia desentido.

    A obra Principia Discordiade Kerry Thornley eGreg Hill, cuja primeira edio surgiu em 1963, e oslivros de Robert Anton Wilson (seus primeiros livrosforam lanados no incio da dcada de 70) so algunsexemplos dessa adorao ao Caos, personificada naforma da Deusa ris, ou Discordia.

    claro que tudo isso comeou como piada,embora, de certa forma, fosse tudo muito srio, jque literatura de qualidade algo bem srio, por maishilrio que seja. Os livros desses autores possuem,em meio s piadas, reflexes filosficas e polticasprofundas.

    William S. Burroughs (1914-1997), um dos artistas

    da Gerao Beat, e ele mesmo um membro da IOT,ficou famoso no ocultismo com seu livro The ThirdMind(1977) e na literatura com a obra NakedLunch(1959).

    Outro artista muito importante para a Magia doCaos foi Michael Moorcock, pois ele tido como ocriador (ou pelo menos o grande divulgador) dosmbolo da caosfera. Moorcock criou os Deuses do

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    Caos, sendo o Caos uma das foras necessrias parase manter o Equilbrio Csmico, junto com as foras

    da Lei.E o que acontecia na cincia na poca em que a

    MC surgiu? A Teoria do Caos foi desenvolvida namatemtica, tambm nos anos 70. Como diria CharlieBrewster em seu livro Liber Cyber, o fato de aMagia do Caos e a matemtica do caos terem surgidomais ou menos na mesma poca seria mais uma dasnotveis coincidncias (ou sincronicidades, diria

    Jung) que permeiam o ocultismo. E como observouJMR Higgs em sua obra clssica KLF: Chaos MagicMusic Money, no era to diferente assim o caosque surgiu na magia e na cincia, j que naquelapoca todos usavam cido (ou seja, no eram apenasRAW, Tim Leary e Terence McKenna. E viva ospsiconautas!!).

    O que vem a ser o conceito de caos na cincia? Asmais diversas reas do conhecimento podem serfundamentadas no caos, como matemtica, fsica,biologia e inclusive cincias sociais.

    Edward Lorenz e o Efeito Borboleta sofrequentemente mencionados. Lorenz era ummeteorologista que identificou o fenmeno dadependncia sensvel s condies iniciais. Na

    prtica, isso significa que no to difcil prevercomo ser o tempo amanh. Porm, tentar prevercomo ser o tempo daqui um ms particularmentedesafiador, pois se apenas um fator externo foralterado, todos os clculos da previso podem ir porgua abaixo.

    Provavelmente esse um dos motivos de osmagistas do caos geralmente no se envolverem

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    acreditar que o modelo que est estudando averdade. Independente de existir ou no uma

    verdade, ns somente a interpretamos por modelos econsider-los como a realidade pode nos fazer cairem erro.

    Sendo assim, Maldelbrot notou que era precisoutilizar uma geometria no euclidiana para estudar anatureza dos fenmenos. Ele concluiu que padrescaticos eram a ordem da natureza. Batidas regularesno corao humano levariam morte. O sistema

    circulatrio segue o modelo da geometria fractal,operando entre o peridico e o aperidico. Tentarinterpretar a biologia sob um modelo platnico darealidade seria tentar encaix-la num ideal deperfeio humano.

    Ns humanos gostamos de ver as coisas seencaixando, como quem brinca de quebra-cabea. Ascores se encaixando com os nmeros, com as letras,com os planetas. Porm, nem tudo se encaixa. Umapossvel explicao poderia ser: na verdade tudorealmente se encaixa, mas o crebro humano falhaem ver. Outra explicao seria: nada se encaixa,ns somente temos a impresso de que existemconexes causais entre os fenmenos, porque amente humana precisa disso. E uma terceira

    explicao: Algumas coisas se encaixam e outrasno, aleatrio!.Evidentemente, outras explicaes podem ser

    dadas. Eu acredito que algumas vezes precisamosdeixar de lado essa necessidade constante de encaixarcoisas. Fico com a impresso de que podemos ficarloucos, enxergando significados e teorias daconspirao em tudo (assim como RAW ironizou em

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    seus livros, a respeito do nmero 23, e sobre a Leidos Cinco no Principia Discordia).

    No filme Pi, de Darren Aronofsky, o protagonistaMax, que matemtico, possui uma verdadeiraobsesso por ver padres em tudo e em achar quedescobriu grandes segredos. As consequncias dissono se mostram agradveis.

    Em vez de buscar o sentido da vida (nossanecessidade mxima de desejar que as coisas seencaixem) podemos simplesmente concluir que ou a

    vida no tem sentido ou nossa mente no capaz deentender o sentido. Ou ainda, podemos criar umsentido pessoal para nossa vida (ou para nossa magia,o que a proposta do caosmo).

    Na verdade, somos livres para criar muitas coisasatravs da abordagem caosta. Alguns simplesmenteno gostam ou no se importam com espiritualidadeou com sentidos pessoais e s desejam se divertir ouinvestigar algumas reas de seu interesse. Afinal, cadapessoa busca coisas diferentes.

    Um possvel problema da magia tradicional achar que as pessoas precisam das mesmas coisas e asaprendem do mesmo jeito. Nem todo mundo querter contato com seu Sagrado Anjo Guardio. Nolivro The Infernal Texts: Nox e Liber Koth, no

    qual h alguns textos de Anton Long, da ONA (noentanto, eu me abstenho a comentar sobre a ONA),ele menciona que a conversao com o Sagrado AnjoGuardio da Golden Dawn foi uma interpretaoincorreta do rito do Adepto Interno, que envolveriadeixar o candidato vivendo em isolamento por vriosmeses.

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    De acordo com Hawkins, o caos no toaleatrio quanto aparenta, mas uma sutil forma de

    ordem. possvel achar caos na ordem e ordem nocaos. Existe o conceito de Caos Determinstico, oqual supe que nem todo o efeito estcompletamente contido na causa, podendo interagircom outros efeitos, havendo portanto umasimultaneidade de processos. Algumas dessas ideiasso debatidas pelos filsofos Gilles Deleuze e FlixGuattari em Mil Platsno modelo epistemolgico

    do rizoma.Agora que j foram dadas algumas noes sobre o

    universo em que a MC nasceu e se desenvolveu,iremos partir para as implicaes filosficas docaosmo, que fundamentam a prtica.

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    Captulo 2: Modelos da

    Magia

    De onde a magia surgiu? O que ela ? Para que elaserve?

    Esperamos j ter respondido a primeira perguntano captulo anterior. Meu foco foi explicar em que

    contexto surgiu especificamente a Magia do Caos.Evidentemente, para contar de onde surgiu a magiateramos que voltar para a Pr-Histria. Fica maisfcil se a pergunta for De onde surgiu o ocultismoocidental?, pois sabemos que ele se moldou naforma que possui hoje especialmente com Mathers,Westcott e seus amigos, embora eles tenhamfundamentado suas teorias em prticas mais antigas

    (alquimia, astrologia, etc).Agora iremos nos voltar para a segunda pergunta:O que a magia?. Uma das mais antigas formas demagia o xamanismo. Por isso do interesse demuitos magistas nos dias de hoje resgatar essasorigens: sentir como a magia que floresce nocontato direto com a natureza.

    H quem acredite que o afastamento das pessoas

    da natureza nos desconectou da magia em si e fezcom que passssemos a ter dificuldade para lidar coma vida e a morte. Eu entendo esse sentimento, masprefiro interpretar as coisas de outra maneira.

    Existe esse idealismo de se agarrar ao passadocomo se ele fosse um tipo de paraso perdido.Antigamente as coisas eram boas, hoje em dia tudoest perdido, os valores esto invertidos, os jovens

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    no respeitam os mais velhos, etc. fcil cair naarmadilha de pensar coisas desse tipo, ou mesmo

    idealizar a prpria infncia ou momentos do nossopassado com saudosismo.

