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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

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A AULA DE CAMPO E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO ESTUDO DOS SOLOS EM GEOGRAFIA

Antonio Mateus Bergamasco1

Isonel Sandino Meneguzzo2

Resumo. O ensino da Geografia dentro do contexto escolar apresenta, atualmente, uma série de dificuldades, principalmente o desinteresse dos alunos pelos estudos geográficos. Diante dessa constatação, torna-se imprescindível para o professor buscar métodos e técnicas que ajudem a despertar o interesse dos alunos pela disciplina. Dentre os encaminhamentos metodológicos e os recursos didáticos que podem ser utilizados, a aula de campo pode ser considerada um encaminhamento bastante pertinente dentro do estudo da Geografia, em especial, para o estudo dos solos. Considerando isso, o presente artigo tem como objetivo apresentar e discutir os resultados obtidos através da implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola que teve como foco principal a utilização da aula de campo como recurso no estudo dos solos em geografia, atividade essa que faz parte do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). O Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola propôs no seu desenvolvimento atividades teóricas e de campo com os(as) alunos(as) das 2ª séries do Ensino Médio, do Colégio Estadual do Campo Teófila Nassar Jangada, com a finalidade de estimular os alunos no processo de ensino e aprendizagem da Geografia escolar, utilizando-se do tema "processos de erosão hídrica". Ao se utilizar desse recurso pretendeu-se proporcionar um maior interesse e aprendizado dos alunos, bem como verificar os diversos tipos de processos erosivos hídricos existentes na região. Palavras-chave: Ensino de Geografia. Aula de Campo. Estudo dos Solos.

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo finalizar a última fase para conclusão do

Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, instituído pela Secretaria

Estadual de Educação do Paraná, como modo do professor efetivo ascender a

promoção ao nível III, conforme considera o Plano de Carreira dos Professores da

rede pública de ensino do Estado do Paraná.

O tema de estudo escolhido foi a utilização da aula de campo como recurso

para o estudo dos solos em geografia. Essa escolha se justifica pois, o ensino da

geografia no contexto escolar tem encontrado uma série de dificuldades,

principalmente o desinteresse pela disciplina por parte dos alunos resultando em

uma aprendizagem deficitária. Esta constatação exige do professor uma ininterrupta

busca por diferentes técnicas e métodos no ensino da geografia, com o intuito de

despertar nos alunos o interesse pelos estudos geográficos e a construção de uma

consciência crítica mediante os desafios que o mundo atual nos traz em suas

1 Professor da Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná. E-mail de contato:

[email protected] 2 Professor orientador, Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). E-mail de contato:

[email protected].

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diferentes facetas.

Diante dessa realidade e das diversas temáticas que são desenvolvidas

dentro dos estudos da geografia, diversos encaminhamentos metodológicos e

recursos didáticos podem ser utilizados na construção do conhecimento geográfico

escolar, dentre eles a aula de campo. Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais

de Geografia (2008, p. 80-81):

A aula de campo é um rico encaminhamento metodológico para analisar a área em estudo (urbano ou rural), de modo que o aluno poderá diferenciar, por exemplo, paisagem de espaço geográfico. Parte-se de uma realidade local, bem delimitada para investigar sua constituição histórica e as comparações com outros lugares, próximos ou distantes. Assim, a aula de campo jamais será apenas passeio, porque terá importante papel pedagógico no ensino de geografia.

Portanto, devido à sua importância, a atividade de campo deve, sempre que

possível, ser utilizada para o desenvolvimento dos estudos geográficos,

aproximando os alunos das diferentes realidades vividas nas mais diversas escalas

e levando-os à melhor compreensão das relações socioespaciais que resultam na

produção do espaço geográfico. A aula de campo neste contexto, como diz Bernard

Kaiser (2006, p.97) é “um meio e não um objetivo em si mesma”, portanto, é um

caminho para se chegar aos resultados esperados.

O Colégio Estadual Teófila, local de implementação do Projeto de Intervenção

Pedagógica, está localizado no distrito de José Lacerda, na área rural do município

de Reserva, estado do Paraná. Trata-se então de uma instituição de ensino onde a

maioria das famílias dos alunos tem nas atividades agropecuárias sua principal fonte

de renda e, dessa forma, possui uma dependência direta do solo para seu sustento.

As práticas agrícolas empregadas na utilização dos solos, em sua maioria,

não respeitam as características e os limites que eles possuem e são degradantes

trazendo como consequência processos erosivos, poluição ambiental,

empobrecimento do solo e consequentemente perdas econômicas à população

local. Isso acontece muitas vezes por desconhecimento das características dos

solos da região e de como desenvolver corretamente as práticas agrícolas.

Neste contexto o estudo do solo por meio da aula de campo torna-se

pertinente, pois faz parte da realidade local facilitando a prática de campo,

contribuindo para a aprendizagem e transformação da realidade.

