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O Trabalho como princípio educativo
Zilda Pereira Soares Busto Conciani 1 João Luiz Gasparin 2
RESUMO
Transmitir conhecimentos é um desafio para a escola atual. Porém, esta prática pode tornar-se um eixo que irá mobilizar o indivíduo ou pode ser um meio de alienação. Não podemos esquecer que há interesses políticos, sociais e econômicos que, de forma direta, vão direcionar os rumos das ações educacionais em todos os tempos. Portanto, através da educação é possível buscar um real significado no passado de dignidade e trabalho, capacitando o indivíduo para refletir as relações na sociedade capitalista tendo uma perspectiva de emancipação. Este estudo terá as seguintes etapas:1. Pesquisa sobre a definição de alguns termos; 2.O trabalho sob a visão marxista; 3. Trabalho produtivo e improdutivo; 4. Trabalho material e imaterial; 5. Trabalho como princípio educativo; 6. Trabalho docente; 7. Quem educa: professor, conteúdo ou metodologia; 8. Precarização do trabalho docente. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi o de proporcionar momentos de estudos com os professores analisando o trabalho como princípio educativo. Para esta reflexão foram utilizados textos com base marxista, onde os participantes se organizaram em grupos para pesquisar e responder algumas questões buscando fundamentação em Marx, Saviani e Frigotto, entre outros.
Palavras chave: Trabalho. Trabalho Educativo. Trabalho Produtivo e Improdutivo.
Trabalho Docente
INTRODUÇÃO
O trabalho é objeto de constantes estudos e muitas divergências entre
estudiosos e pesquisadores que se dispõem a refletir sobre as reais relações entre
trabalho e educação. Neste artigo pretendemos pensar na modalidade de trabalho
como principio educativo. Esta reflexão nos leva a analisar o trabalho no aspecto de
1 Professora licenciada em História e Pedagogia, especializada em Didática e em Educação Especial na área de
deficiência auditiva. 2 Formação na Área de Didática e Doutorado em Educação.
produção capitalista, percebendo que nessa visão ele tem o caráter de submissão,
alienação, exploração e servidão; o trabalho na dimensão crítica que leva à
emancipação e o trabalho docente.
O artigo vai contemplar o trabalho sob o ponto de vista marxista, pois para
Marx este possui dimensão ontológica de criação da vida humana. O trabalho é um
processo histórico, através do qual o homem transforma a natureza e a si mesmo,
tornando-se humano e aprendendo por este meio do trabalho. Portanto, a questão
que orientará esta reflexão será: como o trabalho pedagógico se constitui um
princípio educativo?
O trabalho em si leva o homem a idealizar suas ações mentais, então já se
constitui um princípio educativo. Dessa forma, o procedimento metodológico
utilizado concentrou-se na proposição de leituras e análises de textos que foram
trabalhados em grupos.
O trabalho no aspecto capitalista separa a atividade manual e intelectual
originando dois processos distintos visando à produção e reprodução do modo de
trabalho e a mais valia.
O segundo aspecto é o trabalho na dimensão crítica. A escola é o único meio
de acesso para que uma parte representativa da sociedade possa adquirir
conhecimentos sistematizados. Assim sendo, esta apropriação deve facilitar o
entendimento do indivíduo enquanto ser ativo e criativo na sociedade. O homem
enquanto sujeito, faz parte das transformações dos modos de produção e havendo
novas formas de apropriação do que já foi criado, surgem também novos
encaminhamentos na educação que podem objetivar uma visão emancipadora.
No terceiro aspecto da dimensão docente Saviani (1995) considera o trabalho
educativo como o ato de produzir em cada indivíduo os elementos culturais
necessários que precisam ser assimilados pelo ser humano, através do trabalho e
das ações docentes, pois a escola tem como objeto a transmissão e reelaboração
do conhecimento elaborado e sistematizado. A apropriação do conhecimento pelos
educandos torna essencial a existência da escola.
Saviani pensa a educação como uma atividade produtiva dentro das culturas
que os homens coletivizam. Para ele, tudo passa pela produção da existência
humana, pressuposto que coloca o homem num processo permanente de trabalho
para a garantia da sobrevivência. Dentro deste ato de produzir, justifica o trabalho
material lembrando dos bens materiais necessários a sobrevivência de cada
indivíduo, pressupondo o ato de educar como um ato produtível e consumível ao
mesmo tempo. No caso do ensino em sala de aula, por exemplo, afirma ser o
professor um produtor do conhecimento em uma atividade não material, aquele que
está produzindo para o consumo do educador.
Para Marx, o inexistente é o imaterial. Tudo o que existe é matéria. É alguma
modalidade da matéria inclusive a consciência humana.
De acordo com Gramsci o trabalho se institui como princípio educativo no
processo da educação para a emancipação tomando como princípio a ciência e a
técnica na formação de uma escola unitária, rompendo assim com o fetiche da
mercadoria para a formação de um ser humano dirigente, cientista e político. “Por
isso será possível dizer que todos os homens são intelectuais, mas nem todos os
homens tem na sociedade a função de intelectuais”. (Gramsci, 2001, a.p. 18).
Pensando no trabalho docente Marx diz: “As forças essenciais humanas
resultam da atividade social objetivadora dos homens, portanto, forças essenciais
objetivadas”.
Assim, não existe uma essência humana independente da atividade histórica
dos seres humanos. Da mesma forma a humanidade dada nos indivíduos
singulares, trata-se de produzir nos indivíduos algo que já foi produzido
historicamente. O trabalho docente é orientador do processo educativo. Esse
trabalho deve possibilitar aquisição de elementos fundamentais à inserção do
indivíduo na sociedade com a compreensão de fundamentos científicos.
A seguir será abordada a questão: quem educa: o professor, o conteúdo ou a
metodologia? O professor conhecedor com uma formação acadêmica específica
deve ter como objetivo fundamental da sua profissão de educador transmitir para os
alunos o conhecimento científico de forma sistematizada. O saber mais
desenvolvido deve ser assimilável pelos alunos. Segundo Sacristán (1998.p.20):
Sem conteúdo não há ensino, qualquer projeto educativo acaba se concretizando na aspiração de conseguir alguns efeitos nos sujeitos que se educam. [...] quando há ensino é porque se ensina algo ou se ordena o ambiente para que alguém aprenda algo. [...] a técnica de ensino não pode preencher todo o discurso didático evitando os problemas que o conteúdo coloca.
É preciso conceber a educação como uma atividade que se expressa de
diversas formas, em que o conteúdo programático e a didática utilizada transformam
o currículo em uma prática, para produzir uma aprendizagem real. A noção de
competência mencionada neste artigo está intimamente ligada às demandas e
necessidades dos setores mais organizados do capital, que gerou inúmeras políticas
educacionais voltadas para a criação de sistemas de formação profissional.
Ao priorizar uma formação voltada para a valorização de práticas pedagógicas
como o desenvolvimento de atitudes, valores, competências e habilidades, para
cumprir exigências desta sociedade globalizada, a escola descarta a transmissão e
apropriação de conhecimentos específicos de suas disciplinas, ficando cada vez
mais distante da responsabilidade de proporcionar o desenvolvimento integral dos
educandos.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
TRABALHO
O trabalho faz parte da vida do homem, na qual ele transforma a natureza e a
si mesmo, apropriando-se dela com a finalidade de criar meios e instrumentos para
modificá-la, garantindo dessa forma sua sobrevivência. Esta criação humana passa
a ser objeto de apropriação de outros homens, que conduz a outras necessidades.
O próprio processo do trabalho é uma maneira de fazer o homem pensar, portanto,
tem um princípio educativo.
Para Marx, o trabalho possui uma dimensão ontológica de criação da vida
humana. O trabalho é um processo histórico, através do qual o homem transforma a
natureza e a si mesmo, tornando-se humano.
“É atividade orientada a um fim para produzir valores de uso, apropriação natural para satisfazer as necessidades humanas, condição universal de metabolismo entre o homem e a natureza, condição natural eterna da vida humana, independente de qualquer forma dessa vida, sendo antes igualmente comum a todas as formas sociais” (Marx,1983, p.153).
O processo do trabalho, em que o homem e a natureza humana participam
igualmente, é um princípio educativo: o homem necessita produzir sua existência
fazendo mutações para sobreviver e transmitir seus conhecimentos adquiridos a
outras gerações. O trabalho consciente e planejado, cria as bases de sua realidade
sócio cultural assumindo formas diversas, de acordo com determinado tempo
histórico.
Dentro do capitalismo, o trabalho tornou-se mercadoria e o trabalhador não é
dono do produto do seu trabalho, por isso realiza um trabalho alienado. A partir do
momento em que o trabalhador percebe a situação de exploração, esta própria
percepção educa e possibilita libertação ou facilita a sua conformação.
