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REGIME FISCAL DOS CLUBES DESPORTIVOS COM ESTATUTO DE UTILIDADE PÚBLICA ESTUDO DOS CLUBES DA CIDADE DO PORTO QUE NÃO PARTICIPAM EM COMPETIÇÕES DESPORTIVAS PROFISSIONAIS Dissertação apresentada às provas de Doutoramento no Ramo de Ciência do Desporto, nos termos do Decreto-Lei nº 216/92, de 13 de Outubro. Orientadores Prof.ª Doutora Glória Teixeira Prof. Doutor José Pedro Sarmento João Paulo Valadas Guimarães Janeiro 2008

Orientadores Prof.ª Doutora Glória Teixeira Prof. Doutor ... · Ao Dr. Rui Martins pelo seu empenho e auxílio na leitura e análise dos artigos ... Um abraço ao Prof. Dr. Francisco

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  • REGIME FISCAL DOS CLUBES DESPORTIVOS COM ESTATUTO DE UTILIDADE PBLICA

    ESTUDO DOS CLUBES DA CIDADE DO PORTO

    QUE NO PARTICIPAM EM COMPETIES DESPORTIVAS PROFISSIONAIS

    Dissertao apresentada s provas de Doutoramento no Ramo de Cincia do Desporto, nos termos do Decreto-Lei n 216/92, de 13 de Outubro.

    Orientadores Prof. Doutora Glria Teixeira

    Prof. Doutor Jos Pedro Sarmento

    Joo Paulo Valadas Guimares

    Janeiro 2008

  • Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica III

    Agradecimentos

    Neste espao de reflexo, algumas palavras de agradecimento pela

    disponibilidade, vontade e saber das pessoas que, desinteressadamente e por vezes

    com o prejuzo pessoal, nos acompanharam e directa ou indirectamente dissertaram

    connosco.

    Prof. Doutora Glria Teixeira, por trs razes fundamentais, entre muitas

    outras que poderia e deveria referir: ter aceite o desafio de orientar esta dissertao;

    pela pacincia, disponibilidade, saberes e constantes incentivos ao longo destes anos;

    a sua competncia, capacidade de trabalho, de organizao e de mincia de

    correco, foram, para mim, um exemplo de algum com uma forma de estar e ser

    diferente. Obrigado.

    Ao Prof. Doutor Pedro Sarmento, pela liberdade responsvel que me atribuiu

    no desenvolvimento e organizao deste trabalho, acompanhando e incentivando, tal

    como durante o mestrado, a fazer sempre mais e melhor.

    Ao Dr. Joaquim Alexandre, ao Dr. Rodrigues de Jesus, e Dr. Odete Oliveira

    pela cooperao e disponibilidade demonstradas na avaliao e validao do inqurito

    e na reformulao das perguntas. Um agradecimento especial ao Dr. Joaquim

    Alexandre, pela ajuda na organizao e reviso do plano de contabilidade dos clubes

    desportivos.

    Ao Dr. Rui Martins pelo seu empenho e auxlio na leitura e anlise dos artigos

    dos diversos cdigos e outros diplomas legais.

    Aos Clubes Desportivos, nas pessoas dos seus presidentes, pela

    disponibilidade, transparncia e preocupao demonstradas na concretizao do

    inqurito. Um obrigado especial aos servios administrativos e de contabilidade

    desses clubes pela facilidade e competncia demonstrada no preenchimento dos

    dados, bem como na entrega dos planos de contabilidade utilizados.

    Dr. Joana Arcanjo pelo tempo que gastou, em prejuzo pessoal, na leitura

    de Acrdos e documentao internacional.

    Ao Joo Delerue, pela proficiente troca de ideias na rea de contabilidade e

    na frequente cedncia, em suporte informtico, de normas contabilsticas nacionais e

    internacionais.

  • IV Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica

    s Prof. Dr. Paula Silva e Prof. Dr. Maria Jos Carvalho, pelas

    (actualizadas) pesquisas legislativas, sugestes e correces na apresentao e

    anlise dos resultados, e na preocupao, amizade e encorajamento ao longo destes

    anos. Um abrao ao Prof. Dr. Francisco Teixeira Homem pela bibliografia

    disponibilizada e constante envio de informao.

    Faculdade de Direito, pela forma cordial e franca com que me recebeu,

    fazendo-me sentir um elemento integrante e privilegiado da mesma. O

    profissionalismo, dedicao e eficincia dos seus servios proporcionaram-me um

    apoio logstico, documental e bibliogrfico essenciais ao desenvolvimento deste

    estudo.

    Aos profissionais (docentes e no-docentes) da Escola EB 2,3 de Rio Tinto,

    pela ateno e estmulo que me do, proporcionando-me um privilegiado local de

    trabalho. Um agradecimento especial s colegas Alice, Ana e Cristina por todo o

    trabalho desenvolvido, na traduo de documentos.

    minha famlia pela preocupao que demonstram e amor que me

    concedem. Aos meus pais pelo que contribuem para a ser o que sou e pelo

    acompanhamento e paixo que dedicam s minhas filhas.

    Manela, minha esposa, e s minhas filhas Joana e Cludia, pela pacincia

    e compreenso no tempo retirado ao convvio familiar, especialmente em tempo de

    frias, e sobretudo pelo que me do ajudando-me a ser feliz.

    Ao Agostinho a amizade com que me distingue um privilgio de que poucos

    se podem orgulhar. Finalmente acabei.

    Por fim, talvez o agradecimento mais difcil de exprimir, ao Antnio Morgado,

    meu colega de disciplina, apenas obrigado, visto que impossvel descrever a

    indispensvel ajuda que deu neste projecto. Os seus conhecimentos e competncias

    informticos foram imprescindveis na execuo deste estudo. A dedicao e

    disponibilidade demonstradas, no tempo gasto a formatar, enquadrar, esquematizar e

    organizar so impossveis de contabilizar. Tambm aqui, um beijo especial Barbara,

    pelas longas horas de espera a que esteve sujeita, aguardando, pacientemente, o

    finalizar deste trabalho que agora vos apresentamos.

  • Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica V

    ndice

    Agradecimentos ................................................................................................................................III ndice..................................................................................................................................................... V ndice de Quadros ............................................................................................................................ XI Resumo ............................................................................................................................................ XIII Abstract ..............................................................................................................................................XV Rsum............................................................................................................................................ XVII Abreviaturas e siglas .....................................................................................................................XIX

    Introduo .................................................................................................................................................1 1. Preliminares.......................................................................................................................................1 2. Apresentao do problema O cumprimento das obrigaes fiscais e contabilsticas: avaliao e anlise crtica....................................................................................................................5 3. Fundamentao prvia ....................................................................................................................6

    3.1. Direito fiscal, Direito internacional e Direito comunitrio ....................................................6 3.2. Direito ao desporto e o clube desportivo ..............................................................................8 3.3. Em defesa do clube desportivo ............................................................................................12 3.4. O Desporto e a Tributao....................................................................................................17

    4. Misses do estudo .........................................................................................................................19 5. Estrutura da dissertao................................................................................................................20

    Captulo I Enquadramento normativo dos clubes desportivos .............................................23 1. Na Constituio da Repblica Portuguesa .................................................................................23

    1.1. Introduo................................................................................................................................23 1.2. Princpios fundamentais ........................................................................................................24 1.3. Direitos e deveres fundamentais: Princpios gerais ..........................................................24 1.4. Direitos, liberdades e garantias............................................................................................26 1.5. Direitos e deveres econmicos, sociais e culturais...........................................................28 1.6. Regies Autnomas...............................................................................................................33

    2. Na Lei de Bases da Actividade Fsica e do Desporto ...............................................................35 2.1. Base legal ................................................................................................................................35 2.2. Anlise dos artigos .................................................................................................................37

    3. No Cdigo Civil ...............................................................................................................................47 3.1. Base legal ................................................................................................................................47 3.2. Anlise dos artigos .................................................................................................................48 3.3. Breve referncia aos clubes desportivos ............................................................................57

