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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
O DANO PESSOAL PROVOCADO POR VEÍCULO AUTOMOTOR DE VIA TERRESTRE QUANTO AO DIREITO DA INDENIZAÇÃO DO
SEGURO OBRIGATÓRIO - DPVAT
SÉRGIO ROBERTO NEITZEL
Itajaí (SC), 29 de maio de 2009
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO
O DANO PESSOAL PROVOCADO POR VEÍCULO AUTOMOTOR DE VIA TERRESTRE QUANTO AO DIREITO DA INDENIZAÇÃO DO
SEGURO OBRIGATÓRIO - DPVAT
SÉRGIO ROBERTO NEITZEL
Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientador: Professor MSc. Marcos Alberto Carvalho de Freitas
Itajaí (SC), 29 de maio de 2009
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, por ter sido um amigo fiel
em todos os momentos desta jornada; à minha
esposa e filhos, pela compreensão da ausência;
aos meus pais, por terem acreditado na minha
vitória; aos meus amigos de sala, que dividiam e
compartilhavam diariamente o aprendizado deste
magnífico curso, dos quais sentirei falta; aos
meus colegas de trabalho que irão se beneficiar
com esta pesquisa e por fim e não menos
importante, agradeço meu orientador, Prof.
Marcos Alberto Carvalho de Freitas, o qual deu
direção nesta pesquisa. Muito obrigado a todos.
3
DEDICATÓRIA
Dedico a presente pesquisa a todos os que
tenham afinidade com a matéria, aos meus
amigos de sala de aula que compartilharam esta
fase do curso; Também dedico este trabalho aos
meus 02 (dois) filhos amados e a minha
maravilhosa esposa pela compreensão destes
últimos 05 (cinco) anos, bem como aos meus
queridos pais e irmãos; Por fim dedico esta
pesquisa aos meus amigos de trabalho, em
especial a minha amiga e sócia Liane Lima, ao
meu amigo e sócio Arlei Lima, ao Dr. Eduardo
Stoeberl e a Dra. Aline Vasty Machado, pelos
quais tenho profunda admiração e carinho, não só
pelo dia a dia de trabalho, mas também pela
oportunidade da amizade que temos e por saber
do orgulho que sentem pela minha trajetória.
4
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo
aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do
Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o
Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí (SC), 29 de maio de 2009.
Sérgio Roberto Neitzel Graduando
5
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale
do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Sérgio Roberto Neitzel, sob o título
O Dano Pessoal Provocado por Veículo Automotor de Via Terrestre quanto ao
Direito da Indenização do Seguro Obrigatório - DPVAT, foi submetida em
17/06/2009 à banca examinadora composta pelos professores: MSc. Marcos
Alberto Carvalho de Freitas (Orientador e Presidente) e MSc. Emanuela Cristina
Andrade Lacerda (Membro), e aprovada com a nota
__________(_______________________).
Itajaí, 29 de maio de 2009
Professor MSc. Marcos Alberto Carvalho de Freitas Orientador e Presidente da Banca
Professor MSc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia
ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AC Apelação Civil
ADCT Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
ART Artigo
CC/2002 Código Civil de 2002
CDC Código de Defesa do Consumidor
CNSP Conselho Nacional de Seguros Privados
CPF Cadastro de Pessoa Física
CRFB Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
CRLV Certificado de Registro e Licenciamento de Veículos
DETRAN Departamento Nacional de Trânsito
DES Desembargador
DJ Diário da Justiça
DPVAT Danos Pessoais Provocados por Veículos Automotores de Vias Terrestres
EXMO Excelentíssimo
FENASEG Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização
FUNENSEG Fundação Escola Nacional de Seguros
FNS Fundo Nacional de Saúde
IML Instituto Médico Legal
IRB Instituto de Resseguro do Brasil
J. Julgamento
LICC Lei de Introdução ao Código Civil
N. Numero
OAB/SC Ordem dos Advogados do Brasil Seção de Santa Catarina
P. Pagina
REL Relator
7
RE Recurso Especial
RG Registro Geral
RT Revista dos Tribunais
SUSEP Superintendência de Seguros Privados
SR Senhor
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
T Turma
TJSC Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina
UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí
VOL Volume
§ Inciso
8
SUMÁRIO
RESUMO........................................................................................... 10
INTRODUÇÃO .................................................................................. 11
CAPÍTULO 1 ..................................................................................... 13
RETROSPECTO HISTÓRICO DO SEGURO .................................... 13
1.1 O SURGIMENTO DO SEGURO .................................................................... 13 1.1.1 O SURGIMENTO DO SEGURO NO BRASIL .............................................. 15
1.2 O SURGIMENTO DO SEGURO OBRIGATÓRIO .......................................... 18
1.2.1 O SURGIMENTO DO SEGURO OBRIGATÓRIO NO BRASIL .................... 19
CAPÍTULO 2 ..................................................................................... 28
SEGURO OBRIGATÓRIO DE VEÍCULOS AUTOMOTORES DE VIAS TERRESTRES ......................................................................... 28
2.1 NATUREZA JURÍDICA .................................................................................. 28
2.1.1 A CULPA NO SEGURO DPVAT ................................................................ 29 2.1.1.1 A RESPONSABILIDADE SUBJETIVA .................................................... 30 2.1.1.2 A RESPONSABILIDADE OBJETIVA ...................................................... 33
2.2 O CONTRATO DE SEGURO DPVAT ............................................................ 36
2.2.1 O SEGURADOR E SUAS OBRIGAÇÕES .................................................. 37 2.2.2 O SEGURADO E SUAS OBRIGAÇÕES .................................................... 39 2.2.3 OS RISCOS NÃO COBERTOS PELO SEGURO DPVAT .......................... 42
2.2.4 A INDENIZAÇÃO DO SEGURO OBRIGATÓRIO DPVAT ......................... 43 2.2.5 OS BENEFICIARIOS DO SEGURO DPVAT .............................................. 52
2.3 DA LIQUIDAÇÃO DO SEGURO DPVAT ....................................................... 54 2.3.1 DA LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL .......................................................... 54 2.3.2 DA LIQUIDAÇÃO JUDICIAL ...................................................................... 58 2.5 DA LEGITIMIDADE ....................................................................................... 61 2.6 DA PRESCRIÇÃO ......................................................................................... 62
2.6.1 DA PRECRIÇÃO DO DIREITO À INDENIZAÇÃO ..................................... 62
2.6.2 DA PRECRIÇÃO PARA OS ACIDENTES OCORRIDOS ANTES DO NOVO CÓDIGO CIVIL/2002 ................................................................................ 67 2.7 DA COMPETÊNCIA ....................................................................................... 69 2.8 SUB-ROGAÇÃO DA SEGURADORA ........................................................... 72 2.9 INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES ........................................................ 73
CAPÍTULO 3 ..................................................................................... 75
DO PROCEDIMENTO PARA RECEBER O SEGURO DPVAT ......... 75
3.1 COMO RECEBER A INDENIZAÇÃO DO SEGURO OBRIGATÓRIO - DPVAT ................................................................................................................. 75
3.1.1 PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR MORTE ................................................ 76
9
3.1.2 PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR INVALIDEZ .......................................... 79
3.1.3 REEMBOLSO DAS DESPESAS MÉDICAS ............................................... 80 3.2 ESTATISTICAS SOBRE O SEGURO DPVAT .............................................. 83 3.2.1 INDENIZAÇÕES PAGAS DE JANEIRO A DEZEMBRO DE 2008 ............. 83
3.2.2 INDENIZAÇÕES PAGAS POR PERFIL ..................................................... 84 3.2.3 INDENIZAÇÕES PAGAS ANALISANDO OS VEÍCULOS ENVOLVIDOS . 85
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 86
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ........................................... 88
ANEXOS ........................................................................................... 91
10
RESUMO
A presente pesquisa aborda sobre a indenização do
Seguro Obrigatório de Dano Pessoal Provocado por Veículo Automotor de Via
Terrestre – DPVAT, sob seus vários aspectos administrativos e jurídicos. Para
tanto foi necessário um relato histórico do surgimento do contrato de seguro,
bem como do contrato de seguro obrigatório. A abordagem do tema
compreende desde a natureza jurídica do seguro obrigatório DPVAT, passando
pelo contrato propriamente dito, as obrigações do segurado e segurador, os
riscos cobertos e não cobertos, os beneficiários da indenização, a legitimidade
das seguradoras, a prescrição do direito e a competência. Foi apresentada a
visão doutrinária e jurisprudencial atual acerca da cobertura do seguro bem
como a amplitude da matéria, demonstrando de maneira clara o direito da
indenização. Por fim, discorre sobre o procedimento administrativo para a
obtenção da indenização do seguro obrigatório DPVAT, em todas as suas
modalidades, bem como os documentos necessários para se requerer a
indenização.
11
INTRODUÇÃO
A presente Monografia tem como objetivo demonstrar o
direito das vítimas nas indenizações do Seguro Obrigatório - DPVAT.
Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando do
aspecto histórico do surgimento do seguro em uma conceituação de nível
mundial e nacional. Da mesma forma, seguindo pelo surgimento do ramo da
cobertura do seguro obrigatório, o qual tem sua origem em legislações
internacionais, e foi introduzido em nosso ordenamento jurídico como sendo
um dos ramos de seguro, denominado de Seguro Obrigatório DPVAT.
Denotou-se que referido seguro, prevê cobertura aos danos pessoais causados
por veículos automotores de via terrestre, bem como o mesmo inovou tal
cobertura de seguro no Brasil, sendo enfatizado suas alterações legais e a sua
atual legislação.
Após o breve relato histórico, o Capítulo 2 trata
primordialmente da natureza jurídica do seguro obrigatório DPVAT, bem como
seus limites estabelecidos pela Lei, principalmente em relação à
responsabilidade civil. Também foi esclarecida a desnecessidade da
comprovação de culpa nos sinistros, abrangência do contrato e obrigações das
partes. De modo geral, tratou dos principais aspectos referentes ao direito à
indenização, prazos e competência.
O Capítulo 3 finalizou a presente pesquisa tratando da
parte prática, ou seja, qual o procedimento necessário para se pleitear as
indenizações de maneira administrativa e jurídica, com a devida ênfase no
aspecto do cotidiano.
O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as
Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos
destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das
reflexões sobre o direito da indenização do seguro obrigatório DPVAT.
12
Para a presente monografia foram levantadas as
seguintes hipóteses:
1- Para que haja o dever de indenizar é desnecessária
a comprovação da culpa, bem como a identificação do veículo ou do condutor.
2- O valor da indenização a ser recebido, independe da
vontade do proprietário do veículo, bastando a simples ocorrência do dano.
3- As indenizações disponíveis para as vítimas estão
subdividias em somente 03(três) coberturas, morte, invalidez e despesas
médicas.
13
CAPÍTULO 1
RETROSPECTO HISTÓRICO DO SEGURO
1.1 O SURGIMENTO DO SEGURO
Objetivando o êxito da pesquisa, importante fazer constar
os aspectos históricos acerca do tema, assim base para o entendimento do
surgimento de uma das categorias dispostas no direito de contratos, o ramo do
seguro, em especial o ramo do Seguro Obrigatório DPVAT – Danos Pessoais
Provocados por Veículos Automotores de Vias Terrestres.
O início da instituição do seguro como fator de proteção
das fatalidades da vida é muito antiga. Guimarães [2002, p.15] traz em sua
obra que há muito tempo o homem já se preocupava em minimizar os efeitos
de um acontecimento imprevisível.
De acordo com Oliveira [2002, p.3], a história do seguro
se confunde com a própria história da humanidade e, sem duvida, tem como
progênie a preocupação do ser humano em resguardar-se e preservar seus
bens contra os perigos que o cercam. Portanto, foi necessária a organização
em grupos para poder enfrentar tais situações, procurando, assim, minimizar
seus prejuízos.
Oliveira [2002, p.3] discorre sobre do surgimento do
contrato de seguro, onde consta que os primeiros indícios de contratos de
seguros estão registrados há milhares de anos, tendo como ponto de partida o
seguro no comércio de camelos.
Relata também que já na antiga Babilônia, XXIII séculos
antes de Cristo, mercadores de camelos cruzavam a imensidão dos desertos
com suas caravanas para comercializar seus animais e pactuavam que
havendo a morte dos animais durante a viagem, estes seriam pagos pelos
14
demais membros do grupo, como forma de minorar o prejuízo, demonstrando
assim uma forma de garantia, ou seja, uma maneira de assegurar sua
propriedade.
Acrescenta Oliveira [2002, p.3] que mecanismo
semelhante foi também utilizado no ramo das navegações, sendo adotada uma
modalidade de seguro, a qual era praticada entre os hebreus e fenícios.
Tal modalidade consistia em um acordo entre os
navegadores dos mares Egeu e Mediterrâneo, que expostos aos riscos da
viagem, acordavam que quem perdesse uma embarcação, seria compensado
com a construção de outra, a qual seria paga pelos demais membros
participantes da mesma viagem.
Complementa Oliveira [2002, p.3], que desta forma os
povos antigos instituíram uma proteção ao seu patrimônio por meio de acordos
para cobrir perdas eventualmente ocorridas.
No século XII surge uma nova modalidade de seguro,
agora já formalizada, o “contrato de dinheiro à risco marítimo” entre o
financiador e o navegador. Caso houvesse um acidente com a embarcação
durante a viagem, o dinheiro correspondente ao seu valor não seria devolvido,
caso contrário o financiador recebia seu dinheiro de volta acrescido de juros.
Complementa Alvim [1986, p.3] que este mecanismo foi
bem aceito e difundido nos transportes marítimos, consistindo a operação num
empréstimo em dinheiro por um capitalista aos empresários de uma viagem
marítima. Se tudo corresse bem e o navio voltasse ao porto de origem, o
mutuante devia receber a quantia adiantada, acrescida de uma parcela
substancial, a titulo de juros e compensação pelos riscos assumidos. Nenhum
reembolso haveria por parte dos mutuários se a expedição fosse mal sucedida
com a perda dos bens transportados.
Para Oliveira [2002, p.4], esta evolução passou pela
cobrança de uma compensação pelos riscos assumidos pelo capitalista, até
chegar à desvinculação da cobertura contra o risco do contrato de empréstimo,
15
com a promessa de indenização condicionada ao pagamento do prêmio
correspondente, caso o risco se concretizasse. Surgia desta forma o contrato
de seguro, em meados do século XIII.
De acordo com Alvim [1986, p.13]:
“[...] no século XV surgiram os primeiros dispositivos legais
estabelecendo normas a respeito do seguro. Foram criados os
institutos do co-seguro, onde vários seguradores dividiam a
responsabilidade do risco, e do resseguro, onde um segurador
se compromete diretamente com o segurado pela cobertura do
risco, transferindo para os demais seguradores a parcela que
ele não teria condições de arcar diretamente.”
Durante muito tempo a atividade seguradora esteve
vinculada às operações bancárias. Guimarães [2002, p.16] traz a informação
que as primeiras sociedades de seguros mútuos, embrião das seguradoras,
davam cobertura para seguros de vida, que sugiram por volta do século XVII,
por iniciativa de um banqueiro Italiano de nome Tonti, dando nome às
sociedades Tontinas.
Guimarães [2002, p. 16] complementa que somente em
1347, na cidade de Gênova, na Itália, o primeiro contrato de seguro foi firmado.
Apesar de não ter a figura da seguradora como gerente de riscos, os contratos
eram garantidos por bancos. Somente na Inglaterra, durante a revolução
industrial, é que se estabeleceu o contrato de seguro como hoje se conhece,
quando então, foram criadas as primeiras companhias seguradoras. A mais
significante foi a Seguradora Loyd`s, operando no ramo dos seguros marítimos.
1.1.1 O SURGIMENTO DO SEGURO NO BRASIL
A atividade seguradora no Brasil, conforme leciona Alvim
[1986, p. 48-50], começa a se desenvolver em 1808, com a chegada da família
Real Portuguesa no país e a conseqüente abertura dos portos às nações
estrangeiras. Neste mesmo ano, foi autorizado o funcionamento das primeiras
companhias seguradoras brasileiras, ambas com sede no estado da Bahia. A
primeira sociedade de seguros a funcionar no país foi a "Companhia de
Seguros Boa-Fé", que tinha por objetivo operar no seguro marítimo.
16
Leciona Oliveira [2002, p.5], que neste período a atividade
seguradora era regulada pelas Leis Portuguesas, denominada de “Regulações
da Casa de Seguro de Lisboa”, baixadas em 1791 e reformuladas em 1820.
Somente em 1850, com a promulgação do "Código Comercial Brasileiro", Lei n°
556, de 25 de junho de 1850 é que o seguro marítimo foi pela primeira vez
estudado e regulado em todos os seus aspectos no país.
Aduz Oliveira [2002, p.5] que o Código Comercial
Brasileiro, de 1850, em seu artigo 686, II, proíbe o seguro sobre a vida de
pessoas livres, admitindo-o, contudo, sobre a vida de escravos, por serem eles
tratados como sendo objetos de propriedade. Em 1855 surge a Cia. de
Seguros Tranqüilidade, a qual operava tanto nos seguros de pessoas livres
como também de escravos.
Glitz [2001, p.8] colaciona que com a promulgação do
Código Comercial Brasileiro, em 1850, surgiu a primeira lei regulamentadora de
seguros, mais especificamente, marítimos. Juntamente com a vigência do
Código Comercial, surgiram onze seguradoras nacionais atuando no ramo
marítimo.
Discorre Glitz [2001, p.8], que após 10 anos de vigência
do Código Comercial, o governo imperial começou a exercer certo controle no
ramo de seguros, criando dois decretos, um que obrigava as seguradoras a
apresentarem seu balanço e outro que o estado aprovasse seu estatuto. Com a
criação dos referidos decretos, foi autorizado o funcionamento de companhias
estrangeiras em território nacional.
Com a autorização da instalação de empresas
estrangeiras, e com o início da República, salienta Glitz [2001, p.8] que foi
criado o primeiro órgão fiscalizador da atividade de seguros, a
Superintendência Geral de Seguros, a fim de se aumentar o controle do
mercado e evitar a evasão de divisas para o exterior. Juntamente com o
intervencionismo do estado, surge em 1.919 a obrigação de todas as empresas
industriais instituírem o seguro contra acidentes em favor de seus funcionários.
17
Salienta ainda que finalmente em 1939, é criado o
Instituto de Resseguros do Brasil – IRB, que foi grande responsável
desenvolvimento da atividade securitária no mercado nacional, que passou por
um período de expansão e nacionalização dos seus serviços. Com a vigência
do Decreto Lei n.º 73, criou-se o Sistema Nacional de Seguros Privados,
composto pelo Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP, e pela
Superintendência de Seguros Privados – SUSEP, pelo Instituto de Resseguros
do Brasil – IBR e pelas seguradoras e seus corretores.