Diante desse contexto, ressalta-se que a metodologia empregada foi a da

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pesquisa-ação que, de acordo com Engel (2000, p. 182) pode ser definida como

sendo:

[...] um tipo de pesquisa engajada, em oposição à pesquisa tradicional, que é considerada como ‘independente’, ‘não-reativa’ e ‘objetiva’. Como o próprio nome já diz, a pesquisa-ação procura unir a pesquisa à ação ou prática, isto é, desenvolver o conhecimento e a compreensão como parte da prática. É, portanto, uma maneira de se fazer pesquisa em situações em que também se é uma pessoa da prática e se deseja melhorar a compreensão desta.

Nesse sentido, a pesquisa-ação dentro do contexto escolar se apresenta

como uma metodologia de pesquisa capaz de auxiliar a ação e reflexão no processo

ensino-aprendizagem com vistas a uma transformação da prática pedagógica.

De acordo com Engel (2000, p. 189) a pesquisa-ação representa:

[...] um instrumento valioso, ao qual os professores podem recorrer com o intuito de melhorarem o processo de ensino-aprendizagem, pelo menos no ambiente em que atuam. O benefício da pesquisa-ação está no fornecimento de subsídios para o ensino: ela apresenta ao professor subsídios razoáveis para a tomada de decisões, embora, muitas vezes, de caráter provisório.

Dessa forma, pode-se notar que a pesquisa-ação constitui uma metodologia

com boa aplicabilidade a ser empregada no desenvolvimento do Projeto de

Intervenção Pedagógica na Escola por subsidiar as práticas docentes.

O Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola teve como objetivo principal

promover atividades teóricas e de campo com os(as) alunos(as) das 2ª séries do

Ensino Médio do Colégio Estadual Teófila Nassar Jangada com a finalidade de

estimulá-los no processo ensino- aprendizagem da Geografia escolar, utilizando-se

do tema "processos de erosão hídrica".

A AULA DE CAMPO COMO RECURSO NO ENSINO DA GEOGRAFIA

O ensino da geografia escolar, nos dias atuais, tem encontrado muitos

desafios, sejam eles a falta de interesse dos alunos, o uso de métodos e técnicas

ineficientes ou o despreparo dos professores que resulta em uma aprendizagem

insatisfatória dos alunos. Sendo assim, a aula de campo pode ser uma opção para

romper com o desinteresse dos alunos e transpor o espaço da sala de aula para

além dos muros da escola. Como afirma Alentejano e Rocha-Leão (2006, p.53):

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“Desde os primórdios da Geografia os trabalhos de campo são parte fundamental do

método de trabalho dos geógrafos.” Acerca deste mesmo tema Suertegaray (2002

apud Suertegaray, 2002, p. 64), escreve que:

Este procedimento, como sabemos, não é exclusivo da pesquisa em Geografia, dele se apossam as mais diferentes áreas do conhecimento, sejam classificadas como exatas, da terra ou social. No entanto, consideramos necessário resgatar a discussão sob a óptica da produção do conhecimento, esta sem dúvida já iniciada. Desnecessário seria falar da fundamental importância do trabalho de campo na pesquisa geográfica.

A pesquisa de campo, portanto, não é exclusividade da geografia, porém de

fundamental importância para ela e para a construção do saber geográfico em

âmbito acadêmico e escolar. Em sua trajetória geográfica a pesquisa de campo

passou por transformações. Sobre elas Alentejano e Rocha-Leão (2006, p. 53) nos

dizem que

nos primórdios, o trabalho de campo que era parte fundamental do método, aos poucos vai se transformando no próprio método, isto é, de parte do método, torna-se o método, fruto do predomínio de uma concepção empirista que despreza a teoria e atribui à descrição da realidade a condição de critério de verdade.

Percebe-se o desprezo pela teoria e a supervalorização do trabalho de campo

como método autossuficiente dentro de uma concepção empírica na construção do

conhecimento geográfico. Ainda Alentejano e Rocha-Leão (2006, p. 54)

complementam escrevendo que tais concepções revelam uma “separação entre uma

Geografia dos homens e uma geografia da natureza, como se fossem realidades

absolutamente distintas”, ou seja, a dicotomia entre a geografia humana e a

geografia física.

Essa forma de pensar a geografia não é a concepção norteadora deste

trabalho como se verificará mais adiante. Embora tenha produzido amplo

conhecimento de fundamental importância para a geografia, a partir dos anos de

1970 todo esse conhecimento perde sua relevância e o trabalho de campo torna-se

sem importância como descreve Alentejano e Rocha-Leão (2006, p. 55)

os trabalhos de campo passaram a ser execrados e praticamente riscados do mapa das práticas dos geógrafos sob o argumento de que as tecnologias da informação e os modelos matemáticos seriam instrumentos mais adequados para a investigação da realidade.

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E continua:

Também no movimento inicial da Geografia crítica, a radicalização crítica ao empirismo dominante na Geografia tradicional levou a uma negação da validade do trabalho de campo como instrumento de construção do pensamento geográfico, em função da ênfase conferida à teoria.

Neste contexto, há uma supervalorização das contribuições teóricas de

fundamentação marxista em detrimento das produções empíricas. Verifica-se uma

grande dificuldade de relacionamento entre a teoria e a prática ligada com a

dicotomia da geografia física e humana.

