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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA … (GRECO, 1998; KROGER e ROTH, 2002) consistem nos denominados “Jogos de Inteligência e Criatividade Tática (JICT)”. Os JICT apresentam-se como

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED

DIRETORIADEPOLÍTICASEPROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

JOGOS PARA DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA E CRIATIVIDADE

TÁTICA: UMA FORMA INCIDENTAL DE ENSINO

Alexandre Von Hoonholtz Danziato1 Schelyne Ribas da Silva2

RESUMO

O objetivo desde estudo foi identificar a influência de um programa interventivo, baseado nos Jogos Para o Desenvolvimento da Inteligência e Criatividade Tática (JICT), no conhecimento tático processual de escolares de onze a treze anos de idade. A amostra da pesquisa constituiu-se de vinte alunos, de ambos os sexos, regularmente matriculados no sexto ano do ensino fundamental do Colégio Estadual Bibiana Bitencourt em Guarapuava, no estado do Paraná. Como forma de avaliação, foi utilizado o Teste de Conhecimento Tático Processual – Orientação Esportiva (TCTP:OE) (GRECO et al., 2014). Após a análise dos resultados, observou-se que os JICT foram efetivos para o aprimoramento significativo do conhecimento tático processual dos escolares. Conclui-se que o desenvolvimento do conhecimento tático, independente do sexo, é passivo de ser realizado, não somente por meio do esporte formal, mas também na escola, com aproximadamente 28 sessões, utilizando-se como conteúdo apenas os Jogos Para o Desenvolvimento da Inteligência e Criatividade Tática (JICT). Esses dados suportam a idéia de que o conhecimento tático processual progride com a repetição na execução de atividades/ jogos com ações próximas as encontradas nos esportes.

Palavras-chave: Conhecimento tático processual; escolares; inteligência tática.

1 Professor PDE – Professor de Educação física – Colégio Estadual Bibiana Bitencourt-

Guarapuava – Pr - [email protected]

2 Orientadora Schelyne Ribas da Silva – Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO

[email protected].

INTRODUÇÃO

O ensino dos esportes, independente do local de ensino, deve-se apoiar

na concepção pedagógica que valoriza um processo de ensino aprendizagem

da iniciação esportiva, no qual é enfatizada a importância da ação de jogar, os

jogos e as brincadeiras de rua, o jogar para aprender e o aprender jogando.

Para Greco, Silva e Santos (2009) para o processo de ensino é

imprescindível organizar os parâmetros constitutivos dos esportes (tática,

técnica) em uma sequência caracterizada pela aprendizagem incidental (jogar

para aprender) à aprendizagem intencional (aprender jogando), que será

detalhada mais adiante.

O processo de ensino-aprendizagem começa com o jogo, jogar para

aprender. Esse contexto corresponde ao aprendizado incidental e intuitivo e o

jogador aprende a jogar jogando.

Neste sentido, o jogo é um dos meios mais propícios para a construção

do conhecimento dos indivíduos. Através de uma prática consciente, podemos

usá-lo como meio de aprendizagem e de descobertas. Aplicando variações

(mudanças de regras; criação de novas regras; alteração de número de

participantes; tipos de bolas; diferentes espaços e tamanhos; mini-jogos;

vantagem ou desvantagem numérica; dentre outros) ao jogo, geram-se novas

dificuldades, estimulando a novos desafios, que acabam levando estes

indivíduos a se tornarem mais consciente das atividades e do respeito que

devemos ter com o outro.

O sucesso da ação do jogador depende da capacidade de se adaptar

aos diversos contextos e momentos do jogo para a construção e obtenção do

ponto (ou do gol) e/ou para evitar que o adversário conquiste o mesmo

(GARGANTA, 2002). Para isto, é necessário tomar decisões que abranjam a

determinação da posição dos colegas e dos adversários, o reconhecimento da

trajetória da bola para se posicionar e dominá-la, o deslocamento para proteger

e preencher um espaço, tudo de acordo com as regras e com o comportamento

tático e técnico específico de cada uma das modalidades dos Jogos Esportivos

Coletivos (ARAÚJO, 2009).

Assim, a aprendizagem tática é mais um pilar que deve ser construído

por meio dos jogos a partir dos 8 anos de idade. Estes Jogos segundo alguns

autores (GRECO, 1998; KROGER e ROTH, 2002) consistem nos denominados

“Jogos de Inteligência e Criatividade Tática (JICT)”.