    4. No Estatuto de Utilidade Pblica..................................................................................................65 4.1. Base legal e princpios fundamentais..................................................................................65 4.2. Pessoa Colectiva de Utilidade Pblica................................................................................67 4.2.1. Noo de Pessoa Colectiva de Utilidade Pblica ..........................................................67 4.2.2. Declarao/Concesso/Cessao ...................................................................................67 4.2.3. Isenes/Benefcios............................................................................................................70 4.2.4. Expropriaes que visem o prosseguimento dos fins estatutrios..............................71 4.2.5. Deveres ................................................................................................................................71

    Captulo II Enquadramento fiscal dos clubes desportivos .....................................................73

  • VI Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica

    Seco I Noes fundamentais de Direito Fiscal .......................................................................73 1. Direito Fiscal....................................................................................................................................73

    1.1. Direito Financeiro, Direito Econmico, Direito Oramental, Direito Fiscal.....................73 1.2. Contedo e grau hierrquico do direito fiscal.....................................................................78 1.3. Hierarquia ................................................................................................................................79 1.4. Constituio da Repblica Portuguesa ...............................................................................80 1.4.1. A natureza fiscal do Estado Portugus............................................................................80 1.4.2. Alguns princpios jurdicos fundamentais ........................................................................81 1.4.3. Princpios comuns...............................................................................................................83 1.5. Sistema fiscal ..........................................................................................................................95 1.6. Conceito de imposto ..............................................................................................................97 1.7. Os momentos da vida do imposto .....................................................................................101 1.8. Distino de imposto de outras categorias jurdicas (figuras afins)..............................103 1.8.1 O imposto e o preo...........................................................................................................103 1.8.2. O imposto e a taxa ...........................................................................................................103 1.8.3. O imposto e os tributos especiais...................................................................................104 1.8.4. O imposto e as contribuies para a Segurana Social..............................................105 1.8.5. O imposto e a requisio administrativa........................................................................106 1.8.6. O imposto e o emprstimo pblico forado...................................................................107 1.9. Classificao dos impostos.................................................................................................107 1.9.1. Impostos directos e indirectos.........................................................................................107 1.9.2. Impostos peridicos e de obrigao nica ....................................................................109 1.9.3. Impostos pessoais e reais ...............................................................................................110 1.9.4. Impostos estaduais e no estaduais ..............................................................................111 1.9.5. Impostos gerais e locais...................................................................................................112 1.9.6. Impostos principais e acessrios ....................................................................................112 1.9.7. Impostos quanto natureza das suas taxas ................................................................113 1.9.8. Impostos sobre o rendimento, o patrimnio e o consumo ..........................................114 1.10. Relaes do Direito Fiscal com os outros ramos de Direito ........................................116 1.10.1. Direito Fiscal e Direito Constitucional ..........................................................................116 1.10.2. Direito Fiscal e Direito Administrativo ..........................................................................117 1.10.3. Direito Fiscal e Direito Privado......................................................................................118 1.10.4. Direito Fiscal e Direito Penal .........................................................................................118 1.10.5. Direito Fiscal e Direito Processual ...............................................................................119 1.10.6. Direito Fiscal e Direito Internacional ............................................................................120 1.10.7. Direito Fiscal e Direito da Unio Europeia ..................................................................121 1.10.7.1. O Tribunal de Justia das Comunidades Europeias ..............................................123 1.11. O Direito Fiscal e outras Cincias ...................................................................................127

    Seco II Enquadramento Constitucional e Fiscal ...................................................................130 1. A Constituio da Repblica Portuguesa e os Impostos........................................................130

    1.1. Introduo..............................................................................................................................130 1.2. Organizao econmica: O sistema financeiro e fiscal ..................................................131 1.3. A organizao do poder poltico.........................................................................................135 1.3.1. Princpios gerais ................................................................................................................135 1.3.2. Competncia da Assembleia da Repblica ..................................................................137 1.3.3. As Regies Autnomas....................................................................................................140 1.3.4. Poder local: Princpios gerais ..........................................................................................141

    2. O imposto sobre o rendimento das pessoas colectivas ........................................................145 2.1. Base legal e princpios fundamentais do IRC ..................................................................145 2.2. Sujeito activo da relao de imposto.................................................................................146 2.3. O Cdigo do IRC obedece seguinte estrutura: .............................................................146 2.4. Incidncia...............................................................................................................................147 2.4.1. A incidncia real ................................................................................................................147 2.4.2. A incidncia pessoal .........................................................................................................148 2.4.3. A extenso da obrigao de imposto.............................................................................149 2.4.4. Perodo de Tributao ......................................................................................................150

  • Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica VII

    2.5. Isenes.................................................................................................................................151 2.6. A determinao da matria colectvel ..............................................................................152 2.6.1. As operaes da determinao da matria colectvel................................................152 2.6.2. Mtodos de determinao da matria colectvel.........................................................154 2.7. A taxa .....................................................................................................................................154 2.8. A liquidao e cobrana ......................................................................................................156 2.9. Retenes..............................................................................................................................158 2.9.1. Retenes na fonte...........................................................................................................158 2.9.2. Dispensa de reteno na fonte .......................................................................................159 2.10. Pagamento ..........................................................................................................................159 2.10.1. Pagamento de imposto ..................................................................................................159 2.10.2. Disposies comuns.......................................................................................................160 2.11. Obrigaes acessrias ......................................................................................................160 2.11.1. Obrigaes declarativas ................................................................................................160 2.11.2. Regime de escriturao .................................................................................................161 2.11.3. Outras obrigaes acessrias ......................................................................................163 2.12. Fiscalizao ........................................................................................................................164 2.13. Garantias dos contribuintes ..............................................................................................164 2.14. Disposies finais...............................................................................................................165

    3. O Imposto sobre o Valor Acrescentado ....................................................................................165 3.1. Base legal e princpios fundamentais do IVA...................................................................165 3.2. Sujeitos da relao de IVA..................................................................................................167 3.3. O Cdigo do IVA obedece seguinte estrutura: .............................................................167 3.4. Incidncia...............................................................................................................................168 3.4.1. A incidncia real ................................................................................................................168 3.4.2. A incidncia pessoal .........................................................................................................170 3.4.3. Facto gerador do imposto e exigibilidade do imposto .................................................171 3.5. Isenes.................................................................................................................................172 3.6. Renncia iseno de IVA.................................................................................................176 3.7. A determinao da matria colectvel ..............................................................................178 3.8. A taxa .....................................................................................................................................179 3.9. A liquidao e pagamento de imposto ..............................................................................180 3.9.1. Dedues ...........................................................................................................................180 3.9.2. Outras, liquidao e cobrana ........................................................................................181 3.9.3. Sujeitos passivos mistos ..................................................................................................183 3.10. Obrigaes acessrias ......................................................................................................185 3.11. Regimes Especiais/Iseno..............................................................................................186 3.12. Disposies comuns ..........................................................................................................187 3.13. Fiscalizao ........................................................................................................................187 3.14. Garantias dos contribuintes ..............................................................................................189 3.15. Penalidades ........................................................................................................................190 3.16. Disposies finais...............................................................................................................190

    4. Estatuto dos Benefcios Fiscais ................................................................................................191 4.1. Base legal e princpios fundamentais dos Benefcios Fiscais .......................................191 4.2. Estrutura (actualizada) do Estatuto dos Benefcios Fiscais ...........................................192 4.3. Princpios gerais ...................................................................................................................193 4.4. Benefcios fiscais com carcter estrutural ........................................................................195 4.4.1. Benefcios de natureza social .........................................................................................195 4.4.2 Benefcios fiscais ao investimento produtivo .................................................................196 4.4.3 Benefcios fiscais relativos a imveis ..............................................................................196 4.4.4. Outros benefcios ..............................................................................................................197 4.4.5. Benefcios relativos ao mecenato...................................................................................198

    5. Estatuto do Mecenato ..................................................................................................................200 5.1. Base legal e princpios fundamentais do Estatuto do Mecenato ..................................200 5.2. Estrutura do Estatuto do Mecenato ...................................................................................201

  • VIII Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica

    Captulo III Enquadramento Contabilstico dos Clubes Desportivos .................................205 1. Planos Oficiais de Contabilidade (POCs) ................................................................................205

