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TCE-RJ PROCESSO n.º 212.595-8/14 RUBRICA Fls.: AC13/GA05 TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO GABINETE DO CONSELHEIRO SUBSTITUTO MARCELO VERDINI MAIA PLENÁRIO VOTO GA-1 PROCESSO: TCE-RJ 212.595-8/14 ORIGEM: CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO JOÃO DE MERITI ASSUNTO: RELATÓRIO DE AUDITORIA GOVERNAMENTAL – INSPEÇÃO – ORDINÁRIA EXECUÇÃO: 14.04.14 a 18.04.14 ABRANGÊNCIA: 2012-2014 CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO JOÃO DE MERITI. RELATÓRIO DE AUDITORIA GOVERNAMENTAL – INSPEÇÃO – ORDINÁRIA. PAAAG 2014. VERIFICAÇÃO DA REGULARIDADE DA REMUNERAÇÃO DE SERVIDORES ATIVOS E INATIVOS, BEM COMO DA EXISTÊNCIA DE PROPORCIONALIDADE ENTRE O NÚMERO DE OCUPANTES DE CARGOS EM COMISSÃO E O DE CARGOS EFETIVOS. NÃO ATENDIMENTO DE NOTIFICAÇÃO. RESPONSÁVEL REVEL. APLICAÇÃO DE MULTA. INADEQUAÇÃO DO NÚMERO DE CARGOS EM COMISSÃO COMPARADO AO DE EFETIVOS. COMUNICAÇÃO. CONVERSÃO EM PROCESSO DIGITAL. A presente Auditoria Governamental – Inspeção – Ordinária foi realizada no âmbito da Câmara Municipal de São João de Meriti, em cumprimento ao Plano Anual das Atividades de Auditoria Governamental – PAAAG para o exercício de 2014 (Processo TCE-RJ 304.178-9/13), visando verificar a regularidade da remuneração de servidores ativos e inativos, bem como a existência de proporcionalidade entre o número de ocupantes de cargos em comissão e o de cargos efetivos. Durante os trabalhos de campo, foi registrado apenas um único achado, a saber: Achado 1 Desproporcionalidade entre a quantidade de servidores comissionados e de servidores efetivos.

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TCE-RJ PROCESSO n.º 212.595-8/14 RUBRICA Fls.:

AC13/GA05

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO GABINETE DO CONSELHEIRO SUBSTITUTO MARCELO VERDINI MAIA

PLENÁRIO

VOTO GA-1

PROCESSO: TCE-RJ 212.595-8/14

ORIGEM: CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO JOÃO DE MERITI

ASSUNTO: RELATÓRIO DE AUDITORIA GOVERNAMENTAL – INSPEÇÃO – ORDINÁRIA

EXECUÇÃO: 14.04.14 a 18.04.14

ABRANGÊNCIA: 2012-2014

CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO JOÃO DE MERITI. RELATÓRIO DE

AUDITORIA GOVERNAMENTAL – INSPEÇÃO – ORDINÁRIA. PAAAG

2014. VERIFICAÇÃO DA REGULARIDADE DA REMUNERAÇÃO DE

SERVIDORES ATIVOS E INATIVOS, BEM COMO DA EXISTÊNCIA DE

PROPORCIONALIDADE ENTRE O NÚMERO DE OCUPANTES DE

CARGOS EM COMISSÃO E O DE CARGOS EFETIVOS. NÃO

ATENDIMENTO DE NOTIFICAÇÃO. RESPONSÁVEL REVEL.

APLICAÇÃO DE MULTA. INADEQUAÇÃO DO NÚMERO DE CARGOS

EM COMISSÃO COMPARADO AO DE EFETIVOS. COMUNICAÇÃO.

CONVERSÃO EM PROCESSO DIGITAL.

A presente Auditoria Governamental – Inspeção – Ordinária foi realizada no âmbito da

Câmara Municipal de São João de Meriti, em cumprimento ao Plano Anual das Atividades de

Auditoria Governamental – PAAAG para o exercício de 2014 (Processo TCE-RJ 304.178-9/13),

visando verificar a regularidade da remuneração de servidores ativos e inativos, bem como a

existência de proporcionalidade entre o número de ocupantes de cargos em comissão e o de cargos

efetivos.

