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LA SALLE NÚCLEO BANDEIRANTE GUSTAVO MONTEIRO WILLIAN PIRES A Hora da Estrela O existencialismo NÚCLEO BANDEIRANTE 2012

O existencialismo em A Hora da Estrela

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Trabalho realizado para o 3º ano do ensino médio do Colégio La Salle - Núcleo Bandeirante.

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Page 1: O existencialismo em A Hora da Estrela

LA SALLE NÚCLEO BANDEIRANTE

GUSTAVO MONTEIRO

WILLIAN PIRES

A Hora da Estrela

O existencialismo

NÚCLEO BANDEIRANTE

2012

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COLÉGIO LA SALLE NÚCLEO BANDEIRANTE

A hora da estrela

O existencialismo da obra

Professor(a): Marisa Diniz

É uma análise feita a cerca das questões de existencialismo da obra, que está

repleta de questionamento acerca do ser e de sua essência.

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INTRODUÇÃO

O existencialismo é uma corrente filosófica surgida no séc. XIX que

suportava a ideia que o indivíduo é o único responsável por dar significado a

sua vida e em vê-la de maneira sincera e apaixonada, apesar de muitos

obstáculos e distrações como o desespero, a ansiedade, o absurdo, a

alienação e o tédio.

Baseando-se no conceito acima, este ensaio terá papel de buscar

traços característicos dessa corrente filosófica na obra A Hora da Estrela,

que possui a característica de ser considerada a obra epifânica de Clarice,

ou seja, o existencialismo nela far-se-á naturalmente presente.

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Análise da obra

O existencialismo em A Hora da Estrela é algo evidente até mesmo aos

olhos daqueles que o desconhecem ou não entendem o seu conceito. Por

meio de pequenas reflexões, apresentadas pelo narrador onisciente Rodrigo

S.M., a autora imerge o leitor em uma prisão de pensamentos ligados ao

íntimo humano, em questões filosófico-existenciais, em pensamentos a

respeito de sua natureza quanto homem e até mesmo em relações de

importância afetiva.

Rodrigo S.M. existe como um caminho entre Clarice e Macabéa, sendo

os três como um só. O narrador, Rodrigo, poderia ser considerado como

uma espécie de heteronômio da autora. Macabéa, assim como afirma

Rodrigo, “não quer sair de seus ombros” (LISPECTOR, Clarice, p. 22). Pode-

se inferir, através de tal trecho, a relação entre ambos, como dito

anteriormente, além das mudanças por quais passa o narrador para ver-se

apto a construir a história de Macabéa: “Para desenhar a moça tenho que

me domar e para poder captar sua alma tenho que me alimentar frugalmente

de frutas e beber vinho branco gelado. [...]Também tive que me abster de

sexo e e de futebol. Sem falar que não entro em contato com ninguém.”

(LISPECTOR, Clarice, p. 22, 23) Consequentemente, é observável também

o elo existente entre Macabéa e Clarice, visto que é formada uma reação em

cadeia para os três: Clarice passa-se por Rodrigo, personagem cuja

responsabilidade é dar-nos a passagem de Macabéa em vida. Formando-se

assim uma espécie de tripé, com dependência mútua entre os três.

Logo no início da obra, o narrador apresenta traços característicos de

tendência existencialista: “Meu coração se esvaziou de todo desejo e reduz-

se ao próprio último ou primeiro pulsar.” (LISPECTOR, Clarice, p. 11) Afirma

que iniciou o processo de escrita devido a diversos questionamentos que

tem tido durante anos. Questionamentos, estes, que demonstram a essência

do existencialismo nu e cru, a busca pela descoberta dos “porquês”

oferecidos a nós pela vida, além do entedimento de seu papel perante a

sociedade.

Em uma vaga tentativa de descobrir-se enquanto humano, Rodrigo

demonstra clareza na direção de pensamentos enquanto escreve, pois, além

da construção de Macabéa, faz uma construção de si mesmo: “Desculpai-

me mas vou continuar a falar de mim que sou meu desconhecido, e ao

escrever me surpreendo um pouco pois descobri que tenho um destino.

Quem já não se perguntou: sou um monstro ou isto é ser uma pessoa.”