    No sei quanto a vocs, mas eu gosto da ideia deviver o presente. Fantasiar que no passado as coisaseram melhores ou que no futuro tudo vai ficarmelhor pode levar a frustraes.

    Para mim, o ser humano faz parte da natureza. Eleno uma entidade separada dela. E assim como o

    Joo de Barro constroi sua casinha, ns construmosas nossas. claro que importante respeitarmos osoutros animais e o meio ambiente. Porm, assimcomo todo ser vivo, ns tambm precisamosconsumir recursos para sobreviver. iluso pensarque podemos viver sem matar nenhum animal ouvegetal, sem cortar rvores, sem poluir rios ou semrasgar a terra.

    Com a tecnologia aos poucos descobrimos novasmaneiras de contornar esses problemas.Paradoxalmente, criamos novos desafios. A mesmatecnologia que nos d mais conforto e maiorqualidade de vida a mesma que nos mata e quedestroi o mundo em que vivemos.

    Eu observo que a tendncia das pessoas ter

    muito ceticismo em relao tecnologia. Costumamcitar apenas os aspectos negativos, como bombasatmicas, consumismo, manipulao da mdia ealimentos industrializados.

    Muitos criticam computadores e celulares,alegando que eles afastaram as pessoas. Quando eutinha 13 anos minha nica forma de ter acesso alivros de ocultismo era em livrarias e bibliotecas da

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    minha cidade. No ano seguinte, quando ganhei meuprimeiro computador, ainda era difcil chegar a

    muitos materiais.Hoje em dia possvel ler livros de graa na

    internet ou ter acesso a livros em outras lnguas.Voc pode at mesmo ser membro de ordens demagia internacionais sem sair da frente docomputador. Quando eu leio um livro escrito poroutra pessoa (esteja ela viva ou morta) eu me sintoconectada a ela.

    Conectar-se a uma pessoa em carne e osso no anica forma de interagir com ela. Os magistas, quelidam com entidades espirituais, deviam ser osprimeiros a ter mais facilidade de entender isso.

    A magia contempornea ainda promete inovaesfantsticas, mas somente se os magistascontemporneos abrirem a mente para receb-las eenxerg-las sob novos pontos de vista.

    Eu sou apaixonada pelo xamanismo clssico dasmais diferentes culturas (contato com os elementosda natureza, animais de poder, etc). Contudo, eu noo considero mais poderoso do que, por exemplo,uma magia feita num quarto fechado com umalmpada em vez de velas.

    Como estamos cansados de saber, a maior parte

    da ritualstica cerimonial feita para impressionar amente. Basta entender que voc no precisa de nadadisso e seu primeiro benefcio ser economizarbastante em caros utenslios de magia.

    Muitos associam a magia a algo mstico e diferentedo que experimentam no dia a dia. Por isso, ir parauma floresta e se vestir com capim danando a

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    rumba parece uma forma simptica de quebrar com amonotonia da rotina.

    Honestamente, eu falho em entender comofunciona a mente de alguns magistas. Agora a horade fazer magia, vou me vestir de morcego no alto doMorro dos Cafunds eles dizem. Depois determinar o ritual, voltam para casa e declaram:Acabou a hora da magia, agora a hora de relaxar ejogar videogame.

    Mas por que ento no faz uma magia enquanto

    joga videogame, animal (com todo o respeito)? No outro mundo? No divertido?

    OK, vamos respeitar a viso alheia. Como jobservei, o dualismo em si no um problema. Eles se torna preocupante quando vira a regra absolutapara tudo.

    NS SOMOS A NATUREZA!!! No existe essaguerra de seres humanos versus meio ambiente. Nomximo, precisamos preservar o meio ambiente paraque as futuras geraes de seres humanos possamsobreviver. A nossa preocupao com o meioambiente no acontece porque ns amamos asrvores, mas porque no queremos aniquilar a nossaespcie por falta de recursos. Na maior parte dasvezes, no preservamos a natureza por bondade ou

    caridade.Por outro lado, claro que voc pode amar asrvores! Eu mesma tenho uma rvore que considerouma grande amiga, que fica no alto de um morrocercada pela natureza. Eu vou visit-la desde criana.Eu j fiz rituais l! J enterrei objetos de magiapreciosos para mim perto da rvore. Eu e ela temosuma conexo forte.

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    E o mesmo acontece com os animais. Podemoster uma conexo poderosa com certos animais.

    possvel at mesmo ter uma barata como animal depoder! completamente humano escolher apenas osbichinhos bonitinhos para amar e no sentir culpaao matar um mosquito.

    Ns humanos somos contraditrios e precicoaprender a conviver com essa contradio. Esses diasminha me estava contando que uma vizinha nossatinha uma galinha de estimao. Posteriormente ela

    soube que roubaram a galinha dela e comeram. Noentanto, no houve nenhum tipo de protesto emtorno disso. claro que se o cachorro de algumfosse roubado e cozinhado, ah, o Facebook iaexplodir com protestos!

    Calma, no me entenda mal. Eu amo cachorros.Amo meus bichos de estimao e acho totalmentejusto que se defenda os animais e o meio ambiente.Estou meramente refletindo como costumamos nosportar de forma contraditria, com a iluso de quesomos os salvadores do mundo.

    Frequentemente ns refletimos para a nossa magiaos nossos comportamentos da vida diria. apenasuma enganao achar que quando vestimos um robecerimonial nos tornamos outra pessoa. No mximo,

    pode ser uma boa encenao. Na prtica, voccontinua com a mesma mente que tinha antes,mesmo que altere seu estado de conscincia.

    Ns refletimos em nossas operaes mgicas anossa viso poltica, nossas questes psicolgicas,nossos pensamentos filosficos; e muito mais.

    Uma maneira de realmente se tornar outra pessoaao longo da cerimnia bolar um personagem.

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    Digamos que voc far uma magia para obter maisdinheiro. Voc pode criar um personagem e

    imaginar-se como algum muito rico, econmico,confiante e seguro de si. Para colocar em prtica oFinja at que atinja.

    Essa apenas uma forma de proceder. H muitasoutras formas de preparar procedimentos mgicoseficazes.

    Note que a questo O que a magia? estdiretamente relacionada s suas origens. As pessoas

    desejavam entender a natureza e manipul-la. Sendoassim, a busca de conhecimento e poder mgicoremonta a tempos imemoriais.

    Antigamente as pessoas viviam pacificamente emequilbrio com a natureza e hoje s querem saber dedinheiro e poder alguns pensam. E eu respondo:No, seu bosta!! Pessoas ambiciosas sempreexistiram. Se no fosse por essa busca incessante deaprimorar-se, ser que ainda estaramos vivendo emcavernas? Alguns dizem que isso seria bom. Umaexpectativa de vida bem curta e a adrenalina de serdevorado por uma fera selvagem a qualquer minuto.Aqueles que eram bons tempos! Os que ficamentediados na frente do computador devem estarcom saudades desses dias, que eram brilhantes.

    Eis o mito do bom selvagem de Rousseau. Osseres humanos so naturalmente bondosos e asociedade os corrompe? Ou ser que o homem olobo do prprio homem, como diria Hobbes? Asociedade serviria para controlar um ser humano cominclinaes naturalmente negativas?

    Voc gosta de ser otimista ou pessimista? apenas uma questo de preferncia. H aquela

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    simptica histria sobre o jardim do den. Ado eEva viviam como selvagens, apenas curtindo a beleza

    da natureza. Aps comerem da rvore doConhecimento, eles passaram a ter sabedoriasuficiente para produzir seus refrigerantes aucaradose sua soja transgnica. Eles criaram um monte deporcarias. Porm, essa porcaria s minha e eu meorguho dela! eles clamaram.

