945
8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc http://slidepdf.com/reader/full/outlander-03-a-viajante-diana-gabaldondoc 1/945 Traduzido e Revisado  pelo Grupo DianaGabaldon_Brasil http://br.groups.yahoo.com/group/dianagabaldon_brasil/  A !A"A#T$ 

Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    1/945

    Traduzido e Revisado

    pelo

    Grupo DianaGabaldon_Brasilhttp://br.groups.yahoo.com/group/dianagabaldon_brasil/

    A !A"A#T$

    http://br.groups.yahoo.com/group/dianagabaldon_brasil/http://br.groups.yahoo.com/group/dianagabaldon_brasil/
  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    2/945

    %R&'(G(

    Quando eu era pequena nunca queria pisar em poas. No porque temia

    molhar as meias ou pisar nos vermes afogados; era, em general, uma

    criatura suja, com uma bem aventurada indiferena para qualquer tipo

    de limpeza.

    Era porque no acreditava que aquele espelho liso s era uma pequeno

    espao de !gua sobre a terra slida. Estava persuadida de que era uma

    porta para algum espao insond!vel. "s vezes, ao ver as pequenas ondas

    provocadas por minha pro#imidade, pensava que a poa era profunda,

    um mar sem fundo no que se ocultavam a preguiosa espiral do tent!culo

    e o brilho da escama, com a ameaa de enormes corpos e dentes agudos $

    deriva, sem lentes, nas remotas profundidades.

    E ento, bai#ando os olhos ao refle#o, via minha prpria cara redonda e

    meu cabelo encaracolado numa e#tenso azul sem contornos, e pensava

    que a poa era a entrada a outro c%u. &e pisava cairia de imediato e

    seguiria caindo, mais e mais, no espao azul.

    & tinha um momento em que ousava caminhar atrav%s de uma poa' era

    no anoitecer, quando assomavam as estrelas vespertinas. &e ao olhar na

    !gua eu ver ali um ponto luminoso, ento podia pisar sem medo, pois se

    ca(a na poa e no espao poderia me agarrar a essa estrela, ao passar, eestaria segura.

    "inda agora, quando vejo uma poa em meu caminho, minha mente se

    det%m )ainda que meus p%s no o faam* e depois segue seu caminho,

    dei#ando atr!s s o eco do pensamento' E se esta vez eu cair+

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    3/945

    A batalha e os amores dos homens

    )A%*T+'( ,( ban-uete dos corvos

    l de abril de -/

    Estava morto. No entanto o nariz lhe palpitava dolorosamente, coisa que

    lhe era estranha, dadas as circunst0ncias. "inda que depositava uma

    consider!vel confiana no entendimento e a graa de seu 1riador,sentia

    culpa pelo que todos tememos a possibilidade do inferno. "inda assim,

    pelo que tinha ouvido falar sobre o inferno, parecia2lhe improv!vel que os

    tormentos reservados para seus infortunados habitantes pudessem

    restringir2se a uma dor de nariz.

    3or outra parte, aquilo no podia ser o c%u, tendo em conta v!rias coisas.

    3ara comear, ele no o merecia. 4amb%m no tinha pinta de ser. E

    duvidava de que uma fratura de nariz estivesse incluso entre as

    recompensas para os abenoados, e no para os condenados.

    5 quanto se tinha imaginado sempre o 3urgatrio como um lugar cinza,

    as vadias luzes avermelhadas que o ocultavam tudo lhe pareciamadequadas. Estava despejando um pouco na mente e voltava, com

    lentido, sua faculdade de racioc(nio. 6astante incomodado, disse a s( que

    algu%m deveria atend72lo e dizer2lhe e#atamente qual era sua sentena,

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    4/945

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    5/945

    que fora que estava usando como mo* para ver onde terminava agora o

    membro.

    " mo chocou com algo duro; os dedos se embaraaram em um cabelo

    ?mido e enredado. ncorporou2se bruscamente e, com algum esforo,rompeu a capa de sangue seco que lhe selava as p!lpebras. " memria

    voltou numa en#urrada, fazendo2lhe rosnar em voz alta. 4inha2se

    equivocado. Estava no inferno, sim. :as desgraadamente @ames Araser

    no estava morto, depois de tudo.

    4inha o corpo de um homem cruzado sobre o seu. 5 peso morto lhe

    achatava a perna esquerda, o qual e#plicava a aus7ncia de sensibilidade.

    " cabea, pesada como uma bala de canho, descansava de bruos sobre

    seu abdomem; o cabelo endurecido ca(a, escuro, sobre o leno molhado de

    sua camisa. ncorporou2se bruscamente, preso do p0nico; a cabea rodou

    com dificuldade at% o seu colo e um olho entreaberto olhou cegamente

    para acima, depois das protetoras mechas de cabelo.

    Era @acB 8andall; sua fina jaqueta vermelha de capito estava to

    escurecida pela umidade que parecia quase negra.@amie fez um lerdo

    esforo por afastar2se ao cad!ver, mas se descobriu assombrosamente

    fraco; sua mo se esticou debilmente contra o ombro de 8andall; o

    cotovelo do outro brao cedeu de s?bito quando tratou de apoiar2se.

    Estava outra vez tombado de costas, com o c%u cinza da nevasca

    vertiginosamente aglomerado no alto. " cabea de @acB 8andall se movia

    obscenamente em seu ventre, para acima e para bai#o, ao compasso deseu esforo.

    3ressionou com as mos o solo pantanoso )a !gua se elevou entre seus

    dedos, fria, empapando a parte posterior de sua camisa* e se retorceu

    para um lado. Enquanto se debatia no solo, lutando com os vincos

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    6/945

    enrugados de seu cobertor escoc7s, chegaram2lhe sons acima do uivar do

    vento de abril' gritos long(nquos e gemidos, como um reclamo de

    fantasmas no vento. E acima de tudo, o barilho grasnido dos corvos.

    9?zias de corvos, a julgar pelo ru(do."quilo era estranho, pensou difusamente. "s aves no voam com

    semelhante tormenta. 1om um esforo final, conseguiu liberar o cobertor

    de seu corpo e se cobriu com ele. "o esticar2se para cobrir as pernas viu

    que tinha a saia e a perna esquerda empapadas de sangue. 5 espet!culo

    no o afligiu; oferecia um mal vago interesse pelo contraste das manchas

    de cor vermelha escuro contra o verde acizentado do marasmo que o

    rodeava. 5s ecos da batalha se esfumaram de seus ouvidos e abandonou o

    campo de 1ulloden entre o reclamo dos corvos.

    "cordou muito depois ao ouvir chamar o seu nome'

    CAraserD@amie AraserD Est! aqui+

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    7/945

    m chapeado no solo pantanoso, uma cara ante ele, e a bem2vinda

    sensao de uma mo no ombro.

    CEst! vivoD Fem, :ac9onaldD Fem, me d7 uma mo. No poder!

    caminhar sozinho.Eram quatro. Gevantaram ele com bastante esforo; seus braos

    pendiam, inertes, sobre os ombros de EHan 1ameron e ain :ac2Iinnon.

    4eria preferido dizer2lhes que o dei#assem; ao acordar tinha recordado

    sua inteno de morrer. :as a doura daquela companhia era irresist(vel.

    5 descanso tinha devolvido a sensao de sua perna dormente, fazendo2

    lhe compreender a gravidade da ferida. 9e qualquer modo morreria

    cedo; graas a 9eus, no teria que o fazer s, na escurido.

    CJgua+ CNotou a borda da #(cara nos l!bios. ncorporou2se o suficiente

    para beber, com cuidado de no derramar a !gua. ma mo lhe oprimiu

    a testa durante um segundo e se retirou sem coment!rios.

    Estava ardendo; quando fechava os olhos podia sentir as chamas por tr!s

    deles. 5s arrepios acordavam os dem>nios que dormiam em sua perna.

    :urtagh. 4inha uma sensao horr(vel com respeito a seu padrinho, mas

    nenhuma recordao que lhe desse forma. :urtagh tinha morrido; sabia

    que assim foi, mas ignorava como ou por que o sabia. " metade do

    e#%rcito das 4erras "ltas tinha morrido, massacrado; ao menos, isso

    deduzia pelo que conversavam os homens no est!bulo, ainda que por sua

    vez no recordava a batalha. No era a primeira vez que combatia com

    um e#%rcito e sabia que essa perda de memria no era estranha entre ossoldados, ainda que nunca a tivesse e#perimentado pessoalmente.

    C4udo vai bem, @amie+ CEHan, ao seu lado, incorporou2se sobre um

    cotovelo, p!lida a cara preocupada $ luz da aurora. ma bandagem

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    8/945

    manchado de sangue lhe rodeava a cabea; tinha marcas enferrujadas na

    gola da camisa, pelo atrito de uma bala no couro cabeludo.

    C&im, eu me arranjo. Clanou uma mo para tocar EHan no ombro, em

    sinal de gratido. EHan lhe deu umas palmadas e voltou acostar2se.Quatro dos homens falavam bai#inho ao lado da ?nica janela.

    C4ratar de correr+ Cdisse um, assinalando para fora com uma

    cabeadaC. 3or 9eus, homem, o que melhor est! mal pode andar. E seis

    de ns no esto em condiKes de dar um passo.

    C&e podes fugir, faa Cdisse um homem do fundo. "ssinalou com uma

    careta sua prpria perna, envolvida nos restos de uma colcha maltrapilha

    C No fique por ns.

    9uncan :ac9onald se afastou da janela com um sorriso l?gubre,

    me#endo a cabea. " luz da janela recortava os rasgos rudes de seu rosto,

    acentuando as rugas da fadiga.

    CNo, esperaremos Cdisse C 3ara comear, os ingleses multiplicam2se

    como piolhos por aqui; da janela se v7 em bandos. Neste momento

    ningu%m poderia escapar inteiro de 9rumossie.

    CNem sequer os que fugiram ontem do campo de batalha podero

    chegar longe Cinterveio :acIinnon com suavidade C No ouviu as

    tropas inglesas que passavam pela noite, a marcha forada+ "credita que

    lhes custariam muito derrubar o nosso miser!vel grupo+

    "nte isso no teve resposta; todos a conheciam demasiado bem. "ntes da

    batalha j! eram muitos os escoceses que mal podiam manter2se em p%,debilitados como estavam pelo frio, a fadiga e a fome.

    @amie voltou a cara $ parede, rezando para que seus homens tivessem

    partido com tempo suficiente. GallLbroch estava muito longe; se

    conseguiam distanciar2se bastante de 1ulloden era improv!vel que os

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    9/945

    pegassem. No entanto, 1laire lhe tinha dito que as tropas de 1umberland

    assolariam as 4erras "ltas, adentrando2se muito por sua sede de

    vingana.

    Esta vez, ao pensar nela s sentiu uma onda de terr(vel nostalgia.9eus, t72la aqui, sentir suas mos curando minhas feridas, acolhendo2me a cabea

    em seu coloD :as ela se foi; estava a duzentos anos de dist0ncia... Mraas

    ao &enhorD "s l!grimas lhe gotejaram lentamente entre as p!lpebras

    fechadas.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    10/945

    "ssim foi. :al passado o meio dia da segunda jornada, uns p%s calados

    com botas se apro#imaram $ casa; a porta se abriu.