Com o capitalismo, o trabalho tornou-se alienado. Segundo Marx, dentro do
trabalho alienado o próprio trabalhador passa a ser mercadoria:
“Se a oferta excede por muito a procura, então: Parte dos trabalhadores cai na penúria ou na fome. Assim, a existência do trabalhador encontra-se reduzida às mesmas condições que a existência de qualquer outra mercadoria. O trabalhador tornou-se mercadoria e terá: muita sorte se puder encontrar um comprador” (1989 a, p.102).
O trabalhador torna-se alienado, não exercendo um controle sobre o produto
nem sobre o próprio trabalho que expropria o conhecimento do trabalhador. Desta
forma Marx afirma:
“... o trabalho é exterior ao trabalhador, quer dizer, não pertence à natureza; portanto, ele não se afirma no trabalho, nega-se a si mesmo, não se sente bem, mas infeliz, não desenvolve livremente as energias físicas e mentais, mas esgota-se fisicamente e arruína o espírito [...] Assim; o seu trabalho não é voluntário, mas imposto, é trabalho forçado (1989, p.162).
Com esta afirmação percebe-se que o homem é caracterizado pelo trabalho
que realiza; então fica claro que o desempregado, o faminto, as pessoas
marginalizadas não existem para a sociedade capitalista, pois não trazem lucro para
o capitalista. O trabalho, nas relações de produção capitalista, gera a mercadoria,
pois a força de trabalho é a única “coisa” que, quando vendida, passa a ser muito
mais barata, produzindo um capital maior para o proprietário que compra este tipo
de trabalho. O trabalho é a única mercadoria que no seu consumo gera lucro.
Marx tem a seguinte concepção de trabalho: Todo trabalho é, por um lado,
dispendido de força de trabalho do homem sob forma especificamente adequada a
um fim, e nessa qualidade de trabalho concreto útil produz valores de uso (1982,
p.25).
O valor de troca da mercadoria está relacionado à quantidade de tempo que o
trabalhador gasta para produzi-la. O valor de uso é medido pelo trabalho concreto,
ou seja, do trabalho que depende da habilidade humana.
Segundo Saviani (1995), o trabalho educativo significa o ato de produzir, em
cada indivíduo, os elementos culturais necessários que necessitam ser assimilados
pelo ser humano, através do trabalho pedagógico, da organização dos conteúdos e
das ações docentes, pois a escola tem como objetivo a transmissão e reelaboração
do conhecimento elaborado e sistematizado. A apropriação do conhecimento pelos
educandos torna essencial a existência da escola.
TRABALHO PRODUTIVO E IMPRODUTIVO
Trabalho produtivo no sentido capitalista é o trabalho assalariado que produz capital, isto equivale dizer que o trabalho assalariado reproduz aumentada, a soma de valor nele empregada ou que restitui mais trabalho do que recebe na forma de salário (MARX,1989, p.132).
Isto quer dizer que o trabalho produtivo gera a mais valia. O valor do produto
produzido pelo trabalhador é muito superior ao salário que o mesmo recebe. Ao
lucro obtido nesta transação dá-se o nome de mais valia (valor excedente pelo
produto). Por exemplo:
O trabalho de um operário da manufatura geralmente acrescenta ao valor do material por ele trabalhado o valor do seu próprio sustento e o lucro do
patrão. [...] O trabalho de um criado, ao contrário, não adiciona valor. O operário embora receba o salário adiantado, nada custa realmente ao patrão, uma vez que o valor desse salário é restituído junto com um lucro, em virtude do valor aumentado do objeto [...] um homem enriquece empregando grande número de operários, empobrece sustentando grande número de criados. (MARX,1989 p.136).
Desta forma fica claro que o trabalho improdutivo é aquele que não se troca
por capital, não gera lucro. “Um escritor é um trabalhador produtivo, não por produzir
ideias, mas enquanto enriquecer o editor que publica suas obras, enquanto for o
trabalhador assalariado de um capitalista” (MARX, 1987, p.137).
TRABALHO MATERIAL E IMATERIAL
Saviani argumenta que para realizar o trabalho o homem precisa:
Antecipar no pensamento, as ações que irá desenvolver, com isso ele cria representações do mundo. Representações que incluem o aspecto material (empírico) e também abstrações concreto pensado. Isso cria a perspectiva de criação de um outro tipo de trabalho além do material: o não material. Numa palavra, trata-se da criação do saber, seja do saber sobre a natureza, seja do saber da cultura, isto é, o conjunto da produção humana. Obviamente, a educação situa-se nessa categoria do trabalho não material (2008, p.12).
Para ele, tudo passa pela produção da existência humana, pressuposto que
coloca o homem num processo permanente de trabalho para garantia da
sobrevivência. Dentro deste ato de produzir, justifica o trabalho material, lembrando
dos bens materiais necessários à sobrevivência de cada indivíduo.
A produção não material ainda pode ser dividida em duas formas. A primeira
é aquela em que o produto se separa do produtor, e um exemplo disso é a literatura,
onde o produto é o livro, e o produtor é o escritor. A segunda forma é aquela onde o
produto e o produtor não se separam, neste caso situa-se a educação.
Saviani diferencia educação de ensino, porém o ensino é educação. Ele cita
que o ato pedagógico, a aula tem sua produção e consumo ao mesmo tempo.
Assim, pressupõe o ato de educar como um ato produtivo e consumível, ao mesmo
tempo. No caso do ensino em sala de aula, por exemplo, afirma ser o professor um
produtor (neste caso do conhecimento; atividade não material) aquele que está
produzindo para o consumo do educador.
Para Marx, o inexistente é o imaterial. Tudo o que existe é matéria, é alguma
modalidade da matéria, inclusive a consciência humana.
As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes; isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A classe que tem á sua disposição os meios de produção material dispõe, ao mesmo tempo, dos meios de produção espiritual, o que faz com que a ela sejam submetidas, ao mesmo tempo e em média, as ideias daqueles aos quais faltam os meios de produção espiritual. [...] Os indivíduos que constituem a classe dominante possuem entre outras coisas, também consciência e, por isso, pensam, na medida em que dominam como classe e determinam todo o âmbito de uma época histórica, é evidente que o façam em toda sua extensão e, consequentemente, entre outras coisas, dominem também como pensadores, como produtores de ideias (MARX, apud CHAUÍ, 1989, p. 87).
A classe dominante tem os objetivos e conteúdos específicos para atender as
necessidades do capitalismo, onde a escola tem que responder por todos os
problemas sociais.
TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO
Para Gramsci o trabalho se institui como princípio educativo, no processo da
educação para emancipação tomando como princípio a ciência e a técnica na
formação de uma escola unitária, rompendo assim com o fetiche da mercadoria para
a formação de um ser humano dirigente cientista e político, em uma atividade
teórico-prática, pois todos os homens são intelectuais: “Por isso, será possível dizer
que todos os homens são intelectuais, mas nem todos os homens tem na sociedade
a função de intelectuais” (GRAMSCI, 2001 a. p.18).
O ideal da escola unitária não se concretiza numa sociedade desigual,
dividida e injusta, mas ocorre junto com o desenvolvimento de uma sociedade
economicamente unitária.
Após 1930, deixou-se de questionar que o processo industrial põe em crise a
escola dita tradicional, mas afirma-se que a nova escola terá que considerar de
alguma forma, os modernos processos de produção. Porém, esta unilateralidade
econômica e social não aconteceu; cada setor social e produtivo continua criando
sua escola para formar seus dirigentes e especialistas de forma aleatória.
É fundamental a produção, a tecnologia e o lucro, mas com a formação e a
liberdade de todas as pessoas que desejam uma sociedade mais igualitária, mais
humana, pensam numa escola na qual a cultura geral esteja ligada à produção
moderna, porém não sabem como efetivá-la. Os primeiros, mais realistas, pensam
em escolas específicas e diferenciadas para dirigentes e para trabalhadores. Para
eles, a escola do trabalho é a instituição que qualifica a mão de obra necessária ao
desempenho das diferentes profissões, de forma mecânica e unidirecional.
Justificam esta opção com a teoria do capital humano, discurso pedagógico oficial
que entendeu nos anos 60 e70, a escolarização como um investimento na
qualificação profissional.
