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1 Rio de Janeiro, 29.11.2019 Relatório Final Alan Wruck Garcia Rangel Fernando de Castro Fontainha Gustavo Silveira Siqueira Apresentamos o Relatório Final do projeto intitulado O Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro : história e memória institucional através da presidência. A pesquisa foi realizado no período de dez meses, entre fevereiro e novembro de 2019, com o apoio institucional do TRT1. Neste período a equipe de pesquisadores compulsou os arquivos do TRT1, notadamente as Fichas funcionais, os Dossiês dos Concursos Públicos para provimento da vaga de magistrado, as Atas das Sessões Solene de Posse, os Regimentos Internos do TRT1, e os Diários Oficiais, além de produzir 9 entrevistas de ex-presidentes, e transcrevê-las a partir do áudio. Acumulou- se, portanto, um gama enorme de material de pesquisa que teve de ser selecionado e tratado para extração e compreensão dos dados. A equipe de pesquisadores buscou neste material o sentido de “tribunal” para os desembargadores que passaram pela presidência do TRT1, no período entre 1985 e 2017. O Relatório Final está dividido conforme o sumário abaixo. Cabe dizer que o material utilizado para a pesquisa, as Atas Solenes com os discursos posse/entrega, e as Transcrições das Entrevistas com os presidentes escolhidos para a pesquisa, estão em anexo apartado a este relatório.

O Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro

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Rio de Janeiro, 29.11.2019 Relatório Final

Alan Wruck Garcia Rangel Fernando de Castro Fontainha

Gustavo Silveira Siqueira

Apresentamos o Relatório Final do projeto intitulado O Tribunal Regional do

Trabalho do Rio de Janeiro : história e memória institucional através da presidência.

A pesquisa foi realizado no período de dez meses, entre fevereiro e novembro de

2019, com o apoio institucional do TRT1. Neste período a equipe de pesquisadores

compulsou os arquivos do TRT1, notadamente as Fichas funcionais, os Dossiês dos

Concursos Públicos para provimento da vaga de magistrado, as Atas das Sessões

Solene de Posse, os Regimentos Internos do TRT1, e os Diários Oficiais, além de

produzir 9 entrevistas de ex-presidentes, e transcrevê-las a partir do áudio. Acumulou-

se, portanto, um gama enorme de material de pesquisa que teve de ser selecionado e

tratado para extração e compreensão dos dados. A equipe de pesquisadores buscou

neste material o sentido de “tribunal” para os desembargadores que passaram pela

presidência do TRT1, no período entre 1985 e 2017.

O Relatório Final está dividido conforme o sumário abaixo. Cabe dizer que o

material utilizado para a pesquisa, as Atas Solenes com os discursos posse/entrega, e

as Transcrições das Entrevistas com os presidentes escolhidos para a pesquisa, estão

em anexo apartado a este relatório.

2

SUMÁRIO

I - ARTIGO COM A ESTRUTURAÇÃO DA PESQUISA E DISCUSSÃO DE DADOS ......................................................................................................................... 3 II – APRESENTAÇÃO DA BIOGRAFIA FUNCIONAL DOS INTEGRANTES DA PRESIDÊNCIA ESCOLHIDOS PARA A PESQUISA ..................................... 3

1) Geraldo Octavio Guimaraes (biênio 1985-1986) .......................................................... 4 2) José Teófilo Vianna Clementino (biênio 1987-1988) .................................................... 6 3) Fernando Tasso Fragoso Pires (biênio 1989-1990) ...................................................... 7 4) Luiz Augusto Pimenta de Mello (biênio 1991-1992) .................................................... 8 5) José Maria de Mello Porto (biênio 1993-1994) ............................................................. 9 6) Alédio Vieira Braga (biênio 1995-1996) ...................................................................... 11 7) Luiz Carlos de Brito (biênio 1997-1998) ..................................................................... 12 8) Iralton Benigno Cavalcanti (biênio 1999-2000) .......................................................... 13 9) Ana Maria Passos Cossermelli (biênio 2001-2002) .................................................... 14 10) Nelson Tomaz Braga (biênio 2003-2004) .................................................................. 15 11) Ivan Dias Rodrigues Alves (biênio 2005-2006) ......................................................... 16 12) Doris Luise de Castro Neves (biênio 2007-2008) ...................................................... 17 13) Aloysio Santos (biênio 2009-2010) ............................................................................. 18 14) Maria de Lourdes D’Arrochella Lima Sallaberry (biênio 2011-2012) ................... 19 15) Carlos Alberto Araújo Drummond (biênio 2013-2014) ........................................... 20 16) Maria das Graças Cabral Viegas Paranhos (biênio 2015-2016) ............................. 21

III – APRESENTAÇÃO DO CRUZAMENTO ENTRE OS DISCURSOS OFICIAIS (POSSE E ENTREGA DO CARGO) E AS ENTREVISTAS SEMI-ESTRUTURADAS DOS SUJEITOS TRABALHADOS ....................................... 25

1. Defesa da Justiça do Trabalho ..................................................................................... 25 a) Contra-ataque .............................................................................................................. 25 b) Arrefecimento das críticas à Justiça do Trabalho ....................................................... 27 c) Descrença para contra-atacar ...................................................................................... 28

2. Celeridade da Justiça do Trabalho .............................................................................. 34 3. O prédio do TRT-1 como sede própria ....................................................................... 40

IV – DESCRIÇÃO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE AS METODOLOGIAS E OS MÉTODOS APLICADOS E OS RESULTADOS DA PESQUISA ....................... 49 V – EXPOSIÇÃO SOBRE A METODOLOGIA DA “HISTÓRIA DO DIREITO ATRAVÉS DA BIOGRAFIA INSTITUCIONAL” ................................................ 52 VI – ANÁLISE CONCLUSIVA DAS ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADAS...................................................................................................................................... 55

I) Trajetórias no ensino superior ..................................................................................... 56 II) Ingresso na magistratura e trajetória no Tribunal ................................................... 58

II.I) Ingresso na magistratura e a promoção à 2ª instância ............................................. 58 II.II) A campanha para o quinto constitucional .............................................................. 61

III) Tornando-se presidente ............................................................................................. 62 IV) O cotidiano da presidência ......................................................................................... 64 V) Os hard cases ................................................................................................................ 65 VI) Vida atual e questões prospectivas ............................................................................ 68

VII – À GUISA DE CONCLUSÃO .......................................................................... 76

3

I - ARTIGO COM A ESTRUTURAÇÃO DA PESQUISA E DISCUSSÃO DE

DADOS

O artigo que compõem o presente relatório final encontra-se em anexo

apartado.

II – APRESENTAÇÃO DA BIOGRAFIA FUNCIONAL DOS INTEGRANTES

DA PRESIDÊNCIA ESCOLHIDOS PARA A PESQUISA

Nesta seção apresentamos a biografia institucional dos integrantes da

presidência escolhidos para a pesquisa, conforme tabele abaixo:

Biênio Presidente 1985-1986 Geraldo Octávio Guimarães 1987-1988 José Teófilo Vianna Clementino 1989-1990 Fernando Tasso Fragoso Pires 1991-1992 Luiz Augusto Pimenta de Mello 1993-1994 José Maria de Mello Porto 1995-1996 Alédio Vieira Braga 1997-1998 Luiz Carlos de Brito 1999-2000 Iralton Benigno Cavalcanti 2001-2002 Ana Maria Passos Cossermelli 2003-2004 Nelson Tomaz Braga 2005-2006 Ivan Dias Rodrigues Alves 2007-2008 Dóris Luise Castro Neves 2009-2010 Aloysio Santos 2011-2012 Maria de Lourdes D`Arrochella Lima Sallaberry 2013-2014 Carlos Alberto Araújo Drummond 2015-2016 Maria das Graças Cabral Viegas Paranhos

Os dados sobre biografia pessoal mesclam-se àqueles sobre biografia

funcional coletados na documentação selecionada para a pesquisa, a saber: Atas da

cerimônia de posse (1984-2017), Fichas funcionais (1984-2017) e Entrevistas

semiestruturadas (1991-2017).

4

O objetivo é apontar dados relevantes que representam a gestão do presidente.

Dividimos o quadro analítico em três partes: metas da gestão; realizações na gestão; e

outros dados objetivos sobre citação de autores, menção à conjuntura local ou

nacional, e palavras e expressões preponderantes. Todos os dados foram coletados

isoladamente a partir de análise minuciosa de cada discurso de posse e entrega do

cargo proferido pelo presidente. Nas duas primeiras tabelas criou-se, ainda, as

seguintes subcategorias: Aumento capacidade produtiva, Administração interna,

Estrutura física, Recursos humanos, Ações sociais. As tabelas foram elaboradas com

base nas informações coletadas na documentação. Caso a documentação não tenha

fornecido dados ou estes tenham sido insuficientes as tabelas foram descartadas ou

apresentadas de forma amputada.

Na terceira tabela considerou-se citação de autores qualquer referência à frase

ou expressão empregada por determinada pessoa ou autor mencionado no texto do

discurso entre aspas. Reputou-se tema de conjuntura qualquer referência a fatos de

cunho politico, econômico, religioso ou ideológico feita pelo presidente durante o seu

discurso. As palavras ou expressões mais empregadas nos discursos de cada

presidente foram detectadas por processo de contagem.

Convém, por fim, dizer que cada presidente é obrigado a entregar um relatório

com todas as atividades de sua administração. No entanto, as informações aqui

expostas não foram coletadas nestes relatórios e estão vinculadas à documentação

selecionada para a pesquisa, já mencionados acima.

1) Geraldo Octavio Guimaraes (biênio 1985-1986)

Nascido na cidade do Rio de Janeiro em 1920. Nomeado por decreto de 1945

Presidente da 7a JCJ. Em 1946, com criação da justiça do trabalho, passa a ser juiz do

trabalho. Nomeado juiz togado do TRT1 em 1970. Eleito presidente do TRT1 em

1985, aos 65 anos de idade. Seu discurso de posse é breve, proferido em tom amical e

intimista, com certa carga emocional, sua preocupação principal é rememorar pessoas

do passado e de agradecer aos amigos do presente. Revela euforia e animação com a

presidência, sem registro em ata sobre seu plano de metas. Seu discurso de entrega do

cargo é ainda mais breve, de apenas duas páginas, no qual renova os agradecimentos

sem apresentar nenhuma realização de gestão.

5

Outros dados objetivos (discursos de posse e entrega do cargo)

Citação de autores Temas de conjuntura local e/ou nacional

Palavras ou expressões predominantes “Deus” “Amigos” “Agradecimento”;

“agradecer” “Família”

6

2) José Teófilo Vianna Clementino (biênio 1987-1988)

Nascido em Minas Gerais em 1919, nomeado juiz togado do TRT1 em 1978

na vaga atribuída ao Ministério Público da União na Justiça do Trabalho1. Eleito

presidente do TRT1 em 1987, aos 68 anos de idade. Seu discurso de posse centra-se

na defesa da aquisição do prédio sede do TRT1, e acusa haver verdadeira

“promiscuidade” entre judiciário e executivo ao compartilharem mesmo espaço físico.

Aponta também alguns planos de metas de sua gestão para melhor administração

interna e aumento da capacidade produtiva. O seu discurso de entrega do cargo é o

mais curto de todos os discurso registrados nas atas com apenas meia-página, no qual

apenas faz agradecimentos sem mencionar qualquer realização.

Principais metas da gestão (discurso de posse) Aumento capacidade produtiva

Concluir concurso já iniciado e abrir outro

Administração interna

Adaptação do Regulamento da Secretaria do Tribunal de 1974

Criação e regulamentação dos Grupos de Turmas

Organizar Novo Planejamento Administrativo

Estrutura física Instalação de Juntas no prédio-sede

Ocupação total do prédio-sede

Recursos humanos (magistrados e servidores)

Ações sociais

Outros dados objetivos (discursos de posse e entrega do cargo) Citação de autores

Rui Barbosa Fernando Pessoa

Temas de conjuntura local e/ou nacional

Constituição de 1988

Empregadas domésticas

Perda poder aquisitivo do salário

Empobrecimento da população

Aumento marginalidade urbana

Palavras ou expressões predominantes

“Constituição”

1 A expressão “quinto constitucional” aparece somente com a Constituição Federal de 1988, muito embora essa via de acesso ao tribunal já exista à época.

7

3) Fernando Tasso Fragoso Pires (biênio 1989-1990)

Nascido em São Paulo em 1934, nomeado juiz togado do TRT1 em 1981 na

vaga atribuída a OAB. Eleito presidente do TRT1 em 1989, com 55 anos de idade, é o

primeiro presidente sob a égide da Constituição Federal de 1988 que havia acabado de

ser promulgada. Seu discurso de posse é marcado por elogios e críticas à nova

Constituição que negligenciou a categoria das empregadas domésticas. O principal

desafio de sua gestão é suprir o crescimento do número de ações na justiça do

trabalho. Ao final do seu mandato entrega aos seus pares um “Relatório de

Atividades”, sem mencionar, no discurso de entrega da presidência, as realizações de

sua gestão.

Principais metas da gestão (discurso de posse) Aumento capacidade produtiva

Administração interna Maior assistência ao juiz-corregedor

Estrutura física Criação de novas Juntas e Turmas do Tribunal Recursos humanos Valorizar servidor da justiça Ações sociais Outros dados objetivos (discursos de posse e entrega do cargo) Citação de autores

Rui Barbosa Fernando Pessoa

Temas de conjuntura local e/ou nacional

Constituição de 1988

Empregadas domésticas

Perda poder aquisitivo do salário

Empobrecimento da população

Aumento marginalidade urbana

Palavras ou expressões predominantes

“Constituição”

8

4) Luiz Augusto Pimenta de Mello (biênio 1991-1992)

Nascido em 1943 no Rio de Janeiro, atuou como juiz classista entre 1972 e

1978, bacharelou-se em Direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1980.

Nomeado juiz togado do TRT1 em 1981 na vaga atribuída a OAB, assumindo o lugar

cedido pelo seu genro, o atual ministro do STF Marco Aurélio de Mello, à época

nomeado ministro do TST. Eleito presidente do TRT1 em 1991, com 48 anos de

idade, sendo o mais jovem presidente dentre os escolhidos para esta pesquisa. Quando

empossado postula, em discurso carregado de termos e vocábulos evangélicos, por

uma justiça discreta e silenciosa. Afirma estar em “tempo de reconstrução” e da

necessidade de instalações adequadas de máquinas e equipamentos, sem qualquer

outra menção sobre metas de sua gestão. Quando entrega a presidência apenas

menciona ter instalado 21 Juntas de Conciliação e Julgamento. Ao deixar a

presidência, manteve-se no cargo de desembargador ainda por longos anos, figurando,

dentre os presidentes pesquisados, como o Decano do TRT1. Em 2001 é denunciado

por prática de nepotismo pela Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do

Trabalho (ANAMATRA). Despede-se do TRT1 em 2013 quando atinge 70 anos de

idade.

Outros dados objetivos (discursos de posse e entrega do cargo) Citação de autores Pedro Américo Rios

Gonçalves

Temas de conjuntura local e/ou nacional

Palavras ou expressões predominantes “justiça” “Deus”; “Divino” “Sabedoria”

9

5) José Maria de Mello Porto (biênio 1993-1994)

Nascido no Rio de Janeiro em 1938, bacharelou-se em 1968 pela antiga

Universidade do Brasil. É primo do ex-presidente Fernando Collor de Mello e do

atual ministro do STF Marco Aurélio de Mello. Nomeado juiz togado do TRT1 em

1985 na vaga atribuída a membro do Ministério Público do Trabalho. Eleito

presidente do TRT1 em 1993, 8 anos após de ter sido nomeado juiz - a média da

trajetória entre os cargos de desembargador e presidente é de 14 anos. Seu discurso de

posse é extremamente técnico e conciso com apontamentos precisos das principais

metas de sua gestão. Ao final do seu mandato, em discurso de entrega do cargo,

sublinha a importância do ritual democrático de “renovação das elites dirigentes” e

apresenta suas realizações detalhadamente. O ex-presidente José Maria de Mello

Porto, diferente da maioria dos presidentes, manteve-se no TRT1 como

desembargador ainda por mais de uma década. Figura polêmica, acumulou amigos e

inimigos dentro do TRT1, tendo respondido a processos administrativos, e diversas

acusações, entre elas a de nepotismo. Morreu em 2006 tragicamente com sete tiros

durante suposto assalto.

Principais metas da gestão (discurso de posse) Aumento capacidade produtiva

Aumento do número de servidores em determinadas JCJ

Implementação de Juntas itinerantes

Administração interna

Criar seção ligada à presidência para receber sugestões e reclamações

Levantamento sobreas processos em atraso Informatização dos serviços

Estrutura física Construção de sede própria

Recursos humanos

Ações sociais

10

Principais realizações da gestão (discurso de entrega do cargo)

Aumento capacidade produtiva

Instalação de 4 novas Turmas no TRT1

Instalação de 30 novas JCJ

Criação “justiça sobre rodas”

Priorizar a busca de conciliação das partes (70% de acordos)

Criação das “pautas duplas”

Realização de dois concursos públicos (38 juízes)

Adm. interna

Ampliação do expediente (8h às 18h)

Informatização com modernos aparelhos de computação em 114 Juntas; Secretaria de pessoal; Distribuição de feitos; Secretaria Judiciária

Criação sistema LEX-DATA e REMPAC

Estrutura física

Inauguração do novo Plenário Délio Maranhão

Inauguração do Fórum Ministro Geraldo Bezerra de Menezes

Inauguração do Fórum Juiz José Eduardo Pizarro Drummond

Instalação de 14 novos gabinetes de juízes

Doação de mobiliário pelas prefeituras

Inauguração de 2 novas salas de sessões às Turmas

Cessão de 3 imóveis da União

Recursos humanos

Convocação de mais de mil servidores concursados

Realização de novos concursos

Implemento do “Programa Treinamento dos Funcionários”

Instalação de postos médicos

Inauguração de restaurante no prédio da Santa Luzia

Criação do Auxilio- creche a todos os servidores e juízes

Criação do Auxilio-remédio a todos os servidores e juízes

Projeto de Auxilio-alimentação e Assistência médico-odontológica

Ações sociais

Memória Outros dados objetivos (discursos de posse e entrega do cargo)

Citação de autores Temas de conjuntura local e/ou nacional

Palavras ou expressões predominantes Modernização; Modernidade “Deus”

11

6) Alédio Vieira Braga (biênio 1995-1996)

Nascido em Niterói em 1928. Nomeado por decreto de 1958 juiz suplente na

JCJ de Campos dos Goytacazes. Nomeado juiz substituto por concurso público em

1967. Nomeado juiz togado do TRT1 em 1985. Eleito presidente do TRT1 em 1995.

Seu discurso de posse é em tom bastante poético, com uso de figuras metafóricas,

para explicar seu pensamento, a figura do juiz. Não aponta nada sobre suas principais

metas na gestão e nem sobre suas realizações. Faz menção, no seu discurso de entrega

do cargo, que entregou “Relatório resumido de todas atividades jurisdicional e

administrativas”.

Outros dados objetivos (discursos de posse e entrega do cargo) Citação de autores Jean-Jacques Rousseau Luiz Vaz de Camões Temas de conjuntura local e/ou nacional

Palavras ou expressões predominantes “Utilidade” “Casa” “Amor”

12

7) Luiz Carlos de Brito (biênio 1997-1998)

Nascido no Rio de Janeiro em 1931. Nomeado Delegado Regional do

Trabalho do Rio de Janeiro sob os ministérios de Júlio Barata, Arnaldo Prieto e

Murilo Macedo. Nomeado juiz togado do TRT1 em 1984 na vaga atribuída a OAB.

Eleito em 1995 presidente do TRT1 com 67 anos de idade. Quando empossado, seu

discurso é marcado por um posicionamento de defesa da justiça do trabalho em face

dos ataques propagados na imprensa. As principias metas de sua gestão são: maior

celeridade no julgamento de processos, diálogo transparente e aberto, propriedade do

prédio sede. No momento de deixar o cargo, sai em defesa do judiciário trabalhista e

sublinha, no seu discurso, a necessidade de esclarecimento da “opinião pública” para

alcançar a “paz social”. Não faz, entretanto, nenhuma referencia às realizações do seu

mandato de presidente.

Principais metas da gestão (discurso de posse) Aumento capacidade produtiva

Medidas para dar maior celeridade aos processos Incentivo à busca da conciliação das partes

Administração interna

Adotar procedimentos internos para melhor aceleração da tramitação dos processos

Prezar pelo diálogo dentro do TRT1

Estrutura física

Iniciar processo de solução da questão da sede-própria

Recursos humanos Ações sociais

Outros dados objetivos (discursos de posse e entrega do cargo) Citação de autores Rui Barbosa Temas de conjuntura local e/ou nacional Plano real Palavras ou expressões predominantes “Equilíbrio social”

13

8) Iralton Benigno Cavalcanti (biênio 1999-2000)

Nascido no Ceará em 1930. Nomeado juiz substituto por concurso público em

1967. Nomeado juiz do TRT1 em 1989. Eleito presidente do TRT1 em 1999. Não há

qualquer menção sobre as principais metas de sua gestão no seu discurso de posse. A

primeira parte do discurso é dedicado a agradecimentos de pares e de seus familiares,

e segunda e última parte, que está amputada, consagrada a defesa da justiça do

trabalho que sofria ataques e à crise do seu orçamento que recebia corte significativos.

Cabe, também, dizer que o presidente empossado não logrou terminar o seu mandato

em razão do atingimento da idade de 70 anos em 21 de março de 200, o que o levou à

aposentadoria compulsória e subida da vice-presidente ao cargo. O decano do TRT1,

Luiz Augusto Pimenta de Mello, presidiu a cerimônia do Tribunal Pleno no lugar do

presidente aposentado.

Outros dados objetivos (discursos de posse e entrega do cargo) Citação de autores Temas de conjuntura local e/ou nacional Corte orçamentário no Poder Judiciário Palavras ou expressões predominantes “Crise”

14

9) Ana Maria Passos Cossermelli (biênio 2001-2002)

Nascida em Pernambuco em 1935. Nomeada juíza substituta por concurso

público em 1965. Nomeada juíza do TRT1 em 1988. Eleita vice-presidente em 1999

na chapa do ex-presidente Iralton Benigno Cavalcanti que deixou o cargo para

aposentar-se compulsoriamente, ocasião em que ela assumiu a presidência. Em 2001,

ela é a primeira mulher presidente eleita no TRT1. Sua primeira gestão como

presidente interina é marcada por verdadeira depuração da administração, com a

demissão de 35 diretores de secretaria por processo de sindicância. No seu discurso de

posse para a “Presidência II” – palavras dela –, promete uma “Administração

Espartana”, isto é administrar o TRT1 com “lisura e transparência”. Essa segunda

gestão foi marcada pela tragédia do incêndio ocorrido em 08.02.2002. Não faz

qualquer menção no discurso de posse sobre metas da gestão, e no de entrega do

cargo afirma ter integrado o Prédio-Sede ao “patrimônio da casa”.

Outros dados objetivos (discursos de posse e entrega do cargo) Citação de autores Temas de conjuntura local e/ou nacional Incêndio do TRT1

Palavras ou expressões predominantes “Nova Administração” “Aprendizado” “Transparência”

15

10) Nelson Tomaz Braga (biênio 2003-2004)

Nascido na cidade do Rio de Janeiro em 1945, de família de imigrantes sírios,

Nelson Tomaz Braga, advogado, bacharelou-se em Direito pela Faculdade Hélio

Alonso. Nomeado juiz do TRT1 em 1992 na vaga atribuída a OAB, pelo quinto

constitucional. Eleito presidente do TRT1 em 2003, aos 58 anos de idade. Sua gestão

é marcada pela inauguração do prédio do TRT1, localizado na rua do Lavradio, bairro

da Lapa, no Rio de Janeiro, em 23 de abril de 2004, dia de São Jorge – como ele

mesmo fez questão de frisar durante a sua entrevista. A inauguração deste novo

prédio permitiu abrigar 73 Varas Trabalhistas em um único local.

Principais metas da gestão (discurso de posse) Aumento capacidade produtiva

Administração interna

Reestruturação administrativa (financeiro, orçamentária, patrimonial e recursos humanos)

Estrutura física Melhoria das instalações Modernização da informática Recursos humanos Qualificação profissional dos servidores

Ações sociais Principais realizações da gestão (discurso de entrega do cargo) Aumento capacidade produtiva Realização de concursos públicos

Administração interna

Realização de projetos de Tecnologia da Informação

Estrutura física

Inauguração prédio TRT1 na rua do Lavradio

Concentração de todas as Varas Trabalhistas em um único prédio

Recursos humanos (magistrados e servidores)

Ações sociais Memória Outros dados objetivos (discursos de posse e entrega do cargo) Citação de autores Antigo Testamento

(Salmos) Camões Jaime Balmes

Darcy Ribeiro

Thiago de Mello

Temas de conjuntura local e/ou nacional

Posse de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República

Palavras ou expressões predominantes “Deus” “poder” “Sonho”

16

11) Ivan Dias Rodrigues Alves (biênio 2005-2006)

Nascido no Rio de Janeiro em 1937, nomeado juiz substituto por concurso

público em 1969. Nomeado juiz do TRT1 em 1993. Eleito presidente em 2005, aos 68

anos de idade. Seu discurso de posse está centrado na necessidade de renovar o

sistema de gestão administrativa, com melhor capacitação dos servidores, e da busca

da recuperação da credibilidade do TRT1. Não apresenta, entretanto, nenhum plano

de ação concreta. No discurso de entrega do cargo afirma ter entregado a todos um

Relatório de Atividades de sua gestão.

Outros dados objetivos (discursos de posse e entrega do cargo)

Citação de autores Antigo Testamento (Livro de Jó)

Jorge Adelar Finatto

Nelson Jobim

Sálvio de Figueiredo Teixeira

Sidney Sanches

Temas de conjuntura local e/ou nacional

Palavras ou expressões predominantes

“Credibilidade”

17

12) Doris Luise de Castro Neves (biênio 2007-2008)

Nascida no Rio de Janeiro em 1939, nomeada juíza substitua por concurso

público em 1969, menos de um mês depois do AI-5 – como lembra. Promovida a

juíza do TRT1 em 1993. Eleita presidente do TRT1 em 2007, aos 68 nos de idade. No

seu discurso de posse toca em alguns pontos do plano de metas de sua administração

que ela resume como valorização da “atividade de estrutura”. Rememora também os

anos obscuros da ditadura civil-militar, e os ataques à justiça do trabalho em tempo

recente. No discurso de entrega do cargo relata as principais feitos de sua gestão,

exposto na tabela abaixo.