Durante os trabalhos de campo, foi registrado apenas um único achado, a saber:

Achado 1 Desproporcionalidade entre a quantidade de servidores comissionados e de servidores efetivos.

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a) Situação Encontrada

Situação 1

A estrutura de cargos efetivos e comissionados do órgão, estabelecida pela Lei 1.821/11 (fls. 70/92), conforme disposta na Tabela 1 (fls. 69), demonstra que, do total de cargos criados do órgão, 88,97% são de provimento em comissão, revelando desequilíbrio entre as naturezas, bem como falta de estrutura para atuação do Poder Legislativo local.

Em relação aos cargos ocupados, a desproporcionalidade permanece, dado que 95,72% da totalidade dos cargos estão providos por servidores exclusivamente comissionados, conforme demonstrado na Tabela 2 (fls.69).

Cabe ressaltar, ainda, que, especificamente quanto aos cargos em comissão destinados à administração da Câmara (total de 108 cargos), todos estão ocupados por servidores sem vínculo efetivo (extra quadro) ou 100% está ocupado por servidores sem vínculo efetivo (extra quadro), o que reforça a falta de estrutura do órgão para o desempenho de suas funções, conforme Tabela 3 (fls.69).

Trata-se da terceira apreciação para decisão. Na última deliberação, ocorrida em sessão de

08.12.16, o E. Plenário deste Tribunal decidiu por NOTIFICAÇÃO ao gestor anterior e COMUNICAÇÃO

com DETERMINAÇÃO ao então presidente da Câmara Municipal, nos seguintes termos:

1 - Pela NOTIFICAÇÃO ao Sr. Carlos Roberto Rodrigues, Presidente da Câmara Municipal de São João de Meriti, com base no disposto no art. 6º, § 2º, da Deliberação TCE-RJ n.º 204/96, a ser efetivada na forma do art.3º da Deliberação TCE-RJ nº 234/2006, alterada pela Deliberação TCE-RJ nº 241/2007, ou, na impossibilidade, na ordem seqüencial do art. 26, do Regimento Interno desta Corte, para que, no prazo legal e com a devida documentação comprobatória, o responsável apresente razões de defesa pelo descumprimento dos itens 3.1.1 a 3.1.3 do voto prolatado em Sessão de 08.09.15, sem prejuízo do cumprimento dos itens abaixo:

1.1. Remeter a este Tribunal, no prazo de 60 dias, Plano de Ação com as informações constantes do modelo em anexo (Situação 1);

1.2. Designar servidor cujo cargo guarde correspondência com a responsabilidade assumida, para controlar o cumprimento das ações elencadas e servir de contato direto entre a Administração Municipal e esta Corte. (Situação 1);

1.3. Remeter a esta Corte, em decorrência do item anterior, juntamente com o Plano de Ação, os dados (nome, cargo/função e telefone de contato) do servidor designado. (Situação 1)

2 - Pela COMUNICAÇÃO ao Presidente da Câmara Municipal de São João de Meriti, na forma e para os fins propostos às fls. 116/117, a ser cumprida no prazo legal, com base no disposto no art. 6º, § 1º, da Deliberação TCE-RJ n.º 204/96, a ser efetivada na forma do art.3º da Deliberação TCE-RJ nº 234/2006, alterada pela Deliberação TCE-RJ nº 241/2007, ou, na impossibilidade, na ordem seqüencial do art. 26 do Regimento Interno desta Corte.

3 - Pelo ENCAMINHAMENTO ao Presidente da Câmara Municipal de São João de Meriti de cópia imprensa das fls. 115/117, do respetivo Relatório de fls. 93/101 bem como das fls. 101-verso/103 do Plano de Ação.

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AC13/GA05

Não houve apresentação de defesa por parte do Sr. Carlos Roberto Rodrigues, Presidente

da Câmara Municipal de São João de Meriti à época dos fatos, sendo emitido pelo setor

competente (CPR/SGE) o respectivo Certificado de Revelia (Certificado nº 181/2017, fls. 147).