    Mas Voltaire tem uma verso melhor para ahistria em seu Dicionrio Filosfico:

    "Imaginaram os srios que, tendo o homem e a mulher sidocriados no quarto cu, quiseram comer de uma torta em vez deambrosia, seu manjar natural. A ambrosia exalava-se pelosporos. Comendo a torta, porm, era preciso ir secreta. Ohomem e a mulher pediram a um anjo que lhes indicasse ondeficava tal repartio do Paraso. - Esto vendo - disse-lhes oanjo - aquele planetinha insignificante a uns sessenta milhesde lguas daqui? Pois l - Para l se foram, e l osdeixaram. Desde ento o mundo o que "

    Voltaire tambm possui uma tima teoria sobre osentido da vida de humanos e animais:

    "Para ninguem novidade saber que as moscas foram feitaspara ser comidas pelas aranhas, as aranhas pelas andorinhas,as andorinhas pelas pegas, as pegas pelas guias, as guiaspara ser mortas pelos homens, os homens para matar-se uns

    aos outros, ser comidos pelos vermes e em seguida pelo diabo"Porm, no foi somente Voltaire quem bolouboas teorias. Rosseau, apesar de sua teoria sobre obom selvagem, tambm teve seus bons momentosem Do Contrato Social, como essa passagem:

    " preciso pensar como eu para ser salvo. Eis o dogmahorroroso que devora a Terra. Nada tereis feito em favor dapaz pblica se no riscardes esse dogma infernal. Quem no o

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    achar execrvel no pode ser cristo, nem cidado, nem homem, um monstro que deve ser imolado para tranquilidade do

    gnero humano"Sobre a teoria do bom selvagem de Rousseau,

    Voltaire enviou-lhe a seguinte carta:"Acabei de receber seu ltimo livro contra a espcie

    humana, e agradeo. Ningum foi to refinado quanto o senhorna tentativa de reconverter-nos em brutos. A leitura de seulivro produz o desejo de voltar a ficar de quatro. Como,entretanto, faz uns 60 anos que deixei de exercer tal prtica,

    sinto que impossvel para mim voltar a ela".Por um lado, existe essa tendncia do retorno

    natureza na magia. Por outro, existe esse desejo dese emperiquitar com os mantos cerimoniais de ltimamoda. Entre ficar de quatro e vestir-se de pavo, omagista pode ficar vontade para escolher o seuveneno.

    Em geral, os magistas do caos simplesmente nose importam. Fazem seus rituais no quarto, de pijamae comendo miojo. Quando ficam entediados, elessaem pelas ruas vestidos de monstros do Lago Ness.

    Magia pode ser muitas coisas. Para interpret-lausamos modelos, que seriam como os mapas doterritrio. Porm, como consta em The Book ofSubGenius:

    Com o SubGenius, o mapa na verdade o territrio.Tambm h o seguinte ensinamento:Para aquele treinado por Bob, a Verdade pode ser

    encontrada numa batata.No temos a menor dvida disso! Se podemos

    atingir a iluminao com merda de passarinho caindona cabea, sem dvidas o mapa pode eventualmente

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    se transformar no territrio e uma batata podeacidentalmente se transformar em Deus.

    difcil engolir isso? Quem sabe voc estejamuito condicionado lgica formal de Aristteles e lgica informal de Plato. Sobre Aristteles, ThomasHobbes fez a seguinte observao em seu livroLeviat:

    "Creio que dificilmente poderia existir coisa mais absurdaem matria de filosofia natural do que aquilo que hoje denominado a Metafsica de Aristteles, nem to contrrio ao

    governo como grande parte do que foi dito em sua Poltica, nemmais ignorante do que uma grande parte de sua tica"

    Plato e Aristteles eram inteligentes, mas preciso saber filtrar o que eles disseram.

    Diz Hegel, em sua obra F e Saber:"Se a razo constri um templo para a divindade, tambm

    deve permitir ao seu lado a capela para o diabo"Ou como diria sabiamente Robert Anton Wilson

    em sua obra Prometheus Rising, A RAZO UMA PUTA!!! E a forma mais fcil de sofrerlavagem cerebral ... nascer.

    No pense que escapa da lavagem s porque voc ocultista, caosta e acha que enxerga mais longe.Quase todos acham que so mais sbios que amaioria! (a no ser que voc tenha um complexo de

    inferioridade que esconde um complexo desuperioridade, ou vice-versa).Afinal, o que seriam os modelos de magia? Sobre

    isso, Alan Chapman, em sua obra Advanced Magickfor Beginners possui algumas teorias interessantes.Primeiro voc deve criar uma explicao sobre comoa magia funciona e chamar isso de modelo. Escolhaum nome super legal para seu modelo. Depois,

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    invente uma explicao bem complicada, comclculos e grficos. Selecione um ramo da cincia

    como base. Utilize todas as palavras difceis queconseguir e deixe tudo o mais incompreensvelpossvel. Pronto, eis a forma ideal de explicar magiausando cincia!

    Sobre isso, eu sempre lembro dessa frase doNietzsche:

    Aquele que se sabe profundo esfora-se por ser claro;aquele que gostaria de parecer profundo multido esfora-se

    por ser obscuro. Porque a multido acredita ser profundo tudoaquilo de que no pode ver o fundo. Tem tanto medo! Gostato pouco de se meter na gua!

    Erasmo de Rotterdam, em sua obra Elogio daLoucura, tambm tem algumas palavras a esserespeito:

    "Por ora, quero imitar aqui os mestres de retrica de nossosdias, que se julgam pequenos deuses quando, como asanguessuga, parecem servir-se da lngua deles, e que veem comoalgo maravilhoso entrelaar, a torto e a direito, num discursolatino, algumas palavras gregas que o tornem enigmtico. Seno conhecem nenhuma lngua estrangeira, eles tiram de algumlivro bolorento quatro ou cinco velhas palavras com as quaisdeslumbrem o leitor. Os que as compreendem ficam satisfeitosde achar uma ocasio de se comprazer em sua prpria erudio;

    e, quanto mais elas paream ininteligveis aos que no ascompreendem, tanto mais so admiradas por isso".Sinceramente, eu acho legal usar a cincia como

    um modelo para explicar partes da magia. Em TheBook of Baphomet Nikki Wyrd e Julian Vaynefornecem explicaes da biologia e como eu curtobastante biologia, achei o mximo. Porm, foi uma

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    explicao com o intuito de ser clara ecompreensvel. Dessa forma, funciona.

    Contudo, o magista no precisa ser escravo dacincia. No necessrio, de forma alguma, usarcincia ou filosofia para fundamentar uma teoria damagia.

    O magista do caos deve se sentir livre para basearseus modelos no que achar melhor. Pode ser umabase essencialmente pragmtica ou terica. Ele deveescolher o mtodo com o qual se sente mais

    vontade, sem precisar dar satisfaes.Ningum sabe direito o que a magia. Ela pode

    ser tantas coisas! Cunhar uma definio fechada serialimit-la. A definio de Crowley interessante, masno abarca todas as possibilidades. A propsito, oconceito dele de Verdadeira Vontade no costumaser muito adotado no caosmo, j que alguns achamque envolveria um senso de sentido oupropsito superior para a magia(mesmo sendo decunho pessoal), o que os caostas buscam evitar.Ainda muito neoplatnico, como se houvesseuma vontade mais verdadeira e importante do quealguns de nossos desejos mundanose triviais.

    Patrick Dunn, em seu livro Postmodern Magic,identifica quatro tipos de paradigmas para a magia,

    baseando-se no sistema de Frater U.D.:1- O Paradigma dos Espritos: popular na IdadeMdia. Esse paradigma consideraria os espritoscomo entidades reais, fora da mente do magista.

    2- O Paradigma da Energia: explica a magia comoum fluxo de energia (h muitos nomes: Chi, Ki, etc).

    3- O Paradigma Psicolgico: as entidades seriamcriaes mentais do magista.

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    4- O Paradigma da Informao: o mundo comoum programa de computador. A informao poderia

    ser reprogramada na mente. Potencialmente comespao ilimitado (como nos sistemas fractais), seminterferncias do espao-tempo em outros mundos ecom existncia independente da matria (teoriaquntica).