    C3or 9eus. CAoi uma e#clamao sufocada ante a cena que se via

    dentro da casa. " corrente de ar que entrou pela porta agitou o arfedorento dos corpos, esfarrapados e cobertos de sangue, estendidos ou

    encurvados no solo de terra aplainada.

    Ningu%m tinha mencionado a possibilidade de uma resist7ncia armada;

    no tinham 0nimos e seria in?til. 5s jacobitas ficaram sentados,

    esperando conhecer a vontade do visitante.

    Era um comandante, limpo e reluzente com seu uniforme passado e suas

    botas lustradas. 9epois de um momento de vacilao para vistoriar os

    habitantes, entrou seguido de perto por seu tenente.

    C&ou lorde :elton Cdisse olhando ao seu arredor, como se procurasse o

    l(der daqueles homens, a quem seria mais correto dirigir seus

    coment!rios.

    9uncan :ac9onald, depois de devolver2lhe a olhada, levantou2se com

    lentido e inclinou a cabea.

    C9uncan :ac9onald, de Mlen 8ichie CdisseC. E os outros Cfizeram

    um aceno com a moC, que faziam parte das foras de &ua :ajestade, o

    rei @acobo.

    Csso eu imaginava Cdisse o ingl7s seco. Era jovem, de uns trinta anos,

    mas tinha o porte e a segurana de um militar avezado. 5lhou

    deliberadamente aos homens, de um a um; depois afundou a mo em suajaqueta para pegar um papel enroladoC "qui tenho uma ordem de &ua

    E#celencia, o duque de 1umberlad CdisseC "utorizando a e#ecuo

    imediata de qualquer homem que tenha participado da traidora rebelio

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    11/945

    que acaba de terminar. C3ercorreu uma vez mais com a vista aos conf(ns

    da cabana C ! aqui algum que se proclame inocente da traio+

    4eve um lev(ssimo seguro de riso entre os escoceses. nocentes, com a

    fumaa da batalha ainda enegrecendo2lhes a cara+ "li, $ beira domatadouro+

    CNo,milord Cdisse :ac9onald com um ligeiro sorriso nos l!biosC.

    4raidores, todos. Fai ter que nos enforcar, no+

    :elton contraiu a cara numa pequena careta de desgosto; depois voltou a

    sua impasividade. Era um homem leviano, de ossos finos, apesar que

    levava bem a autoridade.

    CFamos fuzilar CdisseC Foces tem uma hora para prepara2los. C

    Facilando, olhou ao seu tenente, como se temesse parecer muito generoso

    ante o subordinado, mas continuouO' &e algum de voc7s deseja escrever

    uma carta, vir! o escrevente de minha 1ompanhia.

    9epois de saudar brevemente ao :ac9onald com a cabea, girou sobre

    seus calcanhares e se retirou.

    Aoi uma hora l?gubre. ns poucos aproveitaram do oferecimento de

    pluma e tinta. 5utros oravam em sil7ncio ou se limitavam a esperar, sem

    levantar2se.

    :ac9onald tinha implorado misericrdia para Miles :c:ar2tin e

    AredericB :urraL, argumentando que mal tinham dezessete anos e que

    no podiam ser castigados igual aos seus maiores.

    " solicitao foi negada; os moos permaneciam sentados com as costascontra a parede, p!lidos e tomados pelas mos.

    @amie sentiu um profundo pesar por eles... e pelos outros que estavam ali,

    amigos leais e soldados valentes. 3or ele s e#perimentava al(vio. Essa

    mis%ria f(sica estava a ponto de terminar.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    12/945

    :ais por salvar as formas que por necessidade, fechou os olhos para rezar

    o "to de 1ontrio em franc7s, como sempre o fazia'

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    13/945

    Quando chegou a vez de EHan, @amie esforou2se para incorporar2se

    sobre os cotovelos e lhe estreitou a mo com tanta fora como p>de.

    C1edo voltaremos a nos ver Csussurrou.

    EHan 1ameron tremia a mo mas se limitou a sorrir. 9epois se inclinoupara beijar a mo de @amie na boca e saiu.

    Aicavam os seis que no podiam caminhar.

    C@ames "le#ander :alcolm :acIenzie Araser Cdisse ele com lentido

    para que o escrivente tivesse tempo de anot!2lo bemC &enhor de 6roch

    4uarach. C&oletrou com paci7ncia; depois levantou os olhos para

    :elton.

    C9evo pedir milord, a cortesia de me ajudar a p>r2me em p%.

    :elton, em vez de responder2lhe, olhava2o fi#amente; sua e#presso de

    remoto desgosto tinha dado passo a uma mistura de assombro e de algo

    parecido ao horror.

    CAraser+ CrepetiuC 9e 6roch 4uarach+

    CEsse sou eu Cconfirmou @amie com paci7ncia. No se daria um pouco

    de pressa aquele homem+ ma coisa era resignar2se a ser fuzilado e outra

    muito diferente era escutar matando aos teus amigos; aquilo no

    acalmava os nervos, precisamente.

    C3or todos os diabos Cmurmurou o ingl7s. nclinou2se para olhar bem a

    @amie, que jazia $ sombra da parede. 9epois fez uma sinal ao seu tenente.

    C"juda2me a lev!2lo $ luz Cordenou.

    No o fizeram com suavidade; @amie grunhiu durante o trajeto, que lheprovocou um raio de dor desde a perna esquerda at% a coronilha.

    "turdido, no escutou o que :elton lhe estava dizendo.

    C Foce % o jacobita que chamam de @amie o 8uivo+ Cperguntou outra

    vez, com impaci7ncia.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    14/945

    "quilo provocou um rel0mpago de medo em @amie; que se tomassem

    conhecimento de que era o conhecido @amie o 8uivo no o fuzilariam. 5

    levariam " Gondres para julg!2lo, encadeado, como botim de guerra.

    9epois, com a corda do carrasco $ jazer no cadafalso, at% que lheabrissem o ventre e lhe arrancassem as entranhas. &uas barrigas e#peliu

    outro estrondo longo e ressonante; a elas tamb%m no lhe agradava a

    id%ia.

    CNo Cdisse com tanta firmeza como p>de reunirC Famos terminar de

    uma vez+

    :elton, sem prestar ateno, dei#ou ele cair sobre os joelhos para rasgar

    a gola da camisa. 9epois pegou o @amie pelo cabelo e lhe jogou a cabea

    para atr!s.

    C:aldioD Cdisse, fincando2lhe um dedo acima da clav(cula. "li tinha

    uma pequena cicatriz triangular, que parecia ser a causa da preocupao

    de seu interrogador.

    C@ames Araser, de 6roch 4uarach; cabelo ruivo e uma cicatriz de tr7s

    cent(metros no pescoo. C:elton lhe soltou o cabelo e se sentou sobre os

    calcanhares, esfregando o quei#o com ar distra(do. 9epois, j! tomada a

    deciso, voltou2se para o tenente e fez sinal com um gesto aos cinco

    homens que restavam na cabana.

    CGevem os demais Cordenou. 4inha as loiras sobrancelhas unidas numa

    profunda ruga. &e ergueu ante @amie enquanto levavam os outros

    prisioneiros escoceses.C4enho que pensar CmurmurouC :aldita seja tenho que pensarD

    CAaa se podes Cdisse @amieC 3or minha parte, preciso encostar2me.

    C4inham o erguido e tinha as costas apoiadas na parede mais afastada e

    as pernas esticadas, mas aquela posio era mais do que podia suportar

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    15/945

    depois de ter estado dois dias estendido de costas. nclinou2se para um

    lado para deslizar2se para o solo.

    :elton murmurava bai#o e @amie no chegou a distinguir as palavras; de

    todas formas, no lhe interessavam muito. "ssim, sentado $ luz do sol,tinha2se visto a perna com clareza pela primeira vez; estava quase seguro

    de que no viveria o suficiente para que o enforcassem.

    5 vermelho intenso da inflamao se estendia desde a metade da co#a

    para acima, bem mais vis(vel do que as manchas de sangue seco. " ferida

    em si estava purulenta; como j! tinha diminu(do o fedor dos outros

    homens, era2lhe poss(vel perceber o cheiro enjoativo do pus. 9e qualquer

    modo, uma r!pida bala na cabea parecia mil vezes prefer(vel $ dor e ao

    del(rio da morte causada pela infeco. "dormeceu, com a terra fresca

    sob a bochecha ardente, fresca e reconfortante como o peito de uma me.

    No estava realmente dormindo, seno sonolento pela febre, mas a voz de

    :elton em seu ouvido lhe despertou bruscamente.

    CMreL Cdisse a vozC @ohn Pilliam MreLD 8ecordas esse nome+

    CNo Cdisse ele, desorientado pelo sonho e a febreC 5lha,vai me matar

    ou no+ Estou enfermo.

    C3erto de 1arrLarricB. C" voz de :elton o incitava com impaci7nciaC

    m jovenzinho, um moo loiro de uns dezesseis anos. Encontrou ele no

    bosque. @amie olhou para o seu torturador. " febre lhe distorcia a viso,

    mas lhe pareceu ver algo vagamente familiar naquele rosto de finos ossos

    e olhos grandes, quase de menina.C"h Cdisse resgatando uma cara de entre as torrentes imagens que se

    aglomerava erraticamente em seu c%rebroC o mocinho que queria me

    matar. &im, eu recordo.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    16/945

    Aechou os olhos outra vez. 9evido $ febre, uma sensao parecia fundir2se

    com outra. ma vez tinha quebrado o brao de @ohn Pilliam MreL; a

    recordao do delicado osso sob sua mo se converteu no antebrao de

    1laire, ao arranc!2la entre as pedras. " brisa fresca e brumosa lheacariciou a cara como os dedos de 1laire.

    C 9esperta, maldito sejasD C " cabea lhe balanou sobre o pescoo.

    :elton o sacudia com impaci7ncia.2Escuta2meD

    @amie abriu os olhos, fatigado.

    C&im+

    C@ohn Pilliam MreL % meu irmo Cdisse :eltonC. Ele me falou de seu

    encontro contigo. Foce perdou2lhe a vida e ele te fez uma promessa.

    verdadeiro+

    1om grande esforo, @amie dei#ou seus pensamentos para tr!s. 4inha

    encontrado o menino dois dias antes da primeira batalha da rebelio, a

    vitria escocesa de 3restonpans. 5s seis meses decorridos desde ento

    pareciam um vasto abismo, pelas muitas coisas que tinham sucedido

    naquele tempo.

    C:e 8ecordo, sim. 3rometeu matar2me. No me incomodaria que o

    fizesses por ele.

    Estavam caindo as p!lpebras. 4inha que permanecer desperto para que o

    fuzilassem+

    C9isse que tinha uma d(vida de honra contigo. E % verdadeiro. C:elton

    se levantou, sacudindo as joelheiras das calas de montar, e se voltou parao tenente que observava o interrogatrio com evidente desconcerto.

    CQue situao desgraada, Pallace. Este... este jacobita % famoso. No

    ouviu falar de @amie o 8uivo+ " figura nos cartazes+

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    17/945

    5 tenente assentiu, olhando com curiosidade a silhueta desalinhada que

    jazia sobre o p, a seus p%s. :elton sorriu com amargura.