Principais metas da gestão (discurso de posse) Aumento capacidade produtiva

Levantamento do número de demandas nas Varas Trabalhistas

Administração interna

Valorizar contato entre jurisdicionado e Estado

Ouvir os pares e colegas servidores para melhorar a administração

Estrutura física Recursos humanos

Reconhecer esforço pessoal e mérito por processo seletivo interno

Ações sociais Principais realizações da gestão (discurso de entrega do cargo) Aumento capacidade produtiva

Aumento da celeridade na fase de conhecimento e na fase de execução

Realização de concurso para juízes e servidores

Criação “Unidades Judiciais Itinerantes”

Criação de “Postos Avançados”

Administração interna

Resolução que exige igualdade de distribuição entre as Varas

Implantação do sistema informatizado SAPWeb

Estrutura física

Início da instalação da Vara de Cabo Frio

Afetação do imóvel da Vara de Magé

Construção de 3 Varas em Campos dos Goytacazes

Plano para destinar área adequada dentro do TRT1 para instalação de todas Varas em um só local

Recursos humanos (magistrados e servidores)

Ações sociais Memória Outros dados objetivos (discursos de posse e entrega do cargo) Citação de autores Paulo Autran Thiago de Mello Pedro Almodóvar Temas de conjuntura local e/ou nacional

Palavras ou expressões predominantes “Justiça ágil “ “Luta pela moralidade e altivez do Poder judiciário”

18

13) Aloysio Santos (biênio 2009-2010)

Nasceu em 1941 no Rio de Janeiro, bacharelou-se em Direito em 1966 pela

Universidade Federal Fluminense. Nomeado juiz substituto por concurso público em

1976. Promovido a juiz do TRT1 em 1996. Eleito presidente do TRT1 em 2009, aos

68 anos de idade. O seu discurso de posse é marcado por reflexões profundas sobre a

função do juiz que, para ele, se aproxima de verdadeiro sacerdócio, para incentivar

busca da conciliação das partes. Apontou, como prioridade da sua gestão, a

informatização total do TRT1 pela consolidação da plataforma SAPWeb. No

momento de entrega do cargo preferiu entregar Relatório de Atividades, e não

apontou, no seu discurso, nenhuma realização de sua gestão.

Outros dados objetivos (discursos de posse e entrega do cargo) Citação de autores Thomas Hobbes Ulpiano Aristóteles Hans Kelsen Fernando

Pessoa Temas de conjuntura local e/ou nacional

Crise econômica de 2008

Palavras ou expressões predominantes “Sacerdócio” “Conciliação”

19

14) Maria de Lourdes D’Arrochella Lima Sallaberry (biênio 2011-2012)

Nasceu em 1948 na cidade do Rio de Janeiro, bacharel em Direito pela antiga

Universidade do Estado da Guanabara. Nomeada juíza substituta por concurso

público em 1980. Promovida a desembargadora do TRT1 em 1998. Eleita presidente

do TRT1 em 2011, aos 63 nos de idade. As principais metas da sua gestão,

estampadas no seu discurso de posse, são: aquisição do prédio sede do TRT1, e os

juízes de primeiro grau. Não pôde comparecer à cerimônia de 01 de março de 2013,

devido ao falecimento de sua mãe, tendo enviado um breve oficio que foi lido pelo

Decano, o desembargador Luiz Augusto Pimenta de Mello.

Principais metas da gestão (discurso de posse) Aumento capacidade produtiva Dedicar-se aos juízes de 1° grau

Administração interna

Estrutura física Aquisição da sede-própria

Recursos humanos

Ações sociais

Outros dados objetivos (discursos de posse e entrega do cargo) Citação de autores Joao Cabral de

Melo Neto Michael Jordan

Temas de conjuntura local e/ou nacional Palavras ou expressões predominantes “Sonho”

20

15) Carlos Alberto Araújo Drummond (biênio 2013-2014)

Nascido em Nova Iguaçu em 1947. Nomeado juiz substituto por concurso

público em 1979. Promovido a desembargador do TRT1 em 1999. Eleito presidente

do TRT1 em 2013, aos 66 anos de idade. Promete, ao ser empossado na presidência,

uma gestão que visa cumprir metas de produtividade e desenvolvimento da tecnologia

da informação aplicada aos tribunais. Ao final da sua administração aponta os

principais feitos: Implementação integral do processo judicial eletrônico, Ampliação e

modernização dos arquivos judiciais, Aumento da frota de veículos dos juízes,

Instalação de novas Varas e “Postos Avançados”.

Principais metas da gestão (discurso de posse) Aumento capacidade produtiva Estabelecer metas de produtividade

no 1° e 2° grau Priorizar a tecnologia da informação

Administração interna

Estrutura física

Recursos humanos

Ações sociais

Principais realizações da gestão (discurso de entrega do cargo) Aumento capacidade produtiva Implementação integral do processo

judicial eletrônico Administração interna

Ampliação e modernização dos arquivos judiciais

Estrutura física Aumento da frota de veículos dos juízes

Instalação de novas Varas e “Postos Avançados”

Recursos humanos Ações sociais Memória Outros dados objetivos (discursos de posse e entrega do cargo) Citação de autores Temas de conjuntura local e/ou nacional

Palavras ou expressões predominantes “Amigos” “Agradecimento”

21

16) Maria das Graças Cabral Viegas Paranhos (biênio 2015-2016)

Nascida em 1948 em Porto de Moz, cidade do interior do Pará, bacharel em

Direito pela Universidade Federal do Pará. Nomeada juíza substituta por concurso

público em 1976. Promovida a desembargadora do TRT1 em 1999. Eleita presidente

do TRT1 em 2015, aos 67 anos de idade. Os discursos de posse e entrega do cargo da

presidente Maria das Graças Cabral Viegas Paranhos são os que trazem maior número

de informações sobre as principais metas da gestão e suas principais realizações, e por

isto escolhemos para servir de tabela-modelo. Sua gestão foi agraciada com o selo

Ouro em 2015, e Diamante em 2016 expedido pelo Conselho Nacional de Justiça

(CNJ).

Principais metas da gestão (discurso de posse) Aumento capacidade produtiva

Dar efetividade aos processos da fase de execução

Realizar concursos para preenchimento de vagas de juízes

Administração interna

Descentralização de unidades judiciárias

Ampliar estágio de nível médio e universitário

Estrutura física

Ampliar unidades de apoio ao judiciário (Núcleos de conciliação)

Recursos humanos (magistrados e servidores)

Atenção à saúde dos magistrados e servidores

Valorizar o juiz de Primeiro Grau

Realizar convênios com cursos de línguas estrangeiras para magistrados e servidores

Valorizar os servidores

Ações sociais

Desenvolver ações de “Prevenção de Demanda”

Ampliar convênios com instituições públicas e privadas para combate ao trabalho infantil, trabalho escravo e prevenção de acidentes de trabalho

Principais realizações da gestão (discurso de entrega do cargo) Aumento capacidade produtiva

Instituto do aproveitamento (posse de 15 juízes aprovados em concurso)

Realização de concurso para juiz

Nomeação 469 servidores

325.257 processos solucionados - 6,1% maior que 2015

Administração interna

Projeto de lei para ampliar n° de vagas e pessoal

Várias medidas de contenção de gastos (redução serviços postais e do horário de

Inauguração do Centro de Dados Secundários no Fórum do Lavradio

Inauguração de salas destinadas aos métodos consensuais de solução de

22

atendimento ao público, economia de energia elétrica, etc.)

conflitos (NUPEMEC-JT)

Estrutura física

Obras no Prédio-Sede

Inauguração de novas instalações nas Varas do Trabalho de Araruama e Angra dos Reis

Promulgação da lei 13.403/2016 destinando recursos para compra do prédio do Fórum de Niterói;

Duas Emendas Parlamentares aprovadas para iniciar obras no Fórum do Campo dos Goytacazes e Queimados

Recursos humanos

Programa de qualidade de vida dos servidores, magistrados e terceirizados

Política Nacional de Atenção Prioritária ao Primeiro Grau

Criação da Comissão de Enfrentamento à Exploração do Trabalho Escravo

Conclusão do Projeto de Gestão de Pessoas por Competências

Ações sociais

Criação dos Programas Aposentado-Ria; e de Prevenção ao Câncer de Mama

Campanha Não ao Trabalho Infantil, Sim à Educação de Qualidade

Inauguração de posto médico no prédio-sede do TRT com vacinação de combate à dengue e influenza, teste de hepatite, etc

Seminários sobre Trabalho Seguro, Combate ao Trabalho Escravo, Combate ao Trabalho Infantil, Morte no Trabalho

Exibição de vídeo aos operários do Porto Maravilha, e Museu do Amanhã sobre morte no trabalho

Memória

Homenagem à Geraldo Montedônio Bezerra de Menezes e a Délio Maranhão

Outros dados objetivos (discursos de posse e entrega do cargo) Citação de autores Eduardo

Couture Calamandrei Francisco Kupidlowski

Ihering

Eclesiastes 3:1-8

Milton Nascimento

Carlos Drummond de Andrade

Temas de conjuntura local e/ou nacional Lava-

Jato

Reforma política e econômica

Ataque à legislação trabalhista

Greve dos servidores no RJ

Corte orçamentário para Justiça do Trabalho

Palavras ou expressões predominantes

“Crise moral e ética”

“Credibilidade”

23

Biografia funcional - Tabela geral

Presidente

Ano

de n

asci

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Loca

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Idad

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Form

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esso

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Ano

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ênci

a

Tem

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pr

esid

ênci

a

Geraldo Octávio Guimarães 1920 RJ 65 Magistrado Merec. 1970 1985 15 José Teófilo Vianna Clementino 1919 MG 68 MPT Nom.

Vaga MPT

1978 1987 9

Fernando Tasso Fragoso Pires 1934 SP 55 Advogado Nom. Vaga OAB

1981 1989 8

Luiz Augusto Pimenta de Mello 1943 RJ 48 Advogado Nom. Vaga OAB

1981 1991 10

José Maria de Mello Porto 1938 RJ 55 MPT Nom. Vaga MPT

1985 1993 8

Alédio Vieira Braga 1928 RJ 67 Magistrado Merec. 1985 1995 10 Luiz Carlos de Brito 1931 RJ 66 Advogado Nom.

Vaga OAB

1984 1997 13

Iralton Benigno Cavalcanti 1930 CE 69 Magistrado Merec. 1989 1999 10 Ana Maria Passos Cossermelli 1935 PE 65 Magistrado Antig. 1988 2000 12 Nelson Tomaz Braga 1945 RJ 58 Advogado Quinto

Const. 1992 2003 11

Ivan Dias Rodrigues Alves 1937 RJ 68 Magistrado Antig. 1993 2005 12 Doris Luise de Castro Neves 1939 RJ 68 Magistrado Antig. 1993 2007 14 Aloysio Santos 1941 RJ 68 Magistrado Antig. 1996 2009 13 Maria de Lourdes D`Arrochella Lima Sallaberry

1948 RJ 63 Magistrado Merec. 1998 2011 13

Carlos Alberto Araújo Drummond

1947 RJ 66 Magistrado Merec. 1999 2013 14

Maria das Graças Cabral Viegas Paranhos

1948 PA 67 Magistrado Antig. 1999 2015 16

Merec. – Merecimento Antig. – Antiguidade Nom. – Nomeação Quinto Constitucional – expressão usada após 1988 Algumas conclusões da documentação: 1. Dos presidentes: 12 homens (75%) 4 mulheres (25%) Primeira Mulher a presidir o TRT1: Ana Maria Cossermeli (2000).

24

2. Média de idade quando assumiu a presidência: 63,5 anos Mais novo a assumir: Luiz Augusto Pimenta de Mello, 48 anos em 1991 Mais velho: Iralton Benigno Cavalcanti, 69 anos, em 1999. 3. Estado de nascimento: 10 – Rio de Janeiro 1 – Minas Gerais 1 – São Paulo 1 – Alagoas 1 – Ceará 1 – Pernambuco 1 – Pará 4. Ocupação antes do acesso ao TRT: 10 – Magistratura Trabalhista (5 por mérito e 5 por antiguidade) 2 – MPT José Vianna Clementino José Maria de Mello Porto 4 – Advogados: Fernando Tasso Fragoso Luiz Augusto Pimenta de Mello Luiz Carlos de Britto Nelson Tomaz Braga 5. Tempo entre a posse no TRT e a posso na Presidência. Média 11,75 anos 8 anos: Fernando Tasso Fragoso José Maria de Mello Porto 16 anos: Maria das Graças Cabral Viegas 6. Cargos no TRT antes da Presidência 15 – (93,75%) exerceram cargas antes (Vice-Presidentes 11, Corregedor 3, Vice-Corregedor 2) 1 – (6,25%) não exerceu nenhum não no TRT antes de assumir a presidência.

25

III – APRESENTAÇÃO DO CRUZAMENTO ENTRE OS DISCURSOS

OFICIAIS (POSSE E ENTREGA DO CARGO) E AS ENTREVISTAS SEMI-

ESTRUTURADAS DOS SUJEITOS TRABALHADOS

Ao realizar o cruzamento entre documentação escrita (discursos de entrega do

cargo e posse) e documentação oral (entrevistas semiestruturadas), identificamos os

seguintes temas recorrentes: Defesa da Justiça do Trabalho, Celeridade da Justiça do

Trabalho e prédio do TRT-RJ como Sede-Própria.

1. Defesa da Justiça do Trabalho

Identificamos na documentação oral e escrita o tema da defesa da justiça do

trabalho que perpassa todo o recorte temporal fixado para a pesquisa. Pode-se dividir

esse tema em três categorias, cada uma delas em conexão com o momento histórico, e

também político, do pais. Num primeiro momento temos um período de contra-

ataque, verdadeira posicionamento enérgico dos presidentes na defesa da justiça do

trabalho (a), seguido de uma fase de arrefecimento do ataque (b) que termina com um

período de descrença (c).

a) Contra-ataque

Percebe-se nos discursos após 1996 um clima de defesa da Justiça do trabalho,

causado por ataques feitos na imprensa nacional, notadamente em matéria publicada

com o título “Atiçando conflitos”, em que “se sustenta a extinção da Justiça do

Trabalho como solução para todos os problemas do país”2. Nos anos seguintes, a

defesa da justiça do trabalho ganha tom alarmante nos discursos da presidência,

contra ataques vindos de parte da sociedade, pugnando pela sua extinção. O

posicionamento enérgico em defesa da Justiça do Trabalho será recorrente nos

discursos até 2004, ano da Emenda n° 45, que amplia consideravelmente a

competência da justiça do trabalho. Essa Emenda é encarada como uma resposta

contundente a qualquer suspeita a propósito do papel social da justiça do trabalho.

2Discurso de posse do presidente Luiz Carlos de Brito, Ata da 6a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, 13 de dezembro de 1996, p. 25.

26

O primeiro contra-ataque aparece no discurso indignado do desembargador

Luiz Carlos de Brito em 1996: “Incrível o que se viu na imprensa nestes últimos dias.

Altas autoridades querendo e dizendo que a Justiça do Trabalho tem que julgar de

uma forma, porque se não julgar dessa forma, a Justiça seria extinta mais

rapidamente. Nunca se viu isso neste país, a não ser naqueles tempos terríveis de

ditadura”3.Em 1999, durante cerimônia de posse, não é outro o tom do discurso do

desembargador Iralton Benigno Cavalcanti: “é a esperança que luta desesperadamente

para sobrevivermos à crise atual brasileira, especialmente a crise do Poder Judiciário

Trabalhista, para o qual se voltam os ataques e as ameaças de amordaçamento...”4.

Como já havia sido explicado de maneira didática em 1996 pelo desembargador Luiz

Carlos de Brito, os interesses envolvidos no ataque à justiça do trabalho podem ser

destacados do seguinte modo: “de um lado, os maus empregadores, que se unem para

fechar a via serena da reparação dos direitos que negam a seus empregados; de outro,

algumas poucas autoridades que agem de forma ilegal e que não admitem que um

Poder Judiciário livre venha, através de uma decisão, evitar a consumação de atos

contrários à lei. Em uma terceira corrente, a das lideranças sindicais ideologicamente

radicais que sonham, pela instauração do caos na País, reconquistar suas bandeiras

totalmente comprometidas em face da estabilidade econômica em que vivemos”5.

Em 2005, mesmo após a publicação da Emenda Constitucional n° 45, que

ampliou a competência da justiça do trabalho, o presidente empossado Ivan Dias

Rodrigues Alves, não muda o tom do discurso e afirma que se propaga a ideia de um

“Poder Judiciário moroso, insulado, ineficiente e... corrupto”6. A credibilidade da

justiça do trabalho estaria, assim, tão em baixa, que os “próprios trabalhadores, já no

poder, se apresam, pressionados e obedientes a uma política econômica que lhes retira

até mesmo o instinto de sobrevivência, a anunciar, em nome de uma pretensa

flexibilização ou reforma da legislação trabalhista a possibilidade do fim das garantias

mínimas estabelecidas há mais de meio século em nossas Constituições e na

Consolidação das Leis do Trabalho, retirando-lhes o caráter de normas de ordem

3 Discurso de entrega do cargo de presidente por Luiz Carlos de Brito, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, 18 de março de 1999, p. 4. 4 Discurso de posse do presidente Iralton Benigno Cavalcanti, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, 18 de março de 1999, p. 22. 5 Discurso de posse do presidente Luiz Carlos de Brito, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, 13 de dezembro de 1996, p. 26. 6 Discurso de posse do presidente Ivan Dias Rodrigues Alves, 28 de março de 2005, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 19.

27

pública e pretendendo, como se diz vulgarmente, que o acordado supere o legislado”7.

O termo “flexibilização” das leis trabalhistas aparece em 2005 pela primeira vez nos

discursos dos presidentes, momento em que a justiça do trabalho ganhava sobrevida,

um sopro de esperança, marcado pelo arrefecimento dos ataques, e que duraria até a

reforma de 2016.

b) Arrefecimento das críticas à Justiça do Trabalho

Nos anos seguintes à Emenda n°45, a intensidade dos ataques se arrefece, e

inicia-se um período em que se manifesta verdadeira credibilidade à justiça do

trabalho. As ameaças de eliminação são percebidas como algo do passado. A

desembargadora Doris Luise de Castro Neves, no seu discurso de entrega do cargo de

presidente de 2009 se permite afirmar que “em um passado não muito distante

ecoaram vozes pela extinção da Justiça do Trabalho”8. Ela afirma, ainda, ter ficado

“feliz de deixar o exercício da magistratura trabalhista [aposentava-se na ocasião]

após a edição da Emenda Constitucional n° 45, que, ampliando a nossa competência,

vem fortalecer essa Justiça Especial”9. Esse período de credibilidade perdura, ao

menos, até o discurso de posse, para o biênio 2013-2014, do desembargador Carlos

Alberto Araújo Drummond: “E não sem razão o Tribunal de hoje se vê reconhecido

por suas qualidades no cenário trabalhista nacional. Magistrados e servidores têm

demonstrado capacidade de superação, batendo metas de produtividade, tanto no

primeiro quanto no segundo grau, com muito esforço”10.

Entre 2005 e 2015, os ataques à justiça do trabalho diminuem, e passa-se a

evocar a necessidade de recuperação e afirmação da credibilidade do TRT1. O

presidente Ivan Dias Rodrigues Alves fala, no seu discurso de posse, de “busca da

recuperação da credibilidade”, como pressuposto do “novo sistema de gestão”

7 Discurso de posse da presidência do desembargador Ivan Dias Rodrigues Alves, 28 de março de 2005, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 17. 8 Discurso de entrega da presidência da desembargadora Doris Luise de Castro Neves, 03 de março de 2009, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 7. 9 Discurso de entrega da presidência da desembargadora Doris Luise de Castro Neves, 03 de março de 2009, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 7. 10 Discurso de posse da presidência do desembargador Carlos Alberto Araújo Drummond, 01 de março de 2013, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região,p. 15.

28

proposto por ele11. Na gestão seguinte (2007-2008), a presidente empossada Doris

Luise Castro Neves fala sobre a necessidade de “dar continuidade ao intenso trabalho

desenvolvido pelas últimas administrações no sentido de restabelecer o conceito e a

credibilidade do nosso Tribunal”12. Sua administração, conclui ele, fará o “máximo

para preservar e realçar a imagem e a dignidade” do TRT113. Percebe-se que neste

esforço em mobilizar os meios para afirmação da credibilidade da justiça do trabalho

há também a construção de discurso sobre a particularidade histórica do prédio do

TRT1. É, neste sentido, a afirmação da presidente Doris Luise Castro Neves no

momento de entrega do seu cargo: “Falo deste Tribunal que, para orgulho nosso, tem

uma história própria, uma realidade que os dirigentes dos demais (...). Foi o primeiro

Tribunal do Trabalho a ser instalado no então Distrito Federal; não nos foi dada a

sede, não havia preocupação com as instalações. Apesar disso, nosso Tribunal foi

protagonista da ideia de instituir um órgão que desse efetividade ao Direito do

Trabalho no Brasil, trazendo para o Judiciário conflitos que, antes, ou se submetiam

ao formalismo da Justiça Comum ou permaneciam sem solução”14.

Neste período de dez anos, a justiça do trabalho pôde experimentar um

período de expansão e consolidação como modelo avançado de jurisdição com uso da

tecnologia para buscar a tão almejada celeridade. No entanto, a modernização e

informatização da sua administração, com ampliação do raio de competência,

provocou aumento do volume de ações e processos judiciais. É neste novo contexto

que os ataques à justiça reaparecem, mas de maneira renovada.

c) Descrença para contra-atacar

Na cerimônia de posse para o biênio 2015-2016 note-se um sentimento de

preocupação com a iminente eliminação da justiça do trabalho como fruto de

11Discurso de posse da presidência do desembargador Ivan Dias Rodrigues Alves, 28 de março de 2005, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região,p. 20. 12Discurso de posse da presidência da desembargadora Doris Luise de Castro Neves, 29 de março de 2007, Ata da 2a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 4. 13Discurso de posse da presidência da desembargadora Doris Luise de Castro Neves, 29 de março de 2007, Ata da 2a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 4. 14Discurso de entrega da presidência da desembargadora Doris Luise de Castro Neves, 03 de março de 2009, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 4.

29

reformas pontuais propostas para excluir ou diminuir a presença do Estado das

relações de trabalho. A conjuntura política da época, de instabilidade das suas

principais instituições, deixava o cenário nacional em letargia com grande incerteza

quanto ao futuro. O discurso da desembargadora Maria das Graças Cabral Viegas

Paranhos captou muito bem esse momento de retorno do ataque à justiça do trabalho:

“Nós vivenciamos a eliminação da legislação trabalhista geral. Inicialmente com a

desburocratização, a desregulamentação das relações de trabalho, a criação do

Contrato Coletivo de Trabalho, com a solução dos conflitos sem interferência do

Estado, o que nos preocupa, porque os que defendem este sistema, consideram o

Poder Judiciário Trabalhista como um estorvo nas relações de trabalho”15.

Mas o ataque à justiça do trabalho reaparece de modo renovado, e não se vê

mais o posicionamento defensivo enérgico por parte de alguns presidente que

demonstram certa descrença. Já no discurso de posse de 2015, se a ameaça de

extinção é relatada com apreensão, reconhece-se a existência de “uma verdadeira

crise de litigiosidade”, esta causada pela ampliação da competência da justiça do

trabalho que fez aumentar, ainda mais, o número de processos e exigir maior

especialização dos juízes: “Tivemos a ampliação da nossa competência coma Emenda

n° 45, quando passamos também a julgar o dano moral e também os acidentes de

trabalho. E , com isso, tivemos, também, o aumento do nosso trabalho. Passamos a

atuar no combate ao trabalho escravo, ao trafico de pessoas e ao trabalho infantil (...).

Então, esta especialização dos juízes é uma exigência imposta pela natureza dos

conflitos a resolver. No Brasil, não temos um sistema de gestão profissional nos

tribunais, como nos Estados Unidos e em outros países, o que exige especialização.

Ha uma verdadeira crise de litigiosidade ,o mundo, inclusive no Brasil. Quase tudo

passa pelo crivo do Judiciário”16.

O posicionamento de descrença é também fruto da tomada de consciência a

propósito da necessidade de profissionalização da gestão administrativa, como que os

longos anos de luta pela modernização e informatização do TRT1, de melhoria da

prestação jurisdicional, de aumento da celeridade do processo, seria em vão se não

fosse acompanhado de uma expertização do setor da administração. É, neste sentido, 15 Discurso de posse da presidência da desembargadora Maria das Graças Cabral Viegas Paranhos, 30 de janeiro de 2015, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região,p. 25. 16 Discurso de posse da presidência da desembargadora Maria das Graças Cabral Viegas Paranhos, 30 de janeiro de 2015, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 25-26.

30

as palavras proferidas pela desembargadora Maria das Graças Cabral Viegas

Paranhos: “Além da função judicante de despachar, realizar audiências, julgar, o juiz

ainda tem que se especializar em gestão judiciária, gestão de processos

administrativos, gestão de pessoas, gestão tecnológica e cumprimento de metas”17.

O desembargador Fernando Antônio Zorzenon da Silva sublinha, no seu

discurso de posse para o biênio 2017-2018, que muito embora a justiça do trabalho

seja “a mais célere das Justiças que existem no Brasil..., renovam-se os ataques à

nossa instituição”18. Os ataques estão agora conectados não só com a ideologia

neoliberal de diminuição ou extinção do Estado nas relações de trabalho, mas também

com a nova política econômica de redução do orçamento das instituições, bem como

do contingenciamento do investimento público em diversos setores. Nesta mesma

ocasião, o desembargador empossado afirma que os autores desses ataques atribuem

equivocadamente à justiça do trabalho “parte da responsabilidade pela crise financeira

e pela diminuição do crescimento do país”19.