Para Alentejano e Rocha-Leão (2006, p. 56) “o trabalho de campo não deve

se reduzir ao mundo do empírico, mas ser um momento de articulação teoria-

prática”. Neste sentido, o trabalho de campo torna-se parte do processo de

construção do conhecimento unindo a teoria com a prática sendo “meios de trabalho

e não fim” como escreve Suertegaray (2002, p. 67). É dessa forma que este trabalho

concebe a prática de campo, um recurso capaz de unir a teoria com a prática e

integrar a geografia física com a geografia humana como sendo uma única

geografia.

A aula de campo na geografia escolar pode auxiliar o aluno a compreender

melhor a realidade que o cerca e relacioná-la com outras escalas espaciais ou

temporais. Para Carmelengo e Torres (2004, p. 218), “estudar o meio é fazer com

que o aluno veja e compreenda a realidade, ou seja, é a análise da maneira pela

qual o homem vive e interage no espaço”. Assim, considera-se a aula de campo

como uma forma de análise e interpretação da produção do espaço geográfico

resultante da interação homem-natureza. Espaço este construído e permeado pelos

diversos interesses daqueles que detém o poder.

O estudo dos solos constitui oportunidade para por em prática a aula de

campo em geografia, uma vez que enriquecida pela teoria crítica ela pode contribuir

para uma melhor análise e interpretação da relação sociedade capitalista e uso dos

solos no meio rural e suas consequências.

Existem vários conceitos para se definir o solo de acordo com os interesses

de cada ciência ligados às suas propriedades físicas, químicas e biológicas. Como

afirma Vesentini (1997, p. 285), o termo solo costuma ser usado em duas acepções

distintas:

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Em seu significado mais amplo e mais popular, designa o chão onde pisamos. É nesse sentido que falamos em ‘uso do solo urbano’ (para construir edifícios ou avenidas) ou em ‘solo lunar’, por exemplo. Em sentido mais estrito, ligado à agricultura ou à sua importância para a vegetação em geral, o solo refere-se à camada superficial de terra arável, possuidora de vida microbiana. Nessa acepção, o solo é um complexo vivo, formado pela decomposição das rochas por processos físicos, químicos e biológicos, onde existem água, ar, matéria orgânica (vegetais e microorganismos) e minerais.

Este trabalho está voltado à segunda acepção, o solo ligado à agricultura e a

vegetação, que possui e produz vida. Já em 1959, o estudioso norte-americano

Peter Farb (1959) defendia que não existe solo sem vida, os dois são inseparáveis.

Para Bertoni e Lombardi Neto (1990, p. 28),

o solo é um recurso básico que suporta toda a cobertura vegetal de terra, sem a qual os seres vivos não poderiam existir. Nessa cobertura, incluem-se não só as culturas como, também, todos os tipos de árvores, gramíneas, raízes e herbáceas que podem ser utilizadas pelo homem.

Durante muito tempo o ser humano se relacionou de modo sustentável com o

solo coletando seus frutos ou mesmo praticando uma agricultura que não oferecia

grandes riscos à função ecológica do solo. Mas com o advento da industrialização e

a expansão capitalista, gerando a urbanização, a exploração dos solos tomou

dimensões bem maiores. O solo passou a ser um conjunto de oportunidades para

um grupo de pessoas obterem lucro extraindo dele o máximo de produção,

esquecendo–se de sua importância para a manutenção da vida na Terra.

O município de Reserva encontra-se localizado no Segundo Planalto

paranaense, na região dos Campos Gerais. De acordo com resultados do Censo

2010, realizado pelo IBGE (2012, p.12), Reserva possui uma população total de

25.177 sendo que 12.211 residem na área urbana e 12.966 vivem no meio rural fato

que caracteriza a importância ainda maior da conservação dos solos para a

manutenção das famílias no meio rural, diminuindo o êxodo rural, e evitando a

crescente concentração fundiária.

Segundo dados apresentados por Hupalo (2005), os tipos de solos

predominantes no município de Reserva são os litólicos e os cambissolos, a altitude

média é de 760 metros e a maior parte do território apresenta relevo fortemente

ondulado, montanhoso e escarpado. Essas declividades necessitariam de cuidados

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especiais na prevenção de formação da erosão e em muitos locais a preservação da

vegetação nativa. Mas menos de 8% da área do município é coberta com matas

nativas e estima-se que pelo menos 40% das áreas de matas ciliares necessitam de

intervenção para a sua recuperação. E 75% das lavouras temporárias (maior

ocupação das terras) apresentam manejo inadequado. Esses fatores naturais

aliados à exploração capitalista e desordenada dos solos vem provocando sérios

problemas erosivos aos solos da região.

O Brasil é considerado um país privilegiado por suas terras agricultáveis. No

entanto, esse patrimônio tem sido ameaçado consideravelmente pela agricultura de

exploração, ou seja, uma agricultura que não preza pelo cuidado com o solo por

considerar que pode explorar novas terras assim que determinado solo estiver

exaurido. De acordo com Bertoni e Lombardi Neto (1990, p. 21):

[...] um dos fatores de desgaste que mais seriamente têm contribuído para a improdutividade do solo é, sem dúvida, a erosão hídrica, facilitada e acelerada pelo homem com suas práticas inadequadas de agricultura. Práticas agrícolas comprovadamente nefastas, ainda adotadas pelos agricultores, como o plantio continuado e mal distribuído de culturas esgotantes e pouco protetoras do solo, o plantio em linhas dirigidas a favor das águas, a queimada drástica dos restos culturais e o pastoreio excessivo, estão acelerando gravemente o depauperamento das melhores terras do país.

