Upload
others
View
1
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
0
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO
PARANÁ
CAMPUS DE JACAREZINHO
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE
ARNETE FERREIRA
RITO DE PASSAGEM: A ABORDAGEM DA HISTÓRIA SOCIAL DA CRIANÇA COMO FORMA DE TRANSIÇÃO
PARA A 2ª FASE DO ENSINO FUNDAMENTAL
JACAREZINHO
2014
1
ARNETE FERREIRA
RITO DE PASSAGEM: A ABORDAGEM DA HISTÓRIA SOCIAL DA CRIANÇA COMO FORMA DE TRANSIÇÃO
PARA A 2ª FASE DO ENSINO FUNDAMENTAL
Artigo apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED. Área de Conhecimento: História. Orientador: Profº. Drº. Jean Carlos Moreno.
JACAREZINHO 2014
2
RITO DE PASSAGEM: A ABORDAGEM DA HISTÓRIA SOCIAL DA CRIANÇA
COMO FORMA DE TRANSIÇÃO PARA A 2ª FASE DO ENSINO FUNDAMENTAL
Arnete Ferreira1
Orientador: Jean Carlos Moreno2
Resumo: O presente artigo apresenta uma experiência do Ensino de História com os alunos do 6º
ano do Ensino Fundamental, enfatizando sua trajetória de vida em suas manifestações cotidianas e
para que sintam como sujeitos da sua história pessoal e de sua família. O estudo traz também um
olhar para as fundamentações com base nas pesquisas e estudos sobre o período de transição do
aluno do 5º Ano para a 2ª fase do Ensino Fundamental. A relevância desta investigação se dá pelo
fato de que propõe uma nova abordagem ao planejar os conteúdos a serem ensinados em História e
busca contribuir para uma aprendizagem prazerosa dos conhecimentos próprios da disciplina com
subsídios teóricos metodológicos que levem a uma reflexão e ação por parte dos alunos. A
metodologia aplicada se organizou de forma dialética e teve como pressupostos subsídios que
permitiram aos alunos a construção dos conteúdos básicos de História, onde ele seja o principal
veículo articulador para o processo de ensino aprendizagem. As atividades desenvolvidas foram
reflexivas, observadoras e contextualizadas com o conteúdo exposto, na perspectiva dos alunos
elaborarem o seu portfólio, dando significado às suas experiências para o processo de ensino-
aprendizagem sobre esta temática no intuito de compreender melhor a dimensão e a forma de se ver
como sujeito participativo da história. As discussões foram fundamentadas na História Social da
Criança, segundo as teorias propostas por ABUD (2005), Schmidt (2009), Villas Boas (2005),
(Bittencout (2008), França (2006), Ramos (2011), Pinsky & Pinsky (2009), Abud (2005). A realização
deste trabalho contribuiu para que os alunos participantes da pesquisa compreendessem melhor o
significado da disciplina de História e se sentissem como sujeitos de sua própria História.
Palavras-chave: Ensino-aprendizagem; sujeito histórico; História; história de vida.
1 INTRODUÇÃO
O Projeto de Intervenção Pedagógica, desenvolvido no âmbito do PDE
(Programa de Desenvolvimento Educacional) da Secretaria de Estado da Educação
do Paraná, teve por base trabalhos desenvolvido em pesquisas e estudos sobre o
tema “História Social da Criança”, visto que a escola é um ambiente de fases,
aprendizagens e conquistas. Sendo assim, foi desenvolvido um trabalho que buscou
1 Professora da Disciplina de História no Colégio Estadual Miguel Dias – Ensino Fundamental e Médio
- Município de Joaquim Távora, Núcleo Regional de Jacarezinho da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. 2 Professor Adjunto do Colegiado de História da Universidade Estadual do Norte do Paraná.
3
levar à compreensão de que cada aluno é um sujeito histórico de fato em seu
período e espaço.
A aplicação do trabalho deu-se no período de 20 de fevereiro a 11 de junho
de 2014, com a turma 6º ano A do Ensino Fundamental, período vespertino. A turma
contava com 30 anos alunos e este número de participantes manteve-se até o final
da aplicação do projeto. Os alunos se empenharam para uma boa participação, em
sua grande maioria, mas também encontrei algumas dificuldades, como por
exemplo, o caso de dois alunos que não entregaram o seu portfólio no período
estipulado.
A instituição pública do Colégio Miguel Dias - E.F.M oferece Ensino
Fundamental, séries finais, e Ensino Médio que atende um alunado heterogêneo de
crianças, jovens e adultos em geral oriundos das classes assalariadas residentes na
zona urbana, periferia e rural do município de Joaquim Távora.