Dos ataques à justiça do trabalho segue-se medidas de governo com corte no

orçamento anual, o que exigiu maior adaptação da gestão administrativa. No discurso

de entrega do cargo, em 2017, a desembargadora Maria das Graças Cabral Viegas

Paranhos lembra que sua gestão foi marcada por “corte orçamentário determinado

para a Justiça do Trabalho pela Lei Orçamentária Anual, que nos atingiu em cerca de

32% do orçamento de custeio 90% das dotações de investimento até então previstos

na proposta inicial. Com menos verba, alguns Regionais duvidaram da possibilidade

de manter sua estrutura em pleno funcionamento até o fim do ano e chegaram a

afirmar que fechariam as portas. A solução encontrada por todos foi reduzir despesas,

otimizar gastos...”20.

Por fim, a reforma trabalhista de 2016 é justificada por alguns presidentes

como medida salutar para acabar com a “aventura jurídica”. Em entrevista, ex-

17 Discurso de posse da presidência da desembargadora Maria das Graças Cabral Viegas Paranhos, 30 de janeiro de 2015, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 26. 18 Discurso de posse da presidência do desembargador Fernando Antônio Zorzenon da Silva, 27 de janeiro de 2017, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 22. 19 Discurso de posse da presidência do desembargador Fernando Antônio Zorzenon da Silva, 27 de janeiro de 2017, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 22. 20 Discurso de entrega do cargo de presidente da desembargadora Maria das Graças Cabral Viegas Paranhos, 27 de janeiro de 2017, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 6.

31

presidente Maria de Lourdes Sallaberry afirma que “(...) não houve uma grande

reforma trabalhista do direito do trabalho, houve sim uma flexibilização que veio da

terceirização, que já existia não há uma grande modificação, eu acho que a grande

modificação é do processo do trabalho, que realmente o trabalhador tinha um acesso

muito fácil a justiça do trabalho, eu não acho ruim acho isso bom, os trabalhadores

abusaram entraram pedindo qualquer coisa, porque eles nunca eram condenados em

custas (...)”21.O argumento dos aventureiros também aparece na fala do ex-presidente

Aloysio Santos: “O que dizem hoje é que o Brasil, em termos de legislação trabalhista

evoluiu, mas a gente ouve também é que as empresas é que conseguiram essa lei que

ela queria. Elas queriam essa lei e conseguiram. As aventuras trabalhistas em

processo diminuíram muito. Diminuiu muito o número de processos. Você entrar

numa aventura trabalhista hoje custa muito caro”22. O ex-presidente Nelson Tomaz

Braga parece ir no mesmo rumo, muito embora não relacione a presença dos

“aventureiros” diretamente à questão da suposta morosidade da Justiça do Trabalho.

Ele afirma que:

N – Mas veja bem: o que precisava é acabar com os aventureiros. É aquela história: joga o barro na

parede, se colar, colou. Quando não tinha sucumbência, ta?... Eu uma vez apanhei da Ordem (dos

advogados do Brasil) porque eu disse que o advogado tinha que ser condenado. O autor da ação, ele

não sabe o que o advogado diz algo ao empregado, mas chega lá não é nada disso e a empresa prova

que pagou tudo a ele, que só tem umas horas extras pendentes. Quer dizer: por que não entrou só

pedindo as horas extras? Geralmente sempre falta hora extra, isso é normal. Isso é normal no Brasil,

mas eu acho que tinha que acabar com essa ‘indústria’ da hora extra. Na Europa não tem isso, chegou a

tantas horas, acabou e não tem mais. Tem alguns restaurantes que a gente vai aqui no Rio que é assim:

chega uma determinada hora e não tem mais.

Agora, é engraçado né: todo mundo gosta de ir pros Estados Unidos trabalhar lá. Lá não tem

décimo terceiro, lá não tem férias como aqui. Lá não tem nada do que tem aqui, mas aqui querem

mamar na teta da viúva (Nelson Tomaz Braga).

Outros mantêm uma posição crítica em face da reforma trabalhista, a exemplo

do ex-presidente Ivan Rodrigues Alves que a considera como uma “reforma

capenga”, mas, por outro lado, reconhece resignadamente que o ataque à justiça do

trabalho para reduzir direitos do empregado é uma “tendência atual”23.

21 Transcrição da entrevista da ex-presidente Maria de Lourdes Sallaberry, p. 24. 22 Transcrição da entrevista do ex-presidente Aloysio Santos, p. 25. 23Transcrição da entrevista do ex-presidente Ivan Rodrigues Alves, p. 9.

32

Os discursos permitem compreender a dimensão diacrônica, ou seja, como a

defesa da Justiça do Trabalho se modifica ao longo do tempo. Ao consultar a

documentação oral produzida, também percebemos certa descrença, acompanhada,

sobretudo, pela contemplação operacional das medidas que teriam de ser adotadas. As

declarações da ex-presidente Maria de Lourdes Sallaberry vai nesta direção:

E - E como a Sra. vê o futuro do Tribunal assim, agora fazendo questões mais para o futuro?

S - Primeiro é o seguinte, não vai acabar porque não, se você me disser daqui a 20 anos até pode ser,

não vai acabar porque operacionalmente fica meio difícil de fazer, a operacionalidade da extinção da

justiça do trabalho fica complicado tá, primeiro aqui no RJ quem implantou o processo judicial

eletrônico foi eu, foi na minha administração foi implantado do PJe, eu implantei em todas as varas do

RJ, não implantei em todo o estado RJ, mas consegui implantar em todo, foi uma confusão danada, os

advogados só faltavam me jogar pedra, ai bom implantei em todos, ai veio o processo eletrônico que

realmente facilitou muito, mais muito.

(...)

S - Agora esse negócio de Justiça do Trabalho separado de uma outra, como justiça especial eu acho

que não vai acabar, não vai acabar com a composição dos litígios judiciais dos conflitos entre

empregado e empregador, o direito do trabalho não acaba, o processo do trabalho não acaba, o que

acaba é a estrutura da justiça do trabalho, que vai ser é absorvida pela justiça comum o mais certo, mas

é impossível pois nós somos remunerados pela União e justiça comum é remunerado pelo Estado, se

fosse pelo Estado seria ótimo aqui porque o estado aqui é pobre mas remunera bem os juízes, mas

vamos supor alguém do estado do Tocantins que eu não sei, mas o juiz federal deve ganhar muito mais

que o juiz estadual do Tocantins, porque cada estado tem a sua autonomia de fixar o vencimento do

juiz, e o juiz federal é federal. Então esse negócio de não pode acabar com a justiça do trabalho, porque

a justiça do trabalho é defensora do trabalhador, não é defensora dos trabalhadores. A justiça do

trabalho é para compor os litígios entre empregado e empregador, é para aplicar o direito do trabalho,

então não é para defender empregado nem defende empregador, por que os empregados têm acesso a

justiça do trabalho, aí sim.

(...)

S - A justiça do trabalho vai acabar como órgão especial, do ramo do poder judiciário, eu acho difícil

por conta da operacionalidade só isso, agora não tenho nem contra nem a favor acabar ou manter a

justiça do trabalho, como eu também não vejo porque existe a justiça federal especial para a União, eu

acho que tudo tinha que ser a justiça comum tudo tinha que ser o Estado desse, a justiça tinha que ser

do Estado (Maria de Lourdes Sallaberry).

33

Ou ainda o ex-presidente Carlos Araújo Drummond que parece observar as

nuances da narrativa sobre a extinção da Justiça do Trabalho há algum tempo. Com

descrença, ele também cita motivos operacionais:

D - Essa coisa de acabar com a Justiça do Trabalho sempre houve. A imprensa dá mais ou menos

divulgação a isso dependendo de suas conveniências e a gente sabe que a imprensa vive de

conveniência... Quem paga mais, quem dá mais assunto. Enfim, o mundo é esse. É um mundo

competitivo sempre em torno de valores econômicos. Eu fiquei 37 anos na Justiça do Trabalho vai pra

40 anos... Eu sempre ouvi esse discurso com maior ou menor vigor. Eu nunca me deixei impressionar

por esse discurso. Na verdade, eu acho que esse discurso é uma cortina de fumaça pra articular outros

expedientes, como esse da reforma, o que não me pareceu bom. É claro que tem coisas boas...

Progresso. Não há como fugir a certo sentimento de progresso, mas no geral sempre foi uma cortina de

fumaça para encobrir algum expediente que tentasse minimizar a Justiça do Trabalho. Nesses 40 anos a

Justiça do Trabalho sempre cresceu prestigiada pelo povo. É uma advocacia muito atuante. Com

exageros? O ser humano... Há de tudo em todos os lugares. Sempre cresceu e eu espero que cresça

mais. Hoje os problemas vêm com maior velocidade... É o mundo. Agora, eu acho que a visão de cada

um tem a ver com o posicionamento de cada um. Eu lamento muito que tenha um pouco de ideologia.

Eu acho que o juiz não pode ter ideologia. Partidarismo muito menos. Hoje eu vejo um pouco de

ideologia e ideologia partidária. Eu acho que isso não é tolerável. O juiz ele como pessoa tem que

conhecer e ter uma boa visão do mundo, mas como magistrado ele tem a lei. Eu sou legalista. Eu não

acredito muito em decisão de cunho social. Se eu acho que a lei está ruim, eu que cuide de elaborar um

projeto e encaminhar a um deputado ou senador, não é? Sempre se fez isso. O TST sempre mandou

projetos e muita coisa que se tem na legislação foi criação dos tribunais, com propostas dos tribunais.

Eu acho que o caminho é esse. A lei está sempre a quem do caminhar da sociedade. E é assim mesmo

porque a sociedade é ágil, ela muda com mais facilidade. A lei vem a reboque, mas e a lei. Então eu

não acredito que acabe a Justiça do Trabalho. Acabar com as varas... Nisso eu não acredito, mas acho

que eles podem colocar empecilhos. Eu não sei o que dizer porque como eu não frequento a associação

(AMATRA)... Eu não sou nem sócio. Eu não sei, como eu ouvi falar, que o número de ações caiu

muito. Eu acho que isso é um momento. Os advogados vão aprender a lidar com essa dificuldade e os

juízes também vão aprender a lidar com isso. Eu espero que essa parte de imposição de custas de

honorários a empregados, em qualquer caso (com ênfase), de forma indiscriminada, não permaneça. O

TST tem se manifestado contra isso e eu sinceramente não acredito no fim da Justiça do Trabalho até

porque economicamente não irá implicar muito. Imagina: você acaba com o Tribunal, pega os

desembargadores e transfere para a instância federal. Junta tudo num tribunal federal: isso vai

economizar o quê? Nada. Só vai mudar de nome. Vai transformar em vara especializada da Justiça

Federal? Eles já têm trabalho demais, não vão querer algo assim. Ninguém quer isso (Carlos Araújo

Drummond).

34

Já o ex-presidente Iralton Benigno Cavalcanti alerta que as investidas contra a

Justiça do Trabalho ocorrem em função de sua finalidade social:

E – Dr. há um terceiro ponto que o sr. coloca no discurso e, que a gente ouve muito, mas eu acho que o

sr. explicitou com maior clareza: é de que há certo ataque à Justiça do Trabalho.

I – Como se ela fosse uma Justiça menor. O que eu posso dizer é que a Justiça do Trabalho se destaca

por ser uma Justiça mais social e se você pegar a lei de introdução ao Código Civil, desde 1916, que os

juízes devem atentar à finalidade social da lei. No Direito do Trabalho, o juiz tem (enfaticamente) que

atentar porque finalidade social vai dar ao juiz aquele equilíbrio que é preciso pra botar na balança

porque elas então se tornam iguais mesmo sendo diferentes.

E – O sr. tocou num ponto interesse: é através da finalidade social é que se atinge o equilíbrio. O sr.

acha que há um processo de desvalorização do trabalho?

I – Talvez porque entendam que a Justiça do Trabalho, por ter a limitação da matéria, ela fosse menos

do que a Justiça comum. Mas ela não é menos. Eu posso dizer que, dentro de seus limites, ela é igual.

As matérias mais amplas da Justiça comum só subsidiariamente chegarão à Justiça do Trabalho (Iralton

Benigno Cavalcanti).

Nesta passagem, tem-se a impressão que justamente por ter uma finalidade social, a

Justiça do Trabalho seria percebida como um braço menor do Poder Judiciário.

2. Celeridade da Justiça do Trabalho

A morosidade na prestação jurisdicional é um tema recorrente nos discursos

desde o primeiro ano da série de atas. Num primeiro momento, para explicar a

morosidade, fala-se em “descompasso entre o crescimento acelerado da demanda

judiciária e o indispensável aumento da sua estrutura”24. Em alguns discursos, a

morosidade está associada à insuficiência da estrutura externa (defasagem de

magistrados e servidores, necessidade do número de varas trabalhistas, etc.), mas em

outros, ligado ao plano da estrutura interna. Em 1986, o desembargador José Teófilo

Vianna Clementino, aponta que ambas as esferas, interna e externa, devem ser levadas

24 Discurso de posse do desembargador Fernando Tasso Fragoso Pires, 15 de dezembro de 1988, Ata da 6a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 5.

35

em conta. Ele reconhece que a estrutura externa do tribunal cresceu nos últimos anos,

muito por causa do aumento das ações trabalhistas, o que forçou a expansão do

quadro de funcionários “de 800 para 2.300”, mas “sua organização interna não tem

acompanhado ou não tem se adequado à realidade”25. O tribunal é encarado do ponto

de vista administrativo, e tem-se a consciência que uma ampliação da sua parte física

e de seus recursos humanos (magistrados e servidores) deve vir acompanhada de

soluções de reestruturação na organização interna. Os “conceitos de administração,

diz o próprio desembargador Clementino no seu discurso de posse, que valem para

qualquer empresa, valem também para os órgãos da administração pública e como

este Tribunal não é um organismo estático, ao contrário, a cada momento cresce na

medida em que o país se desenvolve”26.

Em 1992, na gestão do desembargador José Maria de Mello Porto, a

morosidade é tratada em conjunto com outros problemas encontrados na justiça do

trabalho, e o binômio “modernidade e celeridade” parece constituir o principal lema

de sua gestão, como se pode verificar no seu discurso de posse: “...tenho o firme

propósito de... fazer uma administração voltada, sob todos os aspectos, para a

modernidade e celeridade, erradicando velhos e superados métodos e hábitos

burocrático-administrativos, que inibem o funcionamento normal desta Casa”27. Sua

gestão será marcada por medidas tomadas tanto no plano da estrutura externa como

aquele da estrutura interna, e a principal delas, que restará na memória dos seus pares

e, portanto, na biografia institucional, foi a informatização da justiça do trabalho.

Em 1996, no discurso de posse do desembargador Luiz Carlos Brito, não se

aponta a morosidade na justiça do trabalho, e fala-se de “anseio da sociedade por

maior celeridade no julgamento dos processos”28. Ao que parece, neste ano de ataque

à justiça do trabalho, vindo de muitos setores da sociedade e de alguns partidos do

Congresso Nacional, pugnando pela sua extinção, não seria conveniente falar em falta

de celeridade. No entanto, um outro elemento aparece vinculado à perda de

celeridade: o esvaziamento dos quadros funcionais do poder judiciário. Como aponta

25 Discurso de posse do desembargador José Teófilo Vianna Clementino, 15 de dezembro de 1986, Ata da Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 10. 26 Discurso de posse do desembargador José Teófilo Vianna Clementino, 15 de dezembro de 1986, Ata da Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 10. 27 Discurso de posse do desembargador José Maria de Mello Porto, 15 de dezembro de 1992, Ata da 5a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 22. 28 Discurso de posse do desembargador Luiz Carlos de Brito, 13 de dezembro de 1996, Ata da 6a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 23.

36

o desembargador Luiz Carlos Brito, os aprovados nos concursos decidem não tomar

posse por causa dos baixos salários ofertados se comparados com aqueles do poder

executivo: a “evasão..., só na justiça Federal, em 1994, foi de 42.5% e em 1995 foi de

68.4%”29. Outro ponto, já antigo, mas que reaparece aqui sob outros números, é a

defasagem entre o número de juízes e o aumento de processos em tramitação no

judiciário: “em 1988 eram 800.600 e hoje [1996] ultrapassam os 6 milhões nas mãos

de cerca de 8.600 valorosos e extenuados juízes”30.

Em 1999, o tema da celeridade desaparece do discurso dando lugar àquele de

“defesa do judiciário trabalhista”, e a principal preocupação passa ser a redução da

verba pública. Em 2001, a necessidade de celeridade é apontada como uma demanda

própria a classe dos advogados31. Em 2003, o desembargador Nelson Thomaz Braga,

retoma o tema e afirma no seu discurso de posse que “justiça morosa é injustiça”32.

Para ele, o aumento da celeridade deve ser buscado pela informatização do tribunal.

Aqui, a modernização levada a cabo no passado pelo então presidente José Maria de

Mello Porto são doravante encaradas como obsoletas e ultrapassadas. Sua gestão

pretende “priorizar de modo significativo a informática do nosso Tribunal, que não

pode ser chamada de jurássica, pois jurássica, para a nossa realidade, seria até

elogio”33.

No discurso de posse da presidência para o biênio 2005-2006 nota-se mudança

de paradigma sobre o modo de administrar o TRT1. Pretende-se “cessar o

gerenciamento de rotina do sistema judiciário” e buscar inovação por intermédio da

ousadia e criação. Para o presidente empossado Ivan Dias Rodrigues Alves, “se

adotarmos sempre apenas as mesmas soluções: mais juízes, mais funcionários, mais

órgãos de decisão, jamais sairemos do círculo vicioso em que entramos. Se

aceitarmos mensamente as ideias propugnadas... , seja pela adoção de controles

internos de terror e perseguições, seja por controle externos que maculam até mesmo

29 Discurso de posse do desembargador Luiz Carlos de Brito, 13 de dezembro de 1996, Ata da 6a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 23. 30 Discurso de posse do desembargador Luiz Carlos de Brito, 13 de dezembro de 1996, Ata da 6a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 24. 31 Discurso de posse da desembargadora Ana Maria Passos Cossermelli, 19 de março de 2001, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 8. 32 Discurso de posse do cargo do desembargador Nelson Thomaz Braga, 17 de março de 2003, Ata da 1a Sessão Solene do Órgão Especial do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 20. 33 Discurso de posse do desembargador Nelson Thomaz Braga, 17 de março de 2003, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 20.

37

a imagem e a conceituação do Judiciário...”34. De fato, na sua gestão foi

implementado o sistema de acompanhamento processual on line.

Em 2007-2008, no seu discurso de posse, Doris Castro Neves pretende dar

continuidade à informatização do tribunal e avançar neste campo, “redirecionar a nau

para um porto mais seguro”, para dispor de um “sistema de informática nos mesmos

níveis que já vêm sendo experimentados pelo Brasil afora”, com o intuito de permitir

o acesso on line das peças processuais35. Durante a sua gestão, a informatização

completa do tribunal não foi possível por questões de ordem técnica, vez que o

modelo proposto, o da plataforma fechada, revelou-se inadequado36.

No discurso de posse de Aloysio Santos, para o biênio 2009-2010, a questão

da informatização do TRT torna-se a principal meta da gestão para resolver o

problema da morosidade. Superar as dificuldades encontradas na gestão anterior, que

tanto desapontou “os usuários internos e externos”, é a principal “missão da nova

direção”37.É necessário, continua ele, “dedicar todo o tempo necessário ao sistema de

informação do Tribunal”, pois “não há tempo, não ha recursos, não ha outro

caminho”38.

No entanto, ao que parece, a questão da informatização, esta ligada àquela da

lentidão da justiça do trabalho, ainda estava por resolver, e isto fica exposto no

discurso de posse da desembargadora Maria de Lourdes Sallaberry, para o biênio

2011-2012, na seguinte passagem: “Certo que muitas são as dificuldades: morosidade

do processo, escassez de juízes e servidores, orçamento apertado”39.Em entrevista, a

ex-presidente confirma que a informatização havia se tornado uma condição

imprescindível à maior celeridade na justiça do trabalho e que implantou o processo

judicial eletrônico na sua administração, o que “facilitou muito”40.

Na gestão do desembargador Carlos Alberto Araújo Drummond, para o biênio

2015-2016, ocorre a “implantação integral do processo judicial eletrônico da justiça 34 Discurso de posse do desembargador Ivan Dias Rodrigues Alves, 28 de março de 2005, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 19. 35 Discurso de posse da desembargadora Doris Castro Neves, 29 de março de 2007, Ata da 2a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 16-17. 36 Discurso de entrega do cargo da desembargadora Doris Castro Neves, 03 de março de 2009, Ata da 1a Sessão Solene do Órgão Especial do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 5-6. 37 Discurso de posse do desembargador Aloysio Santos, 03 de março de 2009, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 25. 38 Discurso de posse do desembargador Aloysio Santos, 03 de março de 2009, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 25. 39 Discurso de posse da desembargadora Maria de Lourdes Sallaberry, 25 de março de 2011, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 19. 40 Depoimento em entrevista de Maria de Lourdes Sallaberry, p. 23.

38

do trabalho”41. Em sua entrevista, o ex-presidente narra os conflitos que sucederam

até a implantação do processo judicial eletrônico. Mesmo com apoio do Tribunal

Superior do Trabalho, encontrou algumas resistências, sobretudo, da parte dos

advogados. Ele então conta:

E - E como foi esse processo?

D - Ah, foi muito trabalho, mas foi muito importante, porque, nossa visão era de que, o primeiro ia ser

prestigiado pelo TST e pelo CNJ, pois aquilo era um projeto do CNJ, então, ser o primeiro fez com que

nós tivéssemos todo apoio do TST e do CNJ. Tivemos problemas imensos, mas nós sabíamos que

teríamos. Aí, nós vemos, na época, como foi a passagem do processo manuscrito pra máquina de

escrever, foi uma revolução... Rui Barbosa queria jogar as máquinas de escrever em cima dos

escriturários (risos), porque era um negócio tão bonito aquele manuscrito, e agora, vem o cara com

aquela máquina, fazendo barulho, com a letra não personalizada... então, nós sabíamos que ia ser uma

revolução, mas, era o progresso, era o futuro, nessa época, todos os bancos já eram eletrônicos.

Imagina se a gente podia ter medo de trabalho eletrônico. Enfrentamos resistências de todos os tipos,

mas foi um momento muito bom da minha vida. Tivemos muito apoio da OAB, embora sob alguns

protestos, mas sempre um teor respeitoso...

(...)

D – No Tribunal é pouco, lá é raro. Mas teve pelo menos dois problemas sérios. É claro que houve

outros, mas que eu me lembre, né. Um deles foi na implantação do PJe. Nela, os advogados

insatisfeitos, e isso é até compreensível, fizeram muita pressão contra o PJe, mas o CNJ e o TST

tinham estabelecido uma estratégia única: não retroceder. Vamos em frente. Podemos até suspender,

um dia, dois dias, uma semana, mas se nós retrocedermos, os presidentes do CNJ e do TST achavam

que nós íamos levar mais dez anos pra implantar. Como eles já sabiam que a resistência ia ser grande,

eles já estabeleceram essa estratégia. Então, retrocedia-se em apenas em um ponto ou outro. Por

exemplo: nesse momento o presidente não era mais o Ministro Dalazen, mas o Ministro Carlos

Alberto, que eu peguei dois. Os nossos mandatos não eram coincidentes com o TST, então num

primeiro momento era o Ministro Dalazen e depois o Ministro Carlos Alberto.

Nesse momento, o PJe tava muito ruim, os advogados precisavam entrar com medidas

urgentes e não conseguiam pelo PJe. O Ministro Carlos Alberto, então, permitiu o uso do papel, mas só

para urgências. Isso não era um retrocesso, era uma coisa sensata. Nesse momento os advogados

procuraram a imprensa e ela realmente nos atacou e eu pessoalmente fui atacado, mas não era um

projeto meu. Era um projeto nacional, eu era só um instrumento.

41 Discurso de entrega do cargo de presidente do desembargador Carlos Alberto Araújo Drummond, 30 de janeiro de 2015, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 5.

39

Um repórter falecido em um acidente, que você sabe quem é, ele me atacou pessoalmente e

depois me convidou pra ir ao programa dele. Eu recusei o convite até porque era rádio e pra nós, que

não temos experiência com a imprensa. Nós não temos experiência com a imprensa e é muito fácil cair

numa armadilha. Então eu recusei e foi ótimo porque no dia seguinte porque promoveram todos os

trabalhos para o presidente da OAB. Era o que os advogados queriam e ele representava os advogados

como massa queria, ou seja, como grupo. Ele pessoalmente era muito ponderado e tinha um contato

muito bom comigo. Ele me explicou o que ele ia fazer e disse que fizesse porque era o papel

institucional dele. Eu não aceitei o convite para o dia seguinte da entrevista, mas soube que no dia

seguinte eles iam acampar na porta da (Rua do) Lavradio... Você sabe onde fica a Lavradio né? Ali fica

o grosso das varas. Eles iam fazer um protesto lá às 09:00-10:00 da manhã, com faixas, cartazes e tal.

Aí eu liguei para o presidente (da OAB) e disse que estaria lá. Acho que ele não acreditou (risos).

Quando eles chegaram, eu estava lá e isso desarma qualquer protesto. E claro que no final da

tarde eu já tinha entrado em contato com o Ministro Carlos Alberto e tinha falado para ele qual era,

naquele momento, o grande problema. Realmente o PJe estava travado, as medidas de urgência

estavam difíceis, para os advogados. Então ele me disse que no dia seguinte ele ia assinar o ato, mas

que eu já podia anunciar, que a petição escrita estava autorizada pelo prazo que fosse necessário.

A minha presença já desarticulou um pouco o protesto, ou seja, foi um protesto educado e

quando eu anunciei que o problema estava resolvido, o protesto se tornou em um congraçamento. É

claro que houve embates posteriores (risos), mas aí foram mais críticos até porque havia sido

anunciado e o repórter foi extremamente desagradável. No dia seguinte, ele disse que os advogados

tinham estado lá, que tinham feito um estardalhaço todo e que iam fazer um protesto, mas não fizeram

coisa alguma. O que ele não contou é que não fizeram coisa alguma porque não tinha mais... É a coisa

da imprensa...

