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FUNDAÇÃO FACULDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS MÉDICAS DE PORTO ALEGRE DEPARTAMENTO DE GENÉTICA BÁSICA E CLÍNICA DISCIPLINA DE GENÉTICA BÁSICA OSTEOGENESIS IMPERFECTA DENISE B. CASTRO MARÍLIA ERTEL RACHID A. KARAM RAFAEL BONFÁ FABIANE VARGAS CLÁUDIO O. P. ALEXANDRE Porto Alegre, Outubro de 2000

Osteogenesis Imperfecta

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Page 1: Osteogenesis Imperfecta

FUNDAÇÃO FACULDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS MÉDICAS DE PORTO ALEGRE

DEPARTAMENTO DE GENÉTICA BÁSICA E CLÍNICA

DISCIPLINA DE GENÉTICA BÁSICA

OSTEOGENESIS IMPERFECTA

DENISE B. CASTRO

MARÍLIA ERTEL

RACHID A. KARAM

RAFAEL BONFÁ

FABIANE VARGAS

CLÁUDIO O. P. ALEXANDRE

Porto Alegre, Outubro de 2000

Page 2: Osteogenesis Imperfecta

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SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................................................................4

ABSTRACT........................................................................................................................................5

INTRODUÇÃO: OSTEOGENESIS IMPERFECTA ......................................................................6

HISTÓRICO.......................................................................................................................................7

CLASSIFICAÇÃO.............................................................................................................................9

EPIDEMIOLOGIA..........................................................................................................................11

COLÁGENO ....................................................................................................................................13

ESTRUTURA ................................................................................................................................13

SÍNTESE........................................................................................................................................14

GENES...........................................................................................................................................16

PATOLOGIA MOLECULAR........................................................................................................17

ASPECTOS DA HERANÇA GENÉTICA ....................................................................................20

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS ................................................................................................23

OSTEOGENESIS IMPERFECTA TIPO I ......................................................................................23

OSTEOGENESIS IMPERFECTA TIPO II.....................................................................................26

OSTEOGENESIS IMPERFECTA TIPO III ...................................................................................29

OSTEOGENESIS IMPERFECTA TIPO IV ...................................................................................30

EXPRESSIVIDADE E PENETRÂNCIA ......................................................................................32

DIAGNÓSTICO...............................................................................................................................33

Page 3: Osteogenesis Imperfecta

3

DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL ......................................................................................................35

ACONSELHAMENTO GENÉTICO.............................................................................................37

TRATAMENTO...............................................................................................................................38

MEDIDAS GERAIS ......................................................................................................................38

PAMIDRONATO ..........................................................................................................................40

TERAPIA GÊNICA.......................................................................................................................40

PROGNÓSTICO..............................................................................................................................42

MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS .............................................................................................42

EXPECTATIVA DE VIDA...........................................................................................................42

CAUSAS DE MORTE...................................................................................................................43

CONCLUSÃO ..................................................................................................................................45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................................46

Page 4: Osteogenesis Imperfecta

4

RESUMO

A Osteogenesis Imperfecta (OI) é uma desordem hereditária do tecido conjuntivo que resulta

em fragilidade óssea. Mutações no colágeno tipo I são responsáveis por esta doença. Por ser uma

doença heterogênea é classificada em 4 grupos conforme as manifestações clínicas, radiológicas e

bioquímicas. A maior parte dos casos é herdada de maneira autossômica dominante. A incidência

nas populações mundiais varia de 1:21.000 a 1:50.000 nascidos. O prognóstico para uma pessoa

portadora de OI varia conforme o número e a severidade dos sintomas. Apesar das numerosas

fraturas, atividade restrita e baixa estatura, muitos adultos e crianças com OI podem ter vida

produtiva e feliz.

Palavras-chave: Osteogenesis Imperfecta, fragilidade óssea, colágeno tipo I

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ABSTRACT

Osteogenesis Imperfecta (OI) is a heritable disorder of conective tissue that results in bone

fragility. Identifications of molecular defects in type I collagen are the major cause of this disease.

It is a heterogeneous disease that is classified in 4 groups based on clinical, radiographic and

biochemical features. Almost all cases are autossomal dominant inheritance. The population

frequency ranges from 1:21.000 to 1:50.000 births. The prognosis for an individual with OI varies

greatly depending on the number of symptoms as well as the severity of the symptoms. Despite

numerous fractures, restricted activity, and short stature, many adults and children with OI lead

productive and happy lives.

Key-words: Osteogenesis Imperfecta,bone fragility, type I collagen.

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INTRODUÇÃO: OSTEOGENESIS IMPERFECTA

Osteogenesis Imperfecta (OI) é uma desordem genética, e, portanto, hereditária, do tecido

conjuntivo que afeta a estrutura e a função dos tecidos que contêm colágeno1. Achados indicam que

são os defeitos moleculares do colágeno tipo I as principais causas desta doença1. A forma leve da

OI é causada por anormalidades quantitativas do colágeno tipo I. As outras formas da doença, as

quais são mais severas, são causadas tanto por anormalidades quantitativas quanto qualitativas do

colágeno tipo I 1,2.

Esta entidade é caracterizada por diminuição generalizada da massa óssea (osteopenia),

produzindo ossos frágeis, e por comprometimento mais ou menos freqüente de outros tecidos do

tipo conjuntivo. É freqüentemente associada com esclera azul, anormalidades dentárias

(Dentinogenesis Imperfecta), perda progressiva da audição e história familiar positiva3. A

inteligência é normal e os portadores de OI são capazes de adaptar-se às suas limitações5. O

espectro das características clínicas é bastante amplo, e varia desde a forma severa que causam

morte intra-útero materno até formas leves que se manifestam tardiamente e permitem vida longa

com leve fragilidade óssea2. O curso das formas intermediárias é mais variável com muitos

pacientes apresentando-se normais ao nascimento piorando progressivamente3.

A extrema variabilidade na OI resulta de heterogeneidade genética e bioquímica. A maioria

dos casos são herdados de maneira autossômica dominante e mutações novas são freqüentes.

Poucas resultam de herança autossômica recessiva. Alguns casos resultam de mosaicismo parental e

esporadicamente a causa genética é desconhecida4.

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HISTÓRICO

A primeira descrição da Osteogenesis Imperfecta (OI) conhecida na literatura médica é a de

P. Amand, em 1715, no entanto, existem confirmações de sua manifestação muito antes disso. No

Museu Britânico, em Londres, há uma múmia egípcia, datada do ano 1.000 AC, que mostra

alterações no esqueleto, nos dentes e nos ossos longos típicas dos portadores da doença. O líder da

invasão escandinava na Inglaterra, no último quarto do século IX, conhecido como “Ivan, o Sem

Ossos”, era afetado pela doença. Além disso, um fêmur esquerdo, datado do Século VII, com

características de OI, foi encontrado na Inglaterra5.

Foi Willem Vrolik, um anatomista alemão, que, em 1849, identificou pela primeira vez a

doença nos recém-nascidos chamando-a de Osteogenesis Imperfecta. Antes disso, em 1831, o

também alemão Edmund Axmann descreveu a doença nele mesmo e nos seus irmãos, fazendo a

primeira menção à esclerótica azulada5.

Em 1859, o inglês Edward Latham Ormedod, relatou o caso de uma mulher de 68 anos, com

1 metro de altura, que passou a doença para uma filha e um filho. O esqueleto dessa mulher está no

Real Colégio de Cirurgiões de Londres. Mais recentemente, em 1979, o médico australiano David

Sillence, um dos maiores estudiosos da patologia, apresentou a classificação dos quatro tipos de

portadores de OI que foi definida na First International Nomenclature of Heritable Disorders of

Connective Tissue5,6,7 e até hoje continua sendo uma referência na literatura médica. A equipe do

dr. Francis Glorieux, do Shriners de Montreal, trabalha, agora, na identificação do tipo V, alterando

pela primeira vez a classificação de Silence5,8.

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CLASSIFICAÇÃO

A classificação de Sillence define 4 tipos de Osteogenesis Imperfecta (OI) (Tabela 1).