Notadamente, em conseqüência da evolução e da
transformação sociais, o contrato de seguro, juntamente com o instituto da
Responsabilidade Civil sofreu inúmeras alterações ao longo dos anos. E neste
sentido, bem observa Glitz [2001, p.12], ao afirmar que:
Essas mudanças sociais influíram não só na nova concepção
da responsabilidade civil, mas também na evolução do contrato
de seguro. Assim, sempre acompanhando os ensinamentos de
Arnoldo Wald, pode-se dizer que a evolução do contrato de
seguro seguiu as seguintes tendências:
Manutenção do equilíbrio econômico-financeiro: a
jurisprudência acena com a necessidade de manutenção das
prestações dos contratantes. De um lado deve a indenização,
por exemplo, ser corrigida monetariamente (o que não
prejudicaria a aleatoriedade do contrato, já que esta é a
ocorrência ou não do sinistro), de outro a indenização não pode
servir como meio de enriquecimento para qualquer das partes,
devendo ser fixada em certas bases;
Internacionalização do Mercado: “a Constituição Federal de
1988 estabeleceu (art. 192 da CRFB e 52 do ADCT) que
somente seria possível o funcionamento das empresas
seguradoras estrangeiras no Brasil ou de participação em
sociedades nacionais desde que houvesse reciprocidade e
interesse nacional (vinculado, portanto, a autorização do
Presidente da República).
Tal afirmação, trazida pelo autor citado anteriormente
[2001, p.12], manteve-se até a promulgação da Emenda Constitucional n.º 13,
em 1995, quando foi reconhecido o interesse social na participação do capital
18
estrangeiro no mercado nacional de seguros. Com a internacionalização do
mercado de seguros brasileiro, houve um aquecimento na competição entre as
seguradoras e uma revolução técnica significativa.
Diante da evolução histórica e do surgimento do seguro,
conceitua Alvim [1986, p.113] que seguro “é o contrato pelo qual o segurador,
mediante o recebimento de um prêmio, assume perante o segurado a
obrigação de pagamento de uma prestação, se ocorrer o risco a que está
exposto.”
Atualmente o Código Civil Brasileiro lei 10.406/2002,
prescreve no seu artigo 757 que:
Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga,
mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo
do segurado, relativo à pessoa ou a coisa, contra riscos
predeterminados.
Parágrafo único. Somente pode ser parte, no contrato de
seguro, como segurador, entidade para tal fim legalmente
autorizada.
1.2 O SURGIMENTO DO SEGURO OBRIGATÓRIO
Conforme Alvim [1992, p.245] tem-se a origem do seguro
obrigatório pela primeira vez no Estado de Massachusets, nos Estados Unidos
da América, no ano de 1927. Todavia, não tardou para que os países europeus
também passassem a regular em suas legislações esta modalidade securitária,
caso da Inglaterra (1930), Suíça (1932) e Principado de Luxemburgo (1932).
Para Martins [2008, p.22], o seguro obrigatório, por seu
turno, é fruto natural da evolução do seguro. É uma de suas modalidades,
como já mencionado no início, ao lado de tantas outras existentes, tais como
seguro agrícola, seguro de bens, seguro contra danos, seguro de vida, seguro
de saúde etc.
Leciona Martins [2008, p.22], que seu surgimento está
vinculado, em linhas gerais, com a mudança do posicionamento do poder de
19
império do Estado em relação aos seus súditos, caminhando de tal ingerência
na vida privada (monarquia absolutista, onde o poder estatal confundia-se com
a figura do Rei), passando pelo ápice do Estado liberal (a partir da revolução
Francesa, em 1789), e convergindo novamente para a ingerência, ainda que
parcial e juridicamente controlada (estado de direito), do ente estatal na vida do
individuo. Foi neste último momento histórico que eclodiram as primeiras
formas de seguro obrigatório, produto da necessidade da intervenção do
Estado nas relações privadas no intuito de manter o equilíbrio social, dada a
progressiva complexidade das relações intersubjetivas advindas do vigoroso
progresso humano.
Acrescenta Martins [2008, p.22], que passou o ente
público, então, a ditar normas de natureza congênere, fazendo surgir o seguro
obrigatório em suas mais diversas formas: seguro obrigatório para cobertura de
riscos em transportes marítimos, seguro obrigatório habitacional, seguro
obrigatório para transporte pessoal em aeronaves e etc.
1.2.1 O SURGIMENTO DO SEGURO OBRIGATÓRIO NO BRASIL
Traz Martins [2008, p.28] que somente por volta da
década de 60, os países europeus começaram a dar maior importância ao
seguro obrigatório para proprietários de veículos automotores. A partir da
década de 70, a Comunidade Econômica Européia passou a expedir normas
diretivas com o intuito de aprimorar as diferentes legislações dos países
membros a respeito dos seguros obrigatórios.
Pelo exposto do autor acima mencionado, percebe-se que
o Brasil acompanhou as tendências mundiais, visto a preocupação de proteger
as vítimas de acidentes de trânsito, o que já era comum ocorrer em outros
países com desenvolvimento avançado em relação ao nosso.
Destaca Oliveira [2002, p.105] que no Brasil, a primeira
referência legal ao Seguro Obrigatório aconteceu no decreto lei nº 1.186/39 em
seu artigo 36, o qual descrevia que:
20
Art. 36. A partir de 1º de julho de 1940 ficam as sociedades
comerciais e industriais obrigadas a segurar no Brasil, contra
riscos de fogo e de transportes, seus bens moveis e imóveis
situados no país, desde que o valor total desses bens seja
igual ou superior a quinhentos contos de réis.
Acrescenta Oliveira, que foi com o Decreto Lei nº 73, de
21 de novembro de 1966, que o seguro obrigatório ganhou corpo e força em
nosso país. O governo então editou o referido diploma legal disciplinando o
Sistema Nacional de Seguros Privados que, além de providências diversas
trazia em seu corpo um elenco de seguros de contratação impositiva, entre
eles o seguro obrigatório para veículos automotores, assim dispõe o artigo 20
alínea “b”.
Art.20. Sem prejuízo do dispositivo em leis especiais, são
obrigatórios os Seguros de:
[...]
b) responsabilidade civil dos proprietários de veículos
automotores de via terrestre, fluvial, lacustre e marítima, de
aeronaves e dos transportadores em geral
Segundo Martins [2008, p.28-30] em nosso país,
entretanto, apesar de já previsto pela legislação, foi somente com a
regulamentação introduzida pelo decreto nº 6.1867, de 07 de novembro de
1967, em seu artigo 5º, 6º e 7º, que o seguro obrigatório para proprietários de
veículos passou a ser efetivamente aplicado.
Art.5º. As pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou
privado, proprietários de quaisquer veículos relacionados com
os artigos 52 e 63 da Lei 5.108 de 21 de setembro de 1966,
referente ao código Nacional de trânsito, ficam obrigados a
segura-los, quanto à responsabilidade civil decorrente de sua
utilização.
Art.6º O seguro obrigatório de responsabilidade civil a que se
refere o artigo anterior garantirá os danos causados pelo
veículo e pela carga transportada, a pessoas transportada, ou
não, e a bens não transportados.
21
Art.7º O seguro de que trata este Capítulo garantirá, no
mínimo:
I - Por pessoa vitimada, indenização de 06 (seis) mil cruzeiros
novos, no caso de morte; de até 06 (seis) mil cruzeiros novos,
no caso de invalidez permanente, e de até 600 (seiscentos)
cruzeiros novos, no caso de incapacidade temporária.
II - Por danos materiais, indenização de até 05 (cinco) mil
cruzeiros novos, acima de 100 (cem) cruzeiros novos, parcela
essa que sempre correrá por conta do proprietário do veículo.
E acrescenta ainda Martins [2008, p.28-30] em sua obra,
que com o inicio da vigência destes dispositivos, aos proprietários de veículos
tornou-se obrigatória a contratação de seguro contra acidentes que viessem a
ser causados pela sua utilização. Era já então o reconhecimento do risco criado
às pessoas pela circulação de automóveis. Aliás, esse risco é disciplinado em
praticamente todas as legislações sobre o assunto nos mais diversos países.
Cita o mesmo autor, para ilustrar esta assertiva, o que
está previsto na legislação espanhola (Ley 30/95), a qual se encontra em
conformidade com a disciplina dada por outros países membros da
Comunidade Européia:
Articulo 1º De La responsabilidad civil – 1. El conductor de
vehiculos a motor es responsable, en virtud del riesgo creado
por La conducción del mismo, de los daños causados a las
personas o en los bienes con motivo da circulación.
Tradução do Espanhol para o Português:
Artigo 1º Da responsabilidade civil – 1. O condutor de veículo
automotor é responsável, em virtude de risco criado pela
condução do mesmo, dos danos causados as pessoas e aos
bens pela circulação.
E como forma de realmente obrigar os proprietários de
veículos a contratar essa modalidade securitária, taxava o artigo 28 do decreto
nº 61867, de 07 de novembro de 1967, in verbis:
Art. 28. Nenhum veiculo a que se refere o artigo 5º deste
decreto poderá ser licenciado, a partir de 1º de Janeiro de
22
1968, sem que fique comprovada a efetivação do seguro ali
previsto.
Durante o Governo Militar, através do Decreto-Lei nº 814
de 04 de novembro de 1969, ocorreu profunda alteração no instituto do Seguro
Obrigatório de Veículos, visto que até então eram garantidas as coberturas
para os danos materiais e pessoais. Com a edição deste Decreto-Lei, somente
os danos de natureza pessoal passaram a ter garantia de cobertura, artigo 3º,
ou seja, não haveria mais cobertura para os danos materiais oriundos de
acidentes de Trânsito. Para se ter uma idéia do quão foi inovador tal
posicionamento na legislação, basta citar que na Europa ainda permanece a
cobertura para acidentes de trânsito com danos materiais, além das demais
coberturas. Assim leciona Martins [2008, p.30].
Art. 3º O Seguro Obrigatório de Responsabilidade Civil dos
proprietários de veículos automotores de vias terrestres,
realizado nos termos do Art. 5º do Decreto nº 61.867 de 7 de
setembro de 1967, garantirá, a partir de 1º de Outubro de 1969,
a reparação dos danos causados por veiculo ou pela carga
transportada a pessoas transportadas ou não, excluída a
cobertura dos danos materiais.
Destaca Martins [2008, p.31] que outras alterações
também ocorreram, entre elas, a que foi mais profunda ocorreu em relação aos
valores das coberturas, as quais passaram para (dez) mil cruzeiros novos para
os casos de morte, até (dez) mil cruzeiros novos para os casos de invalidez
permanente e até (dois) mil cruzeiros novos para as despesas médicas e
suplementares. Outra alteração importante foi quanto ao acesso à indenização,
pois pela nova redação, bastaria à prova do dano, sem qualquer
questionamento sobre a culpa pelo evento, para que a pessoa fizesse jus ao
valor correspondente ao dano sofrido.
Segundo Martins [2008, p.31], a mais importante norma
concernente ao Seguro Obrigatório é a Lei nº 6.194 de 19 de setembro de
1974, a qual revogou expressamente o Decreto-Lei nº 814/69. Com a sua
edição, tornou-se ele um seguro de danos simplesmente pessoal, não mais
23
tratado como disciplinava a alínea “b” do Decreto-Lei nº 73/66, mas surgindo
uma nova alínea criada especialmente para abordá-la:
Art. 2º Fica acrescido ao artigo 20 do Decreto-lei 73/66, a
alínea 1 nestes termos:
I - Danos pessoais causados por veículos automotores de vias
terrestres, ou por sua carga, a pessoa transportada ou não.
Com esta alteração, para Martins [2008, p.31]
“descaracterizou-se deliberadamente aquele seguro, que era de
responsabilidade civil, passando a ser tratado como “seguro obrigatório de
danos pessoais”.
Complementa Martins [2008, p.31] que também se
modificou o valor da indenização. O artigo 3º da nova lei fixou em 40 (quarenta)
vezes o maior salário mínimo em caso de Morte, em até 40 (quarenta) vezes o
maior salário mínimo no caso de invalidez permanente e até 08 (oito) vezes o
maior salário mínimo, como reembolso a vitima no caso de despesas de
assistência médicas e suplementares comprovadas.
Destaca Martins [2008, p.32] que esta alteração no
tocante ao quantun, foi motivada pela inflação que corroia nossa moeda,
alterando-se os índices de cada uma das indenizações previstas para fixá-las
ao salário-mínimo, procurava o poder público mantê-las dentro de patamares
aceitáveis.
Complementa Martins [2008, p.32] que em 13 de julho de
1992, surge a Lei nº 8.441, a qual sem fazer alterações no cerne da legislação
que regulamenta até os dias de hoje o DPVAT fez alterações como: reconhecer
a companheira ou companheiro como sendo beneficiaria da indenização do
Seguro; dispensar de apresentar a comprovação da quitação do seguro
DPVAT anual, exceto para o proprietário/vítima e pagar indenização integral
para as vítimas, independente de veículo identificado ou de seguradora
identificada, seguro vencido ou não quitado.
Ao fazer a presente pesquisa e comparar a legislação
anterior com a última alteração mencionada, verificou-se a mudança do que
24
versava inicialmente a lei nº 6.194/74, a qual limitava o pagamento em 50%
para os casos de morte e negava o pagamento nos casos de invalidez, o que
não corre nos acidentes ocorridos após 13 de julho de 1992 com a Lei nº
8.441.
Martins [2008, p.32] complementa no dia 29/12/2006, foi
instituída a Medida Provisória nº 340, a posteriore transformada na lei nº
11.482 de 31 de maio de 2007, a qual traz em seu bojo novo prazo para
pagamento da indenização do seguro, e também altera os valores das
indenizações bem como ordem dos beneficiários para a cobertura nos sinistros
com morte, porém sem alterar a base principal da lei nº 6.194/74, a qual
regulamenta o seguro obrigatório DPVAT.
Ao fazer a presente pesquisa e na busca de ter esta
atualizada, observa-se a recente Medida Provisória nº 451 de 15 de dezembro
de 2008, esta por sua vez, em seus artigos 19 e 20, faz algumas alterações
sobre o seguro obrigatório DPVAT, aas quais abaixo serão descritas.
Dentre as principais, uma delas foi quanto ao reembolso
das despesas médicas e suplementares das vítimas de acidentes de trânsito,
proibindo Hospitais/Clínicas, privadas ou públicas, a fazerem cobrança do
seguro obrigatório DPVAT pelos gastos das vítimas junto a estes (reembolso),
desde que este Hospital ou Clínica esteja cadastrado no Sistema Único de
Saúde - SUS. Ou seja, somente poderá solicitar reembolso via termo de
cessão de direitos os hospitais ou clínicas que não recebam verba do SUS.
Outra alteração que traz a medida provisória 451/2008,
consiste em estabelecer nos casos de invalidez parcial, o grau da lesão nos
acidentes com vítimas acometidas de seqüelas permanentes, parcial ou total,
aplicando-se o percentual de redução funcional por membro ou órgão
lesionado, conforme tabela que passou a fazer parte da Lei 6.194/74.
Para ilustrar este último parágrafo, cita-se três exemplos
de invalidez, os quais têm como base a Medida provisória 451/2008 em seus
artigos 19, 20 e 21, juntamente com seu anexo (tabela que estabelece os
percentuais para a indenização por invalidez). (anexo 01)
25
01- Vítima de acidente de trânsito, com lesão corporal do
tipo “amputação do membro superior direto e inferior direito”, esta vítima
enquadra-se como sendo uma invalidez total permanente, ou seja, receberá o
teto máximo da indenização (100%). (grifo nosso)
02- Vítima de acidente de trânsito, com lesão do tipo
“amputação de um membro superior”, esta vítima enquadra-se como sendo
uma invalidez parcial permanente, ou seja, receberá o valor máximo previsto
na tabela pela perda do membro (70%). (grifo nosso)
03- Vítima de acidente de trânsito, com lesão do tipo
“fratura exposta de punho direito com procedimento cirúrgico restaurador com
fixação de placa metálica”. Esta vítima, após tratamento ortopédico e
fisioterápico, pode vir a ficar com uma redução funcional do referido punho, o
que vai caracterizar uma lesão parcial permanente, ou seja, invalidez parcial
permanente, porém, para receber o valor da indenização, terá de submeter-se
à uma perícia médica, a qual vai estabelecer o percentual da redução funcional
do membro lesionado. (grifo nosso)
Seguem abaixo os artigos 19 e 20, pertinentes ao seguro
obrigatório DPVAT, contemplados pela Medida Provisória 451/2008, in verbis:
Art. 19. O art. 12 da Lei no 6.194, de 19 de setembro de 1974,
passa a vigorar acrescido dos seguintes parágrafos:
[...]
“§ 3o O CNSP estabelecerá anualmente o valor
correspondente ao custo da emissão e da cobrança da apólice
ou do bilhete do Seguro Obrigatório de Danos Pessoais
causados por veículos automotores de vias terrestres.
§ 4o O disposto no parágrafo único do art. 27 da Lei no 8.112,
de 24 de julho de 1991, não se aplica ao produto da
arrecadação do ressarcimento do custo descrito no § 3o.” (NR)
Art. 20. Os arts. 3o e 5o da Lei no 6.194, de 19 de dezembro de
1974, passam a vigorar com as seguintes alterações:
“Art. 3o Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido
no art. 2o desta Lei compreendem as indenizações por morte,
26
por invalidez permanente, total ou parcial, e por despesas de
assistência médica e suplementares, nos valores e conforme
as regras que se seguem, por pessoa vitimada:
§ 1o No caso da cobertura de que trata o inciso II, deverão ser
enquadradas na tabela anexa a esta Lei as lesões diretamente
decorrentes de acidente e que não sejam suscetíveis de
amenização proporcionada por qualquer medida terapêutica,
classificando-se a invalidez permanente como total ou parcial,
subdividindo-se a invalidez permanente parcial em completa e
incompleta, conforme a extensão das perdas anatômicas ou
funcionais, observado o disposto abaixo:
I - quando se tratar de invalidez permanente parcial completa, a
perda anatômica ou funcional será diretamente enquadrada em
um dos segmentos orgânicos ou corporais previstos na tabela
anexa, correspondendo a indenização ao valor resultante da
aplicação do percentual ali estabelecido ao valor máximo da
cobertura; e
II - quando se tratar de invalidez permanente parcial
incompleta, será efetuado o enquadramento da perda
anatômica ou funcional na forma prevista na alínea “a”,
procedendo-se, em seguida, à redução proporcional da
indenização que corresponderá a setenta e cinco por cento
para as perdas de repercussão intensa, cinqüenta por cento
para as de média repercussão, vinte e cinco por cento para as
de leve repercussão, adotando-se ainda o percentual de dez
por cento, nos casos de seqüelas residuais.
§ 2o O seguro previsto nesta Lei não contempla as despesas
decorrentes do atendimento médico ou hospitalar efetuado em
estabelecimento ou em hospital credenciado ao Sistema Único
de Saúde - SUS, mesmo que em caráter privado, sendo
vedado o pagamento de qualquer indenização nesses casos.”
(NR)
“Art. 5o ..................................................................................
§ 5º O Instituto Médico Legal da jurisdição do acidente ou da
residência da vítima deverá fornecer, no prazo de até noventa
dias, laudo à vítima com a verificação da existência e
quantificação das lesões permanentes, totais ou parciais
27
Assim é de se concluir que a legislação brasileira ainda
contempla o seguro obrigatório DPVAT, muito embora as alterações tenham
ocorrido com o passar do tempo.
No próximo capítulo será abordado o referido seguro em
conformidade com a legislação vigente.
28
CAPÍTULO 2
SEGURO OBRIGATÓRIO DE VEÍCULOS AUTOMOTORES DE
VIAS TERRESTRES
2.1 NATUREZA JURÍDICA
Para Martins [2008, p.32], a questão da natureza jurídica
do seguro obrigatório DPVAT já se encontra pacificada. Complementa o autor
que no momento de sua introdução no direito pátrio (decreto-lei nº 73/66), mais
especificamente quando da regulamentação pelo Decreto-lei nº 814/69, o
seguro obrigatório era tido como um seguro de responsabilidade civil.