Os JICT apresentam-se como importantes conteúdos e ferramentas no

desenvolvimento das capacidades de jogo das crianças e dos adolescentes.

São revestidos de um caráter lúdico, que é um facilitador para a compreensão

da lógica técnico-tática dos jogos coletivos, pois os alunos “jogam para

aprender” e não “aprendem para jogar” (GRECO e SILVA, 2008).

A aprendizagem ocorre de maneira implícita, ou seja, o aprendiz adquire

habilidades motoras inconscientemente através da realização das atividades

sugeridas. Aprendem apenas como resultado da prática, o que gera maior

motivação no processo de aprendizagem por parte do aluno (GREGO e

BENDA, 1998).

Segundo Garganta (1995):

“As estratégias mais adequadas para ensinar os jogos desportivos coletivos, passam por interessar o praticante, recorrendo às formas jogadas motivantes, implicando-o em situações-problema que contenham as características fundamentais do jogo”.

A proposta para alcançar este objetivo, são jogos com regras adaptadas,

modificações que simplificam e diminuem o ritmo do jogo, com número

reduzido de jogadores, espaços menores e outras adaptações das regras

oficiais, que permitam a continuidade das ações, sem comprometer o sucesso

do jogo, respeitando as limitações e características de cada um (GRIFFIN,

1996; OSLIN, 1996; GRAÇA e OLIVEIRA, 1995).

Nesta perspectiva, o maior desafio é a compreensão de como essas

contribuições que estão apontadas na literatura podem ser traduzidas de forma

prática e concreta no dia-a-dia dos alunos durante as aulas de educação física.

Dentro do ambiente escolar, foi possível verificar que a abordagem

tradicional com ênfase na técnica, tem desmotivado os alunos para a prática

esportiva.

Estudantes estão terminando o ensino médio e até mesmo chegando ao

curso superior de educação física, apresentando enormes dificuldades em

relação à execução de fundamentos básicos dos esportes e a sua forma de

praticá-los, seja no lazer ou competições.

Segundo Digel (1993):

“As creches esportivas eram em geral, a rua, os parques, as praças, os pátios das escolas, as praias, os campos, as várzeas etc. Habilidades como quicar a bola, receber, lançar, chutar e passar, eram parte da motricidade geral e diária das crianças, elas estavam unidas, faziam parte do mundo e da nossa vida cotidiana” (p. 13).

É fácil constatar, que com o passar dos anos, as crianças estão

perdendo a cultura do jogo na rua por questões de comodismo, falta de

segurança, falta de espaços públicos, ausência de políticas públicas sérias de

incentivo à prática de esportes, novas tecnologias que ocupam cada vez maior

lugar na vida dos jovens etc.

Paes (1992) exalta o papel fundamental da escola para que a prática

esportiva volte a ser parte importante na vida dos alunos, quando afirma que:

“O aprendizado do esporte na escola deverá ocorrer privilegiando seu caráter lúdico, proporcionando aos alunos a oportunidade de conhecer, aprender, tomar gosto, manter o interesse pela ação esportiva, e ainda contribuir para a consolidação da Educação Física como disciplina” (p.75).

Infelizmente, a pedagogia do esporte chama-nos atenção para as

deficiências na Educação Física escolar do ensino fundamental e a forma como

o conteúdo “esportes” está sendo oferecido aos alunos até a sua formação no

ensino médio.

Ocorre com grande frequência na Educação Física escolar, uma prática

esportivizada, com ênfase na técnica e na repetição de gestos randômicos,

sem comprometimento com a evolução dos alunos. Seu conteúdo é, de modo

geral, fragmentado, sem planejamento, desorganizado e sem continuidade.

Essa forma de aplicação da disciplina promove uma grande desmotivação nos

alunos envolvidos no processo de aprendizagem esportiva.

Incarbone (1990) por sua vez, descreve:

“O professor deve ter muito em conta que não deve modelar o menino à semelhança de..., e sim deve dar uma grande bagagem de experiências motoras, contribuindo para o armazenamento de seu acervo motor, que lhe permita se desenvolver no futuro, com grandes variedades de habilidades motoras, que não só apontariam para um esporte, mas também para a vida diária”.

O ensino do esporte deve preparar o aluno para o desenvolvimento de

futuras habilidades que eventualmente ele necessite para executar funções

pessoais, profissionais e mesmo esportivas. No momento em que este

indivíduo precise seu organismo, através das atividades realizadas em sua vida

escolar, deve ser capaz de responder, produzindo essas habilidades.