    CNo, agora no parece to perigoso, no %+ :as ainda assim % o 8uivo

    @amie Araser. " sua pessoa lhe causaria bons gozos, informando de quetemos um prisioneiro to ilustre. "inda no acharam o 1arlos &tuart, mas

    quantos jacobitas conhecidos sero igualmente gratos para as multidKes

    de 4oHer ill.

    C9evo enviar uma mensagem a seu respeito+ C5 tenente alongou a mo

    para a cai#a das mensagens.

    C NoD R :elton virou de costas fulminando com o olhar seu prisioneiro

    R "( est! o problemaD "pesar de ser e#celente carne de priso, esta ru(na

    malcheirosa % tamb%m o homem que capturou o menor de meus irmos,

    preto de 3reston, e em v7s de mat!2lo, que ra o que ele merecia, lhe

    poupou a vida e o devolveu a seus companheiros. 9esse modo R falou

    entre dentes R minha fam(lia contraiu uma maldita d(vida de honra.

    2 :eu deus R disse o tenente R "ssim, no podeis entreg!2lo a &ua "lteza,

    depois de tudo.

    2No, maldito sejaD No posso sequer fuzilar a esse cretino sem faltar ao

    juramento de meu irmoD

    5 prisioneiro abriu um olho.

    23ode faltar com ele; no lhe direi nada R sugeriu. E voltou a fech!2lo

    rapidamente.

    21ale2seD R @! tendo perdido completamente a calma, :elton chutou oprisioneiro, que lanou um gemido diante do impacto, por%m no disse

    mais nada.

    23oder(amos fuzil!2lo com um nome falso R sugeriu o tenente numa

    tentativa de ajudar.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    18/945

    Gord :elton lanou ao seu assistente um olhar fulminante de desd%m.

    Gogo deu uma olhada pela janela para calcular a hora.

    29entro de tr7s horas ter! escurecido. &upervisionarei o enterro dos

    outros e#ecutados. 6usca2me uma carroa pequena e cheia de feno.1onsegue um carroceiro. Escolhe uma pessoa discreta, Pallace,

    e...suborn!vel. Quero que esteja aqui com o ve(culo enquanto escurece.

    2&im, senhor. Eh.... &enhor+ Que faremos com o prisioneiro+ R 5 tenente

    sinalizou com timidez o corpo estendido no cho.

    2 1arroa+ R 5 prisioneiro mostrava sinais de vida. 9e fato, diante do

    est(mulo da agitao havia conseguido apoiar2se sobre um cotovelo R 3ara

    onde me envias+

    :elton se virou diante da porta com um profundo olhar de desgosto.

    2s o senhor de 6roch 4uarach, no+ 6om, pois pra l! te envio.

    2:as eu no quero ir para casaD Quero que me fuzileD

    5s ingleses se entreolharam.

    29elira R disse o subordinado.

    :elton assentiu.

    29uvido que sobreviva $ viajem, por%m ao menos sua morte no cair!

    sobre a minha consci7ncia.

    " porta se fechou com firmeza atr!s dos ingleses, dei#ando a @amie

    Araser muito s... e com vida.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    19/945

    $ !#!)!A A B+)A

    )A%*T+'(

    nvemess

    S de maio de -TU

    C 1laro que morreuD C" voz de 1laire soava !spera pela agitao e

    retumbava com fora no estudo m%dio esvaziamento, produzindo ecos

    entre as prateleiras cheias de livros revirados. Estava apoiada na parede

    revestida de cortia, como uma prisioneira que esperasse ao peloto de

    fuzilamento, olhando alternativamente a sua filha e a 8oger PaBef(eld.

    CNo creio.C 8oger se sentia terrivelmente cansado. 9epois de esfregar

    a cara com uma mo, recolheu uma pasta da escrivaninha que continha

    toda a investigao que tinha feito desde que 1laire e sua filha lhe

    pediram ajuda, tr7s semanas atr!s.

    Aolheou lentamente o conte?do. 5s jacobitas de 1ulloden. 5

    Gevantamento de -/V. 5s valentes escoceses que se tinham agrupado sob

    o estandarte de 1arlos &tuart, o 6onnie 3rince, atravessando Esccia

    como uma espada flamejante... s para cair na ru(na e na derrota contra

    o duque de 1umberland, no p!ramo cinza de 1ulloden.C4oma Cdisse retirando v!rias p!ginas juntas. " arcaica escritura

    parecia estranha na nitidez do #ero#C "qui tem o contra2cheque do

    regimento de Govat.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    20/945

    Estendeu as folhas a 1laire, mas foi 6rianna, sua filha, quem as pegou

    voltando as p!ginas, com uma leve ruga entre as sobrancelhas ruivas.

    CG7 este encabeamento Cdisse 8ogerC. 5nde diz

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    21/945

    C&abia que no eram muitas as possibilidades de escapar; se fosse pego

    pelos ingleses..., disse que preferia morrer em combate. Essa era sua

    inteno. CFoltou2se para 8oger; seus olhos ambarinos eram

    inquietantes. 3areciam olhos de falo, como se ela pudesse ver bem maislonge do que a maioriaC No posso crer que no morreu ali. :orreram

    tantos...D E ele queriaD

    Quase a metade do e#%rcito das 4erras "ltas tinha morrido em 1ulloden,

    derrubados por uma rajada dos canhKes e fogo dos mosquetes. :as @amie

    Araser, no.

    CNo Cdisse 8oger com obstinaoC. Esse fragmento do livro de

    GinBlater que eu li... C"longou a mo para um volume branco, titulado

    5 pr(ncipe do rzal C.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    22/945

    9uncan nem 6aLard. 3or que+ C4irou outro papel da pasta para abanar

    quase triunfalmenteC 3orque todos eles morreram em 1ullodenD 5s

    quatro foram e#ecutados no campo; seus nomes aparecem numa placa da

    igreja de 6eaulL.1laire dei#ou escapar um longo suspiro; depois se instalou no velho

    cadeiro de couro, por tr!s da escrivaninha.

    C@esus bendito Cdisse. nclinou2se para frente com os olhos fechados,

    apoiando os cotovelos na escrivaninha, e escondeu a cabea entre as

    mos; o cabelo castanho, denso e encaracolado, caiu ocultando2lhe a cara.

    6rianna lhe p>s uma mo nas costas, preocupada. Era uma moa alta, de

    ossos grandes, e sua longa cabeleira ruiva cintilava $ luz c!lida do lustre.

    C&e no morreu... Ccomeou vacilando.

    1laire levantou bruscamente a cabea.

    C:orreu, com certezaD Cdisse. 4inha a cara tensa, com pequenas rugas

    vis(veis arredor dos olhosC. 3or 9eus, passaram duzentos anos. 4enha

    morto em 1ulloden ou no, j! no e#isteD

    "nte a veem7ncia de sua me, 6rianna deu um passo atr!s, bai#ando a

    cabea; o cabelo ruivo, como o de seu pai, ficou pendurando junto $

    bochecha.

    C&uponho que sim Csussurrou.

    8oger notou que estava contendo as l!grimas. 4inha uma e#plicao' se

    inteirar em to pouco tempo de que, primeiro, o homem ao que tinhaamado e chamado

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    23/945

    maneira horr(vel,longe da esposa e da filha por quem se tinha sacrificado,

    isso disquicia qualquer um, pensou 8oger.

    1ercou a 6rianna para tocar2lhe o brao. Ela o olhou tratando de sorrir e

    8oger a rodeou em seus braos.1laire seguia sentada ante a escrivaninha, imvel. 5s dourados olhos de

    falo tinham agora uma cor mais suave, pela lonjura da recordao.

    9escansavam olhando sem ver a parede oriental do estudo, ainda coberta

    desde o cho at% o teto de notas e memorandos dei#ados pelo reverendo

    PaBefield, o defunto pai adotivo de 8oger.

    5 historiador pigarreou um pouco.

    CEh... &e @amie Araser no morreu em 1ulloden... Cdisse.

    C prov!vel que morresse muito pouco depois. C 1laire o olhou

    diretamente aos olhos; a serenidade tinha voltado a seus olhos dourados

    C. Foce no tem id%ia do que foi aquilo. Nas 4erras "ltas tinha fome; os

    homens que foram $ batalha levavam v!rios dias sem comer. Ele estava

    ferido; isso sabemos. "inda se escapou, no tinha ningu%m... ningu%m que

    o atendesse. C" voz se lhe rompeu ao diz72lo; na atualidade era m%dica;

    por aquele ento, vinte anos antes, ao sair do c(rculo de pedras para

    encontrar seu destino junto a @ames Araser, era curandeira.

    8oger era muito consciente das duas presenas' a moa alta e tr7mula

    que tinha entre os braos e a mulher da escrivaninha, to quieta e serena.

    4inha viajado atrav%s das pedras, atrav%s do tempo; foi suspeita de

    espionagem, presa por bru#aria, arrebatada, por umas inconceb(veisestranhas circunst0ncias, dos braos de AranB 8andall, seu primeiro

    esposo. E tr7s anos depois @ames Araser, seu segundo esposo, tinha

    enviado2a novamente atrav%s das pedras, gestante, num desesperado

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    24/945

    esforo por salv!2la, e salvar a criana que ia nascer, do iminente desastre

    que cedo sucederia.

    &em d?vida alguma, pensou, a mulher tinha passado por muitas coisas.

    :as 8oger era historiador. 4inha a curiosidade insaci!vel e amoral doerudito demasiado potente para dei#ar2se restringir pela simples

    compai#o.

    C&e no morreu em 1ulloden Cseguiu com firmezaC, talvez eu possa

    averiguar que lhe sucedeu. Quer que eu tente+

    Esperou, sem alento, notando atrav%s da camisa a c!lida respirao de

    6rianna.

    @amie Araser tinha tido uma vida e uma morte. 8oger se sentia

    escuramente obrigado a averiguar toda a verdade; as mulheres de @amie

    mereciam saber tudo o poss(vel sobre ele. 3ara 6rianna, esse

    conhecimento era tudo o que poderia ter do pai ao que nunca tinha

    conhecido. E para 1laire... 3or tr!s da pergunta que tinha formulado

    estava a id%ia que, obviamente, ela no tinha captado, aturdida como

    estava ainda pela impresso' j! tinha cruzado duas vezes a barreira do

    tempo. Era poss(vel que o fizesse outra vez. E se @amie Araser no tinha

    morrido em 1ulloden...

    Fiu que o pensamento chuviscava no 0mbar turvo de seus olhos. Ela

    passou longo momento sem falar. &ua vista permaneceu fi#a em 6rianna

    por um instante. 9epois voltou $ cara de 8oger.

    C&im Cdisse com um sussurro to suave que mal p>de escut!2laC. &im,"verigua, por favor. "verigua.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    25/945

    0ranca e %lena Revela12o

    )A%*T+'( 3

    !nverness

    4 de maio de ,456

    " ponte sobre o rio Ness tinha um denso tr0nsito para pedestres, muita

    gente voltava a sua casa para tomar o ch!. 8oger caminhava diante de

    mim, protegendo2me dos empurrKes com seus largos ombros.

    :e palpitava com fora o corao a capa r(gida do livro que eu levava

    apertado contra o peito. "ssim era cada vez que me detinha ao pensar no

    que estava fazendo. No estava segura de qual das duas alternativas era

    pior' descobrir que @amie tinha morrido em 1ulloden ou descobrir que

    tinha sobrevivido.

