o meio como ponto zero (resenha)

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  • 7/26/2019 o meio como ponto zero (resenha)

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    Resenha

    BRITES, Blanca,TESSLER, Elida(organizadoras).

    O meio como pontozero. Metodologia dapesquisa em artesplsticas.

    Porto Allegre:Editora daUniversidade UFRGS,2002.

    Apontando os tpicos

    Silvia Carvalho1

    O livro O meio como ponto zero,apresenta diferentes conceitos de pesquisadoresna rea das artes plsticas no mbitouniversitrio. Tecendo idias, sugestes,

    conceitos a fim de articular a construo de umpensamento prtico-terico que envolve oartista- pesquisador. Nesse texto vou citaralgumas colocaes relevantes de alguns dospesquisadores participantes.

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    Jean Lancri, artista plstico e professorna Universidade de Paris I- Panthen/Sorbonne.Levanta a questo da dificuldade do comeo

    para quem se aventura na pesquisa em artesplsticas mesmo que seja um recomeo. Esugere que seentre no assunto pelo meio, ouseja, deve partir do meio de uma prtica, deuma vida, de um saber, de uma ignorncia doque se cr saber melhor.

    Porque a arte insere-se a meio caminho

    entre o conhecimento cientfico e o pensamentomtico ou mgico. E continua dizendo que umpesquisador em artes plsticas, opera sempre nocampo do conceitual e do sensvel, entre teoriae prtica, entre razo e sonho. Mas que noimpede que a razo se ponha a sonhar e o sonhoa raciocinar. Portanto trata-se de operar noconstante vaivm entre esses diferentes

    registros.Uma tese em artes plsticas tem por

    originalidade entrecruzar uma produo plsticacom uma produo textual; ela no se completaquando no consegue lig-las por travas. A parteda prtica plstica ou artstica, sempre pessoal,deve ter a mesma importncia da parte escrita,uma no indissocivel da outra. Debater,examinar, criticar, avaliar seus trabalhos e deoutros tambm fator de suma importncia.Comprometer-se com armas e bagagens em suapesquisa. Armas de desejo, bagagens delinguagens, de saberes e corpo. Sobretudo decorpo, inclusive de cabea, evidentemente. Ouso da razo na pesquisa em artes plsticas

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    deve ser temperado por certa dose de dvida.Outra questo a de colocar o problema doprojeto, conceitos que prevem, tanto quanto

    possvel, a trajetria do futuro trajeto. Aredao no texto, que constitui a maior parteescrita da tese, deve buscar a maior preciso nopensamento. O pesquisador em artes devepenetrar em seu objeto de estudo comtemeridade. O conhecimento dos conceitos vai,portanto, de par com o reconhecimento docampo em que esses conceitos se mostramoperacionais.

    Iclia Cattani (pesquisadora, professora ecrtica de arte) coloca a seguinte questo para oartista-pesquisador: Como pensar a obra compesquisa, dentro dos critrios acadmicos? Eresponde: No tentar l-la, mas v-la emseus elementos materiais prprios. Situ-la em

    seu lugar. Para ela, a pesquisa de arte buscaro rigor de anlise que lhe permita qualificar-secomo pesquisa, ligada sensibilidade do olhar efundamentao terica. Ela fala da importnciade um chamado Dirio de bordo, onde serofeitas anotaes com intenes, dvidas,processos criativos. Esse procedimento bastante relevante durante a elaborao do

    trabalho artstico. Pois necessrio que opesquisador reconhea a importncia do seuolhar para o desenvolvimento da reflexo.

    Hlio Fervenza (Artista plstico, professore pesquisador em artes visuais) levanta aquesto da importncia de reflexo nasseguintes perguntas: Para onde olha nosso

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    trabalho? O que ele olha? Como olhar para oassunto que temos a desenvolver? De onde olh-lo? Como olhar para nossas referncias, para as

    informaes que possam nos auxiliar a situarnosso percurso? e d alguns exemplos damostra intitulada Olho Mgico, realizada porele em junho de 1997, na Galeria do CentroIntegrado de Cultura em Florianpolis, duranteo festival de inverno da Udesc.