A OI tipo I (OI-I) é a forma mais leve e mais comum. É uma desordem autossômica

dominante caracterizada por esclera azul permanente, surdez prematura e média a moderada

fragilidade óssea. É subdividida como IA, se os dentes são normais, ou IB, se há Dentinogenesis

Imperfecta (DI). A OI tipo II (OI-II) é a forma mais severa, sendo letal intra-útero ou logo após o

nascimento. Os bebês apresentam fraturas pré-natais, membros pouco desenvolvidos e curvos e

extrema fragilidade óssea que acarreta a letalidade perinatal. A OI tipo III (OI-III) é uma forma

severa não letal1,3,6. Em seu trabalho, Sillence observou que dois terços dos portadores de OI-III

tinham fraturas ao nascimento e apresentavam deformidade progressiva severa nos membros e

coluna vertebral. A densidade de escleras azuladas vistas neste grupo, foi muito menor do que no

grupo de pacientes portadores de OI-I, se aproximando do que é visto em a crianças e adultos

normais. Além disso, o azulado tende a diminuir com a idade6. A OI tipo IV (OI-IV) é

moderadamente severa e apresenta características similares à OI-I e também é subdividida em A e

B1,6.

Tabela 1 Classificação de Osteogenesis Imperfecta Tipo Fragilidade óssea Esclera azul Dentição anormal Perda auditiva Herança* I

Leve

Presente

Ausente em IA Presente em IB

Presente na maioria

AD

II Extrema Presente Presente em muitos Desconhecida AD ou E III Severa Azulada ao nascer Presente em muitos Alta incidência AR ou AD IV

Variável

Ausente

Ausente em IVA Presente em IVB Alta incidência AD

* AD autossômica dominante, AR autosssômica recessiva, E esporádica

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A equipe do Dr. Glorieux, do Shiner´s Hospital de Montreal, Canadá, definiu recentemente

um novo tipo de OI que se acrescenta aos quatro de Sillence. Dentre os pacientes incluídos no grupo

IV de Sillence, o mais heterogêneo, Glorieux detectou um subgrupo com características comuns,

entre elas a formação de calo hipertrófico nas zonas de fratura ou de osteotomia8.

Apesar de todos os esforços médicos, essas classificações não são sempre funcionais ou

exatas. Há pessoas que apresentam características dos tipos III/IV, outras que se definem como

II/III, e outras que simplesmente não se encaixam na classificação5.

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EPIDEMIOLOGIA

A incidência de Osteogenesis Imperfecta (OI) nas populações mundiais é variável de

1:21.000 a 1:50.000 nascidos5. Nos Estados Unidos, a OI-I, tem uma freqüência de nascimentos na

ordem de 1:30.000 nascidos vivos e uma freqüência populacional semelhante3,7. A incidência

relatada de OI-II é de aproximadamente 1:60.000 nascimentos3.

Um estudo epidemiológico realizado na Dinamarca mostrou uma prevalência ao nascimento

da OI naquele país de 21,8:100.000 e prevalência populacional de 10,6:100,000 habitantes9.

Na tabela abaixo, estão dispostos os dados epidemiológicos da Fundação Européia de Osteogenesis Imperfecta (OIFE)10. Tabela 2 Dados Epidemiológicos

País

Ano de estabelecimento da Sociedade de

OI

Número de membros

No de habitantes (milhões)

Estimativa do no de pessoas

portadoras de OI

Bélgica 1985 43 6.4 427 Croácia 2000 60 5 333

Alemanha 1984 955 83.5 5569 Dinamarca 1982 187 5.3 350

Espanha 1995 200 40 2667 França 1985 595 60 4000

Reino Unido 1967 823 58.5 3899 Itália 1984 830 57.5 3831

Noruega 1979 527 4.4 296 Holanda 1983 316 15.6 1037 Finlândia 1979 297 5 333

Suíça 1986 127 7.0 469 Europa 1993 4960 348,2 23213 Austrália 1996 192 18.3 1217

EUA 2000 1000 272,6 18176 TOTAL 6152 639,1 42606

Fundação Européia de Osteogenesis Imperfecta. Última revisão 27 Fevereiro 2000

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Em um estudo de pacientes negros portadores de OI em Johannesburg, África do Sul, a OI-

III de herança autossômica recessiva foi reconhecida em 21 pacientes, contrastando com apenas 5

portadores de OI-I. A freqüência populacional estimada foi de 0,6:100.000 para OI-III e de

0,1:100.000 para OI-I. Esta situação é o inverso da observada na população mundial, na qual a

razão entre OI-I e OI-III é da ordem de 7:111. Outro estudo realizado em Zimbabwe obteve o

mesmo resultado. Neste estudo a justificativa para tal foi que os principais grupos tribais desta

região apresentavam uma freqüência gênica similar e relativamente alta para OI-III por

descenderem de um progenitor comum12.

Page 13: Osteogenesis Imperfecta

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COLÁGENO

ESTRUTURA

O colágeno é a proteína mais comum no mundo animal, constituindo o arcabouço extra-

celular de todos os organismos multicelulares. Sem o colágeno, o ser humano seria reduzido a um

conglomerado de células interconectadas por alguns neurônios13.

Mais de 19 tipos de colágeno podem ser identificados. A maioria são constituintes menores

e provavelmente apresentam funções altamente especializadas. O colágeno tipo I, o mais abundante,

é encontrado como rede de fibras em um grande número de tecidos. É a principal proteína estrutural

da matriz extracelular dos ossos, pele e tendões, formando 90% da matriz extracelular óssea3. Ele é

composto de duas pró-cadeias α-1 e uma pró-cadeia α-2, que se entrelaçam formando uma rígida

tripla hélice3,13,14 (Figura 1). Cada cadeia α contém pró-peptídios terminais nas extremidades C-

terminal (carboxi) e N-terminal (amino) e um domínio central composto de 338 repetições de Gly-

X-Y, onde o X e o Y representam qualquer outro aminoácido que não a glicina3. A glicina, por ser o

menor aminoácido, é o único resíduo capaz de ocupar a posição axial da tripla hélice, de modo que

qualquer alteração em um resíduo de glicina acarretará desorganização da estrutura helicoidal1.

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Figura 1 - Estrutura do colágeno. A hélice do colágeno é uma estrutura secundária repetitiva única e característica desta proteína. A) Seqüência repetitiva tripeptídica Gly-X-Y adota uma estrutura orientada à esquerda com 3 resíduos por volta. B) Modelo espaço-cheio da hélice do colágeno mostrada em A. C) Três destas hélices enrolam-se uma ao redor da outra em uma torção orientada à direita. D) A super-hélice de 3 elementos do colágeno mostrada a partir de uma de suas extremidades, em uma representação bola-bastão. Os resíduos de glicina estão mostrados em vermelho. A glicina, devido ao seu pequeno tamanho, é necessária nas junções apertadas onde as 3 cadeias estão em contato.

SÍNTESE

A biossíntese do pró-colágeno envolve um processo intracelular complexo e uma

recombinação não usual por meio da qual as três cadeias se enrolam em uma tripla hélice3.

Após a sua síntese em ribosomos, as cadeias α sofrem uma série de modificações

enzimáticas13. Os pró-peptídios hidrofóbicos sinalizadores da posição N-terminal são clivados e

iniciam-se reações adicionais pós-traducionais. Resíduos de prolina na posição Y da seqüência

repetitiva Gly-X-Y são convertidos a hidroxiprolina pela propil-hidroxilase em uma reação que

requer ácido ascórbico. Resíduos de lisina na posição Y são igualmente hidroxilados a hidroxilisina

pela lisina hidroxilase. Muitos dos resíduos de hidroxilisina são glicosilados com galactose ou com

galactose e glicose. Um grande oligossacarídeo rico em monose é associado à região C-terminal de

cada cadeia polipeptídica. Quando os últimos aminoácidos são incorporados às pró-cadeias α, elas

são armazenadas nas cisternas do retículo endoplasmático rugoso. Neste estágio duas pró-cadeias α-

1 e uma pró-cadeia α-2 são associadas através de seus pró-peptídios C-terminais. Após reunirem-se

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de maneira correta, a estrutura é mantida unida pela formação de pontes dissulfídricas entre as

cadeias. As modificações pós-traducionais das pró-cadeias α continuam enquanto cada cadeia

adquire aproximadamente 100 resíduos hidroxiprolina. Como resultado, a conformação é propagada

como um zíper da posição C-terminal para a posição N-terminal da molécula. A proteína passa

então do retículo endoplasmático rugoso para o complexo de Golgi e é secretada3.

