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O DESAFIO DO CRESCIMENTO ECONÔMICO NO BRASIL Educação e Crescimento Econômico Luiz Valério de Paula Trindade 05.07.2004

O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

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Este estudo realiza uma análise crítica abordando a relação entre os desafios encontrados pelo Brasil para promoção de desenvolvimento econômico sustentável a longo prazo e o nível e qualidade do sistema de ensino.

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Page 1: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

O DESAFIO DO CRESCIMENTO

ECONÔMICO NO BRASIL

Educação e Crescimento Econômico

Luiz Valério de Paula Trindade – 05.07.2004

Page 2: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

2

SUMÁRIO

1 – Lista de tabelas e figuras.................................................................... 03

2 – Apresentação ...................................................................................... 04

3 – Panorama geral da educação superior no Brasil ................................ 07

4 – Análise da relação ensino x desenvolvimento econômico .................. 14

4.1 – Bases fundamentais do desenvolvimento .............................. 20

4.1.1 – Ensino Básico e Fundamental ................................ 21

4.1.2 – Ensino Médio .......................................................... 22

4.1.3 – Ensino Superior ...................................................... 23

4.1.3.1 – Graduação ........................................... 24

4.1.3.2 – Pós-Graduação Lato Sensu ................ 24

4.1.3.3 – Pós-Graduação Stricto Sensu ............. 25

5 – Conclusões e propostas ...................................................................... 29

6 – Referências bibliográficas ................................................................... 35

Page 3: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

3

1 – LISTA DE TABELAS E FIGURAS

Tabela 01 Relação do GNI de países selecionados .................................. 11

Tabela 02 Senso populacional e evolução de matrículas no ensino

superior .....................................................................................

18

Tabela 03 Número de matrículas na pós-graduação ................................. 26

Tabela 04 Avaliação do nível das escolas públicas em diversos países ... 27

Tabela 05 Média de anos de estudo em diversos países .......................... 27

Tabela 06 Padrão dos institutos de pesquisas científicas em diversos

países .......................................................................................

27

Tabela 07 Taxa de matrículas no ensino superior em diversos países ..... 27

Figura 01 Organograma básico da estrutura governamental do Brasil .... 15

Figura 02 Evolução da matrícula no ensino superior no Brasil (1980 ~

2002) .........................................................................................

17

Figura 03 Evolução da matrícula no ensino superior (real e projetada /

1980 ~ 2050) .............................................................................

18

Figura 04 Diagrama ilustrativo das bases do desenvolvimento

econômico ................................................................................

21

Figura 05 Evolução da pós-graduação no Brasil ...................................... 25

Page 4: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

4

2 – APRESENTAÇÃO

Durante muitos anos – décadas até – o Brasil lançou mão do recurso de

utilizar mão-de-obra relativamente barata como argumento-chave para a

atração de investimentos produtivos por parte de empresas estrangeiras.

Pode-se dizer que esta iniciativa – ou estratégia, dependendo do ponto

de vista – trouxe alguns resultados benéficos. Porém, isso enquanto a

economia brasileira e internacional era fortemente baseada em uso intensivo

de mão-de-obra em atividades manufatureiras com pouca ou nenhuma

automação.

No entanto, o tempo passou, as economias brasileira e internacional

evoluíram e passaram por profundas transformações com reflexos inclusive na

dinâmica do mercado de trabalho.

Diversos países perceberam a tempo ou anteviram este movimento e se

prepararam adequadamente para lidar com esta realidade. Infelizmente não se

pode dizer que o Brasil está incluso neste grupo.

Atualmente, a economia já não é mais tão dependente de atividades

manufatureiras fortemente lastreadas por uso intensivo de mão-de-obra. O

setor de serviços ocupa posição destacada em inúmeras economias no mundo

– inclusive no Brasil – e este setor, por sua vez, demanda profissionais com

Page 5: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

5

capacidade de raciocínio crítico, análise e gerenciamento e processamento de

informações.

Este bem intangível é que se tornou essencial para o progresso e

desenvolvimento das nações a partir do final do século XX. E para formar e

preparar um profissional com estas características, é fundamental que se

invista maciçamente em educação. E vale a pena destacar que, investimento

maciço, não necessariamente significa elevadas somas de dinheiro, mas,

sobretudo planejamento sério com objetivos claros e plausíveis, aplicação

correta dos recursos disponíveis e estabelecimento de mecanismos de

medição dos resultados.

Na última década e meia, a China conseguiu retirar da miséria

praticamente 200 milhões de pessoas, utilizando para isso o mesmo

expediente que o Brasil e outras economias emergentes adotaram, ou seja,

mão-de-obra barata e abundante para atrair investimentos produtivos.

O México, ao ingressar no NAFTA – Tratado de Livre Comércio da

América –, também fez o mesmo.

O fenômeno que se observa agora – chamado de offshore sourcing

pelos especialistas – é a de migração de empregos não só das economias

desenvolvidas como também das emergentes para países como a China e a

Índia.

Page 6: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

6

Porém, a posição da Liderança Governamental destes países não é a de

manter este modelo indefinidamente, haja vista que grande parte destes novos

empregos gerados estão baseados em conhecimento e não em atividades

manuais com pouco valor agregado como o Brasil vivenciou no passado. Estes

países já possuem planos para melhorar a qualificação de sua mão-de-obra.