A desembargadora Maria das Graças Cabral Viegas Paranhos, no seu discurso de

posse, em cerimônia realizada no Theatro Municipal, para assumir a administração da

presidência no biênio 2015-2016, apenas confirma que o “processo judicial eletrônico

em nossa justiça é uma realidade, já instalado cem por cento das unidades judiciarias

do Estado, hoje se apresenta mais eficaz”42. Ela aponta, por outro lado, um outro

fenômeno provocado com a informatização integral do TRT, o do aumento do

ajuizamento de ações e de processos, verdadeira “cultura de judicialização”43. O

reconhecimento do aumento significativo do número de ações prepara o terreno para

42 Discurso de posse da desembargadora Maria das Graças Cabral Viegas Paranhos, 30 de janeiro de 2015, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 27. 43 Discurso de posse da desembargadora Maria das Graças Cabral Viegas Paranhos, 30 de janeiro de 2015, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 26.

40

o desenvolvimento do discurso da existência de “aventureiros da justiça do trabalho”

como já demonstrado.

Na posse do desembargador Fernando Antônio Zorzenon da Silva, para o

biênio 2017-2018, último discurso examinado na pesquisa, a informatização pode

constituir um entrave à prestação jurisdicional se não for aprimorado44. A

informatização dos tribunais, encarada como solução desde 2005, quando se inicia sua

implantação, agora, com o aumento exponencial das demandas judiciais, suscita

problemas na prestação jurisdicional se não se adaptar constantemente.

3. O prédio do TRT-1 como sede própria

O tema do prédio do TRT1 como sede própria do poder judiciário é recorrente

desde 1984 até 2017 quando foi oficializada a ocupação total do prédio-sede. Ao

longo desses anos a conquista da sede própria tornou-se uma obsessão. Ao contrário

de outros Tribunais Regionais do Trabalho, todos com sede própria, o atual TRT1

ocupa prédio que pertencia originalmente ao antigo Ministério do Trabalho, Industria

e Comércio, criado por Getúlio Vargas, que ali teve sua sede a partir de 1938, data de

inauguração do prédio. Em 1946, o prédio passou a abrigar órgãos do poder judiciário

e dois andares foram destinados ao Tribunal Superior do Trabalho (TST) e ao TRT1.

Com o crescimento e expansão da Justiça do Trabalho, criação de novas Juntas de

Conciliação e Julgamento e Turmas, houve, durante a década de 1970, ocupação de

outros andares do prédio do Ministério do Trabalho. No entanto, a administração do

prédio pertencia, ainda, ao poder executivo, e na maior parte funcionava secretarias

ministeriais. O TRT1 alugava alguns andares, e essa política de aluguel era

consequência do orçamento apertado que impossibilitava o TRT1 de adquirir prédios.

Em Barra do Piraí, por exemplo, chegou-se ao ponto de locar um prédio ainda em

construção, “comprometendo-se o proprietário a adaptar a planta às necessidades e

funcionalidade da JCJ...”45.

44 Discurso de posse do desembargador Fernando Antônio Zorzenon da Silva, 27 de janeiro de 2017, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 24. 45 Discurso de entrega do cargo do presidente Gustavo Câmara Simões Barbosa, Ata da Sessão Solene do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, 14 de dezembro de 1984, p. 2.

41

A aquisição de sede própria ao TRT1 torna-se a principal meta para o biênio

1987-1988, na gestão do desembargador José Teófilo Vianna Clementino. Conforme

seu discurso de posse: “a meta principal de minha gestão, na honrosa Presidência

desta Corte, é a ocupação total deste prédio, tornando-se o Palácio da Justiça do

Trabalhador em lugar de Palácio do Trabalho...”46. O tema ocupa boa parte do seu

discurso. O presidente empossado alega “desconforto de morar em casa alheia”, pois

“na exiguidade de espaço e na promiscuidade com outros órgãos da administração

federal, a ponto de confundida a Justiça do Trabalho com o Ministério do

Trabalho...”47. Afirma, ainda, que em certas ocasiões, na rotina diária do Tribunal, os

juízes sentem-se “humilhados”, porque “impedidos de livre acesso ao elevador dito

das “autoridades”, obrigados a entrar em filas”, e às vezes obrigados a “subirem no

elevador de carga, em meio de lixo, porque o elevador das autoridades fica bloqueado

quando o Ministro do Trabalho que se encontra”. Os carros dos magistrados, continua

ele, ficam “obstados de acesso à garagem pelos carros de outras autoridades

“maiores”. A manifestação de constrangimento dos magistrados do TRT1 em dividir

o mesmo espaço com autoridades do poder executivo ganha uma grande amplitude e

ultrapassa o círculo institucional com uma matéria publicada no Jornal do Brasil de 27

de outubro de 198648. A agitação em torno do tema surtiu efeito, e em 1988 fora

celebrado contrato de comodato com o governo federal por meio do qual a

responsabilidade pela administração do prédio passava a ser feita pelo TRT1. Neste

ano, doze dos quatorze andares passam a ser ocupados pelo TRT1. A ocupação total

era questão de tempo.

Certamente os presidentes posteriores não pensavam que a ocupação total

levaria tanto tempo. E as críticas à situação de compartilhamento do prédio não

cessaram. Ao que parece, desde 1988, quando a administração passou a ser

inteiramente feita pelo TRT1, não houve por parte do poder executivo qualquer

investimento nos andares ocupados por suas secretarias ministeriais. Por isto, na

cerimônia de posse do presidente Luiz Augusto Pimenta de Mello, sessão do dia 14 de

dezembro de 1990, a advogada Moema Baptista, representando a Associação

Brasileira dos Advogados Trabalhistas (ABRAT), fez uma provocação ao final de sua

46 Discurso de posse do presidente José Teófilo Vianna Clementino, 15 de dezembro de 1986,Ata da Sessão Solene do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 8. 47Ibid., p. 6. 48 Ver em anexo.

42

breve fala: “Deixo a V.Exas. uma profunda indagação – Por que será que o Poder

Executivo não investe no nosso Poder Judiciário ?”49

Um mesmo ataque sutil à situação de compartilhamento também aparece no

discurso de entrega do cargo, do presidente Luiz Augusto Pimenta de Mello, quando

lamenta o fato de ter sido obrigado a instalar 21 Juntas de Conciliação e Julgamento

fora do prédio-sede: “...se algum motivo de lamento existe, será ele, certamente, o de

não termos conseguido levar a cabo a instalação deste Tribunal neste prédio, onde

imaginamos com instalações que melhor se adequassem às superiores finalidades

desta egrégia Corte”50.

No seu discurso de posse, para o biênio 1993-1994, José Maria de Mello Porto

muda o tom para se antecipar da necessidade de construção de uma nova sede.

Apenas a conquista dos demais andares do prédio não seria suficiente a suprir o

problema da falta de espaço. Ele discursa com eloquência : “Uma das nossas metas,

em que nos empenharemos com afinco, será a construção da sede própria para esta

instituição que, embora seja o mais antigo Tribunal do Trabalho do Pais, até hoje não

a possui, ao contrario da maioria das entidades congêneres, que há muito realizou esse

ideal”51.

Luís Carlos de Brito, no seu discurso de posse para o biênio 1997-1998, toca

novamente no tema da sede-própria e promete que sua gestão “... Trabalhará no

sentido de oferecer condições condignas de atendimento, colocando à sua disposição

espaço físico adequado que a instituição ainda não tem como propriedade sua, mas

certamente iniciará o processo de solução deste angustiante problema”52. Essa

situação “angustiante” ainda perdurou por mais alguns anos, mas neste ínterim

conquistas pontuais foram feitas, como aquela relatada por Ana Maria Passos

Cossermelli no seu discurso de entrega do cargo de presidente: “...consegui um prédio

para o TRT-RJ, este onde agora estamos, que passou a integrar o patrimônio desta

Casa e que, apesar de não satisfazer por completo todas as necessidades, já é uma 49Discurso da Dra. Moema Baptista, representante da Associação Brasileira dos Advogados Trabalhistas (ABRAT), durante a cerimônia de posse da presidência do desembargador Luiz Augusto Pimenta de Mello, 14 de dezembro de 1990, Ata da Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 11. 50 Discurso de entrega do cargo do presidente Luiz Augusto Pimenta de Mello, 15 de dezembro de 1992, Ata da Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 4. 51Discurso de posse do presidente José Maria de Mello Porto, 15 de dezembro de 1992, Ata da Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 22. 52 Discurso de posse do presidente Luiz Carlos de Brito, 13 de dezembro de 1996,Ata da 6a Sessão Solene do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 25.

43

conquista”53. Sua gestão foi marcada pela tragédia do incêndio de 08.02.2002 que

destruiu a parte superior do prédio do TRT1.

Na ocasião do incêndio é digna de nota a participação dos ex-presidentes Luiz

Augusto Pimenta de Mello e Nelson Tomaz Braga. Nos relatos orais, nota-se que o

incêndio do prédio foi uma grande tragédia e, que exigia medidas céleres, mas que,

por outro lado, provocou a reafirmação da unidade institucional do Tribunal. Em

relação ao incêndio, Nelson Tomaz Braga comenta:

N - Eu nunca pensei de sentar na mesa do congresso nacional (digressão)... O Tribunal pegou fogo e

foi uma lástima Não tínhamos outro jeito. Aí o José Márcio disse pra mim que tínhamos que fazer um

“kit desgraça”. Perplexo, eu perguntei o que era aquilo e ele disse que era uma força de expressão para

a gente mostrar à Brasília o estado do Tribunal. Aí ele disse: “vamos mostrar ao parlamento o que nós

sofremos aqui”. Aí fizemos um filme... Aí, eu pedi ao então deputado Sérgio Cabral que nos abrisse as

portas do congresso nacional. Então eu fui ao congresso nacional, onde me chamaram pra sentar à

mesa. E eu disse que jamais um juiz de um tribunal pensou em sentar no mais alto... Mais alta

(hesita)... No mais alto órgão do parlamento que é o congresso nacional. Ali eu pedi para que fizessem

uma amostra para os deputados que estavam lá. Para a minha surpresa, ali não tinha PT, não tinha

PSDB, não tinha PP, não tinha ninguém... Todos se uniram para tratar do problema da 1ª Região. Eu

disse a eles, né, que eu estava ali... Geralmente a gente vai de pires na mão pedi ao Executivo ou ao

Legislativo. Eu disse que estava com uma bacia na mão e que eu precisava que eles olhassem para o

tribunal. Isso foi a melhor coisa que eu pude fazer, os conselhos que eu recebi (Nelson Tomaz Braga).

Também próximo na gestão Cossermelli, o ex-presidente Luiz Augusto Pimenta de

Mello narra como foi a recuperação do incêndio: L - E foi a época desse incêndio daí. Aí quando deu o incêndio, eu era o assessor da Cossermelli e aí

foi dor de cabeça mesmo pra se conseguir verba para acertar o Tribunal. Eu comecei então, a aprender

licitação, administração... Comecei a aprender tudo. O incêndio aconteceu no dia 8 de 2002. Eu lembro

disso porque foi o aniversário da minha filha. Eu fiquei no Tribunal até o final e rodei tudo quanto é

lado do Tribunal para saber se estava tudo bem. Fui lá em cima onde tinham os gabinetes. Aí saí, to

chegando em casa, o Evandro (Pereira Valadão Lopes), que agora foi nomeado Ministro (do TST), liga

pra mim e disse assim: “Pimenta, o Tribunal ta pegando fogo”. Eu disse: “Evandro, pra quê inventar

isso? É véspera de carnaval e o Tribunal ta pegando fogo? Isso é conversa tua”. Ai, ele falou pra eu

ligar a televisão. E estava mesmo. Viemos eu e meus dois filhos pra cá. Eu querendo entrar no prédio

pra ver se tinha alguém. Meus filhos me impediram e o fogo comendo lá em cima. Isso foi na

presidência de Cossermelli. Depois começou uma movimentação pra saber o que íamos fazer com o

Tribunal. O Tribunal pegou fogo, a laje toda selada.

53 Discurso de entrega do cargo da presidente Ana Maria Passos Cossermelli, 17 de março de 2003, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal leno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 2.

44

A administração não parou, mas algumas Varas... Foi um caos. Depois a questão era arranjar

verba pra começar a fazer o Tribunal funcionar. Isso é que era o “X” do problema porque você chegava

em Brasília pra pedir... Eu estava até conversando isso antes aqui. Pra você manter o Tribunal

funcionando, você tinha que fazer o Emergencial. Muito se fala sobre ele, mas muita gente não

conhece o que é o Emergencial. Nesse caso, o Tribunal estava pra cair mesmo, com as lajes todas. O

Emergencial não se faz de qualquer jeito. Você tem que ver orçamento com três empresas, mas não dá

tempo pra você fazer isso. Aí tivemos que agilizar no Sábado de manhã alguém pra botar aqui dentro

pra ficar escorando as coisas. No Domingo de manhã já tinha gente entrando pra escorar. Foram

fazendo a obra, mas cadê as licitações? E o dinheiro? Cadê? Não se tinha dinheiro pra isso.

Aí eu fui pra Brasília discutir sobre o Emergencial. Eu argumentei que ele é pra você botar pra

funcionar o que estava funcionando antes. Mas então falaram que era só pra estrutura, pra não deixar

cair... Aí eu disse: “e os móveis e tudo mais?”. Aí me disseram que pra isso ia ter que fazer uma

licitação. Essa brincadeira foi rolando, a Concrejato pegou e foi fazendo a obra toda e a gente devendo

dinheiro. Eu e Cossermelli íamos quase que semanalmente pedir dinheiro lá (em Brasília). Daí eu

recebi um telefonema do Ministro da Economia, na época era o Fernando Henrique Cardoso, ligando

pra mim. Eu estava no supermercado e ele disse: “olha doutor, nós vamos mandar, nós vamos mandar o

dinheiro! Vai sair na Medida Provisória assim assado... Deve sair amanhã ou depois”. Aquele dinheiro

era pra eu pegar e dar pra empresa que já tinha começado. Só depois de muito tempo que aquilo saiu

numa Medida Provisória, que eles botaram um tanto pro Minha Casa Minha Vida e colocaram outros

nove milhões nossos pra gente pagar a empresa. Aquilo foi uma briga em Brasília... Ministros do

Tribunal Superior trabalhando junto com a gente. Eu e a Cossermelli sentados lá no Ministério pra

falar. Então foi uma coisa assim... Conseguimos e depois veio obra, uma série de coisas... O Banco do

Brasil foi a administradora porque o Tribunal não tinha a capacidade de gerir uma obra daquele

tamanho. Então foi o Banco do Brasil que coordenou e fiscalizou toda a obra. Depois houve uma

procura por imóvel...

Os outros presidentes já devem ter falado... Depois disso veio Nelson... Depois de mim veio o

Mello Porto. Eu falei de Mello Porto, mas eu tô agora falando de uma época depois de Cossermelli. Eu

vivi o problema todo dessa obra porque Cossermelli delegava tudo. Mas a obra maior foi depois que a

Cossermelli saiu, quando veio o Nelson. E a obra toda, foi o Nelson que tinha que fazer. Depois ele

conseguiu a Lavradio, o que foi uma coisa ótima pro Tribunal, fez aquilo lá, mas a parte de incêndio e

dessas coisas todas ficou com Cossermelli. Mas essa obra não andava, não andava... E daí veio Ivan.

Dizem que o Ivan entregou a Santa Luzia e tem gente que reclama disso, mas o pessoal não sabe o que

acontece para que fosse entregue Santa Luzia. Tudo tem seus pequenos detalhes. Comigo eu sei porque

eu fui presidente, depois como vice corregedor do Mello Porto, aí o Mello Porto fazia tudo e não tive

ingerência. Eu tive muita ingerência, aí sim, do incêndio até o término da obra do Tribunal. Fizeram

um projeto, mas você tinha que estar em cima... Uma coisa assim muito... Um negócio complicado,

mas deu tudo certo, o Dr. Nelson conseguiu a Lavradio. Nós ficamos um bocado de tempo ali na (Rua)

Augusto Severo, no Banco do Brasil. No dia do incêndio, eu saí com um gerente, uma gerente do

Banco do Brasil e o gerentão da Caixa Econômica, que é quem tinha o dinheiro. Ela tinha o dinheiro de

depósito. Mas aí ficava a impressão de que eu gostava do Banco do Brasil e o Nelson gostava da Caixa

45

Econômica. Fui eu que coloquei o Tribunal lá dentro na (Rua) Augusto Severo, mas isso não é questão

de ficar se vangloriando. Foi um momento aqui dentro, era um lugar que a gente procurava. O Banco

do Brasil, na minha visão, era o melhor lugar que tinha. Tanto que não foi tão ruim que ficamos lá até

hoje, pois não conseguimos nada em lugar nenhum. Fala-se: “o Tribunal Regional Federal tem isso e

aquilo...”. Tem, mas é que eles corriam atrás e chegavam na nossa frente. Eles julgam os processos do

governo, então, eles vão dar mais pra quem julga os processos do governo.

Então passou isso... Depois eu fiquei mais um tempo de corregedor, depois eu fui presidente

de turma e fiquei até o final de 2003 quando eu me mandei (risos) (Luiz Augusto Pimenta de Mello).

Esse fato parece ter estagnado o tema da aquisição total do prédio-sede e a

pautada construção de nova sede, já antecipada anos antes por José Maria de Mello

Porto, volta à tona. A gestão do presidente Nelson Tomaz Braga é marcada pela

inauguração do novo prédio do TRT1 na rua Lavradio, no bairro da Lapa, onde

passou a concentrar todas as Varas Trabalhistas da capital54. Muito provável, o fato do

incêndio serviu de mola propulsora à realização deste projeto, o que, por outro lado,

deixou momentaneamente de lado a questão da aquisição do prédio-sede. Ele próprio

narra o episódio da aquisição do prédio da Rua Lavradio:

E – O senhor pode contar um pouco sobre a aquisição do prédio?

N – Pois não. Quando eu tomei posse, no meu discurso eu disse que eu iria mostrar a todos o local

onde seria o Tribunal. Aí o vice presidente do TST, que era futuro presidente, na época disse pra eu não

fazer isso agora, pra eu deixar aquilo pra depois. Eu disse que tudo bem. Aí tomei posse, fomos pra

festa aquela coisa. Três horas acabou a festa. Eu convoquei uma reunião do Tribunal às nove horas da

manhã. Tava todo mundo lá, já tinha um PowerPoint todo pronto e eu falei: “olha só, eu tenho um

prédio que eu já ofereci a outra administração e não quiseram. Eu tenho um prédio que vai ser a futura

sede das Varas do tribunal”. Aí botei o esqueleto do prédio, botei como ia ser aquele prédio da (Rua

do) Lavradio. Olhava todo mundo um pra cara do outro pensando: “ele endoidou de vez”. Então eu

disse a eles que ia inaugurar o prédio em Março... No mais tardar na primeira quinzena de Abril de

2004. Eles se entreolhavam e eu disse que ia levá-los para conhecer o prédio. Então eu mandei botar 54

carros lá em baixo e levei todo mundo pra conhecer o prédio. Minha vice presidente, uma pessoa que

eu tenho muito carinho, Lídia Assunção, Dra. Lídia, ela olhou e falou: “Nelson, você está certo do que

você vai fazer, homem?”. Eu disse a ela que estava certo. O pleno do Tribunal me deu carta branca pra

eu fazer o que eu quisesse. Eu tenho que agradecer aquele pleno de joelhos porque confiou em mim.

Confiou essa missão a mim

E – E depois a reunião...

54 Discurso de entrega do cargo do presidente de Nelson Tomaz Braga, 23 de março de 2005, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 2.

46

N – Depois da reunião eu levei eles lá e eles ficaram muito céticos, né. Eu fui, como se diz hoje na

linguagem da garotada, fui “correr atrás” pra realizar o meu sonho, na verdade, o meu sonho não, o

sonho do meu Tribunal. O sonho não era só meu, eu queria realizar o sonho do meu Tribunal que era

ter sua sede, a sede de suas Varas. E graças a Deus eu consegui. Eu corri, eu fui pra câmara, como eu já

te disse, eu fui pro congresso nacional e consegui isso. Digo a você sem mais nem menos. Hoje em dia

eu chego no Tribunal e o respeito que eu tenho de todos: dos terceirizados, dos funcionários, da porta

da garagem até a presidência do Tribunal. Isso me envaidece muito: receber um abraço e todo mundo

chegar a você, o carinho com que te tratam, entendeu? Eles são muito carinhosos comigo (Nelson

Tomaz Braga).

Na passagem fica clara que o desembargador Nelson Tomaz Braga enxerga a

aquisição do prédio localizado na Rua do Lavradio como uma espécie de “missão”,

mas que envolvia o convencimento dos pares próximos a crerem no projeto. A ideia

de que a aquisição do prédio consiste em uma missão congrega, de fato, um projeto

para o Tribunal (coletivo), mas igualmente a expectativa de deixar uma marca pessoal

em sua gestão. O relato acerca da inauguração ilustra:

N – O prédio da (Rua do) Lavradio, ele foi um convênio com a Caixa Econômica e o Ministro

Mantega, na época, disse que ela foi a primeira PPP (Parceria Público/Privada) do país porque, não

custou um centavo para o erário. A Caixa Econômica bancou toda aquela construção. Aí nós fomos pra

Brasília numa reunião com o presidente da Caixa Econômica. O presidente era o Ministro Carlos

Gustavo Assai e o Ministro Vantouil já ia assumir e aí o Ministro Fausto passou para o Ministro

Vantouil decidir as coisas.

Aí eu expliquei que a gente ia inaugurar com convênio com a Caixa Econômica, disse que

queria inaugurar na minha gestão. Disse que se fosse fazer uma licitação, ia me custar muito tempo e

eu não ia poder inaugurar. Aí, o Ministro disse para que eu mandasse o que eu precisava e que ele iria

analisar. Eu chamei o Zé Márcio e peguei tudo que precisava: cabeamento, mesas ergométricas...

Enfim, tudo que você vê lá hoje... (pequena digressão). No dia da inauguração, eles (os magistrados de

primeiro grau) entregaram receberam uma determinação para irem apenas com seus objetos pessoais.

Estava tudo montado. Nós transportamos quase um milhão de processos e era processo físico. Tinha

um caminhão enorme, tinha batedor do exército pra levar os processos. Antes eu havia mandado o juiz

Claudio Olímpio dar um pulo em São Paulo porque tinha tido um problema porque eles inauguraram

um fórum deles lá e perderam uns processos. Eu disse para o Claudio ir lá e ver o que foi feito de

errado lá. Falei pra ele que não queria errar!

O mais importante, seja o que for, eu não fiz sozinho! Eu fiz com assessoria. Aí o Claudio foi

lá, resolveu e transportamos quase um milhão de processos, com o exército carregando aquela coisa. Lá

(na Rua do Lavradio) ia inaugurar em março e o pessoal me pediu pra atrasar quinze dias. Eu aceitei,

mas disse que queria a inauguração no dia 23 de Abril porque é dia de São Jorge guerreiro. Eu gosto do

guerreiro. Aí disseram: “nós não vamos ter ninguém lá porque é um feriado”.

47

(...) N – Aí a Lourdes Sallaberry (em tom jocoso) disse que eu era louco, que ninguém estaria

presente e que seria um horror. Felizmente eu fui inaugurar no dia 23. Meu amigo, dia 23 tinha banda

de fuzileiro, aí a segurança institucional trouxe carneirinho do colégio militar. Sabe festa de interior,

com aquela parafernália toda? Eu vou inaugurar com tudo que eu tenho direito. Nós tivemos 1,600

pessoas sentadas e um monte de gente em pé. Nós tivemos os presidentes de todos os tribunais daqui

do Rio, o governador foi, foi o presidente da assembleia legislativa e foi aquela inauguração que você

já deve ter visto. Foi uma inauguração que me deu imenso prazer e mais uma vez eu agradeço a todos

os meus colegas que, àquela época confiaram em mim, agradeço também àqueles que não confiaram e

que tentaram fazer alguma coisa. Mas graças aos ser supremo nós superamos tudo isso (Nelson Tomaz

Braga).

Somente em 2011, no discurso de posse da presidente Maria de Lourdes

Sallaberry, a pauta da aquisição da sede própria reaparece com bastante força, sendo

uma das principais metas desta gestão55. Não surpreende o fato da presidente ter,

nesta ocasião, retraçado brevemente a história do prédio, como se quisesse lembrar a

questão da sede própria, já obscurecida desde 2003: “Desde a sua efetiva instalação,

em 1941, após criado pelo Decreto-lei 1.237 de 1939, o Tribunal Regional do

Trabalho encontra-se instalado em ‘uma parte’ do prédio antigo Ministério do

Trabalho, como se ainda estivéssemos na primeira metade do século passado”56.

Relembra, ainda, que o “sonho da casa própria acalentou todas as administrações

anteriores” sem, entretanto, ter sido realizado, e que “apesar de sermos o primeiro,

somos o único Tribunal Regional do Trabalho a não ter sede própria”57.

No discurso de posse do presidente Carlos Alberto Araújo Drummond o tema

da sede própria não é explicitamente evocado, mas se percebe, como já no discurso da

gestão anterior, o recurso à história do TRT1 para legitimar e fortalecer a instituição:

“Este edifício, inaugurado por Getúlio Vargas, em 1938, que hoje abriga o Fórum

Ministro Arnaldo Sussekind, é a nossa casa e muito nos honra recebe-los aqui”58. Na

posse do presidente Fernando Antônio Zorzenon da Silva, a primeira meta de sua

administração, para o biênio 2017-2018, é a aquisição de imóveis, incluindo o prédio-

sede. O fato de ser o primeiro tribunal do Brasil é usado para reforçar a

argumentação: “O primeiro Tribunal do país, o nosso, não tem casa própria. Nos

55 Discurso de posse da presidente Maria de Lourdes Sallaberry, 25 de março de 2011, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 20. 56 Discurso de posse da presidente Maria de Lourdes Sallaberry, 23 de março de 2011, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 20. 57Ibid. 58 Discurso de posse do presidente Carlos Alberto Araújo Drummond, 01 de março de 2013, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 15.