    1.1. Introduo..............................................................................................................................205 1.2. Plano Oficial de Contabilidade Pblica (POCP) ..............................................................207 1.3. O Plano Oficial de Contabilidade Pblica para o sector da Educao (POC-Educao)........................................................................................................................................................211 1.4. Plano Oficial de Contabilidade das Autarquias Locais (POCAL) ..................................214 1.5. Plano Oficial de Contabilidade das Instituies do Sistema de Solidariedade e de Segurana Social (POCISSSS) .................................................................................................216 1.6. Plano Oficial de Contabilidade das Federaes Desportivas, Associaes e Agrupamentos de Clubes (PROFAC) .......................................................................................218 1.7. Plano Oficial de Contabilidade (POC) ...............................................................................221

    2. Plano de Contabilidade dos Clubes Desportivos de Utilidade Pblica (PCCDUP) ............227 2.1. Consideraes Genricas ...................................................................................................227 2.2. Proposta de Plano (oficial) de Contabilidade para Clubes Desportivos, com Estatuto de Utilidade Pblica (PCCDUP).................................................................................................231 2.2.1. Introduo ..........................................................................................................................231 2.2.2. Caractersticas...................................................................................................................232 2.2.3. Explicitao do quadro e cdigos de contas.................................................................236 2.4. Concluso..............................................................................................................................236

    Captulo IV O regime fiscal dos clubes desportivos...............................................................253 1. Introduo......................................................................................................................................253 2. Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (IRC) ................................................257

    2.1. Incidncia/Perodo de tributao........................................................................................257 2.2. Isenes.................................................................................................................................258 2.3. A determinao da matria colectvel/custos comuns...................................................259 2.4. Taxa........................................................................................................................................260 2.5. Reteno/Dispensa ..............................................................................................................261 2.6. Liquidao/Cobrana/Pagamento......................................................................................261 2.7. Obrigaes acessrias ........................................................................................................262 2.8. Regime de escriturao.......................................................................................................263 2.9. Fiscalizao/Garantias ........................................................................................................265 2.10. Disposies Finais .............................................................................................................266

    3. Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) ..............................................................................266 3.1. Incidncia...............................................................................................................................266 3.2. Isenes/Organismos sem finalidade lucrativa................................................................267 3.3. A determinao da matria colectvel ..............................................................................270 3.4. A taxa .....................................................................................................................................270 3.5. Deduo.................................................................................................................................271 3.6. Liquidao/Cobrana/Obrigaes acessrias..................................................................273 3.7. Disposies comuns/Fiscalizao/Garantias dos contribuintes....................................275

    4. Estatuto dos Benefcios Fiscais (EBF) ......................................................................................278 4.1. Princpios Gerais ..................................................................................................................278 4.2. Benefcios para clubes desportivos ...................................................................................279 4.3. Isenes.................................................................................................................................280 4.4. Benefcios relativos ao mecenato ......................................................................................281

    5. Estatuto do Mecenato (EM) ........................................................................................................283 5.1. mbito ....................................................................................................................................283 5.2. Obrigaes acessrias ........................................................................................................284 5.3. Estrutura ................................................................................................................................284 5.4. O IVA no EM .........................................................................................................................286

    6. Outros impostos/taxas .................................................................................................................286 6.1. Contribuio Autrquica (CA) .............................................................................................289

  • Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica IX

    6.2. Imposto Municipal de SISA e Imposto sobre as Sucesses e Doaes (IMSISD) ....290 6.3. Imposto Municipal sobre Imveis (IMI) .............................................................................293 6.4. Imposto Municipal sobre as Transmisses Onerosas de Imveis (IMT) ..................................296 6.5. Imposto de Selo (IS) ............................................................................................................300

    7. Outras Obrigaes .......................................................................................................................301 7.1. Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS)........................................302 7.2. A Segurana Social..............................................................................................................309 7.3. Taxas Municipais ..................................................................................................................315

    8. Regime Geral das Infraces Tributrias (RGIT) ....................................................................320

    Captulo V A Dimenso Internacional: as perspectivas Comparada, Internacional e Europeia.................................................................................................................................................335

    1. Algumas consideraes Gerais..................................................................................................335 1.1. O direito comparado.............................................................................................................343 1.2. Diversidade dos direitos contemporneos .......................................................................349

    2. A famlia Romano-Germnica ....................................................................................................357 2.1. Formao histrica do sistema ..........................................................................................358 2.1.1. Perodo do direito consuetudinrio.................................................................................358 2.1.1.1. Direito comum das universidades ...............................................................................359 2.1.1.2. Direitos nacionais e regionais ......................................................................................361 2.1.2. Perodo do direito legislativo ...........................................................................................363 2.1.3. Expanso alm da Europa ..............................................................................................365 2.2. Estrutura dos direitos ...........................................................................................................367 2.2.1. Divises e conceitos .........................................................................................................367 2.2.2. Noo de regra de direito ................................................................................................370 2.3. Fontes do Direito ..................................................................................................................372 2.3.1. A Lei ....................................................................................................................................373 2.3.2. O Costume .........................................................................................................................377 2.3.3. A Jurisprudncia................................................................................................................378 2.3.4. A Doutrina ..........................................................................................................................382 2.3.5. Os Princpios Gerais.........................................................................................................383

    3. O Direito Ingls na Common Law ..............................................................................................384 3.1. Histria do direito Ingls ......................................................................................................385 3.1.1. O perodo anglo-saxnico................................................................................................386 3.1.2. A formao da common law (1066-1485) .....................................................................386 3.1.3. A rivalidade com a equity (1485-1832) ..........................................................................390 3.1.4. O perodo moderno...........................................................................................................392 3.2. Estrutura do direito Ingls ...................................................................................................393 3.2.1. Divises e conceitos jurdicos .........................................................................................394 3.2.1.1. Common law e equity....................................................................................................395 3.2.1.2. O trust ..............................................................................................................................399 3.2.2. A regra do direito e a legal rule .......................................................................................401 3.3. Fontes do Direito Ingls.......................................................................................................403 3.3.1. A Jurisprudncia................................................................................................................403 3.3.2. A Lei ....................................................................................................................................404 3.3.3. O Costume .........................................................................................................................406 3.3.4. A Doutrina e a Razo .......................................................................................................406 3.3.5. Concluses ........................................................................................................................407

    4. Organizaes no-governamentais (ONGs)...........................................................................409 4.1. Introduo..............................................................................................................................409 4.2. Desenvolvimento ..................................................................................................................410 4.3. Tratamento jurdico fiscal internacional.............................................................................414 4.4. Concluses............................................................................................................................416

    5. Alguns casos internacionais.....................................................................................................419

  • X Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica

    5.1. Jurisdies de baixa tributao (regime fiscal) na Europa.............................................420 5.2. Planeamento fiscal: Trabalho dependente vs Trabalho independente ........................422 5.3. Os atletas no residentes....................................................................................................426 5.3.1. A definio de Artista e Atleta .........................................................................................427 5.3.2. Regime especial de tributao ........................................................................................428 5.3.3. A caracterizao do Rendimento: alguns casos seleccionados ................................430 5.3.4. Propostas ...........................................................................................................................432 5.4. A jurisprudncia internacional e europeia.........................................................................433 5.4.1. Andr Agassi vs S. Robinson HM Inspector of Taxes .............................................433 5.4.2. Commissioner of Taxation vs Stone...............................................................................436 5.4.3. Centro Equestre da Lezria Grande Lda. vs Bundesamt fr Finanzen .....................438

    Captulo VI Apresentao e anlise de resultados..................................................................455 1. Espao metodolgico...................................................................................................................455

    1.1. Modelos de anlise ..............................................................................................................455 1.2. Objectivos do estudo ...........................................................................................................455 1.2.1. Objectivos principais .........................................................................................................456 1.2.2. Objectivos complementares ............................................................................................457 1.3. Princpios ticos ...................................................................................................................457 1.4. Inqurito .................................................................................................................................458 1.5. Projecto de investigao .....................................................................................................458

    2. Caracterizao do universo e da amostra ................................................................................458 2.1. Introduo..............................................................................................................................458 2.2. Quadro/critrio ......................................................................................................................460 2.3. Seleco do universo e da amostra ..................................................................................461 2.3.1 Identificao dos clubes desportivos com estatuto de utilidade pblica e sede efectiva na cidade do Porto ........................................................................................................461 2.3.2. Inqurito aos Clubes Desportivos/POCs ......................................................................462