Portanto, como é possível perceber, o nível educacional da população

exerce papel fundamental no desenvolvimento sócio-econômico do país, tema

este que há muito tempo tem sido objeto de estudo e análise por inúmeros

acadêmicos, economistas, cientistas sociais, jornalistas, entre outros.

Diante disso, o objetivo deste estudo é o de analisar a questão, seu

impacto em nosso desenvolvimento e discutir alguns dos caminhos possíveis.

Page 7: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

7

3 – PANORAMA GERAL DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL

Tomando-se como referência dados do Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), em pouco mais uma década

(de 1990 a 2001), nota-se que a participação das instituições privadas de

ensino superior cresceu significativamente, passando de cerca de 75% para

quase 87% do total de instituições no Brasil.

A quantidade de instituições públicas permaneceu praticamente estável

(variando de 210 a 220 entre 1990 a 1998) e nos três anos seguintes caiu

significativamente até atingir o número de 183 no ano de 2001.

No que diz respeito às instituições privadas, estas oscilaram entre 663 e

711 no período de 1990 a 1997 e, ao contrário de suas congêneres públicas,

de 1998 em diante experimentou um grande crescimento, atingindo o número

de 1.208 instituições, ou seja, quase 7 vezes maior do que o de instituições

públicas, sendo que 10 anos antes esta mesma relação era levemente superior

a 3 vezes.

Diante deste quadro, um dos questionamentos possíveis de se fazer é:

qual o impacto deste crescimento vertiginoso do número de instituições no

ensino superior brasileiro de uma forma geral? Quais os aspectos positivos e

negativos?

Page 8: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

8

Bem, o impacto mais imediato e mais facilmente observável é com

relação à disponibilidade de vagas no ensino superior. Se em 1990, o total de

matrículas foi de pouco mais de 1,5 milhão, uma década depois atingiu mais de

3 milhões, ou seja, o dobro de alunos matriculados.

É inegável que este crescimento é positivo na medida em que, de certa

forma, atende à demanda de longa data de nossa sociedade, de maior

democratização do acesso ao ensino de nível superior.

Entretanto, não obstante este aumento e maior disponibilidade do

número de vagas, infelizmente ele não foi suficiente para reverter o fenômeno

do chamado “efeito funil” do sistema educacional brasileiro.

Este perverso fenômeno tem sido responsável pelo fato de que de cada

10 alunos que ingressam, não mais do que 2 concluem o curso 4 ou 5 anos

depois.

Qual a razão da perpetuação de tal fenômeno se levarmos em

consideração o incremento tanto no número de vagas quanto no número

absoluto de alunos concluintes?

Poder-se-ia supor de imediato que a principal razão seria de ordem

econômica, ou seja, dificuldades em arcar com a mensalidade e demais

despesas ao longo dos anos de curso, porém, é importante destacar que

quando se analisa separadamente instituições públicas e privadas, observa-se

Page 9: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

9

que o índice médio de conclusão é da ordem de 15% e 19%, respectivamente.

Ou seja, se assim fosse, esperava-se que esta relação seria inversa, levando-

se em consideração que não há pagamento de mensalidades nas instituições

públicas.

Sendo assim, devemos levar outros aspectos também em consideração,

como por exemplo:

a) Desistências ao longo do curso em função de o estudante considerar

não estar matriculado no curso com o qual realmente se identifica.

Este fator apresenta duas características: o estudante pode

simplesmente desistir do curso e não mais se interessar pelo ensino

superior ou ainda, pode prestar novo vestibular para ingressar em

outra carreira ou solicitar transferência para outro curso ou até

mesmo IES.

b) Repetências. Muitos alunos não concluem o curso no tempo de

duração estimado e acabam permanecendo por mais um a três anos

na escola por conta de repetência em algumas disciplinas, tornando-

se o chamado “estudante profissional”.

Face à grande necessidade do país em desenvolver-se em vários

aspectos (sociais, econômicos e tecnológicos, por exemplo), bem como

incrementar sua inserção no comércio internacional, é imperativo que se

Page 10: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

10

procure desenvolver mecanismos para diminuir os efeitos danosos deste

“fenômeno funil” que além de representar tremendo desperdício de recursos de

toda ordem, faz com que o país permaneça cada vez mais atrasado em relação

às nações mais evoluídas e até mesmo de países em desenvolvimento como o

nosso (como por exemplo: Índia, Argentina, Chile, Coréia do Sul, entre outros)

e, além do mais, contribui para alijar ou restringir o acesso ao ensino superior

de pessoas realmente interessadas, motivadas e em condições de ir até o fim.

É claro que é muito difícil esperar que todos os que ingressam em

determinado ano, saiam formados alguns anos depois (100% de

aproveitamento). Indubitavelmente seria a condição ideal, mas nem sempre o

ideal é o possível de se obter.

Por outro lado, também não é admissível contentar-se com uma situação

na qual menos de 20% dos que se matriculam recebam o diploma alguns anos

depois.

Para ter-se uma idéia de quanto isto representa em termos de atraso

sócio-econômico para o país, basta observar a situação de alguns países

selecionados1 conforme demonstrado na tabela 01.

1 Foi adotado o critério de distribuição geográfica e importância econômica. Desta forma, todos os continentes foram representados para permitir uma comparação mais equânime.