Nesse estágio, a molécula de pró-colágeno ainda é solúvel e contém pró-peptídios N-

terminais e C-terminais3. Então, as pró-colágeno-peptidases clivam as cadeias pró-peptídicas C-

terminal e N-terminal, promovendo a formação de fibrilas, freqüentemente denominadas

protocolágeno13, que são praticamente insolúveis3. A formação destas fibrilas é acompanhada da

oxidação de resíduos específicos de lisina e hidroxilisina pela enzima extracelular lisina-oxidase.

Este processo resulta em ligações cruzadas entre cadeias α das moléculas adjacentes, estabilizando

o arranjo característico do colágeno (Figura 2). A ligação cruzada é o principal fator contribuinte

para a força elástica do colágeno13.

Figura 2 - Síntese do colágeno.

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GENES

Para localizar os genes das pró-cadeias α-1 (COL1A1) e α-2 (COL1A2) do colágeno, foram

utilizados probes de DNA genômico e DNA complementar (cDNA), em técnicas de hibridizaçao in

situ na pró-metáfase de cromossomos humanos. Estes estudos confirmaram a presença destes genes

nos cromossomas 17 e 7, respectivamente. A análise da distribuição dos probes na pró-metáfase dos

cromossomos mostrou que a localização do gene da cadeia α-1 do colágeno tipo 1 está na região

17q21.31-q22. A localização do gene da cadeia α-2 do colágeno tipo 1 foi demonstrada na banda

7q22.115 (Figura 3).

Figura 3 – Organização normal do gene do colágeno. A maior parte dos exons nos genes do colágeno tipo I codificam seis repetições da seqüência de aminoácidos Gly-X-Y, onde Gly é glicina, X, geralmente prolina e Y, geralmente hidroxiprolina. (Marini, 1997 – JAMA)

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PATOLOGIA MOLECULAR

A glicina é o menor aminoácido e, portanto, o único resíduo compacto o bastante capaz de

adaptar-se perfeitamente à posição axial na formação da tripla hélice16. A sua presença a cada três

aminoácidos da cadeia α do colágeno é um pré requisito para o correto entrelaçamento das três

cadeias para formar a tripla hélice17. A substituição do resíduo de glicina por um aminoácido maior

é altamente desorganizador da estrutura helicoidal18.

Vários aspectos da maturação do pró-colágeno são de interesse especial para a fisiopatologia

da Osteogenesis Imperfecta (OI). Primeiro, a montagem das cadeias individuais na tripla hélice

começa na extremidade C-terminal (carboxi) e move-se em direção à extremidade N-terminal

(amino). Assim, mutações proximais à porção C-terminal da molécula são mais desorganizadoras,

porque interferem mais cedo na propagação da hélice. Segundo, a modificação pós-traducional do

pró-colágeno, ou seja, hidroxilação da prolina e da lisina e glicosilação das hidroxilisinas, continua

em qualquer parte de uma cadeia não montada na tripla hélice. Portanto, quando a montagem da

hélice é diminuída por uma mutação, as seções não montadas das cadeias N-terminais ao defeito são

altamente modificadas, reduzindo sua secreção para o espaço extracelular e contribuindo para sua

instabilidade1.

A instabilidade da tripla hélice foi observada em moléculas de colágeno tipo I contendo

cadeias altamente modificadas de migração lenta1. Em estudos de pacientes com OI-II19,20,

distúrbios na conformação do pró-colágeno e formação retardada das pontes dissulfídricas foram

revelados. Os polipeptídeos que emergem do ribosomo precisam ter uma conformação

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tridimensional estável e manter esta estrutura através de suas vidas funcionais. Os mecanismos de

controle de qualidade da estrutura e da função dependem de chaperonas moleculares e de proteases;

ambas podem reconhecer regiões hidrofóbicas expostas em polipeptídeos mal conformados. As

chaperonas moleculares promovem a conformação adequada da proteína e previnem agregação, e as

proteases energia dependentes eliminam as proteínas irreversivelmente danificadas21. A chaperona

molecular BiP, encontrada no retículo endoplasmático, está ligada especificamente no pró-colágeno

tipo I mutante19,20. Além disso, estudos com Brefeldin A, que inibe a exportação protéica do retículo

endoplasmático, mostraram que pró-cadeias α-1 danificadas irreversivelmente eram degradadas

seletivamente dentro do próprio retículo endoplasmático, provavelmente pelas proteases, resultando

em uma severa redução na produção de colágeno por estas células. Porém, estes mecanismos de

controle de qualidade não são 100% eficazes, e portanto, não apenas o número de fibrilas de

colágeno é reduzido, como muitas das fibrilas são defeituosas. Além disso, cadeias mutantes mal

conformadas tendem a acumular-se no retículo endoplasmático dos fibroblastos (Figura 4) ou então

são exportados de forma lenta; o retículo endoplasmático torna-se dilatado e expandido, e a

secreção de outras proteínas, como o colágeno tipo III, fica prejudicada18. No osso, as cadeias de

colágeno anormais e o número reduzido levam a uma mineralização deficiente.

A OI-I é a forma mais branda de OI e é causada por uma quantidade reduzida de colágeno

tipo I normal. Portanto, esta é uma anomalia quantitativa, já que não é detectável no citoplasma

nenhuma proteína mutante produzida pelas células. Estudos recentes mostraram que a maioria dos

pacientes tem códons de parada prematuros no gene COL1A1 que resulta na retenção do mRNA

mutante no núcleo22. As mutações variam em seu tipo e local no gene, mas o resultado funcional é o

mesmo. Assim como poderia ser esperado, alguns caso de OI-I ocorrem devido a deleção de todo

ou de parte do gene COL1A118, por erros no splicing do mRNA23, ou também mutações ponto. Na

OI-I todos os pacientes possuem uma haploinsuficiência do gene COL1A1, já que este gene não

apresenta expressividade gênica (alelo nulo)24.

Page 19: Osteogenesis Imperfecta

19

Pacientes com substituição da glicina dentro dos domínios das pró-cadeias α-1 e α-2 podem

ter OI-II, III ou IV. Estes pacientes apresentam anomalias qualitativas e quantitativas no colágeno

tipo I devido ao efeito dominante negativo da mutação (ver adiante). Um modelo de rato

transgênico confirmou que a substituição heterozigótica da glicina era capaz de produzir o fenótipo

da OI-II por um mecanismo dominante negativo25. Está claro que as anomalias da matriz

extracelular são produzidas por uma redução na quantidade de colágeno tipo I normal e pelos

efeitos adversos do colágeno tipo I mutante. Entretanto, os fatores que determinam a severidade do

fenótipo permanecem desconhecidos. Um gradiente de severidade fenotípica tem sido observado

com substituições da glicina por cisteína26. Substituições C-terminais podem produzir OI-II;

substituições centrais, OI-III e IV; e as substituições N-terminais, fenótipos mais leves27. Este

gradiente não é evidente com outras substituições. Além disso, os resíduos com cadeias laterais

grandes ou carregados são altamente desorganizadores da estrutura tripla, não importando onde

estejam localizados. A história genética e outras influências parecem ser importantes já que

diferentes fenótipos têm sido encontrados com a mesma mutação. Por exemplo, a substituição da

glicina na posição 352 e 415 da pró-cadeia α-1 por serina pode produzir o fenótipo de OI-II, III e

IV28.

Figura 4 – Eletromicrografia de um fibroblasto da derme de uma criança com substitução Gly-391-Arg na pró-cadeia α-1 mostrando o retículo endoplasmático grosseiramente dilatado.