    3. Resultados.....................................................................................................................................465

    Concluses ...........................................................................................................................................523 1. Legislao......................................................................................................................................523 2. Regime fiscal (obrigaes implcitas) dos Clubes Desportivos e outras figuras afins .......524

    2.1. Imposto sobre o rendimento das pessoas colectivas .....................................................524 2.2 Imposto sobre o valor acrescentado...................................................................................525 2.3. Estatuto dos benefcios fiscais ...........................................................................................528 2.4. Estatuto do mecenato ..........................................................................................................529

    3. O que resulta da parte experimental .........................................................................................532 3.1. Clubes ....................................................................................................................................532 3.1.1. Proveitos e Custos ............................................................................................................534 3.1.2. IRC ......................................................................................................................................535 3.1.3. IVA .......................................................................................................................................536 3.1.4. IRS e SS .............................................................................................................................537 3.2. Direces ...............................................................................................................................538 3.3. Resposta ao problema.........................................................................................................539

    4. Algumas sugestes finais............................................................................................................540 Bibliografia .......................................................................................................................................543 Anexos............................................................................................................................................XXIII

  • Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica XI

    ndice de Quadros

    QUADRO 1 CARACTERIZAO DA AMOSTRA......................................................................................................465 QUADRO 2 ESTATUTO DE UTILIDADE PBLICA ..................................................................................................467 QUADRO 3 SEDE/INSTALAES .....................................................................................................................468 QUADRO 4 OUTRAS CONTRIBUIES/IMPOSTOS ...............................................................................................470 QUADRO 5 CONTABILIDADE...........................................................................................................................471 QUADRO 6 ACES DE FORMAO/PLANO DE CONTABILIDADE ESPECFICO ............................................................473 QUADRO 7 DGCI/IGF..................................................................................................................................474 QUADRO 8 VALOR ANUAL DE RECEITAS (PROVEITOS) CONFORME RELATRIO DE CONTAS..........................................476 QUADRO 9 VALOR ANUAL DE RECEITAS (PROVEITOS) DE QUOTIZAES .................................................................477 QUADRO 10 VALOR ANUAL DE RECEITAS (PROVEITOS) DE PRESTAO DE SERVIOS ................................................478 QUADRO 11 VALOR ANUAL DE RECEITAS (PROVEITOS) DE SUBSDIOS OU CONTRATOS/PROGRAMA ..............................480 QUADRO 12 VALOR ANUAL DE RECEITAS (PROVEITOS) DE DONATIVOS................................................................481 QUADRO 13 VALOR ANUAL DE RECEITAS (PROVEITOS) DE PUBLICIDADE, PATROCNIOS, BAR (ACA)..........................483 QUADRO 14 VALOR ANUAL DE OUTRAS RECEITAS (PROVEITOS) ............................................................................484 QUADRO 15 PAINIS PUBLICITRIOS (2001 A 2004) NAS INSTALAES DOS CLUBES ................................................486 QUADRO 16 ACTIVIDADE COMERCIAL E ACESSRIA...........................................................................................487 QUADRO 17 PERCENTAGEM DO TOTAL DE RECEITAS (PROVEITOS)........................................................................489 QUADRO 18 VALOR ANUAL DE DESPESAS (CUSTOS) CONFORME RELATRIO DE CONTAS ...........................................492 QUADRO 19 TOTAIS ANUAIS DE RECEITAS (PROVEITOS) E DESPESAS (CUSTOS) .......................................................493 QUADRO 20 ENQUADRAMENTO NO ESTATUTO DO MECENATO .............................................................................495 QUADRO 21 ARTIGO 53 DO CIVA..................................................................................................................496 QUADRO 22 SISTEMA PR RATA OU AFECTAO REAL ......................................................................................498 QUADRO 23 IVA (SUPORTADO/LIQUIDADO) ......................................................................................................500 QUADRO 24 ARTIGO 9, N 22 DO CIVA E ARTIGO 52, N 1 E N2 DO EBF..............................................................502 QUADRO 25 IVA (COM DIREITO A DEDUO/SEM DIREITO A DEDUO)...................................................................504 QUADRO 26 IVA (ENTREGA/RECUPERAO/REPORTE OU REEMBOLSO) ................................................................505 QUADRO 27 IRC (CUSTOS COMUNS/CUSTOS ESPECFICOS).................................................................................508 QUADRO 28 IRC (RETENO NA FONTE EFECTUADA POR TERCEIROS/A TERCEIROS) ................................................509 QUADRO 29 IRC (PAGAMENTO E REEMBOLSO/RECUPERAO) ............................................................................511 QUADRO 30 IRS (ATLETAS) ..........................................................................................................................513 QUADRO 31 IRS (PESSOAL ADMINISTRATIVO/MANUTENO) ...............................................................................514 QUADRO 32 IRS (SERVIOS) ........................................................................................................................516 QUADRO 33 IRS (RETENO/VALOR)..............................................................................................................518 QUADRO 34 IRS (ENTREGA/VALOR) E SEGURANA SOCIAL (RETENO/ENTREGA) ..................................................520

  • XII Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica

  • Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica XIII

    Resumo

    Esta dissertao tem por objecto de estudo o regime fiscal dos clubes

    desportivos, sediados na cidade do Porto, com estatuto de utilidade pblica e que no participam em competies desportivas profissionais.

    O objectivo da investigao aferir a importncia das normas fiscais e contabilsticas e, de tudo o que se relaciona com os impostos/taxas no quotidiano do clube desportivo.

    Efectumos a reviso bibliogrfica numa perspectiva de enquadramento normativo dos clubes desportivos bem como o seu enquadramento fiscal.

    Analismos diversos planos oficiais de contabilidade, com o intuito de contextualizar, de forma sustentada, a proposta do plano de contabilidade que elaboramos para as entidades objecto deste estudo.

    No espao internacional e europeu fazemos uma pequena incurso no direito comparado, nos direitos contemporneos, no conceito e caractersticas das organizaes no-governamentais, terminando com a anlise jurisprudencial de alguns casos seleccionados.

    Para dar cumprimento ao objectivo do trabalho e consequente resposta s questes formuladas, inquirimos vinte clubes da cidade do Porto, definidos como amostra, mas que resultam na totalidade do universo, face aos critrios de seleco aplicados.

    A anlise do regime fiscal e leva-nos a considerar que existe um desfasamento entre os benefcios/isenes dos clubes desportivos e outras entidades que lhes so prximas.

    Dos resultados obtidos dos inquritos inferimos que mais de metade dos clubes desportivos tm, na generalidade, um viver tributrio de acordo com as suas obrigaes mas no exercem a totalidade dos seus direitos.

    Finalizamos com algumas sugestes que consideramos ser pertinentes e que proporcionaro um melhor desporto no futuro.

    Palavras-chave: clube desportivo, utilidade pblica, fiscalidade, normas

    contabilsticas, impostos, deveres, direitos.

  • XIV Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica

  • Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica XV

    Abstract

    This dissertation aims to study the tax regime of the sports clubs, hosted in the city of the Port, with statute of public utility and do not participate in professional sports competitions. The aim of the research is to confront (survey) the importance of the tax (and account) norms in the everyday life of the sport club.

    We undertake the bibliographical revision in a perspective of the normative framing of the sports clubs and its tax framing. We analyzed different official plans of accounting, with the aim of finding a suitable proposal of accounting for the entities covered in this study. In the international and european context we made a small incursion in the comparative case-law, in the concept and characteristics of the non-governmental organizations, finishing with the analysis of some selected cases. To attain the objectives of the work, we interviewed twenty clubs of the city of Oporto, defined as sample, in accordance with previous criteria of selection. The analysis of the tax regime of the clubs shows that there is a mismatch between benefits and exemptions granted to these entities and others related entities.

    On the basis of the inquiries results, we infer that more than half of the sports clubs have a tax life in accordance with legal and tax obligations, but they do not exert the totality of its rights.

    We finish with some suggestions that we consider being relevant and that will provide a better sport in the future.