48

gastamos hoje quase trinta e quatro milhões por ano para pagamento de aluguel. É

necessário dar um basta ao pagamento de aluguéis. Não fossem eles, sobrariam

recursos para aplicação de nosso principal e único produto, que é a prestação

jurisdicional”59.

No dia 24 de maio de 2017 é assinado o Termo de Transmissão de Instalações

Físicas, no qual é oficializado a ocupação total do prédio-sede pelo TRT1. E,

finalmente, em 11 de dezembro do mesmo ano, é assinado Termo de Entrega da área

remanescente que estava ocupada pelo Superintendência Regional do Trabalho e

Emprego do Rio de Janeiro (SRTE/RJ).

59Discurso de posse do presidente Fernando Antônio Zorzenon da Silva, 27 de janeiro de 2017, Ata da 1a Sessão Solene do Tribunal Pleno do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, p. 23.

49

IV – DESCRIÇÃO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE AS METODOLOGIAS E OS

MÉTODOS APLICADOS E OS RESULTADOS DA PESQUISA

A metodologia desenvolvida pretende apresentar tipos de abordagens e

ferramentas para viabilizar uma “História do direito através da biografia

institucional”. O recorte temporal, a escolha das fontes e do modo como foram

tratadas e articuladas e, principalmente, os eixos de reflexão identificados a partir da

problemática geral, possibilitou desenvolver métodos e técnicas com potencial de

especialidade para pesquisas sobre biografia institucional. De fato, as instituições são

compostas e feitas por aqueles que a integram no presente, mas também por aqueles

que a integraram no passado. Sob esse ponto de vista os fatos produzidos e aqueles

que vierem a se produzir estão inexoravelmente implicados na tensão e/ou diálogo

entre contribuição individual e situação institucional.

Neste particular, a mescla de metodologias permitiu, de um lado, a

reconstrução do passado institucional recente e, de outro, a recuperação de narrativas

e memórias de vida. Aqui reside o elo complementar mais fundamental entre as

metodologias: a reconstrução de processos históricos e das trajetórias dos ex-

presidentes, permitindo agregar informações e dados que extrapolam as sessões

solenes. Com isso, compõe-se um quadro contextual mais complexo, de modo que os

perfis identificados podem esclarecer eventos narrados nas sessões solenes. O inverso

também é verdadeiro, já elementos das sessões solenes podem alimentar a

investigação por meio das entrevistas. Por conta disso, dedicamos uma parte do

roteiro à reconstrução da memória no dia da posse, bem como aspectos nodais na

elaboração do discurso de posse. Foi de imensa valia que os pesquisadores lessem os

discursos de posse/entrega antes da efetuação da entrevista, de maneira a provocar a

narrativa dos entrevistados em direções específicas, que, por conta do intervalo

temporal, não possam ser suscitadas com clareza em formulações de perguntas mais

genéricas.

O estudo das pastas funcionais e dos discursos de posse/entrega de cargo

resultou na construção de temáticas e preocupações prioritárias do Tribunal desde a

redemocratização do Brasil. A partir de fontes secundárias foi possível rastrear tais

questões, que concernem tanto à dimensão administrativa da presidência, como a

política de aluguel, informatização processual, descentralização de jurisdição para

tornar mais capilar a Justiça do Trabalho, quanto temáticas acerca do lugar da Justiça

50

do Trabalho no cenário nacional. É o caso perceptível nas narrativas sobre as

discussões do fim da Justiça do Trabalho e sua possível integração à Justiça Federal.

O trabalho com fontes secundárias se assenta em algumas características

distintas em relação à pesquisa com fontes primária. Primeiramente, ela propícia certo

distanciamento imediato do pesquisador ante seu objeto de pesquisa, uma vez que não

há nem contato pessoal tampouco etapas de produção e confecção de material

empírico (entrevistas, transcrições e etc.). Do ponto de vista da história do direito, o

manejo de documentações escritas abre a possibilidade de reconstruir com mais

segurança e distanciamento processos sociais numa amplitude temporal determinada

(Elias, 1997). Outra particularidade da pesquisa é de que se trata de discursos em

sessões oficiais. Contudo, longe de replicarem o que é institucionalmente explícito, as

memórias oficiais encaradas como um contexto prático no qual os atos de fala (Searle,

1979) são contrastados e apreciados em circunstâncias de consagração institucional.

Assim, o ritual institucional da posse/entrega de cargo tem como base a reprodução de

certo imaginário, preocupações, orientações e valores que os ex-presidentes têm

acerca do Tribunal, expressando igualmente o reflexo de suas experiências no mesmo.

O significado cultural e social (Weber, 1973) deste imaginário pode ser apreendido na

medida em que tais temas são postos em relação com fatores internos e externos: isto

é, com o momento político, econômico, jurídico e cultural do país num determinado

recorte temporal.

Já a parte da pesquisa que se concentrou nas entrevistas com os ex-presidentes

se apropriou de uma metodologia distinta. A própria natureza da investigação impõe

outras condições, pois efetua-se uma coleta de dados em primeira mão. A ideia

principal foi buscar adentrar aspectos diversos, mas selecionados, da trajetória dos ex-

presidentes. Portanto, trata-se de uma pesquisa que visa à multicausalidade por meio

da reconstrução de uma constelação de fatores (Weber, 1973) que compõem um

determinado período da vida profissional, educacional e institucional dos

entrevistados. Num momento final, o roteiro e as intenções de pesquisa foram

direcionadas a indagações prospectivas. O intento foi tomar os ex-presidentes como

observadores da vida jurídica nacional. A inspiração foi a fenomenologia sociológica

de Alfred Schütz e Thomas Luckmann (1973) e o interacionismo simbólico de

Goffmann (1959), que se recusam a reduzir o interlocutor a um mero resultado da

função que exerce em algum subsistema social (Parsons 1991; Luhmann, 1995).

51

Nesse sentido, o aporte foi entender que instituições se reproduzem não a despeito,

mas através de seus agentes.

Conquanto os ex-desembargadores estejam imersos na cotidiana reprodução

jurídica das instituições, ou seja, embora sejam operadores do Direito, não raro (e

principalmente os presidentes) são chamados a falar sobre o Direito do Trabalho, isto

é, emitir um enunciado sobre o mesmo. Assim sendo, também observam e produzem

representações (porta vozes (Bourdieu, 1979) sobre o Direito do Trabalho que

extrapolam a vida da Corte. Por isso se encontram em uma posição simultaneamente

prática e teórica na divisão do trabalho do campo jurídico (Bourdieu, 2007).

52

V – EXPOSIÇÃO SOBRE A METODOLOGIA DA “HISTÓRIA DO DIREITO

ATRAVÉS DA BIOGRAFIA INSTITUCIONAL”

Como contar a história de um Tribunal? Pelos processos? Pelas pessoas? Pelos

documentos? São diversas perguntas e diversas respostas possíveis. Conhecer uma

instituição complexa, com tensões politicas, sociais, composta de seres humanos

plurais, diversos e contraditórios não é tarefa fácil. Por isso a presente pesquisa

buscou uma pluralidade de fontes para analisar o objeto em questão: a presidência do

TRT1. Obviamente que a história da presidência (ou dos presidentes) do TRT não é

uma história única (nem definitiva) do Tribunal, mas ela ajuda a compreender as

dinâmicas existentes dentro da corte, as formas de ascensão e progressão na carreira,

os jogos de poder e a prestação da principal atividade de um tribunal: de julgar.

Pensou-se, durante toda a pesquisa, sobre o desenvolvimento de abordagem

específica à linha temática “História do direito através da biografia institucional”.

Trata-se de um esforço para estabelecer um campo teórico e metodológico, vindo da

área da história do direito, capaz de oferecer elementos eficazes ao estudo de

biografia institucional. Este campo do conhecimento que pretendemos desenvolver

tem como característica particular o alinhamento entre fonte escrita e fonte oral.

Pretende-se construir por intermédio do que foi escrito e também do que foi dito pelos

sujeitos escolhidos para a pesquisa o campo de experiência institucional.

Através de uma pluralidade de fontes e de uma mescla de metodologias,

pretendemos compreender como é possível construir a história de um Tribunal. A

história oral foi fundamental para entendimento das nove entrevistas feitas com os

presidentes. A análise crítica aos documentos funcionais e as discursos de posse,

possibilitaram uma panorama mais complexo da Instituição e do seu dia-a-dia.

Comparando os discursos de posse/entrega pudemos entender como os presidentes

analisavam as suas gestões.

Convém, portanto, neste intuito em delimitar o campo da biografia

institucional apontar alguns elementos, observados durante a pesquisa, sobre uso da

metodologia histórico-jurídica para a biografia institucional.

O primeiro elemento diz respeito ao recorte temporal em média perspectiva. O

uso de fontes orais aparece aqui como componente limitador e/ou delimitador do

objeto da pesquisa em biografia institucional, pelo fato da necessidade do uso do

testemunho direto. O estabelecimento do recorte temporal está, assim, intimamente

53

ligado à determinação e escolha dos sujeitos aptos a narrar suas experiências

institucionais. Isto quer dizer que recortes temporais muito longos, que ultrapassem o

tempo de vida médio do ser humano, estaria fora do alcance da biografia institucional.

O recurso à produção da documentação oral, por intermédio de entrevistas, só pode

ser realizado por pessoas vivas que presenciaram e experimentaram no passado o dia

a dia institucional.

Poderíamos pensar, numa primeira abordagem, que a limitação trazida pela

documentação oral produzida implicaria redução, também, do recorte temporal sobre

a escolha da documentação escrita. No entanto, se um e outro tipo de documentação

estão imbricados e são complementares e, às vezes, suplementares, no caso da falta de

um e de outro, uma metodologia que se pretende operacional deve ser flexível quando

seu campo de ação o permite ser. Por isto, cremos que não haveria lugar para uma

mesma limitação no setor da documentação escrita, porque o testemunho, neste caso,

é sempre indireto. Se, por um lado, deve haver alinhamento entre os documentos

examinados (discursos de posse e entrega do cargo, e fichas funcionais ) e aqueles que

foram produzidos (memória a partir de entrevista semiestruturadas), o recurso à

documentação escrita anterior ao recorte estabelecido pela documentação oral pode

ser bastante útil para identificar continuidades e rupturas, e também testar,

comparativamente, algumas hipóteses iniciais. Por exemplo, as atas da cerimônia de

posse nos revelaram três alterações no rito desde 1985.

O segundo elemento relativo à pesquisa no campo da biografia histórico-

institucional remete à necessidade de haver dialética entre documentação escrita e

documentação oral. Ambos os tipos de documento devem dialogar e servir

simultaneamente de suporte um ao outro. Os hiatos e “buracos” encontrados na

documentação podem, e devem, ser completados por uma ou por outra. Além disto,

deve-se levar em conta a especificidade de cada documentação. A memória humana é

falha e seletiva, e muitas informações e perguntas que ficaram em aberto após o

término de uma entrevista podem ser coletadas e respondidas com auxílio da

documentação escrita. O inverso também é possível, e aqui tem-se mesmo dilema: a

documentação escrita, sobretudo a oficial, sofre do formalismo e da manipulação

durante a sua produção, de modo que certas informações podem passar ao lado dela.

O exemplo mais paradigmático é o caso da lista de antiguidade. Ao que parece,

somente a partir de 2004 a lista dos desembargados mais antigos passa a ser publicada

no Diário Oficial. Antes dessa data havia um consenso, mais ou menos tácito, de que

54

somente os mais antigos poderiam compor a lista de candidatura à presidência. Esse

informação pôde ser coletada a partir da fonte oral.

O terceiro elemento à construção de uma metodologia sobre biografia

institucional é mais uma experiência de campo do que componente teórico. Trata-se

de buscar um desenho prévio sobre o perfil dos integrantes da instituição objeto da

pesquisa. Aqui a análise da ficha funcional é um modo bastante eficaz de primeiro

contato com a biografia e histórico do sujeito dentro da instituição. Outro maneira de

se conhecer o perfil de determinado sujeito é examinar como os seus pares lembram

ou se referem a ele como parte integrante da instituição. Trata-se de perscrutar a

memória institucional através de determinada percepção ou “conjunto de percepções”

sobre pessoas, fatos, lugares pertencente à instituição. Aqui, tanto o uso da

documentação oral como da escrita permitem traçar o perfil. No entanto, deve-se

atentar para o fato de que o resgate do perfil é feito por intermédio de informações

escritas ou ditas por outras pessoas. O componente pessoal, suscetível a interferências

externas de ordem não só ideológica, mas também emocional deve ser levado em

consideração neste tipo de análise, sobretudo na produção da documentação oral. O

tipo de relação construída com o sujeito que se quer lembrar, as animosidades, as

parcerias, as relações extra-institucionais, até mesmo afetivas, são elementos que

influem diretamente na opinião pessoal. O exemplo do ex-presidente José Maria de

Mello Porto ilustra bem o que acabamos de dizer. A memória institucional sobre a sua

pessoa é flutuante, confusa, polêmica. Em determinado período, é lembrado por seus

pares como o “modernizador” do TRT1, aquele que expandiu o número de Varas da

Justiça do Trabalho e iniciador do processo de informatização, mas em outro é

arremessado à “ala não-ética” do TRT1.

O quarto e último elemento que compõem a metodologia da biografia

histórico-institucional diz respeito ao modo de analisar os dados produzidos pela

pesquisa. Trata-se da coleta e manuseio dos dados de modo a construir categorias

transversais, isto é, identificação de temas e problemas próprios ao objeto da pesquisa

que atravessam todo o corpus documental. Uma vez produzida a fonte oral e feita a

sua transcrição, tudo se torna fonte documental escrita. O processo de codificação dos

dados e construção de categorias torna-se o mesmo. Tudo torna-se análise de

conteúdo.

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VI – ANÁLISE CONCLUSIVA DAS ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADAS

As nove entrevistas conduzidas com os/as ex-presidentes vivos do Tribunal

Regional do Trabalho da 1ª Região foram realizadas entre os meses de julho e

outubro, na cidade e na zona metropolitana do Rio de Janeiro. Dentre os/as ex-

presidentes selecionados no projeto, houve apenas uma desistência (Dr. Fernando

Fragoso). Dentre os nove entrevistados desde 1988 figuram: Dr. Nelson Tomaz

Braga, Dr. Luiz Augusto Pimenta de Mello, Dra. Doris Castro Neves, Dra. Maria de

Lourdes Sallaberry, Dra. Maria das Graças Viegas Paranhos, Dr. Carlos Alberto

Araújo Drummond, Dr. Iralton Benigno Cavalcanti, Dr. Ivan Rodrigues Alves, Dr.

Aloysio Santos.

Nosso procedimento de análise seguirá as seções do roteiro de entrevistas, em

invés de procurar por padrões de acordo com perguntas definidas. Isso se justifica por

uma razão metodológica: por se tratarem de entrevistas em profundidade, o decorrer

da conversa nem sempre engloba a postulação de todas as perguntas. No entanto,

todas as seções foram contempladas. Ademais, nem todas as perguntas são postas da

mesma maneira. Assim sendo, definiremos a preocupação de fundo em cada seção, ao

identificar padrões de resposta. As seções se sucedem da seguinte maneira: trajetória

no ensino superior, ingresso e trajetória no Tribunal, tornar-se um membro da

presidência, o dia a dia da presidência, os hard cases, vida atual e questões

prospectivas. Dentro de cada parcela observa-se um conjunto de questões.

Objetivo das seções:

I) Trajetória no ensino superior: A principal finalidade é reconstruir a trajetória da formação dos ex-presidentes. Trata-se da documentação da passagem dos estudos superiores ao ingresso na magistratura. O mapeamento tem como base vasculhar a gênese do interesse pela magistratura, a rotina de estudos para o concurso, bem como as pessoas-chave que exerceram influência ou direcionamento inicial na carreira dos desembargadores. II) Ingresso e trajetória no Tribunal: Mapear o início dos trabalhos no tribunal, atentando à singularidade do posto, ou seja, comparando-o com cargos ocupados no passado. Além disso, adentraremos as principais habilidades desenvolvidas, ensejando o florescimento do interesse em se tornar presidente ou membro da presidência. III) Tornando-se presidente: O fito principal da seção é compreender o ingresso na presidência. Primeiramente cobrir as posições anteriores, procurando captar se houve a ocupação de postos intermediários, o que caracteriza uma escalada à posição de presidente. Em seguida a atentar à campanha, como foi o processo de angariação de capital político e aliados. IV) O dia a dia da presidência: Indagar sobre a rotina do presidente (plano descritivo).

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Além disso, procurar compreender a relação dele com os colegas, funcionários e outros agentes circundantes. Por fim, tentar compreender as realizações e o tipo de função que o entrevistado imagina como sendo as de presidente V) Os hard cases: Observar a constituição dos hard cases, ou seja, casos de difícil resolução e, que, normalmente ganham notoriedade pública. Buscar compreender o ambiente entre os desembargadores e outros agentes envolvidos, como políticos e membros da imprensa. Em seguida, orientar a conversa para a compreensão de como se constituem os consensos acerca do julgamento dos hard cases. VI) Vida atual e questões prospectivas: Por último, ensejar questões atuais e prospectivas. A ideia, aqui, é tentar forçar os ex-presidentes a tomarem a posição de observadores da Justiça do Trabalho. Com isso, espera-se compreender como projetam sua vocação e quais seus principais desafios no futuro.

I) Trajetórias no ensino superior

Ao observar as trajetórias no ensino superior dos ex-presidentes do Tribunal

Regional do Trabalho da 1ª Região, verificamos que a grande maioria obteve seus

respectivos diplomas de bacharel em Direito em universidades públicas, à exceção de

Nelson Tomaz Braga e de Carlos Araújo Drummond.

Em meio aos ex-presidentes observa-se que os estudos superiores ocorrem

com incentivo da família e sem maiores turbulências financeiras. Há certa autonomia

na escolha da profissão seja por vocação ou por meio de conversas e interações com

outros significativos. Vale assinalar que o repertório discursivo da ‘vocação’, isto é, a

escolha da profissão por escolha pessoal não exclui, de maneira alguma, a construção

prévia de vínculos de admiração e identificação. É possível verificar forte dedicação

aos estudos, além de lembrarem de professores como figuras de influência: “Sempre fui muito focada. Quando passei no vestibular tive a certeza de que uma porta se abriu para mim. Comecei a faculdade. O primeiro ano de direito para mim foi muito difícil, porque evinha de um curso técnico que não preparava. Nunca tinha estudado filosofia e sociologia. A primeira parte da introdução a ciência do direito é toda voltada para a sociologia e filosofia. Tive que me debruçar muito sobre aquilo. Tive um professor excelente, Daniel Coelho de Souza.No segundo período do primeiro ano, lembro que ele falou: “hoje entramos na parte mais importante do nosso curso, que é a parte jurídico”. Foquei nisso.

Estudava muito, não era a primeira, mas estava entre as dez primeiras. A minha turma da faculdade era de cem alunos, divididos em dois grupos. Tinham matérias

em que as aulas eram no auditório, como introdução ao direito, direito constitucional, direito romano. Essas matérias eram dadas em conjunto no auditório.Os catedráticos que davam aula. Orlando Bitar era um constitucionalista excelente, desses que você aprende de ouvir. E - Esses foram os professores que mais te influenciaram na faculdade? P - Orlando Bitar em constitucional. No Direito Penal tinha também o (Paulo) Klautau. Ele era tão empolgado, falava que a pessoa praticou um crime, caminhava, sacava a arma, fazia o gesto. Gostava muito de direito penal, medicina legal. Na época pensei em ser juíza criminal, me empolgava muito aquela parte do juiz estudar a personalidade da pessoa que praticou o crime, quais as causas determinantes, as atenuantes. Mas na

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prática quando comecei a estagiar em escritório me decepcionei demais com as delegacias de polícia” (Maria das Graças Viegas Paranhos). Assim comenta Doris Castro Neves: E – Só retornando um pouco... Teve alguém que incentivou a senhora a seguir pela magistratura? Algum amigo ou parente? D – Não, eu sempre gostei de Direito do Trabalho, que na época era dado no quarto ano. O curso tinha cinco anos e Direito do Trabalho era dado no quarto ano. Eu nem estava direito no quarto ano, mas já gostava de Direito do Trabalho. Isso me fez sair da sociologia e fazer vestibular de direito. Depois, eu continuei gostando muito da parte cível, processo e trabalho. Agora, quem me incentivou... Eu acho que fui eu mesma. E – Algum professor ou autor que a senhora admirava? D – (No) Direito do Trabalho eu tive um professor que era ótimo chamado Nélio Reis60, que era advogado de empregador. Quer dizer, era aproximado do que eu gostava, mas não era o básico. Depois eu conheci o (Luiz Vianna) Werneck há muitos anos... E essa turma toda... Manuel Palacios, que depois até saiu do Rio, Maria Alice (Rezende de Carvalho)61, minha amiga queridíssima, que é ótima. Essas pessoas todas falaram pra eu fazer Direito que tinha mais a ver com a minha cabeça do que Ciências Sociais. (Doris Castro Neves).

Aloysio Santos também se recorda de professores que lhe serviram de

referência e inspiração, além de relembrar seus estudos em Direito do Trabalho: “A - Eu tinha como professor de Direito do Trabalho... Aí o Direito do Trabalho é que é importante e não o Direito em si... Eu tinha como professor Geraldo Montedônio Bezzera de Menezes62. O professor de Direito do Trabalho... Eu tive ótimas notas em Direito do Trabalho. Não abusaria em dizer 9, mas a média foi 8 e muito. Ele era Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, primeiro presidente do Tribunal Superior do Trabalho e morador de Niterói. Eu sou nascido e criado em Niterói. Essas coisas vão se “ajuntando”, vão se acomodando nesse xadrez da vida, né?” (Aloysio Santos). Nelson Tomaz Braga também comenta que: “Aí vieram as provas para a faculdade, essa particular. Naquele tempo tinham 152 vagas. Veio a prova... Meu primo tinha feito Hélio Alonso, uma porção de cursos aí, e aí eu fui fazer essa prova. Tinham 152 vagas e eu passei em vigésimo e alguma coisa... Meu primo que tinha feito curso não passou. Ele ficou em segunda época e aí ele passou. Passei... E aí eu disse ao meu pai que não ia fazer porque a faculdade era paga. Ele disse: “não, você vai fazer”. Eu disse que no ano que vem eu tentaria pra Nacional. Ele então falou: “você disse que os professores da Nacional vêem pra cá, então você continua nessa faculdade”. Eu fiz a faculdade, concluí o curso. E – Como foi sua entrada no Direito do Trabalho? Foi algum professor que te inspirou? Foi esse estágio que o senhor fez? N – Tem uma pessoa que foi muito importante na minha vida, que trabalhava com o Ulisses Riedel Resende, chamava Edilza Cássio63. Era uma perita muito conceituada na Justiça e ela um dia me levou lá na (rua) 2 de Dezembro quase perto do exército... E ela me levou na Justiça do Trabalho e eu entrei pela porta... Aquela que é em frente ao Ministério da Educação... Rua da Imprensa! Eu subi aquelas escadas pela primeira vez, comecei a olhar aquilo ali e achei muito interessante. Fui com ela. Ela era perita. Aí ela me levou onde funcionavam as Varas do primeiro grau, em frente à Biblioteca Nacional... Na Rua Almirante Barroso n. 54. Era uma confusão danada, um monte de coisa e achei interessante. Aí eu comecei... Nessa época eu estava no escritório do Ulisses. Ele foi pra Brasília e me convidou, mas eu não quis ir64. Eu já estava noivo e a minha mulher disse que não ia pra Brasília de jeito nenhum (...).

60 Professor, advogado e jurista do Trabalho. 61 Referência à Maria Alice Rezende de Carvalho e Manuel Palacios Cunha Melo, que, em parceria com Luiz Werneck Vianna e Marcelo Baumann Burgos, elaboraram a pesquisa: Corpo e alma da magistratura brasileira. 62 Ex-ministro do Tribunal Superior do Trabalho e professor de Direito do Trabalho na Universidade Federal Fluminense. 63 Geraldo Montedônio Bezzera de Menezes foi Ministro do Tribunal Superior do Trabalho 64 Aqui, ele menciona o escritório de Ulisses Riedel, que, com a transferência do Tribunal Superior do Trabalho, mudou a sede de seu escritório para lá.

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No depoimento dos ex-presidentes nota-se frequentemente alusão a

professores ou figuras de inspiração, assinalando que o interesse pelo Direito (do

trabalho) e pela magistratura surge através de identificações e experiências coletivas.

As pessoas de inspiração são figuras de destaque dentro do Direito do trabalho, sendo

eles advogados, professores ou até mesmo, Ministros.

No tocante ao ingresso nas profissões jurídicas, encontramos amplo apoio

familiar, além de, em alguns casos, a presença de alguns familiares próximos em

profissões jurídicas, o que também ajuda a explicar os modos de contato com o

ambiente jurídico. Com efeito, a influência não precisa ocorrer de modo explícita ou

direta, mas criando um ambiente propício para que, primeiramente, se galgue às

profissões intelectuais e, em um segundo plano, as carreiras jurídicas.

II) Ingresso na magistratura e trajetória no Tribunal

Há certamente duas formas de ingresso no Tribunal Regional do Trabalho da

1ª Região: a ascensão por mérito ou antiguidade para os magistrados advindos de

concurso ou via quinto constitucional. Os ex-presidentes ingressantes pelo quinto

constitucional são Luiz Augusto Pimenta de Mello e Nelson Tomaz Braga. Todos os

outros entrevistados passaram primeiramente por um concurso. O principal é

compreender os períodos dos concursos e das campanhas para o quinto.

