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Olimp revista do crefito - sp .dezembro. 2011 [18]

Olimpo sob Cuidados

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Reportagem para o Crefito-3.

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Os“ atletas

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diariamente com dores. São nesses momentos

que o fisioterapeuta ‘briga’ contra o tempo para dei-

xar o atleta na melhor forma possível. Realmente tenho que

agradecer muito a esses profis-sionais que tanto me ajudaram e

ajudam em minha carreira”. É o que conta com exclusividade Tia-go Splitter, pivô da Seleção Brasi-leira de Basquete, que estará nas

Olimpíadas de Londres 2012 após o grupo se classificar ano passado em Mar del Plata, Argentina.

Este ano, de 27 de julho a 12 de agosto, será a 30ª vez que atletas de todo o mundo se reunirão para competir após o reinício das Olim-píadas na Era Moderna (Atenas, 1896), e será a 21ª participação brasileira. Como diziam os emis-sários na Grécia Antiga há mais de 2500 anos, época dos primeiros Jogos Olímpicos, “κατάσβεση των πυρκαγιών του πολέμου, επειδή τα παιχνίδια θα ξεκινήσουν” (atu-

almente algo como “parem tudo porque os jogos vão começar”). E, com eles, também o espírito olímpico, as lições de superação, as emoções, os recordes e, inevita-velmente, as lesões. Por mais de-monstrações que os atletas deem de que são brilhantes, deixando-nos boquiabertos com as possibi-lidades do ser humano, eles ainda não alcançaram a condição de deuses incólumes. O corpo dos melhores desportistas ainda são corpos humanos. E por isso mes-mo requerem cuidados.

por Alexandre Camargo

cuidadosQuem já foi e quem irá tem muito a dizer sobre os Jogos Olímpicos

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VETERANOsHenrique Jatobá, fisioterapeuta

responsável pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), irá pela quarta vez aos Jogos Olímpicos. Sidney, Atenas, Beijing e agora Londres. Jatobá acha difícil escolher qual foi a melhor Olimpíada, já que para ele “cada participação marca a vida da gente como uma tatuagem que nos agrada sempre ver”, mas deixa escapar uma admiração especial aos chineses que “pareciam querer mostrar definiti-vamente que iriam em poucos anos se tornar a maior potência econômi-ca e esportiva do mundo”.

O trabalho de Jatobá é intenso. Ele é o responsável por todos os fi-sioterapeutas do Comitê Olímpico Brasileiro (Time Brasil) e também pela logística de infraestrutura e de equipamentos necessários para os tratamentos fisioterapêuticos nas competições. “Coordeno todas as ações da equipe de fisioterapeutas que acompanham os atletas que es-tão no projeto ou fazendo parte do Time Brasil através de avaliações fisioterapêuticas funcionais detalha-das, formulação de programas pre-ventivos individuais de exercícios, envio de fisioterapeutas para treina-mentos em competições internacio-nais ou simplesmente coordenando e monitorando o Programa Preven-tivo de cada um”, conta.

Flavia Rocco é outra fisiotera-peuta com experiência olímpica no currículo. Além de participar de mais de 20 campeonatos oficiais, também esteve com a Seleção Fe-minina de Basquete na China em 2008 pela Confederação Brasileira de Basquete. Atualmente está na Long List do COB e tem grandes chances de ir à Londres. “Meu com-prometimento é total. A expectati-va é muito grande”, confessa. Flavia nutre muita admiração à organiza-ção e à perfeição de Beijing-08. Diz não ter encontrado uma falha se-quer no evento e que, sem dúvida, o momento mais marcante que viveu foi o desfile de abertura no Estádio Ninho do Pássaro. “Foi muito emo-cionante, não dá pra descrever”, re-sume com olhos luzentes.

Mapa das contusões

Número total de tratamentos

Fonte: The 2004 Olympic Games: physiotherapy services in the Olympic Village polyclinic

América Central

7.6

América do Norte

7

América do Sul6.5

Ultrassom

Massagem

Terapia Manual

Exercício Terapêutico

Crioterapia

Estimulação Nervosa Transcutânea (TENS)

Taping

Hipertermoterapia

Estimulação Elétrica

Terapia com Laser

Hidromassagem

Piscina Terapêutica

Diatermia por Ondas Curtas (OC)

Terapia por Ondas de Choque

Outros

949897

892

828

617

567

529

429

335

243

225

65

29

28

22

Iontoforese, Biofeedback, Terapia

Magnética, Treinamento Isocinético, Sauna

e Fonoforese

Porcentagem de atletas tratados em Atenas-2004 divididos por regiões do mundo

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CALOuROs“Acredito que o trabalho pre-

ventivo, além da melhora do gesto esportivo, deva ser nosso principal objetivo de atuação anteriormente à competição”. Essas palavras são de Thiago Fukuda, fisioterapeuta super-visor do Grupo de Fisioterapia Esportiva da Santa Casa de São Paulo e Centro Universitário São Camilo que atualmente cuida da Equipe Feminina de Futebol ao lado de outros pro-fissionais.