    Quem gosta de basear a magia na cincia,provavelmente ir optar pelo paradigma psicolgicoou da informao. Esses paradigmas so bons para

    aqueles com dificuldade de acreditar que magiaexiste de verdade. Apenas meta um monte de fsicae psicologia no meio e suas dvidas vo embora!

    Eu usava bastante o paradigma da energia e dosespritos quando eu comecei a praticar magia. Paramim era muito natural o exerccio de visualizaresferas multicoloridas de energia nas mos. Tambmera natural para mim considerar uma entidade comotendo existncia separada da minha mente, no sendosomente imaginao.

    Claro que a imaginao pode ser poderosa! Aindaassim, at hoje eu prefiro utilizar o modelo de que oservidor que criei no apenas imaginrio. Eleadquire uma existncia independente de mim, comoum filho que antes era parte do meu corpo e depois

    nasce para o mundo. Acho que fcil para mim veras coisas dessa forma porque como eu costumoescrever muitas histrias, eu frequentemente notocomo os personagens adquirem vida prpria e saemdo meu controle.

    Sendo assim, um servidor que se torna mais doque um personagem e que designado para alterarminhas atitudes ou o mundo material, certamente

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    muito mais do que um produto que se restringe minha mente.

    Essa apenas a viso que geralmente opto poradotar. Minha viso escolhida tambm depende daoperao mgica que me proponho a realizar. Htrabalhos de magia que funcionam melhor dentro demodelos especficos.

    De acordo com a Irm Miriam Joseph, em seulivro Trivium, a verdade poderia ser definidadentro de trs categorias:

    1- Verdade Metafsica: conformidade de uma coisacom a ideia desta.

    2- Verdade Lgica: conformidade do pensamento realidade.

    3- Verdade Moral: conformidade da expresso realidade.

    A epistemologia contempornea considera outrosmodelos alm desse, j que o Trivium era usado nasescolas da Idade Mdia. No entanto, podemosutilizar essas categorias para reflexo.

    Uma ideia pode ser verdadeira dentro de uma dascategorias da verdade e no ser em outra. Porexemplo, pode ser correta na lgica e no serverdadeira moralmente. Kant demonstra a existnciamoral de Deus, enquanto Santo Anselmo a

    demonstra de maneira lgica. Contudo, sua existnciametafsica divide ainda mais opinies.E agora vamos a alguns exemplos de intuio

    intelectual, no mesmo livro:1- Metafsica: todo efeito tem uma causa.2- Lgica: proposies contraditrias no podem

    ser ambas verdadeiras.

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    3- Matemtica: coisas iguais a uma mesma coisaso iguais entre si.

    4- Moral: o bem deve ser feito e o mal evitado.5- Psicolgica: minha conscincia d testemunho

    da minha livre vontade.Como previamente dito, tendo sido o Trivium e o

    Quadrivium moldados dentro da filosofia escolstica,eles j esto um pouco desatualizados. Vamos srplicas:

    1- Sabemos que nem todo efeito tem

    necessariamente uma causa. Basta ler as ideias deHume sobre causao. Na prtica, as coisas possuemvrias causas. Ou pode ser apenas fora de hbitoenxergar causas em tudo. Talvez as coisas notenham causas e achamos que sim pela necessidadedo crebro de encaixar os eventos.

    2- Eu posso enxergar uma flor como tendo coramarela e uma abelha pode a enxergar vermelha.Ambas proposies so contraditrias, contudoverdadeiras sob diferentes pontos de vista, j que acor no uma propriedade da matria. Talvez outrascoisas tambm no sejam, como aponta a filosofia deBerkeley.

    3- engraado pensar que o prprio cristianismono segue esse axioma de Euclides da matemtica, j

    que a ideia de Santssima Trindade contraria essaproposio. Jesus Deus, o Esprito Santo Deus,mas Jesus no o Esprito Santo. Eis o mistrio daSantssima Trindade. De fato, muito misterioso...

    4- Segundo Leibniz, a existncia do mal gera umbem maior a longo prazo. Porm, aplicar umaproposio universl para o particular poderia no sero melhor movimento.

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    5- Ser que temos mesmo livre arbtrio? Essapermanece uma questo sem soluo. Assim como

    temos a impresso de que as coisas possuem causas,tambm temos a impresso de livre arbtrio. Opensamento cartesiano j posto em dvida hmuito tempo.

    Como v, essas sentenas so baseadas numpensamento dualista: a causa e o efeito; a verdade e amentira; o igual e o diferente; o bem e o mal; aconscincia e o mundo; o livre arbtrio e o destino.

    Alguns desses pensamentos podem ser vlidosdentro do paradigma da dualidade. Contudo, quandopulamos fora dele adquirimos um novo universo depensamentos e associaes, que nos d maispossibilidades.

    Tais possibilidades no existem somente noMundo das Ideias. Agora iremos investigar comoaplicar essas teorias na prtica, explorando nossaterceira pergunta: Para que serve a magia?

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    Captulo 3: O Utilitarismo

    Espiritual

    No captulo anterior, conclumos que podemosoperar a magia atravs de modelos. Ela algomltiplo. No se pode definir a magia plenamente esatisfatoriamente, uma vez que no possvel

    apreender sua natureza. Ns somente a enxergamosatravs de nossas impresses da realidade.E o que possvel fazer com a magia? Quais

    seriam seus limites?Em seu livro Brain Magick, Philip H. Farber

    lembra que h aqueles que tratam a magia como seela tivesse um fim em si mesma e que h muitossistemas de magia que apoiam essa ideia.

    A arte, por exemplo, pode ter objetivos decontestao poltica e social, mas tambm pode tercomo finalidade reflexes diversas ou simplesmente aapreciao. a arte pela arte. De forma anloga,existe a cincia pura e a cincia aplicada. Muitasvezes, grandes desenvolvimentos na cincia purapodem levar a uma aplicao futura.

    Em The Book of Baphomet ditto que os

    crticos da Magia do Caos ocasionalmente entendemmal a orientao para fazer magia com resultados.Um rito como a Missa do Caos B, por exemplo,demonstraria que a magia possuiria um propsitomais amplo do que ser um truque de bater punhetapara um sigilo para receber dinheiro prontamente.

    preciso ressaltar que os caostas no so contraa chamada magia que resulta em ganhos materiais

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    mensurveis. muito importante no perder de vistaa valorizao do corpo e da matria, ou isso

    representaria um retrocesso. Afinal, por muito tempoo esprito foi visto como superior ao corpo. Ocaosmo no tem nenhuma inteno de reforar esseparadigma e tom-lo como absoluto.

    O ocultismo sempre teve uma influncia religiosapoderosa. Como sabemos, na maior parte dasreligies existe uma supervalorizao do aspectoespiritual em detrimento do material e essas ideias

    penetraram na magia profundamente.A valorizao da alma ou esprito um ponto de

    vista interessante, pois nos traz a reflexo de que amatria pode no ser a nica realidade. muito fcilser enganado pelos sentidos fsicos e pensar que amatra a verdade e tudo que no pode ser captadopelos nossos sentidos mentira.

    No entanto, o dualismo cria problemas. Quando omundo dividido em dois existe a tendncia deconsiderar que um aspecto dessa dualidade melhorque outro, em vez de encar-los como simplesmentediferentes e celebrar a beleza na diversidade.

    De um lado, esto os magistas que defendem aevoluo espiritual como meta suprema e queconsideram magias para obteno de ganhos

    materiais como objetivos inferiores e frvolos. Dooutro lado, esto os magistas que desdenham ou atquestionam a existncia do esprito. Muitas vezesconsideram a si mesmos como seus prprios Deusese julgadores e possuem uma metapredominantemente hedonista (ou, como diria Spare:Eu mesmo ainda no vi um homem que j no fosse

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    Deus). Para esses, a magia para obter ganhosmateriais no deve ser condenada e sim celebrada.