Page 20: Osteogenesis Imperfecta

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ASPECTOS DA HERANÇA GENÉTICA

A maioria das mutações implicadas na Osteogenesis Imperfecta (OI) são autossômicas

dominantes, mas algumas são autossômicas recessivas. Alguns dos mecanismos pelos quais padrões

de herança diferentes se originam de mutações diversas numa molécula única foram revelados por

caracterização dos defeitos bioquímicos. Esta doença ilustra a complexidade genética resultante de

mutações que alteram proteínas estruturais, sobretudo aquelas compostas de múltiplas subunidades

diferentes29.

O fenótipo relativamente leve e a herança dominante da OI-I concorda com o fato de que,

embora apenas metade do número normal de moléculas seja produzida, elas são estruturalmente

normais. Os alelos mutados na OI-I não expressam produto gênico, sendo chamados de alelos

nulos29. Byers resumiu que a presença de alelos funcionalmente nulos é a característica genética

mais comum da OI-I30.

As conseqüências mais graves da produção de pró-cadeias α-1 estruturalmente defeituosas

(versus nenhum defeito) refletem em parte a estequiometria do colágeno tipo I, que é formado por

duas pró-cadeias α-1 e uma pró-cadeia α-2. Assim, se uma pró-cadeia α-1 for anormal, três de

quatro moléculas do colágeno tipo I terão pelo menos uma cadeia anormal; por outro lado, se uma

pró-cadeia α-2 for defeituosa, apenas uma de duas moléculas será afetada (Figura 5). Portanto,

mutações como o alelo de sentido trocado da pró-cadeia α-1 são alelos negativos dominantes,

porque reduzem a contribuição do alelo pró-cadeia α-1 normal e dos alelos pró-cadeia α-2 normais.

Em outras palavras, o efeito do alelo mutante é ampliado por causa da natureza polimérica da

Page 21: Osteogenesis Imperfecta

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molécula de colágeno31. O efeito dos alelos negativos dominantes é uma maneira genética pela qual

as mutações numa proteína multimérica causam doenças herdadas de modo dominante. Ademais, o

efeito negativo dominante também explica a observação de que em algumas doenças de herança

dominante, como a OI, é melhor ter uma mutação que resulte em ausência do produto gênico (alelo

nulo) do que uma causadora de um produto gênico anormal29.

A maioria dos bebês com a forma letal perinatal, OI-II, tem uma mutação dominante nova e,

portanto, a probabilidade de recorrência na família é muito baixa. Em eventuais famílias, no

entanto, mais de uma criança é afetada com a doença OI-II. Recentemente, reconheceu-se que tais

recorrências originavam-se mais amiúde de mosaicismo parental que afeta a linhagem germinativa

além de alguns tecidos somáticos. Assim, embora tenham-se identificado casos autossômicos

recessivos verdadeiros da forma OI-II, eles são a minoria32.

A grande maioria dos casos de OI-III são dominantes33. Recorrência na prole e

consangüinidade apontam para formas raras de herança autossômica recessiva. Esta deve ser a

forma de herança mais comum entre os negros africanos portadores de OI7,34. Casos de mosaicismo

parental de células germinativas também foram relatados como causadores de recorrência em

famílias com OI-III35,36,37.

Dissomia uniparental materna foi reportada em um menino com a forma leve de OI-III com

marcada diminuição da estatura e osteoporose. A análise da mutação mostrou uma substituição

homozigota da glicina por serina na posição 661 da pró-cadeia α2 do pró-colágeno tipo I. Sua mãe

era heterozigota para este defeito e seu pai era normal. Paternidade foi confirmada por marcadores

de DNA38.

Por fim, na OI-IV o padrão de herança é autossômico dominante7. Estudos com sondas e

RFLP’s (Restriction Fragment Length Polymorphisms) para genes COL1A1 e COL1A2

demonstraram que OI-IV é mais freqüentemente ligada a mutações no gene COL1A2, resultando

assim na mutação da pró-cadeia α-2(I). Entretanto, reconhecidas mutações em OI-IV podem

ocorrer em menor número no gene COL1A17,39.

Page 22: Osteogenesis Imperfecta

22

Foi documentado que nas formas dominantes de OI o risco de mutações novas aumenta com

a idade paterna, no entanto, esta relação parece ser consideravelmente menor do que, por exemplo,

na acondroplasia. Não foi demonstrada relação entre o risco de novas mutações e idade materna40.

Figura 5 - Patogenia das principais classes de mutantes do pró-colágeno tipo I. Coluna 1: os tipos de cadeias do pró-colágeno disponíveis para montagem numa hélice tripla. Coluna 2: efeito da estequiometria do pró-colágeno tipo I sobre a proporção de moléculas de colágeno normais para defeituosas formadas em mutantes com mutações de pró-cadeias α-1 versus pró-cadeias α-2. As pequenas barras verticais em cada cadeia do pró-colágeno indicam a modificação pós-traducional. Coluna 3: efeito das mutações sobre o processamento bioquímico do colágeno. Pró-cadeia α-1M = pró-cadeia α-1 com uma mutação de sentido trocado; pró-cadeia α-2M = pró-cadeia α-2 com uma mutação de sentido trocado; pró-cadeia α-10 = alelo nulo da pró-cadeia α-1.(adaptado de Thompson, 1991).

Page 23: Osteogenesis Imperfecta

23

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

OSTEOGENESIS IMPERFECTA TIPO I

Osteogenesis Imperfecta tipo I (OI-I) (Figuras 6, 7) é a forma mais leve e mais freqüente de

OI e se caracteriza por fragilidade óssea sem deformidades significativas, osteopenia, estatura

normal, esclera azul, suscetibilidade para surdez pré-senil e herança autossômica dominante. O

fenótipo da OI-I resulta de uma variedade de mutações que alteram a expressão dos genes COL1A1

e COL1A2 que ocasionam, na maior parte dos casos, uma redução de aproximadamente 50% na

síntese do pró-colágeno tipo I7,41.

Pacientes com OI-I apresentam raras fraturas no período neonatal, aumento da taxa de

fraturas na infância, redução após a puberdade e geralmente aumento após a menopausa em

mulheres e após a sexta década nos homens42. Muitos adultos apresentam progressiva

cifoescoliose. Usualmente os portadores de OI-I apresentam excessiva hipermobilidade nas

pequenas articulações, particularmente das mãos e pés, mas esta característica é menos freqüente

em adultos7.

A esclera destes pacientes é geralmente de coloração azul (Figura 8) e permanece assim por

toda a vida em contraste com a esclera dos portadores de OI-III e OI-IV, os quais apresentam

esclera azul ao nascimento mas a intensidade diminui progressivamente de modo que essas pessoas

apresentam esclera de coloração normal na adolescência e vida adulta42 Esta tonalidade decorre da

redução da espessura da própria esclerótica, por diminuição do conteúdo de fibras colágenas, o que

permite a visualização do plexo coróide3.

Page 24: Osteogenesis Imperfecta

24

Aproximadamente metade dos pacientes com OI-I na faixa etária de 50 anos têm perda

auditiva7. Esta característica inicia no final da segunda e início da terceira década e progride com o

envelhecimento, especialmente após os 60 anos. Usualmente é uma perda condutiva. O ouvido

médio geralmente exibe malformação, ossificação deficiente, persistência de cartilagem em áreas

que são normalmente ossificadas e depósitos de cálcio anormais3. Pacientes mais idosos apresentam

também perda neurossensorial, cuja causa não foi determinada45,46 .

Envolvimento cardiovascular foi identificado em alguns portadores de OI-I. Dentre as

alterações verificadas encontra-se prolapso mitral , insuficiência valvular aórtica, estenose aórtica e

dilatação da raiz da aorta. No entanto, não está definido se essas doenças são significativamente

mais freqüentes em portadores de OI em relação à população em geral45.