Fukuda acredita que no espor-te de alto rendimento as lesões musculotendíneas e ligamenta-res têm uma melhor recupera-ção com recursos de terapia ma-nual, eletrotermofototerapia e cinesioterapia do que com tera-pias medicamentosas. “Precisa-mos usar mais a ciência nas to-madas de decisão clínica. Ainda acho que o grande problema da área seja a prática totalmente empírica, ou seja, sem embasa-mento científico”, afirma.

Outro provável “bicho” em Olimpíadas é o jovem presiden-te da Sociedade Nacional de Fi-sioterapia Esportiva (Sonafe), o fisioterapeuta Felipe Tadiello. Tadiello é ex-atleta de basquete do São Caetano, passado que lhe garantiu o ingresso na fisiotera-pia esportiva. “Comecei a ficar encostado no São Caetano então meu diretor veio falar comigo se eu não queria começar a estagiar na equipe no segundo ano de fa-culdade. Eu jogava e era fisiote-rapeuta da equipe”, conta.

Com a proximidade das Olim-píadas-2012, Tadiello, que está na Long List do COB (como Fla-via), espera concluir um ciclo em sua vida. Desde que se tornou fi-sioterapeuta e abriu mão de sua carreira como atleta ele espera pelo seu momento olímpico. “É uma briga interna minha, um objetivo muito grande. Ir para as Olimpíadas significa terminar um ciclo e começar outro de no-vas buscas”, diz.

Cervical40 (7.6%)

Ombro30 (5.7%)

Cotovelo12 (2.3%)

Pulso5 (1%)

Torácica13 (2,5%)

Pé22 (4.2%)

Tornozelo44 (8.4%)

Tíbia57 (10.9%)

Joelho74 (14.1%)

Pélvis7 (1.3%)

Coxa110 (21%)

Quadril32 (6.1%)

Lombar71 (13.5%)

Mão7 (1.3%)

Austrália6.8

África40.3

Ásia7.9

Europa19.5

Oriente Médio4.4

Porcentagem das lesões divididas anatomicamente

Ultrassom

Massagem

Terapia Manual

Exercício Terapêutico

Crioterapia

Estimulação Nervosa Transcutânea (TENS)

Taping

Hipertermoterapia

Estimulação Elétrica

Terapia com Laser

Hidromassagem

Piscina Terapêutica

Diatermia por Ondas Curtas (OC)

Terapia por Ondas de Choque

Outros[21]

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Como os serviços

serão organizados?

Segundo Richard Budgett, “existirá um serviço de emergência 24 horas e 70% dos

cuidados de saúde serão entregues à policlínica”. Além da fisioterapia, serão

oferecidos serviços de farmácia, oftalmologia e outros.

Que médicos irão tratar os atletas?

“Comitês Olímpicos menores sem equipe médica contarão com a policlínica, especialmente nos

cuidados primários e fisioterapia”.

Qual será a atuação

durante os jogos?

Na grande maioria dos eventos não é permitida a presença da equipe médica no ambiente de jogo nas Olimpíadas. “No caso

de um acidente será a equipe médica que estiver no local que irá lidar com a

lesão”, conta Budgett.

PRÉ, DuRANTE E Pós-OLIMPíADAs

A coleta e a análise de dados so-bre o trabalho dos fisioterapeutas tornou-se mais intenso na última década. No Brasil, o COB fornece prontuários a todos os integrantes do Departamento Médico para pre-enchimento dos procedimentos re-alizados durante as competições. “É tudo registrado, catalogado. Tudo é documentado”, revela Flavia.

The 2004 Olympic Games: physio-therapy services in the Olympic Villa-ge polyclinic é um estudo exemplar que tem como base os dados das Olimpíadas de Atenas-2004. Quan-to mais informações disponíveis, mais fácil o trabalho preventivo re-alizado nos atletas. Jatobá sabe bem disso. Ele vem implementando no COB um trabalho sério que visa a prevenção dos atletas de elite. Mes-mo quando o trabalho de precaução

é bem feito existe o risco do atleta se lesionar, por variados motivos. E o fisioterapeuta continua lá para cui-dar do atleta. “Caso ocorra a lesão, a abordagem tem que ser imediata e agressiva, isto é, respeitando a capa-cidade de recuperação biológica dos tecidos. Ser agressivo sem correr ris-cos irreversíveis”, diz Jatobá.