    "s t!buas da ponte soavam num eco sob nossos p%s enquanto volt!vamos

    ao casaro. 9o(am2me os braos pelo peso dos livros que levava; passava

    de um lado ao outro.

    C1uidado, homemD Cgritou 8oger apartando2me com destreza de um

    trabalhador que, montado numa bicicleta, tinha2se lanado pela ponte e

    esteve a ponto de atirar2me contra o bala?stre.C3erdoD Cfoi seu grito de desculpa. E o ciclista sacudiu a mo acima do

    ombro, enquanto a bicicleta ia em encontro a dois grupos escolares que

    voltavam para casa. 5lhei para tr!s para ver se via a 6rianna, mas no

    tinha sinais dela.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    26/945

    8oger e eu t(nhamos passado a tarde numa 8eunio para 1onservao de

    "ntigYidades e 6rianna tinha ido ao escritrio de 1ls das 4erras "ltas

    para fazer #ero# de uma lista de documentos recopilados por 8oger.

    C muito am!vel em dar2se o trabalho, 8oger Cdisse elevando a vozpara me ouvir acima do ru(do da ponte e o rumor do rio.

    CNo % nada Cdisse. 9eteve2se esperando que eu o alcanasse C &ou

    curioso Cadicionou com um ligeiro sorriso. C @! sabe como so os

    historiadores' no podemos dei#ar passar uma charada.

    E sacudiu a cabea para afastar o cabelo escuro dos olhos, revolto pelo

    vento, sem utilizar as mos.

    Eu sabia como eram os historiadores; tinha convivido com um durante

    vinte anos. AranB tamb%m no teria dei#ado passar aquela charada, mas

    tamb%m no esteve disposto a solucion!2lo. 9e qualquer modo, AranB

    tinha morrido dois anos atr!s e agora tinha chegado a mim vez e a de

    6rianna.

    C4eve not(cias do doutor GinBlater+ Cperguntei enquanto desc(amos

    pelo arco da ponte. "pesar de tarde, o sol ainda estava alto naquela zona

    to setentrional.

    8oger sacudiu a cabea, entornando os olhos para proteg72los do vento.

    CNo, faz apenas uma semana que lhe escrevi. &e no receber not(cias

    suas at% segunda2feira, eu telefonarei. No se preocupe. C&orriu. C Aui

    muito circunspecto. & lhe disse que, para um estudo que eu estava

    realizando, precisava de uma lista, se e#istia alguma, dos oficiais jacobitasque estiveram no est!bulo de Geianach depois de 1ulloden. E lhe pedi

    que, se e#iste alguma informao quanto ao sobrevivente daquela

    e#ecuo, me remetesse $s fontes originais.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    27/945

    C1onhece pessoalmente o GinBlater+ Cperguntei apoiando os livros no

    quadril para aliviar o brao esquerdo.

    CNo, mas lhe escrevi com um lembrete do 6alliol 1o2llege e fiz uma

    sutil referencia ao senhor 1heeseHright, meu antigo mentor; ele simconhece o GinBlater. C8oger me piscou um olho reconfortantemente e eu

    ri.

    9e novo no estudo do defunto reverendo PaBefield, depositei minha

    braada de livros na mesa e, aliviada, dei#ei2me cair no cadeiro, junto a

    lareira, enquanto 8oger ia $ cozinha a procura de um refrigerante.

    Enquanto minha respirao se acalmava; meu pulso, em mudana, seguia

    sendo inconstante. 1ontemplei a imponente pilha de livros que t(nhamos

    trazido. "pareceria @amie em algum deles+ E nesse caso...

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    28/945

    aqueles livros referidos ao 6onnie 3rince, aquele jovem terr(vel e f?til,

    nem sobre seus seguidores.

    C1ompreendo. & me ocorreu que poderia saber se tinha aqui algo ?til.

    C8oger fez uma pausa; o rubor se acentuou em seus pmulos. C 4eu...eh... teu marido... AranB, quero dizer C acrescentou precipitadamenteC

    Ghe disse... hum... o de...+ CAalhou sua voz, sufocada pelo rubor.

    C1laroD Crespondi com asperezaC. Que pensas+ 9epois de tr7s anos

    afastada de casa, no era questo de entrar em seu escritrio dizendo'

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    29/945

    CNo. "o princ(pio, no. "chava que eu estava louca. "t% me fez visitar

    um psiquiatra. C&oltei um riso breve, mas a recordao me fez apertar

    os punhos com f?ria.

    CE depois+ C8oger se voltou para mim. 5 rubor tinha desaparecido,dei#ando s um eco de curiosidade nos olhosC 5 que pensou+

    respirei fundo, fechando os olhos.

    CNo sei.

    ( pe-ueno hospital de !nverness tinha um cheiro estranho7 como a

    desin8etante e algod2o.

    #2o podia pensar e tratava de n2o sentir. A volta era bem mais aterrorizador

    do -ue minha e9pedi12o ao passado7 pois ali tinha protegido a capa da

    dvida e incredulidade -uanto a onde me encontrava e da; estava

    sucedendo< al=m do mais7 tinha vivido com a esperan1a constante de

    escapar. Agora sabia muito bem onde estava e tinha a certeza de -ue n2o

    tinha maneira de escapar. "amie tinha morrido.

    (s m=dicos e as en8ermeiras me tratavam com amabilidade< davam>me de

    comer e me traziam bebidas7 mas em mim s? tinha espa1o para a pena e o

    terror. Tinha>lhes dito meu nome7 mas n2o -uis 8alar mais.

    $stendida na cama branca e limpa7 mantinha os dedos apertados sobre meu

    ventre vulner@vel e os olhos 8echados. Recordava uma e mais uma vez as

    ltimas coisas -ue tinha visto antes de cruzar entre as pedras o p@ramo

    chuvoso e a cara de "amie7 sabendo -ue7 se olhasse muito tempo o novo

    ambiente -ue me rodeava7 a-uelas imagens se desvaneceriam7 substitu;daspor coisas mundanas: as en8ermeiras7 o ramo de 8lores Cunto a minha

    cama... Disimuladamente7 apertava um polegar contra a base do outro7

    achando um pe-ueno consolo na 8erida -ue tinha ali7 um pe-ueno corte

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    30/945

    com 8orma de ". ue "amie tinha 8eito e ele pediu a minha: o ltimo de

    seus contatos em minha carne.

    Devia ter permanecido algum tempo assim< Es vezes dormia7 sonhando com

    os ltimos dias do 'evantamento "acobita< revia o morto no bos-ue7dormido sob um cobertor de 8ungos muito azuis7 e A Dougal Facenzie7

    agonizando no solo de um desv2o7 na casa )ulloden7 e aos homens

    es8arrapados do e9=rcito das Terras Altas7 dormindo nas valas lodosas7 o

    ltimo descanso antes da matan1a.

    %or 8im abri os olhos. 0ranH estava ali7 no v2o da porta7 alisando o cabelo

    com uma m2o. $u o via desconcertado... e n2o era de estranhar7 pobre

    homem.

    Fe recostei nos travesseiros7 observando>o sem 8alar. %arecia com seus

    antepassados7 "acH e Ale9 Randall: 8ei1Ies n;tidas e aristocr@ticas7 cabe1a

    bem 8ormada sob o cabelo abundante7 escuro e escorrido. #o entanto7 em

    sua cara tinha uma di8eren1a inde8inivel com respeito a eles7 al=m da leve

    di8eren1a de 8ei1Ies. #ele n2o e9istia a marca do medo nem da crueldadela. Apertava>me a m2o

    com tanta 8or1a -ue a retirei7 8azendo uma careta.

    K( -ue -ueres dizerL Kperguntou com voz @spera.K (nde esteve7 )laireL

    K'evantou>se subitamente7 erguendo>se Cunto E cama.

    K'embra -ue a ltima vez em -ue me viu eu ia ao c;rculo de pedras de

    )raigh na DunLKimL K(lhava>me com uma mistura de raiva e descon8ian1a.

    KBom... Kpassei a l;ngua pelos l@bios< estavam muito secos.K A verdade =

    -ue7 nesse c;rculo7 entrei numa pedra 8endida e terminei em ,OP3.

    K#2o se 8a1a de palha1a7 )laireQ

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    32/945

    K%ensa -ue = uma piadaL KA id=ia era t2o absurda -ue me Coguei a rir7

    ainda -ue me sentia muito longe de tomar>me as coisas com humor.

    K)hegaQ

    Dei9ei de rir. )omo por arte de magia duas en8ermeiras apareceram naporta< deviam de ter estado espreitando no corredor. 0ranH se inclinou para

    apertar o meu bra1o.

    K$scuta Kdisse entre dentes.K uero -ue me diga onde esteve e o -ue

    tens 8eito.

    K$stou te dizendo. Fe oltaQ K!ncorporei>me na cama e soltei meu bra1o.

    K "@ te disse: cruzei uma pedra e acabei duzentos anos atr@s. $ ali conheci

    o teu maldito antepassado "acH Randall.

    0ranH piscou7 completamente desconcertado.

    KuemL

    "acH Randall7 o BlacH "acH. $ era um pervertido7 suCo e as-uerosoQ

    0ranH tinha 8icado bo-uiabierto7 igual as en8ermeiras. (uvi passos -ue

    vinham pelo corredor7 depois delas7 e vozes apressadas.

    KTive -ue me casar com "amie 0raser para escapar de "acH Randall7 mas

    depois... "amie... #2o o pude evitar7 0ranH< me apai9onei por ele e teria

    8icado ao seu lado se tivesse podido. Fas ele me enviou de volta por causa

    de )ulloden e pelo bebM7 e... KFe interromp;< um m=dico com bata cruzou

    a porta7 a8astando Es en8ermeiras.

    K$u sinto muito7 0ranH K eu disse 8atigada.K #2o -ueria -ue passasse

    tudo isso. 0iz o poss;vel para voltar7 de verdade7 mas n2o pude. $ agora =muito tarde.

    )ontra minha vontade7 as l@grimas se acumularam em meus olhos e

    come1aram a rolar pelas bochechas. uase todas por "amie7 por mim

    mesma e pelo 8ilho -ue esperava7 mas tamb=m algumas por 0ranH. orvi

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    33/945

    pelo nariz7 engulindo com 8or1a7 numa tentativa de me conter7 e me ergui na

    cama.

    KeCa K eu disseK7 sei -ue n2o -ueres saber nada mais de mim e n2o te

    critico. implesmente... vai emboraLTinha mudado de cara. "@ n2o parecia aborrecido7 sen2o in-uieto e algo

    desconcertado. entou>se Cunto E cama7 sem prestar aten12o ao m=dico7 -ue

    tinha entrado e procurava o meu pulso.

    K#2o vou Kdisse com muita suavidade. $ voltou a pegar>me a m2o7 ainda

    -ue eu tratava de retir@>la.K $sse tal... "amie. uem eraL

    Respirei 8undo e entrecortadamente.

    K"ames Ale9ander Falcolm Facenzie 0raser Kdisse espa1ando as

    palavras com 8ormalidade7 tal como as tinha pronunciado "amie a primeira

    vez -ue me disse seu nome completo...7 no dia de nosso casamento. A id=ia

    me trou9e novas l@grimas< mas se-uei com o ombro7 pois n2o dispunha das

    m2os.

    K$ra um escocMs das Terras Altas. ( ma...mataram... em )ulloden.

    #2o serviu de nada: estava chorando outra vez< as l@grimas n2o

    constitu;am um calmante para a dor -ue me destro1ava7 sen2o a nica

    rea12o poss;vel ante um so8rimento insuport@vel. !nclinei>me um pouco

    para 8rente7 tratando de envolver a-uela pe-uena e impercept;vel vida -ue

    tinha no ventre7 o nico -ue 8icava de "amie 0raser.

    0ranH e o m=dico trocaram olhares do -uanto parecia -ue eu estava mal.

    %ara eles7 naturalmente7 )ulloden 8azia parte de um passado remoto. %aramim tinha acontecido mal dois dias antes.

    KDever;amos dei9ar -ue a senhora Randall descansasse um pouco K

    sugeriu o m=dicoK. #este momento parece estar um pouco alterada.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    34/945

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    35/945

    8oger tomou um gole e se sentou ao seu lado, absorvendo sua bebida em

    sil7ncio.

    CAiz para ele ir embora, sabe+ Cdisse ela bai#ando o copoC. Eu disse

    que compreenderia se seus sentimentos por mim tinham mudado,acreditando ou no. 5fereci o divrcio; que se fosse, que me esquecesse,

    que reiniciasse a vida que tinha comeado a construir sem mim.

    CE ele no quis Cdisse 8oger. "o descer o sol, comeava a fazer frio no

    estudio. "gachou2se para acender a antiga estufa el%trica.C 3or tua

    gravidez+ C"divinhou.

    1laire lhe deu uma r!pida olhada. 9epois sorriu com ironia.

    Csso. 9isse que s um canalha era capaz de abandonar uma mulher

    gr!vida e sem recursos. &obretudo se sua viso da realidade parecia algo

    t7nue Cacrescentou risonhaC. Eu no estava sem recursos, tinha um

    pouco de dinheiro de meu tio Gamb. :as AranB tamb%m no era um

    canalha.

    &eus olhos se desviaram at% as estantes de livros. "li estavam as obras

    histricas de seu marido, com os lombos cintilantes $ luz do lustre.

    CEra um homem muito decente Cconcluiu com suavidade. E tomou um

    gole mais, fechando os olhos ao subir dos vapores alcolicosC. "inda

    mais, sabia ou suspeitava que no podia ter filhos. m verdadeiro golpe

    para um homem to dedicado $ histria e $s genealogias. 1om todas essas

    id%ias din!sticas, no+

    C&im, compreendo Cdisse 8oger com lentidoC. :as no sentia...+ sto%..., o filho de outro homem...

    C4alvez. C5s olhos de 0mbar voltaram a olh!2lo, algo amaciados pelo

    HhisBL e as reminisc7ncias.C :as como no sentia, nem podia crer em

    nada do que eu dissesse sobre @amie, essencialmente a criana seria filho

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    36/945

    de pai desconhecido. &e ele ignorava quem era esse homem )e se

    convenceu de que eu tamb%m no sabia, de que tinha inventado essas

    alucinaKes por efeito do choque traum!tico*, ento ningu%m diria que a

    criana no era sua. Eu no Cacrescentou com uma dei#a de amargura.4omou um grande gole do HhisBL, que a fez lacrimejar um pouco, e

    en#ugou os olhos.

    C:as a verdade % que me levou longe. " 6oston. 4inham2lhe oferecido

    um bom posto em arvard onde ningu%m nos conhecia. "li nasceu

    6rianna.

    ( choro nervoso me acordou mais uma vez. Tinha voltado E cama Es seis e

    meia7 depois de levantar>me cinco vezes pela noite para atender E menina.

    +ma lenta olhada ao rel?gio me revelou -ue eram sete horas. %elo banheiro

    surgia uma alegre can12o: a voz de 0ranH se elevava em SRule7 Britannia7

    acima do ru;do da @gua corrente.

    %ermaneci na cama7 com os membros pesados pelo esgotamento7

    perguntando>me se teria 8or1as necess@rias para suportar o pranto at= -ue

    0ranH sa;sse do chuveiro e me trou9esse a Brianna. Fas o pranto subiu de

    tom e se converteu num grito.

    )ruzei pesadamente o corredor gelado at= o -uarto do nenM. Brianna7 de

    trMs meses7 estava estendida de costas7 gritando a pleno pulm2o. Aturdida

    pela 8alta de sonho7 demorei um momento ao recordar -ue a tinha dei9ado

    de bru1os.

    KueridaQ oce se virou sozinhaQ KAterrorizada por sua aud@cia7Brianna agitou os punhosinhos rosados e gritou com mais 8or1a7 apertando

    os olhos.

    'evantei ela depressa para dar>lhe palmadinhas nas costas7 murmurando

    sobre a penugem ruiva -ue lhe cobria a cabe1a.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    37/945

    K(h7 minha pe-uena pedra preciosaQ ue menina t2o inteligenteQ

    K( -ue 8oiL K0ranH saiu do banho secando a cabe1a e com uma segunda

    toalha envolta no -uadrilK. Algum problema com BriannaL

    Apro9imou>se de n?s com cara de preocupa12o. %erto do nascimento7 n?sdois t;nhamos estado nervosos: 0ranH7 irritado< eu7 aterrorizada. #2o

    t;nhamos id=ia do -ue podia suceder entre n?s logo -ue nascesse o 8ilho de

    "amie 0raser. Fas -uando a en8ermeira pegou a Brianna de seu ber1o e a

    entregou a 0ranH dizendo: SA-ui est@ a menina do papai7 ele 8icou com a

    cara sem e9press2o< depois7 ao olhar o pe-ueno rostinho7 per8eita como um

    pimpolho7 8icou maravilhado. Fenos de uma semana a menina C@ era sua7

    em corpo e alma.

    oltei>me para ele7 sorrindo.

    K$la deu a voltaQ ozinhaQ

    KDe verdadeL KRe8ulg;a de prazerK. #2o = muito cedo para -ue ela 8a1a

    issoL

    Kim. egundo o doutor pocH7 n2o deveria ter 8eito at= o mMs -ue vem7

    pelo menos.

    KBom7 o -ue sabe esse doutor pocHL em a-ui7 minha preciosa< d@ um

    beiCo no papai por ser t2o precoce.

    'evantou o corpinho suavemente7 envolvido em seu piCama rosado7 e deu

    um beiCo na ponta do nariz. Brianna espirrou e n?s dois rimos.

    $nt2o 8ui consciente de -ue era minha primeira risada em todo um ano.

    Fais ainda: era a primeira vez -ue eu ria com 0ranH.$le tamb=m o notou< seus olhos se encontraram com os meus acima da

    cabe1a de Brianna. $ram de um suave cor avel2 e nesse momento estavam

    cheios de ternura. orri7 um pouco tr=mula7 alerta pelo 8ato de -ue ele

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    38/945

    estava -uase nu7 com gotas de @gua deslizando>se pelos ombros delgados e

    brilhando na pele morena e suave do peito.

    (s dois perceberam simultaneamente o cheiro a -ueimado. !sso nos

    arrancou da bem>aventuran1a dom=stica.K( ca8=Q K0ranH pNs a Bree em meus bra1os7 sem nenhuma cerimNnia7 e

    saiu disparado para a cozinha7 dei9ando ambas as toalhas 8eitas um vulto

    aos meus p=s. $u segui lentamente7 levando a Bree apoiada no ombro.

    $stava de p= ante a pia da cozinha7 nu7 entre uma nuvem de vapor -ue

    surgia da ca8eteira chamuscada.

    Kue tam um ch@L Ksugeri7 acomodando destramente a Brianna em meu

    -uadril com um bra1o7 en-uanto voltava ao aparadorK ue droga acabouse< depois

    se pNs em p= e saiu ao meu encontro.

    K( -ue 8azes a-uiL Ksusurrei.

    0ranH apontou com a cabe1a ao novo adorador7 -ue C@ estava aCoelhado7 e

    me pegou pelo cotovelo para me guiar para 8ora.

    $sperei -ue 8echasse a porta da capela antes de girar para olh@>lo de 8rente.K( -ue signi8ica istoL Ke9clamei7 com raivaK. %or -ue veio me

    procurarL

    K$stava preocupado contigo. Kinalizou o estacionamento vazio7 onde

    seu grande BuicH guardava protetoramente Cunto ao meu pe-ueno 0ord.K

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    46/945

    perigoso -ue uma mulher ande s? a esta hora por esta parte da cidade.

    im para te levar pra casa. #ada mais.

    #2o mencionou os Uinchcli88e nem 8alou do Cantar. Feu aborrecimento

    cedeu um pouco.KAh. $ o -ue 8izeste com BriannaL

    K%edi a nossa vizinha7 a velha senhora Funsing7 -ue estivesse alerta caso

    chorasse. Fas parecia dormir pro8undamente. Mm7 -ue 8az 8rio a-ui 8ora.

    K#os veremos em casa Keu disse.

    uando entrei para ver a Brianna7 havia um silencio no -uarto. Ainda

    dormia7 mas notei ela um pouco in-uieta.

    K)ome1a a ter 8ome Ksussurrei a 0ranH7 -ue se tinha apro9imado por

    tr@s e a olhava a8etuosamente acima de meu ombroK. er@ melhor de -ue

    eu lhe dM o peito antes de me deitar7 assim dormir@ at= mais tarde.

    Kou te trazer algo -uente.

    $n-uanto eu levantava o vulto c@lido e sonolento7 ele desapareceu pela

    porta da cozinha.

    Tinha tomado em um s? peito7 mas estava com sono. %or muito -ue eu

    8alasse ou a sacudisse suavemente7 n2o acordou o su8iciente para mamar do

    outro peito< assim -ue a colo-uei no ber1o7 dando palmadinhas nas costas

    at= -ue emitisse um arroto satis8eito7 seguido pela respira12o pesada da

    satis8a12o absoluta.

    K$sta noite n2o vai acordar7 verdadeL K0ranH a cobriu com o cobertor

    decorado com coelhinhos amarelos.Kim. Kentei>me na cadeira7 muito e9austa7 8;sica e mentalmente7 para

    levantar>me outra vez. 0ranH se deteve ao meu lado e pNs a sua m2e leve em

    meu ombro.

    KAssim -ue ele morreuL Kperguntou com suavidade.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    47/945

    STe disse -ue sim7 ia responder. Fas me interrompi e 8echei a boca. 'imitei

    a assentir com a cabe1a7 mecionei lentamente com os olhos 8i9os no ber1o

    escuro em sua pe-uena ocupante.

    Ainda tinha o seio direito dolorosamente enchido de leite. )om um suspirode resigna12o7 alonguei a m2o para o e9trator de leite7 um arte8ato de

    borracha7 8eio e rid;culo.

    Dispensei 0ranH com um aceno.

    KAnda7 saia. Demorarei s? uns minutos7 mas tenho -ue...

    $m vez de me responder ou retirar>se7 ele tirou o e9trator da m2o para

    dei9@>lo na mesa. Depois7 inclinando a cabe1a7 8i9ou suavemente os l@bios

    em meu mamilo. 'ancei um gemido7 sentindo a ardMncia -uase dolorosa do

    leite -ue corria pelos pe-uenos condutos. %us uma m2o na nuca para

    apert@>lo um pouco mais a mim.

    K)om mais 8or1a Ksussurrei. ua boca absorvia suavemente< n2o se

    parecia em nada Es implac@veis e duras gengivas de um bebM.

    0echei os olhos e me dei9ei levar pela mar=.

    " porta principal do velha casaro se abriu com um chio de gonzos

    enferrujados, anunciando o regresso de 6rianna 8andall. 8oger se

    levantou de imediato para sair do hall, atra(do pelas vozes das moas.

    C:eio quilo da melhor manteiga. sso % o que me encarregaste de pedir e

    o fiz, mas e#iste manteiga pior ou melhor+ C6rianna estava entregando

    uns pacotes a Aiona, rindo enquanto falava.

    C6om, se comprou para esse velho vigarista de PicBloH, esta ser! daspiores, diga ele o que disser C interrompeu Aiona.C "h, trou#e a canela,

    timoD Ento vou fazer pozinhos de canela. Quer ver como preparo+

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    48/945

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    49/945

    C1ozinheira+ C5s olhos de 6rianna se rasgaram em azuis tri0ngulos

    divertidosC. 1ozinheiraD 3rimeiro me chamam de &assenach; agora,

    cozinheira. 1omo se chamam os escoceses quando querem ser am!veis+

    C3rrreciosa Crespondeu ele, arrastando e#ageradamente os erres $maneira escocesa.

    "s duas garotas riram.

    C3arece um terrier enfadado Ccomentou 1laireC. Encontraste algo na

    biblioteca dos 1ls, 6ree+

    Cm monto de coisas Crespondeu a moa reme#endo nos #ero# que

    tinha dei#ado na mesa do hall.C :e arrumei para ler a maior parte

    enquanto tiravam as cpias. " mais interessante % esta.

    4irou uma folha do fei#e e a entregou a 8oger. Era um e#trato de um

    certo livro sobre lendas das 4erras "ltas, um artigo encabeado

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    50/945

    =sto, por e#emplo Cpassou o papel a 1laireC parece um fato real.

    E#plica como se originou o nome de certa formao rochosa das 4erras

    "ltas.

    1laire colocou o cabelo atr!s da orelha e inclinou a cabea para ler,vesgueando $ luz escassa do teto.

    Cnus, o menino foi atacado por um dos dragKes e dei#ou cair o tonel, que

    bai#ou quicando pela empinada colina, at% a ribeiro abai#o.=

    Gevantou os olhos do papel, olhando a sua filha com uma sobrancelha

    levantada.

    C3or que isto+ &abemos..., ou acreditamos saber Ccorrigiu com umair>nica inclinao de cabea dirigida a 8ogerC que @amie escapou de

    1ulloden, mas no foi o ?nico. 5 que faz pensar que este senhor p>de ter

    sido @amie+

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    51/945

    C5 Morropardo, imagino Crespondeu 6rianna, como se a pergunta a

    surpreendesse.

    C5 que+ C8oger a olhou intrigadoC. 5 que pensa como Morropardo+

    "o modo de resposta, 6rianna me#eu numa mecha de seu denso cabeloruivo e o sacudiu sob o nariz do historiador.

    CMorropardoD Crepetiu impacienteC. m gorro de cor castanho claro,

    certo+ sava constantemente um gorro, porque podiam reconhec72lo por

    seu cabelo ruivo. No diz que os ingleses o chamavam

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    52/945

    3or isso voltei to tarde; fiz que o empregado tirasse todos os mapas das

    4erras "ltas que tinham ali.

    8etirou outra folha fotocopiada.

    CF7+ to pequena que no aparece na maioria dos mapas, mas nestefigurava. @usto aqui; aqui est! a aldeia de 6roch :ordha, que segundo

    mame est! pr#imo de GallLbroch. E aqui... Cmoveu o dedo m%dio um

    cent(metro para assinalar uma linha de letras microscpicas.C F7+

    Foltou a sua fazenda, GallLbroch, e ali se escondeu.

    CNo tenho uma lupa a mo Cdisse 8oger dando as costasC estou

    disposto a crer que a( foi

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    53/945

    imaginar. 1omo acha que foi aquilo para ele+ 3assar sete anos numa

    gruta...

    :ovido por um impulso, 8oger se inclinou para depositar um leve beijo

    entre suas sobrancelhas.CNo sei, querida CdisseC :as talvez possamos averiguar.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    54/945

    &EMN9" 3"84E

    GallLbroch

    1"3\4G5 /

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    55/945

    5 Morropardo

    GallLbrochNovembro de -VS

    ma vez ao m7s, quando algum dos meninos levava a mensagem de que

    no tinha perigo, ele descia a casa para se barbear. &empre pela noite,

    caminhando com os passos suaves de uma raposa na escurido.

    Ailtrava2se como uma sombra pela porta da cozinha, onde lhe recebiam o

    sorriso de an ou o beijo de sua irm, ento se iniciava a transformao. "

    cumbuca de !gua quente e a navalha rec%m afiada j! estavam o

    esperando na mesa, com o sabo. 9e vez em quando era sabo de

    verdade, o seu primo @ared tinha enviado um pouco da Arana; com mais

    freqY7ncia, o sebo irritava os olhos pela fora da !gua.

    &entia iniciar uma mudana com o primeiro aroma da cozinha, to forte e

    rico depois dos cheiros do lago, o p!ramo e a lenha, atenuados pelo vento.

    :as s ao concluir com o rito do barbeado % que se sentia completamente

    humano mais uma vez.

    avia aprendido a no falar antes de se barbear; as palavras no surgiam

    facilmente depois de um m7s de solido. 4inha algo que pedir e escutar'

    sobre as patrulhas inglesas no distrito, a pol(tica, as detenKes e ju(zos em

    Gondres e Edimburgo... :as isso podia esperar. Era melhor falar com ansobre a propriedade e com @ennL sobre os meninos. &e parecia no ter

    perigo, faziam descer os meninos para que saudassem o seu tio com

    abraos sonolentos e beijos ?midos, antes de voltar cambaleando em suas

    camas.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    56/945

    C1edo ser! um homem Ctinha sido seu primeiro tema de conversa em

    setembro, sinalizando com a cabea ao filho maior de @ennL, o que levava

    seu nome. 5 menino, que tinha sete anos, permanecia sentado $ mesa,

    algo coibido e muito consciente da dignidade de ser, pelo momento, ohomem da casa.

    C&im, como que necessito outro desses seres para me preocupar C

    replicou azedamente sua irm. :as tocou o seu filho no ombro ao passar

    com um orgulho que desmentia suas palavras.

    CNo teve not(cias de an+ C&eu cunhado tinha sido preso pela quarta

    vez, tr7s semanas antes, e levado a nverness sob a suspeita de se

    simpatizar com os jacobitas.

    @ennL sacudiu a cabea, colocando ante ele um prato coberto.

    CNo h! por que de se preocuparCdisse, servindo2lhe docinho de perdiz.

    &ua voz era serena mas se acentuou ama pequena ruga vertical entre suas

    sobrancelhas.C :andei Aergus para que lhes mostrem a escritura de

    transfer7ncia e a const0ncia de que an foi descadastrado por seu

    regimento. 5 enviaro para casa quando entenderem que no % o senhor

    de GallLbroch e que nada conseguiro acusando2o. C9epois de lanar um

    olhar ao seu filho, alongou a mo para a jarra de cervejaC. 3ara eles ser!

    dif(cil apresentar uma acusao de traio num menino.

    &ua voz era l?gubre, mas encerrava com um acento de satisfao ao

    pensar na confuso da corte inglesa. " escritura de transfer7ncia,

    salpicada da chuva, demonstrava que o t(tulo de GallLbroch tinhapassado do @ames adulto ao menor; cada vez que aparecia nos tribunais,

    burlava as tentativas da 1oroa de apoderar2se da fazenda como

    propriedade de um traidor jacobita.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    57/945

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    58/945

    3odiam entender o medo, at% certo ponto. 5 medo $ captura, $ morte.

    :as no o medo $ solido, ao prprio temperamento, $ loucura.

    C6om, sim Cdisse, voltando2se com ar indiferente para o espelhoC. 5

    homem nasce para sofrer e para se barbear. ma das pragas de "do.C9e "do+ CAergus fez cara de confuso enquanto os outros fingiam ter

    alguma id%ia do que @amie dizia. 9e Aergus ningu%m esperava que

    soubesse tudo, porque era franc7s.

    C"h, sim. C@amie meteu o l!bio superior sob os dentes para raspar

    delicadamente embai#o do narizC. No princ(pio, quando 9eus criou o

    homem, o quei#o de "do era to limpinho como a de Eva. E os dois

    tinham o corpo to suave como um rec%m nascido Cacrescentou, vendo

    que seu sobrinho dava uma olhada em 8abbie. Ele ainda no tinha barba,

    mas o t7nue focinho do l!bio superior revelava crescimentos em outras

    partes.

    C:as quando o anjo da espada flamegou os e#pulsou do Ed%n, nem

    tinham bem cruzado as portas do jardim, os pelos comearam a crescer e

    a arder no quei#o de "do. E desde ento o homem est! condenado a

    barbear2se. C4erminou seu prprio quei#o com um garboso movimento

    final e se inclinou teatralmente ante seu p?blico.

    C:as e o outro p7lo+ 3or que+ Cquis saber 8abbieC. "( embai#o no se

    barbeouD

    5 pequeno @amie soltou uma risada aguda, outra vez corado.

    C"inda bem Cobservou seu tocaioC. Aaria falta uma mo muito firme.sso sim' no teria necessidade de espelho Cacrescentou entre um coro de

    risos.

    CE as senhoras+ Cperguntou Aergus. "o dizer

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    59/945

    senhoras tamb%m t7m pelo ali e no se barbeiam..., geralmente, ao menos

    Cadicionou pensando, obviamente, em algumas das coisas que tinha visto

    no bordel.

    @amie ouviu os passos de sua irm no corredor, que se apro#imava com opasso lento e bambaleante da gravidez avanada. 4razia a bandeja do

    jantar sobre seu ventre inchado.

    C&il7ncioD Cordenou aos meninos, que interromperam bruscamente os

    risos. E se adiantou de pressa com a bandeja para p>2la na mesa.

    Era um prato apetitoso, com toucinho e carne de cabra; viu que a

    proeminente pomo de "do subia e bai#ava na garganta de Aergus ao

    sentir o aroma. &abia que eles guardavam a melhor comida para ele; era

    bvio, era o mais abatido das caras que rodeavam a mesa. 1ada vez que

    ele descia trazia toda a carne que conseguia conseguir' coelhos ou galos

    silvestres caados com armadilha e alguns ovos de maarico; mas nunca

    era suficiente para aquela casa, cuja hospitalidade devia cobrir as

    necessidades, no s dos seus e dos criados, como tamb%m das fam(lias de

    IirbL e :urraL, ambos assassinados. "o menos at% a primavera, as

    vi?vas e os rfos de seus arrendat!rios deviam permanecer ali e a ele lhe

    correspondia fazer o poss(vel por aliment!2los.

    C&enta ao meu lado Cdisse a @ennL pegando pelo brao para traz72la

    suavemente at% o banco posto junto a ele. 1om grande firmeza, cortou um

    bom pedao de carne e p>s o prato na frente dela.