Para Rodrigues [1998, p.6], “responsabilidade civil é a
obrigação que pode incumbir uma pessoa a reparar prejuízo causado a outro,
por fato próprio ou por fato de pessoas ou coisas que dela dependem”.
Segundo Martins [2008, p.34], foi com o advento da Lei
6.194/74, que a natureza jurídica do seguro obrigatório transmudou-se,
abandonando o campo da responsabilidade civil e surgindo como um seguro
eminentemente de danos pessoais, desta forma ganhando características
próprias, diferenciando-se das outras modalidades de seguro.
Complementa Martins [2008, p.34] que essa mudança de
postura ao que se refere à natureza, fez com que a própria nomenclatura a ele
atribuída sofresse alteração. Foi quando então se passou a descrevê-lo como
Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de
Via Terrestre – DPVAT, e não mais como seguro de responsabilidade civil dos
proprietários de veículos automotores de vias terrestres, denominação que
antes possuía.
29
2.1.1 A CULPA NO SEGURO DPVAT
Em relação à culpa, Martins [2008, p.34], entende que
esta por sua vez não possui um conceito uniforme, apontando a doutrina essa
dificuldade em conceituá-la. Todavia, isso não significa que não existam
algumas definições.
Dispõe Diniz [2006, p.42] que a regra básica é que a
obrigação de indenizar, pela prática de atos ilícitos, advém da culpa.
Em sentido amplo, Venosa [2003, p.23] ensina que culpa
é a inobservância de um dever que o agente devia conhecer e observar.
E acrescenta:
“A culpa é a falta de diligência na observância da norma
de conduta, isto é, o desprezo, por parte do agente, do esforço necessário para
observá-la, com resultado não objetivado, mas previsível, desde que o agente
se detivesse na consideração das conseqüências eventuais de sua atitude.”
Para Valler [1998, p.32], culpa “é o ato ou omissão
constituindo um descumprimento intencional ou não, quer de uma obrigação
contratual, quer de uma prescrição legal, quer do dever que incumbe ao
homem de se comportar com diligência e lealdade nas suas relações com os
seus semelhantes.”
No ordenamento jurídico brasileiro, segundo Diniz [2006,
p.44], vigora a regra geral de que o dever ressarcitório pela prática de atos
ilícitos decorre de culpa. Portanto, o ato ilícito qualifica-se pela culpa. Não
havendo culpa, não haverá, em regra, qualquer responsabilidade.
Entende Martins [2008, p.35], que a culpa compreende
em todos os graus todos os fatos de comissão ou omissão, de desatenção ou
de distração, em razão do direito de um terceiro que é desconhecido ou lesado.
E que pactuando com o professor Silvio Rodrigues que, de maneira simples,
mas não menos acertada, vê na culpa um erro de conduta imputável ao agente
causador do dano. De maneira análoga, o doutrinador Damásio de Jesus tem a
30
culpa como a “inobservância do dever de diligência que a todo indivíduo
compete.”
Complementa Martins [2008, p.35] que a culpa possui um
sentido mais amplo e outro a contrario sensu, mais estrito. Lato sensu
vislumbra-se que o dolo está contido na noção genérica da culpa,
caracterizando o dolo pela ação ou omissão do agente, que, antevendo o dano
que sua atitude vai causar, deliberadamente prossegue, com o propósito
mesmo de alcançar o resultado danoso. No entanto na culpa strictu sensu não
há, por parte do agente, o intuito de causar prejuízo, entretanto, tendo em vista
um comportamento negligente ou imprudente, alguém é obrigado a
experimentar um dano.
Sobre o elemento culpa, Venosa [2003, p.25], entende
que ela, sob os princípios consagrados da negligência, imprudência e imperícia
contém uma conduta voluntária, mas com resultado involuntário, a previsão ou
a previsibilidade e a falta de cuidado devido, cautela ou atenção.
Por fim, muito embora tecidas as considerações atinentes
a culpa, traz Martins [2008, p.36] em sua obra que é através dela que surge a
responsabilidade civil, ou seja, a idéia de reparação de um dano imposto a um
terceiro. Salientando ainda que o instituto do seguro DPVAT, hoje um seguro
de danos pessoais que busca a recuperação da ordem jurídica através da
reparação do dano, a qual adotou num primeiro momento, a responsabilidade
subjetiva como pressuposto do pagamento da indenização, posteriormente ao
reconhecimento da responsabilidade objetiva, também denominada de risco.
Diante disto pode-se dizer que esta reparação de dano independe de culpa
para que a vítima ou beneficiário venha a ter o direito à indenização.
2.1.1.1 A RESPONSABILIDADE SUBJETIVA
A responsabilidade é subjetiva segundo Rodrigues [1984,
p.11], “quando se inspira na idéia de culpa e de que a prova da culpa do agente
causador do dano é indispensável para que surja o dever de indenizar.”
31
A responsabilidade subjetiva, segundo Gagliano [2006,
p.13], é a decorrente de dano causado em função de ato doloso ou culposo.
Nessa linha de raciocínio, Diniz [2006, p.131] entende que
a prova da culpa do agente será necessária para que surja o dever de reparar.
Assim também entende Gomes [2001, p.25]: “O traço
caracterizador da responsabilidade subjetiva é a culpa, sem ela não há o dever
de reparação. Os elementos da responsabilidade civil subjetiva são o dano, o
nexo de causalidade e a culpa.”
Nesse sentido, colhe-se do Tribunal de Justiça de Santa
Catarina, a seguinte jurisprudência:
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL.
INDENIZAÇÃO POR DANO MATERIAL E MORAL. AUSÊNCIA
DE PROVA ACERCA DO FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO
INVOCADO PELO AUTOR. INCIDÊNCIA DO ART. 333, I, DO
CPC. OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR INEXISTENTE. O ônus da
prova incumbe ao autor quanto ao fato constitutivo do seu
direito, a teor do artigo 333, inciso I, do Código de Processo
Civil. Para caracterização da responsabilidade civil subjetiva
devem coexistir o ato ilícito, o dano, o nexo causal e a culpa. À
míngua de quaisquer desses requisitos legais, não medra a
pretensão indenizatória. (Apelação cível n. 2004.014913-1 da
Capital. Des. Relator: Luiz Carlos Freyesleben. Data da
Decisão: 30/06/2005).
A culpa é o elemento essencial e caracterizador da
responsabilidade subjetiva. Para Gomes [2001, p.34], somente haverá
obrigação de ressarcir se o sujeito tiver precedido com culpa.
Ressalta Martins [2008, p.36] que o vocábulo “culpa” é
empregado aqui em sentido lato, representando tanto o dolo como a culpa em
sentido estrito. Complementa ainda que o seguro obrigatório de veículos em
sua progênie no direito brasileiro perfilava-se com esta modalidade de
responsabilidade, e que de fato a Resolução 25/67 do Conselho Nacional de
Seguros Privados – CNSP exigia que a certidão de ocorrência policial,
mencionasse de quem era a culpa do acidente, sem isto não haveria
32
indenização a ser paga. Desta forma, prevalecendo o que determinava o artigo
159 do Código Civil de 1916, o qual era fiel ao principio da responsabilidade
subjetiva.
Art. 159. Aquele que por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a
outrem, fica obrigado a reparar o dano.
Complementa Martins [2008, p.37], que também neste
momento surgem às primeiras divergências em torno da aplicação do seguro
obrigatório, de um lado a CNSP tratava as indenizações de maneira subjetiva,
ou seja, indenizando mediante identificação do causador do acidente, por outro
lado a Superintendência de Seguros Privados – SUSEP entendia por seu turno
que a obrigação do causador do acidente em reconhecer sua culpa era
esdrúxula, pois para a SUSEP o seguro obrigatório DPVAT estaria subordinado
a responsabilidade objetiva, não havendo o que se questionar quanto a culpa
do acidente. Tal divergência só foi solucionada com a expedição da resolução
CNSP 37/68, que eliminou a obrigatoriedade de indicação da culpa na certidão
de ocorrência policial.
Por fim destaca Martins [2008, p.37] que a
responsabilidade subjetiva foi afastada somente no tocante ao instituto do
seguro obrigatório DPVAT. Ao contrário, aquele que deseja pleitear uma
indenização por dano moral ou material decorrente de acidente de trânsito,
este por sua vez deverá demonstrar efetivamente a existência da culpa do
causador para ver satisfeita sua pretensão, onde deverá estar presente os
requisitos dos artigos 186 e 187, cc. o Art. 927, caput, ambos do atual Código
Civil Brasileiro, Lei 10.406/2002, in verbis.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que,
ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo
seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes.
33
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
2.1.1.2 A RESPONSABILIDADE OBJETIVA
Acerca da responsabilidade objetiva, Diniz [2006, p.131]
proclama que: “É irrelevante a conduta culposa ou dolosa do causador do
dano, uma vez que bastará a existência do nexo causal entre o prejuízo sofrido
pela vítima e a ação do agente para que surja o dever de indenizar.”
Rodrigues [1998, p.11] leciona que a responsabilidade
objetiva é “a atitude culposa ou dolosa do agente causador do dano é de menor
relevância, pois, desde que exista relação de causalidade entre o dano
experimentado pela vítima e o ato do agente, surge o dever de indenizar, quer
tenha este último agido ou não culposamente.”. E complementa o autor “(...)
aquele que, através de sua atitude, cria um risco de dano para terceiros, deve
ser obrigado a repará-lo, ainda que sua atitude e o seu comportamento sejam
isentos de culpa.”
Nesse sentido, extrai-se do Tribunal de Justiça de Santa
Catarina a seguinte jurisprudência:
ACIDENTE DE TRÂNSITO - INDENIZAÇÃO - DANOS
MATERIAIS - BURACO EM RODOVIA ESTADUAL - DEINFRA
- RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA - TEORIA DO
RISCO ADMINISTRATIVO - INTELIGÊNCIA DO ART. 37, § 6º,
CRFB - CULPA EXCLUSIVA DO MOTORISTA - NÃO
COMPROVADA - SENTENÇA MANTIDA - APELAÇÃO CÍVEL
IMPROVIDA. De acordo com o artigo 37, § 6º, da Constituição
Federal, o Brasil adotou a teoria do risco administrativo quanto
à responsabilidade civil do Estado, sendo esta objetiva. Ou
seja, o ente público deve indenizar os danos causados a
terceiros, independentemente de demonstração da culpa,
diante da comprovação do nexo de causalidade entre o fato e o
dano. E ainda, salienta-se que a responsabilidade do ente
público somente é afastada na hipótese de o evento lesivo ter
sido provocado por culpa da própria vítima ou de terceiro, ou
então em virtude de caso fortuito ou força maior. (Apelação
cível n. 2006.027924-9 de Otacílio Costa. Des. Relator: Sérgio
Roberto Baasch Luz. Data da Decisão: 29/03/2007).
34
Desta forma, a obrigação de reparação do dano, na
responsabilidade objetiva é decorrência da simples existência deste e da
relação de causalidade. Conforme Gomes [2001, p.40] a culpa não atua na
formação da responsabilidade de indenizar [...].
Para configurar a responsabilidade objetiva, basta
somente que se comprove que de uma ação ou omissão restou um dano,
independente se o agente agiu ou não com culpa.
A partir da já citada Resolução CNSP 37/68, adotou esta
teoria como norteadora para o pagamento dos valores indenizatórios. Martins
[2008, p.37] entende que é uma responsabilidade que nasce dos que se
utilizam de veículos em vias públicas, resultando o pagamento do simples
evento causador de danos pessoais a alguém. Aliás, o perfilhamento da teoria
do risco fica claro quando da análise da vigente Lei nº 6.194/74, que mostra em
seus artigos 5º e 6º, in verbis.
Art. 5º O pagamento da indenização será efetuado mediante
simples prova do acidente e do dano decorrente,
independentemente da existência de culpa, haja ou não
resseguro, abolida qualquer franquia de responsabilidade do
segurado.
Art. 6º No caso de ocorrência do sinistro do qual participem
dois ou mais veículos, a indenização será paga pela Sociedade
Seguradora do respectivo veículo em que cada pessoa
vitimada era transportada.
§ 1º Resultando do acidente vítimas não transportadas, as
indenizações a elas correspondentes serão pagas, em partes
iguais, pelas Sociedades Seguradoras dos veículos envolvidos.
§ 2º Havendo veículos não identificados e identificados, a
indenização será paga pelas Sociedades Seguradoras destes
últimos.
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal também é
pacífica quanto ao tema:
“No seguro obrigatório em acidentes de veículos adotou-se a
teoria da responsabilidade objetiva, independendo da aferição
35
de culpa a obrigação de indenizar, mesmo que o motorista do
veiculo acidentado seja preposto do proprietário” (RT 512/281);
“No seguro obrigatório há a obrigação do pagamento sem
necessidade de prova de culpa do motorista do veiculo
segurado (RT 516/106).”
Para Martins [2008, p.38] quando esta modalidade de
seguro se afastou da natureza de responsabilidade civil e converteu-se num
seguro de danos pessoais, como tratado anteriormente, o seguro DPVAT
passou a ocupar-se do ressarcimento de danos pessoais, atribuindo direitos às
vítimas tão somente, independentemente de ser este proprietário, motorista
causador ou não do evento. Sendo assim deixou-se de questionar a ilicitude do
ato praticado por qualquer das partes para ocupar-se do fato em si.
Neste diapasão é interessante destacar a crítica de Elcir
Castelo Branco citada por Martins [2008, p.38]:
“Transformando a obrigação em face de terceiros em direito
subjetivo, a generosidade brasileira evidencia uma
preocupação social de desloca o acidente, ou o dano, para
uma outra esfera. Não a pura e simples do ato ilícito. Chega às
raias da imoralidade, sob este aspecto, o sistema adotado, ao
proporcionar que alguém se beneficie da própria torpeza.
Reconhece o pagamento para qualquer vitima, sem levar em
conta sua contribuição para o evento, o que desfigura o cunho
aleatório do risco (...). Este avanço é por demais arrojado em
termos de seguro, demonstrando de modo flagrante a
sensibilidade dos Poderes Públicos para a onda de acidentes
reinante entre nós.”
Para dar ênfase ao que se refere à parte social do seguro
DPVAT, Martins [2008, p.39] diz que:
“[...] sem duvida a teoria do risco, aplicada ao seguro DPVAT
pelo legislador, evidencia, antes de tudo, uma preocupação de
cunhagem social. Seu objetivo maior, que é minimizar o
sofrimento humano resultante de um acidente automobilístico –
acontecimento corriqueiro em nossos dias, só poderia ser
alcançado tendo como sustentáculo a explanada
responsabilidade objetiva, que não se preocupa com a
presença de culpa no sinistro.”
36
Muito embora a posição da doutrina seja no sentido de
que o Seguro Obrigatório DPVAT não tenha mais vínculo com a
responsabilidade civil, o Superior Tribunal de Justiça ainda mantém a Sumula
246, a qual determina que o Seguro Obrigatório deva ser deduzido de valor
indenizatório fixado judicialmente a título de responsabilidade civil.
STJ Súmula nº 246 - 28/03/2001 - DJ 17.04.2001
Seguro Obrigatório - Indenização Judicial
O valor do seguro obrigatório deve ser deduzido da
indenização judicialmente fixada.
2.2 O CONTRATO DE SEGURO DPVAT
O seguro obrigatório de veículos automotores assume
juridicidade a partir de um contrato, como já tratado anteriormente. Alguns
aspectos sobre o contrato de seguro obrigatório DPVAT foram apresentados
nos capítulos anteriores, entretanto, além daquelas primeiras considerações,
outros elementos merecem destaque.
Para Martins [2008, p.41] o contrato de seguro é um
contrato necessário, na medida em que sua contratação decorre de uma
imposição da autoridade pública para aqueles que possuem veículos
automotores de via terrestre. Assemelham-se também aos contratos de seguro
em geral, sendo por isso dotado de características comuns a esse modelo
contratual.
“Bilateralidade: gerando obrigação para o segurado e
segurador, estando, cada um, circunscrito ao cumprimento de
uma prestação; Onerosidade: na medida em que cria
benefícios e vantagens recíprocos, havendo entre ambos a
transferência de direitos; Aleatoriedade: por seu intermédio o
segurador assume os riscos sem co-responsabilidade entre as
prestações recíprocas, e sem equivalência mesmo que se
conheça o valor global das obrigações do segurado. O cunho
aleatório é produto da incerteza nas prestações de ambas as
partes que ficam na dependência de um acontecimento futuro e
imprevisível (o dano)”
37
2.2.1 O SEGURADOR E SUAS OBRIGAÇÕES
Em sua obra, Führer [2006, p.64] traz uma simples e clara
conceituação de segurador, dizendo que: “segurador é aquele que assume o
risco” e que o risco no contrato de seguro “é a exposição de pessoa, coisa ou
interesse a dano futuro e imprevisível”
Para Martins [2008, p.42], segurador é aquele que suporta
o risco mediante o recebimento de um prêmio devido pelo segurado. Por
prêmio entende-se a contraprestação paga por este àquele, em razão da
responsabilidade pelo dano que assume com a contratação do seguro.
Complementa Martins, que no direito pátrio somente a
empresa seguradora está autorizada a explorar os ramos de seguros privados,
não cabendo tal faculdade a pessoa física, conforme dispõe o Código Civil em
seu Art. 757, parágrafo único:
Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga,
mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo
do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos
predeterminados.
Parágrafo único. Somente pode ser parte, no contrato de
seguro, como segurador, entidade para tal fim legalmente
autorizada.
No que tange de modo mais especifico ao seguro
obrigatório DPVAT, entende Martins [2008, p.42] que apenas as companhias
que fazem parte dos chamados consórcios DPVAT, disciplinado pela
Resolução CNSP 154/2006, a qual substituiu a resolução CNSP 6/1986,
podem atuar nesta modalidade de seguro, assim prescreve o Art. 34 da
referida Resolução.
Art. 34. Para operar nas categorias abrangida pelos
consórcios, a sociedade seguradora devera obter expressa
autorização da SUSEP e aderir aos Consórcios de seguro
DPVAT.
38
Em relação ao chamado consórcio de seguro DPVAT, até
então era administrado pela FENASEG – Federação Nacional das Empresas
de Seguro e Capitalização, esta por sua vez foi extinta com o surgimento da
Resolução 154/2006, conforme se extrai do site oficial do seguro DPVAT
(http://www.dpvatseguro.com.br/conheca/informacoes.asp, acesso em
13/05/2009), onde consta que o Seguro DPVAT, a partir de janeiro de 2008,
passou a ser administrado pela Seguradora Líder dos Consórcios do Seguro
DPVAT, criada em atendimento ao estabelecido pela Resolução 154/06 do
Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP).
A Seguradora Líder DPVAT integra os Consórcios do
Seguro DPVAT e tem a missão de administrar e representar o grupo de
seguradoras que operam esta modalidade de seguro, tendo como principal
objetivo facilitar o acesso da população ao Seguro DPVAT, adotando na gestão
de seus recursos os mais modernos mecanismos de governança corporativa e
as mais atuais técnicas administrativas do mercado segurador.
Complementa Martins [2008, p.43] que uma vez que a
companhia seguradora preencha os requisitos exigidos na resolução, ela
obterá licença expedida pela SUSEP para operar no ramo do seguro DPVAT,
destaca-se que esta autorização é por tempo indeterminado.