A cada quatro anos o país-sede ten-ta superar as Olimpíadas passadas. Em termos médicos, Beijing-2008, por exemplo, ofereceu mais de 100 leitos de tratamento para fisioterapia, além de disponibilizar, pela primeira vez, uma clínica de acupuntura. Ri-chard Budgett, Diretor Médico de Londres-2012, ao ser indagado so-bre quais problemas médicos ele an-teciparia para os Jogos, em entrevista para a Emergency Medicine Journal, foi categórico: “As lesões agudas or-topédicas”.

Muitas das lesões que acompa-

“Os investimentos deverão ser maiores

em prevenção e reabilitação”

Thiago Fukuda

Felipe Tadiello (agachado) com a Seleção Brasileira

de Basquete em Caxias do Sul (RS) em 2007

Flavia Rocco entre jogadoras da Seleção

Feminina de Basquete no Mundial de 2006

Olimpíadas de Londres 2012O que dizem Richard Budgett e Lynn Booth, respectivamente Diretor Médico e Chefe da Fisioterapia em Londres-2012

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Como a fisioterapia será dividida?

De acordo com Lynn Booth, os fisioterapeutas serão divididos entre os que trabalharão com o Comitê Organizador de Londres (trabalho nas policlínicas e locais

de competição) e os que estarão com as delegações de seus países.

Quais são as

expectativas?

“Os Jogos Olímpicos e os Jogos Paraolímpicos irão proporcionar

uma tremenda oportunidade para promover o papel da fisioterapia e dos

fisioterapeutas no Reino Unido”, diz Booth que espera uma expansão

para além de Londres.

nham os atletas vêm dos seus clubes de origem e o tempo de preparação pré-olímpico é curtíssimo. Espor-tista e fisioterapeuta partilham da intensidade e do ritmo forte de tra-balho pré e durante os Jogos. “Se pre-cisar você vai tratar o atleta a noite inteira. Ele precisa dormir, você não. Ele precisa jogar, você não. O foco é 100% na reabilitação do atleta”, conta Flavia. Tadiello concorda. De acordo com ele, para trabalhar com esporte de alto rendimento o fisioterapeuta precisa ter uma disponibilidade de tempo diferente. “Os atletas vão tra-tar duas, três, quatro vezes por dia ou o dia inteiro. A velocidade e a fisiolo-gia do atleta são diferentes”, explica.

Com a possibilidade de ser sua pri-meira Olimpíada, Fukuda, ao lado da sua equipe no trabalho com a

Equipe Feminina de Futebol, sabe o que esperar. “Normalmente durante a competição o trabalho sempre é muito maior do que na fase de pre-paração, pois aumentam os traumas e contusões”, conta sobre a necessi-dade de se controlar os sintomas de uma forma rápida para o atleta estar apto para as atividades.

Após as Olimpíadas cabe fazer o balanço com base nos prontuários de atendimentos feitos durante os Jogos. Isso permite que haja com-promisso com a excelência nas competições esportivas porvir. “Identificar os números e me-lhorar os trabalhos futuros com base nesses números, buscando sempre a antecipação em todas as ações”, esse é o mote de Jatobá e o foco a partir de agora.

Sobre a Sonafe

A Sociedade Nacional de Fisio-terapia Esportiva foi criada em 2003 e tem como objetivo for-talecer e unificar a prática da Fisioterapia Esportiva do Brasil. Segundo Tadiello, atual presi-dente da Sonafe, a missão pri-mordial da entidade é fortalecer a classe. “Não queremos que seja uma participação obriga-tória. Queremos, sim, que todos clubes queiram, todas as equi-pes queiram. Como um selo de qualidade”, conta.O reconhecimento e a excelên-cia dos profissionais associados viriam do incentivo à capacita-ção contínua dos fisioterapeu-tas e do apoio às suas atividades e atuações. A Sonafe está pre-sente em todo o Brasil e possui a meta de firmar acordos com to-dos os Crefitos do país. “Temos que nos unir às nossas classes para que tenhamos mais força. A Sonafe é hoje uma criança que está em crescimento”.

Saiba mais: www.sonafe.org.br

Henrique Jatobá sentado em bloco de largada na

piscina olímpica do Cubo de Gelo em Beijing 2008

Tiago Splitter (à direita) ao lado do companheiro de

seleção Marcelinho Huertas

Fotos - Arquivo Pessoal

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TERAPEUTAS OCUPACIONAIS que trabalham com atletas para matéria para a próxima edição. Se você atua nessa área, envie e-mail para [email protected]

//A Revista do crefitosp procura: