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acusado que esteja preso processualmente, permanecerá preso, desde que presentes e devolvidos e o jornal afirmando que este e o casal Nardoni poderão ser beneficiados ressocializador, mas acautelatórios, pois servem ao processo penal, e só podem ser A prisão preventiva depende de motivos autorizadores. Não é difícil compreender a Suas diferenças são simples e de fácil compreensão, para qualquer pessoa. O grande articulista Jânio de Freitas (F. São Paulo, domingo, 15-2-2009) e o
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O SUPREMO, A PRESUÇAO DA INOCÊNCIA E A MÍDIA
A recente decisão do Supremo Tribunal Federal no sentido de que não pode
haver execução provisória da sentença penal condenatória foi mal compreendida pela
imprensa nacional, não sei se por monumental ignorância ou por absoluta má-fé.
O grande articulista Jânio de Freitas (F. São Paulo, domingo, 15-2-2009) e o
jornal O Globo (sexta-feira, 13-2-2009) são o grande exemplo disso, o primeiro dizendo
que o STF terá que admitir que os bens de Nicolau dos Santos Neves terão que ser
devolvidos e o jornal afirmando que este e o casal Nardoni poderão ser beneficiados
pela decisão.
Ambos estão errados. A decisão não vai escancarar as portas dos presídios,
nem tem qualquer relação com medidas cautelares decretadas no curso do processo
penal.
O STF tratou exclusivamente da chamada prisão-pena, que é a prisão em razão
de sentença condenatória. Prisão penal. Não cuidou das prisões cautelares. Prisões
processuais.
Suas diferenças são simples e de fácil compreensão, para qualquer pessoa.
Aquela decorre do trânsito em julgado de uma ação penal condenatória. É um título
executivo, cujo titular, o Estado, deve executá-lo, submetendo o condenado ao
cumprimento da pena.
As prisões processuais não têm caráter penal, punitivo, retributivo,
ressocializador, mas acautelatórios, pois servem ao processo penal, e só podem ser
decretadas e executadas quando houver necessidade para os fins do processo,
observados os requisitos e pressupostos definidos na lei processual, em decisão
fundamentada da autoridade judiciária competente. A prisão temporária tem prazo certo.
A prisão preventiva depende de motivos autorizadores. Não é difícil compreender a
distinção entre prisão-pena e prisão processual.
A decisão do Supremo não muda em nada as normas legais que tratam das
prisões processuais – em flagrante, temporária e preventiva. Assim, todo e qualquer
acusado que esteja preso processualmente, permanecerá preso, desde que presentes e
mantidos os pressupostos dessas medidas constritivas. O que estiver solto poderá ter sua
prisão preventiva decretada, a qualquer tempo.
E quanto à prisão para cumprimento de pena, o STF decidiu exclusivamente
que ela somente poderá ser iniciada depois que tiverem sido julgados todos os recursos
cabíveis a serem interpostos, inclusive perante o Superior Tribunal de Justiça e o
Supremo Tribunal Federal. O Pretório Excelso não foi além disso. E decidiu assim em
respeito ao princípio constitucional que manda ser tratado como não culpado aquele
contra o qual não transitou em julgado sentença penal condenatória. Quem não é, ainda,
culpado, não pode cumprir pena. Simples.
A decisão somente se aplica aos condenados que responderam ao processo em
liberdade, e, é óbvio, também aos condenados contra os quais não existam fundamentos
para decretação da prisão preventiva. Contra todo e qualquer acusado, condenado ou
não, pode ser decretada a prisão preventiva, na hipótese, inclusive, de surgirem fatos
novos que justifiquem a prisão preventiva, caso em que poderá ser recolhido antes do
julgamento dos recursos. Por isso, a decisão não significa abertura dos presídios. Ela
não diz respeito a qualquer medida cautelar, seja restritiva da liberdade, seja de direitos,
como a indisponibilidade de bens.
Por isso, é equivocada a afirmação de que a decisão do STF pode beneficiar o
casal Nardoni e Nicolau, seja quanto a prisão, seja quanto aos bens deste último. Se o
casal Nardoni vier a ser solto, não será por força da recente decisão do STF, mas apenas
se algum órgão do Judiciário entender que não existem mais as circunstâncias
autorizadoras da sua custódia preventiva. Se os bens de Nicolau lhe forem devolvidos,
igualmente, não o terão sido por conta do que decidido pelo STF, mas por outra decisão
do órgão competente do Poder Judiciário, com base em outro fundamento jurídico.
Não posso crer que jornalistas e órgãos da grande imprensa não tenham
assessores jurídicos que possam ter lhes explicado o conteúdo da decisão da Corte
Suprema, daí que só podem mesmo ter escrito o que escreveram por absoluta má-fé.