A obrigação do segurador, mais especificamente está na
indenização do seguro DPVAT, Martins [2008, p.43] diz que a obrigação capital
da seguradora, uma vez acionada pelo segurado e preenchido os requisitos
necessários, é o pagamento da indenização devida em razão do acidente de
trânsito, complementa ainda que neste sentido é claro o Código Civil em seu
Art.776, in verbis:
Art. 776. O segurador é obrigado a pagar em dinheiro o
prejuízo resultante do risco assumido, salvo se convencionado
a reposição da coisa.
Portanto, resta clara a principal obrigação do segurador, o
qual deverá cumpri-la quando acionado.
39
2.2.2 O SEGURADO E SUAS OBRIGAÇÕES
O Segurado, na cobertura de seguro DPVAT, para
Martins [2008, p.45] é todo aquele que é proprietário de veículo automotor de
via terrestre sujeito a registro e licenciamento, em conformidade com os
parâmetros do vigente Código de Trânsito Brasileiro e com o Art. 1º da
Resolução CNSP 154/2006, que assim explana:
Art. 1º Nos termos da Lei nº 6.194, de 19 de dezembro de
1974, estão obrigados a contratar o Seguro Obrigatório de
Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via
Terrestre – Seguro DPVAT, os proprietários de veículos
sujeitos a registro e licenciamento, na forma estabelecida no
Código Nacional de Trânsito.
A própria resolução CNSP 154/2006 em seu Art. 4º, dá a
relação dos veículos automotores cobertos pelo seguro DPVAT, in verbis:
Art. 4º O seguro DPVAT cobre as seguintes categorias de
veículos automotores:
I - Categoria 1. automóveis particulares;
II - Categoria 2. táxis e carros de aluguel;
III - Categoria 3. ônibus, microônibus e lotação com cobrança
de frete (urbanos, interurbanos, rurais e interestaduais);
IV - Categoria 4. microônibus com cobrança de frete, mas com
lotação não superior a 10 passageiros e ônibus, microônibus e
lotações sem cobrança de frete (urbanos, interurbanos, rurais e
interestaduais);
V - Categoria 9. motocicletas, motonetas, ciclomotores e
similares; e
VI - Categoria 10. máquinas de terraplanagem e equipamentos
móveis em geral, quando licenciados, camionetas tipo "pickup"
de até 1.500 kg de carga, caminhões e outros veículos.
Parágrafo único. A Categoria 10 inclui, também:
I - veículos que utilizem "chapas de experiência" e "chapas de
fabricante", para trafegar em vias públicas, dispensando-se,
40
nos respectivos bilhetes de seguro, o preenchimento de
características de identificação dos veículos, salvo a espécie e
o número de chapa;
II - tratores de pneus, com reboques acoplados a sua traseira
destinados especificamente a conduzir passageiros a passeio,
mediante cobrança de passagem, considerando-se cada
unidade da composição como um veículo distinto, para fins de
tarifação;
III - veículos enviados por fabricantes a concessionários e
distribuidores, que trafegam por suas próprias rodas, para
diversos pontos do País, nas chamadas "viagens de entrega",
desde que regularmente licenciados, terão cobertura por meio
de bilhete único emitido exclusivamente a favor de fabricantes
e concessionários, cuja cobertura vigerá por um ano;
IV - caminhões ou veículos "pick-up" adaptados ou não, com
banco sobre a carroceria para o transporte de operários,
lavradores ou trabalhadores rurais aos locais de trabalho; e
V - reboques e semi-reboques destinados ao transporte de
passageiros e de carga.
Neste mesmo sentido tem se posicionado o Superior
Tribunal de Justiça frente aos acidentes ocorridos com veículos automotores de
vias terrestres.
CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO
OBRIGATÓRIO DE RESPONSABILIDADE CIVIL DOS
PROPRIETÁRIOS DE VEÍCULOS AUTOMOTORES DE VIA
TERRESTRE (DPVAT). RECURSO ESPECIAL. NULIDADE
DO ACÓRDÃO. CPC, ART. 535. INOCORRÊNCIA. ACIDENTE
CAUSADO POR TRATOR. COBERTURA DEVIDA.
CORREÇÃO MONETÁRIA. SÚMULA N. 43/STJ.
RESPONSABILIDADE CONTRATUAL. JUROS
MORATÓRIOS. TERMO INICIAL. CITAÇÃO.
I. Quando resolvidas todas as questões devolvidas ao órgão
jurisdicional, o julgamento em sentido diverso do pretendido
pela parte não induz nulidade.
II. Os sinistros que envolvem veículos agrícolas passíveis de
transitar pelas vias terrestres estão cobertos pelo DPVAT.
41
III. Não labora ex officio, ultra petita ou em infringência ao
princípio da ne reformatio in pejus o acórdão que, nas
instâncias ordinárias, disciplina a incidência dos juros
moratórios e da correção monetária, independentemente de
pedido específico das partes.
IV. "Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a
partir da data do efetivo prejuízo" - Súmula n. 43/STJ.
V. No caso de ilícito contratual, situação do DPVAT, os juros de
mora são devidos a contar da citação.
VI. Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão,
parcialmente provido. (REsp 665.282/SP, Rel. Ministro ALDIR
PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em
20/11/2008, DJ 15/12/2008)
Para Martins [2008, p.46] “segurado é o proprietário de
veículo automotor que se enquadre em alguma das categorias acima descritas
e que, dada a imperatividade que rege o instituto, está obrigado a contratá-lo”.
Neste sentido percebe-se que estão excluídos do seguro obrigatório os
veículos de tração animal, bem como veículos de uso bélico, também estão
excluídas as embarcações e aeronaves, apesar de serem automotores, estas
duas últimas possuem legislação própria quanto ao seguro obrigatório, mas
não se relacionam como o enfoque desta pesquisa porque não se submetem
às normas de trânsito.
Conceitua Valler [1998, p.400] que proprietários são
“todos aqueles que respondem pelo uso do veículo, ou seja, os portadores de
certificados de registro sem reserva, com reserva de domínio e com alienação
fiduciária.”
Leciona Martins [2008, p.47] que “o segurado tem por
obrigação pagar o prêmio do bilhete de seguro no prazo estabelecido;
comunicar a sociedade seguradora qualquer alteração no emplacamento ou no
uso do veículo, bem como comunicá-la em caso de acidente envolvendo danos
pessoais.”
Em se tratando de obrigação, o autor Martins leciona que
a primeira obrigação está nos termos do art 7º, inciso I, da Resolução CNSP
42
154/2006, que seria o pagamento do prêmio no prazo estipulado, cujo valor
também é fornecido através de Resolução pela CNSP, e com a quitação tem-
se início a vigência do seguro DPVAT, que se estende por um ano, que se
considera como sendo ano civil, nos termos do art. 28, parágrafo 3º da
Resolução CNSP 154/2006.
Para os veículos das categorias 1, 2, 9 e 10, devem ser
pagos em agências bancárias, em cota única juntamente com a primeira
parcela do Imposto de Propriedade de Veículos Automotores – IPVA, conforme
disposição do Art. 2º do Decreto nº 2.867 de 8 de dezembro de 1998. Já os
veículos das categorias 3 e 4 podem realizar o pagamento do prêmio do seguro
DPVAT em número de parcelas não superior às do parcelamento do IPVA,
conforme disposto no Art. 28 inciso 1º, b, da Resolução 154/2006.
Destaca Martins [2008, p.48], que não havendo o
pagamento do prêmio do seguro, o veículo não será licenciado, e, portanto,
terá sua circulação proibida.
Assim expressa o Código de Trânsito em seu art. 9º,
parágrafo único.
Parágrafo único. Não se renovará o licenciamento do veiculo
cujo proprietário seja devedor de multa por infração de transito,
tributos e encargos devidos e do seguro obrigatório de danos
pessoais causados por veículos automotores de via terrestre –
DPVAT, relativos ao período de licenciamento anterior.
Martins [2008, p.48] evidencia assim o extremo rigorismo
que norteia a obrigação do segurado quanto ao pagamento do prêmio do
seguro DPVAT, sem ele o veículo não estará coberto pelo seguro e também
não estará devidamente licenciado, podendo seu condutor incorrer em penas
administrativas por circular em desacordo com as normas de trânsito.
2.2.3 OS RISCOS NÃO COBERTOS PELO SEGURO DPVAT
O seguro DPVAT como já externado é um seguro de
danos pessoais, e não se o ocupa com eventual ofensa a bens materiais ou a
43
culpa e também não abrange certos danos conforme prevê o Art. 3º da
Resolução 154/2006 da CNSP.
Art. 3º A cobertura do seguro não abrange:
I - danos pessoais resultantes de radiações ionizantes ou de
contaminações por radioatividade de qualquer combustível
nuclear ou de qualquer resíduo de combustão de matéria
nuclear;
II - multas e fianças impostas ao condutor ou proprietário do
veículo e as despesas de qualquer natureza decorrentes de
ações ou processos criminais; e
III - acidentes ocorridos fora do Território Nacional.
2.2.4 A INDENIZAÇÃO DO SEGURO OBRIGATÓRIO DPVAT
Para Rodrigues [1998, p.185] indenizar “significa ressarcir
prejuízo, ou seja, tornar indene a vitima, cobrindo todo o dano por ela
experimentado.”
Direciona Martins [2008, p.54] que dentro da temática do
seguro DPVAT, este após 30 (trinta) anos sem sofrer alteração quanto ao valor
das indenizações, foi recentemente objeto de reforma. A nova regulamentação
introduzida na Lei 6.194/74, pela MP nº 340 de 29 de dezembro de 2006,
ratificada pela Lei nº 11.482 de 31 de maio de 2007, dispõe que o seguro
DPVAT destina-se a indenizar os seguintes danos, nos valores mencionados
no Art. 3º da Lei 6.194/74.
Art. 3o Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido
no art. 2o desta Lei compreendem as indenizações por morte,
invalidez permanente e despesas de assistência médica e
suplementares, nos valores que se seguem, por pessoa
vitimada: (Redação dada pela Lei nº 11.482, de 2007)
[...]
I - R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) - no caso de
morte; (Incluído pela Lei nº 11.482, de 2007)
44
II - até R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais) - no caso de
invalidez permanente; e (Incluído pela Lei nº 11.482, de 2007)
III - até R$ 2.700,00 (dois mil e setecentos reais) - como
reembolso à vítima - no caso de despesas de assistência
médica e suplementares devidamente comprovadas. (Incluído
pela Lei nº 11.482, de 2007)
Complementa Martins [2008, p.55], que a morte, invalidez
permanente e despesas médicas e suplementares somente serão indenizáveis
quando causadas por veículos ou por sua carga. Por tal motivo, o dano deve
ser decorrente da participação ativa do veículo no resultado, ou da carga por
ele transportada. E que também é conveniente apontar que os tipos de
cobertura não sofreram alteração, no entanto o mesmo não se pode dizer dos
acidentes ocorridos após a MP 340/2006 transformada em na Lei nº 11.482, de
2007, os quais não mais serão calculados em múltiplos de salários mínimos,
passando a ser valor fixo. Tal circunstância representa nos dias de hoje uma
redução nas quantias devidas pelas seguradoras.
Fazendo uma análise dos três incisos do Art. 3º da Lei
6.194/74 antes da vigência da MP 340/06, pode-se ter uma idéia de quanto foi
a redução dos valores das indenizações do seguro obrigatório DPVAT.
Á título de exemplo, pode-se citar a seguinte situação:
indenização para os casos de morte: se calculada anterior a MP 340/2006,
previa uma indenização de 40 (quarenta) salários mínimos, obteria-se hoje uma
indenização de R$ 18.600.00 (dezoito mil e seiscentos reais), tendo como base
de calculo o salário mínimo no valor de R$ 465.00 (quatrocentos e sessenta e
cinco reais), conforme dispõe a MP nº 456, de 30 de Janeiro de 2009.
Atualmente tem-se uma indenização no valor de R$
13.500.00 (treze mil e quinhentos reais) o que corresponde a uma diferença no
valor de R$ 5.100.00 (cinco mil e cem reais), esta diminuição pode ser também
verificada nas demais coberturas (invalidez permanente e despesas de
assistência médicas e suplementares).
Quanto aos acidentes ocorridos antes da vigência da MP
nº 340/2006 (Lei nº 11.482/2007), Martins [2008, p.56] entende que a Lei como
45
regra geral, emana seus efeitos para o futuro, de modo a atingir relações e
eventos posteriores a sua entrada em vigor, assim dispõe o Art. 6º da Lei de
Introdução ao Código Civil:
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o
ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
(Redação dada pela Lei nº 3238, de 01/08/1957)
Complementa Martins [2008, p.57] que a lei é expedida
para disciplinar fatos futuros, sendo regra o principio da irretroatividade, de
maneira que sua eficácia restringe-se exclusivamente aos atos verificados
durante o período de sua existência. Logo um novo texto legal não pode ferir o
ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, onde o ato jurídico
perfeito é aquele já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se
efetuou, assim dispõe o §1º, art. 6º, da Lei LICC.
Art. 6º. [...]
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a
lei vigente ao tempo em que se efetuou. (Parágrafo incluído
pela Lei nº 3238, de 01/08/1957)
Feitas estas considerações, Martins [2008, p.57] destaca
que os novos importes indenizatórios são aplicáveis apenas aos acidentes de
trânsito ocorridos com posterioridade a entrada em vigor da MP nº 340/2006,
de sorte que os sinistros anteriores continuam regulados pela pretérita redação
da Lei nº 6.194/74.
Assim entende o nosso Tribunal de Justiça de Santa
Catarinense sobre a questão:
AÇÃO DE COBRANÇA. COMPLEMENTAÇÃO DE SEGURO
OBRIGATÓRIO (DPVAT) POR ACIDENTE DE TRÂNSITO.
INVALIDEZ PERMANENTE. I - CÁLCULO DA INDENIZAÇÃO.
VALORES PREVISTOS NA LEI N. 6.194/74. INDENIZAÇÃO
COM BASE NO GRAU DE INVALIDEZ. IMPOSSIBILIDADE.
INAPLICABILIDADE DAS RESOLUÇÕES DO CNSP. NORMA
DE HIERARQUIA INFERIOR. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. II
- INAPLICABILIDADE DA LEI 11.482/2007 E DA MP 340/06.
IRRETROATIVIDADE. FATO GERADOR DA OBRIGAÇÃO:
46
ACIDENTE DE TRÂNSITO. III - TERMO INICIAL DOS JUROS
DE MORA: DATA DA CITAÇÃO. ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA
REALIZADA A CONTAR DO PAGAMENTO A MENOR DA
QUANTIA. IV - HONORÁRIA ARBITRADA EM PATAMAR
PROPORCIONAL. MANUTENÇÃO. V - LITIGÂNCIA DE MÁ-
FÉ. RECURSO MERAMENTE PROTELATÓRIO. SENTENÇA
MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO.
I - O cálculo da indenização securitária deve respeitar o
disposto na Lei n.º 6.194/74, que regulamenta o seguro
obrigatório e dispõe expressamente sobre os valores
indenizatórios, não devendo prevalecer resoluções editadas
pelo Conselho Nacional de Seguro Privado (CNSP), ante a
hierarquia superior da lei e do princípio constitucional da
legalidade, mormente quando estas visam diminuir o quantum
com base no grau de invalidez do segurado, hipótese sequer
prevista na lei específica.
II - Não há se falar em aplicação da Lei n.º 11.482 de 31 de
maio de 2007, ou da Medida Provisória 340/2006, aos sinistros
ocorridos antes de sua vigência, posto que vedada, em regra, a
retroatividade da lei. Desse modo, devem ser aplicados os
valores indenizatórios previstos nos dispositivos revogados da
Lei n.º 6.194/74
III - Na complementação da indenização securitária obrigatória
recebida a menor da via administrativa, os juros de mora
incidem a partir da citação e a atualização monetária é
efetivada a contar da data do pagamento incompleto.
Precedentes.
IV - Quando, à luz das diretrizes postas no artigo 20, §3.º e sua
alíneas do Código de Processo Civil, a verba honorária fixada
mostrar-se proporcional para remuneração do trabalho
desenvolvido pelo causídico, deve, pois, ser mantida.
V - Quando constatado que a proposição do recurso decorre de
objetivos meramente protelatórios, almejando-se retardar o
cumprimento da obrigação, deve a apelante ser condenada às
penas da litigância de má-fé, ante sua conduta temerária.
Providência tomada de ofício (art. 18, CPC). (AC 2008.077372-
9, Rel Henry Petry Junior data 31/03/2009)
Neste mesmo sentido:
47
AÇÃO DE COBRANÇA. COMPLEMENTAÇÃO DE SEGURO
OBRIGATÓRIO (DPVAT) POR ACIDENTE DE TRÂNSITO.
INVALIDEZ PERMANENTE. I - AUSÊNCIA DE INTERESSE
DE AGIR. AFASTADA. RECIBO DE QUITAÇÃO DA QUANTIA
EFETIVAMENTE PAGA. DIREITO DE POSTULAR EM JUÍZO
A DIFERENÇA. II - CÁLCULO DA INDENIZAÇÃO. VALORES
PREVISTOS NA LEI N. 6.194/74. INDENIZAÇÃO COM BASE
NO GRAU DE INVALIDEZ. IMPOSSIBILIDADE.
INAPLICABILIDADE DAS RESOLUÇÕES DO CNSP. NORMA
DE HIERARQUIA INFERIOR. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. III
- INAPLICABILIDADE DA LEI 11.482/2007.
IRRETROATIVIDADE. FATO GERADOR DA OBRIGAÇÃO:
ACIDENTE DE TRÂNSITO. IV - HONORÁRIA ARBITRADA EM
PATAMAR PROPORCIONAL. MANUTENÇÃO. V -
LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. RECURSO MERAMENTE
PROTELATÓRIO. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO
DESPROVIDO.
I - O recibo de quitação emitido, quando do recebimento parcial
da indenização, não importa em renúncia do direito de pleitear
em juízo a complementação da quantia que é devida por
previsão legal. Portanto, subsiste o interesse de agir do
segurado para demandar a integralização da indenização
devida.
II - O cálculo da indenização securitária deve respeitar o
disposto na Lei n.º 6.194/74, que regulamenta o seguro
obrigatório e dispõe expressamente sobre os valores
indenizatórios, não devendo prevalecer resoluções editadas
pelo Conselho Nacional de Seguro Privado (CNSP), ante a
hierarquia superior da lei e do princípio constitucional da
legalidade, mormente quando estas visam diminuir o quantum
com base no grau de invalidez do segurado, hipótese sequer
prevista na lei específica.
III - Não há se falar em aplicação da Lei n.º 11.482 de 31 de
maio de 2007 aos sinistros ocorridos antes de sua vigência,
posto que vedada, em regra, a retroatividade da lei. Desse
modo, devem ser aplicados os valores indenizatórios previstos
nos dispositivos revogados da Lei n.º 6.194/74.
IV - Quando, à luz das diretrizes postas no artigo 20, §3.º e sua
alíneas do Código de Processo Civil, a verba honorária fixada
mostrar-se proporcional para remuneração do trabalho
desenvolvido pelo causídico, deve, pois, ser mantida.
48
V - Quando constatado que a proposição do recurso decorre de
objetivos meramente protelatórios, almejando-se retardar o
cumprimento da obrigação, deve a apelante ser condenada às
penas da litigância de má-fé, ante sua conduta temerária.