    Word-key: sport club, public utility, accountancy, norms, taxes, duties,

    rights.

  • XVI Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica

  • Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica XVII

    Rsum

    Cette dissertation a pour objet d'tude le rgime fiscal des clubs

    sportifs, sigs dans la ville de Porto, avec du statut d'utilit publique et qui ne

    participent pas en comptitions sportives professionnelles.

    L'objectif de cette recherche est dexaminer l'importance des normes

    fiscales et comptables ainsi que de tout ce qui se rapporte aux impts/taux

    dans le quotidien du club sportif.

    On a effectu la rvision bibliographique dans une perspective

    d'encadrement normatif des clubs sportifs ainsi que son encadrement fiscal.

    On a analys de divers plans officiels de comptabilit, avec l'intention

    de se reporter au contexte, de forme soutenue, la proposition du plan de

    comptabilit quon a labore pour les entits qui sont objet de cette tude.

    En ce qui concerne lespace international et europen, on a fait une

    petite incursion dans le droit compar, dans les droits contemporains, dans le

    concept et dans les caractristiques des organisations non gouvernementales,

    en finissant avec l'analyse jurisprudentiel de quelques cas slectionns.

    Pour donner accomplissement l'objectif de ce travail et consquente

    rponse aux questions formules, on a enqut vingt clubs de la ville de Porto,

    dfinis lchantillon, mais qui rsultent dans la totalit de l'univers, face aux

    critres de slection appliqus.

    L'analyse du rgime fiscal nous emmne considrer quil y a un

    dcalage entre les bnfices/exemptions des clubs sportifs et dautres entits

    qui leur sont proches.

    Des rsultats obtenus des enqutes on conclut que plus de moiti des

    clubs ils sportifs ont, en gnral, un vivre tributaire convenable leurs

    obligations mais ils n'exercent pas la totalit de leurs droits.

    On finit avec quelques suggestions quon considre tre pertinentes et

    qui proportionneront un meilleur sport l'avenir.

    Mots-cls: club sportif, utilit publique, fiscalit, normes comptables,

    impts, devoirs, droits.

  • XVIII Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica

  • Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica XIX

    Abreviaturas e siglas

    AGT ........................................ Administrao Geral Tributria

    AR .......................................... Assembleia da Repblica

    Art ......................................... Artigo

    CAC ....................................... Cdigo Aduaneiro Comunitrio

    CC ....................................... Cdigo Civil

    CCA ..................................... Cdigo da Contribuio Autrquica

    CIMSISD .............................. Cdigo do Imposto Municipal de SISA e do Imposto

    sobre Sucesses e Doaes

    CPA ...................................... Cdigo do Procedimento Administrativo

    CPC ...................................... Cdigo de Processo Civil

    CPCI ...................................... Cdigo de Processo das Contribuies e Impostos

    CPP ...................................... Cdigo de Processo Penal

    CPPT ..................................... Cdigo de Procedimento e de Processo Tributrio

    CRP ...................................... Constituio da Repblica Portuguesa

    DecR .................................... Decreto Regulamentar

    DGF ....................................... Direco Geral de Finanas

    DGCI ..................................... Direco Geral dos Impostos

    DL ........................................ Decreto-Lei

    DR ......................................... Dirio da Repblica

    EBF ........................................ Estatuto dos Benefcios Fiscais

    EM ........................................ Estatuto do Mecenato

    ECUP .................................... Estatuto das Colectividades de Utilidade Pblica

    EUP . Estatuto de Utilidade Pblica

    IECs .................................... Impostos especiais sobre o consumo

    IDP ......................................... Instituo do Desporto de Portugal

    IGF ........................................ Inspeco Geral de Finanas

    IMI .. Imposto Municipal sobre Imveis

    IMS ........................................ Imposto Municipal de Sisa

    IMT . Imposto Municipal sobre as Transmisses Onerosas de

    Imveis

    IRC ........................................ Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas

    IRS ........................................ Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares

    IS ........................................... Imposto de Selo

    ISD ........................................ Imposto sobre Sucesses e Doaes

  • XX Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica

    ISP ......................................... Imposto sobre Produtos Petrolferos

    ISV ......................................... Imposto sobre Veculos

    IUC ......................................... Imposto nico de Circulao

    IVA Imposto sobre o Valor Acrescentado

    L . Lei

    LBAFD..................................... Lei de Bases da Actividade Fsica e do Desporto

    LBD .................................... Lei de Bases do Desporto

    LBSD ..................................... Lei de Bases do Sistema Desportivo

    LFL ........................................ Lei das Finanas Locais

    LFRA ...................................... Lei das Finanas das Regies Autnomas

    LGT ........................................ Lei Geral Tributria

    LOE ........................................ Lei do Oramento do Estado

    OE ......................................... Oramento do Estado

    ONGs Organizaes No-Governamentais

    Port. ....................................... Portaria

    PCCDUP ................................ Plano de Contabilidade dos Clubes Desportivos de

    Utilidade Pblica

    POC ........................................ Plano Oficial de Contabilidade

    POCAL .................................. Plano Oficial de Contabilidade das Autarquias Locais

    POC-Educao....................... Plano Oficial de Contabilidade Pblica para o sector da

    Educao

    POCISSSS.............................. Plano Oficial de Contabilidade das Instituies do

    Sistema de Solidariedade e de Segurana Social

    POCP ..................................... Plano Oficial de Contabilidade Pblica

    PROFAC ................................ Plano Oficial de Contabilidade das Federaes,

    Associaes e Agrupamentos dos Clubes

    RCR ...................................... Regulamento de Cobranas e de Reembolsos

    RGIT ....................................... Regime Geral de Infraces Tributrias

    RITI ...................................... Regime do IVA nas Transaces Intracomunitrias

    RJIFNA ................................ Regime Jurdico das Infraces Fiscais no Aduaneiras

    SS ... Segurana Social

    STA ..................................... Supremo Tribunal Administrativo

    TC ......................................... Tribunal Constitucional

    TJCE......................................... Tribunal de Justia das Comunidades Europeias

    TOC ...................................... Tcnicos Oficiais de Contas

    TSU ....................................... Taxa Social nica

    UE . Unio Europeia

  • Introduo

    Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica 1

    Introduo

    1. Preliminares

    O movimento associativo, com especial destaque para os clubes

    desportivos, representa uma clara fora econmica, social, poltica e

    desportiva, devendo procurar assegurar-se que a clarificao das suas

    relaes com o Estado seja traduzida em legislao adequada, de forma a ser

    respeitada a sua relevncia social e desportiva.

    Cerca de vinte anos ligado vida interna de um clube desportivo, no

    vocacionado para a prtica desportiva profissional, foi tempo suficiente para

    nos questionarmos sobre os problemas quotidianos da sua gesto e de nos

    apercebermos do tratamento que esse clube desportivo recebe da

    Administrao Pblica.

    Por outro lado, fomos tomando conscincia que a maioria das reflexes

    sobre os clubes desportivos se centram nos grandes clubes, aqueles que

    participam em competies de natureza profissional e, dentro deles, dos

    clubes de futebol.

    A eles destaca a imprensa, genrica ou especializada, os grandes

    espaos; tambm para eles se dirigem as palavras dos polticos.

    No decorrer da tese de dissertao, para o Mestrado em Cincias da

    Educao na rea de Gesto Desportiva da FCDEF Porto, bem como nas suas

    concluses, estas ideias foram-se sedimentando.

    Acresce que, a partir dos anos 1996 e 1997, a Administrao Fiscal

    passa a controlar, de forma mais rigorosa, a actividade dos clubes desportivos

    de pequena dimenso, com especial ateno para a sua actividade comercial e

    acessria.

    Tudo isto, em suma, levou-nos a eleger como projecto de investigao,

    um tema que relacionasse aquele tipo de agremiaes desportivas e o seu

    viver tributrio.

    Do trabalho que desenvolvemos num clube desportivo, e do contacto

  • Introduo

    2 Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica

    com dirigentes de outros clubes desportivos, pudemo-nos aperceber que existe

    pouco conhecimento, por exemplo, sobre o contedo do DL n 74/98, de 27 de

    Maro Plano Oficial de Contabilidade para as Federaes, Associaes e

    Agrupamentos de Clubes (PROFAC), bem como das isenes e benefcios

    fiscais previstos na lei.