    C:as isso % tudo para voceD Cprotestou elaC. Eu j! comi.CNo o suficiente. 3recisas mais..., pelo beb7 Cdisse inspirado. &e no

    comia por si mesma, o faria pela criana.

    &ua irm vacilou um momento e, sorrindo2lhe, pegou a colher e comeou

    a comer.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    60/945

    1orria o m7s de novembro; o frio se filtrava pela camisa delgada e as

    calas de montar que levava postos. "tencioso ao rasto, mal o notou. 5

    c%u estava coberto com pequenas nuvens, mas a lua cheia dava abundante

    luz.No chovia, graas a 9eus; com o ru(do do !gua ao cair era imposs(vel

    ouvir nada, e o aroma penetrante das plantas molhadas disfarava o

    cheiro dos animais. &eu olfato se tinha voltado quase penosamente agudo

    nos longos meses passados ao ar livre; as vezes, quando entrava na casa,

    os cheiros pareciam capazes de derrub!2lo.

    Mirou com toda a lentido poss(vel para o lugar onde seus ouvidos lhe

    tinham indicado onde estava o veado. 4inha o arco na mo e uma flecha

    pronta. 3oderia disparar uma s vez, talvez, quando o animal fugisse.

    "liD 5 corao lhe subiu $ garganta ao ver os cornos, agudos e negros

    acima das aliagas. Airmou o corpo, respirou fundo e deu um passo

    adiante.

    Aoi um disparo limpo, felizmente se fincou justo por tr!s da paleta.

    9ificilmente teria tido foras para perseguir a um veado adulto ferido.

    4inha ca(do num lugar livre, depois de uma mata de aliagas, com as

    pernas tesas, na forma estranhamente indefesa em que fazem os

    ungulados moribundos.

    @amie tirou a faca do cinto e se ajoelhou junto ao veado, dizendo

    apressadamente a orao de Mralloch que lhe tinha ensinado o velho @ohn

    :urraL, o pai de an. 1om a segurana que lhe dava a pr!tica, levantou ofocinho pegajoso com uma mo e, com a outra, cortou o pescoo do

    animal. 9epois, o brusco esforo de mover e estripar a r7s, o longo talho

    onde se misturavam fora e delicadeza para abrir o couro entre as patas

    sem penetrar no saco que encerrava as entranhas. :eteu as mos na r7s,

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    61/945

    profanando a intimidade quente e ?mida, e fez outro esforo para retirar

    o saco viscoso, que brilhava entre suas mos ao luar. m talho acima,

    outro abai#o. E a massa ficou livre, na transformao de magia negra que

    convertia a um veado em carne.Era um animal pequeno, ainda que sua galhada j! tinha pontas. 1om um

    pouco de sorte poderia carreg!2lo sozinho, em vez de dei#!2lo a graa das

    raposas e dos te#ugos at% que pudesse trazer ajuda para transport!2lo.

    :eteu um ombro sob uma das patas e se incorporou com

    lentido,grunhindo pelo esforo, at% acomodar firmemente o peso nas

    costas.

    &entia2se um pouco mareado. 1ada vez lhe afetava mais a desorientao,

    a fragmentao de si mesmo entre o dia e a noite. 9urante o dia era s

    uma criatura que escapava de sua ?mida imobilidade mediante uma

    disciplinada e teimosa retirada pelas vias do pensamento e a meditao,

    procurando ref?gio nas p!ginas dos livros. :as ao sair a lua, sucumbindo

    de imediato $s sensaKes, emergia, como uma besta de sua guarida, ao ar

    fresco para correr pelas colinas escuras e caar sob as estrelas,

    impulsionado pela noite, %brio de sangue e influ#o lunar.

    & quando surgiram $ vista as luzes de GallLbroch dei#ou, por fim, que o

    manto de humanidade ca(sse sobre ele, que mente e corpo voltassem a

    unir2se, enquanto se preparava para saudar a sua fam(lia.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    62/945

    1"3\4G5 V

    N5& 9]5 : :ENN5

    4r7s semanas depois ainda no tinhamos not(cias de an. Aergus levava

    v!rios dias sem ir $ gruta, pelo que @amie se consumia de preocupao

    para saber como ia tudo na casa. 5s veados j! tinham desaparecido, com

    tantas bocas que alimentaram, e a horta rendia muito pouco naquela

    %poca do ano.

    &ua preocupao era tanta que se arriscou fazendo uma visita

    inesperada; depois de revisar suas armadilhas, desceu das colinas justo

    antes do crep?sculo. :as, teve a prud7ncia de p>r o gorro tecido com

    uma tosca l parda que lhe protegeria o cabelo de qualquer raio revelador

    do sol poente. &ua estatura, por si s, podia provocar suspeitas, mas no

    dar certeza, e tinha plena confiana na fora de suas pernas para escapar

    se tivesse a m! sorte de encontrar2se com uma patrulha inglesa. "s lebres

    dos urzais no podiam medir foras com @amie Araser, estava precavido.

    "o apro#imar2se notou que a casa estava estranhamente silenciosa.

    Aaltava o alvoroo habitual dos meninos' os cinco de @ennL e os seis dos

    arrendat!rios, no mencionando a Aergus e a 8abbie :acNab, que

    dei#aram a muito tempo de se perseguirem pelos est!bulos, gritando

    como possu(dos.

    9eteve2se na porta da cozinha, sentindo a casa deserta ao seu arredor.Encontrava2se no hall, com a dispensa em um lado, o tanque ao outro e a

    parte principal da cozinha bem na frente. 3ermaneceu imvel, aguando

    todos os sentidos, escutando enquanto inalava os abrumadores aromas da

    casa. 4inha algu%m ali' um leve rasgo, seguido por um tinido suave e

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    63/945

    regular, surgia atrav%s da porta recoberta de pano que retinha o calor na

    cozinha, impedindo que se filtrasse para a gelada dispensa.

    8econfortado pelo barulho dom%stico, abriu a porta com cautela, mas

    sem medo. @ennL, s e gr!vida, estava de p% na frente da mesa, batendoalgo numa cumbuca amarela.

    C5 que fazes aqui+ 5nde est! a senhora 1oBer+

    " irm soltou a colher com um grito sobressaltado.

    C@amieD C"pertou uma mo contra o peito e fechou os olhos, p!lida.

    C3or 9eusD Quase me mata de sustoD C"briu os olhos, de cor azul

    escuro como os dele, e lhe fincou uma olhada penetranteC5 que est!

    fazendo aqui, Firgem &anta+ No te esperava dentro de uma semana.

    CAaz dias que Aergus no sobe $ colina; estava preocupado Cdisse

    simplesmente.

    CFoce % um tesouro, @amie. C&eu rosto estava recobrando a cor. 1om

    um sorriso, se apro#imou ao seu irmo para abra!2lo.

    C5nde esto todos+ Cperguntou, soltando2a na m! vontade.

    C6om, a senhora 1oBer morreu Crespondeu acentuando a leve ruga

    entre suas sobrancelhas.

    C+ C@amie se benzeu suavementeC Gamento. C" senhora 1oBer

    tinha sido criada primeiro e caseira depois, desde o casamento de seus

    pais, mais de quarenta anos atr!sCQuando+

    C5ntem pela manh. No foi inesperado, pobrezinha, e se foi

    aprazivelmente. Em sua prpria cama, como queria, com o pai:c:urtrL orando junto a ela.

    @amie deu uma olhada refle#iva para a porta que levava para as

    habitaKes do servio.

    C"inda est! ali+

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    64/945

    " irm sacudiu a cabea.

    CNo. Eu disse ao seu filho que deviam vel!2la aqui, na casa, mas os

    1oBer pensaram que, estando as coisas como esto Cabrangeu com uma

    careta a aus7ncia de an, o espreito dos ingleses, os arrendat!riosrefugiados, a falta de comida e a presena de @amie na grutaC, era

    melhor faz72lo em 6roch :ordha, em casa de sua irm. Aoram todos ali.

    Eu disse que no estava em condiKes de acompanh!2los Cdeu um sorriso

    amarelo.C :as em realidade precisava umas horas de paz e sil7ncio.

    CE aqui venho eu, a interromper tua paz Cdisse @amie melanclico.C

    Queres que eu v!+

    CNo, cabea de vento Cdisse a irm afavelmente.C &enta enquanto

    sigo preparando o jantar.

    CQue tem para comer+ Cperguntou olfateando com ar esperanoso.

    C9epende do que tenhas trazido Creplicou @ennL. :oveu2se

    pesadamente pela cozinha, retirando coisas dos arm!rios, e se deteve a

    me#er o grande caldeiro que pendia sobre o fogo, do que surgia um vapor

    t7nue.

    C&e trou#e carne, a comeremos. &e no, ser! cevada fervida e carne em

    conserva.

    C"inda bem que tive sorte Cdisse ele. Firou sua bolsa e dei#ou cair os

    tr7s coelhos na mesa, um vulto inerme de pelagem cinza e orelhas ca(das

    C E amoras Cdisse virando o conte?do de seu gorro pardo, manchado

    por dentro por uma subst0ncia vermelha." @ennL iluminou os olhos.

    C1laro que posso Crespondeu sua irm, distra(da, enquanto folheava o

    volumeC :as quando falta a metade das coisas necess!rias, as vezes

    encontro aqui algo que eu posso usar. Normalmente prepararia o molho

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    65/945

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    66/945

    3egou uma #(cara para medir a farinha e notou que na bolsa tinha muito

    pouca.

    CQuando comear, manda2me chamar $ gruta Cdisse subitamente.C

    Fou descer, com ingleses ou sem eles.@ennL dei#ou de me#er para olh!2lo.

    C3ara que+

    C6om, an no est! aqui Capontou @amie pegando um dos coelhos

    esfolados. 1om a destreza da pr!tica, desarticulou uma co#a e, com tr7s

    r!pidos golpes, a carne p!lida ficou aplanada, pronta para o docinho.

    C9e pouco me serviria t72lo aqui Csussurou elaC @! ocupou de sua

    parte faz nove meses. C5lhando a seu irmo com o nariz franzido, pegou

    o prato com a banha.

    @amie no p>de resistir a tentao de apoiar levemente a mo naquela

    curva monstruosa para perceber os poderosos pontap%s do habitante,

    impaciente por abandonar seu encerro.

    C:e manda Aergus quando chegar o momento Crepetiu.

    Ela o olhou com e#asperao e lhe afastou a mo com um golpe de colher.

    CNo acabei de dizer que no preciso+ 3or 9eus, homem, muitas

    preocupaKes eu j! tenho, com a casa cheia de gente, mal o indispens!vel

    para aliment!2la, an preso em nverness e os ingleses rondando as

    janelas cada vez que me dou uma volta. 9evo me preocupar tamb%m com

    o risco de te pegarem+

    C3or mim no se preocupe. &ei me cuidar Cassegurou sem olh!2la.C6om, se sabe se cuidar, fique na colina. @! tive seis filhos. No v7 que

    posso me arranjar+

    C1om voce no se pode discutir Cacusou.

    CNo Creplicou ela de imediato."ssim ficando por l!.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    67/945

    CFerei.

    CFoce deve de ser o tonto mais teimoso da Esccia.

    3ela rosto de seu irmo se estendeu um enorme sorriso.