Em atendimento ao comando do item 2 do voto acima reproduzido (COMUNICAÇÃO ao

então Presidente da Câmara Municipal de São João de Meriti, na forma e para os fins propostos às

fls. 116/117), o Sr. Davi Perini Vermelho apresentou justificativas por meio do Doc. TCE-RJ 28.682-

1/17 (fls. 132/145).

Rememore-se o teor do contido às fls. 116/117, a que alude o item 2 do voto acima

transcrito (COMUNICAÇÃO), direcionado ao Sr. Davi Perini Vermelho, então Presidente da Câmara

Municipal de São João de Meriti:

2 - COMUNICAÇÃO, nos termos do artigo 6º, § 1º, da Deliberação TCE/RJ 204/96 e na forma do artigo 26 e incisos do Regimento Interno, aprovado pela Deliberação TCE/RJ 167/92, para que, no prazo a ser definido pelo Plenário, comprove a adoção das medidas corretivas indicadas na Situação 1 do Relatório de fls. 93/101-verso, bem como daquelas constantes do Plano de Ação de fls. 101/103-verso:

No prazo de 180 dias:

1. Promover a adequação do quantitativo de cargos comissionados e efetivos, de forma a resguardar a proporcionalidade exigida pela Constituição Federal, ou seja, para que no Quadro de Pessoal os cargos efetivos constituam a maioria do quantitativo total de cargos, o que poderá ser alcançado mediante ações, como: (Situação 1)

a) Iniciativas de projetos de lei de criação de cargos efetivos, caso se apresentem necessários, para a subsequente realização de concurso público, no intuito de substituir parte dos servidores comissionados por efetivos e/ou; (Situação 1)

b) Extinção de cargos em comissão considerados desnecessários ou que não estejam relacionados às funções de direção, chefia e assessoramento. (Situação 1)

2. Observar, quando da adequação de seu Quadro de Pessoal às suas necessidades administrativas:

a) Que os cargos cujas atribuições sejam de natureza permanente, com funções tipicamente burocráticas, devem ser providos por meio do necessário concurso público, nos termos do inciso II do art. 37 da CF/88;

b) Que a lei ou resolução que reestruturar o Quadro de Pessoal deve obedecer ao que preceitua o inciso V do art. 37 da CF/88, com redação dada pela EC 19/98, no sentido de que “as funções de confiança devem ser exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo” e “ os cargos em comissão devem ser preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei e destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento”, bem como, o inciso IV do art.

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51 da Constituição (“CF/88, Art 51 – Compete privativamente à Câmara dos Deputados: ... IV 0- dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços e a iniciativa de lei para a fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias; e

c) Os princípios da impessoalidade, moralidade, razoabilidade e proporcionalidade quando das definições dos quantitativos e atribuições de todos os seus cargos (efetivos e comissionados) (Situação 1)

Seguindo seu pulso regular, foram os autos remetidos à especializada de pessoal, que assim

se manifestou a respeito do Doc. TCE-RJ 28.682-1/17:

(...) por não ter atendido à notificação objeto do item 1 do voto, foi expedido o Certificado de Revelia nº 181/2017, fls. 147 em desfavor do Sr. Carlos Roberto Rodrigues, ex-Presidente da Câmara de Vereadores de São João de Meriti, razão pela qual ser-lhe-á sugerida aplicação de multa pelo desatendimento injustificado à determinação do Tribunal.

Passa-se à análise do documento TCE-RJ 28.682-1/17.

O jurisdicionado informa que a mesa diretora da Câmara editou a Resolução nº 1.373, de 26 de setembro de 2017, reestruturando os quadros de servidores públicos da Câmara Municipal, bem como que foi autorizada a abertura de concurso público através do Processo Administrativo nº 0590/2017, cumprindo assim, segundo alega, as recomendações do Tribunal.