Percebe-se desse modo que, no processo de erosão do solo, o fator

preponderante para seu agravamento é o uso intensificado do mesmo pelo homem

que leva a exposição do solo às forças erosivas. Segundo Costa (2003) a erosão é a

ação de desgaste do solo pelo transporte dos seus constituintes realizado por

agentes geológicos como o vento (erosão eólica) e a água (erosão hídrica). A erosão

hídrica ocorre através do impacto direto das gotas de chuva sobre o solo e ao

escoamento que a chuva causa. De acordo com Lal (1988, apud Dyonisio, 2010, p.

16):

a capacidade da chuva de causar erosão do solo é atribuída à proporção e distribuição dos pingos d’água, segundo a carga de sua energia. Assim, a erosividade de uma chuva é atribuída à sua energia cinética ou momentum, parâmetros facilmente relacionados às suas intensidade e quantidade total. O momentum pode ser definido como um produto da massa pela velocidade. Trata-se de uma medida da pressão exercida pela chuva sobre o solo (pressão ou força por unidade de área), a qual tem a natureza de um estresse mecânico que causa a desestruturação dos agregados do solo.

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A agressão causada pela erosão hídrica sobre o solo é significativo e por isso,

muito difícil de recompor, pois, conforme explica Bertoni e Lombardi Neto (1990, p.

25):

[...] o solo perdido pela erosão hídrica é geralmente mais fértil, contendo os nutrientes das plantas, húmus e algum fertilizante que o lavrador tenha aplicado. Milhões de toneladas de solo superficial fértil podem ser perdidos para sempre se ele é arrastado para o mar. Terrenos com erosão severa tornam-se difíceis de trabalhar, e os sulcos que se formam impedem o seu manejo, porém, o que de mais grave resulta, são as grotas que crescem continuamente, inutilizando os mesmos, chegando a serem abandonados.

A erosão hídrica, decorrente das gotas de chuva pode ocorrer no solo como

erosão laminar, erosão em sulcos e erosão em voçorocas. Sendo que essas três

formas de erosão podem acontecer simultaneamente no mesmo terreno e

dependem da progressiva concentração de enxurrada na superfície do solo.

Bertoni e Lombardi Neto (1990, p. 75) consideram a erosão laminar como

sendo “a lavagem da superfície do solo nos terrenos arados”, segundo os autores

essa forma de erosão é muito pouco perceptível e por essa razão a mais perigosa,

pois ela

arrasta primeiro as partículas mais leves do solo, e considerando que a parte mais ativa do solo de maior valor, é a integrada pelas menores partículas, pode-se julgar os seus efeitos sobre a fertilidade do solo.

A erosão em sulcos seria “a concentração de água escorrendo em pequenos

sulcos nos campos cultivados” e é resultante “de pequenas irregularidades na

declividade do terreno que faz que a enxurrada, concentrando-se em alguns pontos

do terreno, atinja volume e velocidade suficientes para formar riscos mais ou menos

profundos.” Bertoni e Lombardi Neto (1990, p. 76) Essa forma de erosão é mais

notável e é causada por chuvas de grande intensidade em terrenos de elevada

declividade e em grandes lançantes.

Por fim, a erosão em voçorocas seria um agravamento da erosão em sulcos,

isto é, “quando os sulcos foram bastante erodidos em largura e profundidade.”

Bertoni e Lombardi Neto (1990, p. 77) Ou seja, “é a forma espetacular da erosão,

ocasionada por grandes concentrações de enxurrada que passam, ano após ano, no

mesmo sulco, que se vai ampliando, pelo deslocamento de grandes massas de solo,

e formando grandes cavidades em extensão e em profundidade”. Bertoni e Lombardi

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Neto (1990, p. 77)

Ainda Bertoni e Lombardi Neto (1990, p. 83) classificam o fenômeno da

erosão hídrica a vulnerabilidade do solo ou a sua susceptibilidade à erosão, que é

recíproca à sua resistência à erosão. Dessa forma, pode-se afirmar que diferentes

tipos de solos podem apresentar susceptibilidade diferenciada à erosão, mesmo

para condições semelhantes de declividade, cobertura vegetal e práticas de manejo.

Essas diferenças são devidas às suas propriedades e são denominadas

erodibilidade do solo (BERTONI; LOMBARDI NETO, 1990, p. 82-83).

São muitas as agressões sofridas pelo solo que provocam a sua degradação.

No município de Reserva, é fácil perceber o uso de técnicas inadequadas de cultivo

e o manejo incorreto do solo, tais como: o uso excessivo do fogo, o constante

desmatamento dos remanescentes de matas nativas inclusive as matas ciliares, a

falta de medidas de prevenção contra a erosão, o uso intenso do solo e o uso

exagerado de agrotóxicos, principalmente no cultivo do tomate. Todas essas atitudes

provocam o desgaste, a erosão e a contaminação do solo no município de Reserva.

É fácil também perceber a ocorrência de erosão em sulcos e a perda da camada

humífera através da erosão laminar.

Pode-se considerar de grande relevância o estudo dos solos, em especial, os

processos erosivos neste município, através das aulas de campo como reafirma

Guerra, et al. (1999, p. 39), “os estudos realizados em campo são de importância

fundamental no entendimento da formação e desenvolvimento das ravinas” e das

outras formas de erosão hídrica.

O solo pode ser considerado um conjunto de agentes químicos e não

químicos que encontra o seu equilíbrio natural através da sua proteção natural, em

geral as matas ou outros tipos de vegetações naturais. A partir do momento em que

este solo é diretamente exposto à ação de fatores naturais como o sol, a chuva e os

ventos, ele mostra toda a sua fragilidade, e a sua degradação passa a ser possível

pelos efeitos da ação, principalmente, das chuvas, que ocasionarão a erosão hídrica.

Nota-se assim que, quando a cobertura natural do solo é retirada é

fundamental que se realizem ações mitigatórias chamadas de práticas

conservacionistas, pois dependem dessas práticas não só a conservação das

características de um solo, como também seu equilíbrio hídrico. De acordo com

Bertoni e Lombardi Neto (1990, p. 94), as práticas conservacionistas podem ser

divididas em vegetativas, edáficas e mecânicas.

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As práticas conservacionistas vegetativas são aquelas “em que se utiliza a

vegetação para defender o solo contra a erosão.” Bertoni e Lombardi Neto (1990, p.

94) Sendo que, para que essas práticas surtam efeito é fundamental que a cobertura

vegetal seja bem densa, ou seja, quanto mais densa, mais ela recobre e protege

contra os efeitos danosos da erosão. Já as práticas conservacionistas de caráter

edáfico são as que “com modificações no sistema de cultivo, além do controle de

erosão, mantêm ou melhoram a fertilidade do solo.” Bertoni e Lombardi Neto (1990,

p. 109).

No que se refere às práticas de caráter mecânico são consideradas aquelas

em que “se recorre a estruturas artificiais mediante a disposição adequada de

porções de terra, com a finalidade de quebrar a velocidade de escoamento da

enxurrada e facilitar-lhe a infiltração do solo.” Bertoni e Lombardi Neto (1990, p. 114).

Além destas práticas os sistemas de manejo do solo também são importantes

para se resolver os problemas erosivos como a rotação de culturas, o preparo do

solo e o plantio direto, pois como explicam os autores: “A conservação do solo não

se reduz à simples aplicação de um número determinado de práticas: é todo um

sistema de manejo do solo que assegura a obtenção dos maiores lucros possíveis

sem diminuir a produtividade do terreno.” Bertoni e Lombardi Neto (1990, p. 94).

Dessa forma, é indiscutível a necessidade de se conservar o solo.

ELABORAÇÃO DA PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

A opção de elaboração do material didático foi a da produção de uma

Unidade Didática, que é uma das modalidades de trabalho pedagógico sugerido pela

SEED/PR, como forma de subsidiar a implementação do Projeto de Intervenção

Pedagógica, sendo que esse formato de material pedagógico busca o

aprofundamento teórico do conteúdo geográfico a ser desenvolvido na escola por

meio do recurso da aula de campo.

A Unidade Didática foi organizada em duas partes: a primeira parte

contemplou os temas referentes ao solo (conceito, formação, classificação e

importância), processos de erosão hídrica e métodos conservacionistas. Nessa parte

foram inseridos o aprofundamento teórico acerca de cada tema a ser estudado, as

atividades práticas a serem realizadas com os alunos bem como os momentos em

que seriam efetivadas as aulas de campo com vistas a atingir os objetivos propostos

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no Projeto de Intervenção Pedagógica. A segunda parte especificou a organização

das aulas de campo referente ao tema em estudo.

DISCUSSÕES DO GTR

Os Grupos de Trabalho em Rede (GTR) foram realizados de forma virtual, no

período de março a maio de 2014, os grupos foram compostos por professores de

todo o Estado do Paraná, por disciplina/área e sob a orientação do Professor PDE.

O tema geral do curso foi a aula de campo como recurso no ensino dos solos

em Geografia. O GTR foi dividido em três temáticas para serem discutidas entre os

dezessete participantes. Todos os dezessete integrantes participaram de forma ativa

durante o curso sendo considerados concluintes do mesmo.

A primeira temática tinha por objetivo socializar o Projeto de Intervenção

Pedagógica possibilitando a troca de ideias e dos fundamentos teóricos relacionados

à temática proposta. Cabe aqui destacar a contribuição da professora Cristina Janjar

quando escreveu que:

Muitas vezes quando propomos uma atividade de campo, logo os alunos entendem como passeio mesmo. É importante frisar que a aula de campo não deve ter caráter de um simples passeio ou de momentos de brincadeiras para os alunos, uma vez que deve ter o sentido de construção do conhecimento acerca do conteúdo trabalhado atribuindo real sentido do ensino-aprendizagem. O simples fato de extrapolar os muros da escola para os alunos significa passeio. Devemos quebrar este paradigma, pois acredito que uma aula de campo bem preparada tem mais significado e compreensão dos conteúdos abordados em sala de aula.