Os pais são provenientes de várias camadas sociais. Podemos considerar
que a metade dos pais pertence a uma classe social média e uma outra parte
pertence à classe social baixa, não possuindo estrutura necessárias para fazer um
bom acompanhamento da vida escolar de seus filhos.
A escola assume as várias contradições que marcam a sociedade
contemporânea, má distribuição de renda, o que contribui de forma marcante a
desigualdade social como: desemprego, conflitos familiares, afetivos, sociais,
psicológicos e neurológicos nos estudantes que pertencem a classes populares que
enfrentam problemas advindos da sociedade capitalista, onde a maioria das famílias
trabalha nas indústrias alimentícias e confecções instaladas no município.
O objeto geral do presente projeto era analisar de que forma os alunos podem
compreender, por meio da História, que o ser humano é um sujeito que constrói seu
conhecimento e, consequentemente, produtor da cidadania. Buscava-se, assim,
abordar em sala de aula a leitura de textos e uso de fontes históricas para somar
conhecimentos sobre o processo de ensino aprendizagem para uma perspectiva
política acerca dos estudos com as fontes sobre a vida das crianças no Brasil.
Intencionou-se fazer a mediação do aluno para a construção de conhecimentos por
meio de imagens e vídeos como instrumento documental dos períodos por quais
passaram essas crianças, levando-as a uma reflexão histórica acerca de algumas
representações produzidas. Além disso, procuramos elaborar uma sequência de
atividades a serem desenvolvidas na implementação do projeto em sala de aula
4
(Portfólio). Todas estas atividades e reflexões propostas, por fim, objetivavam
resgatar a identidade do aluno a ponto de ele valorizar e descobrir a própria história,
possibilitando-lhe a aquisição de conhecimento, de natureza histórica e a formação
de cidadania para que se percebesse como sujeito da história.
2 DESENVOLVIMENTO DO PROJETO
O estudo deste Projeto de Intervenção Pedagógica traz um olhar para as
fundamentações com base nas pesquisas e estudos sobre o período de transição do
aluno do 5º Ano para o 6º Ano do Ensino Fundamental, enfocando o tema “História
Social das Crianças”, visto que a escola é um ambiente de aprendizagens e
conquistas. Sendo assim, tenho observado nos meus anos de docência em como
facilitar esse momento de mudança de segmento escolar e a compreensão de que
cada aluno é um sujeito histórico de fato em seu período e espaço. A transição do 5º
Ano para o 6º Ano do Ensino Fundamental é marcada por ansiedade, expectativas e
insegurança para os alunos, bem como para os familiares, precisando dar conta de
se relacionarem com mais professores, mais disciplinas demarcadas por horários,
mais cadernos, diferentes ritmo de aulas, maior exigência curricular, conteúdos não
aprendidos. Muitas vezes é difícil para o aluno entender sobre a relação de afeto
que tinha com aquele professor, que tudo sabia sobre sua vida de aluno para o
professor que muitas das vezes não sabe o seu nome.
Este movimento realizado pelo aluno, ora em retorno, ora em direção a algo
desconhecido para ele, faz com que perceba algumas mudanças em seu
comportamento. O que não se pode perder de vista é que esta transição coincide
com outras transformações pelas quais eles estão vivendo, o que explica muito de
seus comportamentos mais evidentes. Eles estão enfrentando mudanças físicas,
emocionais e intelectuais, estão vivendo mudanças biopsicossociais, iniciando um
processo de busca de seu lugar no mundo. São nomeados como “grandes” para
algumas coisas e “pequenos” para tantas outras. O papel da família e da escola é de
fundamental atenção e participação nesse desenvolvimento de mudança na vida do
aluno.
5
A entrada para o 6º Ano representa o desejo de crescer e conquistar a nova
identidade social. O 6º Ano não é necessariamente mais difícil, mas é um ano em
que alunos e pais são desafiados a corresponderem com expectativas diferentes.
Nesta passagem também é fundamental evidenciar práticas que permitem o
desenvolvimento de recursos pessoais dos alunos, como a aprendizagem do
passado que venha dialogar com as novas aprendizagens para o processo de
construção do conhecimento. Segundo Schmidt (2009, p. 37):
Aprender história significa contar história, isto é, significa narrar o passado a partir da vida no presente. O principal objetivo é elaborar uma orientação relacionada com a construção da identidade de cada um e também, organizar a própria atuação nas lutas e ações do presente, individual e coletivamente.
A entrada para o 6º Ano representa o desejo de crescer e conquistar a nova
identidade social. O 6º Ano não é necessariamente mais difícil, mas é um ano em
que alunos e pais são desafiados a corresponderem com expectativas diferentes.