Em examinando a documentação acostada aos autos, logrou-se verificar a presença dos Anexos I (Tabela de Correspondência dos Cargos Efetivos), II (Tabela de Vencimentos dos Cargos Efetivos) e III (Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão) (fls. 134/136), de Errata ao Anexo I, da Lei nº 2.167/2017 (Tabela de Correspondência dos Cargos Efetivos), e do Ofício 366/17-GP, destinado ao Sr. Presidente da Câmara, sem identificação de subscritor, encaminhando retificação dos Anexos I e II da Resolução 1.373/17, tendo em vista incorreção no que tange ao quantitativo de cargos, quando de sua publicação.

Tendo em vista que a referência a dois dispositivos distintos a tratar da matéria não permite inferir se a determinação foi efetivamente cumprida, procedeu-se à pesquisa no sítio eletrônico da Câmara Municipal com o objetivo de esclarecer-se a questão. Tal pesquisa demonstrou que a citada Lei nº 2.167/2017 cria, apenas, o novo Quadro de Cargos de Provimento Efetivo da Câmara Municipal, descritos em seu Anexo I, sem fazer qualquer referência a cargos em comissão.

Verificamos também, no sítio internet da Câmara, que aquele órgão legislativo realizou o concurso público em 2017 sem que o respectivo edital de abertura tenha sido encaminhado ao Tribunal para análise, razão pela qual demos ciência à 3ª CAP quanto aos fatos por meio do Memorando nº 27/18 – 2ª CAP.

Constata-se, portanto, inexistir nos autos comprovação de que o quadro de pessoal da Câmara de Vereadores de São João de Meriti foi readequado no sentido de que os servidores efetivos correspondam a maioria dos cargos providos.

Em conclusão, sugere a especializada de auditoria de pessoal a APLICAÇÃO DE MULTA ao

responsável revel e nova COMUNICAÇÃO ao atual gestor e Controlador Interno da Câmara

Municipal, bem como pela conversão do conteúdo processual para a forma digital.

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O Ministério Público Especial junto a esta Corte, representado pelo Procurador Horácio

Machado Medeiros, acompanha a Instrução (fls. 153).

É O RELATÓRIO.

Registro que atuo nestes autos em substituição ao Conselheiro Marco Antonio Barbosa de

Alencar, em razão de convocação da Presidente Interina deste Egrégio Tribunal de Contas,

Conselheira Marianna Montebello Willeman, realizada em sessão plenária de 04.04.17.

Trata-se de processo sob minha relatoria por força do item 2 do Ato Executivo 20.796/17.

Analisados os autos, percebe-se que o único achado então registrado trata de inequívoca

desproporcionalidade entre o quantitativo de cargos exclusivamente comissionados em relação ao

de servidores efetivos, tendo exatamente por isso este TCE-RJ, desde a primeira sessão plenária

(08.09.15), determinado ao gestor a adoção de providências no sentido de sanear tal irregularidade,

sendo inclusive sugeridas possíveis soluções de resolução da questão em Plano de Ação apresentado

ao final do relatório inaugural.

O achado identificado no Relatório de Inspeção possui natureza grave e demandava

providências imediatas por parte do gestor, que não atendeu às determinações desta Corte,

sendo, por isso, aberta a possibilidade de que apresentasse defesa a seu favor, tendo o

responsável, após devidamente notificado, permanecido inerte, conforme certificado de revelia à

fl. 147.

Em observação aos quantitativos constantes do relatório, observa-se flagrante ilegalidade

na composição dos quadros da Câmara Municipal, visto que, do total de cargos criados do órgão,

88,97% eram de provimento em comissão, percentual esse que alcança a ordem de 95,72% se

considerados os cargos providos, sendo que TODOS os cargos criados para atuação na

Administração da Câmara Municipal (total de 108 cargos) eram de provimento exclusivamente

comissionado, revelando o desequilíbrio entre as naturezas e a total falta de estrutura adequada

para atuação do Poder Legislativo local. Eis os quadros (fls. 69 e 36):

TABELA 1

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Mesmo ciente da irregularidade, nada fez o jurisdicionado para de fato implementar alguma

medida capaz de atender aos comandos do voto aprovado em sessão de 08.09.15, sendo minha

posição concordante à do Corpo Técnico no sentido de aplicar multa ao Sr. Carlos Roberto

Rodrigues, Presidente da Câmara Municipal de São João de Meriti à época dos fatos, por

descumprimento de decisão do tribunal, conduta passível de aplicação da multa prevista no inciso

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IV c/c §1º do Art. 63 da LC 63/90, visto que deixou de cumprir a decisão do Tribunal sem motivo

justificável, contrariando os critérios descritos previamente no relatório, quais sejam: CF/88, art. 37

caput (princípio da eficiência) e incisos II e V; princípios da impessoalidade, moralidade,

razoabilidade e proporcionalidade quando da definição/manutenção dos quantitativos de cargos em

comissão.