Providência tomada de ofício (art. 18, CPC). (AC 2008.075420-
0, Rel Henry Petry Junior, data 27/02/2009)
Face ao exposto, Martins [2008, p.64] reitera a afirmação
no sentido de plena aplicação do art. 3º da Lei 6.194/74 aos sinistros anteriores
a MP nº 340/2006, atualmente convertida na Lei nº 11.482, de 2007,
caracterizando assim o comportamento das seguradoras o qual afronta aos
ditames legais. Nesse sentido e como já mencionado, as indenizações
decorrentes de seguro obrigatório DPVAT, deverão ser pagas na seguinte
conformidade.
Art. 3º Os danos pessoais cobertos pelo seguro estabelecido
no artigo 2º compreendem as indenizações por morte, invalidez
permanente e despesas de assistência médica e
suplementares, nos valores que se seguem, por pessoa
vitimada:
a) 40 (quarenta) vezes o valor do maior salário-mínimo vigente
no País - no caso de morte;
b) Até 40 (quarenta) vezes o valor do maior salário-mínimo
vigente no País - no caso de invalidez permanente;
c) Até 08 (oito) vezes o valor do maior salário-mínimo vigente
no País - como reembolso à vítima - no caso de despesas de
assistência médica e suplementares devidamente
comprovadas.
Para Martins [2008, p.64] as indenizações deverão ser
pagas às vitimas dos danos pessoais, no caso de morte aos seus legítimos
beneficiários, que somente poderá ser pessoa física, podendo o interessado
acionar qualquer seguradora cadastrada junto à seguradora Líder, antiga
FENASEG. (anexo 02)
A obrigação de indenizar persiste ainda nos sinistros onde
o veículo não foi identificado, seguradora não identificada ou seguro não
49
realizado, assim prevê o Art. 7º da Lei 6.194/74, com a redação introduzida
pela Lei nº 8.441/92.
Art. 7º A indenização por pessoa vitimada por veículo não
identificado, com seguradora não identificada, seguro não
realizado ou vencido, será paga nos mesmos valores,
condições e prazos dos demais casos por um consórcio
constituído, obrigatoriamente, por todas as sociedades
seguradoras que operem no seguro objeto desta lei. (Redação
dada pela Lei nº 8.441, de 1992)
Sobre o direito de regresso do segurador, o Código Civil,
em seu artigo 786 traz a seguinte disposição:
Art. 786. Paga a indenização, o segurador sub-roga-se, nos
limites do valor respectivo, nos direitos e ações que
competirem ao segurado contra o autor do dano.
Neste sentido posiciona-se o Tribunal de Justiça do
Estado do Rio Grande do Sul:
SEGURO OBRIGATÓRIO. VENCIDO. PAGAMENTO DA
INDENIZAÇÃO PELA SEGURADORA. CABIMENTO. – O
pagamento do seguro obrigatório em razão de sinistro pode ser
exigido de qualquer seguradora, embora impago o premio, nos
termos do art. 7º da Lei 6.194/74, com redação introduzida pela
Lei 8.441/92, sendo suportado pelo consórcio de seguradoras.
A estas assegura-se o direito de responsabilizar o proprietário
do veículo.” TJRS – 3ª Câmara Cível – Apelação 196175434 –
Relator Moacir Leopoldo Haeser. Julgado em 19/12/1996,
publicado no Boletim AASP 2.126/113.
Martins [2008, p.66], diz que “deverá a seguradora, para
exercer o direito de regresso, demonstrar a efetiva culpa daquele que ela tem
como responsável pelo evento.”
Para obter o reembolso do que pagou, a seguradora deve
provar culpa do motorista pela ocorrência da colisão de
veículos. TJSP, apelação nº 252.718 (RT506/124).
Para os acidentes ocorridos antes do advento da Lei nº
8.441/92, previa o Art. 7º da Lei nº 6.194/74, que:
50
Art. 7º A indenização, por pessoa vitimada, no caso de morte
causada apenas por veículo não identificado, será paga por um
Consórcio constituído, obrigatoriamente, por todas as
Seguradoras que operarem no seguro objeto da presente lei.
§ 1º O limite de indenização de que trata este artigo
corresponderá a 50% (cinqüenta por cento) do valor estipulado
na alínea a do artigo 3º da presente lei.
Complementa Martins [2008, p.67] que diferente do que
ocorre nos dias atuais, pois, não havia previsão expressa de cobertura para os
acidentes envolvendo veículo sem seguro ou com seguro vencido, de tal forma
que as seguradoras tinham imperiosa a comprovação do recolhimento do
prêmio. E mesmo com esta prova o importe da indenização sofria uma redução
de 50% (cinqüenta por cento). “Desta forma gerando uma barreira no acesso
às indenizações, visto que os beneficiários eram lançados a um verdadeiro
calvário para tentar – Frisamos – Tentar – obter do proprietário do veiculo
envolvido no acidente o pagamento do prêmio.” Complementa o autor
“desnecessário dizer que muitos sinistros não eram liquidados face à
complexidade desse ato e por isso que a mudança realizada pelo legislador,
claramente excluindo essa comprovação, foi deveras salutar.”
Como regra geral, o princípio da irretroatividade deve ser
observado, comenta Martins que nos anos subseqüentes as modificações
introduzidas pela Lei nº 8.441/92, os tribunais estaduais mantiveram-se de um
modo mais ou menos uniforme, fiéis a essa posição, como se pode ver no
seguinte julgado:
SEGURO OBRIGATÓRIO. DPVAT. ACIDENTE OCORRIDO
EM MAIO/89 SOB A VIGÊNCIA DA LEI 6.194/74, QUE EXIGIA
A PROVA DO PAGAMENTO DO PREMIO ANTES DO
SINISTRO, PARA EFEITO DE INDENIZAÇÃO. A ALTERAÇÃO
EFETUADA PELO ART. 7º DA LEI 8.441/92 NÃO PODE SER
APLICADA AS RELAÇÕES ANTERIORMENTE
CONSTITUÍDAS, SOB PENA DE VIOLAÇÃO AO PRINCIPIO
DA IRRETROATIVIDADE E AO ATO JURÍDICO PERFEITO. 0
PRAZO, PRESCRICIONAL E DE UM ANO, EX-VI DO ART.
178 § 6º, II DO CÓDIGO CIVIL E SUMULA 101 DO STJ.
APELAÇÃO PROVIDA. (Apelação civil nº 1999.001.14956,
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Relator:
51
DES. CARLOS C. LAVIGNE DE LEMOS - Julgamento:
29/02/2000 - DECIMA SEXTA CAMARA CIVEL)
No entanto, Martins [2008, p.68] complementa que, como
já era de se esperar, dentro do universo jurídico, ao passar dos anos, aliado ao
dinamismo e a evolução do direito, o qual reflete os anseios da sociedade de
onde surgem as mudanças de postura dos julgadores, dos tribunais, sobretudo
do Superior Tribunal de Justiça, reconhecendo a desnecessidade de prova do
pagamento do prêmio mesmo para àqueles acidentes ocorridos antes da
vigência desse novo dispositivo legal, assim pode-se observar através dos
julgados:
CIVIL E PROCESSUAL. SEGURO OBRIGATÓRIO DE
RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PROPRIETÁRIOS DE
VEÍCULOS AUTOMOTORES DE VIA TERRESTRE (DPVAT).
LEGITIMIDADE PASSIVA DE QUALQUER DAS
SEGURADORAS. LEI N. 6.194/74.
EXEGESE. DIREITO EXISTENTE MESMO ANTERIORMENTE
À ALTERAÇÃO PROCEDIDA PELA LEI N. 8.441/92.
I. O Seguro Obrigatório de responsabilidade civil de veículos
automotores é exigido por lei em favor das vítimas dos
acidentes, que são suas beneficiárias, de sorte que
independentemente do pagamento do prêmio pelos
proprietários, devida a cobertura indenizatória por qualquer das
seguradoras participantes.
II. Interpretação que se faz da Lei n. 6.194/74, mesmo antes da
sua alteração pela Lei n. 8.441/92, que veio apenas tornar mais
explícita obrigação que já se extraia do texto primitivo.
III. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 595.105/RJ, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO
JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 01/09/2005, DJ
26/09/2005 p. 382)
E ainda:
AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT).
FALTA DE PAGAMENTO DO PRÊMIO. SINISTRO
OCORRIDO ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI N. 8.441/92.
52
VÍTIMA PROPRIETÁRIA DO VEÍCULO. INDENIZAÇÃO.
POSSIBILIDADE.
"A falta de pagamento do prêmio do seguro obrigatório de
Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias
Terrestres (DPVAT) não é motivo para a recusa do pagamento
da indenização".
Verbete n. 257 da Súmula do STJ.
A indenização devida a pessoa vitimada, decorrente do
chamado Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por
Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT), pode ser
cobrada mesmo tendo ocorrido o acidente previamente à
modificação da Lei 6.194/74 pela Lei 8.441/92 e antes da
formação do consórcio de seguradoras. Precedentes. O fato de
a vítima ser o dono do veículo não inviabiliza o pagamento da
indenização. Recurso conhecido e provido. (REsp 621.962/RJ,
Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, QUARTA TURMA,
julgado em 08/06/2004, DJ 04/10/2004 p. 325)
A Súmula 257 do Superior Tribunal de Justiça possui o
seguinte teor:
A falta de pagamento do prêmio do seguro obrigatório de
Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias
Terrestres (DPVAT) não é motivo para a recusa do pagamento
da indenização
Por fim, diante do exposto, conclui Martins [2008, p.70]
que “a retidão dessas decisões nos faz aliados dessa vertente e por tal motivo,
pugnamos pela aplicabilidade da Súmula 257 do Superior Tribunal de Justiça,
também para os sinistros verificados com anterioridade à Lei nº 8.441/92, que
deverão ser liquidados segundo a atual redação do dispositivo, isto é, sem
qualquer limitação da cobertura.”
2.2.5 OS BENEFICIARIOS DO SEGURO DPVAT
Para o autor Valler [1998, p.406], beneficiário é “o titular
do direito à indenização; [...] é a pessoa a quem se atribui a indenização.”
53
Para Martins [2008, p.77] “É a vítima de acidente de
trânsito provocado por veículo automotor de via terrestre ou, no caso de morte
desta, aquele indivíduo a quem a lei atribui essa condição de beneficiário.”
Complementa ainda o autor que os beneficiários do seguro DPVAT também
foram alvo de modificações instituídas pela MP 340/2006 (Lei nº 11.482/2007),
alterando a ordem e a forma dos beneficiários, conforme prevê o Art. 4º da Lei
6.194/74, o qual indica quais pessoas fazem jus às indenizações do DPVAT.
Art. 4º A indenização no caso de morte será paga de acordo
com o disposto no art. 792 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro
de 2002 - Código Civil. (Redação dada pela Lei nº 11.482, de
2007)
[...]
§ 3º Nos demais casos, o pagamento será feito diretamente à
vítima na forma que dispuser o Conselho Nacional de Seguros
Privados - CNSP. (Incluído pela Lei nº 11.482, de 2007).
Antes da reforma a leitura do dispositivo permitia, de
plano, conhecer a relação dos beneficiários, agora não mais, deve-se buscar
no Art. 792 do Código Civil esta informação.
O aludido art. 792 do diploma civil expõe:
Art. 792. Na falta de indicação da pessoa ou beneficiário, ou se
por qualquer motivo não prevalecer a que for feita, o capital
segurado será pago por metade ao cônjuge não separado
judicialmente, e o restante aos herdeiros do segurado,
obedecida a ordem da vocação hereditária.
Parágrafo único. Na falta das pessoas indicadas neste artigo,
serão beneficiários os que provarem que a morte do segurado
os privou dos meios necessários à subsistência.
Complementa Martins [2008, p.78] que o legislador ao
invés de inserir diretamente na Lei nº 6.194/74 a lista dos beneficiários do
seguro obrigatório, optou por fazer uma remissão para a norma insculpida na
seção do Código Civil dedicada ao seguro de pessoas. Porém, este ato não
deve ser interpretado como um gesto de equiparação entre o DPVAT e esta
outra modalidade de seguro. O seguro obrigatório continua sendo um seguro
54
de danos pessoais sui generis em nosso ordenamento jurídico e não um
seguro de pessoas. A distinção entre ambos pode ser vista, por exemplo, na
contratação do capital segurado: no seguro de pessoas, este é livremente
estipulado pelo proponente, que pode contratar até mais de um seguro e
estipular os beneficiários, ao contrario do seguro DPVAT, ao qual é vedada a
contratação de mais de um bilhete por veiculo e não se estabelece na sua
contratação (pagamento) os beneficiários.
2.3 DA LIQUIDAÇÃO DO SEGURO DPVAT
2.3.1 DA LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL
A liquidação extrajudicial, também denominada de pedido
de indenização administrativa, é aquela realizada dentro dos moldes do vigente
Art. 5º da Lei 6.194/74.
Art. 5º O pagamento da indenização será efetuado mediante
simples prova do acidente e do dano decorrente,
independentemente da existência de culpa, haja ou não
resseguro, abolida qualquer franquia de responsabilidade do
segurado.
§ 1º A indenização referida neste artigo será paga com base no
valor vigente na época da ocorrência do sinistro, em cheque
nominal aos beneficiários, descontável no dia e na praça da
sucursal que fizer a liquidação, no prazo de 30 (trinta) dias da
entrega dos seguintes documentos: (Redação dada pela Lei nº
11.482, de 2007)
a) certidão de óbito, registro da ocorrência no órgão
policial competente e a prova de qualidade de beneficiários no
caso de morte; (Redação dada pela Lei nº 8.441, de 1992)
b) Prova das despesas efetuadas pela vítima com o seu
atendimento por hospital, ambulatório ou médico assistente e
registro da ocorrência no órgão policial competente - no caso
de danos pessoais.
§ 2º Os documentos referidos no § 1º serão entregues à
Sociedade Seguradora, mediante recibo, que os especificará.
55
§ 3º Não se concluindo na certidão de óbito o nexo de
causa e efeito entre a morte e o acidente, será acrescentada a
certidão de auto de necropsia, fornecida diretamente pelo
instituto médico legal, independentemente de requisição ou
autorização da autoridade policial ou da jurisdição do acidente.
§ 4º Havendo dúvida quanto ao nexo de causa e efeito
entre o acidente e as lesões, em caso de despesas médicas
suplementares e invalidez permanente, poderá ser
acrescentado ao boletim de atendimento hospitalar relatório de
internamento ou tratamento, se houver, fornecido pela rede
hospitalar e previdenciária, mediante pedido verbal ou escrito,
pelos interessados, em formulário próprio da entidade
fornecedora. (Incluído pela Lei nº 8.441, de 1992)
§ 5º O instituto médico legal da jurisdição do acidente
também quantificará as lesões físicas ou psíquicas
permanentes para fins de seguro previsto nesta lei, em laudo
complementar, no prazo médio de noventa dias do evento, de
acordo com os percentuais da tabela das condições gerais de
seguro de acidente suplementada, nas restrições e omissões
desta, pela tabela de acidentes do trabalho e da classificação
internacional das doenças. (Incluído pela Lei nº 8.441, de 1992)
§ 6º O pagamento da indenização também poderá ser
realizado por intermédio de depósito ou Transferência
Eletrônica de Dados - TED para a conta corrente ou conta de
poupança do beneficiário, observada a legislação do Sistema
de Pagamentos Brasileiro. (Incluído pela Lei nº 11.482, de
2007)
§ 7º Os valores correspondentes às indenizações, na
hipótese de não cumprimento do prazo para o pagamento da
respectiva obrigação pecuniária, sujeitam-se à correção
monetária segundo índice oficial regularmente estabelecido e
juros moratórios com base em critérios fixados na
regulamentação específica de seguro privado. (Incluído pela
Lei nº 11.482, de 2007)
Orienta Martins [2008, p.94] que os documentos exigidos
pelo texto legal devem ser entregues pela própria vítima e ou beneficiário ou
ainda por seu procurador em uma das seguradoras cadastradas junto à
seguradora Líder, a qual expedirá recibo de entrega (protocolo) e número do
56
sinistro, para que este possa acompanhar o andamento do pedido de
indenização pelo telefone 0800-221204.
Complementa Martins [2008, p.94], que qualquer outro
documento solicitado pela seguradora é dispensável, no entanto na maioria dos
casos o requerente da indenização é obrigado a apresentar inúmeros
documentos os quais constam em uma relação genérica apresentada pelas
seguradoras, tais como: comprovação da quitação do seguro, habilitação do
motorista, certificado de propriedade do veículo, laudo pericial, exame de corpo
de delito, exame de necroscopia, comprovante de residência, declaração de
únicos herdeiros etc. Tal conduta afronta até mesmo a Resolução CNSP
154/2006 em seu Art. 19, o qual se baseia no Art. 5º da Lei 6.194/74. Deixando
assim de maneira clara a intenção da seguradora em postergar o cumprimento
de sua obrigação em indenizar as vítimas ou beneficiários.
Em relação ao acima exposto, Martins [2008, p.95]
entende que para a prova do acidente basta a simples juntada do registro da
ocorrência no órgão policial competente, via de regra o chamado boletim de
ocorrência, a morte é comprovada através da certidão de óbito e a invalidez
através de laudo médico atestando ao grau de invalidez, quanto as despesas
médicas-hospitalares, estas serão comprovadas através de notas ficais e ou
recibos médicos. Somente será admitido o pedido de outros documentos,
quando não for possível estabelecer o nexo causal entre o acidente e o dano
pessoal reclamado, conforme previsto no Art. 5º §3º e §4º da Lei 6.194/74.
Art. 5º
[...]
§ 3º Não se concluindo na certidão de óbito o nexo de causa e
efeito entre a morte e o acidente, será acrescentada a certidão
de auto de necropsia, fornecida diretamente pelo instituto
médico legal, independentemente de requisição ou autorização
da autoridade policial ou da jurisdição do acidente.
§ 4º Havendo dúvida quanto ao nexo de causa e efeito entre o
acidente e as lesões, em caso de despesas médicas
suplementares e invalidez permanente, poderá ser
57
acrescentado ao boletim de atendimento hospitalar relatório de
internamento ou tratamento, se houver, fornecido pela rede
hospitalar e previdenciária, mediante pedido verbal ou escrito,
pelos interessados, em formulário próprio da entidade
fornecedora. (Incluído pela Lei nº 8.441, de 1992)
Para concluir esta questão de exigência de documentos
complementares, entende Martins [2008, p.95] que o laudo de necroscópico,
também conhecido como laudo de exame cadavérico, somente será exigível se
a certidão de óbito não deixar clara a causa da morte e que esta tenha origem
o acidente de trânsito. De mesma maneira com as lesões corporais, onde se
não comprovadas por laudo pericial, a invalidez, esta poderá ser feita através
de boletim hospitalar, também conhecido como prontuário de internação
hospitalar ou através de exame de corpo de delito junto ao Instituto Médico
Legal – IML, o qual irá dizer se houve debilidade por conta do acidente e qual o
grau de invalidez.
E neste sentido esta o posicionamento do Tribunal de
Justiça de Santa Catarina, através da seguinte jurisprudência:
SEGURO OBRIGATÓRIO. BOLETIM DE OCORRÊNCIA. ART.
