16

O trabalho feminino no início da República brasileira - Paulo Gracino

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Cordel

Citation preview

PAULO GRACINO

O TRABALHO FEMININO

NO INÍCIO DA REPÚBLICA BRASILEIRA

CORDEL

GUARABIRA – PB

2012

Literatura de Cordel

42 estrofes – septilhas

O trabalho feminino no início da República brasileira

Ano - 2012

Autor: Paulo Gracino

Capa: Paulo Gracino

Formato: PDF

O TRABALHO FEMININO NO INÍCIO DA REPÚBLICA BRASILEIRA.

Paulo Gracino

Vamos falar da importância De um ser fenomenal,

Que não foi dado o valor Mesmo sendo especial.

Da história excluída, Foi sempre muito esquecida

Nesta vida desigual.

E o nosso objetivo É rever o seu valor,

Mostrar sua trajetória Como um ser trabalhador, Ou melhor, trabalhadora, Com uma vida sofredora, Mas cheia de muito amor.

Vamos buscar no contexto

Histórico desta nação, Quando instalou-se a República

E a industrialização, Pra o Brasil ter sucesso,

Por em ordem o progresso De toda população.

Foi durante este período Que a mulher conquistou Seu espaço no trabalho, Mas o que se observou

Foi uma história diferente, Que esconderam da gente

E agora à tona voltou.

Perceba que a vida toda Só se mostrou este lado

Bonito da nossa história, Do nosso Brasil amado,

Da mulher vitoriosa, Da conquista gloriosa,

Do espaço conquistado.

Aí é que a gente ver Por trás da escuridão,

Que camufla o lado sujo Daquela situação,

Que a mulher enfrentou E na fábrica se instalou Em meio à exploração.

As fábricas, o povo já sabe:

Era pura fedentina. Sujeira pra todo lado, Imagine uma menina Nesse desmantelo só, É pra gente até ter dó Dessa força feminina.

_______________________( 4 )______________________

Lá não só sofria a moça, Sofria era todo mundo. Sofria até os menores

Pra não virar vagabundo, Todos tinham que enfrentar

A sujeira do lugar Daquele antro imundo.

E todo dono de fábrica Precisou muito lutar

Pra controlar todo mundo E o seu império aumentar,

Pois é esta exploração Que cria a situação

E faz lucro prosperar.

Tudo mesmo, é verdade. Até mesmo a confusão.

As brigas também cresceram Em busca de solução,

Surgiu muito movimento, Conflito e constrangimento

Pra operário e patrão.

Vejam que até trouxeram Da Europa, imigrantes Para servir de exemplo

Aos nossos representantes, Mas esse povo trazido Talvez tenha induzido

Os movimentos atuantes.

_______________________( 5 )______________________

Surgiram os movimentos, Greve teve de montão, Vieram as sabotagens Em meio à situação.

Era um ambiente hostil Que cresceu pelo Brasil

Na industrialização.

Vejamos então o clima Que a mulher jogada,

Trabalhando nesta “guerra” Como já foi bem mostrada, Dá pra gente compreender

O que era sobreviver E sem sequer ser notada.

Exploração era o lema

Pra classe trabalhadora, Principalmente a mulher

Guerreira e lutadora. Por vezes violentada,

Sexualmente explorada Nessa história opressora.

Quem acha que a mulher,

Preferência nacional Pra trabalhar nesta indústria

Teve o seu valor real Está muito enganado,

Completamente errado, Sem o controle mental.

_______________________( 6 )______________________

A mulher foi preferida Só por ser considerada

Submissa em seu lar E estava condenada A viver aquela vida,

Por isso foi preferida Sem poder reclamar nada.

A indústria é uma invenção

Do universo masculino Que no decorrer do tempo Fez seguir o seu destino,

Mantendo a tradição Nesse mundo do machão

“Traçado pelo Divino”.

Aliás, toda mulher Sempre foi inferior

Nessa ideia machista Do mundo trabalhador.

Era uma coisa sem nexo, O preço era pelo sexo Que se media o valor.

Ganhava pouco porque,

De acordo com a tradição, O sustento de uma casa,

Do homem era obrigação E ela só complementava,

Por isso não precisava Alta remuneração.

_______________________( 7 )______________________

Parece até que a mulher Trabalhava por gostar

Porque afinal das contas Era a “Rainha do Lar”,

Sendo dever do marido Que trabalhava sofrido, Mas esse era seu lugar.

E ainda relembrando

O que a tradição ensina, Sabe-se não era normal Mão de obra feminina,

Pois pra mãe ela nasceu E que era dever seu

Manter a ordem Divina.

Isso só foram detalhes Nessa história aguerrida,

Imagine as diferenças Nessa luta pela vida,

Onde quem ganha é o mais forte E nessa guerra de morte Muita mulher foi ferida.