Considerando que o cargo de Presidente da Câmara Municipal é o de mais elevado grau da

Casa Legislativa, sendo perfeitamente razoável presumir-se que o responsável detinha

conhecimento a respeito da normatização (critérios) de regência da matéria;

Considerando que, mesmo após devidamente chamado aos autos para prestar

esclarecimentos sobre as medidas que entendesse necessárias para ilidir a irregularidade apontada,

inclusive com modelo de Plano de Ação encaminhado, o Sr. Carlos Roberto Rodrigues não

apresentou qualquer documento/justificativa, tendo sido declarado revel nos autos, conforme

Certificado de Revelia nº 181/2017, fls. 147; e

Considerando a grande reprovabilidade da conduta omissiva que, como destacado acima,

constitui-se em irregularidade grave, na medida em que privilegia o acesso a cargo público em

detrimento da realização de concurso púbico e permite estrutura de cargos inadequada à luz do

inciso V do Art. 37 da CF/88, contribuindo com o enfraquecimento da estrutura permanente de

atuação do Poder Legislativo local, expondo o jurisdicionado ao risco da descontinuidade do serviço

público, bem como com a potencial falta de profissionalização da Casa Legislativa;

Entendo ser apropriada a fixação de multa no valor de R$ 49.408,50 (quarenta e nove mil e

quatrocentos e oito reais e cinquenta centavos), equivalentes, nessa data, a 15.000 UFIR-RJ, face o

acima exposto e diante da relevância social do tema e da materialidade envolvida1.

Há que se destacar que a proporcionalidade entre o número de ocupantes de cargos em

comissão e o de cargos efetivos é tema presente nestes autos e nas demais auditorias realizadas nas

casas legislativas municipais no exercício de 2014, tendo o tema sofrido relativização quando do

julgamento do Processo 210.627-3/142, cujo entendimento firmado foi no sentido de que deve

haver ponderação apta a se verificar se há adequação entre o número total de servidores

comissionados e efetivos atuantes na Câmara aos ditames legais, e não uma simples verificação

1 À época dos fatos (FEV/2014), a despesa mensal com servidores exclusivamente comissionados da Câmara Municipal de

São João de Meriti alcançou a ordem de R$ 331.920,00 (trezentos e trinta e um mil e novecentos e vinte reais). 2 Processo 210.627-3/14: Voto MMW de 30.01.18 – Câmara Municipal de Italva.

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rígida de quantitativos de cargos (efetivos e comissionados) do Quadro de Pessoal do órgão, como

previsto inicialmente no relatório inaugural.

Contudo, para o presente caso (Câmara Municipal de São João de Meriti), não há dúvidas de

que havia inadequação do número absoluto de cargos em comissão quando comparado ao de

efetivos (179 cargos em comissão e somente 8 efetivos providos), por ultrapassar

consideravelmente o limite do razoável.

Em relação à resposta trazida pelo Sr. Davi Perini Vermelho em atenção ao item 2 do voto de

08.12.16, acima já reproduzido, em que informa que a mesa diretora da Câmara editou a Resolução

nº 1.373, de 26 de setembro de 2017, reestruturando os quadros de servidores públicos da Câmara

Municipal, bem como que foi autorizada a abertura de concurso público através do Processo

Administrativo nº 0590/2017, o Corpo Técnico conclui, em suma, que houve alteração da referida

resolução por meio da Lei Municipal 2.167/2017, não sendo possível afirmar se de fato houve

efetiva adequação dos quantitativos de cargos em comissão com a edição de tais normativos, dado

que “a citada Lei nº 2.167/2017 cria, apenas, o novo Quadro de Cargos de Provimento Efetivo da

Câmara Municipal, descritos em seu Anexo I, sem fazer qualquer referência a cargos em comissão”,

inexistindo nos autos comprovação inequívoca de que o quadro de pessoal da Câmara de

Vereadores de São João de Meriti foi readequado no sentido de que os servidores efetivos

correspondam à maioria dos cargos providos.

