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BASES PARA UMA POLÍTICA COMUM DE CONSERVAÇÃO DAS TERRAS
ÚMIDAS DO PANTANAL E DO CHACO
JORGE ADÁMOLI1
RESUMO: O Pantanal tem um dos mais belos, extensos e diversos conjuntos de terras
úmidas do mundo: o Pantanal. A Argentina também apresenta grandes extensões de
terras úmidas na região do Chaco. Numerosos eforços estão sendo feitos para preservar
a integridade funcional do conjunto de ecosistemas dessas regiões, com positivas
respostas dos governos estaduais e federais, assim como com importantes contribuições
de organismos internacionais. Uma política comum de conservação das terras úmidas
do Pantanal e do Chaco podería estabelecer as bases para uma ulterior expansão pelo
sistema Paraguai-Paraná incluíndo o Delta. O levantamento das terras úmidas do
Pantanal e do Chaco, indica uma importante superfície de 362.000 km2, a qual podería
ser acrescentada até 417.000 km2, caso fossem consideradas as áreas das planícies de
inundação dos ríos Paraguai-Paraná, o Delta, assim como os “esteros” do Iberá e
Nheembucú. Existem marcadas diferenças entre o Pantanal e o Chaco no que diz
respeito a infraestrutura (maior no Chaco), ou políticas de conservação (mais
desenvolvidas no Pantanal). Dentro das estratégias de conservação, deveríam
considerarse, junto com as iniciativas nacionais, políticas no nível regional do
Mercosul, tomando aos ríos Paraguai-Paraná, como a coluna vertebral de um programa
internacional de Reservas de Biosfera.
1 Grupo de Estudios sobre Ecología Regional (GESER), Facultad de Ciencias Exactas y Naturales,Universidad de Buenos Aires, Ciudad Universitaria, Pabellón II, 4º piso (1428) Buenos Aires. Correioeletrônico: [email protected].
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BASIS FOR A COMMON CONSERVATION POLICY OF THE
WETLANDS OF THE PANTANAL AND THE CHACO
ABSTRACT: Brazil has one of the most beautiful, extensive and diverse assemblages
of wetlands of the world: the Pantanal. Argentina also presents a vast extension of
wetlands of high diversity in the Chaco region. The increasing efforts to preserve the
functional integrity of the assemblage of ecosystems of these regions have generated
distinct positive responses from local and federal governments, and also important
contributions from international organizations. A common conservation policy of the
wetlands of the Pantanal and the Chaco would establish the basis for its subsequent
expansion within the geographic extent of Mercosur: mainly the system of Paraguay-
Paraná-Delta. An inventory of the wetlands of the Pantanal and the Chaco reveals their
remarkably important surface area –of 362,000 km2 –, which could be increased –to a
total of 417,000 km2 – if the areas of the Paraguay-Paraná floodplains, the Delta and the
”esteros” Iberá and Nheembucú were included. Marked differences exist between the
Pantanal and the Chaco concerning their infrastructures (greater in the Chaco), and also
in regard to their protected areas and conservation policies (more developed in the
Pantanal). An analysis of these differences should serve as a basis to establish active
policies of conservation and development. Within the conservation strategies, not only
the possibilities at the national level should be considered, but also joint procedures at
the regional level –Mercosur-, taking the rivers Paraguay-Paraná as a back bone that
could integrate a net of international Biosphere Reserves.
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INTRODUÇÃO
O Brasil contem um dos mais belos, extensos e diversos conjuntos de Terras
Úmidas (TU’s) do mundo: o Pantanal. Os esforços para conservar a integridade
funcional do conjunto de ecossistemas da região são crescentes e têm gerado diversas
respostas positivas dos governos estadual e federal, assim como importantes
contribuições de organismos internacionais (Adámoli, 1995). As argumentações podem
diferir quanto à focalização e aos objetivos, mas sistematicamente incluem duas
definições chave:
- A maior extensão de TU’s do mundo
- As TU’s mais diversas do mundo.
Mais importante que verificar o grau de exatidão destes postulados, é importante
resgatar a linha argumental que com tanto sucesso utilizam os colegas brasileiros, para a
conservação das TU’s chaquenhas, já que partilham similares atributos quanto à beleza,
extensão e diversidade (Morello e Adámoli, 1968 e 1974). Uma política comum de
conservação das TU’s do Chaco e do Pantanal define as bases para uma extensão da
mesma sobre o eixo geográfico do Mercosul: o sistema Paraguai-Paraná-Delta.