Nesta passagem também é de fundamental evidenciar práticas que permitem o
desenvolvimento de recursos pessoais dos alunos, como a aprendizagem do
passado que venha dialogar com as novas aprendizagens para o processo de
construção do conhecimento. Entre os principais fundamentos neste olhar
historiográfico para o ensino de História está a importância do pensamento histórico
para este processo.
O trabalho foi fundamentado nas ações desenvolvidas pelo método
participativo, com uma diversidade de atividades, propondo a reflexão sobre o
processo de desenvolvimento e aprendizagem tendo como sujeitos os alunos do 6º
Ano. A metodologia de ensino, aplicada no Projeto de Intervenção e na Unidade
Didático-Pedagógica, teve por pressupostos os objetivos que permitiram a
construção dos conteúdos básicos da História e a compreensão de que cada aluno é
um sujeito histórico, de fato, a partir de suas experiências e do contexto em que vive,
onde ele seja o principal veículo articulador do processo de ensino aprendizagem.
Para isso, o processo de apropriação desses conceitos foi realizado através de um
trabalho reflexivo, observador e contextualizado com o conteúdo exposto, fazendo
6
com que cada aluno participasse do seu processo de co-autor de sua história e de
sua identidade enquanto sujeito.
Ao aplicar esta sequência didática, meu objetivo foi o de propiciar um estudo
com os alunos do 6º Ano sobre a dimensão histórica de cada um, sobre suas vidas
em suas manifestações mais cotidianas, dirigindo-se um olhar investigativo e crítico
possibilitado pela leitura dos documentos que trouxeram uma série de informações
sobre as estruturas familiares, sua origem, sobre as formas de diversão, o legado
cultural, os passeios e viagens, sobre as formas de pensar e ver o mundo.
Documentos que, certamente, possibilitaram uma série de atividades que
enriqueceram as histórias de cada um.
O ensino da História visa a formação de um pensamento histórico a partir da
consciência histórica dos sujeitos, existindo várias explicações e interpretações para
um mesmo fato, sendo assim, o conhecimento histórico possui formas diferentes de
explicar seu objeto de investigação, a partir das experiências dos sujeitos e do
contexto em que vivem. Com este intuito, vale-nos encontrar caminhos para refletir,
experimentar, questionar, instigar, ousar e analisar cada degrau construído para o
seu crescimento e desenvolvimento como cidadão e sujeito histórico, como apontam
PINSKY & PINSKY (2009, p. 28):
“Cabe ao professor (...), aproximar o aluno os personagens concretos da História, sem idealização, mostrando que gente como a gente vem fazendo História. Quanto mais o aluno sentir a História como algo próximo dele, mais terá vontade de interagir com ela, não como uma coisa externa, distante, mas como uma prática que ele se sentirá qualificado e inclinado a exercer. O verdadeiro potencial transformador da História é a oportunidade que ela oferece de praticar a “inclusão histórica”.
Como podemos ver, o professor deve orientar o seu aluno para que não se
perca o sentido, devido à mudança de contexto, mas também, atribuir sentido
condizente com o contexto atual. Fazer as relações com o passado e o presente,
permanências e mudanças dos problemas sociais do país em todos os tempos. Isso
é fundamental para que o aluno tenha consciência de que é “sujeito de sua própria
história e, por conseguinte, da História Social do seu tempo” (Id., 2009, p. 28).
Para atingir tais objetivos, utilizamo-nos de múltiplas fontes históricas. As
fontes podem ser de origens diversas e oferecer elementos diferentes e
7
complementares sobre uma determinada experiência histórica. O trabalho com
fontes busca oferecer subsídios metodológicos, com o compromisso de auxiliar a
teoria e a prática que possam difundir e incutir a sua valorização, levando-os à
construção de uma visão transformadora no mundo que vivemos.
Objetiva-se, com a fonte, estimular o aluno a desenvolver a competência
leitora e promover atitude questionadora e reflexiva para que o mesmo faça
perguntas aos documentos e compreenda as condições em que lhe foram
produzidas. De uma forma cuidadosa foi introduzido no cotidiano escolar o método
de pesquisa, muito usado pelos historiadores e para as aulas de História. Os alunos
começaram a conhecer o caminho para o conhecimento das fontes, com um olhar
observador e crítico sobre as mesmas, reconhecendo diferentes linguagens,
comparando-as, identificando suas intenções e a relação com outras fontes.