5º DA LEI N. 6.194/74. DESNECESSIDADE DE JUNTADA, EM
RAZÃO DA PRESENÇA DE OUTRAS PROVAS DO
INFORTÚNIO. INVALIDEZ PERMANENTE.
RESSARCIMENTO TENDO POR BALIZA O PATAMAR DE
QUARENTA SALÁRIOS MÍNIMOS. IRRELEVÂNCIA DO GRAU
DE INCAPACITAÇÃO. EXEGESE DO ART. 3º DA LEI N.
6.194/74. CONTUDO, ADOÇÃO DE PERCENTAGEM
INTERMEDIÁRIA NO CASO CONCRETO, DADO O
REQUERIMENTO DO AUTOR. ARTS. 128 E 460 DO CPC.
ADSTRIÇÃO À FORMULAÇÃO PÓRTICA. CORREÇÃO
MONETÁRIA. FLUÊNCIA A PARTIR DA DATA DA NEGATIVA
AO PAGAMENTO. JUROS DE MORA. TERMO INICIAL.
CITAÇÃO.
1. "De acordo com o art. 5º da Lei n. 6.194/74 e com respaldo
na teoria da responsabilidade civil objetiva ou teoria do risco
contratual, o ressarcimento dos danos pessoais sobrevindos de
infortúnio automobilístico depende, tão-somente, da
comprovação do nexo etiológico entre a lesão sofrida e o
58
evento danoso". (Apelação Cível n. 2008.035317-0, de
Araranguá, Rel. Des. Eládio Torret Rocha, j. 1.8.2008).
2. Em acidente de trânsito de que resulte invalidez permanente,
independentemente do respectivo grau (art. 3°, caput, Lei n.
6.194/74), a INDENIZAÇÃO relativa ao seguro obrigatório -
DPVAT tem por premissa o eqüivalente a 40 (quarenta)
salários mínimos vigentes na liquidação do sinistro (art. 3°, b,
Lei n. 6.194/74), aqui reduzido a 60% do patamar, em vista do
limitativo inserido no pedido inicial (art. 128 e 460 do CPC).
3. Em cobrança de indenização securitária, o termo inicial para
a contagem de correção monetária é o da negativa do
adimplemento indenizatório ou o seu pagamento parcial.
4. Já os juros moratórios, como indenização pelo retardamento
culposo no cumprimento de obrigação, encontram termo inicial
de fluência, nos casos de negativa de pagamento de
indenização securitária - nisso incluído o seguro obrigatório -,
no ato da citação (art. 219, CPC e cf. Resp 861319/DF), apto a
constituir o devedor em FALTA, incidindo à taxa legal de 1%
(art. 405 c/c 406, CC/02). Apelação Cível n. 2008.065365-4, de
Joinville Relator: Maria do Rocio Luz Santa Ritta, Órgão
Julgador: Terceira Câmara de Direito Civil, Data: 05/03/2009.
Por fim, Martins [2008, p.97] diz que “recebida a
documentação e paga a indenização atinente a cada um dos beneficiários nos
valores fixados no Art. 3º da Lei nº 6.194/74, acrescida da correção monetária e
juros de mora, se devidos, finda estará a obrigação da companhia seguradora.”
2.3.2 DA LIQUIDAÇÃO JUDICIAL
É facultado ao beneficiário da indenização do seguro
DPVAT, ingressar em juízo o recebimento do que lhe é devido, assim dispõe o
Art. 5º, §1º, da Lei 6.197/74, caso a seguradora mantenha-se inadimplente com
sua obrigação por mais de 30 (trinta) dias.
§ 1o A indenização referida neste artigo será paga com base
no valor vigente na época da ocorrência do sinistro, em cheque
nominal aos beneficiários, descontável no dia e na praça da
sucursal que fizer a liquidação, no prazo de 30 (trinta) dias da
entrega dos seguintes documentos: (Redação dada pela Lei nº
11.482, de 2007)
59
O Art. 10º da Lei 6.194/74, descreve:
Art. 10º Observar-se-á o procedimento sumaríssimo do Código
de Processo Civil nas causas relativas aos danos pessoais
mencionados na presente lei.
Entende Martins [2008, p.97] que “o legislador pátrio,
ciente do caráter social do seguro DPVAT, filiou-o àquelas ações que
necessitam de rápida solução, daí a preocupação em ministrar-lhe o
procedimento previsto no Código de Processo Civil que mais rapidamente
componha o litígio. De fato menciona o diploma processual civil.”
Art. 275. Observar-se-á o procedimento sumário: (Redação
dada pela Lei nº 9.245, de 26.12.1995).
[...]
II - nas causas, qualquer que seja o valor (Redação dada pela
Lei nº 9.245, de 26.12.1995).
[...]
e) de cobrança de seguro, relativamente aos danos causados
em acidente de veículo, ressalvados os casos de processo de
execução; (Redação dada pela Lei nº 9.245, de 26.12.1995).
Diante do artigo citado, Martins [2008, p.98], entende que
existem dois tipos de ação que podem ser aplicadas ao DPVAT, o primeiro
refere-se à ação de cobrança que, seguirá o procedimento sumário, o segundo
está em uma ação de execução. A ação será de cobrança, com rito sumário,
quando o escopo for à cobertura de invalidez permanente ou o ressarcimento
do montante das despesas com o tratamento de saúde, este entendimento é
plausível porque estes danos demandam a produção de provas.
Complementa Nogueira [1978, p.27] que se a ação
demanda a produção de provas e um juízo de cognição, não podendo assim a
ação ser de execução.
Martins [2008, p.98], diz que a ação será de execução
quando se tratar de valor determinado na apólice de seguro. É o que ocorre
com a indenização decorrente de morte, já que nesta o valor não depende de
60
apuração, sendo aquele vigente à época do sinistro, conforme estabelece o Art.
3º da Lei 6.194/74.
Complementa Theodoro [1999, p.341], que “quando o
seguro referir-se a danos pessoais, de que resulte morte, ou incapacidade, o
segurado poderá usar a execução forçada nos termos do Art. 585, inciso III do
CPC. Não haverá lugar portanto, para o procedimento sumario.”
Pelo acima exposto Martins [2008, p.98] salienta que a
apólice do seguro obrigatório é um titulo executivo extrajudicial, sendo
desnecessária uma anterior ação de conhecimento. Outra possibilidade de
liquidação judicial das obrigações decorrentes do seguro DPVAT está na
subsunção dos valores indenizatórios às normas da Lei nº 9.099/95, em seu
Art. 3º, que criou os Juizados Especiais Cíveis e Criminais.
Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para
conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor
complexidade, assim consideradas:
I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário
mínimo;
II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo
Civil;
[...]
§ 1º Compete ao Juizado Especial promover a execução:
I - dos seus julgados;
II - dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até
quarenta vezes o salário mínimo, observado o disposto no § 1º
do art. 8º desta Lei.
[...]
§ 3º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará
em renúncia ao crédito excedente ao limite estabelecido neste
artigo, excetuada a hipótese de conciliação.
Posiciona-se Martins [2008, p.99], “que não existe razão a
aqueles que propõem a exclusão da competência do Juizado Especial Cível
61
para as causas relativas ao seguro DPVAT. Essa corrente funda seu
posicionamento no fato de que a Lei nº 6.194/74 em seu Art. 10, prevê o
procedimento sumaríssimo para o processamento das ações decorrentes do
instituto e, portanto, estaria ele adstrito ao atual procedimento sumario”.
Art. 10. Observar-se-á o procedimento sumaríssimo do Código
de Processo Civil nas causas relativas aos danos pessoais
mencionados na presente lei.
Por fim Martins [2008, p.103] entende que a possibilidade
de ajuizamento de ação que se destine à cobrança das diferenças de
indenização de seguros DPVAT é amplamente aceita pelo judiciário, mesmo
que o beneficiário tenha firmado recibo de quitação dos valores recebidos.
2.5 DA LEGITIMIDADE
A legitimidade para a propositura de qualquer ação
descrita, segundo Martins [2008, p.104], “é aquela que se beneficiará da
indenização do seguro DPVAT, deste modo, uma ação que busque a quantia
devida pela seguradora em razão de morte poderá ser levada a efeito pelos
sucessores do falecido ou por seus dependentes econômicos.” Em se
buscando o ressarcimento das despesas médicas ou de invalidez permanente,
a titularidade é conferida a própria vitima desses danos pessoais.
Complementa Martins, que a legitimidade passiva, ou
seja, o titular do interesse que se opõe ou resiste a uma pretensão é da
seguradora do veiculo em que era transportada a vitima ou não, e é em face
desta seguradora que o interessado poderá propor a adequada medida judicial,
o que não impede de acionar qualquer companhia seguradora cadastra junto à
atual seguradora LIDER (antiga FENASEG), face o relevante aspecto social do
instituto do Seguro Obrigatório DPVAT.
62
2.6 DA PRESCRIÇÃO
2.6.1 DA PRECRIÇÃO DO DIREITO À INDENIZAÇÃO
Em relação à prescrição da pretensão ao direito da
indenização do seguro obrigatório DPVAT, Martins [2008, p.108] entende que o
prazo para oferecimento da ação ou do pedido da indenização se for o
segurado, deverá ele iniciar dentro do prazo de 01 (um) ano, a ser contado do
dia em que tomou conhecimento do fato, sob pena de ver prescrito seu direito
de ação, assim prevê o Art. 206, §1º, II, do Código Civil.
Art. 206. Prescreve:
§ 1º Em um ano:
I – [...]
II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste
contra aquele
No entanto Martins [2008, p.109] entende que se o autor
da ação for um terceiro que tenha sido lesado em sinistro de trânsito, alheio a
relação contratual havida entre segurado e seguradora, tem-se o prazo
prescricional o lapso de 10 (dez) anos, aplicáveis nas ações pessoais
ordinárias, assim estabelece o Art. 205, do Código Civil.
Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não
lhe haja fixado prazo menor.
Observa Martins [2008, p.109] que o Diploma Civil, o qual
contém aparentemente disposição contrária a esta última afirmação, visto que
em seu Art. 206, § 3º, inciso IX, menciona:
Art. 206. Prescreve:
§ 3º Em três anos:
IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do
terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade
civil obrigatório.
63
Como já fora dito inicialmente nesta pesquisa, o seguro
DPVAT não é um seguro de responsabilidade civil e sim um seguro de danos
pessoais. Relembra Martins [2008, p.109] que antes da vigência da Lei
6.194/74 era possível este entendimento, pois possuía alguma relevância por
conta que se apurava a culpa do sinistro, a qual foi afastada pela vigente Lei
6.194/74. É certo que muitos operadores do direito referem-se a este seguro
com um “seguro de responsabilidade civil dos proprietários de veículos”, o que
com a devida vênia é um equívoco. (...) “o seguro DPVAT possui natureza
jurídica distinta daqueles outros seguros de responsabilidade civil, o que, por si
só, afastaria a aplicação do precitado Art. 206, § 3º, inciso IX, do Código Civil.”
Nesta linha de raciocínio Martins [2008, p.110] vai além,
fazendo um retrospecto ao surgimento dos seguros obrigatórios, lembrando
que o Art. 20 do Decreto-lei 73/66, faz menção a alguns seguros de
contratação obrigatória: responsabilidade civil do proprietário de aeronaves e
do transportador aéreo, responsabilidade civil do construtor de imóveis em
zona urbana por danos pessoais ou coisas, responsabilidade civil dos
transportadores terrestres, marítimos, fluviais, lacustres, por dano à carga
transportada. No entanto quando trata do seguro DPVAT limita-se a citá-lo
como um seguro de danos pessoais (alínea “L”), e não de responsabilidade
civil.
Art 20. Sem prejuízo do disposto em leis especiais, são
obrigatórios os seguros de:
a) danos pessoais a passageiros de aeronaves comerciais;
b) responsabilidade civil do proprietário de aeronaves e do
transportador aéreo;
c) responsabilidade civil do construtor de imóveis em zonas
urbanas por danos a pessoas ou coisas;
d) bens dados em garantia de empréstimos ou financiamentos
de instituições financeiras pública;
e) garantia do cumprimento das obrigações do incorporador e
construtor de imóveis;
64
f) garantia do pagamento a cargo de mutuário da construção
civil, inclusive obrigação imobiliária;
g) edifícios divididos em unidades autônomas;
h) incêndio e transporte de bens pertencentes a pessoas
jurídicas, situados no País ou nele transportados;
i) crédito rural;
j) crédito à exportação, quando julgado conveniente pelo
CNSP, ouvido o Conselho Nacional do Comércio Exterior
(CONCEX);
l) danos pessoais causados por veículos automotores de vias
terrestres e por embarcações, ou por sua carga, a pessoas
transportadas ou não;
m)responsabilidade civil dos transportadores terrestres,
marítimos, fluviais e lacustres, por danos à carga transportada.
Parágrafo único. Não se aplica à União a obrigatoriedade
estatuída na alínea "h" deste artigo.
Diante do acima exposto, entende Martins [2008, p.110]
que se de fato o legislador quisesse incluir o Seguro DPVAT entre aqueles
atingidos pela prescrição trienal, teria feito alusão ao “seguro obrigatório” e não
ao “seguro de responsabilidade civil obrigatório”, como consta do Art. 206, § 3º,
inciso IX, do Código Civil.
Diante disto, o prazo prescricional para o seguro DPVAT
deve ser observado a teor do Art. 205, do diploma Civil, 10 (dez) anos, em se
tratando de beneficiário distinto do segurado.
De acordo com matéria publicada em 24/04/2009
[http://www.direito2.com.br/stj/2009/abr/24/pedido-de-vista-interrompe-exame-
sobre-prazo-para-prescricao-de-indenizacao, acesso em 02/05/2009], o pedido
de vista interrompe exame sobre prazo para prescrição de indenização do
DPVAT.
O pedido de vista do Ministro Fernando Gonçalves
interrompeu o julgamento, pela segunda seção do Superior Tribunal de Justiça
65
(STJ), do recurso que discute o prazo da prescrição de ação de indenização do
Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de
Vias Terrestres (DPVAT). O processo envolve a Real Previdência e Seguros
S/A e uma viúva.
O relator, Ministro Luís Felipe Salomão, considerou-se
convencido da tese de que a prescrição para a hipótese de cobrança do
DPVAT por terceiro beneficiário é a comum, ou seja, a decenal.
De acordo com o ministro, o DPVAT ancora-se em
finalidade eminentemente social, qual seja, a de garantir, inequivocamente, que
os danos pessoais sofridos por vítimas de veículos automotores sejam
compensados ao menos parcialmente. Ou seja, ao passo que os seguros de
responsabilidade civil em geral têm como finalidade a salvaguarda do
segurado, o DPVAT tem como destinatário a vítima do acidente.
Fiel à tese de que o seguro em questão, conquanto seja
obrigatório, não é de responsabilidade civil, o Ministro afastou a incidência da
regra específica contida no artigo 206 do Código Civil de 2002 (prescrição em
três anos). “Cuidando-se de cobrança de indenização de seguro obrigatório
ajuizada por beneficiário, à míngua de regra específica contida no artigo 206,
aplica-se a geral prevista no art. 205, ou seja, dez anos”, afirmou o relator.
Assim, o ministrou Luís Felipe Salomão afastou a
prescrição, fixando-a no prazo de 10 anos a contar de 11 de janeiro de 2003 e
determinou o retorno do processo à origem para o prosseguimento da ação. Os
desembargadores convocados Vasco Della Giustina e Paulo Furtado votaram
com o relator.
Pactua com este entendimento o Dr. Henrique Lima,
advogado, sócio do escritório Lima, Pegolo & Brito Advocacia, especialista em
direito civil e processual civil, especialista em direito constitucional pelo IDP –
Instituto Brasiliense de Direito Público e pós-graduando em direito processo
civil pelo IBDP – Instituto Brasileiro de Direito Processual, o qual diz em seu
artigo diz que:
66
“[...] é possível sustentar que o seguro previsto na Lei 6.194/74,
popularmente conhecido como DPVAT, apesar de ser
obrigatório, não é de responsabilidade civil, logo, ao mesmo
não se aplica o prazo de prescrição previsto no inciso IX, do
parágrafo 3º, do artigo 206 do Código Civil. Portanto, não
havendo regra específica para o prazo de prescrição dos
seguros obrigatórios que não sejam de responsabilidade civil,
ao seguro previsto na Lei 6.194/74 aplica-se a regra do artigo
205, que estabelece o lapso temporal de 10 (dez) anos, cuja
contagem se inicia não da data do acidente, mas da verificação
do dano coberto pela referida lei, ou seja, morte, despesas com
assistência médica e suplementar ou invalidez permanente.”
(http://segurodpvat.com/site/index.php?option=com_content&vi
ew=article&id=61:a-prescricao-do-seguro-obrigatorio-da-lei-
619474-dpvat&catid=35:artigos&Itemid=53, acesso em
02/05/2009).
Seguindo esta linha de pensamento, tem-se a
jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que pactua com
o acima exposto:
Seguro DPVAT - Típico seguro de "danos" - Evolução histórica
e legislativa - Hipótese não se subordinando à disciplina do art.
206, § 3º, IX, do CC, que versa sobre seguros obrigatórios de
"responsabilidade civil" - Modalidades de seguro obrigatório
que não se confundem, haja vista o respectivo elenco,
expresso no art. 20 do Decreto-lei 73/66 - Prescrição da
pretensão para recebimento da indenização DPVAT se
inserindo, portanto, na regra geral do art. 205 do CC, de dez
anos - Prazo não consumado na espécie - Sentença de
proclamação da prescrição afastada. A leitura do art. 20 do
Decreto-lei 73/66 mostra que o elenco legal dos seguros
obrigatórios distingue com clareza os seguros de
responsabilidade civil dos seguros de danos, certo ainda que o
DPVAT se inclui nessa segunda categoria. Tal distinção é
fundamental, pois a incidência do seguro de responsabilidade
civil pressupõe, necessariamente, responsabilidade do
segurado, ao passo que a cobertura pelo seguro de dano não
reclama a demonstração nem mesmo a existência de
responsabilidade civil de quem quer que seja. Apelação a que
se da provimento (Apelação com revisão nº 1078701-0/3, 25º
Câmara, Tribunal de Justiça do estado de São Paulo, Relator:
Des. Ricardo Pessoa de Mello Belli. Julgado em 12/11/2007).
67
E ainda:
Seguro DPVAT – O artigo 206, § 3º, inc. IX, da lei 10.406/2002,
embora verse sobre seguro obrigatório, trata daqueles
envolvendo responsabilidade civil – como o pagamento do
seguro DPVAT é independente da existência de ato ilícito,
aplica-se, à míngua de regra especifica, a regra geral do artigo
205 – Recurso provido (Apelação sem revisão nº 1114782-0/2,
Seção de Direito Privado, 35º Câmara, tribunal de Justiça do
estado de São Paulo, Relator: Des. Artur Marques. Julgado em
13/8/2007.
Destaca o Desembargador Artur Marques em seu voto:
“Ocorre que o seguro DPVAT, apesar de obrigatório, não depende de prova de
qualquer ato ilícito, daí não guardando qualquer relação com o conceito de
responsabilidade civil” (pag.03). Desta forma nos leva a convicção de que a
prescrição do seguro obrigatório DPVAT é decenal.