A comparação entre o Pantanal e o Chaco é fácil pelo privilégio de ter
trabalhado intensamente em ambas as regiões, de tê-las percorrido infinidade de vezes
de todos os modos possíveis, de tê-las estudado e descrito tanto na escala das imagens
de satélite, como no nível dos levantamentos florísticos das suas comunidades vegetais;
por ter trabalhado nas porções argentina, paraguaia, boliviana e brasileira do Chaco, e
também nas porções brasileira, boliviana e paraguaia do Pantanal; por ter elaborado
para ambas as regiões mapas de sub-regiões ecológicas, descrevendo as características
ambientais e as comunidades que as integram (Morello e Adámoli, 1968 e 1974;
Adámoli et al., 1972; Adámoli, 1982, Adámoli e Pott, 1999, PEA 2000). Tanto no
Chaco quanto no Pantanal, há sub-regiões fortemente inundáveis que correspondem
claramente às características das TU’s. Outras sub-regiões apresentam características
intermediárias que também correspondem às definições de TU’s, mesmo que durante os
anos secos resulte difícil imaginar que possam ser atingidos os requisitos funcionais
destas.
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Com todos estes antecedentes, serão comparadas a alguns elementos comuns a
ambas as regiões, para usar argumentos que têm demostrado ser eficientes para o
Pantanal, favorecendo projetos conservacionistas e de desenvolvimento sustentável, e a
partir daí, para a espinha dorsal do Mercosul: o eixo fluvial Paraguai-Paraná.
CARACTERIZAÇÃO COMPARATIVA
Localização e superfície. O Pantanal tem uma superfície de 138.000 km2 que se
estendem fundamentalmente, sobre a margem esquerda do rio Paraguai, em território
brasileiro. Os rios tributários correm de Leste a Oeste. Estende-se desde os 16ºS até os
21ºS, o equivalente a pouco menos que 600 km em linha reta (FIG. 1). Tem uma largura
máxima de 380 km sobre o paralelo de 17° Sul, entre os meridianos de 55º O e 58º30´O.
Ao contrário do Pantanal, o Chaco estende-se fundamentalmente sobre a
margem direita dos rios Paraguai e Paraná, ao longo de 1.400 km em linha reta (900 km
sobre o Paraguai e 500 km sobre o Paraná), entre os paralelos de 19ºS e 31ºS. Os rios
tributários correm de oeste a leste. A superfície total da região chaquenha é de
aproximadamente 1.000.000 km2 dentre os quais o Chaco Úmido, que concentra a
maior oferta de TU’s, ocupa em torno de 20-25%, correspondentes a uma franja de
aproximadamente 150 km de comprimento entre os meridianos de 58ºO e 60ºO. É
importante destacar que existem outros conjuntos de TU’s chaquenhas localizadas
muito mais ao Oeste, vinculadas fundamentalmente com os rios Pilcomayo e Bermejo e,
em menor proporção, com as áreas alagadiças dos rios Juramento/Salado e Dulce
(FIG.2).
NOTA. No trabalho, os nomes regionais das TU’s do Chaco, como “Bañados”,
“Cañadas, “Bajos” ou “Esteros”, serão mantidos na grafia original.
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1. Pantanal de Cáceres2. Pantanal de Poconé3. Pantanal de Barão de Melgaço4. Pantanal do Paraguai5. Pantanal dos Paiaguás
6. Pantanal da Nhecolândia7. Pantanal do Abobral8. Pantanal do Aquidauana - Negro9. Pantanal do Miranda10. Pantanal do Nabileque
FIG 1. Sub-regiões do Pantanal Mato-Grossense
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FIG. 2. Terras úmidas da Região Chaquenha
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Traços biogeográficos. No Pantanal predomina a influência biogeográfica da
região dos Cerrados. A linhagem amazônica expressa-se basicamente ao longo da
planície de inundação do rio Paraguai, enquanto que a Província Paranaense manifesta-
se na área dos tributários do Sudeste. O Sul do Pantanal é de linhagem claramente
chaquenha (Adámoli, 1982), e isto será levado em consideração no momento de analisar
as respectivas superfícies.