Page 11: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

11

GNI 2 GNI / capita 3 País

US$ bilhões

Posição

US$ mil

Posição

Média de anos

de estudo

Gastos públicos com educação

(% GNI)

EUA 10.110.087 1 35.060 2 12,0 4,8 Japão 4.265.616 2 26.070 22 9,5 3,5 Inglaterra 1.466.194 4 25.870 23 9,4 4,5 Índia 501.532 11 2.570 145 5,1 4,1 Brasil 497.393 12 7.250 85 6,0 4,7 Coréia do Sul 473.050 13 16.480 51 10,8 3,8 Argentina 154.145 27 9.930 72 8,8 4,0 África do Sul 113.492 32 9.870 74 6,1 5,5 Venezuela 102.577 36 5.080 111 6,6 5,0 Chile 66.318 43 9.180 77 7,5 4,2 Estônia 5.605 111 11.120 66 9,0 7,5

– Tabela 01 –

Fonte: Banco Mundial, 2002 (www.worldbank.com)

Em termos econômicos absolutos, nota-se que o Brasil está bem

posicionado como a 12ª maior economia do mundo dentro de um universo

superior a 200 nações. Ao longo da década de 1980 o país figurou sempre

entre as 10 maiores, tendo ocupado a 8ª posição por muitos anos.

Porém, quando se observa a parcela da riqueza gerada anualmente que

cabe a cada habitante, a situação é bem diversa e passamos a ocupar a 85ª

posição atrás, por exemplo, da Argentina, Chile, África do Sul, Coréia do Sul e

Estônia (para citar apenas alguns).

É claro que a comparação com países de economias bem mais maduras

não seria muito justa, mas todas as 5 nações acima citadas geraram menos

riqueza que o Brasil em termos absolutos em 2002. No entanto, seus 2 A sigla GNI significa Gross National Income (ou Geração Bruta de Receita) e passou a ser adotada pelo Banco Mundial a partir de 2002 em substituição à sigla anterior GDP (Gross Domestic Product, ou PIB em português – Produto Interno Bruto). 3 O GNI/capita tambérm está de acordo com a nova metodologia adotada pelo Banco Mundial e que leva em consideração no seu cálculo o PPP (Purchasing Power Parity – Paridade de Poder de Compra).

Page 12: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

12

habitantes gozam individualmente de uma renda, no mínimo, 26% superior (no

caso do Chile) e chegando até a 127% (no caso da Coréia).

No âmbito da educação, nota-se também que o Brasil está atrás de

diversas nações no quesito tempo médio de anos de estudo da população

adulta.

Enquanto aqui o tempo médio é de 6 anos, na Venezuela, Chile e

Argentina, os adultos permanecem bem mais tempo nos bancos escolares. Os

demais países de comparação também apresentam desempenho mais

satisfatório que o nosso nessa área, sendo que os destaques ficam por conta

da Coréia do Sul (10,8 anos) e a Estônia (9,0 anos) cujos valores são

comparáveis aos de nações mais industrializadas como os EUA, Japão e

Inglaterra.

Se analisarmos os gastos públicos em educação como porcentagem do

GNI veremos que o Brasil não está tão mal assim com 4,7% pois este

percentual é superior ao de vários países da tabela 01. O que, sem dúvida, nos

diferencia dos demais no entanto, é a eficiência na gestão de tais recursos em

todas as esferas governamentais e níveis educacionais (desde o Ensino

Fundamental ao Superior).

Diante deste quadro, percebe-se claramente que o Brasil tem um desafio

hercúleo pela frente, dado o verdadeiro abismo educacional que nos separa de

Page 13: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

13

vários países, e que à primeira vista pode parecer desanimador e até mesmo

intransponível.

Mas acredito que não devemos e nem podemos nos dar ao luxo de ter

um olhar pessimista sobre esta situação. Devemos encarar o desafio de frente

e descobrir formas e meios de transpor estas barreiras e é justamente com

esta visão que este trabalho foi elaborado.

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14

4 – ANÁLISE DA RELAÇÃO ENSINO X DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

Analisando o quadro atual do ensino brasileiro e algumas das iniciativas

e ações implantadas pelo Governo Federal visando modificar a situação

apresentada no capítulo introdutório deste trabalho, destaco o Programa

Nacional de Renda Mínima Vinculada à Educação – mais conhecido como

Bolsa Escola – o qual considero de extrema importância para contribuir

decisivamente para a melhor distribuição de renda e democratização do acesso

à educação de crianças e jovens provenientes de famílias carentes.

O Programa foi criado em 1995 e visa beneficiar crianças de 6 a 15 anos

pertencentes a famílias de baixa-renda (valor per-capita inferior a R$

90,00/mês), e a proposta é de conceder benefício monetário (de R$ 15,00 por

aluno limitado a R$ 45,00) às famílias em troca da manutenção das crianças na

escola.

Em termos de lógica de funcionamento e desde que mantidos ou, na

medida do possível, incrementados os recursos destinados a este programa e

bem como com o estabelecimento de mecanismos de avaliação, analiso que o

resultado a longo prazo (dentro de uns 10 a 20 anos), pode ser extremamente

favorável para o país.

Page 15: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

15

Governo Federal

Poder Executivo Poder Legislativo Poder Judiciário

Ministério da Educação

Ministério da Fazenda

Ministério do Planejamento

Secretaria de Educação Média e

Tecnológica

Secretaria Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo

Secretaria de Educação Infantil e

Fundamental

Secretaria de Educação Especial

Secretaria de Educação a

Distância

Secretaria de Inclusão

Educacional

Secretaria de Educação Superior

Conselho Nacional de Educação

Plano Nacional de Educação Condução das

Políticas Macroeconômicas

Promoção da melhor na gestão

pública

– Figura 01 –

Não está no escopo deste estudo explicar minuciosamente a estrutura

de funcionamento da gestão pública brasileira, no entanto, pelo diagrama é

possível perceber claramente a complexidade das inter-relações existentes e

que o sucesso deste projeto está diretamente atrelado às condições

macroeconômicas favoráveis do país ao longo das próximas décadas pois, do

contrário, os jovens das famílias atualmente atendidos pelo programa não terão

como ingressar no mercado de trabalho se o mesmo não reunir condições de

absorver esta mão-de-obra qualificada.