    Nos clubes desportivos o regime contabilstico e a demonstrao de

    resultados so, geralmente, apenas para consumo interno (Assembleia Geral)

    no havendo, na generalidade, preocupaes com o IVA, o IRS, o IRC, os

    benefcios fiscais, etc.

    No entanto, o prembulo daquele Decreto-Lei refere que Durante e

    mesmo aps o perodo estabelecido para aplicao deste plano oficial de

    contabilidade sero previstas aces de apoio tcnico e acompanhamento por

    parte das entidades ou organismos competentes.

    No temos conhecimento que este apoio tenha sido concretizado s

    associaes e a clubes desportivos (que no disputem competies

    profissionais), embora a estes no diga directamente respeito.

    Face ao mediatismo que dado ao "futebol" em todas as suas

    vertentes, com especial destaque para o volume de negcios (transferncias,

    venda de passes, remuneraes, etc.), suspeita de corrupo, evaso e/ou

    fraude fiscal, existe, por parte da Administrao Fiscal, uma tendncia para

    identificar as obrigaes da generalidade dos clubes desportivos com os

    clubes de futebol.

    No esto estes servios, por vezes, consciencializados nem

    sensibilizados para a realidade efectiva (receitas, despesas, funo social,

    educativa e recreativa) da maior parte dos clubes desportivos.

    Ora, o desporto um bem cultural a que todos tm direito (artigo 79 da

    CRP) mas que nem sempre todos tm acesso. As recomendaes e

    orientaes das instituies que intervm a nvel internacional so inequvocas

    quanto importncia do desenvolvimento desportivo na melhoria da qualidade

    de vida activa, na formao integral e equilibrada de cada indivduo e na

    humanizao da vida social.

    Se olharmos de relance para os resultados finais de alguns encontros

  • Introduo

    Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica 3

    que se ocuparam da realidade dos clubes desportivos em geral, mas muito

    particularmente daqueles que no participam em competies desportivas

    profissionais, no difcil recolher um conjunto de preocupaes e dvidas

    quanto ao seu presente e futuro.

    Assim, no 1 Congresso das Colectividades da Regio Norte, realizado

    em Julho de 1999, adiantaram-se entre outras as seguintes concluses:

    - Reivindicar para o movimento associativo o Estatuto de Parceiro

    Social, tendo em conta a dimenso do movimento avaliado em mais de

    3.000.000 de associados, em cerca de 20.000 colectividades e 300.000

    dirigentes associativos que trabalham diariamente, a ttulo gratuito, e que

    gerem uma economia social que movimenta largos milhes de contos.

    - Reivindicar a redefinio do Estatuto de Utilidade Pblica e Isenes

    Fiscais, de modo a que esta concesso a uma associao no represente

    apenas uma honra e um reconhecimento pblico do mrito da sua aco

    social, tendo um efeito meramente simblico, mas que traga benefcios reais

    para a associao em causa. Recomendar um maior alargamento do mbito,

    uma maior simplicidade e celeridade do processo, bem como a passagem da

    competncia de concesso da Administrao Central para a Administrao

    Local.

    - Reivindicar da Associao Nacional de Municpios Portugueses

    (A.N.M.P.), que promova uma sensibilizao junto das autarquias para que

    ajustem os regulamentos e posturas municipais s especificidades das

    diversas actividades desenvolvidas pelas associaes.

    - Reivindicar o aumento das isenes em sede de Estatuto de

    Benefcios Fiscais e IRC.

    - Promover aces de formao especficas na rea da contabilidade,

    de modo a que todas as associaes possam apresentar contas transparentes

    e rigorosas.

    - Exigir que o Estado Portugus cumpra a Constituio da Repblica no

    que respeita ao desporto, assim como as recomendaes das organizaes

    internacionais sobre o desporto para todos.

    - Clarificar a funo social dos clubes face s suas comunidades,

  • Introduo

    4 Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica

    procurando orientar a sua actividade tambm para a sade pblica, o bem-

    estar e a qualidade de vida de toda a populao.

    - Aproveitamento das instalaes desportivas no seu conjunto

    procurando estabelecer acordos de cooperao entre as colectividades, as

    escolas, as autarquias e a Administrao Central.

    - Exigir o acesso aos apoios directos do Instituto do Desporto, na base

    de critrios transparentes, considerando que, segundo as estatsticas do INE,

    as colectividades constituem automaticamente o seu oramento em valores

    que rondam os 70% a 80% e face ao papel social relevante que desempenham

    na rea do desporto.

    Tambm do IV Congresso Nacional das Colectividades de Cultura

    Recreio e Desporto, realizado em Abril de 2001, pudemos constatar algumas

    dessas preocupaes que passamos a transcrever:

    - Declaram que a legislao existente no serve o interesse das

    Colectividades, mas pelo contrrio agravam e dificultam a sua aco;

    - Exigem que a legislao existente seja urgentemente alterada e que,

    tal como no caso de nova legislao, haja sempre o parecer prvio do

    Movimento Associativo;

    - Reivindicam a aprovao urgente de:

    - Lei que isente as colectividades do IVA na compra de equipamento

    para a sua actividade.

    - Equiparao das Colectividades com Utilidade Pblica s IPSS, para

    efeitos fiscais.

    - Actualizao do Estatuto de Utilidade Pblica.

    - Adequao da Lei do Mecenato realidade associativa.

    O presumvel desajustamento existente entre o regime fiscal

    (enquadramento legislativo) e o movimento associativo foi ainda, identificado

    no Congresso no Desporto Amador, realizado em Junho de 2001, do qual

    transcrevemos algumas concluses/propostas apresentadas:

    - Criao de um programa especfico de apoio modernizao

    tecnolgica dos Clubes, nomeadamente nas reas da informtica e das novas

    tecnologias de comunicao.

  • Introduo

    Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica 5

    - Iseno de licenas de publicidade relativas divulgao do Clube e

    suas actividades.

    - Reduo das contribuies para a Segurana Social a suportar pelos

    Clubes, relativas aos seus colaboradores, tendo em conta o Servio Social que

    prestam.

    - Taxa reduzida de IVA para as obras de construo e beneficiao de

    infra-estruturas e aquisio de equipamentos desportivos.

    - Iseno de ISV (IA) na aquisio de viaturas para utilizao desportiva.

    - Em termos gerais, e no sentido do adequado enquadramento da

    actividade, dever ser criada legislao desportiva, laboral, social e fiscal, para

    os Clubes de Desporto Amador.

    2. Apresentao do problema O cumprimento das obrigaes

    fiscais e contabilsticas: avaliao e anlise crtica

    O clube desportivo , no quadro do sistema desportivo nacional, a

    agremiao desportiva de base.

    Tudo o que se relacionar com a sua vivncia h-de, naturalmente,

    precipitar-se no todo do sistema.

    Para ns, a questo que se coloca, a de medir a importncia das

    normas fiscais, de tudo o que se relaciona com os impostos, no quotidiano de

    um clube desportivo.

    Os clubes desportivos tm noo das obrigaes fiscais a que se

    encontram sujeitos? Enquanto contribuintes conhecem e exercem os seus

    direitos? Possuem, utilizam ferramentas de gesto contabilstica que lhes

    permita apresentar contas rigorosas, transparentes, cumprindo e beneficiando

    das obrigaes e direitos implcitos nos diversos Cdigos?

    Vivem, em suma, num quadro de legalidade tributria?

    Esta questo, formulada genericamente, desdobra-se na aproximao

    a diversas temticas que, no mbito do nosso trabalho, diro respeito ao

    imposto sobre o rendimento das pessoas colectivas (IRC), ao imposto sobre o

  • Introduo

    6 Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica

    valor acrescentado (IVA), ao estatuto dos benefcios fiscais (EBF),

    contribuio autrquica/imposto municipal sobre imveis (CA/IMI), ao imposto

    municipal de SISA (IMS), ao imposto sobre sucesses e doaes (ISD), ao

    imposto municipal sobre as transmisses onerosas de imveis (IMT), ao

    imposto de selo (IS), ao imposto sobre rendimento de pessoas singulares

    (IRS), segurana social (SS) e ao estatuto do mecenato (EM).