Um ponto importante, com relação ao estudo da organização prática da
escola unitária, é que está relacionado ao currículo escolar em seus vários níveis, de
acordo com a idade, com o desenvolvimento intelectual-moral dos alunos e com os
objetivos que a escola almeja alcançar. A escola unitária, de formação humanista
em sentido amplo, ou de cultura geral, deveria assumir a tarefa de iniciar os jovens
na atividade social, só quando os mesmos tivessem atingido uma maturidade que os
capacitasse para a criação intelectual e prática, levando-os a uma autonomia na
orientação e na iniciativa.
A escola unitária requer que o Estado possa assumir as despesas que hoje a
família arca. Isso quer dizer que seja transformado o orçamento do Ministério da
Educação nacional, destinado completamente para a função de educação e
formação de novas gerações, por meio da escola pública, pois só assim ela pode
atender todas as gerações sem divisões de grupos.
Porém, esta transformação exigiria outra radical transformação na
organização prática da escola isto é, na estrutura física: material científico, equipe
docente, horário de funcionamento e locais especializados para atendimento à
pesquisa.
Esta escola unitária poderia, neste caso, ser representada pelas escolas
primárias e médias, estruturadas não somente em relação ao método de ensino,
mas também no que diz respeito a vários níveis de carreira escolar.
A fórmula pedagógica de escola unitária, defendida pelos marxistas, está se
estruturando e sofrendo mutações ao longo da história de acordo com as alterações
objetivas e culturais que acontecem na sociedade, à medida que as novas
tecnologias e as recentes situações culturais transformam os sentidos de muitas
coisas.
Por exemplo: o fator solidão, por descaso, não é o mesmo sentido que se dá
a solidão voluntária, que é de certa forma uma escolha, mas envolta em vários
instrumentos da nova era tecnológica como telefone, televisão, internet, o que vem
facilitar o intercâmbio com outras pessoas e locais.
Sabemos que no início da revolução industrial, eram raras as pessoas que
tinham uma formação integral, capazes de se dedicarem a várias atividades de
forma satisfatória. Na época, a formação era exclusivamente especializada e, desta
forma, naquela conjuntura social, a crítica à escola politécnica fazia sentido. Hoje
existem muitas pessoas especializadas que possuem e fazem uso de várias
especializações, distintas umas das outras. Vivemos uma época em que não é
necessário ser especialista em informática para fazer uso dos aparelhos de
informatização e de comunicação virtuais disponíveis.
Atualmente, na sociedade chamada por alguns de pós-industrial, constrói-se
um novo conceito de formação unitária, porém não se elimina a especialização de
cada pessoa dentro de suas preferências, desde que consiga e saiba fazer uso dos
resultados das outras especializações. Assim, liberdade de opção torna-se a base
da nova unilateralidade escolar. A decepção da profissionalização precoce decorre
da exclusão e não exclusivamente da especialização. A alternativa em poder optar,
logicamente exige a eliminação da desigualdade social, pois é esta que diminui as
opções para a maioria e dobra para poucos. Pensando assim, a luta política para a
diminuição e exclusão das desigualdades sociais permanece e simultaneamente se
acentua.
Deste ponto de vista, a fórmula escolar de Manacorda parece hoje mais
adequada para definir o novo conceito de instituição escolar unitária, pois harmoniza
de forma original o tempo de formação rigorosa para todos, com o tempo de opção
individual:
É preciso que a escola, ao invés de ser um lugar aberto cinco horas diárias, durante nove meses por ano e pelo resto do tempo permanecer fechada e vazia, seja o espaço dos adolescentes, onde estes recebam da sociedade adulta tudo o que é possível receber e, ao mesmo tempo sejam estimulados em suas qualidade pessoais e capacitados a gozar todos os elevados prazeres humanos (MANACORDA, 2007, dvd).
A teoria do capital humano realizada por educadores que enfatizam o ideal de
igualdade social acentuou-se nos anos 70 e 80 e o trabalho como princípio
educativo foi definido como sendo uma relação mais complexa e abrangente. A
questão principal foi defender a educação politécnica para todos. Mas esta questão
é sempre decepcionante diante de uma sociedade dividida (fragmentada). Conclui-
se que, enquanto tivermos este modelo de sociedade, a tendência é ter escolas
técnicas profissionalizantes que não ensinam arte, nem filosofia, nem política. Em
outro extremo, vamos encontrar algumas escolas humanistas que ensinam arte e
filosofia, porém sem vínculo com o mundo do trabalho. Existirão também escolas
assistencialistas, que nada ensinam.
A esse respeito, Gramsci diz:
“A escola, se é feita seriamente, não deixa tempo para a oficina e vice versa.
Quem trabalha seriamente, somente com um enorme esforço de vontade, pode
instruir-se”. [...] (GRAMSCI, 1980, p.537).
TRABALHO DOCENTE
Na medida em que o ato de ensinar é parte integrante do trabalho docente
será necessário analisar a concepção de trabalho educativo formulada por SAVIANI:
O trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Assim o objeto da educação diz respeito de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos, e de outro lado e concomitante, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo. Portanto, o trabalho educativo tem uma relação direta entre educador e educando (SAVIANI, 1995, p. l7).
As “forças essenciais humanas” para usar uma expressão de Marx, resultam
da atividade social objetivadora dos homens, portanto, forças essenciais objetivadas.
Assim, não existe uma essência humana independente da atividade histórica
dos seres humanos, da mesma forma que a humanidade dada nos indivíduos
singulares. Trata-se de produzir nos indivíduos algo que já foi produzido
historicamente. O trabalho docente é orientador do processo educativo. Este
trabalho deve possibilitar aquisição de elementos fundamentais à inserção do
indivíduo na sociedade, com a compreensão de fundamentos científicos.
A cultura popular, do ponto de vista escolar, é da maior importância enquanto ponto de partida. Não é, porém, a cultura popular que vai definir o ponto de chegada do trabalho pedagógico nas escolas. Se as escolas se limitarem a reiterar a cultura popular, qual será sua função? Para desenvolver cultura popular, essa cultura assistemática e espontânea, o povo não precisa de escola. Ela se desenvolve por obra de suas próprias lutas, relações e práticas. O povo precisa da escola para ter acesso ao saber erudito, ao saber sistematizado e, em consequência, para expressar de forma elaborada os conteúdos da cultura popular que correspondem aos seus interesses (SAVIANI, 2008. p.80).
“O trabalho docente não é definido mais apenas como atividade em sala de
aula; ele agora compreende a gestão da escola no que se refere à dedicação dos
professores ao planejamento, à elaboração de projetos, à discussão coletiva do
currículo e de avaliação” (disponível em http://www.cedes.unicamp.br).
Todo trabalho tem uma estrutura ou uma base que norteia o seu
encaminhamento.
O trabalho educativo tem como alicerce as tendências pedagógicas das quais
se derivam vários tipos de planos de aulas, as ações, recursos e estratégias. A
prática de cada professor expressa aspectos da cultura escolar, uma vez que os
padrões de atitudes dos professores são aprendidos e reproduzidos em decorrência
de objetivos implícitos e explícitos estipulados pela instituição escolar.
Para entender a educação atual, bem como instituir maneiras de organizar o
trabalho pedagógico como princípio educativo, torna-se necessário entender a
organização do trabalho capitalista. Quem dispõe dos meios de produção, dispõe
igualmente dos meios de pensar, inclusive dos meios de pensar a educação.
Marx (1986, p. 27-28) assegura que: “Tal como os indivíduos manifestam sua
vida, assim eles são. O que eles são coincide, portanto, com sua produção, tanto
com o que produzem como com o modo como produzem. O que os indivíduos são,
portanto, depende das condições materiais de sua produção”.
Tomando-se esta afirmativa como um princípio educativo, entendemos que a
forma de trabalho determina a forma de ser e de pensar do indivíduo. Capitalistas
pensam assim porque são capitalistas. Trabalhadores assalariados pensam como
tal, porque assim o são, ou seja, não detém a posse dos meios de produção, nem a
de sua produção.
Se compararmos os trabalhadores assalariados com os professores, que
também é uma classe assalariada, teremos uma visão mais clara do tipo de
organização possível, tanto de pensamento como de ação dos docentes em todas
as modalidades de ensino.
O pensamento de Marx (1985, p.36) reafirma o ponto de vista de que a
materialidade é fator determinante sobre a espiritualidade e a intelectualidade:
A produção de ideias, de representações, da consciência, está, de início, diretamente entrelaçada com a atividade material e com o intercâmbio material dos homens, como a linguagem da vida real. O representar, o pensar, o intercâmbio espiritual dos homens aparece como emanação direta de seu comportamento material.
Esse pressuposto evidencia que o saber não é exclusividade da escola. Ele é
produzido coletivamente nas relações sociais, na prática produtiva, na atividade real
dos homens. Importa que entendamos, não apenas as relações entre trabalho e
escola, mas entre escola (leia-se educação) e trabalho.