Ademais, o sistema superior de ensino, preferencialmente o público,

deve sofrer significativa ampliação para dar conta da demanda que será

crescente.

Page 16: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

16

Para termos um panorama mais claro da situação basta observar o

seguinte:

Atualmente 5.705.165 famílias são atendidas pelo Programa de Bolsa

Escola4, o que representa 8.289.930 crianças na faixa de 6 a 15 anos.

Considerando-se que, em média, os jovens ingressam no ensino superior por

volta dos 18 anos, temos que dentro de aproximadamente 5 anos a tendência é

que haja um acréscimo na população de potenciais universitários de, pelo

menos, 500.000 de pessoas.

Levando-se em consideração que nem todos os jovens que completam o

ensino médio dão continuidade aos seus estudos, bem como pelos dados do

IBGE5 que identificou que somente 9% dos jovens entre 18 e 24 anos

efetivamente estudam no nível superior, trata-se de uma estimativa até

conservadora.

Abaixo, podemos verificar a evolução do número de alunos matriculados

no ensino superior brasileiro nos últimos 22 anos.

4 Fonte: www.mec.gov.br/secrie/estrut/serv/resultado/default.asp (25.05.2004) 5 Fonte: Jornal Folha de S. Paulo, edição de 03.08.003, página C1

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17

Evolução da Matrícula no Ensino Superior

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

3.000.000

3.500.000

4.000.000

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

Ano

Mat

rícul

as

– Figura 02 –

De acordo com o Plano Nacional de Educação6, a meta é de atingir uma

cobertura do ensino superior equivalente a 30% da população de 18 a 24 anos

até o final da década.

Esse dado nos permite perceber que o salto a ser dado é gigantesco

porque se considerando as projeções de crescimento populacional feitas pelo

IBGE7, temos que em 2010 esse contingente de universitários pode atingir

cerca de 6.929.871 pessoas, o que significa um crescimento de 157,21% em

relação ao ano 2000 (média de 8,97% por ano).

Ainda de acordo com esta meta, supondo-se que ela seja atingida e

mantida ao longo das próximas décadas, tem-se que a população de

universitários assumiria a seguinte evolução.

6 Fonte: www.mec.gov.br 7 Fonte: (Projeção Preliminar da População do Brasil por Sexo e Idades Simples: 1980 – 2050 – Revisão 2000) 20.06.2004

www.ibge.gov.br

Page 18: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

18

Evolução das Matrículas no Ensino Superior

0

1.000.000

2.000.000

3.000.000

4.000.000

5.000.000

6.000.000

7.000.000

8.000.000

1980

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2015

2025

2035

2045

Ano

Alu

nos

– Figura 03 –

População Universitários Matriculados Ano Total 18 a 24 anos Quantidade Relação (%) 1980 121.611.375 17.065.313 1.377.286 8,07 1981 124.340.289 17.596.370 1.386.792 7,88 1982 127.065.457 18.097.119 1.407.987 7,78 1983 129.774.285 18.531.290 1.438.992 7,77 1984 132.457.926 18.879.441 1.399.539 7,41 1985 135.105.916 19.143.034 1.367.609 7,14 1986 137.709.651 19.321.217 1.418.196 7,34 1987 140.263.693 19.434.107 1.470.555 7,57 1988 142.763.545 19.519.117 1.503.560 7,70 1989 145.206.942 19.619.022 1.518.904 7,74 1990 147.593.859 19.762.467 1.540.080 7,79 1991 149.926.149 19.958.127 1.565.056 7,84 1992 152.226.988 20.205.789 1.535.788 7,60 1993 154.512.692 20.510.833 1.594.668 7,77 1994 156.775.230 20.871.619 1.661.034 7,96 1995 159.016.334 21.290.516 1.759.703 8,27 1996 161.247.046 21.773.763 1.868.529 8,58 1997 163.470.521 22.325.633 1.945.615 8,71 1998 165.687.517 22.872.641 2.125.958 9,29 1999 167.909.738 23.284.811 2.369.945 10,18 2000 170.143.121 23.644.245 2.694.245 11,39 2001 172.385.826 23.929.440 3.030.754 12,67 2002 174.632.960 24.118.715 3.479.913 14,43 2010 192.040.996 23.099.571 6.929.871 30,0 2015 201.517.470 22.336.773 6.701.032 30,0 2020 209.705.328 22.499.785 6.749.936 30,0 2025 216.952.113 23.025.083 6.907.525 30,0 2030 223.360.169 22.956.670 6.887.001 30,0 2035 228.685.249 22.447.823 6.734.347 30,0 2040 232.830.516 22.109.750 6.632.925 30,0 2045 235.906.297 22.182.387 6.654.716 30,0 2050 238.162.924 22.306.035 6.691.811 30,0

– Tabela 02 –

Page 19: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

19

O desafio que se apresenta diante da sociedade brasileira é, na verdade

um grande paradoxo, na medida em que, se de um lado o crescimento do

número de universitários é uma situação desejada, por outro levanta uma

questão muito séria: teremos um ambiente macroeconômico suficientemente

favorável para tirar o devido proveito desta mão-de-obra ávida por

oportunidades de trabalho ou será motivo de uma enorme frustração coletiva?