A sala de aula foi o ambiente de aprendizagem e interação socioeducacional
onde a interação entre o conteúdo, as atividades, as práticas docentes e o nível de
desenvolvimento apresentados pelos alunos foram realizados por meio de registros
em que se deram as práticas vivenciadas no ambiente escolar. No trabalho de
investigação histórica, em sala de aula, houve contribuição para aumentar a
criticidade dos alunos e, assim, levá-los a obter um posicionamento diante de
acontecimentos do presente, tendo em vista a interpretação das relações que esses
fatos estabeleceram com o passado.
Escolhi um estudo com a Fonte Histórica ”Registro de Nascimento” da
criança, reconhecendo-o como um documento no qual se encontra a origem (pais,
avós) de cada um, o nome, o local, a hora e a data de nascimento, garantindo-lhe o
conhecimento pessoal de parte de sua história familiar. Fizemos perceber que com
esse documento, a criança tem direito a ser atendida em todos os serviços públicos
como: hospitais, postos de saúde, escolas, creches, entre outros.
O Registro de Nascimento é o primeiro documento cível a que todo cidadão
tem acesso. Além disso, a intenção foi de destacar a importância desse documento
na vida das pessoas, tendo em vista os dados nele apresentados, que serão
utilizados em outros documentos. O Registro de Nascimento faz-se outra história,
contada em palavras, portanto, é um documento que conta um pouco da história de
cada pessoa.
Foi propiciado um estudo sobre a dimensão histórica de cada um, sobre suas
vidas em suas manifestações mais cotidianas, dirigindo-se um olhar investigativo e
8
crítico em suas estruturas familiares, sua origem, sobre as formas de diversão, o
legado cultural, os passeios e as viagens, sobre as formas de pensar e ver o mundo.
Documentos que possibilitaram um enriquecimento às histórias de cada um.
O entendimento da importância do ato de pesquisar e de ser pesquisado foi
posto em evidência, assim como a compreensão da história familiar e sua origem
para a construção da história social, onde foram realizados questionamentos
baseados nos relatos de FRANÇA (2006). A característica e a funcionalidade de
cada fonte histórica foram trabalhadas pela oralidade, fazendo com que os alunos
percebessem as diferenças e as semelhanças entre cada um dos documentos
apresentados, reforçando que é no Registro de Nascimento onde estão algumas
informações de seu nascimento, sendo tanto um documento histórico quanto cível.
Todos os alunos trouxeram para sala uma cópia de seu registro de nascimento para
a realização dessa atividade.
Solicitei também que trouxessem fotos deles mesmos, de seus avôs, pais,
parentes e até de amigos e um objeto que fosse tratado como relíquia ou patrimônio
da sua família. Após a verificação das fotos e objetos em mãos foram divididos em
grupos: a) fotos de alunos da classe e dos amigos da mesma idade; b) fotos dos
adultos (pais, ou responsáveis, tios, amigos dos pais); c) fotos dos idosos (avós,
bisavós, senhores e senhoras de sua convivência).
Aplicou-se, então, um roteiro para interpretação das imagens: Quem são os
fotografados?; Como estão vestidos?; Em que lugares estão e o que estão
representando?; O que acontecia na sua cidade e no Brasil na época em que essas
fotos foram tiradas?
Com os objetos trazidos por eles elaborou-se uma ficha com os seguintes
itens: tipo do objeto: o que é, e de que material é feito?; em que época foi feito e a
quem pertencia ou pertence?; por que ele é importante?; explique para a sociedade
de hoje esse objeto trazido por você pode servir para algo? Por quê?
Essas atividades tiveram como objetivo observar, comparar, analisar para
poder, com criticidade, obter um posicionamento diante dos acontecimentos
expostos nas fotos e nos objetos e interpretando como essas fontes podem nos falar
de fatos/acontecimentos que registram a história.
A partir dessa atividade iniciei o trabalho com Patrimônio Histórico Cultural,
baseado na teoria defendida por Ramos (2011), que apresentei através de textos
que complementaram, mostrando a eles que o legado que temos hoje é a herança
9
de nossos ancestrais e que temos o dever de preservar e com muito apreço levar
esse bem tão precioso às futuras gerações. Conversamos sobre as leis de proteção
e restauração que auxiliam na manutenção de suas originalidades e comentei sobre
a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação),
e, no Brasil, o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). A seguir
mostrei algumas fotos e imagens no data show que representam o patrimônio
histórico e cultural brasileiro como: pontes, praças, arquiteturas, igrejas, estátuas,
casas, museus, construções antigas, dança, folclore, paisagens, e outros. Após
apresentar tais dados, observei que compreenderam o que é Patrimônio Histórico
Cultural e fizemos uma visita em alguns pontos da cidade em que moramos para
que os alunos observassem e encontrassem moradias antigas e fossem anotando a
fachada, as janelas, o telhado, a arquitetura, a pintura, o material usado para fazer a
construção, o endereço do local, o bairro. Os alunos elaboraram um texto narrativo
com o passeio pela cidade e a Praça XV de Novembro, onde também se encontra
um marco com a estátua do Padre João Miller e São Sebastião que é padroeiro da
comunidade católica tavorense, partindo do seguinte roteiro: a) Que local da cidade
você observou que há prédios ou elementos culturais que podem fazer parte do
patrimônio histórico de nossa cidade; b) Quais são os locais que você pode
identificar na sua rua ou bairro, os quais fazem parte do patrimônio histórico?; c)
Quais aspectos podemos identificar nos patrimônios históricos analisados?; d) Como
devemos tratá-los?; e) Se daqui a cem anos um historiador fosse fazer uma
pesquisa sobre você e sua família, que tipo de documentos ele poderia utilizar para
saber como era a vida de vocês?; f) Imagine que algum parente ou pessoa
responsável por você encontrou um antigo diário seu guardado no porão de sua
casa. Esse diário pode ser considerado uma fonte histórica? Por quê? O que é
possível saber através dele? Mais adiante, outro conjunto de questões foi proposto
aos estudantes: a) Imagine que você é um artista estrangeiro que veio conhecer o
Brasil; b) Que tipo de registro você faria sobre o que viu?; c) Que elementos do
Brasil você procuraria descrever?; d) Procure em jornais, revistas e/ou livros
disponíveis para recortes imagens do Brasil que se pareça com o que você
imaginou; e) Cole-as em uma cartolina e organize-as por característica do elemento
cultural e histórico. Essa atividade foi realizada em grupo onde cada um destacou a
característica designada.
10
A metodologia utilizada se propôs responder às novas linguagens e
abordagens que a História de hoje exige. Conforme esclarece Abud:
“(...) no processo de aprendizagem as fontes se transformam em recursos didáticos, na medida em que são chamadas para responder perguntas e questionamentos adequados aos objetivos da história ensinada” (ABUD, 2005, p. 310).
Para tanto temos consciência que a História estuda as mudanças e as
permanências presentes nas sociedades, sendo de fundamental importância o seu
estudo em nossa vida, com o objetivo de avaliar e mudar o rumo estabelecido das
coisas.
Os alunos são cidadãos, pessoas detentoras de conhecimentos e direitos,
que produzem cultura. Esse modo de ver as crianças favorece entendê-las e
também ver o mundo a partir do seu ponto de vista. E é específico do período de
infância o seu poder de imaginação, a fantasia, a criação, as brincadeiras, as
canções, e as músicas são entendidas aqui como experiência de cultura.
Partindo desse entendimento apresentei como outro recurso didático e
metodológico a aprendizagem através da música em períodos que retratam a vida
social das crianças no Brasil e seu cotidiano para reflexão e análise do contexto
histórico vivido pelos compositores e cantores. A canção do grupo Palavra Cantada,
“EU”, traz em seu enredo a origem da história de sua família. Já “O Menino e a
Rosa” retrata a história de um menino que vivia com outra família pelo abandono de
seus pais. Por fim, e, “Depende de Nós”, o compositor retrata que as crianças são a
esperança para um mundo melhor, ou seja, são sujeitos que podem mudar o mundo.
Nesse sentido, a música é uma forma de combater a apatia e o desinteresse
pela aprendizagem e o saber escolar, muitas vezes, pela vivência de uma realidade
desalentadora que impede o aluno de se perceber como sujeito histórico.
Essa metodologia teve como objetivo principal, aproximar o conteúdo através
do ouvir uma melodia, de apreciar a mensagem que traz, de relacionar com a vida
cotidiana de nossos alunos, de relacionar passado e presente, levando-os a
perceberem as transformações, mudanças e permanências no decorrer da História e
a verificarem que a História é construção feita pelo povo de seu tempo e que mesmo
11
uma canção precisa ser analisada e pensada sobre a ideologia que a mesma
transmite.
Por fim, para que se sentissem ainda mais como sujeitos da História, foi
pedida e acompanhada a construção de um Portfólio sobre a vida de cada aluno
composto com documentos, subsídios que revelem a sua história de vida desde o
momento da concepção até a sua idade atual.
Para o meu trabalho em sala de aula com os alunos do 6º Ano A, período
vespertino, o portfólio foi constituído com atividades ilustrativas como desenhos,
atividades descritivas e narrativas, imagens fotos, visitas, músicas e poesias dos
mesmos, que representam o seu pensamento, o sentimento, a sua maneira de agir,
as suas competências e habilidades e a maneira como coloquei em prática o meu
trabalho pedagógico. Meu objetivo foi que a cada conteúdo desenvolvido eu
pudesse ter uma visão do conhecimento formal de cada aluno e sua atuação nas
diferentes áreas do conhecimento, sua evolução pessoal e educacional enquanto
sujeito histórico que é.
O Portfólio foi um registro produzido em períodos de aprendizagem, por isso
fiz uso de todos esses recursos citados, mas a fotografia foi usada para registrar o
legado de sua vida e de sua família. Ela nos trouxe a possibilidade de construir uma
evolução histórica de acontecimentos, procurando buscar de maneira ordenada a
melhor atuação do aluno dentro do seu desenvolvimento no tema de estudo.
Por isso, o portfólio foi um suporte pelo qual pude observar e respeitar o ritmo
de cada um e, ao mesmo tempo, o diálogo e as mediações que foram sendo
realizadas junto ao aluno. A elaboração do portfólio pelo aluno e a análise do
professor ajudaram no encaminhamento do ensino-aprendizagem, uma vez que
possibilitaram a observação do processo do aluno e, por sua vez, o aluno ao
organizá-lo, refletiu sobre o que nele está contido, ou seja, realizou a auto-avaliação.
De acordo com Villas-Boas (2005), uma das razões para a insegurança inicial
dos alunos, deve-se ao fato do portfólio se constituir em um processo mais
trabalhoso, que implica construir, refletir, analisar, buscar novas informações e ter
autonomia. Justamente por estas razões é que a metodologia do portfólio ativa o
processo de ensino e aprendizagem além de evidenciar ao longo do caminho as
mudanças decorridas no processo de aprendizagem do aluno, por ser um
instrumento reflexivo.
12
Assim como o aprofundamento e a apreciação das perspectivas
educacionais, esta estratégia vai contribuir não apenas para uma estruturação
interpessoal do conhecimento, como também irá facilitar se desenvolvida ao longo
do tempo, à compreensão dos processos de ensino- aprendizagem
Segundo Beicrr (2011), o portfólio é uma coleção organizada e devidamente
planejada de trabalhos produzidos por um aluno ao longo de um período de tempo e
constitui uma seleção feita pelo aluno dos melhores trabalhos ou produtos por si
realizados, de forma a poder proporcionar uma visão alargada e pormenorizada dos
diferentes componentes do desenvolvimento do aluno (cognitivo, afetivo e moral).
Na verdade, consiste em um dossiê onde são colocados trabalhos realizados ao
longo do período de um bimestre, semestre, fica a critério de o professor determinar
como será realizado esse trabalho.
A organização de um portfólio normalmente tem a seguinte estrutura: a) capa:
pode ser ilustrada pelo aluno; b) introdução: deve conter os dados do aluno, do
professor(a), nome da escola, quais os objetivos do portfólio e a sua finalidade; c)
sumário: demonstra a sequência dos conteúdos a serem trabalhados; d) atividades:
investigativas, relatórios das fases de desenvolvimento das tarefas realizadas em
sala de aula, fotografias, trabalhos de casa, recortes de jornais, revistas, materiais
produzidos pelos alunos; e) notas de reflexão: questionamento sobre as amostras de
trabalho de alunos, instigar atitudes de reflexão e autonomia, sugerindo práticas de
revisão e aprofundamento, que auxiliem no processo ensino aprendizagem; f) fichas
de auto-avaliação: poderá ser utilizada uma ficha para analisar e avaliar o portfólio,
durante todas as etapas de construção.
O trabalho na prática escolar no início foi tudo muito bom, os alunos estavam
interessados, curiosos, e comprometidos para a elaboração do portfólio que estavam
elaborando sobre sua vida, mas enfrentei problemas também com alunos que não
levavam seus documentos ou tarefas designadas para a realização da tarefa do dia
em sala. Algumas atividades dependiam de custo por terem que levar xérox e
algumas crianças ficavam sem poder realizar a tarefa do dia na sala, tendo que
realizar em casa e em outros momentos acumulando sua tarefa estabelecida para o
dia.
O arremate do trabalho se deu pela via da integração da comunidade com a
escola. Esta prática se deu por meio da aplicabilidade das atividades no cotidiano
escolar, onde os pais ficaram cientes por meio de uma reunião pedagógica
13
organizada no início de fevereiro, explicando sobre o projeto de Intervenção
Pedagógica na Escola e o seu período de implementação, de como este iria ocorrer
no período estabelecido para a aplicação e a sua função.
A comunidade escolar e a família estiveram cientes que o desempenho da
avaliação através do portfólio era individual, particular e específico de cada aluno, a
qual difere da avaliação tradicional e ou de uma avaliação escrita onde a
aprendizagem do aluno é verificado pelas notas obtidas nas avaliações aplicadas.
Após estarem cientes sobre o meu projeto de PDE, expliquei que o êxito do
meu trabalho dependeria em muito da colaboração e compreensão dos pais, pois o
trabalho a ser desenvolvido que escolhi foi a elaboração do portfólio história de vida
de cada aluno, o qual dependeria de muitos documentos, fotos, coleta de materiais e
que muitas das vezes necessitariam da ajuda deles, com as coletas e envio na
organização de documentos e/ou materiais; que deveriam ajudar os seus filhos a se
organizarem e levarem para cada dia de trabalho estabelecido em uma agenda que
tinham no final do seu caderno de escolar.
A finalização do projeto realizou-se no colégio com o evento intitulado “Um
Dia de História”, onde os alunos envolvidos no projeto apresentaram teatros e um
samba criado em homenagem ao colégio chamado “Lá vou eu”, com os textos e
músicas trabalhos em sala de aula, os quais foram transformados em teatro.
Foram trabalhadas a canção do Grupo Palavra Cantada “Eu”, que retratou a
origem da vida do personagem e de sua família; a canção “O Menino e a Rosa”, que
retrata a história de vida de um menino, que foi criado por outra família pelo
abandono de seus pais; o “Estatuto da Criança e do Adolescente” com os
personagens da Turma da Mônica mostrando Direitos e Deveres; o famoso clássico
conhecido como João e Maria, registrado e publicado por Jacob e Wilhelm Grimm no
início do século XIX, o qual retrata a história de duas crianças que viveram em
situação de miséria e abandono em uma floresta, com o intuito de mostrar aos
alunos que a história de vida deles não difere das crianças com as quais convivemos
em nossa sociedade.
No evento, compartilhando comigo estavam as escolas municipais: São José,
Profª Janina de Lima Cavalheiro, São Sebastião, Natal Panichi, a A.P.A.E. - Frei
Leonardo com a fanfarra, as escolas estaduais Distrital de Joá e Assad Kalil Richa, a
escola particular Sementinha do Saber, e a A.P.A.E de Jacarezinho que abrilhantou
com o drama “ O homem transforma”.
14
Todas essas escolas deram amplitude maior ao evento “Um Dia de História”,
apresentando danças que enfocaram o gosto e o prazer através da música que
fazem a diferença enquanto sujeitos históricos que são.
2.1 Grupo de Trabalho em Rede (GTR)
Uma grande contribuição para a realização do projeto foi a execução do
Grupo de Trabalho em Rede. Em primeiro momento, os cursistas tiveram que
realizar leituras para conhecimento do projeto. Após conhecê-lo, fomos interagindo
para um reconhecimento pessoal e identificando sua origem profissional, formação
acadêmica e os motivos da escolha daquele grupo de trabalho. As leituras pelos
professores foram o fio condutor que me ajudaram a ampliar as possibilidades de
trabalho. Por ser um tema que faz parte da vida de cada aluno, o tema do projeto
“História Social da Criança” teve como objetivo conscientizar esta prática na escola,
sob uma perspectiva, reflexiva, instigante, proporcionando aos alunos do 6º Ano
uma aplicabilidade sistematizada, que dá subsídios, com relevância, para a sua
chegada na série inicial da segunda fase do Ensino Fundamental. Esta situação
requer um olhar especial na nova escola, onde ela seja um ambiente acolhedor,
onde o desejo de crescer e conquistar a nova identidade sejam um período marcado
por segurança, respeito, afetividade e construção de conhecimentos.
Ao optar pelo trabalho de investigação histórica em sala de aula com o uso de
fonte histórica “Registro de Nascimento”, certamente houve contribuição para
aumentar a criticidade dos alunos e fazê-los sentirem-se sujeitos de sua própria
história, de gente que faz a história.
Posso dizer praticamente todos os professores cursistas que participaram do
meu GTR colocaram que as atividades apresentadas auxiliavam muito enriquecendo
as possibilidades em suas práticas de sala de aula. Ao compartilharem suas
experiências sugeriram algumas estratégias de ação que fizeram o grupo ter uma
coletânea de atividades ricas e construtivas para o fortalecimento de nossas práticas
em sala de aula.
Concluiu-se que a Escola Pública tem em sua trajetória de vida excelente
profissional, comprometidos e responsáveis com a profissão de educadores que
15
debruçam, ousam, acreditam e fazem a diferença na aprendizagem dos sujeitos que
estão sobre suas responsabilidades na escola.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao finalizar este projeto de estudo percebi que foi um trabalho com diversas
fases de elaboração e aplicação, iniciando com a elaboração do Projeto, Unidade
Didático-Pedagógica, Grupo de Trabalho em Rede (GTR) e Artigo, os quais
trouxeram para mim um conhecimento enriquecedor, ousado e desafiador. Isto me
proporcionou uma transformação intelectual, cultural, social e tecnológica em minha
caminhada de educadora, ciente de que é com estudos e formação que o professor
cresce, transforma e media para uma prática docente coerente, responsável e
comprometida com o seu papel de educador.