(LISPECTOR, Clarice, p. 15)

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Há, na obra, referências de atemporalidade: “[...]que vivemos

exclusivamente no presente pois sempre e eternamente é o dia de hoje e o

dia de amanhã será um hoje, a eternidade é o estado das coisas neste

momento”. Fato que pode comprovar a efêmeridade do tempo quando não

se tem consciência e noção do sentido em viver. Pode-se observar, também,

o momento pelo qual passava a autora, afirmado por muitos que era de

epifania. Levando-se em conta a firmação dita anteriormente, tal trecho

demonstra que a recém-descoberta da irrelevância do tempo perante a

insignificância da vida enquanto coletivo maior (sociedade e/ou universo) foi

uma fortalecedora para a construção de referidos aforismos.

Levando ao âmbito da personagem Macabéa, o existencialismo faz-se

também fortemente presente por meio de atitudes auto-afirmativas. A pobre

emigrante, em condição de nordestina desamparada em cidade grande,

representa, também, um papel social que tem passagem significante na

história do país, a mudança de local de residência para a cidade grande em

busca de melhores condições de vida. Todavia, essa migração muitas vezes

era rodeada de insatisfação, pois o cotidiano corriqueiro em busca de

trabalho e a luta por mais recursos financeiros – falso sinônimo de felicidade

- deixava de lado a parte humana do ser, trazendo a insatisfação pessoal,

como demonstrado no trecho: “Felicidade? Nunca vi palavra mais doida,

inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.” (LISPECTOR,

Clarice, p. 11, 12)

Além de sua condição de emigrante, a protagonista revela mais

características de cunho existencialista, como na passagem em que olha-se

ao espelho e, após certo tempo, passa a enxergar deformidades em sua

face: “Olhou-se maquinalmente ao espelho que encimava a pia imunda e

rachada, cheia de cabelos, o que tanto combinava com sua vida. Pareceu-

lhe que o espelho baço e escurecido não refletia imagem alguma. Sumira

por acaso sua existência física? Logo depois passou a ilusão e enxergou a

cara toda deformada pelo espelho ordinário, o nariz tornado enorme como o

de um palhaço de nariz de papelão. Olhou-se e levemente pensou: tão

jovem e já com ferrugem” (LISPECTOR, Clarice, p. 25). Em “Sumira por

acaso a sua existência física?” é visível a alusão à corrente filosófica tratada

neste ensaio, onde podemos deduzir a inexistência da personagem, que

enxerga no espelho nada mais do que o seu parecer enquanto essência.

Como forma de disfarçar sua baixa auto-estima e desconhecimento

emocional, a protagonista usa de artefatos estéticos (batom, esmalte etc)

para tentar melhorar sua aparência e, assim, chamar a atenção daqueles

que a rodeiam. Como podemos observar em: “No banheiro da firma pintou a

boca toda e até fora dos contornos para que os seus lábios finos tivessem

aquela coisa esquisita dos lábios de Marylin Monroe”. (LISPECTOR, Clarice,

p. 62)

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Ainda em relação à citação anterior (LISPECTOR, Clarice, p. 25),

Macabéa relembra de um acontecimento de sua infância, quando sua tia – a

responsável por grande parte dos traumas da nordestina e, até mesmo, por

toda a sua ignorância a respeito da vida e do viver - disse-lhe que homem-

vampiro não tinha reflexo no espelho. [...] ela que não parecia ter sangue a

menos que viesse um dia a derramá-lo”. (LISPECTOR, Clarice, p. 26) O fato

de aparentemente não possuir sangue, demonstra a sua “palidez” perante a

vida, em que é necessário um ferimento para este (o sangue) vir à mostra,

ou seja, a sua significância e notoriedade só viria através da tragédia.

No desenrolar da história, Macabéa supera superficialmente suas

questões existenciais. Conhece um homem no parque e, logo, este torna-se

seu namorado. Passa por algumas mudanças, tenta em vão aculturar-se por

meio de uma rádio, adquirindo informações inúteis para tentar surpreender

Olímpico, seu namorado.

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CONCLUSÃO

Após referida análise em campo geral da obra e uma menos

abrangente em cada personagem, podemos confirmar com convicção o que

foi alegado anteriormente. Clarice passava por um momento de sérios

problemas de saúde, enfrentava a morte e já estava em processo de

aceitação sobre sua condição como ser no mundo. Devido a isso, é dito por

muitos críticos como esta sendo sua obra epifânica.