II.I) Ingresso na magistratura e a promoção à 2ª instância No geral, os preparativos para concurso envolvem a organização sistemática

do cotidiano em torno dos estudos. Em alguns casos há a suspensão da atividade

laboral por meio de licenças ou negociações diretas. É preciso comentar que a

magistratura, muitas vezes, se coloca como a possibilidade de seguir uma trajetória

profissional estável (em possível contraste com os riscos da advocacia). Assim

comentam: P - No ano seguinte abriu outro concurso e me candidatei. Aproveitava as horas vagas que tinha na procuradoria para estudar. Chegava as 8h da manhã, fazia tudo que tinha para dar entrada no fórum. Nessa época também trabalhava no escritório que eu tinha feito estágio. Eu tinha o meu programa de estágio, pegava o edital. Fiz um cronograma de estudo para cada dia da semana eu estudava uma matéria. No sábado a minha amiga – Marilda Vanderlei Coelho – ela passou no concurso de juiz, me dava aula de sentença. Aos sábados à tarde na casa dela, ela sentava para ler as sentenças dela e passava o processo para eu ler, ver como se fazia a sentença. E a noite na minha casa eu também.

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E - Então a senhora teve auxílio? P - Dela. Ela me estimulou muito. Nessa época não existia cursinhos para juiz. Cada pessoa estudava por si. Se virava por sua conta. Então, cada dia eu tinha uma matéria para estudar. Domingo tirava as minhas dúvidas daquilo que ficou pendente. Sábado aprendia a fazer sentença. Mesmo sem saber se eu ia ou não ser aprovada nas outras disciplinas (Maria das Graças Viegas Paranhos). Quanto ao pragmatismo da estabilidade Maria de Lourdes Sallaberry pontua: S - Exatamente, ainda mais no início! E aí, eu já tinha dois filhos, não tinha férias, sabe? Então, eu fiz concurso pra magistratura pra ter uma segurança... E - Certo! Então, pode-se dizer que foi uma decisão um pouco pragmática? S - Exatamente... Foi! Foi prática, uma decisão do que era melhor pra minha vida, já que eu era mãe, esposa, advocacia pra mim me absorveria muito, aí, fui pra magistratura. Assim que eu passei no concurso, antes de eu tomar posse, eu falei “Ai, meu Deus, não sei se eu vou gostar de ser juíza”. A única coisa que eu tinha de consolo era, se eu não gostasse, eu sairia. Então, comecei na magistratura e, aí, meu filho... eu que queria sossego ... foi uma coisa h-o-r-r-í-v-e-l (enfaticamente) (entrevistada e entrevistador dão gargalhadas), porque, no concurso, quando entrei, tinham pouquíssimos juízes substitutos, a gente trabalhava feitos condenados, acumulava duas ou três varas, na época, juntas... era uma coisa horrível... e não dava pra tirar férias, porque os juízes titulares já estavam há anos sem conseguir tirar férias porque não tinham juízes substitutos para substituírem eles... olha, foi um horror. A minha sorte foi que eu engravidei, tomei posse já grávida de dois meses. Aí, eu tive a licença maternidade, só que, o presidente me chamou e perguntou se eu poderia reduzir de três pra dois meses a licença porque estava precisando de juízes, mas eu tive esses dois meses. Depois, foram feitos outros concursos, aí consegui ter minhas férias, tranquilamente... tranquilamente, não, mas consegui ter minhas férias... (Maria de Lourdes Sallaberry). Ela ainda comenta que, devido a funções domésticas, se concentrava nos estudos aos fins de semana, além de perceber a intensificação da competição nos concursos: S - Pois é, pois é... deixa eu te falar uma coisa: na minha época, o concurso era difícil, mas não era como é hoje. Então, qual foi minha rotina? Eu passei no concurso em (19)81, eu tinha filhos, trabalhava e estudava... o que eu estudava? Duas, três horas, nas horas que eu tinha folga, estudava... tive um marido que, nos finas de semana, perto do concurso, dois meses antes, saía com os nossos filhos, e eu ficava em casa estudando, sábado, domingo, porque durante a semana eu estudava muito pouco. O concurso era muito difícil, mas, por exemplo... o concurso que eu passei, eram seiscentos candidatos, hoje são cinco mil, quatro mil, entendeu? Na minha época, engraçado... nunca, na minha vida, eu tive medo de ficar sem emprego. (Maria de Lourdes Sallaberry). Já Doris Castro Neves consegue obter uma licença para se dedicar inteiramente aos inteiramente estudos: E – Nessa época que a senhora se preparou, A senhora disse que era professora, a senhora chegou a suspender essa atividade em algum momento da sua preparação? D – Aconteceu na véspera. Eu precisava de uma licença. Férias não bastavam, aí eu me lembro, com muita vergonha, que eu cheguei lá no serviço, dizendo que eu precisava de um descanso porque eu estava me sentindo deprimida, meus pais estavam se separando... A maior mentira. Hoje quando eu lembro disso, eu tenho uma vergonha porque hoje eu... Eu acho que eu teria passado sem a licença. Mas a licença me ajudou muito porque um mês sem trabalhar já era um alívio, um estudo ótimo. Eu estudava dia e noite, e eu gostava muito. Eu lembro que eu fiquei com um ódio mortal porque o pessoal me perguntava se eu tinha estudado, como estava sendo e, na verdade, era uma mentira porque eu tinha tempo pra estudar e tudo correu bem. Foi ótimo porque aí eu já estava casada. Eu casei em (19)67 (pensativa)... Acho que me formei em (19)66 e fiz o concurso em (19)67, (19)68. (Doris Castro Neves). Já Aloysio Santos consegue negociar com seu chefe, enquanto era assessor no

Tribunal Superior do Trabalho: E – Como foi essa fase preparatória para o concurso? A – Ah, foi um sacrifício danado. E – Por quê? A – A minha sorte era a seguinte: nessa época eu estava assessorando o Ministro... Aí ele cobrou por processo. Ele era juiz classista de Minas Gerais convocado no TST. Agora, por que ele? O regimento interno do TST à época dizia que em caso de vacância do cargo... E o Ministro classista designado tinha falecido. Em caso de vacância, será convocado um juiz classista da região mais próxima, mas

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nunca se definiu o que era “mais próxima” e ficou Minas Gerais. Engraçado e eles estão em Goiás (risos). Coisas do Brasil... Não tá? Brasília não está em Goiás? E aí eu o assessorei e ele me cobrou por processo. Era o um volume significativo de processos por semana. Então de manhã cedo... Eu tenho duas meninas, hoje eu tenho três netos, que elas me deram. A mais velha tinha oito pra nove anos e a mais nova tinha três ou quatro anos. Então, eu podia estudar porque elas iam pro colégio. A Escola Parque em Brasília era até cinco da tarde, coisa e tal. Então, eu podia estudar. Então, eu estudava bem, bem mesmo... Estudava muito. E teve um outro fator que me ajudou, que já já eu chego lá. Quando todo mundo tava todo mundo saindo para almoçar, eu tava chegando no gabinete pra trabalhar. No gabinete tinham quatro pessoas: eu, o assessor, uma assistente do Ministro, o chefe de gabinete e o motorista. Hoje são doze, quinze... Brasília tem hoje três milhões de processos, mas tem muito recurso pra usar. Antigamente era... Mais difícil. Então, abriram um concurso com seis vagas, muito embora quando terminou já tinham doze ou treze, pois logo depois outros tomaram posse (...)” (Aloysio Santos).

Além da conciliação mais ou menos bem sucedida de trabalho e estudos

preparatórios para o concurso, não raro, os magistrados citam pessoas de referência já

inseridas na magistratura, que lhes ajudaram. É o caso narrado por Maria das Graças

Viegas Paranhos. O mesmo ocorre com Aloysio, que, em Brasília encontra Alexandre

de Paula Dupeyrat Martins, com quem estuda. Isso aponta para a ideia de que a etapa

preparatória, isto é, os estudos para o concurso de magistratura podem envolver

socializações e interações com especialistas já inseridos em profissões jurídicas.

Ademais, muito embora englobe esforço pessoal, este último não implica

necessariamente em uma atividade exclusivamente individual e isolada, mas mediada

pela circulação de conhecimentos.

Ascensão ao 2º grau se dá obviamente pela promoção por mérito ou

antiguidade. Alguns entrevistados narram os ‘apoios’ ou “apoiamentos”, ou seja,

apoios políticos e jurídicos que sustentam o nome do juiz na lista tríplice perante o

presidente, de modo a ascender ao Tribunal. Senão vejamos: E – No primeiro grau, o sr. assumiu em qual região do Rio (de Janeiro)? I – No Rio eu fiquei na 5ª Junta de Conciliação e Julgamento. Também estive alguns meses na Junta de Volta Redonda, estive por dois anos em Niterói e um bom tempo na oitava Junta. Daí, eu fui convocado para o Tribunal, uma convocação, mas ainda sem integrar a nomeação. Em seguida veio a escolha de lista tríplice, que foi demorada porque é assim mesmo. Na lista, eu concorri por merecimento, também fui promovido de juiz substituto para titular por merecimento e para o Tribunal, eu concorri três vezes na lista por merecimento. E – Como foi essa experiência? I – Foi uma experiência de uma expectativa enjoada porque a gente sabe que a escolha do presidente da república é livre. Entre três, ele escolhe um. Pode ser o primeiro, o segundo ou o terceiro. Eu concorri em duas listas anteriores e na que eu concorri pela terceira vez, ocorreu um fato interessante: a juíza Doris, que veio a ser presidente do Tribunal também, uma grande colega, assim como o juiz Capanema, abriram mão de “trabalho”, no sentido de apoio, aí o meu caminho se abriu. Embora sempre haja pedido de apoio, isso é normal. Se espera que um dia mude, mas não sei quando. (Iralton Benigno Cavalcanti). Carlos Araújo Drummond também comenta: C - Aquilo (a lista tríplice) vai para Brasília, vai para o TST, o TST encaminha para o Presidente da República. E vai lá para o gabinete civil da presidência da República, é que leva o processo para assinatura e o gabinete civil, política você sabe como é? Políticos gostam de compromissos com as outras pessoas, então alguém tem que ir lá pedir para ficar devendo favor, questão do troca-troca

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político, então tem o tal do apoiamento, o apoiamento é o deputado, o governador que vai lá ao telefone pedindo para por favor quero que o Drumond seja promovido e tal. Passados os cinco meses não tinha nenhum apoiamento lá e ninguém tinha dado apoio, aí o Novis teve um contato comigo e com a Elma, tem um deputado que está insistindo para pedir por mim em Brasília”. (...) Eu nem sei, pra falar a verdade eu nem sei se o Novis chegou a pedir, se o deputado, ou a pessoa ou prefeito chegou a pedir, era um político não recordo quem era. Não sei se chegou a ver o pedido. Eu sei que passados sete meses o nosso processo de promoção estava no gabinete civil, sete meses ninguém era promovido e a gente torcendo para não ser promovido, para você ver como é a promoção de merecimento. Quando eu recebo a ligação de uma amiga perguntando: - Drummond que maluquice é essa que o processo de vocês está 7 meses no gabinete civil e não tem nenhum apoiamento, não tem ninguém definido. E eu disse nós simplesmente não estamos interessados nisso aí, e o presidente escolhe quem quiser, quem der o azar. Mas acontece que hoje me perguntaram, me chamaram lá no Gabinete Civil, algum interlocutor perguntou e eu dei teu nome, aí eu caramba. Confesso que na hora quase que eu xinguei, como eu vou responder. Aí pensei em dizer que você me fez um grande mal. Como eu vou dizer um negócio desses. Desagradável você falar isso. Aí eu falei: Eu lhe agradeço. Então vamos ver então o que vai acontecer! Eu pensei que aquilo fosse uma coisa para o futuro né!? No mesmo dia o presidente assinou a minha promoção. Foi um merecimento numa situação muito anômala. (Carlos Araújo Drummond)

Os dois depoimentos assinalam que, muito embora a composição da lista para

ascender ao Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região envolva merecimento ou

antiguidade, a celeridade da nomeação ou mesmo preferências estão sujeitas aos

apoios externos.

II.II) A campanha para o quinto constitucional No caso do ingresso pelo quinto constitucional, a campanha ou a angariação

de apoios é notadamente aberta. Nesse particular, encontramos os casos de Nelson

Tomaz Braga e Luiz Augusto Pimenta de Mello. Seus dois casos se distinguem

internamente. Enquanto Nelson Tomaz Braga se coloca como candidato

independente, angariando por si seu capital político: N - Aí ela me disse que tinha uma vaga no Quinto Constitucional e falou para eu concorrer. Eu disse que tinha acabado de perder a eleição na Ordem (Ordem dos Advogados do Brasil – OAB). Eu era da turma do Nilo Batista, Hélio Sabóia. Ela então disse: “você perdeu a eleição, mas você não perdeu o respeito dos seus colegas. Vai de porta em porta, vai falar com seus colegas”. Aí eu fui falar com todo mundo, com os colegas. Eu entrei na lista da Ordem, seis candidatos. Então eu fui chamado por uma pessoa que eu não era da corrente política dele e me perguntou quem era meu padrinho. Aí disse a ele que não tinha padrinho... Sou “freelancer”. Aí fizeram a eleição e eu fiquei em terceiro lugar na lista. Aí tinha que correr pra Brasília pra trabalhar. Cheguei em Brasília... Ah, tem um detalhe: depois que você sai numa lista, você não é mais o dono de você. As correntes políticas te ‘abraçam’. É muito interessante isso porque você e ‘abraçado’ por pessoas que te conhecem e sabem quem você é. Então a minha candidatura deixou de ser minha. E o Ministro Guimarães Falcão, que era Ministro do TST (Tribunal Superior do Trabalho) (Nelson Tomaz Braga).

Luiz Pimenta de Mello está munido de forte capital familiar por meio de seu

sogro. Ele então comenta: L - A minha campanha para entrar pro Tribunal foi... Praticamente não existia essa lista tríplice que hoje existe. Existia uma vaga no Tribunal e aí você se candidatava, você chegava ao presidente da

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república pra pedir. Quem tivesse um pistolão, alguém que conseguisse chegar ao presidente da república, você era nomeado. No Brasil inteiro, qualquer advogado pensaria em ser... Aí meu sogro um dia chegou pra mim e disse: “você quer ser juiz do Tribunal? Ou você quer ser advogado de seguros”. Aí eu disse: “o senhor escolhe. O Sr. escolhe, pois é o senhor é que vai fazer tudo”. Aí, ele disse que eu ia ser juiz e começou a batalhar, ele apanhou uma série de indicações de governadores. Antigamente era Rio de Janeiro e Espírito Santo. Então ele apanhou indicações dos governadores do Rio de Janeiro, Espírito Santo e até de São Paulo, que não tinha nada a ver, declaração de todos os senadores do Rio de Janeiro, uma série de deputados, pegou declaração de ex-presidentes, juízes do Tribunal e uma série de coisas. Ele fez um dossiê. Com esse dossiê ele foi pra Brasília encontrar com o Figueiredo, mas ele estava de licença porque tinha ido fazer uma operação em Cleveland. Isso foi em 1981. Então ele saiu da presidência e entrou Aureliano Chaves e parece que existia uma passagem... Eu não sei... Contam isso... Que ele chegou pro meu sogro e disse que já tinha candidato. Isso ele disse ao meu sogro. Daí o meu sogro disse: “o Sr. tem um candidato... O Sr. modifica o seu candidato e bota o meu”. Isso ele falando para o presidente, que era o Aureliano Chaves. Aí passou um tempo... E quem me nomeou foi Aureliano Chaves. (Luiz Augusto Pimenta de Mello).

Neste caso, percebemos a presença de um capital político mobilizado por meio

do casamento. Assim sendo, apesar de ingressarem pelo quinto constitucional, as duas

candidaturas exibem discrepâncias relevantes entre si.

III) Tornando-se presidente Durante a feitura das entrevistas constatou-se que a posição de presidente da

corte liga-se à antiguidade no Tribunal. Deste modo, a antiguidade funciona pré

condicionando a participação no pleito, constrangendo a concorrência mais

abrangente ao posto. Dois fatores corroboram esta hipótese: a) a aposentaria após a

ocupação do cargo de presidente do Tribunal; b) o fato de ocuparem outros cargos na

presidência antes de se tornarem presidentes. Não raro também ocupam a diretoria da

Escola Judicial (do TRT 1ª Região). Isto é, a chegada à presidência consiste em uma

escala institucional:

Assim comentam alguns entrevistados: E – O senhor até antecipou a pergunta. Como surgiu o interesse pela presidência? A – Bom, juiz do trabalho eu pensava em ser. Um detalhe que eu me recordo... Aquele quadro ali que parece agonia (refere-se a um quadro na sala da diretoria da Escola Judicial). Aquela luz ali, aquela claridade quer dizer que tem sol, que o céu esta azul e que estão indo caminhar... Estão passeando. Um menino e uma senhora, coisa e tal... Estão conversando e a menina parou, pela posição dela, ela parou, mas a senhora deu mais um passo. A vida é isso aí. E agora eu me lembrei que esta estada no TST.

Agora eu lembrei que essa estada no TST poderia ter me despertado a vontade de ser Ministro, mas não me despertou. Foi muito bom, conheci gente maravilhosa, estudiosa, aplicada, trabalhadores... Aqueles Ministros trabalham feito loucos. O pessoal de gabinete é muito ativo e dinâmico. Mas talvez por ser em Brasília... Eu já fui apaixonado por Brasília, mas como toda paixão, ela acaba. Acabou, acabou. Tanto é que eu estive lá quatro vezes. MEC duas e Justiça duas, mas nunca me fixei, sempre em cargo de comissão. Aí como convocado, basta o Ministro dizer que não quer mais te convocar e acaba. Mas aí lá, eu achei o seguinte: eu parei uma profissão no meio, que foi a psicologia, mas que me foi muito útil... Sobretudo, pra proferir sentenças em audiências. Ela me foi muito útil. Até a vice presidência eu pensava em alcançar, mas a presidência não. E – Então não foi algo que o senhor pensou de antemão...

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A – Não, não... Os colegas começam a comentar. Outra coisa é que eu não atrasava processo. Com esse mecanismo que eu mostrei pra vocês, é fácil compreender... Uma vez ou outra estourava o prazo, mas publicava. Um dia, dois ou três dias. Ninguém vai fazer nada porque você atrasou. Ninguém vai controlar um sistema desses. Houve alguma coisa que um processo atrasou mesmo. Eu tenho... Eu acho que todos nós temos um acúmulo de doenças e intervenções cirúrgicas e não foi brincadeira. Então, eu fiz algumas cirurgias graves, provavelmente por causa da postura. Má postura. Isso é coisa de motorista, dentista, de quem pratica esporte de traumas, de choque... E não de magistrado. O magistrado tá sentado e coisa e tal. Então, o estudo faz parte do contexto do profissional. Dito isso, a questão é: será que eu vou conseguir? Aí é uma atitude política. E nisso, os colegas ajudaram e comentaram... “Tá na hora...”. A corregedoria eu assumi como vice corregedor e depois acabei atuando como corregedor. Não me atraiu muito tomar conhecimento sobre questões disciplinares contra colegas, denúncias contra colegas. O magistrado não é pra isso... O magistrado é para instruir e julgar. É diferente de alguém relatar um fato e pedir para que você tome providências, mas cumpri os dois anos. A Escola foi... Maravilhoso... Porque aí você tem contato com todos os colegas de todas as regiões. Eu já tinha contato com essa juventude de juízes, que eles chegam muito jovens hoje em dia. É completamente diferente da gente”. (Aloysio Santos). Ou então, como relata Luiz Augusto Pimenta de Mello: L – A presidência é porque eu era o mais antigo... E – Isso era um consenso... L – Um consenso dividido. Mello Porto, que era muito mais novo do que na antiguidade. Ele concorreu comigo porque ele tinha aquele prestígio todo na presidência... Aquele negócio todo. Aí houve essa divisão e ficou 14 a 13. Enfim, eu conversava e diziam que era a minha vez, muito embora eu fosse muito novo. Realmente... De (19)81 pra (19)89 são oito anos. Pra ser presidente do Tribunal, você tem que ter... Você tem que conhecer mais alguma coisa do que administração, de gestão... Aí chegou a minha vez e eu ia encarar isso. Aí fui conversar com os classistas, com A, com B, com C... E foi realmente uma campanha bem acirrada porque tinha Mello Porto querendo. (Luiz Augusto Pimenta de Mello).

Carlos Araújo Drummond e Maria das Graças Viegas Paranhos também comentam: E - Dr. como foi surgindo seu interesse pela presidência, quer dizer, é claro que tem a questão da antiguidade também, já vinham surgindo algum interesse, como foi esse processo?

D - Não, na época inclusive não tinha, não havia perspectiva para eu chegar à presidência, porque a compulsória era com 70 anos, haviam muitos colegas na minha frente, a probabilidade de eu concorrer era mínima, e eu nem pensava nisso, não pensava nisso nem na corregedoria, aí infelizmente nós perdemos muitos colegas, prematuramente, vários colegas, uns 4 ou 5, faleceram no auge da carreirae aí abriu um clarão na minha frente isso já em 2005 por aí, eu tinha que ficar pra pensar em me aposentar, mas eu só preencheria todas as condições para aposentadoria integral em 2005 ou 2006, aí eu tinha que ficar queria porque não sei se você sabe mesmo sendo promovido você tem que ficar mais 5 anos no cargo, antes disso se eu aposentasse em 2004 por exemplo, eu já era desembargador há quase 5 anos aí eu aposentaria, você tem que ter o requisito de 5 anos no último cargo no qual ficou pelo menos 5 anos, então muitos colegas se aposentaram com o vencimento pretérito né. Eu tinha que ficar até 2005 e 2006, exatamente nesta época, nestes anos, houve o falecimento destes colegas todos, foram saindo da frente e nós chegamos em 2000. Não sei você tem meu currículo? Como corregedor? (Carlos Araújo Drummond).

E - Como começou o interesse de entrar para a presidência? P - A presidência é uma decorrência natural da sua função. Se você continua na magistratura, vai galgando os cargos de direção. Tenho anos na magistratura, minha vida toda praticamente dedicada à magistratura, chegou a época de concorrer a vice corregedora. Foi engraçado, porque eu nem sabia que ia chegar a minha vez. No almoço uma colega pergunto “você vai aceitar ser vice corregedora?”. Eu perguntei se já era a minha vez. Ela disse: “muita gente não quer, se chegar a sua vez você aceita?”. Respondi que nem estava pensando nisso, mas se fosse a minha vez aceitaria. Era aminha vez, concorri e aceitei. Fui vice corregedora na época que a Sallaberry foi corregedora. Nos dividíamos a corregedoria, os processos que entravam, o trabalho era dividido. As correções eram divididas, ela fazia em uma vara eu

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fazia em outra. O trabalho todo era um aprendizado. É um trabalho árduo, porque faz correção nas varas dos seus colegas, recebe pedido de providencia em face dos seus colegas, tem que julgar correcional contra o seu colega. O corregedor é o que toma conta. Eu poderia ter sido corregedora ao invés de ser vice- presidente, mas optei por ser vice presidente. Depois da corregedoria houve um intervalo. Fui diretora cultural do tribunal, durante quatro anos presidi a sócio ambiental. Fiquei dois anos à frente do trabalho seguro. Isso me deu uma agilidade boa para lidar com as coisas. Por exemplo, você não participa diretamente da presidência, mas como vice corregedora substitui a corregedora (...) (Maria das Graças Viegas Paranhos).

Com isso, conclui-se que o cargo de presidente engloba um ato simbólico de

consagração, o que também pode ser constatado nos discursos de posse. Trata-se de

um coroamento final, conquanto alguns regressem à atividade judicial após a

ocupação a posição. Este é o caso, por exemplo, de Maria das Graças Viegas

Paranhos e Luiz Augusto Pimenta de Mello.

IV) O cotidiano da presidência O cotidiano da presidência envolve tanto o planejamento e o aprendizado de

habilidades de gestão quanto à escolha da equipe. No geral, entende-se que a

atividade de presidente não é solitária. Muito pelo contrário. Por isso, além do desafio

administrativo, há a escolha da composição da diretoria e da equipe. Ou seja: são

decisões que envolvem confiança.

Assim comentam: E – Quais habilidades o senhor teve que desenvolver nesse primeiro momento? Também os obstáculos que o senhor teve... Que tipo de obstáculos o senhor teve? Como foi estar “do outro lado do balcão”? Como o senhor disse... N – Foi difícil, foi um pouco difícil, mas eu tenho muito que agradecer à equipe que eu tive, que foi do meu gabinete. Foi Sheila Nassif, Lilian Duque Estrada, Samy Raiol. Esses foram, num primeiro momento, que me ajudaram. Foram meus assessores que me ajudaram a entender o outro lado, como você falou. Então, eu tive uma ajuda muito grande. Isso, aliás, é uma coisa que tem que se dizer: os funcionários do Tribunal são esteio (tom enfático)! O esteio de todos nós. Sem eles, tanto nas Turmas, como na seção de dissídios individuais na qual também fui presidente, como na presidência do Tribunal, a eles devemos muito porque são preparados. Infelizmente tem muito da imprensa que não conhece o trabalho desses abnegados funcionário do Tribunal. Eu tenho muito orgulho de ter tido uma assessoria muito boa. Se eu não tivesse tido uma assessoria muito boa, eu não teria tido o sucesso... E eu digo isso envaidecido mesmo. O sucesso da minha administração eu devo a eles. (Nelson Tomaz Braga) Ou então Luiz Augusto Pimenta de Mello e Iralton Benigno Cavalcanti: L - Daí teve aquele negócio, vai pra um lado, vai pro outro. Eu quando cheguei na administração, ou seja, na presidência não sabia nada. Eu tinha nove anos de Tribunal. Na realidade, poucos juízes sabem de administração. Eles acham que conhecem. Eu fui um presidente que teve... O meu Diretor Geral, Luiz Alfredo Tomé Torres, que era a pessoa que conhecia todo mundo no Tribunal. Então, eu praticamente dividi a presidência com ele porque ele é que sabia... Foi uma pessoa que sempre teve do

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meu lado. Funcionamos perfeitamente durante dois anos. Nas realizações... Foi aquela época de mudança para computador, passando pra informática... Aquela coisa. Eu não entendia nada disso. Antes, quando eu era corregedor, eu já via um pouco de administração no Tribunal porque o (Dr. Fernando Fragoso) Tasso, que era o presidente anterior, era uma figura. O Tasso chegava pra mim e falava: “Pimenta, vê isso pra mim, veja aquilo”, mas na verdade, de administração eu não sabia. Zero, zero. Tinha que ver licitações... Eu era um presidente pra ir a um lugar ou outro, muito embora não gostando de ir a solenidades... (Luiz Augusto Pimenta de Mello) E – O cargo de presidente é um pouco diferente, pois é um administrativo. Como foi essa experiência? Digo isso em distinção à prática jurídica. I – A parte administrativa, que não é a parte que se estuda para ser juiz... Pra ser juiz a gente estuda direito, direito do trabalho no caso, ou direito processual, direito constitucional e etc., mas a administração depende muito do trabalho conjunto, do diretores do Tribunal, do diretor administrativo... Neles se confia, neles se abraça os trabalhos de conclusão e opinião. Cabe muito mais ao direito do que ao juiz desenvolver um trabalho administrativo. E – Então a escolha do diretor tem que ser alguém de confiança? I – Geralmente ocorre em função de quem já exerceu antes. Foi diretor administrativo do meu tempo Tomé, muito conhecido no Tribunal. Largamente conhecido e tinha um bom convívio com o TST, cuidava de orçamentos e de liberação de verbas. Ele também cuidava da parte das contas para que haja aprovação no Tribunal de Contas (da União) (TCU). Quando não são aprovadas, certamente dão trabalho e aborrecimento. (Iralton Benigno Cavalcanti)

Com isso, entende-se que o a atividade presidencial contém uma dimensão

estratégica, no sentido de que o presidente deve desenvolver habilidades específicas

relativas às suas decisões. Concomitantemente, como foi dito acima, a escolha da

equipe é, de um lado, técnica e, de outro, envolve confiança.