O Chaco conforma uma unidade biogeográfica, porém com componentes
fortemente contrastantes como o Chaco Úmido e o Chaco Seco. Nos campos alagadiços
do Sudeste (“Bajos Submeridionales”) existem fortes influências pampeanas. As
linhagens amazônica e paranaense manifestam-se nas planícies de inundação dos rios
Paraguai e Paraná, e nas matas de galeria do Leste da região. Pelo Oeste, também em
ambientes sujeitos ao modelado fluvial (matas galeria), aparecem elementos florísticos
vinculados com a Província Biogeográfica das Yungas.
Traços climáticos.
Precipitações. No Pantanal as chuvas médias anuais variam entre 900 mm no
sudoeste e quase 2.000 mm no Norte e Nordeste, enquanto no Chaco as precipitações
seguem um definido gradiente longitudinal, com registros máximos de 1.300 mm no
leste e mínimos de 500 mm no oeste, valores que nos núcleos áridos do Sudoeste
regional são consideravelmente inferiores. Nas duas regiões as chuvas apresentam
concentração estival. No Chaco Úmido o período seco é menos rigoroso que no
Pantanal, enquanto que no Chaco Seco o período sem chuvas e o déficit hídrico
alcançam valores muito superiores aos do Pantanal (OEA, 1969, PEA 2000).
Temperaturas. As temperaturas médias anuais oscilam em torno de 24ºC no
Pantanal, enquanto que no Chaco apresentam uma maior variação: entre 26ºC no norte e
18ºC no sul. As amplitudes térmicas anuais (diferenças entre o trimestre mais quente e o
mais frio) são muito mais marcadas no Chaco do que no Pantanal. No Chaco Seco (uma
franja localizada na proximidade da fronteira entre Salta, Chaco e Formosa e cobrindo
completamente a Província de Santiago del Estero), registra-se o denominado Polo de
Calor da América do Sul (Prohaska, 1959), com uma máxima absoluta de uns 48ºC, um
valor muito superior aos registrados no Pantanal. Do mesmo modo, as mínimas no
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Chaco são sensivelmente inferiores às do Pantanal. No Pantanal as geadas são
excepcionais, enquanto que no Chaco acontecem na região inteira durante vários dias ao
ano, com uma intensidade e freqüência que aumentam em direção ao sul e ao oeste da
região (Galmarini y Raffo del Campo, 1965, OEA, 1969).
Infra-estrutura. Existem importantes diferenças quanto à oferta de infra-estrutura
que apresenta cada região. É importante levar em consideração estes elementos para
desenhar uma política de conservação e de desenvolvimento sustentável. Com políticas
fracas, uma maior infra-estrutura instalada pode atuar como fator que potencie a perda
de recursos, enquanto que com políticas ativas, pode ser um poderoso elemento para
uma gestão positiva. Nesse sentido, o Pantanal apresenta uma infra-estrutura global
claramente inferior à do Chaco, no entanto, pelo fato de contar com uma política
nacional, regional e estadual mais claramente definida, assim como uma maior
proporção de superfície protegida, o Pantanal apresenta um melhor estado de
conservação dos seus ecossistemas do que o Chaco.
Cidades. Dentro do Chaco existe um grande número de cidades e povoados:
capitais provinciais como Resistencia, Formosa e Santiago del Estero; grandes cidades
como Metán, Reconquista, Sáenz Peña, Pirané, La Banda e centenas de cidades
menores, povoados e localidades de pequeno porte. Dentro do Pantanal, pelo contrário,
não existe núcleo urbano algum. As maiores concentrações humanas ocorrem nas sedes
das grandes fazendas. As cidades como Corumbá, Miranda, Aquidauana, Coxim,
Rondonópolis, ou Cáceres, estão na imediata periferia da região, assentadas sobre
ambientes que não formam parte do Pantanal. Esta discussão é importante, pois os
critérios para comparar ambas regiões devem ser equivalentes. É a mesma situação de
cidades como Asunción, Corrientes, ou Santa Fe, no que diz respeito ao Chaco. Outras
cidades como Cuiabá e Campo Grande têm uma forte atividade turística vinculada ao
Pantanal, apesar de se encontrarem a distâncias da ordem de 100 km da região, situação
equivalente à das cidades de Tucumán e Salta, e inclusive Córdoba, La Rioja e
Catamarca, em relação com o Chaco.