Concordo com o proposto pela instrução no sentido de se determinar a adequação do

quantitativo de cargos, no prazo por ela proposto, mas sem necessariamente vinculá-la à existência

de uma maioria absoluta de cargos efetivos, alertando-se o atual gestor para que observe as ações

sugeridas pelo Corpo Instrutivo no próprio Plano de Ação anteriormente encaminhado (fl. 102),

contudo deixo de acolher a sugestão de aplicação de multa diária ao gestor, sem prejuízo da

possibilidade de ressarcimento, em sede de tomada de contas especial, dos valores pagos pelo

gestor a servidores exclusivamente comissionados em quantitativo inadequado ou injustificado, caso

constatado descumprimento das determinações deste tribunal.

Acerca da informação trazida pelo Sr. Davi Perini Vermelho a respeito de abertura de

concurso público para regularização da desproporcionalidade, considerando que já foi comprovado a

sua realização e já foi dada a devida ciência3 ao setor competente deste TCE-RJ (3ª CAP/SUP/SGE) de

que o respectivo edital de abertura não foi devidamente encaminhado ao Tribunal para análise,

3 Conforme Memorando nº 27/18 – 2ª CAP/SUP/SGE.

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entendo que as medidas correspondentes devem ser tomadas conforme as competências daquela

coordenadoria, em processo de controle externo específico, razão pela qual a matéria não será

tratada nestes autos.

Ainda sobre o tema acima, importante citar contribuições firmadas pelo Corpo Técnico em

relatórios dessa mesma temática no sentido de que não apenas por novas admissões via concurso

público que se pode solucionar a situação desproporcional de uma Câmara Municipal, haja vista a

existência da possibilidade de se extinguir cargos comissionados eventualmente considerados

desnecessários para que a Casa de Leis de fato cumpra seu papel constitucional e político, que é o

seu regular funcionamento de acordo com os princípios da legalidade e da eficiência, norteadores da

atuação de todo gestor público em prol da "boa administração”. Nesse contexto, acertadas as

palavras do Corpo Técnico quando ensinam que o princípio da eficiência

(...) impõe à Administração Pública direta e indireta a obrigação de realizar suas atribuições com rapidez, perfeição e rendimento, além, por certo, de observar outras regras, a exemplo do princípio da legalidade, como aduz o próprio jurisdicionado em suas alegações.

Ao assumir a posição de líder da Câmara Municipal, o Presidente deve estar atento às suas estruturas e organizações, evitando a manutenção de pessoas, setores e órgãos subutilizados ou que não atendam às necessidades inerentes a sua gestão. Nesse primeiro momento, o planejamento não é uma opção, mas uma necessidade essencial, sem a qual o gestor não alcançará seus objetivos.

Neste esteio, consideramos razoável priorizar alguns atos mais prementes para a consecução do bem - estar da coletividade, porém, não se afigura aceitável abdicar de algumas obrigações legais em detrimento de outras. Ademais, na função de Administrador da Câmara Municipal, o Presidente, no inicio de sua gestão, deve cercar-se de pessoal preparado e com conhecimentos e atitudes voltados para o atendimento das demandas normais de uma Casa Legislativa.

Nesse mesmo sentido a doutrina de Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves:

Havendo nítido desequilíbrio entre o número de cargos em comissão e as atividades a serem desempenhadas, ou mesmo a superioridade em relação aos cargos de provimento efetivo, ter-se-á a inconstitucionalidade da norma que os instituiu, restando violados os princípios da proporcionalidade e da moralidade. Nesta hipótese, a norma não é adequada à consecução do interesse público; é desnecessária, ante a dispensabilidade dos cargos para o regular funcionamento do serviço público; impõe um ônus aos cofres públicos sem a correspondente melhoria na qualidade do serviço, o que poderia ser realizado por um menor número de servidores com despesas inferiores para o erário; e se apresenta dissonante dos valores constitucionais, em especial a moralidade que deve reger os atos estatais, pois os cargos servirão unicamente para privilegiar os apadrinhados do responsável pela nomeação. (Improbidade Administrativa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. p. 385).