Indubitavelmente que se trata de uma enorme batalha a ser vencida por

todos nós, porém, o progresso econômico e a condução da gestão do país

deve caminhar paralelamente à consolidação dos programas sociais vigentes

de transferência de renda – entre eles o Bolsa Escola – com um olhar muito

cuidadoso na situação que acabo de descrever.

Em função deste quadro é que se justifica a inclusão e destaque do vital

papel a ser desempenhado não só pelo próprio Ministério da Educação – pois é

nesta pasta que reside a responsabilidade pela elaboração e gestão da Política

Nacional de Educação ao longo dos anos – mas, sobretudo, pelos Ministérios

da área econômica, tais como a Fazenda e Planejamento como anteriormente

apresentado na figura 01.

Ao primeiro cabe a responsabilidade pela gestão ética, eficiente e

profissional dos rumos da economia nacional e geração das condições básicas

necessárias para estimular investimentos produtivos por parte da iniciativa

privada e a conseqüente promoção do crescimento econômico sustentável.

Page 20: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

20

O resultado do trabalho do titular desta pasta pode ser imediatamente

sentido pelos demais Ministros de Estado através da disponibilidade de mais

recursos para investimentos em suas respectivas áreas e pela sociedade civil

por intermédio da percepção da evolução de seu poder de compra

(declinantes, estagnados ou crescentes), do valor da moeda nacional e de

outros indicadores como, por exemplo, nível de emprego.

Já o Ministério do Planejamento apresenta a seguinte missão8:

“promover o planejamento participativo e a melhoria da gestão pública para o

desenvolvimento sustentável e socialmente includente do país.”

Está claro que o Programa Bolsa Escola é somente um dos pilares do

processo de melhora do nível educacional de nosso país, aprimoramento e

maior justiça na geração e distribuição de riqueza, universalização do acesso à

educação e conseqüente desenvolvimento sócio-econômico, porém, volto a

afirmar e destacar que este programa social – desde que respeitadas as

premissas de re4sponsabilidade em sua gestão e monitoramento – exerce um

importante papel na promoção do acesso à educação por parte de pessoas

que, em outras circunstâncias dificilmente teriam estímulo suficiente para

enviar e/ou manter suas crianças nos bancos escolares.

4.1 – Bases Fundamentais do Desenvolvimento

As bases fundamentais para o desenvolvimento sustentável do Brasil

passam pelos três níveis de ensino, desde que devidamente lastreados por 8 Fonte: www.brasil.gov.br/planejamento (25.05.2004)

Page 21: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

21

planejamento econômico de médio e longo prazo, plano nacional de educação

e alocação de recursos.

Ensino Superior

Bol

sa-E

scol

a

Ensi

no B

ásic

o

Alfa

tizaç

ão S

olid

ária

Supl

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os

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outo

rado

Ensino Básico Ensino Médio

Desenvolvimento Sócio-Econômico

PlanejamentoPolíticaRecursos

Sociedade Melhor

– Figura 04 –

Analisando-os de forma mais detalhada, temos que:

4.1.1 – Ensino Básico / Fundamental

Pode até parecer redundante dizer isso, mas esta fase do processo de

formação educacional é a mais importante e vital para gerar as condições

mínimas necessárias para que alguns anos depois a sociedade seja

beneficiada com profissionais das mais diversas áreas egressos de bons

cursos e com sólida formação capazes de realmente fazerem a diferença em

suas atividades.

Ademais, o adequado investimento no ensino público

básico/fundamental exerce enorme função social na medida em que:

a. Cria perspectivas de um futuro melhor para crianças em situação de

risco;

Page 22: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

22

b. Elimina – ou diminui significativamente – a possibilidade de estas

crianças virem a ser seduzidas pelas pseudofacilidades da vida

criminosa;

c. Contribui para uma melhor harmonia no núcleo de muitas famílias com

problemas de desemprego ou outros tipos de dificuldades;

d. Indiretamente acaba impactando – a médio e longo prazo – na redução

dos níveis de criminalidade;

e. Prepara cidadãos mais participativos e cônscios de seu papel na

sociedade.

4.1.2 – Ensino Médio

Na esteira da continuação dos investimentos feitos no Ensino

Básico/Fundamental, esta fase do processo educacional visa dar mais

consistência ao que foi apresentado, aprendido e discutido nas séries

anteriores, de tal forma que o jovem adquira as condições necessárias para já

ingressar no mercado de trabalho por meio da conclusão de um curso Técnico

ou continuar os estudos e ingressar no Ensino Superior.

Cabe salientar, porém que, muito embora esta seja uma possibilidade

real, nas últimas duas décadas o mercado de trabalho tem experimentado

profundas transformações a ponto de que se nos anos 1980 era considerado

como um diferencial tremendo possuir por exemplo uma graduação, ao final

dos anos 1990 e neste princípio de anos 2000 isso já passou a ser o mínimo

Page 23: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

23

exigido pelo mercado de trabalho – além, é claro, de conhecimento de pelo

menos um idioma estrangeiro e informática.

Desta forma, é importante estabelecer mecanismos de estímulo à

continuação dos estudos, para que o jovem não pare na conclusão do Ensino

Médio e dê-se por satisfeito.