Centros de investigação científica e tecnológica. No Pantanal existem campos
experimentais dependentes de entidades federais como a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA), das universidades ou governos estaduais o dos organismos
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de conservação, todos com suas sedes administrativas fora da região. Pelo contrário, as
diversas cidades chaquenhas são sede de numerosas Universidades Nacionais, estações
experimentais e agências de extensão do Instituto Nacional de Tecnología Agropecuaria
(INTA), assim como numerosos organismos científicos e técnicos vinculados com as
administrações nacional ou provincial.
Rede viária. A única rodovia importante que atravessa o Pantanal é a que une
Campo Grande com Corumbá, toda pavimentada. A rodovia Transpantaneira que une
Poconé a Porto Jofre no norte do Pantanal e muito mais precária e não existe uma rede
de estradas que permita realizar uma visita completa à região dado que, à parte das duas
rodovias supracitadas, sómente existem caminhos de acesso das cidades periféricas aos
estabelecimentos rurais. Pelo contrário, a rede viária que atravessa a região chaquenha
inclui um grande número de rodovias nacionais e provinciais pavimentadas por uma
extensão de milhares de quilômetros, junto com numerosas rodovias que, ainda que
insuficientes, permitem percorrer a região em todos os sentidos.
Ferrovias. A estrada de ferro que une São Paulo à cidade boliviana de Santa
Cruz de la Sierra (passando por Campo Grande e Corumbá) é a única que atravessa o
Pantanal pelo sul da região. Ao contrário, a região chaquenha tem uma grande rede
ferroviária que, a pesar de terem sido fechados muitos ramais, mantém o seu valor
estratégico.
Agricultura. As restrições ambientais do Pantanal determinam que a agricultura
ocupe superfícies ínfimas. Uma superfície levemente maior é ocupada por pastagens
cultivadas, mas mesmo assim representa uma pequeníssima percentagem (menos de 5
%) do total regional. Pelo contrário, grandes extensões da região chaquenha (em torno
de 4.000.000 ha) estão ocupadas pela agricultura, como a poderosa atividade algodoeira
com centro na Provincia do Chaco, plantações de feijão e soja, particularmente na franja
ocidental do Chaco Saltenho, agricultura irrigada de longa tradição em Santiago del
Estero, e as arrozeiras, de grande desenvolvimento no Chaco e Formosa.
Eletricidade. Dentro do Pantanal não existe uma rede elétrica integrada, exceto
pela linha que o atravessa, levando o fluído até Corumbá. Em contraste, todos os
povoados da região chaquenha têm energia elétrica.
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QUAL É O LIMITE EM QUE UMA UNIDADE REGIONAL PODE SER
DESCRITA COMO “TERRA ÚMIDA”?
Esta é uma pergunta chave, em termos gerais para quem trabalha com TU’s e
particularmente, para que uma análise de relações ecológicas entre o Pantanal e o Chaco
possa ser feita sobre bases efetivamente comparáveis. Sobre o tema, falta precisão
espacial nas definições de TU’s. Uma lagoa no meio de uma região desértica é uma TU,
porém isto não habilita para caracterizar essa região como uma macro-TU. Por outro
lado, o Delta do Paraná contém várias comunidades não ou excepcionalmente
inundáveis, particularmente matas de galeria sobre diques marginais (Kandus e
Adámoli, 1993; Malvárez, 1997). Ainda que essas comunidades isoladamente não
cumpram com os requisitos das definições de TU’s, apresentam profundas relações
funcionais, intercâmbios energéticos e de nutrientes com as TU’s sensu stricto. O
importante papel destes ambientes de terra firme como refúgios ou lugares de
nidificação de numerosas espécies que se alimentam nas TU’s propriamente ditas, têm
gerado um consenso generalizado sobre o papel chave que exercem no nível regional,
ou ao menos subregional, e consequentemente o conjunto foi considerado como parte de
um macrossistema de TU’s.
Certamente o tema deve ser definido combinando os conceitos da Biologia de
Conservação e de Ecologia da Paisagem (Forman, 1995). Uma unidade espacial
formada por um padrão dominante de TU’s sensu stricto, que contenha um conjunto
menor de unidades formadas por não-TU’s, deveria ser considerada uma macro-TU,
como no caso do Delta do Paraná, do Pantanal da Nhecolándia ou do Chaco Úmido. A
distribuição espacial dos elementos, a conectividade entre eles, as relações entre
tamanho e forma de TU’s e não-TU’s, e basicamente dados que permitam decidir sobre
distâncias críticas entre TU’s sensu stricto, são elementos que deveriam formar parte
dos critérios de decisão. No outro extremo, uma região árida com áreas isoladas de TU’s
sensu stricto esparsas, não conectadas, e separadas por grandes distâncias entre elas, não
poderia ser qualificada como uma macro-TU.