Além da importância para os processos cognitivos, a aprendizagem

esportiva também é apresentada como de grande valor social. Suas práticas

proporcionam disciplina, companheirismo, objetivos específicos e em comum,

planejamento, estimula a capacidade de decisão etc. Esses pontos são

primordiais para o ser humano e suas relações interpessoais, para o

desenvolvimento de sua vida profissional e para que aprenda a viver em

sociedade.

Para que o esporte escolar atinja todos os objetivos supracitados, é

imperativo que esta disciplina seja aplicada de modo a despertar o interesse

dos alunos, motivando-os a sua prática. Não é conveniente que sejam exigidas

habilidades técnicas impossíveis de se produzir nos curtos espaços de tempo

das aulas de Educação Física, devido à necessidade da abordagem de

diversas modalidades nesses períodos, não sendo possível se deter a uma

delas, apenas. Cobranças técnicas excessivas desestimulam os praticantes, o

que gera o abandono da prática esportiva.

Uma alternativa para contornar essa situação são os JICT, que através

de jogos coletivos com alterações de regras, mas sem a exigência da perfeição

técnica, permite o aprendizado das habilidades de forma implícita. Há o

despertamento do interesse do aluno sem que este mesmo perceba, que de

forma inconsciente aprende a jogar, sem precisar de longas repetições prévias.

Baseado nessas argumentações, os JICT podem trazer inúmeros

benefícios, mantendo uma concepção positiva do esporte, que esses alunos

levarão para o resto de suas vidas.

OBJETIVO

Identificar a influência de um programa interventivo, baseado nos Jogos

Para o Desenvolvimento da Inteligência e Criatividade Tática (JICT), no

conhecimento tático processual de escolares de onze a treze anos de idade.

METODOLOGIA

Amostra

A amostra foi composta por aproximadamente 20 escolares, de ambos

os sexos, matriculados no sexto ano do ensino fundamental.

Instrumento de medida

A avaliação das capacidades táticas básicas foi realizada por meio do

teste de Avaliação do Conhecimento Processual: uma orientação esportiva

(GRECO et. al., 2014). Por tratar-se de um procedimento para orientação

esportiva o teste foi realizado na forma de jogo (com as mãos) de três contra

três, por meio da troca de passes entre os colegas de equipe durante quatro

minutos. A ordem foi definida por sorteio, da mesma maneira a equipe que

começou com a posse de bola. A área onde o teste foi aplicado teve 09 metros

de largura por 09 metros de profundidade. Em uma das extremidades da

quadra (a 1,5 metros da linha) fixou-se uma câmera para filmagem das ações

durante os 4 minutos do jogo. O objetivo foi manter a posse de bola por maior

tempo possível. O time sem posse de bola deveria tentar recuperá-la para

assim imediatamente passar para o ataque e pela sua vez manter a posse de

bola. O jogo foi realizado com as mãos e permitiu ao time na defesa procurar a

retomada da bola semelhantemente às regras do basquetebol e do handebol.

Durante todo o teste os participantes utilizaram coletes numerados para facilitar

a identificação e a análise. A análise do comportamento tático, por meio do

TCTP-OE, foi realizada a partir da situação do jogador no ataque sem bola

(JSB), jogador no ataque com bola (JCB), jogador na defesa marcando ao

jogador sem bola (MJSB) e jogador na defesa marcando ao jogador com bola

(MJCB). Todas as ações dos participantes foram filmadas com uma câmera

SONY® Handycam DCR-SR 68 e arquivadas para posterior análise dos

critérios de observação (itens), apontados no quadro abaixo:

TESTE DE CONHECIMENTO TÁTICO PROCESSUAL - ORIENTAÇÃO ESPORTIVA (TCTP:OE)