    3. Fundamentao prvia

    3.1. Direito fiscal, Direito internacional e Direito comunitrio

    cada vez mais visvel nos ordenamentos fiscais nacionais a

    existncia de segmentos de direito internacional fiscal, isto , de normas fiscais

    provenientes quase exclusivamente de convenes internacionais e visando

    fundamentalmente situaes internacionais ou plurilocalizadas.

    Este conjunto de normas jurdicas fiscais tem por objecto a

    regulamentao das "situaes da vida que tm contacto, por qualquer dos

    seus elementos, com mais do que uma ordem jurdica, dotada de poder de

    tributar ou, noutra formulao, compreende a totalidade das disposies

    jurdicas que se referem tributao relativa a hipteses que ultrapassam as

    fronteiras nacionais, ou seja, hipteses que, implicando relaes com mbitos

    territoriais ou com ordenamentos jurdicos relativos a mais de um Estado,

    conduzem a que se apresente como credor tributrio mais do que um Estado.

    Estas situaes tm hoje uma importncia fundamental crescente,

    dada a cada vez maior internacionalizao das relaes econmicas exigida

    pela tendencial globalizao dos mercados quer a nvel mundial, quer

    especialmente dentro dos espaos de forte integrao econmica como o o

    caso da Unio Europeia. Compreende-se assim o actual empenhamento na

    luta contra a dupla tributao e a evaso fiscal internacionais, que aquela

    internacionalizao facilita extraordinariamente. Uma luta que naturalmente no

    pode deixar de mobilizar os diversos instrumentos ou vias interna, comunitria

    e internacional.

  • Introduo

    Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica 7

    Empenhamento que, acrescente-se, tende a ser concretizado pela

    generalidade dos pases, atravs das vias referidas, seguindo as aces

    propostas pelas convenes-modelo da OCDE, ou seja, o Modelo de

    Conveno Fiscal sobre o Rendimento e o Patrimnio (1992) e o Modelo de

    Conveno de Dupla Tributao em Matria de Sucesses e Doaes (1982).

    Embora se possa conceber o direito comunitrio como um especial

    (rectius um qualificado) domnio do direito internacional, no podemos deixar

    de ponderar o reconhecido carcter supranacional do direito comunitrio, uma

    caracterstica de que, ao menos no actual estado de desenvolvimento da

    comunidade internacional, ainda no partilha o direito internacional.

    Na harmonizao fiscal dos impostos estaduais, de assinalar que ela

    pode apresentar diversos graus ou nveis de concretizao e no se verifica

    apenas relativamente tributao do consumo. Assim e por outro lado, temos

    dois graus ou nveis de harmonizao fiscal: a harmonizao stricto sensu das

    legislaes, em que se procede erradicao das disparidades existentes

    entre as legislaes nacionais de modo a chegar a solues idnticas, sem

    limitar, contudo, o exerccio da competncia legislativa nacional; e a

    aproximao de legislaes, em que se procura formar uma base comum de

    princpios e regras, de maneira a que no s as solues, mas tambm os

    prprios direitos nacionais se tornem, seno idnticos, pelo menos, similares.

    A harmonizao fiscal representa, assim, a soluo racional de

    compromisso entre a necessidade de eliminar as disparidades fiscais

    existentes entre os Estados membros e a salvaguarda da autonomia destes em

    sede da sua competncia legislativa. O que permite distinguir a harmonizao

    tanto da mera coordenao, que no pressupe a erradicao das dispa-

    ridades entre os diversos direitos e se situa ao nvel da cooperao

    internacional dos Estados, como da unificao ou uniformizao que envolve a

    eliminao total das disparidades e o consequente abrir mo de parcelas

    significativas da soberania.

    De referir ainda neste sector do direito comunitrio fiscal de

    harmonizao, a disciplina dirigida a evitar a dupla tributao e a evaso fiscal

    decorrentes de situaes fiscais europlurilocalizadas, isto , de situaes

  • Introduo

    8 Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica

    fiscais com conexo relevante, face do direito internacional pblico, com

    diversos Estados membros da Unio Europeia, disciplina que, pese embora a

    ostensiva complexidade e equivocidade da expresso, podemos designar por

    direito fiscal internacional comunitrio.

    3.2. Direito ao desporto e o clube desportivo

    A Constituio da Repblica Portuguesa1, lei fundamental do Pas,

    consagra, impressivamente o direito de associao (artigo 46), pelo que

    inequvoco o seu interesse e importncia.

    O Estado est obrigado a prosseguir a poltica cultural, desportiva e

    outras em cooperao com as associaes, clubes e cidados organizados nas

    diferentes expresses associativas.

    A participao construtiva e o desenvolvimento da democracia

    dependem tanto de uma educao permanente como de um livre acesso ao

    conhecimento, cultura e ao desporto.

    Todos os cidados tm direito cultura fsica e ao desporto.

    Portugal insere no seu texto constitucional uma disposio sem

    paralelo no quadro comunitrio europeu, consagrando o direito ao desporto

    como um direito fundamental de todos os cidados.

    Na Constituio da Repblica Portuguesa, o desporto recolhe uma

    expressiva recepo, como podemos constatar no artigo 79, sob a epgrafe

    "Cultura fsica e desporto":

    1 - Todos tm direito cultura fsica e ao desporto.

    2 - Incumbe ao Estado, em colaborao com as escolas e as

    associaes e colectividades desportivas promover, estimular, orientar e apoiar

    a prtica e a difuso da cultura fsica e do desporto, bem como prevenir a

    violncia no desporto.

    O desporto, para alm de estar implicitamente presente noutras

    disposies constitucionais [e.g. na previso do direito dos trabalhadores aos

    lazeres artigo 59, n 1, alnea d)] ainda acolhido no quadro constitucional

    1 Miranda, J. e Medeiros, R.(2005), Constituio Portuguesa Anotada, Coimbra Editora.

  • Introduo

    Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica 9

    dedicado juventude (artigo 70) e proteco da sade [artigo 64, n 2,

    alnea b)].

    O direito ao desporto no pode deixar de ser entendido com a maior

    abertura possvel, dado o prprio carcter democrtico que este assume e que

    a Constituio tem presente ao definir os alicerces do Estado Portugus.

    Democracia e liberdade no Estado, democracia e liberdade no

    desporto.

    Como vemos, o direito ao desporto um direito fundamental de todos

    os cidados que encontra localizao sistemtica no texto constitucional, no

    mbito dos direitos e deveres culturais - Captulo III da CRP - por sua vez

    inseridos na qualificao mais abrangente dos direitos e deveres econmicos,

    sociais e culturais Ttulo III da CRP.

    Seguindo a lio dos constitucionalistas J.J. Gomes Canotilho e Vital

    Moreira (Fundamentos da Constituio - 1991) estamos, desde logo, perante

    um direito de carcter universal um direito de todos a certas prestaes -

    apresentando-se como um direito positivo.

    Embora esteja dependente de uma srie de medidas legislativas, o

    direito ao desporto tem importante relevo jurdico, quando encarado como

    direito subjectivo:

    - implica uma interpretao das normas legais de modo conforme

    consagrao constitucional;

    - a inrcia do Estado quanto criao de condies para a sua

    efectivao pode acarretar uma inconstitucionalidade por omisso;

    - implica a inconstitucionalidade das normas legais que no

    desenvolvem a realizao desse direito fundamental ou a realizem diminuindo

    o estdio anteriormente atingido.

    Conforme refere Meirim2 (1995), podemos definir associativismo

    desportivo como um conjunto de organizaes colectivas de cidados, sem

    fins lucrativos, que visam promover a prtica desportiva e o desenvolvimento

    do sistema desportivo.

    2 Meirim, Jos M. (1995), Clubes e Sociedades Desportivas, Livros Horizonte.

  • Introduo

    10 Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica

    O associativismo desportivo recolhe as caractersticas prprias ao

    exerccio da liberdade de associao, isto , concretiza-se no respeito de trs

    vertentes essenciais, conforme nos apontam os constitucionalistas J.J. Gomes

    Canotilho e Vital Moreira (1997):

    - o direito individual dos cidados a constituir livremente associaes

    sem impedimentos e sem imposies do Estado, bem como o direito de se filiar

    em associao j constituda;

    - o direito da prpria organizao a organizar-se e a prosseguir

    livremente a sua actividade (desde que legal);

    - o direito do cidado de no entrar numa associao, bem como o

    direito de sair dela.