    A Magia do Caos, por propor paradigmas toamplos, no se encaixa perfeitamente nem no RHP enem no LHP. Porm, quando para classific-la deum dos lados dessa dualidade, ela geralmente encaixada no LHP, por sua ligao mais fraca com areligio e tambm por adotar em suas prticas muitasreas do conhecimento tidas como mundanas.

    Alguns caostas apreciam essa reputao sombria e

    espinhosa do LHP e at mesmo desenvolvem muitosfeitios que poderiam ser classificados como magianegra.

    Como dizem, a magia negra a magia que ooutro faz. a magia que no entendemos.

    Por isso, muito fcil chamar uma magia com aqual no concordamos de magia negra. Ela seencaixaria em toda magia que vai contra os nossosprincpios. Mas o que considerado magia negra paraum, pode no ser para outro.

    Os livros sagrados das religies abramicas estorepletos de relatos de anjos que realizaram uma sriede atos que, a nosso ver, seriam altamentequestionveis. Os praticantes de tais religiesgeralmente respondem a isso dizendo que a sabedoria

    de Deus estaria acima da compreenso humana.Portanto, um ato considerado cruel por ns pode serbom aos olhos de Deus. Por isso quando algumrealiza um ato ruim, mas sem a conscincia de que oato foi mau, no teria cometido um pecado.

    A prpria Magia de Abramelin representaria opice dessa aparente contradio. O magista chamaseu anjo, para depois dominar demnios e obter

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    benefcios materiais atravs dos Quadrados Mgicos.Afinal, isso RHP ou LHP? Tecnicamente RHP, j

    que o sujeito est com um anjo de Deus e tudo quevem dele s poderia ser bom. Partindo dopressuposto de que seu anjo no amigo de Lciferou Samyaza.

    Essas tentativas de encaixar diferentes sistemasem definies artificialmente criadas podem atfacilitar a sistematizao, mas certamente criamclassificaes insatisfatrias e incompletas.

    o nosso velho desejo de que as coisas seencaixem umas com as outras e faam sentido nanossa cabea... mas a realidade muito mais rebelde eferoz.

    Como diz Jaq D Hawkins em UnderstandingChaos Magic, no existem feitios prprios daMagia do Caos. A tcnica de sigilos usada na MC foidesenvolvida por Spare e os magistas apenas a pegamemprestado e acham que usar sigilos significa usarMagia do Caos, quando na verdade us-los significafazer magia de Spare.

    A mensagem de Spare que cada um deveriadesenvolver seus prprios mtodos de magia. Ossigilos e servidores se tornaram popularessimplesmente porque so mtodos fceis e rpidos

    para obter resultados prticos e imediatos. O caosmo comumente visto como um metassistema daagilidade no mundo do fast-food. Seria quase comouma magia fast-food e usada como tal.

    Sim, a agilidade e o pragmatismo so aspectosimportantes da MC. Mas isso no define tudo o queela .

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    Note que no errado ou inferior usar feitiosrpidos para obter efeitos imediatos. Em nossa poca

    e vivendo nosso estilo de vida das grandes cidades, raro ter tempo livre. A maior parte das pessoasreclama que gasta muito tempo estudando etrabalhando e quase no sobra tempo para o lazer.Porm, na hora do lazer querem que tudo seja muitorpido: que a velocidade da internet seja rpida, que aespera na fila seja rpida. Para isso, preciso que aspessoas trabalhem cada vez mais rpido.

    Vivendo nesse paradigma da velocidade, naturalque nossa magia tambm seja veloz. Na GrciaAntiga ou na Idade Mdia europeia, quandoatividades ldicas (e possivelmente a prpria magia, jque para estudar os grimrios medievais era precisosaber ler) eram um privilgio de uma pequena elitecom muito tempo disponvel, fazia sentido criar umaoperao de magia na qual se passa seis meses emisolamento.

    Nos dias de hoje achamos positivo que muitagente tenha acesso ao conhecimento e pelo menos amaioria de ns (eu espero) se coloca contra aescravido ou a servido. Apesar de todos osproblemas, o capitalismo ainda parece melhor do queo modo de produo escravista antigo ou do que o

    feudalismo. E independente de qual sistemaeconmico, poltico ou social o magista prefira, eledever lidar com a realidade em que vive e colocarpara si mesmo a seguinte problemtica: Como possoser um magista realizado no mundo captalista?

    Em primeiro lugar, voc deve aceitar que, vivendono sistema econmico cujo foco o capital, vocdever lidar com dinheiro. No adianta fazer cara feia

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    e dizer que no gosta de dinheiro. No adiantaconsiderar o dinheiro como algo baixo, inferior, dizer

    que ele corrompe e que a origem de todo mal. Nadadisso vai funcionar, a no ser que voc decida virarmonge ou eremita e viver numa floresta ou no topode uma montanha.

    Mesmo que voc decida viver de forma simples,eventualmente ter que lidar com dinheiro parasobreviver. Enxergar o dinheiro como um demnios ira dificultar a sua vida.

    Faa as pazes com o dinheiro. Em vez de enxerg-lo como um Deus ou demnio superpoderoso quedomina sua vida, algumas vezes til v-lo como ummeio de troca, cujo valor foi artificialmente criado emnosso pacto social.

    Ns vivemos num tipo de jogo social, no qualinventamos regras e valores para facilitar.Frequentemente grupos de pessoas alteram as regrasou acham furos nelas para atender seus prpriosinteresses. Porm, no vai adiantar muito voc passaro resto da sua vida somente se queixando do quantovoc odeia essas pessoas e o sistema em que vocvive e se considerar a nica vtima injustiada de ummundo cruel.

    Mesmo que vivssemos no melhor sistema

    possvel, cercados de pessoas legais, os problemasno terminariam. O mundo nunca ser perfeito e,desculpe dizer, mas voc tambm no. Por mais quevoc construa uma mente de diamante para si, elasempre fraqueja.

    Em vez de buscar uma perfeio inatingvel,algumas vezes melhor aceitar que vivemos nummundo imperfeito e que ns mesmos somos repletos

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    de defeitos. Cabe a ns apenas fazer o melhor quepodemos, dentro do tempo que temos e das

    circunstncias em que vivemos.Alguns magistas desejam atingir a iluminao,

    obter a Pedra Filosofal ou salvar o mundo. Tudo isso muito interessante e muito nobre, mas nem todosos magistas desejam se aventurar nesses objetivosdifceis e no devem ser julgados por isso.

    A maioria de ns no tem tempo, dinheiro oufora de vontade o bastante para se aventurar nesses

    supostos destinos incrveis dos grandes heris. Sim, amaior parte de ns, meros mortais, somos somentehumanos, temos famlia, preocupaes mundanas,socamos o computador quando a internet cai ouxingamos o imbecil que fez uma barbeiragem notrnsito.

    Pode ser que voc pratique magia por dcadas eno fim de sua vida continue xingando o mesmoimbecil. Isso no significa que voc no evoluiu emsua prtica. Cada pessoa tem suas qualidades edefeitos e a maior parte das mudanas que ocorremdentro de ns ao longo de nossa jornada so sutis.Mas elas esto l. Aos poucos voc vai aprendendo ese tornando uma pessoa melhor. O objetivo da magiano virar um santo.

    Alm disso, cada magista tem focos diferentes.Pode ser que para um o objetivo seja ganhar muitagrana. Para outro o objetivo pode ser se tornar cadavez mais gentil. Aos olhos do magista que ficou rico,um magista pobre, mesmo que gentil, no avanounada. E aos olhos do magista que se tornou maisgentil, o magista rico que no teria avanado em

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    nada, j que aos seus olhos o dinheiro no teria tantaimportncia.

    Como v, uma questo de tentar se colocar noparadigma do outro. No h nada de errado emtentar se tornar uma pessoa mais gentil atravs damagia, tendo uma finalidade mais espiritual, contantoque voc no considere magistas que porventurasejam rudes como fracos ou como pouco evoludosno caminho espritual.