Não se trata de questionar aqui a importância da escola. Logicamente que ela
tem sua importância. No entanto, ela é “apenas uma” entre as muitas instituições
sociais onde se realiza a produção do saber.
Todo saber constitui-se numa produção coletiva e historicamente
determinada.
Vejamos o que diz Kuenzer (2001, p. 26) sobre a produção do conhecimento:
“O ponto de partida para a produção do conhecimento, portanto, são os homens em sua atividade prática, ou seja, em seu trabalho, compreendido como todas as formas de atividade humana através das quais o homem aprende, compreende e transforma as circunstâncias ao mesmo tempo em que é transformado por elas. Desta forma, o trabalho é a categoria que se constitui no fundamento no processo de elaboração do conhecimento.”
Entre o pensamento e a materialidade, encontramos outras determinantes
intermediárias, tais como as teorias filosóficas, as concepções educacionais,
religiosas e o ambiente cultural, que condicionam a prática docente. Mas a teoria da
sistematização do conhecimento é feita pela classe dominante e, por conta disso,
carrega consigo sua marca e a utiliza em seu favor, mesmo que não se constitua
num saber absoluto e universal.
Antes de aplicarmos as concepções acima referidas, no que concerne à
organização do trabalho pedagógico, necessitamos ter clareza de que a visão
capitalista de mundo é mutável, ou seja, as ideias capitalistas alteram-se de acordo
com os tempos e lugares.
Para termos uma melhor compreensão da especificidade do trabalho
pedagógico, necessário se faz, de início, diferenciar teoria educacional de teoria
pedagógica.
Segundo Freitas:
“a teoria educacional formula uma concepção de educação apoiada em um projeto histórico e discute as relações entre educação e sociedade em seu desenvolvimento; que tipo de homem se quer formar; os fins da educação, entre outros aspectos [...] Uma teoria pedagógica, por oposição, trata do “trabalho pedagógico”, formulando princípios norteadores. Dessa forma inclui a própria didática” (FREITAS, 2008 p. 93-94).
Dessa forma, podemos entender que a teoria educacional é mais abrangente
e a teoria pedagógica é mais limitada, no entanto, é mais ampla que a didática.
Ainda segundo Freitas, a teoria pedagógica envolve a Organização do
Trabalho Pedagógico, podendo ser entendida em dois níveis: “a) como trabalho
pedagógico, que no presente momento histórico, costuma desenvolver-se
predominantemente em sala de aula; b) como organização do trabalho pedagógico
da escola, como projeto político da escola” (2008, p.94).
Aprofundando um pouco mais a organização do trabalho pedagógico na
escola capitalista, observamos que ela divide-se em duas categorias e
subcategorias. Freitas (2008) examina e explicita duas dessas categorias: os
objetivos gerais/avaliação da escola e conteúdo/forma geral do trabalho pedagógico
da escola.
Podemos dizer que os objetivos e a avaliação, de forma ampla, manifestam
as funções sociais da escola. O objetivo é aonde a escola quer chegar e a avaliação
é o resultado daquilo que o aluno conseguiu aprender. Essas duas questões
determinam a função social da escola e, dependendo de como as mesmas são
direcionadas, a escola pode privilegiar alguns alunos em detrimento de outros.
Segundo Kuenzer (2001, p. 21):
Os dois grupos que se constituem a partir da seleção da escola – os que
permanecem no seu interior e os que são excluídos - apropriam-se
diferentemente do saber sobre o trabalho. Os que permanecem na escola vão se apropriar do saber sobre o trabalho no seu interior, recebendo uma certificação que lhe permitirá ocupar, na hierarquia do trabalhador coletivo, o exercício das funções intelectuais: são os técnicos de nível médio e os profissionais de nível superior.
A escola contemporânea reproduz e expressa as necessidades da sociedade
capitalista, quando seus conteúdos e métodos não buscam desenvolver nos alunos
a capacidade de criar e refletir cientificamente. Se o mercado de trabalho vai exigir
deles apenas a força física, porque levá-los a exercer o pensamento crítico?
A forma como o trabalho pedagógico se organiza, defronta-se com outra
questão: a gestão escolar. A luta entre os poderes dentro da escola (o poder do
professor em relação aos alunos e o poder da direção em relação ao coletivo) e
todas as implicações em torno do Projeto Político Pedagógico - PPP geram tensões.
Entretanto,
Neste novo contexto de relações entre vida e cultura, entre trabalho intelectual e instrumental, a escola, instituição responsável pela formação do novo tipo de intelectual, deverá fundamentar seu projeto pedagógico sobre outro princípio educativo: o trabalho enquanto atividade teórico-prática responsável pela transformação da ordem natural em ordem social, enquanto expressão da unidade entre cultura geral e vida produtiva (KUENZER, 2001, p. 124).
Kuenzer deixa claro que o projeto pedagógico (os PPP das escolas) devem
voltar-se a outro princípio educativo: o trabalho como prática social, que é o que vai
determinar a formação de um novo intelectual, capaz de transformar a escola e,
consequentemente, a sociedade.
Se compararmos os trabalhadores assalariados com os professores que
também são assalariados, teremos uma visão mais clara do tipo de organização
possível, tanto de pensamento como de ação dos docentes em todas as
modalidades de ensino.
QUEM EDUCA: PROFESSOR, CONTEÚDO OU METODOLOGIA?
“A educação é um processo mediador entre a vida do indivíduo e a história”
(DUARTE, 1993).
De acordo com a pedagogia histórico-crítica, a educação tem um caráter
intencional e sistematizado de transmissão dos conhecimentos científicos com os
quais o aluno supera os conhecimentos cotidianos. Após ter-se apropriado destes
conhecimentos o aluno fará as abstrações para entender a realidade da qual ele faz
parte.
Sendo assim, o adulto conhecedor, com uma formação acadêmica específica,
deve ter como objetivo fundamental da sua profissão de educador, transmitir para os
alunos o conhecimento científico de forma sistematizada. O saber mais desenvolvido
deve tornar-se assimilável pelos alunos. Mas, esse saber não deve ser entendido
como um conhecimento acabado e sim como resultado, a ser aprendido como um
conhecimento sujeito a transformações e que pode ser superado pela produção
humana.
Isso equivale a dizer e a valorizar, no processo ensino- aprendizagem, o que
ensinar, ou melhor, preocupar-se com os conteúdos a serem selecionados entre
todos os conhecimentos sistematizados e acumulados historicamente pela
sociedade e que precisam fazer parte do currículo.
A aprendizagem se efetiva pela experiência prática dos conteúdos
desenvolvidos; estes conceitos devem ser compreendidos como uma interação
recíproca. Segundo Sacristán, 1998, p. 120):
Sem conteúdo não há ensino, qualquer projeto educativo acaba se concretizando na aspiração de conseguir alguns efeitos nos sujeitos que se educam. [...] Quando há ensino é porque se ensina algo ou se ordena o ambiente para que alguém aprenda algo.[...] a técnica de ensino não pode preencher todo o discurso didático evitando os problemas que o conteúdo coloca.
Para que a educação seja entendida, é preciso concebê-la como uma
atividade que se expressa, de diversas formas, em que o conteúdo programático e a
didática utilizada transformam o currículo em uma prática para produzir uma
aprendizagem real.
É a sociedade quem determina os conteúdos da educação e isso faz parte do
desenvolvimento histórico, pois estes conteúdos também interferem na sociedade. O
que se pretende é que eles sejam instrumentos de transformação social e não que
colaborem para a sua manutenção.
Desta forma não é possível deixar para segundo plano o conhecimento nem o
trabalho do professor.
Saviani esclarece:
[...] para que o professor possa ter algum papel no processo de produção de determinados conhecimentos nos alunos, esses conhecimentos precisam ser produzidos no professor, ou seja, ele precisa dominar esses conhecimentos para que ele possa, de alguma forma, contribuir para que o aluno também chegue a esse domínio (SAVIANI, 1997, p.130).
Sobre essa questão Facci esclarece que:
Agora, pergunta esse estudioso: Quais seriam os conhecimentos que o professor precisa dominar? Ele responde que numa primeira categoria estão os conhecimentos específicos da disciplina que o professor ministra, a matemática por exemplo. Numa segunda categoria, ele precisa ter um conhecimento didático-curricular, ou seja, um conhecimento que o informe como esses conhecimentos específicos devem ser organizados para que tenham efeito no processo de apropriação e produção do conhecimento nos alunos. Numa terceira categoria o conhecimento está no “saber pedagógico”, o professor deve apropriar-se dos conhecimentos produzidos pelas ciências da educação e sintetizados nas teorias da educação. Além destas três modalidades, outro tipo de saber necessário à pratica docente é relativo á compreensão das condições sócio históricas que determinam a tarefa educativa (FACCI, ano 2004, p. 244 e 245).