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Por fim, deixo consignado, ainda, que a pertinência e adequação das medidas apresentadas

pelo jurisdicionado e a verificação do atendimento aos demais requisitos legais e constitucionais

poderão ser objeto de futuras ações de controle externo, visto tratar-se de tema de verificação

recorrente daquela Coordenadoria de Auditoria de Pessoal, o que deverá ocorrer nos termos da

Resolução TCE-RJ 302/17.

Isto posto, posiciono-me PARCIALMENTE DE ACORDO com a manifestação do Corpo Técnico

e do Ministério Público Especial, residindo minha parcial divergência no não acolhimento da

sugestão de aplicação de multa diária para o caso de não adequação dos quantitativos de cargos

comissionados e de efetivos, sem prejuízo de possibilidade de ressarcimento dos valores por parte

do gestor, em sede de tomada de contas especial, caso constatado descumprimento das

determinações deste tribunal.

VOTO:

1. Pela APLICAÇÃO DE MULTA, com fundamento no inciso IV c/c §1º do Art. 63 da LC 63/90,

no valor de R$ 49.408,50 (quarenta e nove mil e quatrocentos e oito reais e cinquenta centavos),

equivalentes, nessa data, a 15.000 UFIR-RJ, ao Sr. Carlos Roberto Rodrigues, Presidente da Câmara

Municipal de São João de Meriti à época dos fatos, por descumprimento injustificado dos subitens

3.1.1 a 3.1.3 do item 1 da decisão deste tribunal exarada em sessão de 08.09.15 nestes autos, da

irregularidade abaixo transcrita, tendo sido declarado revel nos autos, conforme Certificado de

Revelia nº 181/2017, contrariando os critérios descritos previamente no relatório, quais sejam:

CF/88, art. 37 caput (princípio da eficiência) e incisos II e V; princípios da impessoalidade,

moralidade, razoabilidade e proporcionalidade quando da definição/manutenção dos quantitativos

de cargos em comissão:

1.1. Achado 1 - Desproporcionalidade entre a quantidade de servidores comissionados e de

servidores efetivos: Situação 1 - 88,97% do total de cargos criados do órgão providos por servidores

extraquadro e 95,72% dos cargos providos ocupados por servidores extraquadros, sendo TODOS os

cargos criados para atuação na Administração da Câmara Municipal (total de 108 cargos) de

provimento exclusivamente comissionado:

Ações decorrentes dos subitens 3.1.1 a 3.1.3:

Promover a adequação do quantitativo de cargos comissionados e efetivos, de forma a resguardar a proporcionalidade exigida pela Constituição Federal, ou seja, para que no Quadro de Pessoal os cargos efetivos constituam a maioria do quantitativo total de cargos, o que poderá ser alcançado mediante ações, como:

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1- Iniciativas de projetos de lei de criação de cargos efetivos, caso se apresentem necessários, para a subsequente realização de concurso público, no intuito de substituir parte dos servidores comissionados por efetivos e/ou;

2 - Extinção de cargos em comissão considerados desnecessários ou que não estejam relacionados às funções de direção, chefia e assessoramento.

Observar, quando da adequação de seu Quadro de Pessoal às suas necessidades administrativas:

- que os cargos cujas atribuições sejam de natureza permanente, com funções tipicamente burocráticas, devem ser providos por meio do necessário concurso público, nos termos do inciso II do art. 37 da CF/88;

- que a lei ou resolução que reestruturar o Quadro de Pessoal deve obedecer ao que preceitua o inciso V do art. 37 da CF/88, com redação dada pela EC nº 19/98, no sentido de que “as funções de confiança devem ser exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo” e “os cargos em comissão devem ser preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei e destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento”, bem como o inciso IV do art. 51 da Constituição (“CF/88, Art. 51 - Compete privativamente à Câmara dos Deputados: [...] IV – dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias”); e