    Justo Pastor Mellado (Crtico de arte,

    professor e curador independente) aponta ofator da descrio da obra em curso, mas jestruturada, como de grande importncia.Descrio esta entendida como dissecao,compreendida como uma reconstruo icnica,um passo que envolve, para ele, arepresentao da corporalidade. Isto ,exerccios de descrio posicional.

    Elida Tessler (Artista plstica,pesquisadora e professora) faz lembrar aimportncia da boa articulao entre o projetode pesquisa e a sua realizao, unindo produoe reflexo, por meio da pesquisa sistemtica,cientfica, na qual podemos chagar cicatriz,costurando os fragmentos de um complexoprocesso que faz parte da criao. Ela questionao lugar do artista plstico: que lugar esse queocupamos, e o que fazemos, por exemplo, nauniversidade? Enfim, como se d pesquisa deartes plsticas na universidade?. E diz que aarte contempornea tem um carter andarilho,pois percorre distintas reas do saber, aomesmo tempo que tenta superar limites.

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    Tessler tambm cita a palavraentrecruzamento com, para ela, uma sintoniaentre produo e reflexo, entre teoria e

    prtica, entre arte e pensamento, poisnossas dvidas tornam-se matria- prima denossas pesquisas.

    Sandra Rey (artista plstica, Professora epesquisadora) atenta para o fato de que para apesquisa muito mais que saber respostas colocar questes. E que o desafio constante

    para o artista-pesquisador provocar umavano, ou talvez, ou um deslocamento.

    Rey fala de conceitos operatriosexplicando que cada procedimento instauradorda obra implica a operacionalizao de umconceito, isto , operar, realizar a obra tantono nvel prtico como terico. Para ela apergunta o qu deve ser substituda por como:como isso foi feito? Como isso produz sentido?e coloca uma citao de Heidegger para ilustrarsua idia. A obra instaura um mundo, conformeHeidegger (1987) e amplia a percepo e osentido ordinrio que se tem das coisas, dosobjetos e das situaes.

    Outro termo utilizado por ela utopia.

    E explica que a pesquisa em arte aproxima-seda utopia, como algo que no tem lugar, nopossui ainda um lugar definido no tempopresente. E faz uma lista de algunsinstrumentos para anlise potica da prpriaobra e de outros artistas:

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    a) verbalizar: falar sobre o trabalho,explicar para outras pessoas o que se estfazendo.

    b) Criar estratgias: verificar direes quea pesquisa sugere, podendo descart-las eretom-las mais adiante. Manter um dirio deanotaes.

    c) Estar atento s ambigidades: na obraos contrrios tambm podem se unir. Ficaratento, abrir a percepo ao que primeira

    vista parece sem importncia.

    d) Instrumentos para a pesquisa terica:Coletar dados das mais diversas formas.Procurar sempre que possvel as informaes nasfontes.

    e) Conceitualizar: fazer uso de obrastericas utilizando-se dos vrios campos

    interdisciplinares, mesclando-os.f) As anlises comparativas: tarefa de

    aproximar o que parece muito diferente e deafastar o que parece muito semelhante.

    g) Redigir pequenos ensaios: realizarpequenos exerccios de redao desde aintroduo.

    h) Apresentar claramente suas idias: naredao final, organizar bem as idias. Naintroduo, redigir claramente as questes quenorteiam a pesquisa.

    i) Expressar-se com propriedade: saberquando utilizar eu, ns e o impessoal na

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    redao. Lembrando que a riqueza da pesquisaest na bagagem cultural que se cultiva.

    j) Apresentar os resultados de formacriativa: importante jogar o jogo daUniversidade, mas tambm saber subvert-lo, senecessrio for.