Então, o professor deve também ter atitude diante dos fatos, na categoria que
envolve o domínio de comportamentos e vivências considerados essenciais. O
trabalho de pesquisa deve ser condição indispensável na prática docente, pois o
professor não educa apenas com palavras, mas também pela postura revelada em
suas atitudes ou no conjunto de suas ações. É difícil um professor que somente
exerce o ensino, embora isso “aconteça com frequência na escola e na
universidade”.
Por outro lado, também, não dá para entender alguém que só fique na
pesquisa sem socializar os resultados de sua busca.
Pesquisar é condição essencial do descobrir e do criar. A pesquisa analítica descobre e nisso cria conhecimento novo, mas muitas vezes não se criam pela pesquisa condições de mudança, principalmente com relação às questões ideológicas. Nestes casos se apela à neutralidade científica para se fugir da responsabilidade” (ARAÚJO, 2009, disponível em http://www.ebah.com.br/content/ABAAAA7XYAI/texto-critico-principio-cientifico-educativo-pedro-demo acesso em 21/07/2011).
A pesquisa também pode ser vista no contexto dos interesses sociais. Como
princípio educativo a pesquisa instrumenta qualquer interesse político,
principalmente quando surge como neutra.
O que faz da aprendizagem algo criativo é a pesquisa, porque submete ao
teste a dúvida, ao desafio desfazendo tendência reprodutiva. Reduzir o ensino à
aula é reduzir a aprendizagem. Ao estudar, é necessário motivar o aluno à pesquisa
no sentido de fazer o seu próprio questionamento, para chegar à elaboração própria.
As Ciências Sociais priorizam a teoria em detrimento da prática no que tange ao
currículo. É essencial para a educação a pesquisa, para que haja o processo
emancipatório.
A postura do professor diante dos desafios da produção do conhecimento, referem-se a dois pontos centrais: o amor à sabedoria e a capacidade de interpretação do conhecimento tanto de sua área de formação quanto no sentido amplo do conhecimento, além da capacidade de interpretação da cultura e da sociedade da época em que ele vive. [...] isto significa que a atualização, o interesse em decifrar os enigmas postos pelas questões que se passam na sociedade a vontade de saber mais por amor ao conhecimento, deve se constituir em inspiração e transpiração do professor (SANTOS, 2004).
O professor que não transmite entusiasmo pelo seu discurso perde sua
legitimidade. É o mesmo que dizer aos alunos: “estudem, leiam, pesquisem”, se eu
professor nunca tenha planejado, preparado aulas ou estudado. A postura do
professor tem que passar conhecimento, compromisso e responsabilidade.
A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE
De acordo com Manfredi (1998) “a concepção de qualificação surge
associada à concepção de desenvolvimento socioeconômico dos anos l950 e 1960,
por causa da necessidade de planejar e racionalizar os investimentos do Estado.
A qualificação é considerada como “Capital Humano”, iniciando com a
necessidade de formar profissionais com habilidades para trabalharem nos setores
que estão se modernizando e se baseia no “saber fazer”, quer dizer “ter
conhecimento técnico”.
No que diz respeito à área educacional, a noção de qualificação está
intimamente ligada às demandas e necessidades dos setores mais organizados do
capital, que gerou inúmeras políticas educacionais voltadas para a criação de
sistemas de formação profissional.
Desta forma, a noção de qualificação:
(...) Diz respeito à capacidade de realização de tarefas requeridas pela tecnologia capitalista. Essa perspectiva, diria, é qualificada àquela força de trabalho capaz de realizar tarefas recorrentes de um determinado patamar tecnológico e de uma forma de organização do processo de trabalho. Isso já confere ao termo contemporalidade e relativiza seu conteúdo, à medida em que cada estágio de desenvolvimento social e tecnológico e em que cada forma de organização de trabalho novos atributos são agregados à qualificação e novas hierarquizações são esclarecidas entre eles (BRUNO, 1996. p.92) .
Ao priorizar uma formação voltada para a valorização de práticas
pedagógicas como o desenvolvimento de atitudes, valores, competências e
habilidades, para cumprir exigências desta sociedade globalizada, a escola descarta
a transmissão e apropriação de conhecimentos específicos de suas disciplinas,
ficando cada vez mais distante da responsabilidade de proporcionar o
desenvolvimento integral dos educandos.
Ao mesmo tempo, na produção com base taylorista, o essencial para o
indivíduo é ter disciplina e capacidade para desempenhar tarefas repetitivas; já na
produção toyotista, faz-se necessário indivíduos que executem diversas tarefas, que
busquem caminhos para resolver diversos tipos de problemas.
Com esta mudança na sociedade contemporânea, a educação também
avança em relação à formação superior. Porém, essas mudanças, no que diz
respeito às novas capacidades exigidas do trabalhador, acontecem em decorrência
das mudanças na forma de organização do processo produtivo e não com a
finalidade de uma formação para a humanização. Esta formação tem como objetivo
adaptar o indivíduo às reais necessidades da sociedade.
Este raciocínio, muitas vezes, dá a falsa ideia de que na produção toyotista as
capacidades cobradas como prioritárias são mais humanizadoras, porque exigem
maior desempenho intelectual, mas sabemos que esta interpretação não é real.
Diante dessas mudanças é necessário que a escola deva passar por um
processo de transformação, desvinculando-se de antigas metodologias, conteúdos e
objetivos, com vistas ao desenvolvimento de “competências” necessárias ao mundo
capitalista em constante mudança?
Constata-se que a fala em relação às competências e habilidades deva ser
para todos os indivíduos e não apenas para uma minoria. Faz-se necessário uma
forma de educação que habilite para postos de comando e/ou atividades que exijam
alto nível de aprendizagem. No entanto, para a maioria pode ser ofertado apenas o
necessário para o ingresso e permanência no mercado de trabalho?
Moraes (2001) esclarece que:
“De fato, o elevado grau de competitividade ampliou a demanda por conhecimentos e informações e, em decorrência, a educação foi eleita a estratégia para fazer face à velocidade das mudanças. Se o mundo virou pelo avesso , a educação deve acompanhá-lo na reviravolta. A escola tradicional, a educação formal, as antigas referências educacionais, tornam-se obsoletas. É preciso agora, elaborar uma nova pedagogia, um projeto educativo de outra natureza. O discurso é claro: não basta apenas educar. É preciso assegurar o desenvolvimento de “competências”[...] valor agregado a um processo que, todavia, não é o mesmo para todos. Para alguns exige níveis no domínio teórico-metodológico que a experiência empírica, por si só, não é capaz de garantir [...]. (2001, p.8).
Assim a escola fica com a incumbência de preparar o indivíduo para atender o
mercado de trabalho e a responder pelos problemas gerados pelo desenvolvimento,
ou seja, responder pelas marcas da exclusão geradas por este mesmo
desenvolvimento.
Segundo Saviani (2005) quando a sociedade está em crise, para que esta
não se destrua, as crises precisam ser dominadas. Uma maneira de controlá-las é
por meio de políticas públicas governamentais adequadas. Então, para cada crise
cíclica da sociedade, surge uma reforma educacional (SAVIANI, p. 22).
A escola, ao tomar para si o objetivo de formar cidadãos capazes de atuar com competência e dignidade na sociedade, buscará eleger, como objeto de ensino, conteúdos que estejam em consonância com as questões sociais que marcam cada momento histórico, cuja aprendizagem e assimilação são as consideradas essenciais para que os alunos possam exercer seus direitos e deveres. (BRASIL, 1998. p.43-44).
As transformações no perfil do professor também são marcantes onde:
“O professor deve desenvolver as seguintes habilidades”: capacidade de adaptação a novas situações; compreensão de tarefas complexas; atenção; responsabilidade; atitude de abertura para novas aprendizagens; criatividade e capacidade de comunicação grupal (CASTRO, 2005, p.471).
ESQUEMA DO PROJETO APLICADO
1- TÍTULO: O trabalho como princípio educativo
OBJETIVO GERAL: Proporcionar conhecimentos teórico-práticos aos professores
sobre o docente como princípio educativo, contribuindo assim com a melhoria da
qualidade do ensino.
2- APLICAÇÃO: Foram encontros quinzenais realizados na escola, com início em
agosto e término em dezembro/2011.