4.1.3 – Ensino Superior

Esta tem sido a área de nosso sistema educacional mais debatida ao

longo dos últimos anos.

É inegável sua importância em nosso processo de desenvolvimento,

porém, se forem feitos os devidos investimentos na base da pirâmide

educacional, a tendência é que a situação do Ensino Superior seja

automaticamente beneficiada.

Atualmente está sendo amplamente discutida uma reforma no Ensino

Superior a qual, espera-se, significará um aprimoramento das instituições e do

modelo vigente.

No entanto, se subdividirmos o Ensino superior em três segmentos,

veremos a existência de determinadas nuances e particularidades em cada

uma delas:

Page 24: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

24

4.1.3.1 – Graduação

Como já abordado anteriormente neste texto, este segmento do Ensino

Superior experimentou uma enorme expansão ao longo de uma década, tanto

no número de alunos matriculados quanto no de IES (notadamente as

particulares).

Porém, foi constatado também o diminuto número de formandos em

relação aos que ingressam.

Sendo assim, a discussão e o debate em torno da reforma universitária

deve contemplar este aspecto. Por que de cada dez pessoas que iniciam a

graduação apenas duas são diplomadas alguns anos depois?

É preciso analisar profundamente esta questão e identificar de que

forma esta relação pode ser modificada.

4.1.3.2 – Pós-Graduação Lato Sensu

Por conta em grande parte das profundas transformações ocorridas no

mercado de trabalho ao longo dos últimos anos e pela crescente demanda por

profissionais mais qualificados, preparados e atualizados, cada vez mais

pessoas tem retornado aos bancos escolares em busca destes conhecimentos

e bem como elevar – ou no mínimo sustentar – sua própria empregabilidade.

Page 25: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

25

Como conseqüência desta dinâmica, as IES também ampliaram a oferta

de cursos abrangendo inúmeras áreas e especialidades.

4.1.3.3 – Pós-Graduação Stricto Sensu

Assim como a modalidade de Lato Sensu, este segmento do Ensino

Superior tem experimentado notável evolução em número de Mestres e

Doutores.

Estes profissionais representam a elite do pensamento analítico/crítico

de nossa sociedade e são fundamentais para o aprimoramento de nosso

desenvolvimento, maior inserção do país no cenário científico internacional e

atração de novos investimentos produtivos por parte de empresas

multinacionais.

Evolução da Pós-Graduação Stricto Sensu

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

1987 1994 1996 1998 1999

Ano

Mat

rícul

as Mestrado

Doutorado

– Figura 05 –

Page 26: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

26

Matrículas Ano Mestrado Doutorado

1987 31.717 8.366 1994 46.086 18.907 1996 45.622 22.198 1998 50.931 26.810 1999 56.911 29.940

– Tabela 03 –

No entanto, apesar do grande avanço obtido, constata-se que ainda há

um grande caminho a ser percorrido. Prova inconteste deste fato é que não

obstante o desenvolvimento de importantes projetos de repercussão mundial

como, por exemplo, o Genoma, a produção científica brasileira representa

apenas 1,5% do volume internacional, segundo afirma o físico José Fernando

Perez (Diretor da FAPESP)9.

De acordo com o Relatório de Competitividade Global 10, é praticamente

impossível analisar crescimento econômico e competitividade sem considerar o

nível educacional do país.

Muito embora no Relatório não tenha sido estabelecido um índice

específico para a medição do nível educacional dos países analisados, foi

estabelecido que a educação contribui significativamente para a taxa de

perspectivas de crescimento econômico de médio e longo prazo.

Alguns dos indicadores do Relatório são os seguintes:

9 Fonte: Jornal Valor Econômico, edição de 23/07/2004, página D4 10 Fonte: The global competitiveness report 2000 – Harvard University – World Economic Forum – pages 86 to 91

Page 27: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

27

4 – Escolas Públicas 5 – Média de Anos de Estudo As escolas públicas são de elevada qualidade? 1 = discordo completamente 7 = concordo plenamente

Média de anos de estudo da população acima de 25 anos

Ranking País Nota Ranking País Anos 1 Áustria 6,5 1 EUA 12,25 5 Suíça 6,2 5 Canadá 11,01 6 Cingapura 6,2 8 Coréia do Sul 10,46 27 Coréia do Sul 4,8 28 Argentina 8,49 37 Costa Rica 4,0 30 Cingapura 8,09 38 Ucrânia 4,0 32 Chile 8,01 43 Chile 3,3 37 Peru 7,33 45 Zimbábue 3,0 41 Equador 6,52 49 Argentina 2,8 42 Tailândia 6,10 51 Colômbia 2,7 43 Costa Rica 6,01 53 Brasil 2,6 45 Bolívia 5,65 59 Equador 1,5 49 Colômbia 5,01

51 Zimbábue 4,88 55 Brasil 4,68 56 El Salvador 4,61

6 – Institutos de Pesquisas Científicas 7 – Educação Superior Os institutos de pesquisas científicas são realmente de classe mundial? 1 = discordo completamente 7 = concordo plenamente

Taxa de matrícula no ensino superior

Ranking País Nota Ranking País Taxa 1 EUA 6,7 1 Canadá 88 4 Reino Unido 5,9 2 EUA 81 5 Austrália 5,9 5 Taiwan 67 10 Holanda 5,5 8 Coréia do Sul 60 14 Cingapura 5,1 27 Cingapura 39 22 Taiwan 4,6 29 Argentina 36 23 Índia 4,6 31 Costa Rica 30 25 Costa Rica 4,4 32 Chile 30 32 Coréia do Sul 4,0 33 Filipinas 29 36 Chile 3,7 34 Venezuela 28 41 Brasil 3,4 35 Peru 26 43 Argentina 3,3 42 Bolívia 21 59 El Salvador 1,6 45 Equador 20

47 El Salvador 18 48 Colômbia 17 50 Brasil 15

58 China 6

As tabelas apresentadas são apenas partes do extenso Relatório de

Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial, mas já são suficientes

para nos sinalizar alguns aspectos importantes.