2.6.2 DA PRECRIÇÃO PARA OS ACIDENTES OCORRIDOS ANTES DO
NOVO CÓDIGO CIVIL/2002
O Código Civil, que entrou em vigor em janeiro de 2003,
diminuiu o lapso prescricional das indenizações de Seguro DPVAT que era de
20 (vinte) anos, passando a ser de 10 (dez) anos. Por isso Martins [2008,
p.111] questiona: “quanto aos acidentes de trânsito ocorridos sob a égide do
Código Civil anterior, qual será o prazo de prescrição aplicável?”
Barros [1997, p.29] diz que “a lei é expedida para
disciplinar fatos futuros e que sua eficácia [...] restringe-se exclusivamente aos
atos verificados durante o período de sua existência”.
Complementa Martins [2008, p.111] orientando que deve
prevalecer a regra geral da irretroatividade e para que haja a retroatividade de
uma Lei é preciso expressa determinação legal, respeitando-se o direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, conforme estabelece o Art.
5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal. Complementa o autor em dizer que
o legislador, ciente da problemática relativa ao direito intertemporal,
estabeleceu uma regra no novo Código Civil:
68
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando
reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em
vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo
estabelecido na lei revogada.
Desta forma, conclui Martins [2008, p.112] que, apesar da
redação ser um tanto confusa, pode-se entender que os sinistros ocorridos na
vigência do antigo Código Civil, permanece o prazo prescricional de 20 (vinte)
anos, para o recebimento das indenizações do seguro DPVAT, no entanto
aceitar que o novo prazo prescricional de 10 (dez) anos alcance os fatos
consumados na vigência do antigo Código Civil, seria criar uma situação de
prejuízo as vítimas de acidentes de trânsito. Uma interpretação possível do
novo artigo 2.028, conduz a uma situação estranha, pois a segunda parte
deste, se analisada de maneira isolada, o que não deve ocorrer. Deixa
transparecer que é permitida a aplicação do novo prazo a fatos anteriores, pois
a expressão “e se na data de sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais
da metade do tempo estabelecido na lei revogada”, desta forma interpretada a
contrario sensu, indicaria a possibilidade de se aplicar o novo decênio.
Exemplifica Martins [2008, p.112], um negócio jurídico
ocorrido no ano de 1991, com prescrição prevista para 20 (vinte) anos previsto
pelo antigo Código; com a vigência do Código Civil de 2002 mais da metade do
lapso transcorrido e assim permaneceria uma prescrição vintenária, que se
verificaria em 2011; no entanto para um negócio realizado em 1994 a metade
do antigo prazo ainda não teria sido alcançada e, então, o novo prazo seria
aplicado de tal maneira que a prescrição atingiria o negócio jurídico em 2004.
Ou seja, para negócios realizados antes de 1991, estes
terão a prescrição em 2011, no entanto para os realizados em 1994, estes
tiveram a prescrição em 2004.
Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando
reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em
vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo
estabelecido na lei revogada.
Portanto, a interpretação deste Art. 2.028 do Código Civil,
não pode conduzir à duas situações opostas, por esta forma, o posicionamento
69
mais adequado é no sentido de que os prazos prescricionais diminuídos pelo
Código Civil permanecem regidos pela lei revogada, bem como aqueles que
não sofreram alteração no atual diploma.
2.7 DA COMPETÊNCIA
Sobre competência, leciona Martins [2008, p.113] que
para o processamento das ações relativas ao seguro obrigatório DPVAT, a
competência é da Justiça Comum, observando-se o disposto no Art. 100 do
Código de Processo Civil Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973.
Art. 100. É competente o foro:
Parágrafo único. Nas ações de reparação do dano sofrido em
razão de delito ou acidente de veículos, será competente o foro
do domicílio do autor ou do local do fato.
Essa orientação também é seguida pela Lei nº 9.099/95
dos Juizados Especiais Cíveis, para as ações que nele tramitam, assim
estabelece o Art. 4º, inciso III.
Art. 4º É competente, para as causas previstas nesta Lei, o
Juizado do foro:
III - do domicílio do autor ou do local do ato ou fato, nas ações
para reparação de dano de qualquer natureza.
Para Nogueira [1978, p.153] esta disposição “trata-se de
uma inovação salutar introduzida pela Lei processual civil vigente, pois sempre
foi nosso entendimento de que a justiça deve favorecer a vitima e dificultar o
crime; auxiliar o que necessita obter a prestação jurisdicional e criar embaraços
ao desonesto”.
Sobre competência Martins [2008, p.113], entende que
mais uma vez o legislador caminhou para a visão social do seguro obrigatório
DPVAT, visto que o autor da ação possui três formas de foro de competência,
seu domicílio, o local do fato e o domicílio do réu, desta forma nenhuma
exceção de incompetência argüida pela seguradora poderá modificar esta
disposição, nem mesmo aquelas prescritas no Código Processual Civil tratando
70
das prerrogativas conferidas às pessoas jurídicas de serem acionadas onde
estiver sua sede ou filial que exerça sua atividade.
E finaliza Martins [2008, p.114], que uma vez prolatada a
sentença, condenada a companhia seguradora ao pagamento devido das
indenizações pleiteadas em juízo com sua conseqüente quitação, limitada
estará à obrigação. Também aqui, como liquidação extrajudicial, há a aplicação
de correção monetária e juros de mora.
Sobre juros e correção monetária, o Tribunal de Justiça
do Estado de Rondônia, tem o seguinte posicionamento:
COBRANÇA – SEGURO OBRIGATÓRIO – LIMITE MÁXIMO –
CORREÇÃO MONETÁRIA – Em se tratando de recebimento
de seguro dpvat, deve ser obedecido o limite de 40 salários
mínimos determinado na Lei nº 6.194/74. A correção
monetária, por da força Lei nº 6.899/81, deverá ser a partir do
ajuizamento da ação. (TJRO – AC 02.002673-0 – C.Esp. – Rel.
Des. Eurico Montenegro – J. 06.03.2003).
Ainda:
COBRANÇA – SEGURO DPVAT – LIMITE DE INDENIZAÇÃO
– JUROS DE 0,5% AO MÊS – Aplica-se a retroatividade da Lei
Nº 8.441/92 mesmo em casos de acidente com veículo
automotor ocorridos antes de sua vigência, fazendo-se
desnecessária a apresentação do comprovante do pagamento
do seguro. Deverão ser aplicadas as regras do antigo Código
Civil em casos ocorridos quando este ainda vigia, aplicando-se
o percentual de 0,5% de juros ao mês. (TJRO – AC 03.003307-
1 – C.Esp. – Rel. Des. Eurico Montenegro – J. 03.09.2003).
E:
AÇÃO DE COBRANÇA DE SEGURO OBRIGATÓRIO
(DPVAT) – FIXAÇÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO –
PARÂMETRO LEGAL – JUROS – CORREÇÃO MONETÁRIA
– O salário mínimo pode ser utilizado como base para
quantificar o valor da indenização em decorrência de seguro
obrigatório, não havendo incompatibilidade entre o art. 3º da
Lei Nº 6.194/74 e a Lei Nº 6.205/75, que veda o uso do salário
71
mínimo como parâmetro de correção monetária. O valor da
indenização referente ao seguro obrigatório de
responsabilidade civil de veículo automotor (dpvat) é de
quarenta vezes o valor do salário mínimo, fixado consoante
parâmetro do art. 3º da Lei Nº 6.194/74, vedado ao cnsp
dispor de forma diversa, porquanto está vinculado à lei. Nas
ações de cobrança de seguro obrigatório, os juros e a
correção monetária incidem, respectivamente, a partir da
citação e do inadimplemento do pedido administrativo do
beneficiário feito perante a seguradora. (TJRO – AC
03.003283-0 – C.Esp. – Rel. Des. Sansão Saldanha – J.
27.08.2003).
Este é o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado
de Rondônia sobre juros e correção monetária, o qual pactua com o Tribunal
de Justiça do Estado de Santa Catarina.
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE COBRANÇA -
COMPLEMENTAÇÃO DE SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT)
- INVALIDEZ PERMANENTE - MAJORAÇÃO DO VALOR
RECEBIDO PELO SEGURO OBRIGATÓRIO - SENTENÇA
PROFERIDA NOS LIMITES DO PEDIDO - AUSÊNCIA DE
INTERESSE RECURSAL - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
MAJORADOS - PREQUESTIONAMENTO DE DISPOSITIVOS
DE LEI - VIA INADEQUADA - CÁLCULO DA INDENIZAÇÃO
SOBRE O GRAU DE INVALIDEZ PERMANENTE -
IMPOSSIBILIDADE - NORMAS DO CNSP E DA SUSEP -
INAPLICABILIDADE - QUANTUM INDENIZATÓRIO
VINCULADO AO SALÁRIO MÍNIMO - POSSIBILIDADE -
PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS - CORREÇÃO
MONETÁRIA - TERMO INICIAL DE INCIDÊNCIA - RECURSO
DO AUTOR PARCIALMENTE PROVIDO - RECURSO DA RÉ
DESPROVIDO.
Possui interesse recursal aquele que comprova o prejuízo
proveniente da decisão e a necessidade e utilidade do apelo
como forma de obter a tutela jurisdicional. Logo, não há
sucumbência da parte quando o provimento jurisdicional
encontra-se limitado pelo pedido. Nas causas condenatórias,
deve o magistrado arbitrar os honorários advocatícios em
percentual não inferior a 10% ou superior a 20%, avaliando,
efetivamente, o trabalho realizado pelo advogado, conforme os
72
parâmetros previstos no § 3º do artigo 20 do Código de
Processo Civil. Não se presta a apelação cível para
prequestionar dispositivos de lei federal, não estando obrigado
o magistrado a rebater todos os pontos formulados pelas
partes. Não se aplicam as limitações impostas pelas resoluções
do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), uma vez
que a Lei n. 6.194/74 é norma de hierarquia superior àquelas
expedidas pelos órgãos de controle e fiscalização do mercado
de seguro. Assim, o valor da cobertura do seguro obrigatório,
em caso de invalidez permanente, corresponde a quarenta
vezes o valor do salário mínimo, vigente à época da liquidação
do sinistro. A indenização somente poderá ser fixada em
patamar inferior, quando assim constar do pedido, por estar o
magistrado adstrito ao pleito. Em matéria de seguro obrigatório,
a vinculação ao salário mínimo tem como função apenas
quantificar a indenização, pelo que não há incompatibilidade
entre o art. 3º da Lei n. 6.194/74 e as Leis n. 6.205/75 e n.
6.423/77, e, tampouco, entre aquele dispositivo e o inciso IV do
artigo 7º da Constituição Federal. A correção monetária, na
ação de cobrança de indenização de seguro obrigatório, tem
como termo inicial o momento da recusa da seguradora no
cumprimento da obrigação ou a data em que foi efetuado seu
pagamento parcial. (Apelação Cível n. 2009.001840-6, de
Joinville. Relator: Fernando Carioni, Órgão Julgador: Terceira
Câmara de Direito Civil, Data: 20/04/2009)
2.8 SUB-ROGAÇÃO DA SEGURADORA
A seguradora que houver pago a indenização do seguro
DPVAT poderá reaver a importância despendida do responsável pelo acidente,
ou seja, poderá esta regressar contra o causador do acidente através de ação
judicial, assim estabelece o art. 8º da Lei 6.194/74.
Art. 8º Comprovado o pagamento, a Sociedade Seguradora
que houver pago a indenização poderá, mediante ação própria,
haver do responsável a importância efetivamente indenizada.
Entende Martins [2008, p.114] que para a seguradora
reintegrar seu patrimônio, esta deverá provar a participação do réu como
causador do dano, nota-se que esta ação esta subordinada à teoria da
responsabilidade subjetiva, a qual necessita da demonstração de culpa para
73
tenha a obrigação de indenizar. A ação regressiva da seguradora face ao
causador do acidente.
Pelo acima exposto, Martins [2008, p.115] entende que
as seguradoras para promoverem as ações de reembolso, por sua vez, terão
que provar que de fato pagou a vítima, bem como provar a culpa do réu no
acidente. Sem estes dois elementos sua pretensão é descabida, quanto ao
valor, somente poderá pedir aquilo que de fato pagou a vítima. Importante
salientar que a ação somente poderá ser impetrada contra terceiro acusador do
evento.
Segundo Rizzardo [1998, p.224] “não revela coerência
jurídica a possibilidade de voltar-se contra ele a entidade com a qual acertou
uma proteção legal.”
No entanto, opinião divergente tem o doutrinador
Nogueira [1978, p.33] que diz “o seguro cobre a culpa do segurado, não cobre
o seu dolo, caracterizado por anormalidade de conduta, na atividade que
suscita os riscos do seguro.”
Por fim, Martins [2008, p.115] diz que “agindo com dolo o
segurado e comprovada esta circunstância pela seguradora, estará ele
obrigado a ressarci-la de eventuais indenizações que houver saldado”.
2.9 INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES
O Seguro DPVAT foi criado em 1974 para amparar as
vítimas de acidentes com veículos em todo território nacional. Desde então,
essa proteção social passou por uma série de transformações voltadas para
aprimorar o atendimento à população.
O último passo foi dado em 2006, quando o Conselho
Nacional de Seguros Privados – CNSP determinou a adoção de um novo
modelo de gestão, constituído pela criação de dois consórcios específicos a
serem administrados por uma seguradora especializada.
74
Foi assim que, em 2007, nasceu a Seguradora Líder dos
Consórcios do Seguro DPVAT.
Outra importante função social do Seguro DPVAT é
contribuir com a manutenção da saúde pública e a política nacional de trânsito.
Do total arrecadado pelo Seguro DPVAT, 45% são destinados ao Fundo
Nacional de Saúde - FNS, para custeio da assistência médico-hospitalar dos
segurados vitimados em acidentes de trânsito e 5% ao Departamento Nacional
de Trânsito - DENATRAN, para aplicação em programas destinados à
prevenção de acidentes de trânsito.
75
CAPÍTULO 3
DO PROCEDIMENTO PARA RECEBER O SEGURO DPVAT
3.1 COMO RECEBER A INDENIZAÇÃO DO SEGURO OBRIGATÓRIO -
DPVAT
O seguro DPVAT é requerido de maneira administrativa,
ou seja, a própria vitima ou beneficiário pode requerer a indenização, basta
esta procurar uma das seguradoras cadastradas junto a Seguradora Líder.
Para demonstrar o procedimento administrativo, será
utilizado como base de informação o site da Seguradora Líder, o qual
disponibiliza as informações de como requerer a indenização conforme o tipo
de sinistro, bem como a relação de documentos necessários para se fazer o
pedido. http://www.seguradoralider.com.br/como_requerer.asp: acesso em
29/05/2009
Em relação aos documentos, esta varia conforme o tipo
de indenização pleiteada pela vítima ou pelo beneficiário. Há, portanto, uma
lista diferenciada de documentos para os casos de morte, invalidez e despesas
médicas e suplementares (DAMS).
Existe um prazo para fazer o pedido de indenização, a
partir de 11 de janeiro de 2003, data em que o Novo Código Civil entrou em
vigor, o prazo para dar entrada no pedido de indenização do Seguro
Obrigatório DPVAT mudou, o qual passou a ser de 03 (três) anos, a contar da
data em que ocorreu o acidente.
Para acidentes que resulte em invalidez parcial ou total,
nos quais o acidentado/vitima esteve ou ainda está em tratamento, o prazo
para a prescrição do direito levará em conta a data do laudo conclusivo do
Instituto Médico Legal – IML, ou seja, a data da alta definitiva, visto que é
através deste laudo que irá saber se a vítima possui ou não lesão de caráter
permanente, o que lera este vitima a receber a indenização do seguro DPVAT.
76
Diante disto conclui-se que é a partir da ciência da lesão permanente que se
inicia a contagem dos 03 (três) anos para a prescrição.
Como já dito nos capítulos anteriores, o seguro DPVAT da
cobertura as vitimas de acidentes de trânsito caso haja Mote, invalidez ou
despesas médicas, diante destas 03 (três) coberturas de seguro, tem-se três
formas diferenciadas de se apresentar a documentação perante a seguradora.
3.1.1 PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR MORTE
Tem-se como exemplo que o veículo envolvido no
acidente era um veículo automotor de via terrestre, que o veículo foi
identificado, isto é, o Boletim de Ocorrência identificou algum dado do veículo
ou o nome do proprietário, o acidente ocorreu em 01/01/2009 e a indenização
solicitada é de morte, a qual corresponde a uma indenização no valor de R$
13.500,00 (treze mil e quinhentos reais).
Em casos especiais, a seguradora poderá solicitar algum
documento ou informação complementar, lembrando que o objetivo da
solicitação é garantir o pagamento correto, em favor do legítimo beneficiário.
Relação de documentos referente ao sinistro: Registro da
Ocorrência, expedido pela autoridade policial competente, fotocópia
autenticada, frente e verso, certidão de óbito da vítima, fotocópia autenticada,
frente e verso. Nos casos em que a morte não tiver ocorrido de imediato ou em
que a causa da morte não se encontra descrita com clareza na Certidão de
Óbito, será necessária a apresentação de Certidão de Auto de Necropsia ou
Laudo Cadavérico fornecido pelo Instituto Médico Legal, fotocópia autenticada,
frente e verso.
Documentos referentes a vítima: Carteira de Identidade -
RG da vítima, em fotocópia, frente e verso, ou documento substitutivo (ex:
Certidão de Nascimento ou Certidão de Casamento ou Carteira de Trabalho ou
Carteira Nacional de Habilitação) CPF da vítima, em fotocópia, frente e verso.
77
Relação de documentos referente ao beneficiário:
Carteira de Identidade - RG do beneficiário, em fotocópia, frente e verso, ou
documento substitutivo (ex: Certidão de Nascimento ou Certidão de Casamento
ou Carteira de Trabalho ou Carteira Nacional de Habilitação) CPF do
beneficiário, em fotocópia, frente e verso.
Formulário de aviso de sinistro, preenchido com os dados
da vítima, e beneficiário da indenização. (anexo 03)
Formulário de autorização de crédito, indicando a forma
como prefere receber a indenização, lembrando que as indenizações são
pagas via deposito em conta-corrente ou em conta-poupança. Se o beneficiário
não possui conta-corrente em nenhum banco nem conta poupança nos Bancos
Bradesco, Itaú ou Caixa Econômica Federal terá que abrir em um desses três
bancos, para receber a indenização do DPVAT. (anexo 04)
Comprovante de residência ou declaração assinada pelo
beneficiário, fornecendo dados de endereçamento, para envio de carta
informando sobre o andamento do processo e a liberação do pagamento da
indenização. (anexo 05)
Documentos complementares, válidos conforme a relação
do beneficiário com a vítima. Para cada beneficiário, poderão ser solicitados
documentos diferenciados.
Com a entrada em vigor da Lei nº 11.482/2007, para
acidentes ocorridos a partir de 29 de dezembro de 2006, os beneficiários são,
simultaneamente, o cônjuge e/ou o/a companheiro/a, e os herdeiros da vítima.
Havendo mais de um herdeiro, a cota será dividida entre eles, em partes iguais.
Abaixo segue relação dos tipos de beneficiários e seus
respectivos documentos:
Beneficiário Cônjuge, quando este e a vítima eram
legalmente casados e conviviam maritalmente: Certidão de Casamento com
data de emissão atual, declaração informando estar o cônjuge casado com a
78
vítima de direito e de fato, bem como se a vítima deixou/não deixou
descendentes. (Anexo 06).