A Dentinogenesis Imperfecta (DI) é observada em algumas famílias com OI-I3,7,46. O

esmalte geralmente é normal, mas os dentes afetados por DI apresentam coloração âmbar, cinza,

púrpura ou translúcidos e quebradiços devido à deficiência de produção e mineralização da

dentina3,7,47. A DI é uma entidade separada da OI, com herança autossômica dominante, que afeta

somente os dentes e resulta de uma mutação no cromossomo 4q47. Paterson e cols. mostraram que

os pacientes com OI-I portadores de DI diferem dos pacientes que apresentam dentes normais, de

modo que a OI-I divide-se em subgrupos IA e IB, dependendo da ausência ou presença,

respectivamente, de DI. Pacientes com DI associada (tipo IB) têm uma forma mais severa de OI-I,

com maiores taxas de fraturas, deformidades do esqueleto e menor estatura46.

Estudos radiológicos mostram osteopenia generalizada, evidências de fraturas prévias e

normal formação de calo nos sítios de fraturas recentes. Deformidades são geralmente resultantes da

angulação nos sítios de fraturas prévias. A morfologia dos corpos vertebrais é inicialmente normal

mas geralmente desenvolve aparência cônica7.

Page 25: Osteogenesis Imperfecta

25

Figura 6 – A) criança de 2 meses portadora de OI-I; B) paciente de 17 meses de idade, terceira fratura, note a fina cortical do osso.

Figura 7 – OI-I. Pai e filho mostrando leve diminuição da estatura

Page 26: Osteogenesis Imperfecta

26

Figura 8 – Esclera azul

OSTEOGENESIS IMPERFECTA TIPO II

A Osteogenesis Imperfecta tipo II (OI-II) (Figura 9 e 10) é a forma mais severa da doença,

sendo caracterizada por extrema fragilidade óssea, levando a morte intra-uterina ou no início da

infância18. Além das características anomalias no esqueleto, a OI-II também tem sido associada a

alterações neuropatológicas comprometedoras48. Esse grupo é clínica e bioquimicamente

heterogêneo sendo distinguido em 4 subgrupos1.

Subgrupo A: Crianças afetadas são comumente prematuras e, exceto quando hidrópicas,

apresentam média de peso e altura ao nascer menor que o percentil 50. Vinte por cento são

natimortos, e o restante morre dentro de horas ou dias (90% morrem até a quarta semana).

Fragilidade do tecido conjuntivo está presente de forma generalizada, e ruptura de membranas pode

ocorrer durante o parto. As coxas estão caracteristicamente fixas em abdução e rotação externa, o

tórax é pequeno, os membros são marcadamente curtos e freqüentemente angulados e curvos. O

crânio é desproporcionalmente largo em relação à face, e há leve micrognatia com nariz pequeno e

estreito. Escleras azuis estão presentes em virtualmente todos os afetados7. Estudo de autópsias de

casos de OI-IIA mostraram cérebros com defeitos migracionais coexistindo com leucomalácia

periventricular e gliose48.

O estudo radiológico mostra tórax pequeno com costelas levemente encurtadas, que são

espessadas e com contornos ondulados. O fêmur encontra-se largo e retangular com margens

onduladas ou, então, largo, pouco modelado e muito hipoplásico. Ossos tubulares longos e curtos

Page 27: Osteogenesis Imperfecta

27

estão desmineralizados, encurtados, e, às vezes pregueados com múltiplas fraturas. As tíbias estão

usualmente anguladas, as vértebras mostram-se achatadas e hipoplásicas em graus variados. O

crânio e a face apresentam mineralização diminuída e múltiplos centros de ossificação no calvário

(ossos wormianos). A pélvis mostra-se hipoplásica, com achatamento do acetábulo e das cristas

ilíacas7.

Subgrupo B: Os pacientes do subgrupo B são fenotipicamente similares aos do subgrupo A

ao nascerem, mas morte por falência respiratória não é tão freqüente. Sobrevida por semanas ou

meses, e até mesmo anos é observada. As alterações neurológicas são mais brandas, e o cérebro

geralmente apresenta desenvolvimento normal48.

Radiologicamente as costelas estão encurtadas com nenhuma ou poucas fraturas. Os ossos

longos são largos e pregueados assim como no grupo A. Aquelas crianças que sobrevivem ao

período neonatal desenvolvem ossos tipicamente largos nas primeiras semanas de vida. O acúmulo

de fraturas das costelas com a formação de calos produz aparência radiológica indistingüível

daqueles bebês com OI-III severa7.

Subgrupo C: O subgrupo C é extremamente raro. Os bebês são muito pequenos para a

idade gestacional e são natimortos ou morrem no período neonatal. A autópsia do cérebro de um

paciente com tipo C de OI-II mostrou má rotação hipocampal, agiria, laminação neuronal anormal,

hemorragia difusa e leucomalácia periventricular48.

Radiografias do esqueleto mostram costelas finas e o padrão em contas não é tão uniforme;

ossos longos finos com fraturas, fêmur com haste curvada e deformidades de angulação são

encontrados. Há extrema desmineralização do crânio e face7.

Subgrupo D: O subgrupo D foi adicionado mais recentemente à classificação de Sillence49.

Há morte perinatal, severa osteopenia com esqueleto geralmente bem formado. As vértebras e a

pélvis geralmente apresentam forma normal1.

Page 28: Osteogenesis Imperfecta

28

Figura 9 – Criança portadora de OI-IIA com pais normais

Figura 10 – Radiografia de um bebê com OI-IID, há numerosas fraturas de costelas

(aspecto em contas), mas não há fraturas vertebrais

Page 29: Osteogenesis Imperfecta

29

OSTEOGENESIS IMPERFECTA TIPO III

A Osteogenesis Imperfecta tipo III (OI-III) (Figura 11) é caracterizada por manifestações

neonatais de fragilidade óssea e deformidades. É usualmente não letal49. Esses pacientes

apresentam-se ao nascimento ou durante a infância com severa fragilidade óssea e múltiplas fraturas

acarretando deformidades esqueléticas progressivas. Eles nascem geralmente a termo, com peso ao

nascimento normal e freqüentemente com o tamanho também normal, embora esse possa estar

diminuído por deformidades nos membros inferiores na época do nascimento7. Embora a esclera

possa ser azul ao nascimento, a observação de muitos pacientes com esta síndrome revelou que a

esclera inicia progressivamente a perder a cor azulada ao logo dos anos6.

Todos os pacientes têm crescimento longitudinal pobre e permanecem abaixo do percentil 3

para idade e sexo7. Desenvolvem cifoescoliose progressiva durante a infância, que progride durante

a adolescência50. Perda auditiva pode não ser relatada nessas crianças, mas sua ocorrência não seria

surpresa, visto que há severa osteopenia e labilidade para fraturas, com envolvimento significativo

das cadeias ossiculares7. Dentinogenesis Imperfecta é observada especialmente na primeira

dentição6.

Após algumas semanas ou meses, na maioria das crianças, a diáfise dos ossos longos

apresenta diminuição do modelamento, produzindo ossos largos. Desde alguns anos de idade há

disfunção progressiva e reparo dos ossos trabeculares na metáfise produzindo aparência similar à

pipoca, como vista nas várias formas de encondromatose. As costelas são finas, osteopênicas e

compactas. O crânio apresenta múltiplos ossos wormianos, embora isto não possa ser evidenciado

até algumas semanas ou meses de idade7.

Page 30: Osteogenesis Imperfecta

30

Figura 11 – A) Criança com 6 anos mostrando severo nanismo e deformidades dos membros superiores e inferiores, indicativos de um tipo severo e deformante de OI (Sillence III.); B) Raio-X do crânio aos 9 anos, mostrando calvário fino e pouco mineralizado e ossos wormianos; C) Raio-X dos membros inferiores mostrando severa osteoporose e encurvamento dos ossos longos, e as características deformidades em pipoca nas regiões de metáfises do fêmur e tíbia.

OSTEOGENESIS IMPERFECTA TIPO IV

Osteogenesis Imperfecta tipo IV (OI-IV) (Figura 12) é caracterizada por início pós-natal de

fraturas, deformidade óssea leve, moderada ou ausente e perda auditiva precoce (antes da

senilidade). Indivíduos afetados com OI-VI diferem em alguns aspectos clínicos de indivíduos com

OI-I. Eles não possuem esclera azul e tendem a ser adultos de menor estatura51.