Ao aplicar a Unidade Didática em sala de aula, inicialmente foi um pouco
tenso, mas à medida que foram aplicadas as atividades propostas na elaboração do
portfólio, os alunos foram demonstrando interesse e criatividade ao oportunizá-los o
momento de registrar a história de sua vida, a sua identidade cultural enquanto
sujeito histórico. Foi através desse trabalho de elaboração do portfólio que os
registros produzidos em períodos de aprendizagens, mostraram a evolução histórica
que cada aluno adquiriu, procurando buscar de maneira ordenada a sua evolução
pessoal e educacional em cada atividade desenvolvida respeitando o ritmo de
aprendizagem de cada um, mas que trouxeram novas informações e autonomia.
No GTR compartilhei com quatorze cursistas e companheiros/as de trabalho,
os quais têm e viveram com os mesmos anseios, angústias, e vontade de ousar e
buscar novos caminhos que nos levem para a qualificação, aprofundamento e a
apreciação das perspectivas educacionais em sala de aula.
O grupo teve uma interação muito boa e dinâmica, desde o momento da
leitura para o conhecimento do projeto, até as trocas de experiências vivenciadas
por todos. O tema do projeto “História Social da Criança”, que fiz uso da fonte
“Registro de Nascimento”, obviamente contribuiu em muito para as fundamentações
e posicionamentos defendidos por cada um. Temos consciência que o maior legado
que a disciplina de História deixa aos nossos alunos é o conhecimento do meio onde
16
estão inseridos como cidadãos atuantes, e principalmente sujeitos que fazem a
história.
Posso concluir e reafirmar que o meu objetivo do Projeto de PDE foi atingido
e significa mais um degrau de minha vida como profissional da escola pública do
Estado do Paraná.
4 REFERÊNCIAS
ABUD, Kátia Maria. Registro e Representações do Cotidiano: A música popular na aula de História. Caderno Cede. Campinas: Unicamp, vol. 25, nº 67, set/dez. 2005. BENJAMIN, Walter. Um estrangeiro de nacionalidade, mas de origem alemã? In: Revista de educação especial: Biblioteca do profº Benjamin Pensa a educação. São Paulo: Seguimento, Março 2008. BOULOS, Junior Alfredo. História, Sociedade e Cidadania – Edição reformulada, 6º Ano. 2 ed. São Paulo: FTD, 2012. BRAICK, Patrícia Ramos. Estudar História: das origens do homem à era digital. São Paulo: Moderna. 2011. Cadernos Temáticos de História e Geografia: “Blumenau nas Escolas, Para Ver, Ler e Contar”. Disponível em: www.inf.furb.br/obed/historia_novo/index.hp. COTRIM, Gilberto. Saber e fazer. História Geral e do Brasil, 6º Ano. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2009. DEMO, P. Complexidade e Aprendizagem. A dinâmica não linear do conhecimento. Atlas. São Paulo, 2002. DIRETRIZES, Curriculares da Educação Básica. Secretaria de Estado da Educação do Paraná. História, 2008. FRANÇA, Terezinha Woiceikoski. Sequencia Didática 01: Gênero Textual “Registro de Nascimento” – 1º Ano. Caderno Pedagógico Assoeste. Guaraniaçu, 2006. JARDO, Domingos D. Agrupamento de escolas. Como fazer um portfólio? Disponível em: <htpp:/www.content.yudu.com/.../Comofazerumportfólio...-Estados Unidos>.Acesso em 18 de agosto de 2014. PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi. Por uma prazerosa e consequênte. In: Karnal, Leandro (org). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. 5ª ed. São Paulo: Contexto, 2009.
17
PROJETO ARARIBÁ. História/organizadora. Editora Moderna; Obra Coletiva, desenvolvida e produzida pela Editora Moderna. 3 ed. São Paulo: 2010. RAMOS, José Eduardo.Patrimônio,educação,cidadania e escola cultural.Coletânea. São Paulo, 2011. SCHMIDT, Maria Auxiliadora. A formação do professor de História e o cotidiano da sala de aula. In: BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. O saber histórico na sala de aula.11.ed.São Paulo: Contexto, 2009. VILLAS BOAS, Benigna M. de Freitas. Portfólio, avaliação e trabalho pedagógico. 7 ed. Campinas: Papirus, 2004.