Beneficiário (a) Companheiro (a), quando este (a) e a
vítima conviviam maritalmente, sendo a vítima legalmente separada de terceiro
(a): Prova de Companheirismo junto ao INSS ou Declaração de dependentes
junto à Receita Federal ou Prova de dependência através da Carteira de
Trabalho ou, na impossibilidade de apresentar um desses documentos, Alvará
Judicial, e declaração informando se a vítima deixou ou não deixou
descendentes .
Beneficiário (a) Companheiro (a), quando este (a) e a
vítima conviviam maritalmente, sendo a vítima legalmente casada com terceiro
(a) e, ao mesmo tempo, Cônjuge, quando este e a vítima eram legalmente
casados, mas não conviviam maritalmente. Devem ser apresentados pelo (a)
companheiro (a), se for ele (a) quem primeiro deu entrada no pedido de
indenização: Prova de Companheirismo junto ao INSS ou Declaração de
dependentes junto à Receita Federal ou Prova de dependência através da
Carteira de Trabalho ou, na impossibilidade de apresentar um desses
documentos, o Alvará Judicial.
Beneficiário descendente: filho (a) ou neto (a) da vítima
Declaração de Únicos Herdeiros, com duas testemunhas, informando o estado
civil da vítima e o nome do/s único/s herdeiro/s (anexo 07).
Beneficiário ascendente: pai, mãe ou avô/ó da vítima:
Certidão de Nascimento da vítima, Declaração de Únicos Herdeiros, com duas
testemunhas, informando o estado civil da vítima e o nome do/s único/s
herdeiro/s.
Beneficiário Colateral: irmão/ã, tio/a ou sobrinho/a da
vítima: Certidão de nascimento da vítima ou Carteira de Identidade (RG),
certidão de óbito dos pais da vítima, certidão de óbito do cônjuge ou filhos da
vítima, se for o caso, certidão de casamento da vítima com data de emissão
atual, indicando o estado civil de separação judicial ou divórcio, se for o caso,
Declaração de Únicos Herdeiros, firmada pelo(s) próprio(s) beneficiário(s), com
79
duas testemunhas, informando o estado civil da vítima, se deixou ou não filhos
ou companheira(o).
3.1.2 PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR INVALIDEZ
O veículo envolvido no acidente era um veículo automotor
de via terrestre, o veículo foi identificado, isto é, o Boletim de Ocorrência
identificou algum dado do veículo ou nome do proprietário, o acidente ocorreu
em 01/01/2009, à indenização solicitada é de invalidez permanente
(indenização prevista de até R$ 13.500,00, variando conforme o grau da lesão
sofrida)
Considera-se invalidez a perda ou redução da
funcionalidade de um membro ou órgão. Essa perda ou redução é indenizada
pelo Seguro DPVAT quando resulta de um acidente causado por veículo e é
permanente, ou seja, quando a recuperação ou reabilitação da área afetada é
dada como inviável, ao fim do tratamento médico (alta definitiva).
A invalidez é considerada permanente quando a
funcionalidade do órgão ou membro é afetada integralmente ou em parte.
O valor da indenização por invalidez depende da/s área/s
atingida/s e da proporção das lesões. Esse valor varia percentualmente,
conforme o local, o tipo e a gravidade da perda ou redução de funcionalidade.
O percentual é aplicado sobre o valor máximo de indenização em vigor.
A indenização de invalidez se aplica aos casos em que a
funcionalidade de uma parte do corpo ficou comprometida, no todo ou em
parte. Por essa razão, não se aplica a danos estéticos.
O beneficiário da indenização de invalidez permanente é
a própria vítima. Se o beneficiário for o proprietário do veículo, será verificada a
situação do pagamento do Seguro DPVAT.
Documentação necessária para a vitima requerer a
indenização do seguro obrigatório DPVAT por invalidez: Registro da
Ocorrência, expedido pela autoridade policial competente, em original ou
80
fotocópia autenticada, frente e verso, boletim de atendimento hospitalar ou
ambulatorial, laudo do Instituto Médico Legal (IML) da jurisdição do acidente,
com as características das lesões físicas e psíquicas sofridas pela vítima –
original fotocópia autenticada (frente e verso).
Formulário de aviso de sinistro, preenchido com os dados
da vítima, e beneficiário da indenização. (anexo 08)
Formulário de autorização de crédito, indicando a forma
como prefere receber a indenização, lembrando que as indenizações são
pagas via depósito em conta-corrente ou em conta-poupança. Se o beneficiário
não possui conta-corrente em nenhum banco nem conta poupança nos Bancos
Bradesco, Itaú ou Caixa Econômica Federal terá que abrir em um desses três
bancos, para receber a indenização do DPVAT.
Comprovante de residência ou declaração assinada pelo
beneficiário, fornecendo dados de endereçamento, para envio de carta
informando sobre o andamento do processo e a liberação do pagamento da
indenização.
Em caso de dúvida quanto às lesões terem sido
provocadas pelo acidente, poderá ser solicitado o Relatório de Internamento
Hospitalar ou do tratamento a que se submeteu a vítima, com indicação das
lesões produzidas pelo trauma.
Carteira de Identidade / RG da vítima, em fotocópia, frente
e verso, ou documento substitutivo (ex: Certidão de Nascimento ou Certidão de
Casamento ou Carteira de Trabalho ou Carteira Nacional de Habilitação) CPF
da vítima, em fotocópia, frente e verso.
3.1.3 REEMBOLSO DAS DESPESAS MÉDICAS
O veículo envolvido no acidente era um veículo automotor
de via terrestre, o veículo foi identificado, isto é, o Boletim de Ocorrência
identificou algum dado do veículo ou o nome do proprietário, o acidente ocorreu
em 01/01/2009, a indenização solicitada é referente a despesas médicas e
81
hospitalares (indenização prevista de até R$ 2.700,00, variando conforme o
valor das despesas comprovadas)
A indenização referente a despesas médicas e
hospitalares é paga sempre sob a forma de reembolso, que é liberado somente
quando as despesas decorrem de acidente coberto pelo Seguro DPVAT. O
reembolso é efetuado em favor de quem, comprovadamente, efetuou as
despesas médicas e hospitalares, o beneficiário do reembolso pode ser feito à
própria vítima ou um terceiro (pessoa física ou jurídica). Quando o beneficiário
for o proprietário do veículo, será verificada a situação do pagamento do
Seguro DPVAT.
Documentação necessária para o reembolso das
despesas médicas: Registro da Ocorrência, expedido pela autoridade policial
competente, em original ou fotocópia autenticada, frente e verso, Carteira de
Identidade / RG da vítima, em fotocópia, frente e verso, ou documento
substitutivo (ex: Certidão de Nascimento ou Certidão de Casamento ou Carteira
de Trabalho ou Carteira Nacional de Habilitação), CPF da vítima, em fotocópia,
frente e verso.
Formulário de aviso de sinistro, preenchido com os dados
da vítima, e beneficiário da indenização. (anexo 09)
Formulário de autorização de crédito, indicando a forma
como prefere receber a indenização, lembrando que as indenizações são
pagas via deposito em conta-corrente ou em conta-poupança. Se o beneficiário
não possui conta-corrente em nenhum banco nem conta poupança nos Bancos
Bradesco, Itaú ou Caixa Econômica Federal terá que abrir em um desses três
bancos, para receber a indenização do DPVAT.
Comprovante de residência ou declaração assinada pelo
beneficiário, fornecendo dados de endereçamento, para envio de carta
informando sobre o andamento do processo e a liberação do pagamento da
indenização.
82
Se for a vítima quem arcou com os gastos e os recibos
estiverem em seu nome, apresentar além dos documentos acima: Relatório do
médico, em original ou fotocópia, frente e verso, informando quais as lesões
sofridas pela vítima e o tratamento realizado, relatório do dentista (se for o
caso), em original ou fotocópia, frente e verso, informando quais as lesões
sofridas pela vítima e o tratamento realizado.
Comprovantes das despesas (recibos ou notas fiscais),
em originais, contendo discriminação dos honorários médicos e despesas
médicas, acompanhados das respectivas requisições ou receituários, recibo
com relatório médico descritivo, em original (caso a entidade hospitalar seja
isenta de emissão de Nota Fiscal).
Boletim do primeiro atendimento médico-hospitalar ou
relatório do médico assistente sobre as lesões sofridas e o tratamento realizado
- original ou fotocópia (frente e verso).
Se for um terceiro (pessoa física ou jurídica) quem arcou
com os gastos, apresentar além dos documentos acima relacionados: Estatuto
ou Contrato Social (se pessoa jurídica), qualificando o funcionário da empresa
a receber o reembolso em nome do estabelecimento, em fotocópia, frente e
verso.
Formulário de aviso de sinistro, preenchido com os dados
da vítima, e beneficiário da indenização.
Formulário de autorização de crédito, indicando a forma
como prefere receber a indenização, lembrando que as indenizações são
pagas via deposito em conta-corrente ou em conta-poupança. Se o beneficiário
não possui conta-corrente em nenhum banco nem conta poupança nos Bancos
Bradesco, Itaú ou Caixa Econômica Federal terá que abrir em um desses três
bancos, para receber a indenização do DPVAT.
Comprovante de residência ou declaração assinada pelo
beneficiário, fornecendo dados de endereçamento, para envio de carta
83
informando sobre o andamento do processo e a liberação do pagamento da
indenização.
Comprovante do pagamento do Seguro DPVAT (somente
no caso de a vítima ser o proprietário do veículo acidentado) - Original ou
fotocópia (frente e verso).
Prazo para o recebimento da indenização do seguro
obrigatório DPVAT pelas vias administrativas é de até 30 (trinta) dias, contados
a partir da data de entrega da documentação completa.
Diante todo acima exposto, pode-se se ter uma base de
como proceder para se requer a indenização do Seguro Obrigatório DPVAT.
3.2 ESTATISTICAS SOBRE O SEGURO DPVAT
3.2.1 INDENIZAÇÕES PAGAS DE JANEIRO A DEZEMBRO DE 2008
Fonte:http://www.seguradoralider.com.br/estat_ind_ano_2008.asp, acesso em 20/05/2009.
Quantidade
Morte 57.116
Invalidez 89.474
DAMS 125.413
Total 272.003
Valores
Morte R$ 785.341.428,34
Invalidez R$ 547.308.145,29
DAMS R$ 142.410.047,30
Total R$ 1.475.059.620,93
84
3.2.2 INDENIZAÇÕES PAGAS POR PERFIL
Indenizações pagas por perfil das vítimas em 2008, faixa etária, motoristas,
pedestres, transportados e não transportados.
Fonte:http://www.seguradoralider.com.br/estat_ind_ano_2008.asp, acesso em 20/05/2009.
FAIXA VÍTIMA
Total % Motorista Pedestre Transportado Não ident
Menos de 5 anos
0 1.276 1.320 1 2.597 0,95
De 5 a 10 anos
0 3.329 2.094 3 5.426 1,99
De 11 a 15 anos
0 3.381 3.145 6 6.532 2,40
De 16 a 20 anos
20.975 5.195 10.838 11 37.019 13,61
De 21 a 30 anos
59.482 10.468 17.720 23 87.693 32,24
De 31 a 40 anos
32.780 9.854 10.382 17 53.033 19,50
De 41 a 60 anos
27.268 16.158 11.723 18 55.167 20,28
Mais de 61 anos
7.414 10.866 6.224 6 24.510 9,01
Não identificado
9 12 5 0 26 0,01
Total 147.928 60.539 63.451 85 272.003 100,00
85
3.2.3 INDENIZAÇÕES PAGAS ANALISANDO OS VEÍCULOS
ENVOLVIDOS
Indenizações pagas por perfil das vítimas em 2008, analisando os veículos
envolvidos. Fonte:http://www.seguradoralider.com.br/estat_ind_ano_2008.asp, acesso em
20/05/2009.
AUTO-
MÓVEL
Cat. 1 + 2
MICRO-
ÔNIBUS
E ÔNIBUS
Cat. 3 + 4
MOTO-
CICLETA
Cat. 9
CAMI-
NHÃO
Cat. 10
TOTAL
Transportado 29.937 3.192 25.017 5.305 63.451
Pedestre 36.673 2.448 15.131 6.287 60.539
Motorista 27.346 511 113.508 6.563 147.928
Não
Identificado 64 4 6 11 85
Total 94.020 6.155 153.662 18.166 272.003
86
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como objetivo investigar, à luz
da legislação, da doutrina e da jurisprudência nacional, a situação atual do
Seguro Obrigatório – DPVAT, disponível para as vítimas de acidente de
trânsito, bem como seus beneficiários.
O interesse pelo tema abordado deu-se em razão de sua
atualidade e pela diversidade com que o tema vem sendo abordado no
contexto nacional.
Para seu desenvolvimento lógico, o trabalho foi dividido
em três capítulos:
O primeiro tratou de abordar o surgimento do seguro,
principiando pela sua origem histórica, na qual se constatou que provém de
tempos remotos, pois o homem sempre buscou uma garantia para evitar
eventuais prejuízos em seus interesses.
O segundo capítulo foi destinado a tratar especificamente
do seguro obrigatório DPVAT. Suas principais características, bem como seus
aspectos mais relevantes para a sociedade.
No terceiro e último capítulo, estudou-se o procedimento
administrativo para o requerimento da indenização advinda deste seguro. A
relação de documentos exigidos também foi abordada.
Destarte, conclui-se que o Seguro obrigatório de danos
pessoais causados por veículos automotores de via terrestre - DPVAT, é um
seguro que de fato tem um valor inestimável para com a sociedade.
A sua introdução no ordenamento jurídico ocorreu em
atendimento aos anseios da população, a qual encontrou no instituto do seguro
87
DPVAT um importante instrumento para atender as primárias necessidades
surgidas em decorrência dos acidentes de trânsito.
A disponibilidade da indenização do seguro DPVAT tem
como base, única e exclusivamente, a ocorrência do acidente de trânsito
envolvendo veículo automotor de via terrestre, com vítima, independentemente
de culpa como requisito essencial para garantir um direito, sendo assim um
direito objetivo.
Apesar do estudo ter demonstrado que todas as vítimas
de acidentes de trânsito estão amparadas pelo Seguro Obrigatório DPVAT,
ainda é ínfimo o conhecimento por parte da população/beneficiário acerca
deste direito.
Verificou-se também que os beneficiários enfrentam uma
grande dificuldade para pleitear a indenização ante a burocracia imposta pelas
entidades públicas reguladoras do seguro, tais como CNSP e SUSEP.
Atualmente, ficou demonstrado que a legislação vem
prejudicando os beneficiários no sentido de diminuir o prazo prescricional para
a postulação da indenização, o qual era de 20 anos, passando para apenas 3.
Da mesma forma, o valor da importância segurada, que
anteriormente era de 40 (quarenta) salários mínimos, passou a ser fixada em
R$ 13.500,00 (treze mil e quinhentos reais). Além da diminuição do valor, há
também a depreciação da moeda, que não é compreendida pela lei,
prejudicando mais uma vez o beneficiário.
Por fim, conclui-se que a função social do seguro
obrigatório DPVAT foi esquecida pelo governo, que aos poucos toma medidas
que não atendem às necessidades dos beneficiários.
Em menos de 30 (trinta) anos o instituto do DPVAT foi
distorcido de modo a tornar-se meio de arrecadação indevida para os cofres
públicos, deturpando assim sua verdadeira finalidade.
88
REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS
ALVIM, Pedro. O Contrato de seguro, 2º ed. Rio de Janeiro: Forense, 1986.
BRASIL. Código civil, lei nº 10.406 de 10 de Janeiro de 2002, disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/leis/2002/L10406.htm>, acesso em 25 mai.
2009.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988,
disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>,
acesso em 25 mai. 2009.
BRASIL. Decreto Lei nº 73 de 21 de novembro de 1966, Dispõe sobre o
Sistema Nacional de Seguros Privados, regula as operações de seguros e
resseguros e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil/Decreto-Lei/Del0073.htm>, acesso em 25
mai. 2009.
BRASIL. Lei nº 6.194 de 19 de dezembro de 1974, Dispõe sobre Seguro
Obrigatório de Danos Pessoais causados por veículos automotores de via
terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6194.htm>, acesso em 25 mai.
2009.
BRASIL. Lei nº 8.441 de 13 de julho de 1992. Altera dispositivos da Lei no
6.194, de 19 de dezembro de 1974, que trata do Seguro Obrigatório de
Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres
(DPVAT). Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8441.htm>,
aceso em 25 mai. 2009.
BRASIL. Lei nº 11.482 de 31 de maio de 2007. Efetua alterações na tabela
do imposto de renda da pessoa física; dispõe sobre a redução a 0 (zero)
da alíquota da CPMF nas hipóteses que menciona; altera as Leis nos 7.713,
89
de 22 de dezembro de 1988, 9.250, de 26 de dezembro de 1995, 11.128, de 28
de junho de 2005, 9.311, de 24 de outubro de 1996, 10.260, de 12 de julho de
2001, 6.194, de 19 de dezembro de 1974, 8.387, de 30 de dezembro de 1991,
9.432, de 8 de janeiro de 1997, 5.917, de 10 de setembro de 1973, 8.402, de 8
de janeiro de 1992, 6.094, de 30 de agosto de 1974, 8.884, de 11 de junho de
1994, 10.865, de 30 de abril de 2004, 8.706, de 14 de setembro de 1993;
revoga dispositivos das Leis nos 11.119, de 25 de maio de 2005, 11.311, de 13
de junho de 2006, 11.196, de 21 de novembro de 2005, e do Decreto-Lei no
2.433, de 19 de maio de 1988; e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11482.htm>,
acesso em 25 mai. 2009.
BRASIL. Medida Provisória nº 541 de 16 de dezembro de 2008, Altera a
legislação tributária federal, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/MPs/2008/mp451.htm>, acesso
em 25 mai. 2009.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Cível. Seguro obrigatório. Recurso
Extraordinário nº 80.752. Recorrente: Cia. Sol de Seguros. Recorrida: Maria
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dezembro de 1976. Revista dos Tribunais, São Paulo, nº 512, 281 p.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil.
V. 7. 20. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006. 685 p.
GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil: responsabilidade civil.
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GLITZ, Frederico Eduardo Zenedin. Aspectos do seguro de
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GOMES, Marcelo Kokke. Responsabilidade civil: dano e defesa do
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GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: responsabilidade civil.
v. IV. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. 533 p.
90
GUIMARÃES, Antonio Marcio da Cunha. Contratos internacionais: São
Paulo: RT 2002, 116 p.
JESUS, Damásio E. de Crimes de trânsito: anotações a parte criminal do
código de trânsito. São Paulo: Saraiva, 1998.
____.Direito penal: parte geral. 21º Ed. São Paulo: Sariva, 1998. 1v.
MARTINS, Rafael Tárrega, Seguro DPVAT, 3º ed. Campinas São Paulo,
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STOCO, Rui. Responsabilidade civil e sua interpretação jurisprudencial. 4.
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Paulo: Atlas, 2003. 245 p.
Itajaí (SC), 29 de Maio de 2009.
91
ANEXOS
1. Tabela para cálculo de invalidez
2. Relação das seguradoras cadastradas a operar o ramo do seguro
obrigatório DPVAT
3. Aviso de sinistro para cobertura por morte
4. Formulário de autorização de pagamento
5. Declaração de residência
6. Declaração de beneficiário cônjuge
7. Declaração de únicos herdeiros legais
8. Aviso de sinistro para cobertura por invalidez
9. Aviso de sinistro para cobertura de despesas médicas e suplementares
(DMAS)
.