Em termos regionais, o Brasil é a economia mais pujante da América do

Sul, representando o triplo do GNI da Argentina, por exemplo e mais de sete

vezes o tamanho da economia Chilena para ficar em apenas dois exemplos.

Page 28: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

28

No entanto, apesar disso, nosso desempenho em fatores que

contribuem decisivamente para o nível de competitividade, atração de

investimentos produtivos e conseqüente crescimento econômico, estamos bem

defasados.

1. Qualidade das escolas públicas: 16 posições abaixo da Costa Rica e

somente 6 acima do último colocado Equador;

2. Média de anos de estudo: 27 posições atrás da Argentina e à frente

apenas de El Salvador;

3. Institutos de pesquisas científicas de classe mundial: 16 posições atrás

da Costa Rica e 18 acima do último colocado El Salvador;

4. Em termos de taxa de matrícula no ensino superior: 21 posições atrás

da Argentina e 8 acima do último colocado, a China.

É claro que se fôssemos estabelecer comparações com países mais

industrializados tais como EUA, Canadá, Inglaterra, Alemanha, entre muitos

outros, certamente que os resultados seriam ainda mais alarmantes.

O que estes dados nos ajudam a refletir é que, mesmo regionalmente, o

Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer, e como se percebe facilmente,

a trilha passa diretamente pela educação.

Page 29: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

29

5 – CONCLUSÕES E PROPOSTAS

Como foi claramente apresentado, todas as nações que desenvolveram

um plano claro, consistente e sólido de investimento na educação e formação

de sua mão-de-obra obtiveram resultados satisfatórios alguns anos depois.

Isto não significa, no entanto, que o Brasil não está totalmente alheio a

esta necessidade.

Na verdade, em termos institucionais, a estrutura para dar sustentação a

um projeto de tamanha magnitude e importância até já existe por intermédio do

MEC, suas diversas Secretarias e bem como pela formação de fundos para o

financiamento do ensino em seus diversos níveis, tais como:

FUNDEF Fundo do Ensino Fundamental

FNDE Fundo de Desenvolvimento da Educação

FUNDESCOLA Fundo para o Fortalecimento da Escola

FIES Financiamento Estudantil

Isso, além de outras fontes de financiamento oficiais nas três esferas do

governo.

A própria Constituição Federal de 1988 é muito clara e objetiva com

relação à visão da importância da educação para nossa sociedade, ao vincular

Page 30: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

30

no mínimo 25% das receitas dos Estados e Municípios à educação, sendo que

deste montante, 60% deve ser direcionado ao Ensino fundamental.

Agora, será que os recursos disponíveis são aquém da necessidade? É

claro que quanto mais recursos melhor. Não restam dúvidas.

No entanto, volto a frisar, muito mais relevante do que o valor monetário

alocado à educação, é a forma como este é alocado e gerido.

Infelizmente, o desequilíbrio ainda é abissal e ao mesmo tempo que há

algumas poucas ilhas de excelência no ensino público em todos os níveis, não

é difícil identificar escolas onde as instalações são precárias e inadequadas

para um bom aprendizado; há carência de bibliotecas e computadores sendo

que em alguns casos quando há este equipamento ele tem de ser

compartilhado simultaneamente por diversos alunos; passando até mesmo pelo

exemplo extremo de uma Faculdade Federal de Medicina no Mato Grosso11

onde os professores são voluntários e os alunos não contam com laboratórios

para o aprendizado prático da profissão.

Por tudo isso que sou da opinião de que o Plano Nacional de

Desenvolvimento deve ser gerido como um plano estratégico de uma empresa

da iniciativa privada, com foco, objetivos e metas claras e, principalmente,

indicadores para medição de resultados e correções de rotas quando

necessário, o qual considero que se fundamenta em três pilares básicos:

11 Fonte: http://redeglobo6.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGCO-2703-3430-2-53563,00.html (15.06.2004)

Page 31: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

31

• Planejamento de longo prazo: a educação já não pode mais ser tratada

apenas como tema para campanhas eleitorais e assunto para

palanques. É preciso ser encarada e tratada como elemento estratégico

fundamental para nossa perpetuação e evolução como nação com

participação ativa no cenário mundial.

Desta forma, os planejamentos educacionais devem contemplar o hoje e

o amanhã simultaneamente.

Ou seja, toda e qualquer iniciativa implementada no presente deve estar

fundamentada em um plano futuro com retorno claro e bem definido.

• Recursos: por mais óbvio que pareça, os recursos financeiros e

materiais são primordiais para obtermos os resultados esperados. E vale

a pena salientar que a gestão profissional, séria e ética de tais recursos

é tão importante quanto.

Nesse aspecto, o próprio governo federal reconhece que “o Brasil não

gasta pouco em programas sociais, mas gasta mal. (...). O investimento

social precisa acima de tudo estar ajustado com a realidade do país. O

orçamento curto dos dias atuais não permite que se gaste mal.”