Sabe-se que a esclera pode estar azulada ao nascimento na OI-IV, porém há perda

progressivamente dessa tonalidade ao longo do desenvolvimento do paciente, e, ao atingirem a

maturidade, todos os pacientes possuem esclera normal, podendo freqüentemente apresentar uma

coloração acizentada. (Paterson et al., 1983)7.

OI-IV é caracterizada também por osteoporose levando a fragilidade óssea7. Estes

indivíduos possuem idades variadas quanto ao início das fraturas, podendo estar presentes ao

nascimento (aproximadamente 25%) ou ocorrer somente após a vida adulta. Embora, múltiplas

fraturas possam ser observadas no esqueleto ao nascimento e ao longo da vida, de modo geral, estes

Page 31: Osteogenesis Imperfecta

31

pacientes têm menos osteopenia e fraturas que crianças com variedades severas de OI7.

Significativa curvatura dos membros inferiores, envolvendo principalmente a tíbia, tem estado

presente no nascimento como a única característica desta síndrome7,51. Alguns pacientes melhoram

com a idade, e a curvatura dos membros diminui. Como na OI-I, estes pacientes aparentam mostrar

uma melhora espontânea na puberdade, e pouquíssimas fraturas são encontradas em adolescentes e

adultos. A maioria dos pacientes permanece, contudo, com baixa estatura7. As deformidades ósseas

também implicam em outras conseqüências como limitações na locomoção, hipermobilidade

articular39 e mais raramente compressão vertebral e impressão basilar decorrente da má formação

occipital52. Acredita-se que a impressão basilar possa ocorrer em todas as formas de OI. As

manifestações neurológicas mais freqüentes da impressão basilar são cefaléia occipital e neuralgia

do trigêmio52.

Dentina opalescente tem sido observada em algumas famílias, sugerindo que a OI-IV deva

ser dividida em dois subgrupos: OI-IV com dentes normais (subgrupo A), e OI-IV com

Dentinogenesis Imperfecta (subgrupo B)7,39.

A variabilidade clínica é um fenômeno bastante conhecido na OI7,39. Lund e cols.

encontraram variabilidade clínica considerável entre os membros de uma família com OI-IV. O

indivíduo mais gravemente afetado (19 anos) apresentava severa deformidade, escoliose avançada,

altura de 132,4 cm, uso de cadeira de rodas e 10 fraturas ao longo da vida. Apesar do mesmo defeito

genético, o indivíduo menos afetado fisicamente (24 anos) possuía deformidades muito leves, 3

fraturas ao longo da vida, altura de 161,9 cm, não apresentava escoliose e praticava inclusive

esportes de contato. As únicas características clínicas avaliadas que permaneceram uniformes nos

cinco membros acometidos dessa família foram a Dentinogenesis Imperfecta e a esclera azul39.

Figura 12 – Paciente com OI-IV de 2 anos, não caminha, com membros inferiores levemente curvados.

Page 32: Osteogenesis Imperfecta

32

EXPRESSIVIDADE E PENETRÂNCIA

A variabilidade clínica entre os tipos de Osteogenesis Imperfecta (OI), dentro de um mesmo

tipo com os mesmos defeitos moleculares, é um fenômeno bem conhecido. Na maioria das famílias

com OI autossômica dominante, entretanto, as características clínicas entre os membros são

relativamente constantes. Algumas famílias excepcionalmente mostram uma ampla variabilidade

clínica39.

Deve ser destacado que a penetrância e a expressividade são entidades distintas. A

penetrância é um fenômeno de tudo ou nada; ou tem o fenótipo da doença ou não. A expressividade

variável refere-se à extensão da expressão do fenótipo da doença.

A OI-I é herdada de maneira autossômica dominante com expressividade variável. A

penetrância para fraturas é aproximadamente 90% e para a esclera azul 100%7,53. A penetrância

para perda auditiva é de 43%, e existe uma clara relação entre idade e a progressão da perda

auditiva53. A severidade, medida pela idade de início das fraturas, freqüência das fraturas enquanto

criança e deformidades, é correlacionada com o subgrupo, baseado na presença ou ausência de

Dentinogenesis Imperfecta (DI) na família do afetado. Pacientes com OI-I e DI apresentam

manifestações mais precoces e mais marcadas que aqueles com OI-I e dentes normais7.

Page 33: Osteogenesis Imperfecta

33

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico geralmente é feito com base em critérios clínicos. A presença de fraturas

associada a esclera azul, Dentinogenesis Imperfecta ou história familiar de doença é usualmente

suficiente para se fazer o diagnóstico3. Outras causas de fraturas patológicas precisam ser excluídas,

dentre as quais a síndrome da criança batedora, deficiências nutricionais, neoplasias ou outra

desordem inerente do tecido conjuntivo como condrodisplasias e hipofosfatemia3.

O raio X usualmente revela diminuição da densidade óssea que pode ser identificada por

fóton ou densitometria óssea. Não há consenso sobre a possibilidade de o diagnóstico ser feito pela

microscopia do osso3.

Com o desenvolvimento de técnicas de análise molecular é possível demonstrar os defeitos

da molécula do pró-colágeno tipo I e até mesmo mutações nos genes COL1A1 e COL1A2. A

cultura de fibroblastos da derme de pacientes com Osteogenesis Imperfecta (OI) permite obter

colágeno para posterior estudo por eletroforese. As mutações nos genes COL1A1 e COL1A2

podem ser definidas por seqüenciamento do DNA complementar, obtido através de RNA extraído

de cultura de fibroblastos, ou DNA genômico1,3. O DNA das pró-cadeias α-1 e α-2 é amplificado

utilizando reação em cadeia da polimerase (PCR). Variantes de peso molecular são encontrados por

eletroforese. Produtos anormais encontrados podem então ser sequenciados1 (Figuras 13).

Visto que cada probando ou família usualmente tem uma mutação “privativa”, extensas

análises de 5000 ou mais bases em cada um dos dois genes é requerida para a identificação exata da

Page 34: Osteogenesis Imperfecta

34

mutação3. Após uma mutação do gene do pró-colágeno tipo I ser identificada, um teste baseado no

PCR pode ser usado para procura de membros sob risco nas famílias ou para diagnóstico pré-natal3.

Figura 13 – Estudo bioquímico e molecular de um paciente com OI-III. A) Análise por eletroforese (PAGE-SDS) de colágeno tipo I do meio de cultura digerido por pepsina (painel da esquerda) e do colágeno retido no intracelular (painel da direita) dos fibroblastos da cultura. Linha 1, 3, 4 e 6: amostra do controle; linha 2 e 5: amostra do paciente. Alargamento das bandas (flechas) representam padrões de migração lenta das pró-cadeias α-1 e α-2. As cadeias apresentam modificações pós-traducionais excessivas, migrando mais lentamente. B) O seqüenciamento evidenciou que a mutação ocorreu no gene COL1A2. Uma mudança de G por T alterou o códon da glicina (GGG) na posição 277 da pró-cadeia α-2 por um códon do triptofano (TGG) como é mostrado pela flecha. Com a mutação do gene COL1A2, não houve a correta formação da tripla hélice do colágeno, expondo ambas as pró-cadeias α-1 e α-2 a excessivas modificações pós-traducionais.

A B

Page 35: Osteogenesis Imperfecta

35

DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL

A ultrassonografia e estudos radiográficos pré-natais podem ocasionalmente diferenciar

fetos normais de fetos afetados7. A ultrassonografia pré-natal pode detectar fetos com Osteogenesis

Imperfecta (OI) com 17 semanas de gestação, através do reconhecimento da baixa ecogenicidade de

todos os ossos, forma anormal do crânio, arcos costais em forma de sino, costelas finas distalmente,

ossos longos disformes ou curtos, metáfises largas e diáfises finas. Movimentos severamente

limitados e posicionamento anormal dos membros inferiores também são típicos dessa condição54.