3- DESCRIÇÃO: Conforme estudos realizados em várias áreas da educação, ainda
é pequeno o número de profissionais do ensino fundamental e médio que tem o
hábito constante de estudar, pesquisar para dar a sua aula; ou para entender as
tendências educacionais que estão em constantes transformações. Isto nos fez
planejar encontros quinzenais em um curso de extensão. foram utilizados dados
teóricos que constam no projeto, textos de teóricos como: Marx, Saviani, Gramsci,
Frigotto , Kuenzer; e outros. Foi analisado também o filme Escritores da Liberdade.
A maior dificuldade envolvida neste projeto esteve relacionada ao interesse do
professor para o estudo, para o assunto em questão, pois a maioria esperava
encontrar soluções para as suas expectativas. Ao mesmo tempo que era uma
dificuldade tornou-se um ponto positivo, pois diversificamos as formas de abordar os
temas para motivar os grupos a dar sua contribuição teórico-prático. Desta forma
neste trabalho pretendeu-se que os participantes realizassem estudos necessários
para entender o posicionamento de alguns teóricos em relação ao objeto de estudo
e qual o seu papel enquanto educadores. Sendo assim, estas foram algumas
atividades implementadas nesse projeto:
Pesquisa sobre definição de alguns termos do projeto
Sugestões de encaminhamento das apresentações.
Escolha de textos para fazerem argumentações e reflexões em grupo.
Apresentação das atividades realizadas em grupo.
Análise do filme Escritores da Liberdade
4. CRONOGRAMA DE EXECUÇAO: encontros quinzenais, com início em agosto e
término em dezembro de 2011.
5. EXECUÇÃO: Iniciamos o primeiro encontro no dia 15 de agosto e a expectativa
era grande por se tratar de um tema que não era específico das matérias que os
mesmos davam aula. Comentaram que o tema tinha um título difícil. Então iniciamos
os trabalhos definindo alguns termos como: princípio, trabalho, trabalho educativo,
trabalho pedagógico, trabalho docente. Para definir estes termos pedimos que cada
um falasse o que entendia por estes termos ao final pedimos que os mesmos em
grupos pesquisassem os termos; então comparamos as definições e desta forma
eles puderam observar que a pesquisa é importante para fundamentar e saber quais
estudiosos falam sobre o assunto para comparar as opiniões e este conhecimento
será básico para seu aperfeiçoamento profissional.
Os professores puderam observar na prática o que acontece em sala de aula,
quando os trabalhos solicitados para os alunos, se resumem em cópias onde eles
não citam fontes de referência, não citam autor, não sabem explicar nem
exemplificar o que pesquisaram.
6. QUESTÕES: A seguir passamos a apresentar as questões que foram
respondidas em grupos. Pudemos observar que os professores compreendem os
processos históricos, reconhecem as precárias condições da existência das políticas
públicas e sabem que podem interferir para melhorar o que existem, mas se
acomodam fazendo o que é mais prático. Um exemplo claro desta argumentação é a
seguinte: lemos textos, discutimos, foi solicitado que os mesmos exemplificassem o
que é trabalho material, imaterial, trabalho produtivo e improdutivo e após esta
reflexão formulamos questões sobre o tópico para os grupos e a maioria copiou
apenas uma informação do texto não se preocupando em pesquisar outras formas
de responder as questões.
Na questão: O trabalho é socialmente determinado? Justifique esta afirmação.
Obtivemos a resposta:
O trabalho é historicamente determinado, de acordo com o tempo e espaço. Na pré-história o trabalho era coletivo seu produto era dividido igual mente entre todos os membros do clã. Na antiguidade, as disputas pela posse de terra levaram ao surgimento do trabalho escravo. Na Idade Média, o camponês usufruía da terra, mas não a possuía. Por fim, na sociedade capitalista, o trabalhador vende a sua força de trabalho em troca de um salário. Portanto, Marx (1986), em seus estudos sobre os modos de produção: primitivo, escravo, feudal, capitalista, comprova como o trabalho se modifica conforme a sociedade (Marx, Karl. A Ideologia alemã).
O trabalho docente é socialmente determinado? Explique que sentido tem esta
afirmação.
Respostas:
Significa que a prática educativa, e especialmente os objetivos e conteúdos do ensino e o trabalho docente, estão determinados por fins e exigências sociais, políticas e ideológicas. Em uma pesquisa de campo realizada em escolas francesas Pierre Bordieu, observou como o trabalho docente entra em conformidade com a sociedade. A classe dominante reproduz os saberes necessários, para continuar a se manter no poder. Deste modo os filhos da burguesia saíam-se melhor nos exames do que os menos favorecidos socialmente. O que se explica pelo fato de os primeiros já terem adquirido o capital cultural em casa (contato com revistas, jornais, livros, por exemplo), ao passo que os segundo reproduziam a exclusão já vivenciada por seus pais. O que leva Bordieu a concluir que, o saber é um tipo de poder simbólico, manipulado exclusivamente pela classe burguesa, de modo a perpetuar sua dominação ideológica. Este exemplo está também representado nas escolas brasileiras na diferença gritante entre as escolas privadas, que estão formando membros da burguesia e as escolas públicas, que perpetuam a exploração da classe subalterna.
Na questão: Justifique esta afirmação: O saber não é exclusividade da escola,
mas cabe a escola a educação. Respostas:
O saber está em todas as instâncias da sociedade. Pode-se aprender vendo TV, lendo revista, livros, pela internet, pelo rádio, por correspondência, ouvindo outras pessoas e de outras formas. Contudo cabe a escola trabalhar o senso crítico do aluno, formando cidadão capaz de filtrar as informações obtidas em qualquer ambiente sendo capaz de emitir um juízo de valor e não
reproduzindo alienadamente o que vivencia. O que integra o indivíduo na sociedade e no grupo social em que vive é o patrimônio cultural que ele adquire pela educação.
A escola contemporânea reproduz e expressa as necessidades capitalista
quando seus conteúdos e métodos não buscam desenvolver nos alunos a
capacidade de criar e refletir cientificamente. Se o mercado de trabalho vai
exigir deles apenas a força física, porque levá-los a exercer o pensamento
crítico? Esse enfoque é coerente com a função social da escola? Por que?
Resposta:
1. Não. Cabe à escola transmitir o conhecimento historicamente acumulado pela humanidade. Formar mão de obra especializada é função dos cursos técnicos. A escola deve preparar o aluno para a cidadania, independente da profissão que ele queira seguir. Deve incentivar a formação um pensamento crítico, capacitando o aluno para enfrentar adversidades da sociedade em que vive. O aluno é que deve escolher se fará um curso técnico ou cursará universidade. A escola deve fornecer-lhe a base para construir seu futuro.
Resposta:
2. Não. Porque a escola tem o compromisso social de ir além da simples transmissão de conhecimento. A escola deve dotar o aluno de capacidade de buscar informações segundo as exigências de seu campo profissional ou de acordo com as necessidades de desenvolvimento individual e social. Cabe a escola formar cidadãos críticos, reflexivos, autônomos, conscientes de seus direitos e deveres, capazes de compreender a realidade em que vivem preparados para participar da vida social e política do país e aptos a contribuir para a construção de uma sociedade mais justa.
O que é trabalho educativo, trabalho pedagógico e trabalho docente? Respostas:
De acordo com o ECA, o trabalho educativo se caracteriza como uma atividade laboral em que as exigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento pessoal e social do educando prevaleçam sobre o aspecto produtivo.
Nem todo trabalho pedagógico é um trabalho docente. Segundo Libâneo a pedagogia trata amplamente da educação como fenômeno. O pedagogo atua na prática educativa, sendo a docência apenas uma das suas funções. A pedagogia, segundo Libâneo (2002), é a teoria e a prática da educação. Mediante conhecimentos científicos, filosóficos e técnico-profissionais investiga a realidade educacional em transformação para explicitar objetivos e processos de intervenção metodológica e organizativa referentes à transmissão-assimilação de saberes e modos de ação.
Portanto o trabalho docente é aquele restrito a sala de aula, vinculado ao processo de aprendizagem entre professor e aluno, de acordo com Saviani, a fim de promover a humanidade.
Quem educa: professor, conteúdo ou metodologia?
Quais critérios na sua prática devem ser adotados para melhor encaminhar os conteúdos programáticos?