Lutar sempre foi comum,

Mas que nunca teve glória. A mulher sempre existiu, Mesmo fora da História

De uma classe dominante, No mundo predominante Que dominou a Memória.

_______________________( 8 )______________________

Mas voltando ao contexto, Detalhando cada fato,

Vamos ver mais desencontros E isso não é boato.

Tá tudo documentado, Por muito tempo guardado,

Mas existe em relato.

Buscando nos relatórios, Fazendo comparação

Entre os oficiais Documentos da nação, Analisando entrevistas,

Nas denúncias dos grevistas Ou na fala do patrão.

Por exemplo, quando vemos

Melhoras ao operário, Seja qualquer benefício Ou aumento de salário, Vemos na benfeitoria

Alguma anomalia, Basta olhar pelo contrário.

A classe dos dominantes

Impôs sempre a sua ação. Criou regra, ameaçou,

Sempre com exploração. Fez de tudo pra conter A ameaça ao seu poder, Mas viu outra solução.

_______________________( 9 )______________________

Bem perto dos anos vinte Com um Brasil já moderno, As fábricas ganhando força, Mas sem controle interno,

Foi aí que algo mudou E o patrão se estruturou Pra sair daquele inferno.

Investiram noutras táticas, Fazendo muita mudança,

Higienizaram fábricas Pra manter a segurança, Mudaram a sua imagem,

Puseram nova roupagem, Trazendo mais esperança.

Atacaram então de “pai”,

Usando a compaixão, Fizeram pros operários

Vila de habitação E derem para morar

Só pra poder controlar Aquela população.

Ou seja, até a família Perdia a privacidade,

Pois as vilas de operários, Que parecia cidade,

Estava em seu condomínio, Agora sob o domínio Da sua propriedade.

_______________________( 10 )______________________

Outras práticas existiram, Como a premiação

Valorizando os melhores, Parecendo exaltação,

Mas era só pra manter O controle e o poder

Sem perder a exploração.

Com esta nova maneira Usada pelo poder

De controle ao operário, O que a gente pode ver Foi desavença e briga,

Confusão e muita intriga Sem ninguém querer perder.

Mas coitadas das mulheres,

Que não podiam subir Aos cargos mais elevados,

Só restando resistir Mesmo tendo experiência,

Mas não tendo independência, A tendência era cair.

E pra conseguir seguir

Neste trabalho infernal, Muitas vezes até tiveram

Que aceitar o imoral E aos caprichos cedendo,

Daí se submetendo Ao abuso sexual.

_______________________( 11 )______________________

E não tendo um suporte E nem a quem recorrer,

Pois todos que as rodeavam Complementavam o poder, Tinham que ficar caladas Mesmo sendo abusadas

É o que pudemos ver.

Ah! Se isso era ruim E não era o maior,

Então veja outro exemplo Que parece ser pior: - Isso aqui era a vida

Da mulher branca, querida, Considerada melhor.

Pois as negras do Brasil

Sem ter qualificação Pra ingressar no trabalho

Da industrialização Basta rever na história,

Trazer pra nossa memória O tempo da escravidão.

Se a fábrica era o inferno A negra nem pode entrar,

Ficou do lado de fora Vendo o Demônio passar, Sendo sempre maltratada

Pela vida, espancada E sem poder lamentar.

_______________________( 12 )______________________

Vendedoras pelas ruas, Alguma virou doceira

Ou empregada doméstica, Até mesmo lavadeira,

Muitas foram prostitutas, Ou seja, viraram putas Pra poder fazer a feira.

É esta a nossa História Do nosso amado Brasil, Da República exaltada,

Desse país varonil, Que assim trata uma Dama

E ainda diz que lhe Ama, Mas com gesto tão hostil.

Parece que esta História Foi mas fácil esconder,

Sem revelar ao seu povo Que pode até perceber Alguma ajuda Divina, Mas a força feminina

Fez nosso Brasil crescer.

Encerramos constrangidos, Mas tivemos que mostrar,

Pra o povo conhecer E até se envergonhar,

Mas que daqui em diante, Que o povo se levante E faça o Brasil mudar.

FIM _______________________( 13 )______________________

· 90 anos de encantos de um Pavão Misterioso;· O memorial Frei Damião, o romeiro e a fé;

· A História na visão de um pervertido sexual;· O jeitinho brasileiro;· Vote no gari;· Reflexões de um mendigo;

· Pruquê batê in mulé qui naisceu só prá amá?;· Uma professora muito maluquinha (Ziraldo);

· Educação no Brasil: A História das rupturas;· Independência ou morte , Pedro Américo;

· A História das Sensibilidades;· A origemdo universo e a sua evolução;

· O papel do educador e do currículo escolar do século

XXI;

Obras do autor

[email protected]