    Emanaes da sociedade civil, projeco da liberdade de associao

    constitucionalmente assegurada, as associaes ocupam papel mpar no

    sistema desportivo nacional.

    De realar, portanto, que o clube desportivo se apresenta no sistema

    desportivo como um dos seus mais importantes operadores, constituindo o

    momento primrio do associativismo desportivo.

    Como associao privada de fim no lucrativo, o clube desportivo

    nasce do exerccio da liberdade de associao, constitucionalmente garantida

    a todos os cidados, configurando-se como uma das vrias espcies de

    estruturas associativas que actuam neste espao de interveno cvica.

    Desta forma, como regra, a sua formao, as suas finalidades e os

    meios a empregar para a sua prossecuo, encontram-se sujeitos s normas

    que, de forma genrica, se ocupam do enquadramento das associaes.

    Uma lei de bases , por definio, uma lei de alicerces de determinado

    domnio jurdico.

    A vamos encontrar as directrizes normativas fundamentais a observar

    numa faceta da realidade social o que exige naturalmente a emanao de

    outras normas que as concretizem e as tornem operativas.

    A Assembleia da Repblica decretou a Lei n 5/2007 Lei de Bases da

    Actividade Fsica e do Desporto (LBAFD), tendo a mesma sido aprovada em 7 de

    Dezembro de 2006 e publicada em Dirio da Repblica em 16 de Janeiro de 2007.

  • Introduo

    Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica 11

    A Lei n 5/2007, de 16 de Janeiro, Lei de Bases da Actividade Fsica

    e do Desporto (LBAFD), revogou (artigo 52) a Lei n 30/2004, de 21 de Julho

    Lei de Bases do Desporto (LBD), que, por sua vez, j tinha substitudo

    (revogado) a Lei n 1/90, de 13 de Janeiro, com as alteraes introduzidas pela

    Lei n 19/96, de 25 de Junho Lei de Bases do Sistema Desportivo (LBSD).

    De salientar ainda que, de acordo com o artigo 51, A presente lei, nas

    matrias que no sejam reserva da Assembleia da Repblica, deve ser objecto

    de regulamentao, por decreto-lei, no prazo de 180 dias.

    Na seco III clubes e sociedades desportivas encontramos a

    primeira referncia estruturada em relao aos clubes desportivos.

    Assim, temos o artigo 26, n 1; que nos define os clubes desportivos

    como sendo pessoas colectivas de direito privado, constitudas sob a forma de

    associao sem fins lucrativos, que tenham como objecto (escopo) o fomento e

    a prtica directa (o sublinhado nosso) de modalidades desportivas. O n 2

    deste artigo estabelece ainda que, se esses clubes desportivos participarem

    em competies profissionais, ficaro, em regra, sujeitos a um regime especial

    de gesto definido por lei podendo, no entanto, optar por constituir uma

    sociedade desportiva com fins lucrativos (SAD).

    A lei define o regime jurdico destas sociedades annimas, entre o qual

    destacamos o estabelecimento de um regime fiscal adequado especificidade

    das mesmas (artigo 27, n 2).

    O clube desportivo uma pessoa colectiva de direito privado cujo

    objecto o fomento e a prtica directa de actividades desportivas, que se

    constitui sob forma associativa e sem intuitos lucrativos.

    neles que assenta toda a estrutura associativa: dos clubes aos

    agrupamentos de clubes (incluindo as associaes de clubes) e destes s

    federaes desportivas.

    O posicionamento dos clubes desportivos no actual quadro do sistema

    desportivo nacional, encontra manifestaes a diversos ttulos, estando

    prevista (e em alguns casos, sendo exigida) a sua participao nos mais

    variados domnios.

  • Introduo

    12 Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica

    A especificidade deste tipo de associao, as caractersticas prprias

    do fenmeno desportivo, origina a obteno de respostas que, nos mais

    diversos nveis, tm presente essa particular realidade.

    De acordo com o estatuto das colectividades de utilidade pblica

    (declarao de utilidade pblica), os clubes desportivos podem, na

    generalidade dos casos, usufruir desse estatuto. Tal facto resulta de os clubes

    desportivos, paralelamente aos interesses egostas dos seus associados,

    prosseguirem um interesse geral da comunidade.

    A declarao de utilidade pblica requerida pela pessoa colectiva

    sendo necessrio, para que a mesma seja declarada, que a Administrao

    Pblica considere que o seu fim estatutrio e a sua actividade efectiva

    fomentam e desenvolvem um interesse geral da comunidade3 O estatuto de

    utilidade pblica confere direitos, benefcios/isenes fiscais previstas na lei e

    outras regalias, e deveres, como o envio anual do relatrio e contas para a

    Presidncia do Conselho de Ministros, a prestao de informaes solicitadas

    pelas entidades oficiais, a colaborao com o Estado e com as autarquias na

    prestao de servios ao seu alcance e na cedncia das suas instalaes para

    a realizao de actividades afins (Decreto-Lei n 460/77, de 7 de Novembro, e

    Lei n 151/99 de 14 de Setembro).

    3.3. Em defesa do clube desportivo4

    Parafraseando parte do ttulo do livro Em defesa do Desporto

    mutaes e valores em conflito (2007), apresentamos alguns excertos da

    colectnea dos textos que o compem.

    A defesa dos clubes desportivos intrnseca defesa do desporto. So

    as entidades, a par da escola (em alguns casos), que promovem a prtica

    desportiva (formal) de carcter regular, nas suas mais diversificadas vertentes.

    Os exemplos que apresentamos so alguns, dos muitos que

    poderamos seleccionar, mas que nos parecem adequados, face sua

    actualidade e diversidade de autores expostos.

    3 Decreto-Lei n 460/77, de 7 de Novembro. 4 Bento, J. O. e Constantino, J. M., (coord.) (2007), Em defesa do Desporto mutaes e valores em conflito, Almedina.

  • Introduo

    Regime Fiscal dos Clubes Desportivos com Estatuto de Utilidade Pblica 13

    Do prefcio, da autoria de J. Vicente de Moura, do livro acima referido,

    escolhemos: De tanto mpeto reformista, o desporto continua porque as

    instituies associativas persistem, enquanto o Estado descontinuado, parte e

    reparte, perde o sentido de se auto-avaliar, entender, racionalizar e de dialogar.

    Por tudo isto o Movimento Olmpico - o mesmo dizer o associativismo

    desportivo5 - desconfia, por que tem opinio e sente-se o arqutipo dos valores

    que tornaram possvel a evoluo, com o trabalho e a dedicao de muitos.

    O associativismo est por demais interessado e pronto a comprometer-

    se nos desafios do presente e do futuro, assim tenha espao e condies.

    essa a sua idiossincrasia e a sua mentalidade.

    No desporto, como em muitas coisas na vida, h uma subsidiariedade

    e complementaridade intrnsecas, inter e intra sectoriais. uma equao

    complexa cuja resoluo implica conhecimento.

    Embora de forma mais abrangente, J. Olmpio Bento ao referir-se ao

    desporto apresenta-o com determinadas caractersticas, funes e

    competncias, que consideramos enquadrarem-se de forma exemplar na

    nossa perspectiva de clube desportivo do sc. XXI. Porque no desporto que

    mais refulgem princpios caros ao trabalho (rigor, seriedade, empenho, afinco,

    exigncias, objectivos, regras, disciplina, compromissos, etc.), sem que isso

    leve anulao ou subjugao dos valores e dimenses associadas ao ldico

    e prazeroso. Pelo contrrio, o desporto a demonstrao exuberante e cabal

    do quanto possvel humanizar e sublimar o labor esforado e suado, por

    constituir uma sntese extraordinria e mpar de coisas que apenas so

    opostas e contraditrias na aparncia, nomeadamente trabalho e jogo, dor e

    felicidade, exignci