V) Os hard cases A seção dos hard cases foi, de todos os temas abordados no questionário, o

mais difícil de serem trabalhados, pois, muitas vezes, escapavam à memória dos ex-

presidentes ou simplesmente afirmavam que não haviam se deparado com um durante

suas respectivas gestões. Dos nove entrevistados, apenas Maria de Lourdes Sallaberry

e Aloysio Santos comentam sobre os hard cases, isto é, casos extraordinários que

extrapolam os limites do Tribunal, envolvem agentes externos, opinião pública e não

são de simples resolução. Assim comentam: E – Aí doutor vamos passar para o tema do extraordinário, ou seja, dos hard cases... Como emerge um caso extraordinário e como ele se distingue do relevante. Quando falamos em extraordinário, falamos de casos que ultrapassam os limites do Tribunal e se torna um debate público... A – Houve, houve sim. Lembrei um do Metrô. Greve. Todo mundo se lembra, já disse que sou filho de ferroviário da Leopoldina com dona de casa, eu estava em casa quando minha irmã me ligou e falou pra eu olhar o que estava acontecendo65 numa estação do Metrô do Rio. Simplesmente os vigilantes batendo em passageiros, empurrando passageiros, socando passageiros. Isso eu vi no jornal da tarde do estado do Rio. Houve então uma denuncia no MP, mas o MP não vai se meter nisso, só se fosse o MP do estado. Mas aí houve um movimento dos servidores, uma greve, eles pararam, começaram a parar.

65 Sergio Honorato dos Santos é bacharel em Direito, foi assistente de Ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), foi diretor de controle interno do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região entre 2009-2019.

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De manhã cedo, o prefeito ligou no meu celular dizendo que iam me procurar, iam procurar a presidência do tribunal, dizendo que o Metrô os estava pressionando, que estavam aproveitando politicamente de um fato lamentável, que foi o das agressões, mas não se justifica parar todo o sistema porque dois ou três exageraram no comportamento. Mas essa área, por força do costume, é entregue ao vice presidente. É ele que atua em dissídios coletivos do trabalho e isso já vem de longa data. E aí ela já estava sabendo e me disse que estava marcada uma audiência de conciliação porque ele eles vão parar. Aí eu perguntei a ela o que ela estava achando e ela disse que viu a fita e achou horrível, mas que a questão era trabalhista. Vim pra cá... Você tem que entender que a estrutura toda é da presidência atuando com a vice presidente, ela não tem um gabinete pra isso. Aí, eu presidi vamos dizer assim... Não pode ser audiência porque as partes têm que ser notificadas, não pode ser reunião porque reunião só se fosse no meu gabinete... Aí montamos um encontro no décimo andar que fica como se fosse entre uma reunião e uma audiência. Depois a gente coloca um nome qualquer. Aí veio a liderança deles e a primeira coisa que eu disse foi que eu não presidia nada porque a competência é da vice presidente, que não está na casa. Eu pedi a ela que não viesse porque senão ela assumiria. Eu não posso destituí-la. Eu pedi a ela que chegasse mais tarde ou desse algum motivo, então ela não vai estar. Nós é que temos que conversar. Disse que a eles que não sabiam a metade do que eu sabia de vida e de ferroviário e ferroviário de estação de carga dos ingleses. A carteira de trabalho do meu foi assinada por um gringo qualquer... “Leopoldina Railway”. Era daquela época. Foi o segundo emprego do meu pai. Ele ficou lá 36 anos. Então, essa história eu conheço bem. Aí eu disse que se eles tivessem manifestações, eles deveriam encaminhá-las ao advogado do sindicato, não pode entrar assim, que entre com uma ação aqui, a gente vai instruir e julgar. Está parecendo que vocês líderes sindicais estão se aproveitando de um movimento grave e sério, que vocês são contra... Eles disseram “sim, somos! Imagina, agredir passageiro! Mas isso mostra como eles tratam a gente!” (se referindo à liderança). E eu disse que não mostrava porque vocês são terceirizados, isso não mostra que a empresa era contra eles. Aí a liderança disse que se fazem isso com eles, farão conosco. Eu disse então que ia registrar tudo ali, eu vou chamar o advogado da empresa, com vocês presentes, não hoje, mas vou chamar pra gente passar isso a limpo. Isso não é motivo pra greve. Disse que se eles declararem uma greve, ela seria ilegal. Porque por trás desse movimento de reivindicação (da) CEDAE, Metrô... Todo ano tem. Então firmamos esse compromisso, eles disseram que iam declarar estado de greve e resolveram lá entre eles. Depois eu até procurei saber se havia alguma ação ordinária de dissídio coletivo, mas acabaram resolvendo por lá. Agora o outro que eu me lembrei foi de servidores da antiga GE (General Eletrics). A GE acabou no Brasil, mas deixou muitos déficits trabalhistas. Aí eu recebi no meu gabinete... Depois até me deram uma placa, eu tenho até hoje guardada. Eles ouviram falar que eu recebo desde que justificado. Porque você não é uma autoridade pública judiciária... Se há uma Justiça que a população considera e respeita é a Justiça do Trabalho. Essa é a verdade. Se fizer uma estatística sobre jurisdicionado e setor da Justiça, a gente vai estar em primeiro lugar, com certeza. Não tenha a menor dúvida. Mas eu acho que isso é a obrigação... O juiz trabalhista é um juiz social. Na verdade tinha dinheiro pra pagar, estava no Banco do Brasil, só que ninguém mexeu. Provavelmente eu acho que o advogado morreu, eu não sei ao certo, e aí não mexeram mais. Era um negócio tão fácil, tão fácil. Aí o sindicato atuou e parece que três meses depois eles receberam e depois vieram me dar uma placa. (Aloysio Santos) Agora Maria de Lourdes Sallaberry: E - Tem uma parte que é sobre o ministro chama de “hard case”, os casos extraordinários e como é que ele se torna determinado, como ele surge, ele emerge e o que ele precisa ter para ser tornar extraordinário?

S - Olha deixa eu ver um caso extraordinário, eu acho o seguinte, os “hard cases” que passaram pela minha vida, foram... não se eu posso falar isso, não sei. (Risadas). Estou querendo ver assim, pois é deixa eu te falar uma coisa eu acho que as grandes lesões não vêm para a justiça, sabe, o trabalho escravo não vem para a justiça, a gente tem que ir atrás, e a justiça não vai atrás de nada, a justiça fica parada sentada e então as grandes lesões nas relações de trabalho, elas não vêm à justiça e não é a justiça quem resolve, quem resolve é o Poder Público, tá é o Ministério Público, é a fiscalização tá, para ela vir para a justiça só em termos de, hoje em dia o Ministério Público com as Ações Cívis Públicas, ele apresenta algumas lesões é, mas eu acho que o Ministério Público se perde muito com essas coisas com essas besteiras, de não poder fazer xixi, sabe umas coisas assim que, sabe, bom o Ministério Público tem agido nessas ações civis públicas com determinadas matérias sérias, como o

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trabalho escravo, mas as grandes lesões pra mim não vem para a justiça. Os “hard cases” que eu peguei, são condenações de milhões de um empregado que trabalhou nos cinco anos, que a gente não sabe de onde saiu essas condenações de milhões é só isso, em vez em quando caia na minha mão, no tribunal, uma ação que o cara estava, o empregador estava condenado a, normalmente banco, porque o banco paga,então estava uma condenação de 10 milhões para empregado, não existe essa lesão para empregado bancário, não existe. Quando chegava um caso deste eu falava isso está errado, agora vamos ver como a gente vai consertar, que estava errado estava não tem nem preciso nem ler, né. Então, as grandes lesões não vêm para cá, agora eu deparei na minha vida um caso muito interessante, que não adiantou nada, mas que era muito interessante. Que é o seguinte: na época do Brizola, o Brizola, ele cassou a concessão de um monte de empresas de ônibus, cassou a concessão. Muito bem e essas empresas de ônibus entraram na justiça e elas ganharam na justiça a indenização por essa cassação do Brizola, muito bem, estou eu na Vara, uma reclamação trabalhista contra uma empresa de ônibus e está lá o cara reclamando 20 anos de contrato de trabalho e que ele estava há cinco a disposição da empresa e a empresa não pagava salário e ele pedia o salário dos últimos cinco anos e o reconhecimento do vínculo de 20 anos e os 5 últimos de salário porque a empresa de ônibus não pagava o salário dele, e aí vem a empresa senta com o advogado da empresa com o preposto, dizendo é realmente nós fomos cassados pelo Brizola e não pagamos o salário dele realmente e carteira não anotamos ele era empregado, mas não anotamos sei o que lá. Aí eu achei, como 5 anos a disposição se a empresa não estava funcionando e 20 anos, aí eu comecei a apertar o empregado, e comecei apertar o advogado do empregador, mas Dr. você não vai arguir a prescrição, o Sr. não vai fazer nada, o Sr. vai admitir 5 anos sem trabalho? Como a disposição do empregador, qual era a disposição que ele estava? Eu disse Dr. não estou entendendo isso, não estou entendendo a sua defesa, ele disse: Não é porque a empresa ganhou na justiça comum e a justiça comum condenou o Estado a reembolsar a empresa todas as despesas decorrentes dessa cassação, então isso quem vai pagar é o Estado. Ele criou aquilo, ele inventou, ele estava inventando uma relação de trabalho, de emprego, inventando 5 anos de salário e que quem iria pagar era o Estado, então anotei tudo muito bem, extinguiu o processo sem resolução de mérito e mandei ofício para o Ministério Público, mandei tudo quanto era lugar. Muito bem, passam-se 6 meses, o Ministério Público descobre essa armação das empresas de ônibus, estavam inventando reclamações trabalhistas para gerarem créditos dos empregados, porque quem ia pagar era o Estado para distribuir, aí veio o meu, o meu. Ai estava um juiz Valentim da vara, num inquérito administrativo que foi feito para apurar quantos processos existiram e quantas empresas estavam nessa, processos já ganhos transitado em julgado. Olha, foi uma coisa, aí um colega me ligou dizendo que eu tinha sido a única que descobriu isso, único juiz que detectou que era armação, mas olha não adiantou nada pois ele foi lá fez a reclamação de novo, caiu na outra vara e ganhou. Adiantou por causa do inquérito, você foi a única que descobriu, mas a minha atuação não tinha adiantado nada, mas sinto te dizer que ele fez a mesma coisa. Vê o absurdo! Utilizam muito a justiça do trabalho e agora saiu aí que existem várias ações que são montadas por essas empresas de ônibus não sei o que, falaram que por conta do Estado estar devendo não sei quantos milhões, por conta dessas ações montadas, saiu agora por volta de 6 meses, eu li, agora que eles estão vendo, isso já tem muito tempo. Eu já saí da justiça desde 2013 e fui para o tribunal em 1990, imagina quantos anos tem isso. Então usa muita, portanto o grande caso esquisito foi esse, e fora aquele de milhões que não tem sentido.

E - Esse caso foi como juíza, e lá no tribunal como foi, por que aqui tem uma outra pergunta de como se chega a um consenso, se tem um “hard case” como é que o colegiado vai?

S - Ah sim, pois é, uma ação civil pública grande por exemplo, mais a gente sempre chega a um consenso, quando é dano moral há muita dispersão de voto, um dano moral eu dou 500, não existe critério objetivo para fixação, existem critérios, mas não critérios objetivos, todos critérios como o poder econômico da empresa, né, o dano causado, mas não existe uma tabela, hoje em dia a CLT tabelou os danos morais individuais, não os coletivos, aí estão dizendo que é inconstitucional ainda não temos uma jurisprudência precisa acerca dessa nova modificação da legislação trabalhista com o tabelamento, médio de 1 a 5 salários, de 5 a 10, mais ainda não sei se vai vigorar, uns entendem que é constitucional, outros entendem que não, ainda não temos uma jurisprudência formada a esse respeito. Mais nessas ações civis públicas, o que eles pretendem, primeiro cessar o dano, cessar aquele dano que

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está sendo causado pela empresa né, sempre contra o empregado, como se fosse um dano ambiental, cessar aquela prática que é contrária ao direito e o pagamento de um valor, de dano moral coletivo, normalmente este valor vai para um fundo de assistência ao trabalhador, vai destinado para algum lugar destinado para ser aplicado em favor do trabalhador, ou para um sindicato, ou para um fundo, alguma coisa assim, normalmente é para o FAT, eles mandam para o FAT, por isso a gente dá o dinheiro para ficar com eles. Normalmente é para isso. Então há muita dispersão de votos, e aí sempre a gente entra num voto, a gente fala voto médio, mas não existe voto médio, o que existe é voto vencedor, quando há dispersão de votos coisa assim, existe assim nós somos em 5, dois votam num e dois votam noutro e um vota noutro, não tem voto vencedor, voto vencedor é quem tem 3 votos, né. Então como faz? A gente faz o seguinte: elimina esta hipótese, vota esse com esse e aí quem ganhar vota esse como esse e aí nos 5, não existe mais a terceira via, só vai existir duas vias e aí vai ter o voto vencedor, mais normalmente um adapta ao voto do outro, entendeu? Por exemplo: para caso “hard case” ou qualquer outro caso, como eu já falei 20 vezes,não existe entendimento melhor ou pior, só existe entendimento diferente que o direito permite,entendimento diferente. O que na minha turma e em outras turmas também acontecia, e na minha turma acontecia sempre, a gente tinha uma matéria, estava em discussão porque ainda não uma jurisprudência firmada pelo TST, por que se tivesse jurisprudência firmada eu aplicava, a gente aplicava, tem outro que não aplica mas ele fica vencido normalmente a maioria aplica a jurisprudência do TST. Então, enquanto não tem uma jurisprudência, aí eu tenho têm entendimento assim, outros da outra parte tem entendimento assado. Quando a maioria da turma entendia assim, aqueles que entendiam assado ressalvavam o entendimento e passavam a entender assim também, diziam assim, apesar de eu entender assim adoto o entendimento da maioria turma, para não ficar voto divergente para não depender, por que acontece o seguinte depende muito da composição, se você ficar insistindo na sua tese, aquela turma num dia vota de um jeito e noutro dia de outro jeito, então isso é insegurança jurídica. Então a prática é de que depois que tiver a maioria formada acerca de um determinado entendimento, a minoria contrária aquele entendimento, em regra passa a adotar o entendimento da maioria, ressalvando o seu entendimento, não troca o seu entendimento, mas você diante da maioria não interessa o seu entendimento, passa adotar o da maioria, no “hard case” é a mesma coisa. A gente normalmente, por exemplo esse negócio de dano moral, tem um juiz que dava muito outro que dava pouco, por exemplo a gente chegava num consenso e fixava um valor médio, é um médio que para valor é fácil fazer soma os 5 valores divide por 5 é fácil fazer, as pessoas dizem que é médio mas não existe, existe é voto vencedor. Você vai votando as três correntes, duas a duas e aquela que obtiver o maior número de votos, vence. (Maria de Lourdes Sallaberry)

Como reconhecem os dois ex-presidentes, os casos extraordinários

normalmente se relacionam com dissídios coletivos, uma vez que mobilizam

instituições patronais, sindicais, agentes políticos e se notabilizando nos meios de

comunicação.

VI) Vida atual e questões prospectivas No tocante à vida atual dos ex-presidentes, há dois tipos: aqueles que não se

encontram exercendo atividade laboral alguma e outro grupo que se encontra na

advocacia. Os dois ainda ativos são Luiz Augusto Pimenta de Mello e Nelson Tomaz

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Braga, que abriram seus respectivos escritórios. Vale assinalar que Nelson Tomaz

Braga passou por período no Conselho Nacional de Justiça. Assim comentam: E – Ai, doutor, trazendo a discussão um pouco pra atualidade... Como é sua vida hoje em dia depois presidência? N – Eu nunca pensei... Isso não é cabotinismo... Eu nunca pensei que a minha passagem pelo CNJ fosse render tantos frutos. Hoje eu vejo muita gente de Brasília que me telefona, perguntando determinadas coisas... Então é muito reconfortante ver que você fez alguma coisa. Eu tenho certeza que eu contribui com alguma coisa para a comunidade jurídica, para as partes porque eu sempre fui transparente, graças a Deus. E – Depois o Sr. foi para o CNJ? N – Isso, eu fui para o CNJ. Eu tive o privilégio de ir a quatro reuniões da ONU-OIT, representando. Foram duas representações... Ou três. Quando eu estive no CNJ, foi muito prazeroso porque o parlamento tem um respeito muito grande pelo CNJ. E eu disse a um senador que eu ia visitar e ele disse “não senhor” e disse que ia vir. No meu tempo de CNJ era assim: você tinha um assessor e uma secretária num cubículo de 4 m2, mas era dentro do Supremo. Então era muito bom porque era dentro do Supremo, mas hoje não é mais. Então, nos facilitava muito a vida pra falar com os Ministros do Supremo... “Essa dúvida aqui, como a gente resolve?” (emulando a situação). Veja bem, o CNJ traça parâmetros para todo Brasil, então você tem que ter um pouco de cuidado pra fazer. Nisso, eu fui da gestão do Gilmar Mendes e do Cezar Peluso. A gestão do Gilmar Mendes tinha muita cautela, se reunia com o CNJ na véspera das sessões pra saber o que nós achávamos, o que íamos fazer porque aquilo repercutia assim ou assado. O ministro Peluso também: foi uma pessoa fantástica na presidência, uma pessoa equilibradíssima também e digo a você que aprendi muito, muito mesmo. (Nelson Tomaz Braga) Mais adianta na entrevista ele relata seu cotidiano atual: E – O senhor atualmente ainda trabalha? N – Tenho. Eu me aposentei (do Tribunal) e montei um escritório de advocacia. Eu trabalho... Advogo. Às vezes colegas meus pedem pra eu fazer uma peça. Eu junto, faço parceria com outras pessoas. E – Num ritmo mais tranqüilo... N – Mais ou menos (risos). Eu tenho um projeto agora, inclusive na obrigação com minha esposa, e até o final de 2019 eu vou desacelerar. Tô com dois filhos no escritório, um que é administrador e outro que é advogado e junto com um sócio, que tem mestrado em direito administrativo, financeiro. Eu me associei a ele, Roberto Schuch, e estamos tocando o escritório. E – Então o senhor tem um cotidiano bem atribulado. N – Tenho, tenho, mas eu não desço todo dia pro escritório, eu faço muitas reuniões pela Barra mesmo, principalmente, com os clientes com quem tenho mais intimidade. Os que eu não tenho tanto, eu faço as reuniões lá. Duas ou três por semana eu desço pra lá. E – O Sr. advoga tanto pra empregadores quanto para empregados? N – O escritório advoga, mas eu advogo mais pra parte de empregadores. (Nelson Tomaz Braga). Do mesmo modo, Luiz Pimenta de Mello retrata seu cotidiano nos dias de hoje: E - Nos dias atuais, doutor, como é sua rotina? O senhor ainda mantém contatos com os colegas?... L - Ah, sim, sim, tenho contato com todo mundo. Claro, tô aqui no escritório, então tem sempre processo, aí eu vou lá conversar com eles, levar memorial, ver processo nosso do escritório, eu tô advogando, sou sócio aqui do escritório... E -Entendi. O senhor pode dizer qual a diferença de agora, advogando pra lá atrás, no Tribunal? L - Total diferença! Lá, eu tinha meus assessores, aqui sou sozinho, mas o Cristiano, dono do escritório vem aqui, pergunta se tem algo pra fazer, conversa com os advogados, vou ao Tribunal ver coisas com ele, problemas administrativos do escritório... é uma rotina, assim, diferente. Lá, como juiz, você mandava, aqui não, aqui sou apenas um advogado comum, igual a qualquer outro aí, não tem esse negócio de “ah, excelência, excelência”, não! Excelência já foi, agora não sou mais excelência, sou advogado. Aí, eu chego lá no Tribunal “Oh, excelência, que bom, isso e aquilo” tá ótimo, mas saí daqui tem seis anos, não tenho mais nada aqui... E - Também tudo tem sua fase né? L - Lógico, lógico... eu vou lá, converso com todo mundo, falo com A, com B. Dizem “ah, você não saiu do Tribunal”, eu continuo com essa ligação, mas porque estou advogando, então tenho essa ligação, o escritório advoga pra empresas, grandes empresas, então tem processo que a gente tem que ir lá, conversar com juiz, não é ir lá e pedir isso e aquilo não, é só mostrar mesmo o que tá se passando no processo, porque é um volume muito grande e, às vezes, o juiz não dá pra saber.

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E - Perfeito! E há alguma diferença entre o posto de juiz e de advogado? Por que eu mesmo já ouvi de alguns juízes, falando que há uma certa diferença, porque você é a parte... L - A diferença que você diz é o que, quando vai conversar com alguém? E - Não, na atividade mesmo, porque interessante que o senhor já esteve no posto de juiz e agora está no de advogado L - Quando você vai julgar, você ouve as duas partes e vai ter que dar uma decisão. Agora, como advogado, você tá com uma parte, você vai defender aquele direito, você vai defender dentro do ponto de vista daquele ao qual você está trabalhando, é totalmente diferente porque lá (como juiz) você se abstrai de quem seja, lá você não quer nem saber quem é, o processo não tem capa. Já como advogado, você tem o seu nome ali e quer ganhar aquilo... E - E o senhor advoga mais ou presta consultoria? L - Mais consultoria, na verdade e entrega de memorial, assim, essas coisas todas, não me nego a fazer, não tem essa de “ah, por que eu fui juiz, então não vou falar”, não tem essa, é advogado e pronto. Se eu saí de lá e posso advogar, eu vou ser advogado, como qualquer um pode fazer. Agora, se o juiz que eu for conversar, achar que não é assim, não vou ficar me aborrecendo com isso... E - É um ritmo mais relaxado, né? No sentido de não desrespeitar o tempo do senhor... P - Isso, sim. (Incompreensível). Um detalhe: hoje, sou advogado, “ah, você é um juiz aposentado”. Certos privilégios que eu tinha lá, eu não gosto de usar, porque eu sou advogado, mas, não tenha dúvida que, você como um ex colega, vai ter muito mais campo pra entrar do que sendo um advogado apenas. Eu até disse logo no começo que é uma covardia você ir conversar com um juiz. Lógico que o cara vai te receber, tanto que, quando eu chego pra qualquer um, eu não vou abrindo a porta do gabinete e entrando, eu ligo antes ou chego lá e peço a secretária pra me anunciar e saber se pode me atender, numa boa, porque, sou advogado, não gosto de usar esses benefícios. É claro que o cara vai me atender bem por ser ex colega dele, mas são coisas que acontecem na vida (risos), não tem como eu falar “Ah, esquece o que eu já fui”.

Com relação às questões prospectivas, a ideia foi tomar os ex-presidentes a

serem observadores das transformações na Justiça do Trabalho, estimulando-os a falar

sobre a recente reforma trabalhista (2017). A respeito deste assunto, as visões se

dividiram. Alguns postularam que a reforma trabalhista de 2017 incorreria na perda

de direitos, mas tem em dificuldades no acesso à Justiça do Trabalho.