Resposta:
Na disciplina de história o grupo baseou a metodologia nas teorias da Escola dos Annales. Segundo Bloch, o estudo da história deve ser realizado do menos obscuro para o mais obscuro, ou seja do presente para o passado . O historiador busca na história respostas para as questões do presente. Deste modo, parte do conhecimento prévio do aluno, como nos ensina a pedagogia histórico-crítica de Saviani, buscando questões atuais para entrar no conteúdo mais distante no tempo. Por exemplo, para falar da Revolução Gloriosa (1688), inicia-se com o parlamentarismo da Inglaterra dos dias de hoje. Para trabalhar com os indígenas no século XVI dá para iniciar o assunto falando sobre os problemas enfrentados pelos índios hoje, a fim de buscar suas causas no período colonial. Sempre funciona, pois faz com que o aluno perceba que a história tem a função de explicar o presente, que não se resume em um momento de fatos antigos sem sentido. Esta forma de encaminhar os assuntos torna as aulas mais atrativas e melhora a aprendizagem. Os alunos percebem que todo fato é histórico, tem uma origem, vários estudiosos tem sem ponto de vista e sem este entendimento e pesquisa sobre o assunto tudo pode tornar-se desinteressante.
Esta proposta de encaminhamento está dentro de uma ação transformadora da
educação? Resposta:
Sim, as ideias da Escola dos Annales estão presente na historiografia desde 1929 até hoje. Porque revolucionou o escrito de história com novos métodos e objetos, pois muitos livros didáticos, também seguem suas propostas, mantendo a história interligada ao presente.
Qual a relação entre conteúdo e metodologia?
Resposta:
A metodologia nos fornece uma direção de como proceder no encaminhamento dos conteúdos. Se eu faço a opção por trabalhar de forma a inteirá-los à realidade dos alunos aos problemas do mundo atual, com a finalidade de formar um cidadão crítico e atuante na sociedade, adoto os passos da Pedagogia histórico-crítico com a Nova história, da Escola das Annales, problematizo o passado, utilizo-me de outras disciplinas (sociologia, geografia, filosofia, arqueologia) a fim de melhor compreender os fatos históricos, sempre com a perspectiva de entender o presente e solucionar os problemas atuais. Concluo que este é o melhor encaminhamento.
Resposta de um outro grupo vivenciando a prática
A perspectiva histórico crítica é fundamental para a implementação de uma proposta que articule a teoria e prática, uma vez que não pode haver dicotomia entre ambas e isso está evidenciado na organização do trabalho pedagógico não só em sala de aula, mas em toda estrutura escolar. Podemos sugerir como exemplo, o trabalho que estamos desenvolvendo nas aulas Prática de Formação de Docentes, pois estamos trabalhando com a perspectiva histórico-crítica, uma metodologia de trabalho que possibilita a articulação da educação com o conjunto das relações sociais, integrando professor, conteúdo, metodologia, no qual a educação emerge como espaço de apropriação/desapropriação/reapropriação do saber, um espaço de luta, incentivando a observação da vida cotidiana, observações no contexto da sala de aula e comparações de concepções construídas tanto a partir do senso comum, como a partir do estudo sistemático. O que foi feito através da elaboração de planos de aulas, com temas previamente selecionados, distribuídos aos alunos em equipes, e apresentados em sala de aula, com a utilização de recursos áudio visuais e seguindo o modelo de plano aula do Prof Gasparin. Os temas trabalhados foram: Água, Ar, Animais, Família, Plantas e tecnologia. Tivemos ainda a colaboração das alunas estagiárias do Curso Normal Superior, contribuíram para o aprofundamento dos estudos dessa metodologia. O que resultou um trabalho satisfatório, uma vez que o objetivo era auxiliar os alunos no Curso de Formação de Docentes, esclarecendo dúvidas e implementando o plano de aula de acordo com a perspectiva histórico-crítica. Acreditamos que abrir caminhos pela tendência dialética é fundamental para a eficácia da educação, pois permite que a compreendamos como possibilidades e que ela também tem limites. E é justamente por esse motivo, que ela tem eficácia, pois é fundamental no
processo de resgate da liberdade, uma vez que a prática educativa é um ato que pode favorecer a conscientização e almejar a possibilidade de mudança. E nesse sentido, segundo Saviani, não há lugar para o pessimismo ou imobilismo, pois, a educação emerge como instrumento de luta, pelo qual a classe trabalhadora pode se reapropriar do saber de que muitas vezes é desapropriada.
Precarização do Trabalho Docente
Por que motivo a cada mudança na sociedade há necessidade de ser
reestruturada a escola? Resposta:
A escola tem a incumbência de preparar o indivíduo para atender o mercado de trabalho e a responder pelos problemas gerados pelo desenvolvimento, ou seja, responder pelas marcas da exclusão gerada por este mesmo desenvolvimento. Segundo Saviani (2005) quando a sociedade está em crise, para que esta não se destrua, as crises precisam ser dominadas. Uma maneira de controlá-las é por meio de políticas públicas governamentais adequadas. Então, para cada crise cíclica da sociedade, surge uma reforma educacional. O trabalho realizado com o filme foi também muito bom, pois os professores analisaram que tipo de escola foi evidenciado, que tipo de aluno, em que sociedade, que tipo de professor como o trabalho com os professores foi fundamental para a mudança social, comportamental, humano da escola e dos alunos. Foi muito questionado, foi emotivo tocou o pessoal de cada um que assistiu. Gratificante no trabalho foi vivenciar momentos de muita seriedade por parte dos profissionais em relação aos conteúdos trabalhados, embora alguns demonstrasse dificuldade em transportar a sua teoria para a prática de sala de aula, em entender as tendências dentro da escola fazendo o aluno perceber que tipo de sociedade estamos e que alunos estamos formando.
Os estudos dos textos, a meu ver, foram entendidos e bem contextualizados
demonstrando envolvimento em relação aos trabalhos desenvolvidos pelos grupos.
Houve coerência nas análises às indagações propostas. As respostas de alguns
grupos com relação à prática pedagógica evidenciaram situações simples possíveis
de serem trabalhadas e/ou vivenciadas no dia a dia da sala de aula.
O verdadeiro educador tem vivências significativas, conhecimentos científicos
e é consciente de que o trabalho educativo não se efetiva sem esforço, dedicação e
principalmente disciplina, mas pode ser realizado com prazer, pois esse
entrosamento professor x aluno irá marcar a vivência de ambos.
Mesmo com as dificuldades e os limites que os professores apresentaram,
conseguiram expressar uma boa compreensão do tema desenvolvido. Assim, por
exemplo, em relação ao conceito de trabalho dentro da visão marxista ao afirmarem:
“O trabalho é uma atividade pela qual, transforma na natureza e a si mesmo, uma
vez que se apropria dela criando meios e instrumentos para satisfazer suas
necessidades e assim assegurar sua sobrevivência. Esta criação humana passa a
ser objeto de apropriação de outros homens, que conduzirão a outras
necessidades”. (Resposta do grupo1).
Portanto, o trabalho não é necessariamente educativo em si depende das
condições de sua realização, da finalidade a que se propõe, de quem se apropria do
produto do trabalho e principalmente do conhecimento que ele gera.
Em outra definição o grupo concorda com SAVIANI 1987, p.11 onde ele
afirma que: “[...] o trabalho educativo é o ato de produzir direta e intencionalmente
em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente
pelo conjunto dos homens” (Resposta do grupo 2).
Isto quer dizer que o trabalho é produzido nas relações sociais. Se, na
existência humana, o homem necessita de aprendizado para produzir a sua
existência, esta produção é a sua própria maneira de se constituir, portanto é um
processo educativo. Então, tanto a educação como a sua origem coincidem.
Sendo assim, a relação entre educação e trabalho é de identidade. Ou seja, a
forma como os homens desenvolviam experiências e aprendiam, constitui-se num
processo de aprendizagem. Estas experiências enquanto tinham interesse em ser
utilizadas eram transmitidas a novas gerações.
Quanto ao trabalho sob o aspecto material, não material, produtivo e
improdutivo, Saviani (2008) é citado e menciona a educação como trabalho não
material, afirmando que:
[...] o processo de produção da existência da produção humana implica primeiramente a garantia da sua subsistência material com a consequente produção em escalas cada vez mais amplas e complexas de bens materiais. Tal processo nós podemos traduzir na rubrica “trabalho material”. Entretanto para produzir materialidade, o homem necessita antecipar suas ideias e objetivos reais. Essa representação inclui aspectos do conhecimento das propriedades do mundo real (ciência) de valorização (ética) e de simbolização (arte). Tais aspectos na medida em que são objetos de preocupação explícita e direta, abrem a perspectiva de outra categoria de produção que pode ser transmitida pela rubrica “trabalho não material”. [...] Trata-se da produção do
saber, seja do saber sobre a natureza, seja do saber sobre a cultura isto é, o conjunto da produção humana.
Obviamente, a educação se situa nessa categoria do trabalho não material
(resposta do grupo 2).