O estudo ultrassonográfico seriado do 4o ao 5o mês gestacional está indicado em todas as gestações

futuras de um casal com criança afetada, com alta probabilidade de diagnosticar OI-II baseada nos

membros curtos, fraturas e polihidrâmios7.

Diagnóstico para demonstrar síntese anormal de pró-cadeias α ou seqüências de DNA

podem ser obtidas de biópsia das vilosidades coriônicas com 10 à 12 semanas de gestação3,7. Este

método tem como vantagem o fato de que os vilos coriônicos isolados contém quantidade

significativa de colágeno na sua matriz extracelular e sintetizam colágeno in vitro. Diferente do

colágeno sintetizado pelas células cultivadas do líquido amniótico, o colágeno extraído das

vilosidades coriônicas não sofre modificações pós-traducionais o que permite melhor identificação

de defeitos moleculares. Os resultados são disponíveis 3 a 5 dias após a realização da biópsia. A

análise direta do colágeno obtido de biópsias de vilosidades coriônicas é rápida e acessível e deve

ser o método de escolha para o diagnóstico pré-natal das desordens do colágeno55. Esse exame deve

Page 36: Osteogenesis Imperfecta

36

ser realizado em famílias com um ou mais filhos afetados e a modificação do colágeno comprovada

bioquimicamente7. O diagnóstico pré-natal pode ser conseguido por:

• Cultura e análise do pró-colágeno tipo I para evidenciar excesso de hidroxilação;

• Análise direta do DNA quando uma mutação foi detectada no material genético de um recém-

nascido previamente afetado ou seqüenciamento do DNA quando não há outro afetado na

família7

Um estudo Belga descreveu dois casos de OI em que o diagnóstico genético foi realizado

antes da implantação do zigoto baseado em achados do PCR. Isso possibilita o diagnóstico cada vez

mais precoce da doença55.

Page 37: Osteogenesis Imperfecta

37

ACONSELHAMENTO GENÉTICO

Para Osteogenesis Imperfecta (OI) tipos I, III e IV com herança autossômica dominante,

quando um adulto afetado é casado com uma pessoa normal, há 50% de chance de nascer uma

criança afetada. Quando dois adultos com OI-I procriam, há 25% de chance de a criança ser afetada

de forma homozigota, sendo provável que desenvolva uma forma letal ou severa da doença7.

Considerando OI-II, o risco de recorrência para a maioria dos casos desta doença é de

aproximadamente 6%7. Byers e cols. estudaram 65 famílias completas com OI-II e encontraram

uma risco empírico de recorrência de 8,6% (6/70). Isso é provavelmente devido a forma rara

recessiva além do mosaicismo de células germinativas para as mutações dominantes, embora a

maioria dos casos de OI-II seja causada por mutações dominantes constitucionais novas56.

A recorrência por mosaicismo parental, com células germinativas comprovadamente

afetadas em pais fenotipicamente normais ou levemente afetados, está bem documentada na

literatura35,36,57,58. Dos quatro trabalhos revisados, em três deles, o mosaicismo estava

exclusivamente presente na linhagem germinativa paterna35,36,58. Cole e Dalgleish encontraram uma

taxa de recorrência de 7% quando um dos pais apresentava mosaicismo de células germinativas57.

Quanto à OI-IV, também autossômica dominante, na prole de um pai afetado casado com

uma pessoa normal há 50% de afetados7.

Page 38: Osteogenesis Imperfecta

38

TRATAMENTO

MEDIDAS GERAIS

O problema terapêutico da Osteogenesis Imperfecta (OI) é extremamente complexo. O

tratamento médico da OI tem sido largamente inefetivo em alterar o curso da doença59, mas muitos

pacientes obtêm sucesso a despeito de severas deformidades. Aqueles com desordens leves podem

necessitar pouco tratamento após a puberdade, quando as fraturas diminuem, mas as mulheres

requerem atenção especial durante a gestação e após a menopausa, quando as fraturas aumentam

novamente. As crianças mais severamente afetadas necessitam programas abrangentes de

fisioterapia, manejo cirúrgico das fraturas e deformidades esqueléticas e programas de educação

vocacional3.

O primeiro problema terapêutico se apresenta já no momento do parto, quando foi feito o

diagnóstico pré-natal de OI ou existe um caso de OI na família. O parto deve ser realizado em

condições menos traumáticas possíveis, em geral recorrendo-se a cesariana, empregando todo

cuidado possível na extração da criança. O bebê deve ser manejado com precaução, tendo–se o

cuidado de fazê-lo mudar freqüentemente de posição para evitar deformidade da cabeça e

problemas pulmonares. Nas formas graves, os perigos maiores para criança são as infecções

respiratórias predispostas pelas fraturas e deformidade torácica5.

Deve-se ter presente que nesses pacientes a fragilidade óssea é determinada pelo defeito

estrutural de natureza genética e também pela osteoporose secundária a imobilidade dos segmentos

esqueléticos, derivada, por sua vez, dos prolongados períodos de imobilização com gesso devido as

Page 39: Osteogenesis Imperfecta

39

fraturas5. Deve-se procurar evitar aparelhos gessados, recorrendo-se a trações e aparelhagens

ortopédicas, facilitando sempre a função muscular, essencial também para o trofismo ósseo5.

Reabilitação intensiva e cuidados ortopédicos devem ser instituídos para prevenir deformidade

progressiva e providenciar um desenvolvimento normal na medida do possível7. Se as fraturas

forem relativamente sem dor, fisioterapia pode ser iniciada precocemente. Uma judiciosa monta de

exercícios previne a perda da massa óssea secundária à inatividade física3,7.

Muitos médicos advogam a inserção de haste intramedular nos ossos longos para corrigir e

prevenir fraturas e deformidades dos membros; o risco/benefício e custo/benefício de cada

procedimento são difíceis para se avaliar3,7.

Suporte emocional para pacientes e pais é importante 3. Deve-se esclarecer a escola e os

professores acerca da doença afim de que sejam tomados cuidados necessários para se evitar

fraturas. Sugere-se que os pacientes andem sempre com um cartão de identificação e com uma carta

dos médicos explicando como é e como se manifesta a doença para se evitar confusões com maus

tratos. Pacientes devem manter o peso ideal, porque a obesidade implica em aumento do risco de

fraturas.

Até agora inúmeros tratamentos foram sugeridos, mas nenhum mostrou resultado

satisfatório no controle da doença. Foram propostos tratamentos com hormônios de crescimento a

partir da observação de que na puberdade ocorre uma diminuição na incidência de fraturas,

ocorrendo um aumento das mesmas após a menopausa. No entanto, a administração de estrógenos

ou andrógenos não resultou nos efeitos esperados e também produziu efeitos indesejáveis. Outras

substâncias como Fluoreto de Sódio, Óxido de Magnésio, Calcitonina e Vitamina D também foram

utilizados mas nenhum medicamento foi suficientemente eficaz para uso definitivo no tratamento da

OI.

Page 40: Osteogenesis Imperfecta

40

PAMIDRONATO

Atualmente bifosfonados vêm sendo utilizados especialmente com crianças e demonstrado

bons efeitos especialmente no aumento da densidade óssea.

Recentemente se mostrou que infusões cíclicas de pamidronato aumentam a densidade

mineral óssea em crianças acima de 2 anos de idade com severa OI60. Entretanto o grupo de

pacientes que recebem o maior benefício desta terapia são crianças abaixo de 2 anos de idade, visto

que é neste período da vida que ocorre crescimento e desenvolvimento mais rápidos56,60.

A conclusão dos estudos que avaliaram o tratamento com pamidronato foi de que infusões

cíclicas desta droga melhoram significativamente a densidade óssea e diminuem as taxas de fratura

em pacientes portadores de OI severamente afetados com menos de 2 anos de idade. Nenhum efeito

colateral foi notado, a não a ser a previamente vista reação de fase aguda. Estes resultados

preliminares sugerem que o pamidronato pode ser uma terapia efetiva no tratamento de OI severa

em recém-nascidos. Entretanto, até o momento não se sabe os potenciais efeitos adversos a longo

prazo, sendo precoce recomendar o amplo uso desta terapia59,60.