    De modo anlogo, um magista que opta por se

    focar em resultados prticos para a magia pode,naturalmente, usar sua magia para obter muitodinheiro. Porm, seria equivocado da parte dele julgarmagistas com pouco dinheiro como praticantesignorantes e pouco poderosos.

    No meu caso, eu no sou assim to gentil, no sourica e no tenho poderes psquicos (com exceo deuns raros momentos na meditao). Segundo essesparmetros, eu seria uma magista de merda, ahahaha!(sim, eu me orgulho da minha condio, pois aomenos eu tenho bom humor para rir disso!)

    No caosmo muito comum haver o foco naconquista material. Isso no significa que no existamos caostas mais espirituais, que podem at acreditarem Deus e ter uma religio. No extremo oposto, h

    os caostas quase atestas.H tambm o que eu chamo de caostascamalees, que seriam os lendrios magistas queficam pulando de um paradigma para outro o tempotodo. Na prtica, pouca gente faz isso, pois cada umtem seus sistemas preferidos.

    Devido a esse foco excessivo em magia comsigilos, servidores e busca por resultados imediatos,

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    Steve Dee no livro Chaos Craft prope omovimento do Slow Chaos. Ele lembra que muitas

    ordens de magia s esto interessadas em indivduosaltamente motivados, devido ao estilo do ocultismoocidental, de aprender a fazer o mximo de coisas nomnimo de tempo possvel. No entanto, algumasvezes poderamos seguir o conselho de Bob e abraara preguia! Afinal de contas, muitos de ns seenvolveram com o ocultismo pelo desejo de sonharuma vez mais e no para adquirir mais um

    compromisso estressante.Ento para responder a pergunta Para que serve

    a magia? eu diria: Para o que voc quiser que elasirva. Ela nem mesmo precisa servir para algumacoisa. Ns que temos essa mania de desejar que ascoisas sejam teis, dentro de critrios especificamenteestabelecidos por ns do que seja a utilidade.

    Digamos que o critrio de utilidade que voc criouseja: uma coisa s til quando me dconhecimentos de botnica. Voc passa a lersomente livros de botnica. Quando subitamentepega um livro sobre outro assunto (digamos,zoologia) voc perde a vontade de ler porque concluique est perdendo seu tempo, a no ser que voc crieuma associao mental entre zoologia e botnica e se

    convena de que o livro de zoologia te dar umconhecimento indireto sobre sua rea de interesse.Voc passa a se recusar a fazer um ritual de magia

    se no tiver uma planta consigo e comea a escreverna internet sobre a supremacia da magia com plantas,falando sobre a importncia evolutiva delas, seuspoderes curativos e julga todos os magistas que nofazem magia com plantas como ignorantes. Somente

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    voc inteligente, porque alm da prtica possui abase terica da suprema magia da botnica.

    At que voc vai ao Jardim Botnico local da suacidade, tem um orgasmo e morre. No seutestamento, voc deixou bem claro os tiposespecficos de flores que deseja ter em seu caixo.Voc espera reencarnar como planta. E vocconsegue!! (eu tinha que colocar um final feliz nessamerda de histria). Infelizmente voc devorado porum cavalo (Nomnomnom!!! Se apenas voc tivesse

    lido aquele livro de zoologia para evitar essasituao...)

    Bem, acho que voc pegou a ideia. Os magistasque ficam insistindo que somente seus objetivos paraa magia so os melhores, se parecem com umacriana que quer se exibir para seus amiguinhos queseu carrinho de brinquedo o mais sofisticado e omais caro. Foda-se isso, porque os carrinhos feitoscom prendedores de roupa (ah, que nostlgico!)funcionam to bem quanto!

    Alguns magistas sempre insistem que voc est seiludindo e que est fazendo tudo errado. Que o seuobjetivo deveria ser mais gentil, ou mais rico, ou sercapaz de mover uma bosta com o poder da mente.Eles dizem: Voc deveria estar estudando cabala e

    no perdendo seu precioso tempo estudando essaporcaria aleatria chamada Magia do Caos!! (comose um caosta no pudesse estudar cabalasimultaneamente, mas tudo bem...).

    E at mesmo entre os prprios caostas existem aspolmicas sobre como se pratica MC corretamente.Como foi dito na introduo, seria meio precipitadoeu grudar um chiclete na cadeira e dizer isso

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    caosmo. E voc me pergunta: Mas e se eu grudei ochiclete enquanto concentrava minhas energias para

    realizar uma magia de amor, para grudarna pessoaque costuma sentar naquela cadeira?. Nessemomento eu responderia: OK, agora podemosconversar.

    muito difcil julgar uma magia apenasobservando seus preparativos no mundo material ouseus resultados fsicos. Cada um deve fazer seustestes e descobrir o que funciona melhor para si: uma

    preparao mental mais longa ou uma material.Como diz Peter Carroll em Liber Kaos, a

    ridcula dualidade entre esprito e matria devedesaparecer no novo paradigma. A prpria separaoentre objetivos materiais e espirituais para a magia j precipitada. No fundo, eles caminham juntos.

    O magista do caos tem algum poder tanto sobre oesprito quanto sobre a matria, pois essas coisaspodem ser criaes mentais do magista (ou mesmodivindades estabelecidas pelo pacto social).

    Finalmente, quem quer usar magia apenas paradiverso, sem ter como meta poder, conhecimentoou conquistas espirituais, tampouco deve ser julgado.O caosmo pode ser muitas coisas: tanto uma magiapesada para maldies, como uma magia leve que

    gera grandes gargalhadas e momentos inesquecveis.Em seu livro How To See Fairies RamseyDukes diz que totalmente a favor de exploraesalegres da magia e que as crticas exageradas a essapostura refletiriam um puritanismo dogmticodaqueles que no gostam de ver pessoas sedivertindo.

    E vamos banir com risadas!

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    Captulo 4: Os Psiconautas e

    os Exerccios Dirios

    Agora que j respondemos o quando, o o quee o para que da magia, iremos responder ocomo.

    Voc j tem uma ideia de onde veio o caosmo, do

    que ele e para que ele serve. E agora eu te convidoa perguntar: como faz-lo funcionar?.Primeiro tire da cabea essa bobagem de que

    prtica superior teoria. Se voc acha isso, melhor fazer um movimento para fechar todas asuniversidades e s deixar os cursos tcnicos.

    preciso ter um equilbrio. Devido ao carterfortemente pragmtico da Magia do Caos, muitos

    acham que devem apenas sair lanando sigilos por ae que leitura no importa. Contudo, a leitura abre amente e essencial que o magista do caos tenha amente aberta para transitar mais facilmente entre osdiferentes paradigmas.

    Patrick Dunn menciona o termo magista depoltrona e lembra que ele usado de formapejorativa. Ele considera o desprezo pela teoria da

    magia um disparate intelectual. Quando as pessoasdizem coisas como No me importo como minhamagia funciona, eu s me importo que ela funcioneele diz que isso semelhante a falar Eu no tenhocuriosidade intelectual e acho que isso umavirtude.

    Teoria e prtica no so mutuamente exclusivas.Na verdade, h vrios momentos em que elas se

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    confundem, como no caso do que eu chamo demagia literria (a habilidade de alterar o estado de

    conscincia lendo histrias e direcionar o sentimentopara um objetivo mgico especfico).

    Segundo algumas pessoas, a prtica seria superior teoria primeiro por causa daquela histria de que omapa no o territrio (Bob discorda). E depoisporque, conforme dizem, h muitos tericos damagia e raros seriam os magistas que realmentelevantam a bunda da cadeira para segurar uma espada

    num crculo, pronunciando frases prontas em umalngua que eles mesmos no entendem (eles chamamisso de prtica).