E complementa:

Por vezes nossos alunos são desinteressados e desmotivados a estudar, e nós professores necessitamos de muita criatividade em instigar e despertar o interesse dos mesmos a sentir prazer em estudar e gostar da geografia. Acredito que a atividade de campo como metodologia de ensino é um excelente caminho para que o aprendizado se torne realmente significativo para o aluno. Este projeto apresenta uma metodologia interessante com conteúdos relevantes para os alunos, visto que são alunos oriundos do campo e acredito que será um diferencial no processo ensino-aprendizagem.

O objetivo da segunda temática era socializar a Produção Didático-

Pedagógica, de forma a possibilitar a troca de ideias e dos fundamentos teóricos e

metodológicos relacionados à Produção Didático-Pedagógica. Os participantes do

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Grupo consideraram a produção elaborada pelo professor PDE de grande relevância

para o tema a ser estudado, bem como consideraram que as atividades não

apresentam grandes dificuldades para sua realização tornando-se assim uma

possibilidade bastante aplicável e que pode contribuir para motivar e enriquecer o

aprendizado dos alunos nas aulas de geografia. No depoimento da professora Edina

Silvia Ribeiro Oliveira fica evidente essa constatação:

A produção Didático-Pedagógica apresentada pelo professor é de muita relevância para a escola Pública. As atividades sugeridas são de fácil execução e muito bom entendimento, o que facilita o ensino e aprendizagem sobre o tema. O professor cita em seu trabalho que uma das dificuldades encontradas no contexto escolar em relação ao Ensino da Geografia é o desinteresse dos alunos pela disciplina e mais ainda em relação a alguns conteúdos especificamente. “Os solos” é um desses conteúdos que não despertam interesse dos alunos, talvez pela maneira como são trabalhados, desvinculados da realidade local. Esse trabalho traz uma nova abordagem para o assunto, contextualizando o tema com a vivência deles. Creio que as atividades são muito atrativas e eficientes na realização e compreensão dos objetivos propostos. A maneira como se deu o encaminhamento das atividades me chamou a atenção. O professor soube dar sequência as atividades, de tal forma que o assunto vai se tornando cada vez mais significativo.

A professora Cristina Janjar ressaltou também a relação entre teoria e prática

que é contemplada na Unidade Didática do professor PDE e as contribuições que

isso pode resultar na aplicação em uma escola do campo, especialmente no que se

refere ao conteúdo que será estudado e o recurso a ser utilizado:

As atividades e os conceitos abordados nesta produção atendem a necessidade pois possuem uma relação teoria - prática bem elaborada trazendo para os alunos a sua realidade e as reflexões necessárias para também as devidas intervenções. Como é uma escola do campo, os benefícios poderão ser observados quando estes alunos levarem estas informações e aplicarem em suas propriedades rurais e conseguirem identificar as origem dos problemas como por exemplo os processos erosivos e a partir desta compreensão realizarem as possíveis intervenções no local em que vivem.

A terceira temática buscou socializar a aplicabilidade das ações de

Implementação do Projeto de Intervenção na Escola. Durante essa temática o

professor PDE relatou e discutiu com os integrantes do grupo sobre as experiências

e os resultados parciais observados no desenvolvimento do Projeto na escola. Os

integrantes do grupo tiveram a oportunidade de opinar sobre os resultados

apresentados e trazer contribuições para o debate do tema abordado.

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Alguns professores falaram sobre as dificuldades que enfrentam para

realizarem aulas de campo como: falta de transporte para levar os alunos, falta de

espaço para guardar as atividades desenvolvidas e contratempos meteorológicos,

sendo preciso ter sempre um segundo ou terceiro plano para não ficar em apuros.

As intervenções e sugestões elencadas pelos integrantes do grupo foram

bastante propícias para o enriquecimento da implementação do Projeto de

Intervenção Pedagógica. Durante o desenvolvimento do GTR inúmeras trocas de

experiências foram realizadas e estas trouxeram contribuições para todos os que

participaram do grupo.

IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

O Projeto de Intervenção Pedagógica foi implementado com os alunos da 2ª

série A e B, do Ensino Médio, do Colégio Estadual do Campo Teófila Nassar

Jangada localizado no Distrito de José Lacerda, município de Reserva – PR, no

período do primeiro semestre de 2014.

Durante a implementação foram desenvolvidas aulas teóricas e práticas de

campo utilizando-se do conteúdo específico “processos de erosão hídrica”,

subsidiadas pela Unidade Didática produzida pelo professor PDE. Ao utilizar-se

desse recurso objetivou-se proporcionar um maior interesse e aprendizado dos

alunos, bem como verificar os diversos tipos de processos erosivos hídricos

existentes na região. Para tanto foram desenvolvidas diversas atividades propostas

e organizadas da seguinte forma:

Primeiramente o Projeto de Intervenção Pedagógica e a Unidade Didática

foram apresentados à comunidade escolar para que todos tomassem conhecimento

sobre o trabalho a ser realizado na escola. Na sequência, o Projeto foi apresentado

também aos alunos das duas turmas selecionadas para a implementação do

material pedagógico.