A maior parte do Chaco Úmido, assim como a maior parte do Pantanal, poderia ser
qualificada sem dificuldades, como macro-TU’s ou TU’s subregionais. A discussão
mais importante para os fins específicos deste trabalho, mas principalmente para a
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definição dos conceitos funcionais que permitiriam definir as macro-TU’s, se daria em
torno das sub-regiões ou unidades territoriais intermediárias, ou seja, que contém TU’s,
porém somente numa proporção reduzida da sua área total. A proporção de território
ocupada pelas TU’s sensu stricto seria uma boa aproximação para este tipo de definição,
mas não seria suficiente. Tomando como exemplo a Pampa Seca, esta ficaria à margem
de uma definição regional de macro-TU’s, no entanto considerando o sistema das lagoas
“Encadenadas”, estas formariam uma importante macro-TU de nível sub-regional, pela
forma e conectividade que apresentam os seus elementos componentes.
CRITÉRIOS PARA COMPARAR A OFERTA DE TERRAS ÚMIDAS DO
CHACO E DO PANTANAL
Para poder fazer uma comparação entre a oferta das TU’s das regiões do Chaco e
do Pantanal, é necessário estabelecer critérios de inclusão (e por descarte de exclusão) o
suficientemente explícitos como para poder serem revisados e eventualmente rebatidos.
Um primeiro tema crítico está referido à planície de inundação do rio Paraguai, cujo
funcionamento está condicionado pela topografía do Pantanal e condiciona, ela mesma,
a maior parte dos processos regionais (Adámoli e Pott, 1996). Como tal, não há dúvidas
a respeito da sua inclusão no cômputo de TU’s da região. O limite sul do Pantanal, foi
estabelecido na confluência do rio Paraguai e o Nabileque, pois a partir desse ponto
mudam o regime hidrológico e a fluviomorfología (ver o trabalho neste mesmo
volume). No entanto, foram excluídos da contabilidade de TU’s do Pantanal os
denominados Pantanais de Jacadigo, Nabileque e Bodoquena, porque estes apresentam
uma clara linhagem chaquenha. Estas subregiões não foram incluídas no Chaco. Foram
diferenciadas, formando um conjunto Chaco-Pantanal. Também foi formado um
conjunto diferenciado com o setor leste do Pantanal, já que dificilmente qualificaria
como TU, porque nele as inundações, quando ocorrem, são localizadas, muito curtas e
de níveis muito baixos.
Existem numerosas razões para estabelecer uma unidade funcional entre as
planícies dos rios Paraguai (desde o Sul da confluência do Nabileque) e Paraná. Tanto
pela organização espacial da paisagem, assim como por critérios biogeográficos,
resultam claramente diferenciadas do Chaco. Por esse motivo, as unidades de paisagem
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formadas por ambos os rios, não são incluídas na contabilidade de TU’s chaquenhas.
Esta diferenciação facilita a identificação do mencionado eixo fluvial como a coluna
vertebral do portentoso sistema de TU’s do Mercosul, que têm o Pantanal como
componente Norte, o Delta no Sul, o complexo dos “esteros” do Iberá, as “canhadas”
correntinas, e os “esteros” do Ñeembucú como contribuição oriental, já que o Chaco
ocupa a maior parte do setor ocidental.
Entre as TU’s do Chaco foram incluídas obviamente todas as sub-regiões do Chaco
Úmido, que para este trabalho foram delimitadas seguindo a isoieta de 1.000 mm no
mapa da Bacia do Prata (OEA 1974). A esta unidade contínua, somam-se outras,
vinculadas com os grandes rios que atravessam o Chaco Seco (FIG. 2):
a) O interflúvio Teuco-Bermejito anualmente inundado pelas enchentes do rio
Bermejo, que apresenta uma grande quantidade de lagoas, “cañadas” e espiras
de meandros com água durante o ano todo (Adámoli et al., 1990). Se incluem
nesta unidade as lagoas San José e Yema.