TERAPIA GÊNICA

A terapia gênica oferece novas possibilidades para o manejo clínico de doenças crônicas e

que prejudicam sobremaneira a qualidade de vida de seus portadores.

Graças à natureza geneticamente heterogênea da OI, será imperativo desenvolver uma

estratégia terapêutica mutante-independente afim de burlar tal heterogenecidade61. Na OI-II, III e

IV, o colágeno mutante é sintetizado, secretado da célula e incorporado à matriz extracelular onde

sua presença contribui para os defeitos funcionais da matriz. Claramente, a adição de um gene

normal, assim como se faz nas doenças autossômicas recessivas, não é a opção terapêutica nessa

situação. Porém, existem duas estratégias terapêuticas que poderão contribuir futuramente no

tratamento de doenças dominantes; reposição celular através de transplante de medula óssea e

supressão antissense62 .

Page 41: Osteogenesis Imperfecta

41

Resultados recentes levantaram a possibilidade de que a estratégia da terapia gênica

“antissense” pode ser efetiva no tratamento da doença. A inibição específica da expressão do gene

do colágeno mutado tem sido obtido com oligonucleotídeos “antissense” em experimentos com

culturas celulares63,64 e também com o uso de ribozimas in vitro65, mimetizando a situação do alelo

nulo com manifestações mais brandos (Figura 14).

É fundamental salientar que ambas estratégias estão em fase de desenvolvimento, e

obstáculos até agora intransponíveis devem ser superados. A terapia gênica está na sua infância e

temos muito o que aprender sobre esta tecnologia.

HERANÇA DOMINANTE

Produto do gene defeituoso interfere com função do produto do alelo normal

← ↑

REPOSIÇÃO CELULAR SUPRESSÃO ANTISSENSE

Transplante de oligonucleotídeos ribozimas

Medula Óssea com células normais Θ RNA Θ RNA

RNAseH digere RNA/DNA Objetivo: células normais para normalizar a função do tecido. Objetivo: anular a função do alelo mutante para mimetizar a situação do alelo nulo. Figura 14 – Estratégia para a terapia gênica da OI

Page 42: Osteogenesis Imperfecta

42

PROGNÓSTICO

O prognóstico para uma pessoa portadora de Osteogenesis Imperfecta (OI) varia conforme o

número e a severidade dos sintomas. Apesar das numerosas fraturas, atividade restrita e baixa

estatura, muitos adultos e crianças com OI podem ter vida produtiva e feliz5.

Nas formas graves existe o perigo de sérias complicações cardiopulmonares, devidas às

deformações da coluna e caixa torácica, com prognóstico negativo já na idade infantil. Nas formas

mais leves, existe uma notável melhora com a puberdade. Deste período em diante, a situação se

estabiliza em níveis quase normais para agravar-se novamente na idade senil.

MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS

A estatura média dos portadores de Osteogenesis Imperfecta está abaixo da estatura média

dos seus parentes de primeiro grau não afetados. A redução da estatura parece estar relacionada com

o tipo de OI e o tipo de defeito do colágeno, sendo mais pronunciada nos pacientes com OI-III e IV

com defeitos qualitativos do colágeno do que naqueles com OI-I com defeitos quantitativos do

colágeno. O tronco é relativamente pequeno, e isto é típico da doença. A circunferência craniana é

desproporcionalmente grande para a extensão corporal2.

EXPECTATIVA DE VIDA

Paterson e cols. demonstraram que a expectativa de vida da OI-IA é semelhante a

encontrada para a população em geral, já os pacientes com as formas OI-IB, OI-IVA e OI-IVB

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43

apresentam uma redução modesta da expectativa de vida. Os pacientes com OI-III têm uma

importante redução na expectativa de vida. Neste grupo, a maioria das mortes ocorre antes dos 10

anos de idade, no entanto, pacientes que sobrevivem após esta idade parecem ter um melhor

prognóstico. A taxa de mortalidade, entre estes pacientes varia significativamente com o sexo e

idadeD4. (Figura 15) A maioria dos pacientes com OI-II apresentam morte pré ou perinatal, sendo

raro o relato de pacientes que sobrevivem por mais tempo7.

Figura 15 – Expectativa de vida na OI (λ) em comparação com a população em geral (µ). As linhas verticais

representam intervalo de confiança de 95%.

CAUSAS DE MORTE

McAllion e Paterson realizaram uma pesquisa em 79 indivíduos falecidos com Osteogenesis

Imperfecta com o objetivo de determinar a causa mortis. Foram excluídos os neonatos com a forma

letal perinatal (OI-II). Embora o número de pacientes mortos com OI seja muito pequeno para

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44

permitir uma comparação estatística formal com a população em geral, o trabalho mostra-se apto a

comparar os achados com a população em geral em termos de proporção de morte em cada caso4.

Dos pacientes que morreram de causa cardiovascular, o número com doenças coronarianas

foi provavelmente semelhante ao esperado para a população em geral, mas o número é muito

pequeno para qualquer análise formal. Nos dois pacientes com doença cardíaca cifoescoliótica é

provável que a OI foi o maior fator reconhecido. Embora problemas com as válvulas cardíacas,

particularmente incompetência aórtica e mitral, sejam reconhecidas na OI, apenas 1 doente

apresentou incompetência mitral que contribuiu para a morte. Quatro pacientes apresentaram

hemorragia intracraniana espontânea. Este número é, provavelmente, maior do que o esperado para

a população em geral. O aumento do risco para contusões e outros problemas hemorrágicos também

foi bem reconhecido em pacientes com OI, a causa mais significativa é reconhecidamente a

fragilidade vascular relacionada com os defeitos do colágeno4.

A importância da doença respiratória, particularmente na desordem severa (OI-III), é

enfatizada. Nestes pacientes, é provável que a deformidade torácica e a escoliose contribuíram para

a limitação da função respiratória. Em 2 casos, fraturas de múltiplas costelas foram pensadas como

tendo sido o fator causal. A OI também causou 6 mortes, direta ou indiretamente, por invaginação

basilar, levando a morte por compressão do centro respiratório4.

Pacientes com os tipos leves de OI, OI-I e OI-IV, praticamente apresentaram um tempo de

vida normal e morreram de doenças não relacionadas como infarto agudo do miocárdio e

malignidades. Em alguns pacientes deste grupo e pacientes com formas mais severas da doença

(OI-III), mostrou-se clara a contribuição da OI para a morte, principalmente para as mortes

causadas por doença respiratória e por falência cardíaca devidas à cifoescoliose4.

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45

CONCLUSÃO

A Osteogenesis Imperfecta (OI) é uma desordem hereditária do tecido conjuntivo

caracterizada por ossos frágeis e osteopenia, resultante de mutações nos genes que codificam as

cadeias de colágeno tipo I, a principal proteína da matriz extracelular dos ossos. A maior parte

ocorre por herança autossômica dominante. É uma doença heterogênea com diferentes

manifestações clínicas.

Foram identificadas diversas mutações moleculares que determinam alterações quantitativas

e qualitativas na molécula do colágeno tipo I. Estudos moleculares tiveram importantes aplicações

clínicas. Hoje estas técnicas contribuem para o diagnóstico e para o aconselhamento genético de

famílias afetadas.

Atualmente, não se dispõe de um tratamento eficaz para esta entidade. O manejo dos

pacientes é principalmente sintomático e inclui cirurgias corretivas de deformidades e o uso de

fármacos até agora disponíveis. Tratamento específico terá que ser direcionado para as mutações

peculiares de cada indivíduo, e parece distante o dia em que a terapia gênica poderá auxiliar estes

enfermos. Porém, este caminho está sendo trilhado principalmente fundamentado em novos estudos

moleculares.

Sem dúvida há muito a ser aprendido sobre a OI e sobre os fatores que correlacionam as

alterações genéticas e a apresentação clínica. A falta de uma relação clara entre o genótipo e

fenótipo em pacientes com mutações dominantes negativas, e a heterogenicidade das mutações

contribuem para a dificuldade e aplicabilidade de estratégias terapêuticas.

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46

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