    Mas ser que existem assim tantos tericos damagia? Eu realmente gostaria de saber onde estoessas figuras lendrias! Depende da definio deterico. O estudioso da magia o ocultistafodo da internet (o Ian Morais escreveu um livrocom esse ttulo, o O.F.I, e eu no resisti em cit-lo),que sempre tem opinio sobre tudo, mas queraramente l um livro de ocultismo? Se for essa adefinio, claro que est cheio de tericos nainternet, assim como est cheio de magistaspraticando magia realizando rituais ao estilo receitade bolo.

    claro que todos tm o direito de ter umaopinio sobre os mais variados assuntos, mesmo semconhecer a fundo. Ningum tem a obrigao de saberde tudo. E rituais estilo receita de bolo podem serdivertidos e so timos especialmente para quem estcomeando.

    No entanto, eu noto que algumas vezes as pessoasusam o argumento de prtica superior teoria

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    como uma desculpa para no ler. super bacana lerartigos sobre magia na internet e debater sobre eles,

    pois isso enriquece muito. Contudo, tambm valemuito a pena ler livros completos sobre magia, poisgeralmente eles apresentam mais detalhes e possvelconhecer o assunto mais a fundo.

    Sendo assim, toricos da magia que realmenteleram muitos livros de ocultismo e conhecem vriasreas a fundo continuam a ser raros. Assim como soraros os magistas que criam seus prprios rituais e

    sistemas e os testam.Por favor, no deixe de ler. Eu no acho que

    leitura seja superior a nenhuma forma deentretenimento (jogos, filmes, etc). No entanto,enquanto ainda no existem documentrios ou jogoseducativos sobre uma extensa gama de assuntos, oslivros ainda so uma das maiores fontes deconhecimento. Existem jogos e filmes sobre magia (eat sobre ocultismo) que so excelentes para darideias e aumentar a criatividade. Mas a teoria damagia e dicas de exerccios ainda se encontram, emsua maior parte, em livros e artigos da internet.

    uma pena que no existam mais tradues delivros de caosmo em portugus. Porm, caso nosaiba ingls, procure ler boa parte do que tem

    traduo. E ler livros de magia tradicional tambm timo. Afinal, existem muitos autores que emborano se considerem caostas, possuem abordagenscriativas. A diviso de MC e magia clssica nemsempre to definida, j que comum os magistasflertarem entre esses dois estilos (e muitos outros!).

    Caso voc deseje uma abordagem mais psicolgicapara a magia, tente ler pelo menos alguns livros de

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    psicologia. Ou se decidir fundamentar sua magia emqualquer outra rea do conhecimento (no precisa ser

    uma rea acadmica) d uma lida nisso tambm.E como algum tem tempo para parar e ler um

    livro em nosso mundo capitalista dominado pelavelocidade? Ler cinco pginas todo dia antes dedormir j faz com que voc avance numa leitura,contanto que voc seja guerreiro e mantenha suarotina de leituras dirias.

    Eu confesso que no sou a pessoa mais motivada

    para seguir rotinas dirias. Eu funciono melhor lendoum livro de uma tacada s, mas para isso tenho quepassar horas seguidas lendo. Cada um deve encontraro estilo de leitura que funcione para si.

    Podemos aplicar um pensamento semelhante paraos exerccios dirios. Algumas pessoas funcionambem realizando exerccios de magia quinze minutospor dia. Outras preferem separar um fim de semana epassar uma ou duas horas seguidas num ritual.

    Como a magia funciona? Talvez ns nuncasaibamos disso. No mximo, podemos bolar teoriaselegantes, inteligentes ou divertidas. Podemos obteralgumas pistas de como a magia parece funcionartanto atravs de nossas leituras como atravs darealizao de rituais.

    Digamos que voc precise realizar o ritual Apara obter o efeito B. Vamos supor que a magiadeu certo e voc conseguiu B. Pode ter sido umacoincidncia, certo? Como diz Ramsey Dukes, essedetalhe no importa, contanto que o magista sejacapaz de trazer tona tais coincidncias.

    Se o magista repetir o ritual dez vezes e na maiorparte delas obtiver B, ele pode comear a desconfiar

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    que sua magia tem, de fato, alguma relao com oefeito obtido.

    Contudo, o que realmente acontece por trs dospanos ns nunca saberemos. Digamos que o ritual Adesencadeie o efeito C e que na verdade o C quecausa B e no A. O magista pode nunca saber disso eachar que seu ritual que responsvel pelo efeito queobteve, quando na verdade foi apenas uma causaindireta.

    Isso importa? Algumas vezes interessante

    investigar essas coisas e teorizar sobre isso, seja porcuriosidade ou porque atravs dessa reflexo vocpode ter ideias realmente originais e ousadas paramontar seus prximos rituais. Tambm pode ser queobtenha efeitos ainda melhores.

    O magista do caos como um alquimista em seulaboratrio de experimentos. Ele testa seus resultadose vai alterando as variveis at chegar em algo que lhesirva.

    Ele pode continuar usando o mesmo modelo pormuito tempo, mas legal que ele teste novaspossibilidades de vez em quando. No precisorealizar algo novo e ousado todo dia religiosamente!S se deve manter em mente que bacana testarnovas formas de ver e praticar magia de tempos em

    tempos. recomendvel que o magista se divirta enquantofaz seus testes. Caso ele realmente tenha preguia deler ou de realizar prticas de magia (ou no goste, porqualquer razo) quem sabe ele no tenha selecionadobem seus livros ou suas prticas. O ideal escolherum livro que ele realmente tenha alguma curiosidadepara ler e uma prtica com a qual se identifique.

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    No entanto, se ele tiver resistncia at mesmo paraler ou praticar coisas de seu interesse, recomenda-se

    que tente fazer ao menos um pequeno esforo parasair de sua zona de conforto e estabelea a tal prticadiria de quinze minutos. Ou que seja ao menoscinco minutos! O importante manter um equilbrioentre o dever e a diverso.

    Como sabemos se uma magia funcionou ou no? recomendvel sermos bem especficos e no vagosem nossos desejos, para haver critrios nos quais

    possamos nos basear e assim entender se o feitioteve sucesso.

    Porm, se o magista inseguro, se estcomeando ou se ainda no acredita muito em magia, sugerido que ele comece testando coisas maisfceis.

    Alguns magistas deixam de fazer feitios pormedo de falhar. Enquanto outros fazem feitios todahora, sempre cobiando os resultados.

    Esses so dois extremos. No muito bom deixarde fazer alguma coisa por medo do fracasso. Poroutro lado, usar dez sigilos por dia por causa dequalquer coceira pode significar que o magista ummanaco por controle. Ele no consegue aceitar queem alguns momentos ele simplesmente no ser

    capaz de fazer com que o mundo caia aos seus ps eest sempre desejando acertar a todo segundo.Quando erra um sigilo, ele encara como um fracassopessoal e acha que no um magista bom o bastante.

    geralmente aceito que um bom estado mentalpara praticar magia seria colocar-se num equilbrioentre esses dois extremos: no deixar de praticar

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    magia por medo de fracassar, mas tambm nocobiar tanto assim os resultados.

    Voc deve lanar o sigilo e depois se esquecerdele. No deve ficar ansioso e querendo que elefuncione. Apenas lance-o e fique com o sentimentode que fez a sua parte. No tente tampouco controlaros caminhos pelos quais o sigilo ir atuar.

    No artigo Magick, Ecstasy and the Quest(publicado no Kaos Magick Journal Vol 1 N2) DaveLee fala sobre a questo do controle. Ele observa que

    muitos magistas do caos tendem a considerar quemagia a mesma coisa que feitiaria e pensam que seno houvesse algum resultado objetivo seria religioou misticismo. Ele cita o to conhecido paradoxo, jmencionado, de cobia por resultados. E conclui quea magia pode ser vista como a busca de poder entre atenso dinmica de xtase e controle.