1. AÇÕES TÉCNICO-TÁTICAS NO ATAQUE: JOGADOR SEM BOLA (JSB)

1.1. *Movimenta-se procurando receber a bola

2. AÇÕES TÉCNICO-TÁTICAS NO ATAQUE: JOGADOR COM BOLA (JCB)

2.4. *Passa ao colega sem marcação e posiciona-se para receber

3. AÇÕES TÉCNICO-TÁTICAS NA DEFESA: MARCAÇÃO AO JOGADOR SEM BOLA (MJSB)

3.3. *Apóia aos colegas na defesa (cobertura) quando são superados pelo

adversário

3.4. *Apóia ao colega na defesa quando o jogador com bola tem dificuldade para

dominá-la

4 AÇÕES TÉCNICO-TÁTICAS NA DEFESA: MARCAÇÃO AO JOGADOR COM BOLA (MJCB)

4.2. Pressiona ao adversário e acompanha seus deslocamentos

4.4. *Pressiona ao adversário levando-o para os cantos do campo de jogo

Negrito: Itens validados no teste (TCTP:OE) realizado com a mão; Quadro 1: Critérios de observação avaliados no TCTP – OE nos procedimento “ B” com a mão e com o pé.

Procedimento da coleta/caracterização

A intervenção foi executada no Colégio Estadual Bibiana Bitencourt no

ano de 2015. O Colégio está localizado no bairro do Jordão. Seus alunos são

previamente encaminhados de escolas municipais da região para cursar o

sexto ano, apresentando como característica estudantes de variados níveis

sócio-culturais. Há, inclusive, alunos provenientes da zona rural, sem nenhum

tipo de acesso à escolinhas de iniciação esportiva, cujo único contato com uma

quadra poliesportiva ocorreu nas aulas de educação física do colégio.

O processo de intervenção teve a duração de trinta e duas sessões,

divididas em 4 aulas de avaliação (pré e pós testes) e 28 aulas interventivas

utilizando os JICT como conteúdo a ser desenvolvido. A duração de cada aula

foi de 50 minutos.

RESULTADOS

TABELA 1: Mediana intervalo interquartílico e comparação entre o pré e pós teste dos itens avaliados.

PRÉ TESTE PÓS TESTE

Mediana (I IQ - III IQ) Mediana (I IQ - III IQ) p

1.1- Movimenta-se procurando receber a bola (JSB)

5 (5 - 8) 11 (10 - 15) 0.000*

2.4- Passa ao colega sem marcação e posiciona-se para receber (JCB)

2

(1

- 3)

6

(3

- 9)

0.000*

3.3- Apóia aos colegas na defesa (cobertura) quando são superados pelo adversário (MJSB)

1

(0

- 2)

2

(2

- 5)

0.000*

3.4- Apóia ao colega na defesa quando o jogador com bola tem dificuldade para dominá-la (MJSB)

0

(0

- 1)

1

(1

- 1)

0.000*

4.2 Pressiona ao adversário e acompanha seus deslocamentos (MJCB)

0

(0

- 1)

5

(1

- 7)

0.000*

4.4- Pressiona ao adversário levando-o para os cantos do campo de jogo (MJCB)

0

(0

- 1)

4

(1

- 6)

0.000*

ESCORE TOTAL 10 (7 - 12) 25 (22 - 31) 0.000*

JSB= Jogador sem Bola; JCB= Jogador com Bola; MJSB= Marcação do jogador sem bola; MJCB= Marcação do jogador com bola ( p 0.05).

Os resultados apresentados na tabela 1 apontaram que o período

interventivo, utilizando-se de jogos para desenvolvimento da inteligência e

criatividade tática, foi efetivo para o aumento dos escores de medida central e

dos intervalos interquartílicos quando avaliado o conhecimento tático

processual de escolares de 11 a 13 anos de idade.

Evidenciou-se ainda que os itens representantes das subescalas de

movimentação do jogador - 1.1 Jogador Sem Bola (JSB, 1.1) e Jogador Com

Bola (JCB, 1.2), respectivamente, - apresentaram medianas superiores tanto

no pré quanto no pós teste quando confrontadas as medianas dos demais itens

do teste utilizado.

Verificaram-se medianas inferiores para os itens referentes à marcação

dos jogadores com e sem bola quando confrontadas as medianas dos itens

supracitados, isso nos leva a crer que os escolares, ainda, não aprimoraram a

realização da marcação ao adversário (independente se o jogador esta ou não

com a bola) igualmente ao nível que eles desempenham sua movimentação

durante o jogo de invasão. Nesta perspectiva acredita-se que a partir da prática

e da melhora das habilidades técnicas os praticantes desenvolvem as noções

de tática básica e sofrem menos às pressões que os marcadores exercem

sobre eles durante os jogos.

Somente a titulo de curiosidade, pois este não foi o objetivo deste

estudo, em todos os itens os meninos apresentaram maiores escores de

mediana quando comparado às meninas.