A primeira atividade realizada com os alunos foi a de introdução ao tema a ser

abordado através da aplicação de um questionário em grupo e da socialização das

respostas obtidas. O objetivo dessa atividade foi o de identificar os conhecimentos

prévios dos educandos sobre o tema.

A segunda atividade realizada foi assistir a um vídeo sobre o solo com o

intuito de proporcionar um primeiro contato dos alunos com o tema de forma a

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estimulá-los a estudá-lo. Em seguida, foram realizadas aulas expositivas sobre o

conceito, formação e classificação dos solos com o objetivo de oferecer subsídios

conceituais e teóricos para que os alunos pudessem ser capazes de definir o que é

solo, como ele se forma e como são classificados.

A terceira atividade foi a produção de um diário de campo com o objetivo de

estimular os alunos a anotar e registrar as diversas atividades e fatos ocorridos

durante a implementação da Unidade Didática. Essa atividade foi realizada em

grupo e despertou maior interesse dos alunos pelo tema em estudo.

Em seguida foi realizada a primeira visita técnica (aula de campo) para a

observação e identificação dos tipos de solos e horizontes ou camadas do solo

existentes na região onde a escola está localizada. Durante a visita foram

observados os perfis de dois taludes dentro do terreno da escola e de outro

localizado próximo à escola, onde foi possível visualizar os horizontes que compõem

o solo local bem como sua classificação. Ao observar os solos os alunos foram

questionados sobre as características dos mesmos, fizeram seus registros nos

diários de campo e coletaram amostras de solos para serem utilizados nas próximas

atividades práticas do projeto.

A quarta e quinta atividades do projeto foram a montagem de um perfil de solo

utilizando-se amostras de solo coletadas anteriormente e garrafas PET e a

experiência com plantas, através da colocação de amostras dos horizontes A e B do

solo em recipientes para plantar algumas sementes que foram regadas pelos alunos

que observavam o desenvolvimento das plantas e registravam no diário de campo.

Essas atividades foram realizadas em grupos, porém os registros sempre são

realizados individualmente.

O desenvolvimento dessas atividades envolveu de forma positiva os alunos,

mas houve muitas dificuldades para serem realizadas principalmente pela

inexperiência no manuseio com plantas, pois a escola não dispõe de laboratório

para a prática de experiências e nem espaços para guardar os experimentos ficando

os mesmos expostos às intempéries como chuva forte e frio intenso dificultando a

conclusão dos resultados. Mesmo com as adversidades conseguiu-se concluir estas

atividades práticas e chegar aos resultados esperados.

Na sequência trabalhou-se de forma teórica sobre a importância dos solos

com o objetivo de sensibilizar os alunos acerca de sua importância e preservação

para manutenção da vida na Terra. Em seguida foi realizada a atividade prática 6

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(solo atuando como filtro e reservatório de água) objetivando demonstrar que o solo

retém água e é importante filtro de substâncias poluentes. Essa atividade foi

realizada no terreno da escola utilizando-se de garrafa pet, amostra de solo, água,

pó de café e medidor de líquidos e sólidos. O professor PDE realizou o experimento

com o auxílio dos alunos, os mesmos foram anotando no diário de campo os

questionamentos e os resultados referentes à atividade realizada.

Na continuidade o professor trabalhou de forma expositiva sobre os

processos de erosão hídrica do solo e suas consequências, fornecendo subsídios

teóricos sobre o tema em estudo. Após, seria realizada a segunda visita técnica

(aula de campo), mas, por falta de tempo e más condições do tempo optou-se por

realizar as atividades dessa visita técnica junto com a terceira visita. Dando

sequência foi trabalhado expositivamente sobre os métodos conservacionistas do

solo aprofundando este tema teoricamente.

Neste momento seria realizada a atividade 7 (pesquisa na internet) onde os

alunos pesquisariam imagens dos principais tipos de erosão e dos métodos

conservacionistas dos solos, estimulando-os visualmente para melhor compreensão

dos conceitos trabalhados, mas a escola ficou sem condições de oferecer acesso a

internet aos alunos por um longo período devido a um temporal que causou danos

materiais na escola. Diante desta situação, o professor PDE selecionou imagens e

as apresentou aos alunos por meio de um projetor multimídia.

A próxima atividade desenvolvida foi a realização da 2ª e a 3ª visita técnica

em conjunto. O professor orientou antecipadamente os alunos de acordo com as

instruções constantes na segunda parte da Unidade Didática elaborada pelo

professor PDE e durante a visita técnica procedeu aos questionamentos referentes

às observações que estavam sendo realizadas.

No período da manhã foram realizadas as visitas técnicas com a turma da 2ª

série A e no período da tarde com a 2ª série B. A primeira área observada foi a uns

1500 metros da escola, onde os alunos puderam identificar a erosão laminar e

técnicas conservacionistas vegetativas e mecânicas. A próxima parada foi na

localidade conhecida pelo nome de São Venceslau onde os alunos ficaram

perplexos com a extensão da área degradada, a quantidade e tamanho das

voçorocas provocadas pela erosão hídrica. Neste lugar tentou-se implantar uma

técnica vegetativa de combate a erosão plantando pinus, mas, não se obteve

sucesso.