    Na Magia do Caos existe a nfase na gnose, queseria o termo usado para alterao de conscincia.So usados mtodos inibitrios (mtodos lentos deconcentrao, como meditao, para diminuir arespirao e os batimentos) ou excitatrios (comodanas que so mais rpidas e aceleram o corpo).Voc pode interpretar essas tcnicas como a viamida e a seca da alquimia. Ou pode usar a via mista

    tambm.Eu j repeti isso incontveis vezes nos meus livrose vou repetir de novo: no necessrio alterar seuestado de conscincia para praticar magia ou pararealizar um ritual ou feitio bem sucedido.

    Vou exemplificar esse ponto com a analogia dosutenslios cerimoniais. O magista que veste ummanto, usa uma espada, velas e cria todo um teatro

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    para seu ritual o faz principalmente para inspirar amente. Ele deseja criar uma atmosfera diferente para

    induzir uma quebra de rotina, com o intuito de quetal roupagem externa resulte numa alterao mental,ou mesmo alterao de conscincia.

    Porm, sabemos muito bem que um magistahabilidoso e bem treinado pode atingir o clima doritual ou alterar seu estado de conscincia semrealizar alteraes externas, mas somente mentais.

    Podemos ir ainda mais longe. Um magista que

    realmente confie em suas habilidades e que j tenhaum histrico de prticas mgicas pode at mesmorealizar magias sem alterar o estado de conscincia.

    Afinal, o que seria uma alterao de estadomental? Em poucas palavras, seria um momento desuper concentrao. Quando estamos perdidos empensamentos no nibus podemos nem notar o queest acontecendo ao nosso redor. Ou quandoestamos muito concentrados num livro, podemos atdeixar de escutar o que est sendo dito nasproximidades.

    Esse um bom estado que auxilia o foco noobjetivo do ritual e facilita sua execuo. Contudo,no um requisito absoluto e insubstituvel.

    No livro Chaos Craft os autores recordam da

    importncia do holismo. Ns somos treinados a nosfocar numa nica coisa e esquecemos do poder deolhar para o todo, para ter uma viso mais ampla dasituao. o caso dos xams ou animais quepercebem de longe quando uma ameaa se aproxima,pela alterao dos pssaros, rvores e outras sutilezasdo meio ambiente, que normalmente passariamdespercebidas por algum no treinado.

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    Tal estado de conscincia tambm poderosopara lanar magias.

    Alm disso, a concentrao no a nicaferramenta para canalizar as energias de um ritual.Vrias vezes eu j alterei meu estado de conscincianuma meditao completamente ao acaso, enquantopensava na morte da bezerra. O poder daaleatoriedade tambm valorizado na MC.

    Por isso, tente testar formas inusitadas de ativar afora de seu ritual.

    Como dito no mesmo livro, muitos consideramque o caosmo reflete no somente a flexibilidade dops-modernismo, mas tambm sua superficialidade econsumismo explcito. Muitos acabam deixando ocaosmo de lado por consider-lo muito raso e logopartem para escolas de magia que consideramespiritualmente mais profundas e romnticas (serque eles consideram suas prprias imaginaesrasas?).

    Eu vejo isso principalmente como uma paixo porhistria, mitologia, tradio e religio. Essa paixo digna, mas ns estamos vivos agora! No precisamosviver somente com uma nostalgia do passado. Nsestamos criando agora nossa prpria histria.Frequentemente nos esquecemos disso e estudamos a

    histria do ocultismo como se fosse uma coisaesttica que no estivesse acontecendo hoje. Essa uma histria da qual somos protagonistas.

    muito mais seguro usarmos uma meditao paraalterar nosso estado de conscincia, j que essemtodo j foi extensivamente testado e provou terbons resultados. um desafio apaixonante deixaresses mtodos de lado e sair em busca de aventuras.

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    Assim como difcil fazer magia com sua roupado dia a dia e seus objetos do dia a dia, tambm

    difcil fazer magia com seu estado mental do dia adia.

    Encare isso como um convite para que voc tragaum pouco de magia para sua rotina. Voc no precisadeixar de ser voc mesmo (nem por fora e nem pordentro) para se portar de forma mgica.

    Por alguma razo, provavelmente por influnciade livros de fantasia, ns achamos que um mago s

    mago quando usa chapus grandes e tem umavarinha ou que um magista s faz uma magia efetivaquando seu estado de conscincia se altera paraqualquer coisa diferente daquele mais usual.

    Meditaes, projees astrais, sonhos lcidos. Osmagistas so apaixonados por essas coisas, porqueeles acham mgico que ns exploremos outrosmundos que no seja o nosso!

    Fazer essas exploraes obviamenteapaixonante, mas deixo aqui o convite de que voctente achar a magia escondida dentro de seu mundoatual e de sua mente atual em vez de sempre precisar,de certa forma, fugir da sua realidade diriamontona.

    Quem sabe assim voc passe a considerar sua vida

    mgica e no montona. Passe a ver o seu pijamavelho e surrado como um poderoso mantocerimonial! E sua mente preguiosa e distrada comoum pontecial infinito de poder mgico!

    Esse o primeiro exerccio dirio que eu sugiropara voc nesse captulo: tente achar pelo menos umacoisa mgica em seu dia, que seja o ato mais comumpossvel.

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    Os magistas adoram exerccios dirios e algunsacham que um livro no est completo sem eles.

    Deve haver um captulo sobre teoria, de prefernciacheio de termos tcnicos e simbologiaincompreensvel. Depois deve haver um captulo deexerccios dirios do tipo: fite a chama de uma vela,visualize uma bola vermelha e depois d um tiro nacabea aps morrer de tdio fazendo isso.

    Na verdade esses exerccios so teis. Mas se vocpode fazer exerccios divertidos com efeitos

    semelhantes, por que vai optar pelos chatos?O ideal que voc crie seus prprios exerccios e

    v alterando conforme percebe que funcionammelhor para voc. Tambm possvel bolar suasprprias teorias da magia com base em temas que teatraiam.

    Vamos supor que voc super f de um jogo.Bole uma teoria da magia de que a magia na verdadese originou no mundo do seu jogo e cada vez quevoc passa de uma fase energiza seu servidor, que um dos monstrinhos do jogo. Seu exerccio dirioser lanar uma magia parecida com aquela bola defogo que o personagem lana no inimigo. Voc irlanar a bola de fogo em um bonequinho querepresente o servidor de seus obstculos. Depois de

    uma semana ir queim-lo.Enfim, esse foi s um exemplo. A vantagem de lerum livro de MC no reproduzir literalmente todosos rituais e exerccios mostrados l, mas inspirar-seneles para criar os seus. E se voc se inspira em,digamos, cinco livros diferentes de caosmo, aprobabilidade de seu ritual se tornar mais criativo e

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    efetivo aumenta, j que voc teve contato com maisideias (tanto tericas quanto prticas).

    Evidentemente, ideias no seguem uma lgicamatemtica. Elas podem vir de qualquer lugar.

    Considerar que o mundo convencional omundo real e que o mundo dos sonhos ou outrosestados de conscincia so ilusrios ou menoslegtimos tambm pode ser visto como uma forma delimitao. O nosso mundo e nosso estado mentaldesperto no so necessariamente mais verdadeiros

    que outros. Porm, como o mundo e o estado emque costumamos nos encontrar (e geralmente nossainteno alterar essa mente e esse mundo) muitoimportante desenvolver magias que nos permitamtrabalhar neles.

    O ideal seria romper essa dualidade de estadoconvencional e estado alterado e de mundoconvencional e mundo dos espritos.

    Quando alteramos o estado de conscincia numameditao temos a impresso de que penetramosnum mundo diferente. Ou quando evocamos umesprito para nosso mundo achamos que abrimos umportal e que o esprito veio l da outra dimenso.

    No entanto, ns consideramos que esses estados edimenses so coisas separadas apenas para facilitar a

    sistematizao. Na prtica, provvel que eles sejampraticamente a mesma coisa. Pode haver vriosespritos danando no seu quarto atrs de voc ne