DISCUSSÃO

As ações técnico-táticas no ataque (1.1 e 2.4 – tabela 1) indicam que

apesar de não apresentarem conhecimento técnico prévio, os escolares já

demonstravam implicitamente certo grau de movimentação e motivação para

jogar no ataque. O resultado adquirido nesses dois itens confirma efetividade

dos JICT na melhoria do conhecimento tático-processual, pois as crianças

passaram a movimentar-se de maneira mais inteligente em relação a oferecer-

se, a procurar a melhor alternativa de passe, e posicionando-se a fim de

receber a bola na sequência. Constatou-se que a técnica de execução dos

passes, recepção de bola e drible (condução de bola) foi implementada,

mesmo que esse não tenha sido o objetivo principal do estudo, e esse assunto

não tenha sido abordado em momento algum nas sessões práticas e nos

feedbacks ao final das aulas.

Em relação às ações técnico-táticas na defesa: marcação de jogador

sem bola, tanto quanto ao item 3.3 quanto 3.4, não foi observado aumento

significativo da mediana. Esta constatação deu-se provavelmente em função de

ocorrerem pouquíssimas situações de drible (na maioria das vezes, os

escolares tentaram passar a bola e não superar o adversário através do drible),

e não apresentarem iniciativa que os levasse a perceber a dificuldade de

domínio da bola por parte do adversário, a ponto de reagir apoiando seu

companheiro no resgate da posse de bola.

No que diz respeito às ações técnico-táticas na defesa: marcação ao

jogador com bola (MJCB), o resultado observado em ambos os itens (4.2 e 4.4)

demonstrou melhora significava no conhecimento tático-processual, partindo do

pressuposto que não havia nenhum conhecimento intrínseco prévio por parte

dos escolares, o que leva a crer que a aplicação do JICT apresentou grande

efetividade.

Muitos pesquisadores, a partir de resultados satisfatórios obtidos em

seus estudos, têm comprovado a importância da abordagem cognitiva, como o

conhecimento tático declarativo e processual, e suas contribuições para o

desempenho tático (GARGANTA et al., 1997; MOREIRA, 2004; GIMENEZ,

2005).

A cognição envolve a percepção, atenção, antecipação, tomada de

decisão, entre outros. Para adquirir e desenvolver o conhecimento técnico-

tático, declarativo e processual, esses processos psicológicos são essenciais

(GREGO, 1999). Segundo Eysenck & Keane (1994), o conhecimento técnico-

tático declarativo refere-se a conhecer “o que”, enquanto que o conhecimento

processual, conhecer “como”. Anderson (1982) e Fitt (1964) explicam que o

conhecimento declarativo é o primeiro estágio, é a interpretação dos fatos

essenciais que levam à aquisição de habilidades. Já o segundo estágio, é o

conhecimento processual, que é a prática do conhecimento previamente

adquirido na execução destas habilidades.

A tática é constituída de planos de ação que leva a tomadas de decisão

que possibilitam, que através de ações motoras desencadeadas para uma

finalidade específica, atinjam a meta planejada (GREGO; BENDA, 1998).

No que se refere a Jogos Esportivos Coletivos (JEC), as ações

realizadas durante as situações adversas do jogo, tem uma finalidade tática

(MORENO; RIBAS, 2004). São os pressupostos cognitivos que fazem com que

através das ações táticas, sejam apresentadas soluções às tarefas e

problemas encontrados no momento do jogo (GARGANTA, 2004).

Nesta perspectiva, o presente trabalho apresentou concordância com as

definições supracitadas, o que demonstrou a relevância dos JICT e sua

abordagem cognitiva com ênfase na tática na implementação do conhecimento

tático-processual nos escolares submetidos ao teste.

CONCLUSÃO

Após a análise dos resultados, observou-se que os JICT foram efetivos

para o aprimoramento significativo do conhecimento tático processual dos

escolares. Conclui-se que o desenvolvimento do conhecimento tático,

independente do sexo, é passivo de ser realizado, não somente por meio do

esporte formal, mas também na escola, com aproximadamente 28 sessões,

utilizando-se como conteúdo apenas os Jogos Para o Desenvolvimento da

Inteligência e Criatividade Tática (JICT). Esses dados suportam a idéia de que

o conhecimento tático processual progride com a repetição na execução de

atividades/ jogos com ações próximas as encontradas nos esportes.

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