b) A área do “Bañado” La Estrella que canaliza as águas transbordadas pelo rio
Pilcomayo, como conseqüência da forte sedimentação do seu curso nas
proximidades do limite entre Formosa e Salta. Não se inclui o “Estero” Patiño,
que antigamente recebia os transbordamentos do Pilcomayo, por não dispor de
informação atualizada sobre o estado dele, já que apresenta um importante
dessecamento.
c) Os “Bañados” del Quirquincho na província de Salta, que recebem os
derramamentos dos rios Dorado e Del Valle. Não foram incluídos os “Bañados”
de Figueroa em Santiago del Estero, porque devido ao conjunto das obras de
Cabra Corral, Miraflores e El Tunal, e também pelos canais construídos, eles
estão num processo de dessecamento.
d) As salinas do Chaco Seco e Árido particularmente as Salinas Grandes e os
ambientes tributários.
e) A Lagoa Mar Chiquita em Córdoba e o conjunto de “bañados” do rio Dulce que
a alimentam pelo norte.
As superfícies correspondentes a cada um dos elementos componentes descritos
acima, foram estimadas em forma indicativa, com base nos mapas publicados pela OEA
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para a Cuenca del Plata (OEA, 1969) e os levantamentos locais na região chaquenha
(Morello e Adámoli, 1968; Adámoli et al., 1972) e no Pantanal (Adámoli, 1995).
TU’s da região chaquenhaChaco Úmido Paraguaio 63.000 km2
Chaco Úmido Argentino 130.000 km2
TU’s do Chaco Úmido 193.000 km2
“Bañado” La Estrella 4.000 km2
Interflúvio Teuco-Bermejito 14.000 km2 .Salinas Grandes 4.500 km2
Lagoa Mar Chiquita 2.500 km2
“Bañados del rio Dulce” 3.000 km2
“Bañados del Quirquincho” 1.000 km2
TU’s do Chaco Seco 29.000 km2
Total Tu’s da Região do Chaco 222.000 km2
TU’s da área Chaco-Pantanal 10.000 km²TU’s do Pantanal inundável 100.000 km²Total do Leste pouco inundável do Pantanal 30.000 km2
TOTAL DE TU´s DO CHACO E DO PANTANAL 362.000 km2
TU’s do eixo fluvial Paraguai-Paraná-Delta 30.000 km² TU’s do conjunto Iberá-Nheembucú 25.000 km²
TOTAL DE TERRAS ÚMIDAS (TU’s) DO GRANDE EIXO N-S 417.000 km2
CONCLUSÕES
A listagem de TU´s do Chaco e do Pantanal mostra uma superfície
extremamente importante de 362 km2 aos que podem se acrescentar as áreas dos rios
Paraguai-Paraná-Delta e os “Esteros” do Iberá e de Nheembucú, o que resulta em
417.000 km2 no total.
Entre o Chaco e o Pantanal existem profundas diferenças no que diz respeito a
infra-estrutura (maior no Chaco) e no tocante a áreas protegidas e políticas de
conservação (mais desenvolvidas no Pantanal). A análise dessas diferenças deveria
servir como base para estabelecer políticas ativas de conservação de desenvolvimento.
Segundo o estabelecido ao princípio, o objetivo deste trabalho é reproduzir uma
estratégia que o Brasil usou exitosamente para promover o Pantanal como grande
atração no nível nacional e internacional. Isto lhe permite captar importantes recursos
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essencialmente do turismo, mas também de organismos internacionais interessados na
conservação e no desenvolvimento sustentável. Atualmente existem figuras
interessantes dirigidas a cumprir com estes objetivos, particularmente as Reservas da
Biosfera promovidas pelo programa MAB-UNESCO.
Dentro das estratégias de conservação, cabe pensar nas possibilidades no nível
nacional, e também numa estratégia no nível Mercosul, tomando como coluna vertebral
os rios Paraguai-Paraná.
É importante destacar que uma estratégia que considere o Chaco deve ter um
eixo no Chaco Úmido, mas é evidente que o conjunto do Chaco, com todos os
ambientes de TU’s incluídas no Chaco Seco e no Chaco Árido, pela sua grande e
diversa oferta de recursos naturais, e também pelos aspectos mencionados no começo
deste trabalho vinculados com a sólida oferta de infra-estrutura, constitui um potencial
muito pouco explorado nos termos acima mencionados.
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