- os princípios da impessoalidade, moralidade, razoabilidade e proporcionalidade quando das definições dos quantitativos e atribuições de todos os seus cargos (efetivos e comissionados) (Situação 1)

Implementar procedimento de controle que impeça a desproporcionalidade entre a quantidade de servidores comissionados e servidores efetivos. (Situação 1)

2. Pela COMUNICAÇÃO ao atual Presidente da Câmara Municipal de São João de Meriti,

nos termos do Art. 26 da LC 63/90, para que, no prazo máximo de 30 (trinta) dias contados da

ciência da decisão desta Corte, inobstante o concurso público informado, PROMOVA a adequação

do quantitativo de cargos comissionados e efetivos, de forma a resguardar a proporcionalidade

exigida pela Constituição Federal, nos termos da fundamentação deste Voto (Situação 1), o que

poderá ser alcançado ainda mediante ações como:

2.1. Iniciativas de projetos de lei de criação de cargos efetivos, caso se apresentem

necessários, para a subsequente realização de concurso público, no intuito de substituir parte dos

servidores comissionados por efetivos e/ou;

2.2. Extinção de cargos em comissão considerados desnecessários ou que não estejam

relacionados às funções de direção, chefia e assessoramento.

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TCE-RJ PROCESSO n.º 212.595-8/14 RUBRICA Fls.:

AC13/GA05

3. Pela COMUNICAÇÃO ao atual Presidente da Câmara Municipal de São João de Meriti,

nos termos do Art. 26 da LC 63/90, para que observe, quando da adequação de seu Quadro de

Pessoal às suas necessidades administrativas:

3.1. Que os cargos cujas atribuições sejam de natureza permanente, com funções

tipicamente burocráticas, devem ser providos por meio do necessário concurso público, nos termos

do inciso II do art. 37 da CF/88;

3.2. Que a lei ou resolução que eventualmente reestruturar o Quadro de Pessoal deve

obedecer:

i. Ao que preceitua o inciso V do art. 37 da CF/88, com redação dada pela EC nº 19/98, no

sentido de que “os cargos em comissão devem ser preenchidos por servidores de carreira nos casos,

condições e percentuais mínimos previstos em lei” e “destinam-se apenas às atribuições de direção,

chefia e assessoramento”, bem como

ii. Ao inciso IV do art. 51 da Constituição no que se refere à lei específica (CF/88, “art. 51 -

Compete privativamente à Câmara dos Deputados: [...] IV – dispor sobre sua organização,

funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus

serviços, e a iniciativa de lei para fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros

estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias”); e

3.3. Os princípios da impessoalidade, moralidade, razoabilidade e proporcionalidade quando

das definições dos quantitativos e atribuições de todos os seus cargos (efetivos e comissionados).

4. Pela COMUNICAÇÃO ao atual Presidente da Câmara Municipal de São João de Meriti,

nos termos do Art. 26 da LC 63/90, para que apresente a documentação comprobatória, no prazo

máximo de 60 (sessenta) dias contados da ciência da decisão desta Corte, do atendimento ao item 2

acima (adequação dos quantitativos de cargos em comissão e de cargos efetivos), ficando desde já

CIENTE de que, caso constatado descumprimento das determinações deste tribunal, poderá ser

penalizado com multa e responsabilizado pessoalmente, em sede de processo de tomada de contas

especial, pelos valores pagos a servidores exclusivamente comissionados nomeados em quantitativo

inadequado ou injustificado.

5. Pela COMUNICAÇÃO ao atual responsável pelo Controle Interno da Câmara Municipal de

São João de Meriti, nos termos do Art. 26 da LC 63/90, para que tome CIÊNCIA da presente decisão

e exerça seu papel constitucional e legal.

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AC13/GA05

6. Pela DETERMINAÇÃO à coordenadoria competente (CGD/SGE), para que proceda à

CONVERSÃO do presente administrativo em processo digital (processo eletrônico).

GA-1,

MARCELO VERDINI MAIA Conselheiro Substituto