• Política educacional e governamental: assim como o planejamento de

longo prazo visando um objetivo futuro claro e promissor para a nação é

Page 32: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

32

preciso que a educação seja tratada e gerida como um plano da nação

brasileira, e como tal não é propriedade do partido político “A”, “B”, “C”

ou “N” e, é claro, nem de seus representantes que ocuparem os cargos

de decisão no poder executivo ou legislativo.

Ou seja, se não houver um mínimo de continuidade nos projetos

implantados, jamais poderemos desfrutar de seus benefícios se a cada 4

anos após a mudança dos quadros do poder executivo – supondo que

não ocorram reeleições sistemáticas – tem-se novas políticas e modelos

de gestão.

Precisamos de, pelo menos, 15 anos de manutenção de uma linha única

de gestão e planejamento a fim de obter-se algum resultado palpável,

caso contrário estaremos patinando no mesmo lugar sempre e o acesso

à educação continuará a ser um privilégio de poucos e não um direito de

todos.

No que diz respeito à questão da baixa proporção de alunos concluintes

conforme também apontado por este estudo, apresento as seguintes iniciativas

para combater este “efeito funil”:

a. Ampliação do programa de financiamento estudantil, de tal forma que

ele consiga contemplar um número cada vez maior de alunos.

Page 33: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

33

b. Maior disponibilidade de bolsas de estudo parciais e/ou integrais das

próprias instituições de ensino privadas (condicionadas, é claro, a

análise da condição sócio-econômica do estudante) e, em condições

acessíveis de restituição do financiamento após a conclusão do curso.

c. Implantação, por parte de todas as instituições de ensino, de programas

de orientação, palestras e faculdade aberta para visitação dos jovens

vestibulandos a fim de que tenham melhores subsídios para exercerem

suas escolhas através do conhecimento das atividades desenvolvidas

em cada profissão (o que pode ser conseguido por meio de palestras e

debates com convidados de cada área) e também conhecer as

instalações da faculdade, o ambiente, os recursos disponíveis e dirimir

dúvidas.

d. Criar uma cultura de valorização do aluno egresso e estímulo para que

ele se torne um contribuinte voluntário para um fundo de bolsas da

instituição onde se formou, de tal forma que sua contribuição beneficie

outros estudantes como um dia ele foi.

A contrapartida da instituição para com o aluno poderia ser, por

exemplo, oferecimento de descontos em cursos de especialização ou

atualização, acesso às instalações da biblioteca, recebimento de alguma

revista acadêmica de seu interesse publicado pela faculdade, entre

outras possibilidades.

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34

e. Por fim, mas não menos importante que as demais, não podemos nos

dar ao luxo de não aprender com nações que têm sido mais bem

sucedidas do que nós neste aspecto e identificar de que forma e quais

mecanismos foram adotados para mudar este quadro. Analisá-los

criteriosamente e procurar extrair o que tem condições de ser aplicado

em nossa realidade e o que carece de adaptações.

Portanto, fica patente mais uma vez, que o desenvolvimento sócio-

econômico de nosso país e o tão longamente aguardado avanço do estágio de

“Economia Emergente” para um país realmente desenvolvido se materialize,

está intimamente relacionado ao desempenho de nossos estudantes, à

qualidade do ensino, às políticas oficiais de educação e à gestão eficiente dos

recursos disponíveis.

Page 35: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

35

7 – BIBLIOGRAFIA

[1] BANCO MUNDIAL.

www.wordlbank.org/depweb/beyond/beyondbw/begbw_04.pdf (12.04.2004)

[2] BOCCANERA, Silio. Tempos modernos. Primeira Leitura – edição Nº 24 –

fevereiro 2004 – Editora Primeira Leitura – páginas 22 a 35

[3] Brasil em Exame – Editora Abril, Ano 36; 27/11/2002, página 89

[4] Brasil em Exame – Editora Abril, setembro 1997

[5] Ensino Superior – Editora Segmento, SP – Ano 6 – Nº 67 – Abril 2004 –

Páginas 16 a 20

[6] GOVERNO FEDERAL. www.brasil.gov.br/pl_econ.htm (15.04.2004)

[7] GOVERNO FEDERAL. www.brasil.gov.br/pl_desenv1.htm (15.04.2004)

[8] GOVERNO FEDERAL. www.brasil.gov.br/pl_social4.htm (15.04.2004)

[9] INEP / MEC – Censo da Educação Superior de 1999

Page 36: O Desafio do Crescimento Econômico no Brasil

36

[10] KOTLER, Philip, JATUSRIPITAM, Jornkid, MAESINCEE, Suvit. O

marketing das nações: uma abordagem estratégica para construir as riquezas

nacionais. São Paulo, Futura, 1997

[11] LEVY, Luiz Fernando. O novo Brasil. São Paulo, Nobel

[12] MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. www.mec.gov.br/sesu/sesu.shtm

(25.05.2004)

[13] MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.

www.mec.gov.br/secrie/estrut/serv/programa/default.asp (25.05.2004)

[14] MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.

www.mec.gov.br/secrie/estrut/serv/resultado/default.asp (25.05.2004)

[15] SECRETARIA DE ESTADO DE COMUNICAÇÃO DO GOVERNO. Brasil

1994 – 2002: a era do real

[16] WORDL ECONOMIC FORUM. The global competitiveness report 2000 –

Harvard University, Oxford