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A outra parada foi na localidade de Leonardos onde numa aérea os alunos

puderam verificar a erosão em sulcos e em outra área a erosão em voçorocas

também em grande quantidade e tamanho. Depois de partilhar um lanche embaixo

das árvores, retornou-se para a escola. Durante a visita técnica os alunos

registraram as atividades referentes às observações realizadas, em seus diários de

campo. Devido a aplicação de poucas técnicas conservacionistas na região não foi

possível visualizar muitas delas. Os alunos se envolveram bastante nesta atividade

que foi o auge da implementação pedagógica na escola.

Depois das visitas técnicas a próxima atividade desenvolvida foi a nº 8

(importância da cobertura vegetal no solo) cujo objetivo foi mostrar aos alunos por

meio de uma experiência prática, como ocorre a erosão hídrica no solo e evidenciar

a importância da cobertura vegetal na conservação do solo e da água. As

orientações para o desenvolvimento desta atividade constam na Unidade Didática

produzida pelo professor PDE. A atividade foi realizada no terreno da escola com a

participação dos alunos que anotaram em seus diários de campo as conclusões

observadas. Os alunos gostaram bastante desta atividade e houve boa participação.

A atividade seguinte seria com uma música, mas devido ao grande número de

atividades já desenvolvidas e a falta de tempo para o desenvolvimento desta optou-

se por não realizá-la acreditando que não causaria prejuízo ao aprendizado e que os

objetivos do projeto já haviam sido alcançados.

O processo avaliativo se deu durante todo o processo de implementação

através da observação em relação à participação dos alunos nas atividades

propostas e também por meio de um relatório final individual com base nas

anotações dos diários de campo e uma avaliação escrita de caráter dissertativo sem

consultar os materiais e de forma individual.

O encerramento das atividades de implementação foi marcado por um

coquetel e a exposição das atividades desenvolvidas durante o período de

implementação do projeto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados alcançados foram muito satisfatórios e atingiram os objetivos

propostos. Na turma da 2ª série A participou um total de dezessete alunos e dos

quais dez ficou com notas acima de 9,0 (nove), quatro com notas acima de 8,0 (oito),

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dois com notas acima de 7,0 (sete) e um com nota 5,0 (cinco) devido à sua evasão

da escola por motivos particulares. Na turma da 2ª série B participou da

implementação um total de vinte e oito alunos dos quais onze ficaram com notas

acima de 9,0 (nove), oito com notas acima de 8,0 (oito), cinco com notas acima de

7,0 (sete), dois com notas acima de 6,0 (seis) e dois com notas abaixo de 6,0 (seis).

Apesar de terem alcançado um bom desempenho, percebe-se uma pequena

queda de aproveitamento da 2ª série B em comparação com a 2ª série A, fato que foi

percebido também no desenvolvimento das atividades propostas pelo professor

durante a implementação. Todos os alunos da 2ª série A tiveram um envolvimento

satisfatório enquanto que na turma B nem todos tiveram o mesmo interesse, alguns

alunos não se envolveram adequadamente, resultando numa aprendizagem

insuficiente por parte de dois alunos. As causas dessa desigualdade está na

diferença de alunos que participou da implementação nas duas turmas. A turma B

com vinte e oito alunos dificultou o trabalho do professor fazendo com que nem

todos se interessassem para o tema e a participação ativa nas atividades propostas,

evidenciando a inviabilidade de se trabalhar de forma prática com grupos maiores de

vinte alunos.

De modo geral os alunos gostaram muito da implementação do projeto. Um

aluno escreveu na avaliação sobre a implementação: “primeiro o projeto do

professor Antonio causou surpresas, mas depois que nós nos adaptamos vimos que

a geografia ficou mais interessante”, outro aluno escreveu “ficou fácil aprender sobre

o solo”, um outro escreveu “aprender na prática é mais difícil de esquecer e mais

divertido”, em outra ocasião um aluno perguntou: “professor quando acabar o projeto

nós vamos ter que voltar a estudar do jeito de antes?” Como pode se perceber,

houve um aumento no interesse pela aula e os alunos passaram a gostar de estudar

geografia. Uma das atividades que mais chamou a atenção deles foram as aulas de

campo, tanto que uma das sugestões que eles deram na avaliação da

implementação foi o aumento das aulas de campo.

Diante de tudo que foi realizado e mencionado não restam dúvidas de que a

aula de campo é um recurso fundamental para o ensino da geografia, propiciando

maior interesse pelas aulas e alcançando uma aprendizagem mais significativa,

principalmente quando o tema de estudo faz parte da realidade dos alunos como é o

caso deste trabalho realizado. Cabe aos colegas utilizá-las mais frequentemente em

suas práticas pedagógicas e elencar suas contribuições no debate sobre este tema

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aprofundando-o e aperfeiçoando a sua viabilidade dentro da escola de educação

básica.

REFERÊNCIAS

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