É sobre esta base que a questão da subjetividade pode ser colocada, com
base em Marx, como questão relativa à transformação radical do sujeito na sua
relação com a produção. Pode-se dizer que, no momento que o trabalho se
transforma em trabalho imaterial e o trabalho imaterial é reconhecido como base
fundamental da produção, este processo não investe somente a produção, mas a
forma inteira do ciclo “reprodução-consumo”.
A educação é um trabalho imaterial, pois a produção e o consumo acontecem
simultaneamente. O professor para ministrar a sua aula, necessita da presença do
aluno ambos tem que estar ao mesmo tempo num determinado espaço, sendo
assim aula é produzida pelo professor e consumida pelo aluno.
De acordo com Marx (1978), é produtivo o trabalho que gera diretamente
mais valia, isto é valoriza o capital. E o trabalho improdutivo não geral lucro ao
capitalista. (Resposta do grupo 2).
Pode-se dizer que fruto da dicotomia da evolução histórica da sociedade, a
divisão de trabalho tem raízes na estrutura e no desenvolvimento normal da vida
econômica e é mantida e acentuada pelas instituições e relações humanas. Estas
transformações sociais despojaram o homem da terra e dos instrumentos de
produção, obrigando-o, portanto, a vender sua força física-força de trabalho para sua
subsistência.
Neste processo histórico o trabalho transforma-se de produção artesanal para
trabalhador livre no mundo pré- industrial para produção em série acentuado na
sociedade industrial, com o fordismo e keynesiamismo e hoje numa produção
flexível.
Percebe-se que, em cada momento histórico da sociedade, requer-se um tipo
diferente de trabalhador para suprir as necessidades exigidas pelo mundo social
existente e a escola tem que formar esse trabalhador.
De posse de todas estas informações ficou claro para o grupo que o trabalho
docente é socialmente determinado e, comparando as duas categorias de
trabalhadores, verificou-se que tanto os trabalhadores a serviço do capital,
assalariados que geram a mais valia, trabalham alienados, quanto os trabalhadores
da educação também compõem essa estrutura desumana de exploração que tira o
ser humano do verdadeiro caminho do trabalho como categoria fundante do ser
social, mediante a transformação do meio e de si próprio. (Resposta do grupo 1)
O produto do trabalho é o trabalho que se fixou num objeto, fez-se coisa física
é a objetivação do trabalho. Para Marx (1964), a realização do trabalho aparece na
Economia Política como a desrealização do trabalhador, a objetivação como perda e
servidão ao objeto, a apropriação como alienação.
Portanto, quando o homem trabalha realizando um trabalho externo ao
homem, ele só atende à sua necessidade de sobrevivência física da mesma forma
que os animais, ocorrendo o processo de desumanização do homem promovendo
sua desrealização, onde ele não domina o produto que cria.
Segundo Libâneo (1994), falar em educação significa dizer que ela é parte
integrante das relações sociais, econômicas, políticas e culturais de uma
determinada sociedade. Como exemplo, a sociedade brasileira atual que em sua
estrutura social se apresenta dividida em classes e grupos sociais com interesses
distintos e antagônicos, esse fato, representa tanto a organização econômica e
política quanto a prática educativa. Desta forma, as finalidades e meios da educação
subordinam-se à estrutura e dinâmica das relações entre as classes sociais, ou seja,
são socialmente determinadas.
Entende-se, então, que a prática educacional se orienta, necessariamente,
para alcançar determinados objetivos, por meio de uma ação intelectual e
sistemática.
Segundo Bernardes, porém se o sentido das ações dos educadores e dos
educandos não interage com o real significado delas, ocorre a fragmentação do
ensino e da aprendizagem não garantindo o objetivo principal que é o processo de
humanização.
Observa-se deste modo a manutenção das condições alienadoras instituídas
na sociedade de classes, sem que aconteça a superação pela mudança das
circunstâncias postas.
CONCLUSÃO
Entende-se aqui que o trabalho educativo está presente em todas as ações
que a escola desenvolve, que pode ser educativo ou não; depende de qual é o
objetivo a atingir.
São inúmeros problemas que, de certa forma, tem contribuído para que a
escola não consiga vencer o desafio de educar e proporcionar mudanças de
comportamento, pois o professor precisa trazer a sua teoria para a prática em sala
de aula; se esta trajetória não se efetivar as ações do educador não terão sentido.
A formação profissional e uma compreensão do mundo que nos cerca é uma
das exigências naturais da atual sociedade, então buscar conhecimento é condição
essencial para melhorar o desempenho e eficiência no trabalho, e deve ser
entendida como um processo permanente de desenvolvimento profissional.
Após o desenvolvimento dos estudos individuais e com os professores;
efetuadas as análises e reflexões nos grupos de trabalho, conseguimos atingir, em
boa medida, o objetivo de proporcionar alguns conhecimentos teóricos através dos
debates dos textos utilizados.
Num primeiro momento, as questões sobre o trabalho produtivo, improdutivo,
material e imaterial, nas observações dos professores, ficaram dissociadas do dia a
dia de sala de aula, uma vez que a educação se faz presente em todo momento,
mas nem sempre de forma planejada e sistematizada, pois as ações tanto do
professor quanto dos estudantes não correspondem ao real sentido que tem.
Constatou-se que ocorre, nas ações da escola, a separação do ensino e da
aprendizagem, não garantindo o objetivo fundamental que é o processo de
humanização pelo acúmulo ou apropriação dos conhecimentos sistematizados.
Ao analisar as questões sobre o trabalho docente, ficou claro que o educador
define o objeto de estudo e as condições em que ele deve ser ensinado dentro do
contexto escolar. E as ações do estudante de certa forma são reconhecidas, aquelas
que criam condições para apropriação do conhecimento elaborado historicamente
no cumprimento de suas tarefas criando situações para superação das ações
alienadoras impostas pela sociedade.
Neste contexto social, o esforço do educador é no sentido de capacitar-se
com o real objetivo de dar assistência aos estudantes para que desenvolvam o
senso crítico para lutar e abrir horizontes que apontem para novas relações sociais.
Ao analisar a questão sobre quem educa: professor, conteúdo ou
metodologia, os grupos chegaram à conclusão que esse tripé não pode existir
separadamente pois o trabalho se completa um em consonância com o outro. O
professor mantem o poder decisório quanto à metodologia que deverá acontecer em
sala de aula. O conteúdo está nas Diretrizes Curriculares, na organização do
material, na organização da sala de aula, de como vão ser encaminhados os
trabalhos; compete ao professor informar e conduzir seus alunos num caminho de
melhor acesso aos objetivos que lhe são externos.
O professor tem em suas mãos os meios coletivos de expressão. As relações
que acontecem em sala de aula são tão importantes quanto à variedade de
instrumentos, métodos e recursos utilizados para alcançar os objetivos.
Os objetivos sociais e pedagógicos são estabelecidos pelo professor; ele
também seleciona dentre todos os conteúdos o essencial para dar andamento aos
trabalhos, ficando claro que ele detém meios para o encaminhamento da
aprendizagem.
A análise das questões nos revelam a existência de complexos mecanismos
sociais, políticos e econômicos que direcionam os rumos da educação e
demonstram a presença de condutas dos educadores divergente da concepção de
uma escola crítica e humanizadora. Esse fato acaba por demonstrar uma
incompatibilidade entre ensino, aprendizagem e trabalho.
Ao priorizar uma formação voltada para a valorização de atitudes, valores,
competência e habilidades, para cumprir exigências, nós educadores estaremos
cumprindo o que a sociedade quer , ou seja distanciar a transmissão e apropriação
de conhecimentos porque para a sociedade capitalista não é interessante ter
indivíduos pensantes, criativos. Ser alienados e aceitar tudo é mais conveniente
para ser manipulados.
Enfim, tomar o trabalho como princípio educativo significa, em última
instância, buscar a teoria e a prática do trabalho como fontes permanentes na
organização do trabalho pedagógico, do planejamento na definição das concepções,
do perfil dos conhecimentos, das formas, das disciplinas, dos meios de
acompanhamento à concretização do currículo em ação, isto quer dizer concretizar
essas intencionalidades na prática de sala de aula.
Integrar a educação geral e a formação profissional remete a repensar a
organização pedagógica e o currículo em princípios que superem as velhas formas
marcadas pela mera justaposição. Neste sentido, se evidencia a real necessidade
de articulação entre teoria e prática entre a ciência (conhecimento) e técnica.
Reafirma-se igualmente, a necessidade de gerar a compreensão do significado
histórico e social do trabalho.
Desse modo mostra-se, fundamentalmente, o papel da escola na construção
e na busca da possível integração do mundo da cultura com o universo do trabalho
por meio do movimento entre formação geral e profissional.
REFERÊNCIAS
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