Assim comenta Carlos Araújo Drummond: E – Entendo... Dr., pra finalizar, gostaria de saber como é sua visão sobre a Reforma Trabalhista. D – Olha, eu vejo com muita preocupação, né Ricardo. As coisas... O mundo mudou. Eu acho que muita coisa tem que mudar no mundo do trabalho também, mas eu te confesso e, eu acho que você ouviu isso da maioria dos meus colegas... A gente pode da boca pra fora dizer politicamente que concorda com isso daí, mas na verdade não concordamos. Eu não posso concordar que um ser humano seja levado a dirigir um Uber sem garantia nenhuma, sem responsabilidade com coisa nenhuma. É uma empresa milionária que só tem um objetivo que é acabar com o táxi. Então, eu não posso concordar com isso, que a pessoa não tenha garantia nenhuma: “Ah, mas ele se inscreve como autônomo, como MEI” (digressão). O sujeito está precisando ganhar para o arroz e feijão. O arroz e o feijão é mais importante que o MEI, cara! Então, é difícil: não é que eu seja 100% contra o Uber, mas tem que ser organizado, de forma que dê proteção ao trabalhador, de forma que não desloque o motorista do táxi. Tem que ter oportunidade e garantia para todos. Esse é o mundo ideal para o juiz do trabalho, pra quem tem essa visão de proteção social. Então a Reforma trouxe coisas como a condenação do empregado a honorários, a condenação em custas. A Justiça do Trabalho ta entrando no mesmo saco da Justiça comum em que só rico pode acionar, só rico pode acionar, então... E – O sr. acha que, nesse caso, há uma clara perda de direitos, de acesso à Justiça? D – Ah sim! Com certeza. A Justiça do Trabalho é, e você sabe perfeitamente, a Justiça do desempregado. Ela não é a Justiça do empregado. Quando ele procura a Justiça do Trabalho, ele já está vivendo com o Fundo de Garantia (FGTS), com auxílio desemprego e em um momento como esse de hoje a grande maioria vai demorar a se reempregar. Eles vão precisar desse dinheiro para comer, pagar energia, aluguel, enfim... Sustentar a família. Como querer que esse homem desses venha a pagar custas num processo, honorários de advogado antes... Porque o empregado sempre pagou honorários,

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mas depois de receber. Essa é a rotina da Justiça do Trabalho, os advogados trabalham assim. Como é que você vai querer que esse cara (pague)... E – Entendo. Dr. eu acho interessante contrapor com outras narrativas que ouvi durante as entrevistas. Alguns disseram que a modificação das custas acabaria com os aventureiros... D - É? Então é como se você colocasse o sofá em frente a um buraco na parede da sala. Resolveu o problema? Não! Apenas escondeu. Temos que ir à raiz dos problemas. Tem que ir à raiz dos problemas usando a lei. Se a lei não está boa, vamos melhorar, criar uma sanção para o advogado que visivelmente extrapola a verdade porque isso é muito relativo. O juiz tem instrumentos pra isso. E – Outra narrativa está ligada às possibilidades de negociação. Com essa nova configuração haveria um espaço mais de negociação... D – Manda o motorista do Uber ir negociar com a Google (risos). É muito engraçada essa versão. Isso já é maldade política, não é nem falta de vivência. Você sabe qual é o projeto... Eu to falando Uber, Uber, Uber é porque é o mais fácil de destacar. Mas você sabe qual é o grande projeto da Google em relação aos serviços de táxi, não sabe? (Carlos Araújo Drummond) Agora Ivan Rodrigues Alves e Maria das Graças Paranhos: E - Olhando assim ‘pro’ futuro, doutor, como senhor vê o futuro do Tribunal? Porque nós estamos vivendo um momento de transformações, né, sobretudo com a reforma e tal... Como o senhor vê esse cenário? Os desafios... I - É... os desafios são os mesmos, né? Não existe diferenciação. Fizeram uma reforma trabalhista ‘capenga’ aí... e procuram se desfazer da ideia da Justiça do Trabalho, ‘tô’ vendo que tá vicejando essa ideia de que a Justiça do Trabalho é inútil... E - Como que o senhor vê isso? I - Eu vejo com uma profunda insatisfação e incompreensão... quer dizer, as pessoas que dizem isso, acho que não enxergam um palmo diante do nariz, a verdade é essa. A Justiça do Trabalho, aqui no Brasil, tem uma finalidade muito particular que é, exatamente, atender à multidão de desassistidos. Isso provoca a ira de alguns poderosos que acham que ela não deveria existir. E - O senhor comentou também, que é uma reforma ‘capenga’. Em quais pontos o senhor acha que ela é mais frágil? I - A Justiça do Trabalho foi criada, exatamente, para acudir a parcela da população que estaria desassistida, né? Então, não é como alguns pensam: que ela foi feita ‘pra’ dar razão aos empregados. Não é isso. Faça a justiça... equilíbrio, bastante equilibrada, em relação a isso. Mas, sem a Justiça do Trabalho, essa parcela desassistida fica sem horizonte, porque você vai recorrer à Justiça Comum... a Justiça Comum, o pensamento do juiz pode ser diferente, se não é voltado, diretamente àquilo, pode ser que ele dê mais atenção a outras situações, que não aquelas que a Justiça do Trabalho acorde. É... fica difícil falar disso sem causar melindre em alguns ..., mas, eu ‘tô’ convicto da importância da Justiça do Trabalho, no nosso ambiente social. E - E alguns comentam também que, essa reforma acaba dificultando, também, o acesso à própria Justiça do Trabalho... I - Sim, exatamente! Porque no momento que você impõe ônus pesados aos que se socorrem da Justiça do Trabalho, normalmente, os empregados, porque a Justiça do Trabalho não é só ‘pros’ empregados, mas ‘pros’ empregadores também... e ‘pra’ que eles tenham um equilíbrio nessa relação, então, a Justiça do Trabalho entra quase como um mediador. E nós temos uma legislação que é das mais avançadas, no mundo, em relação ao trabalho e, no entanto, eles dizem que a nossa legislação está superada... não é bem assim, não é bem assim. Isso por causa do sistema... se nós tivéssemos, ao invés da CLT, tivéssemos um Código do Direito do Trabalho, só teria ali o que é, realmente, relativo ao trabalho. Não ficaria ali a parte do Ministério Público, não estaria ali a parte de higiene e segurança do trabalho... então, haveria uma legislação civil, uma legislação comercial, uma legislação financeira, tudo em seus devidos escaninhos legais. Então, é o modo de fazer a coisa. A nossa legislação não está superada, bem ao contrário, ela está bem atualizada. Agora, com essa reforma, algumas coisas se alteraram, em prejuízo do empregado, e essa me parece que é tendência atual inclusive, o que vai ser prejudicial... (Ivan Rodrigues Alves) E - No caso as Justiça do Trabalho, quais seriam os casos? P - Os sociais. Hoje estamos abrindo o campo, mas antigamente a justiça do trabalho era mais resistente, muito legalista. Com base na reforma trabalhista - os juízes estão fugindo dela – vão surgir casos nossos. A reforma foi prejudicial, toliu direitos dos trabalhadores. Hoje nas minhas decisões quando o juiz de primeiro grau condena o empregado a pagar honorários, que realmente é um hipossuficiente, estou .... {não conclui} Os colegas na turma afirmam que a Lei prevê a suspensão do processo até que ele possa pagar os honorários, o que o impede de ingressar com nova ação.Estou

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suscitando a inconstitucionalidade, mas tenho uma leve impressão de que teve uma decisão do tribunal dizendo que não era inconstitucional. (Maria das Graças Viegas Paranhos)

Por outro lado, outros presidentes como Nelson Tomaz Braga, Aloysio Santos

e Luiz Augusto Pimenta de Mello: E – Como o Sr. vê a questão da reforma? Quais são os benefícios e os lados negativos? N – O único lado negativo da reforma e você já deve ter visto alguma entrevista minha no consultor jurídico, é o problema da gestante. Aquele foi um lado negativo e acho que tem fazer uma adequação. Quem tem que dar o atestado não é o médico da empresa, mas o ente público porque o médico da empresa não vai contrariar a empresa. Então eu acho que ali tem que ser modificado. De resto, eu acho que nós vamos gerar muito emprego, eu acho que esse país vai crescer muito, eu acredito, e já disse isso, na largada desse país. Se não houver esse grande crescimento que eu espero, mas já estou vendo algum... Já estamos vendo a economia reagir, já estamos vendo... O que falta é os administradores ficarem um pouquinho calados, né? Mas eu tenho fé que nós vamos ser uma grande nação. E – Aí tem alguns pontos que o Sr. poderia me esclarecer também. Tem a questão dos novos tipos de trabalho... Como o Sr. vê isso? N – Acho maravilhoso. Eu acho que isso é uma grande evolução. Outra coisa: esses novos tipos de trabalho... Vai ter demanda vai ser pra quem tem bastante qualificação. Tem que ter estudo. Nós ficamos 12 anos, nós perdemos uma década... Eu tenho que nós perdemos duas décadas... Você vê os países asiáticos como é que explodiram, dando educação... Mas eu acho que daqui a 10 anos nós estamos no topo. É como dizem né: “brasileiro: profissão esperança” (risos). Eu escuto desde o tempo dos meus avós que esse país vai ser uma grande nação... E eu escuto só falar, falar, falar, mas eu acho que vai ser sim. Eu tenho certeza que vai e nós ainda vamos ser, aliás, já estamos sendo... Você vê que nossos embaixadores estão sendo nomeados para fazer (pensativo)... Não uma transição, mas ouvir, lá na Venezuela, tanto o lado do Guaidó quanto o lado do Maduro. Então eu acho que a nossa diplomacia sempre foi bem conceituada. Agora, eu digo a você o seguinte: que o quadro do CNJ, com essa grande credibilidade, essa grande credibilidade que o CNJ tem, de os parlamentares virem ao CNJ e eu tive muito contato com o presidente Sarney. Eu tenho muito respeito por ele, é um homem que sabe muito de Brasil. Com toda a idade dele, é um homem que ainda tem o Brasil na cabeça. Eu respeito muito o senador José Sarney. Tive muito contato com ele e foi muito bom. E – Ele é escritor, inclusive. N – Ele ta no segundo livro me parece. E – É que tem outras coisas sobre a reforma trabalhista e gostaria que o Sr. comentasse em cima. Não é uma afirmação... Alguns dizem que a reforma traz uma dificuldade no acesso à Justiça. N – Mas como assim? E – Porque alguns dizem que ela ficou mais cara.

N – Mas veja bem: o que precisava é acabar com os aventureiros. É aquela história: joga o barro na parede, se colar, colou. Quando não tinha sucumbência (de honorários), ta?... Eu uma vez apanhei da Ordem (dos advogados do Brasil) porque eu disse que o advogado tinha que ser condenado. O autor da ação, ele não sabe o que o advogado diz algo ao empregado, mas chega lá não é nada disso e a empresa prova que pagou tudo a ele, que só tem umas horas extras pendentes. Quer dizer: por que não entrou só pedindo as horas extras? Geralmente sempre falta hora extra, isso é normal. Isso é normal no Brasil, mas eu acho que tinha que acabar com essa ‘indústria’ da hora extra. Na Europa não tem isso, chegou a tantas horas, acabou e não tem mais. Tem alguns restaurantes que a gente vai aqui no Rio que é assim: chega uma determinada hora e não tem mais. Agora, é engraçado né: todo mundo gosta de ir pros Estados Unidos trabalhar lá. Lá não tem décimo terceiro, lá não tem férias como aqui. Lá não tem nada do que tem aqui, mas aqui querem mamar na teta da viúva. E – Há outro discurso que a gene vê, Dr., é que vai prevalecer o negociado sobre o legislado... O que o Sr. acha? N – Acho maravilhoso! O fortalecimento dos sindicatos, vontade da parte... Tem que parar com essa tutela excessiva e exacerbada. Não vai tirar direito de ninguém. Agora, o que não pode é ter essa tutela exacerbada que tem. Tem que ter tutela sim, mas de maneira comedida. E – Entendo. Senão engessa muito também... N – Isso. Exatamente, isso engessa a negociação. Vamos aí ter sindicatos altamente representativos... Você veja que em 2003 (momento reflexivo). Veja só: em 2003 me perguntaram (se refere a uma entrevista concedida a um jornal): “qual é sua avaliação sobre a reforma trabalhista?”. Eu respondi: “a

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reforma deve ser encarada com muita tranqüilidade para não desmantelar o sistema. Os pontos fundamentais são: a autonomia dos sindicatos e a atualização de parte da Consolidação das Leis do Trabalho. É preciso acabar com a contribuição sindical obrigatória para fortalecer os verdadeiros sindicatos e rever o sistema S. Mas tudo deve ser paulatino, uma transição de cinco a dez anos”. Eu falei isso em 2003. Não quer dizer que eu seja um visionário, mas eu estudo as instituições para ver como a gente pode andar. Não estou certo em tudo, já dei muito fora. (Nelson Tomaz Braga) E – Doutor, a próxima pergunta é relativa aos impactos da reforma trabalhista pra Justiça do Trabalho... Como o senhor vê isso? A – Pelo que eu aprendi na Europa, nós chegamos próximos ao que tem normalmente na França, da Itália, em Portugal, na Grécia. E dizem que na Grécia foi um fracasso... Mas o problema foi econômico e financeiro, isto é, foi de gestão financeira. O que dizem hoje é que o Brasil, em termos de legislação trabalhista evoluiu, mas a gente ouve também é que as empresas é que conseguiram essa lei que ela queria. Elas queriam essa lei e conseguiram. As aventuras trabalhistas em processo diminuíram muito. Diminuiu muito o número de processos. Você entrar numa aventura trabalhista hoje custa muito caro. Igual no processo civil, se você inventar uma ação é muito grave. Isso aí melhorou. Os advogados trabalhistas deram um jeito, estão aceitando causas de sírios. Eu não me sinto à vontade, quer dizer, eu não sou técnico que administração e de legislação. Que nós demos um passo para nos aproximarmos das legislações atualizadas, isso nós demos. Agora, se o Brasil está preparado para isso? Talvez... Tem que se preparar mais, tem que se preparar mais porque o custo Brasil é uma realidade. Em lugar nenhum do mundo se encontra o custo Brasil. Só que: como evitar isso? A União tem que deixar de ser um paquiderme que se utiliza disso pra se manter no gigantismo. Então são soluções que atraem soluções, mas que ainda não conseguimos resolver. O empregado é culpado disso? Não pelo contrário, ele é a vítima. Ele pode fazer alguma coisa? Ele pode fazer com os sindicatos, mas não fizeram. E – Por que o senhor acha que não fizeram? A – Ambição política. O sindicato se aproxima de político, isso é verdade. Quase a maioria dos sindicatos no país está na mão de partidos políticos. Não tenha dúvida. Eu conheço uns três ou quatro aqui no estado do Rio, imagina no país. Isso tinha que acabar? Tinha. Quem criou isso? Foi Getúlio. São os chamados sindicatos ‘chapa branca’, lembra disso? Naquela época foi bom, mas isso tinha que ser mudado. Uns dizem que a lei restringiu o emprego formal. Os empregadores, empreendedores e as pessoas que investem nesse setor é que sabem o custo disso. Lutou-se muito, isso foi Benedita da Silva, pra regulamentar a profissão de empregada doméstica. Não tem mais. As poucas que tinham, ou foram dispensadas por causa do custo e ninguém entende o E-social66. Por incrível que pareça na segunda feira agora começa a semana do E-social. Ele não produz confiança. Até alguns contadores reclamam,.. Certas coisas de contrato de trabalho ali na execução. Não é o que ta na lei, mas na execução... Você não consegue.

Olha, isso eu tenho que responder porque é parenta da pergunta. Por exemplo, se um primo meu paga as férias da empregada errado e me pergunta o que faz, eu digo pra deixar errado. Pagou pra menos, ajusta no mês seguinte. Arranja um jeitinho e coloca lá “compensação de férias”. Pra pagar o sistema aceita, só não aceita pra devolver. Se deu a mais, esqueça e deixa pra lá porque você vai conseguir corrigir isso. O princípio é o seguinte: o que você declarou foi o que você pagou. Como é que você pagou a mais, tem o recibo do E-social emitido e agora quer corrigir o quê? O que você vai dizer?

Isso não é a lei ou a solução. Esse é o modo brasileiro. E – Há um argumento na opinião pública de que a reforma poderia trazer perda de direitos. Como é que o senhor vê isso? A – Olha, a primeira perda foi de emprego, né? As vagas estão diminuindo a cada dia. Agora, o que tem de anormal, já ta há oito, dez anos na Europa. Eu acho que o caminho é retornar ao passado. Organizar grupos interessados em resolver isso: juristas, magistrados, advogados, líderes sindicais verdadeiros. Não aqueles que se valem do serviço sindical pra virar vereador, depois prefeito, depois deputado estadual, não. Isso a gente investiga e vê. Aliás, tem um caso lá no meu blog de um líder sindical que ficou 35 anos lá na Espanha. Então quando ele perdeu as eleições, ele ficou desesperado e arrumou um cargo político. Essa história acontece frequentemente no Brasil. Então um grupo interessado em propor a solução. Porque é muito fácil ser crítico. Ouço de muitos que o ideal seria fazer com que as mulheres recebessem o mesmo salário dos homens porque isso é um absurdo e isso 66 E social é um programa social cujo principal objetivo é a consolidação das obrigações acessórias da área trabalhista em uma única entrega.

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não existe mais. O problema é que essas pessoas não trazem nenhuma solução. O que tem que fazer é fiscalizar, fazer enquetes, fazer visita aos RHs (recursos humanos) das grandes empresas, né? A mão de obra é cara e isso vai ser repassado pelo empregador: sonegando talvez, não reconhecendo direitos talvez, não pagando corretamente talvez. Enquanto não se enfrenta com vontade de resolver o problema, a gente vai ficar nesse “fala”, “diz”, “anuncia”, “critica” negativamente e não vejo disposição pra resolver. Mas tem que se dizer que em termos internacionais a legislação avançou. Casou danos? Casou. Isso não posso negar. (Aloysio Santos) E - Claro, é uma memória querida. E aí, doutor, passando um pouco pra atualidade, como o senhor vê a recente reforma trabalhista, os pontos positivos, negativos, o que ela muda? L - Mudou muita coisa, em termos de procedimento, pra apresentar uma reclamação trabalhista, isso mudou em muito, restringiu determinadas coisas. Agora, em se tratando de direitos, eu acho que equilibrou um pouco a balança, porque antes, era uma coisa mais tendenciosa para empregado, tanto que dizem “A justiça do Trabalho é para empregado”, agora, equilibrou mais um pouco, e o Direito do Trabalho vai ser mais respeitado, porque agora, você vai ter que ter técnica, você não chega e ,simplesmente, joga aquela reclamação mais, não vai poder mais jogar um monte de coisa e ver o que acontece, o pessoal vai pensar mais um pouco, a coisa vai ser mais enxuta, como se diz, pra poder aplicar o direito mais perfeito, você vai ter que ter prova, vai ter que pedir, precisa saber um pouco do Direito do Trabalho para usá-lo E - Perfeito! Porque, do contrário, também cria um excesso, né? L - antes, tinha um excesso de, às vezes, você pedir um monte de coisa que, nem tinha direito, mas pedia. Vai dificultar um pouco, mas para que o Direito do Trabalho seja mais técnico E - Perfeito! E também cria muito aventureiro né? L - Sim, agora, vão pensar, não vão ter mais esses aventureiros, eles vão ter que entender (do Direito do Trabalho) E - E há, também, uma outra narrativa que a gente lê no jornal, agora falando como leigo, de que esse privilégio do negociado sobre o legislado, como o senhor vê isso? L - Isso... tem que esperar. Essa questão do negociado sobre aquilo que é lei, você começa a criar, mas existe limite também, você não faz qualquer acordo que é válido, tem que estar dentro dos limites. Mas, como o Direito você consegue manobrar, às vezes saem coisas que não seriam o que condiz com a lei, mas é questão de interpretação. Não vejo assim com muito bons olhos não, você tem que ter, mas tudo isso é a questão do povo e da mentalidade E - Perfeito! Porque de um lado tem a negociação, mas também tem a contribuição, ou seja, o sindicato, teoricamente... L - Mas, o sindicato, falando de hoje, se ele trabalhasse, se ele atuasse, realmente em prol dos seus associados, seria ótimo. Se não fosse pura e simplesmente, receber a contribuição sindical e não dar nada em retorno àqueles que são seus contribuintes E - Porque são muito hierarquizados, às vezes né? L - Sim, hierarquizado e tem o domínio de certas castras, eles assumem aquilo ali e vêm de tempos e tempos... eu acho que foi uma coisa boa para o sindicato dar mais alguma coisa para o seu sindicalizado. Eu acho que cada empresa tem o seu viés, uma empresa faz um acordo e ela sabe muito bem o que ela pode e o que ela não pode dar. Agora, em categoria, categoria às vezes faz uma norma que para uma empresa não serve, então, eu acho que isso aí tem que ser muito bem equacionado. É bom? É, mas, vamos esperar mais um pouco pra ver o que acontece com esse acordado sobre o legislado, muito embora, nossa legislação dependa do interesse dos nossos senhores deputados, de você chegar lá e ter que fazer um lóbi para conseguir isso e aquilo. O presidente tem o discurso dele, mas é o Congresso que define, “ah, vou fazer isso, diminuir aquilo” (presidente), mas é o Congresso que define isso aí (Luiz Augusto Pimenta de Mello).

Há dois temas recorrentes: a) o de que a reforma trabalhista acabaria com os

“aventureiros”, diminuindo o volume de processos e aumentando a celeridade da

Justiça do Trabalho; b) a temática acerca da maior liberdade de negociação uma vez

que os sindicatos teriam um papel tutelar. Já os que argumentaram contra, reforçaram

justamente as assimetrias entre trabalhadores e empregadores.

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Concluímos, portanto, que, ao tomar os ex-presidentes como observadores das

transformações trazidas pela Reforma Trabalhista, não há em absoluto um consenso

entre eles. Tal dissenso, por sua vez, expressa justamente divergências a respeito da

missão e das prioridades da Justiça do Trabalho diante de uma nova era, com novas

formas de trabalho e de relações empregatícias.

A análise das entrevistas semiestruturadas conduzidas com os ex-presidentes

do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região buscou identificar padrões a partir das

seções apresentadas no questionário.

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VII – À GUISA DE CONCLUSÃO

A execução da pesquisa sobre história oral e institucional dos ex-presidentes

do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região intentou produzir resultados e

produtos diversos. Podemos, então, elencar alguns deles, a fim de explanar suas

finalidades. O primeiro deles e mais explícito é a produção de um acervo de

entrevistas e o tratamento analítico especializados dos discursos de posse/ entrega do

cargo. No caso do tratamento dos discursos de posse/ entrega do cargo, a análise

possibilitou racionalizar e criar padrões organizados de narrativas, identificar temas

de importância e elaborar inicialmente perfis. Como a análise dos documentos

permitiu um acesso mais amplo aos ex-presidentes já falecidos, foi possível

contemplar a totalidade dos desembargadores (levando em conta o recorte temporal

proposto). Foi possível igualmente estabelecer redes de figuras de influência,

categorizar as principais realizações e pautas das gestões. Percebeu-se que a

presidência envolve um espírito de equipe e que todos os ex-presidentes entendem

suas respectivas gestões não como realizações pessoais, mas como projetos

organizados em etapas.

Algumas temáticas foram as mais freqüentes, como a celeridade processual da

Justiça do Trabalho, a política de aluguel e a questão da sede própria, a

informatização dos processos com a implementação da PJe, a discussão acerca do fim

da Justiça do Trabalho e sua integração a Justiça Federal, além da expansão

descentralizada das jurisdições trabalhistas.

Não raro, os mesmos temas surgiram em situações de entrevista, sobretudo, a

questão da informatização e o ataque à Justiça do Trabalho. Dos que se colocaram

predominantemente em favor da recente Reforma Trabalhista (2017) não foi

incomum atrelar o advento da reforma à maior celeridade. Por outro lado, em meio

àqueles que se colocaram contra houve críticas de perda de direitos e que a Reforma

de 2017 tornaria mais difícil o acesso à Justiça.

Outro aspecto que saltou aos olhos na trajetória educacional dos ex-

desembargadores é que a grande maioria se formou em universidades públicas.

Contudo, não foi possível observar nenhuma diferença sensível na formação jurídica e

intelectual.

Observou-se de igual maneira certa clivagem entre os desembargadores

oriundos do quinto constitucional e os magistrados de carreira. Muito embora ela

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exista devido à própria trajetória e ingresso no Tribunal. Como não foram

entrevistados ex-presidentes oriundos de vagas do Ministério Público, não foi possível

saber como eles se distinguem em referência àqueles que vieram da advocacia. Foi

possível observar que alguns ex-presidentes, como Dr. Luiz Pimenta de Mello e Dra.

Maria de Lourdes Sallaberry têm forte potencial agregador, sendo citados

frequentemente citados em entrevistas.

Durante a pesquisa também foi constatada que as eleições, ao contrário do que

se pensou inicialmente, não ocorrem por meio da ampla concorrência, mas pela pré

seleção dos mais antigos. Percebeu-se que a posição de presidente constitui uma

espécie de coroamento na carreira e que, comumente, é seguida pela aposentadoria.

Após o período de serviços prestados ao Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região,

apenas dois ex-desembargadores mantêm atividade laboral em seus respectivos

escritórios: Dr. Luiz Pimenta de Mello e o Dr. Nelson Tomaz Braga.

No tocante à origem familiar e social dos ex-presidentes entrevistados, não se

nota a presença de dificuldades financeiras ou educacionais prévias. Durante os

estudos superiores, geralmente citavam professores como referências, o que aponta

para certo investimento afetivo na profissão. Isto significa que a profissão de

magistrado não é apenas um meio para se ganhar dinheiro, mas envolve a construção

da autoestima e da realização pessoal de seus agentes na profissão. Não foi incomum

a comparação da profissão de magistrado com a de ator ou sacerdote, o que assinala

outros campos de produção estética e simbólica (Bourdieu, 1979). Constatou-se duas

formas distintas, porém, interligadas de reprodução familiar nas profissões jurídicas

(Bonelli, 2016): a primeira delas refere-se ao capital familiar de origem, atuando

diretamente, por meio do capital social, ou indiretamente por meio do contato familiar

com profissões jurídicas. A segunda atua de maneira menos direta na qual garantem

condições culturais e materiais adequadas ao sucesso escolar e profissional.

Por fim, a reprodução familiar mais na origem pode ser observado no caso do

Dr. Luiz Pimenta de Mello. Entretanto, nas entrevistas ficou claro que muitos ex-

desembargadores tinham parentes inseridos em profissões jurídicas, sejam em outros

ramos do Direito ou mesmo na Justiça Trabalhista. Não se constatou trajetórias de

ascensão social mais intensa, como a socióloga Maria da Glória Bonelli observou em

seu estudo (2016). Talvez seja possível dizer que as trajetórias observadas por ela na

magistratura sejam mais comuns em novas comarcas de interior de primeira instância

nas quais o “efeito modernizador” (Vianna, 2004) e “desenraizador” (Bourdieu, 1977)

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(no sentido da reconfiguração das posições sociais existentes) seja mais presente.

Camadas médias e médias baixas aptas ao sucesso escolar (Bourdieu; Passeron, 1970)

e com ampla experiência em cargos mais baixos em tribunais e cartórios ascendem

por meio de um processo seletivo impessoal (concurso). Os ex-presidentes geralmente

trabalhavam na advocacia ou passaram no concurso relativamente jovens. A

conclusão a ser tirada é que estratégias de reprodução familiar são complexas,

matizadas e longe de refletirem a extensão do poder pessoal ou estamental direto dos

agentes (Faoro, 2012). Portanto, não podem ser explicada meramente por sua

determinação de origem.