    C3ode se dizer que sim Cdisse dando2lhe umas palmadinhas no ventreenorme.C E pode se dizer que no. :as vou vir. Quando chegar o

    momento, me envia Aergus.

    4r7s dias depois, ao amanhecer, Aergus subiu com custo at% a gruta,

    ofegando e perdendo a trilha na escurido. Aez tanto ru(do entre as

    aliagas que @amie o ouviu muito antes de que chegasse.

    C:ilord... Ccomeou sem alento ao aparecer no e#tremo da trilha.

    :as @amie j! o tinha dei#ado para tr!s e descia apressadamente para a

    casa, jogando2se o manto pelos ombros.

    C:as milord... Couviu2se a voz do garoto depois dele, ofegante e

    assustadoC. 5s soldados...

    CQue soldados+ C@amie se deteve bruscamente.

    C9ragKes ingleses, :ilord. :iladL me manda dizer que no abandone a

    gruta sob nenhum motivo. m dos homens os viu ontem, acampados

    cerca de 9unmaglas.

    C:alditos sejam.

    C&im, milord. CAergus se sentou numa pedra para abanar2se, seu

    estreito torso palpitava aceleradamente.

    @amie vacilava. 4odos seus instintos se negavam a voltar $ gruta.

    Cum... Cmurmurou olhando a Aergus. Nele se percebia certa suspeita.3or que sua irm lhe mandava Aergus a uma hora to estranha+ "

    resposta era bvia' temia no estar em condiKes de enviar2lhe a

    mensagem $ noite seguinte.

    C1omo est! minha irm+ Cperguntou.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    68/945

    C5h, bem, milord, muito bemD C5 caloroso tom da afirmao

    confirmou as suspeitas de @amie.

    CEst! a ponto de ter o menino, no+

    CNo, milord, claro que noD@amie firmou uma mo no ombro de Aergus. 5s ossos pareciam pequenos

    e fr!geis sob seus dedos; recordou, inc>modo, os coelhos que tinha picado

    para @ennL.

    C:e diz a vedade Ce#igiuD

    C verdade, milordD

    " mo apertou ine#oravelmente.

    CEla ordenou que no me dissesses+

    " proibio de @ennL devia ter sido literal, pois Aergus respondeu a essa

    pergunta com evidente al(vio.

    C&im, milordD

    C"h. C@amie afrou#ou a mo e o garoto se levantou de um pulo.

    Enquanto ajeitava o ombro dormente, comeou a falar com volubilidade.

    C9isse que eu no devia dizer2lhe nada, salvo o dos soldados, milord, e

    que se fizesse me cortaria os test(culo para ferver como nabos.

    @amie no p>de reprimir um sorriso.

    C3or falta de comida como estamos Cassegurou ao seu protegidoC, no

    % para tanto. C9eu uma olhada ao horizonte, onde aparecia uma fina

    linha rosada, depois da silhueta negra dos pinheiros.C Fem, vamos. Em

    meia hora ter! amanhecido.No amanhecer no havia rastos do sil7ncio. Quem tinha os olhos na cara

    podia ver que em GallLbroch estava acontecendo algo anormal. 5

    caldeiro da colagem tinha ficado no p!tio, com o fogo apagado, cheio de

    !gua fria e roupa molhada. ns gemidos lamuriante, como se estivessem

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    69/945

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    70/945

    senhora IirbL se levantou para segu(2la, com muita mais dignidade, mas

    sem vacilar.

    "rroubado pela pequena vitria, @amie se desfez em poucos instantes dos

    outros ocupantes da sala. " vi?va :urraL e suas filhas sa(ram para lavarroupa e os meninos menores, para trancafiar os frangos, sob a superviso

    de :arL :acNab. 5s meninos maiores foram, com al(vio, a ocupar2se do

    gado.

    ma vez deserta a casa, vacilou um momento. &entia que devia ficar na

    casa montando guarda, ainda que tinha aguda consci7ncia de que no

    podia fazer nada para ajudar, tal como @ennL tinha dito. No p!tio tinha

    visto uma mula desconhecida; provavelmente, a parteira estava l! em

    cima, com @ennL.

    ncapaz de permanecer sentado, vagou inquieto pela sala, com a 6(blia

    nas mos, tocando coisas. m gemido prolongado no andar superior lhe

    fez olhar involuntariamente o Givro &agrado. No tinha muitas vontades

    de faz72lo, mas dei#ou que o livro se abrisse pela primeira p!gina, onde se

    registravam os casamentos, nascimentos e mortes da fam(lia.

    "s anotaKes comeavam com o casamento de seus pais, 6rian Araser e

    Ellen :acIenzie. 5s nomes e a data estavam escritos com a letra redonda

    de sua me; abai#o, uma breve anotao com o garrancho de seu pai,

    mais firmes e negros'

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    71/945

    CE se no tivesse morto+ Cdisse suavemente ao quadro.

    "o fechar o livro viu a ?ltima anotao. 1aitlin :aisri :urraL, nascida

    no dia ^ de dezembro de -/T, falecida no dia ^ de dezembro de -/T. &e

    os soldados ingleses no tivessem chegado no dia S de dezembro, teria seadiantado o parto de @ennL+ &e tivessem tido suficiente comida, se ela no

    tivesse sido pele, ossos e o vulto do ventre,teria evitado+

    Em cima chegou outro grito. Num espasmo de medo, @amie apertou o

    livro entre as mos.

    C5ra por ns, irmo Csussurrou. 9epois de se benzer, dei#ou a 6(blia e

    foi ao celeiro, para ajudar com os animais.

    "li tinha pouco o que fazer; 8abbie e Aergus eram suficientes para

    atender os poucos animais restantes. 5 jovem @amie, com seus dez anos,

    estava j! em idade de prestar bastante ajuda. 3rocurando algo que fazer,

    @amie pegou uma braada de feno para lev!2la $ mula da parteira.

    Quando acabar o feno teria que matar $ vaca; a diferena das cabras, a

    ela no lhe bastava o pasto de inverno das colinas, mesmo ainda com as

    ervas que os meninos traziam. 1om sorte, os animais durariam at% a

    primavera.

    Quando entrou no celeiro, Aergus levantou os olhos.

    CEla % uma boa parteira, de boa reputao+ C3erguntou disparando

    agressivamente a mand(bulaC No creio que a :adame deva estar em

    mos de uma camponesaD

    C1omo quer que eu saiba+ Creplicou @amie irritadoC 4alvez eu deviame ocupar de contratar parteiras+ C" senhora :artin, a velha parteira

    que tinha assistido o nascimento a todos os :urraL anteriores, tinha

    morrido durante a fome do ano seguinte a 1ulloden, como tantos outros.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    72/945

    " senhora nnes, a nova parteira, era bem mais jovem; era de esperar que

    j! tivesse e#peri7ncia suficiente para saber o que fazia.

    8abbie tamb%m parecia inclinado a participar da discusso. 5lhou

    Aergus com gesto cenhoso.C5 que significa isso de s Aergus em p% e, para distra(2lo, perguntou'C 5 Que sabes

    sobre parteiras, afinal de contas+

    C:uito, milord. CAergus sacudiu a roupa com gestos elegantesC

    Enquanto vivia em casa de :adame Elise, muitas das damas foram

    postas no leito.

    CNo duvido Cinterp>s @amie com securaC. 3ara dar $ luz, queres

    dizer+

    C3ara dar $ luz, claro. 1aramba, eu mesmo nasci aliDCEvidentemente. C @amie contraiu a bocaC 6om, confio que tenhas de

    fato cuidadosas observaKes e que possa dizer como se devem fazer as

    coisas.

    Aergus ignorou o sarcasmo.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    73/945

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    74/945

    C5 que+ C@amie girou sobre seus calcanhares e levou automaticamente

    a mo $ pistola que levava quando abandonava a gruta. :as no tinha

    nenhuma patrulha inglesa no p!tio do est!buloCQue diabo acontece+

    Ento ele viu. 4r7s pequenas manchas negras que voavam sobre as matasmortas no semeado das batatas.

    C1orvos Cdisse, sentindo arrepiar o cabelo da nuca. Que aquelas aves

    da guerra e a matana chegassem numa casa durante um nascimento era

    o pior dos press!gios. E uma daquelas sujas criaturas estavam posando

    no telhado, ante seus prprios olhos.

    &em pensar direito, sacou a pistola do cinto e apoiou o cano no antebrao

    para apontar com cuidado.

    " arma sacudiu e o corvo estourou numa nuvem de plumas negras. &eus

    dois colegas se jogaram ao ar,afastando2se com loucos agitos; seus !speros

    gritos se perderam rapidamente no ar de inverno.

    C:on 9ieuD Ce#clamou AergusC 1Xest bem aD

    C&im, bom disparo, senhor. C8abbie, ainda impressionado, tinha2se

    reposto a tempo para ver o tiro. "gora apontava a casa com o quei#oC

    5lha, senhor. No % a parteira+

    Era a senhora nnes, sim, que aparecia com a cabea pela janela do andar

    superior, com o loiro cabelo solto, tratando de olhar para o pat(o. 4alvez o

    ru(do do disparo lhe fez temer algum problema. @amie saiu do p!tio e

    agitou a mo para tranqYiliz!2la.

    C4udo est! bem CgritouC Aoi s um acidente. CNo queria mencionaros corvos para o acaso da mulher comentar a @ennL.

    C&obeD Cgritou ela sem dar muita atenoC 5 beb7 nasceu e sua irm

    quer ve2loD

    @ennL abriu um olho, azul e levemente rasgado, como o de @amie.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    75/945

    CFoce acabou vindo,n%+

    C3ensei que algu%m teria que estar aqui, ainda que fosse para orar por

    voce Crespondeu resmungo.

    Ela fechou o olho e um leve sorriso lhe curvou os l!bios. Ela pareciamuito com uma pintura que ele tinha visto em Arana.

    CFoce % um bobo, mas estou feliz Cdisse com suavidade. E abriu os

    olhos para dar uma olhada ao vulto envolto que tinha na dobra do brao

    C Quer v72lo+

    C"h, % um homenzinho.

    1om mos e#perientes depois de ser tio durante anos, @amie pegou o

    pequeno embrulho e o acomodou contra seu corpo, retirando a ponta do

    cobertor que tampava o rosto. 5 beb7 tinha os olhos muito fechados; as

    pestanas no eram vis(veis na ruga profunda das p!lpebras, que

    formavam um 0ngulo agudo sobre a suave redondez das bochechas; isso

    imaginava que talvez, seria esse o ?nico rasgo identific!vel, que se

    pareceria $ me. " cabea estava cheia de estranhos volumes e desviada

    para o lado; seu aspecto fez @amie, inc>modo, comparar com um melo;

    mas a grossa boquinha se mantinha descontra(da e apraz(vel; o ?mido

    l!bio interior se estremecia com o ronquido que acompanhava ao

    esgotamento de ter nascido.

    CAoi um trabalho duro, no+ Ccomentou dirigindo2se ao menino.

    :as foi a me quem respondeu'

    C&im, efetivamente. No arm!rio h! HhisBL. Quer me trazer um copo+ C&ua voz soava rouca; teve que pigarrear para completar o pedido.

    CPhisBL+ No deveria beber cerveja com ovos batidos+ Cperguntou

    seu irmo, reprimindo com dificuldade a imagem mental do que, segundo

    Aergus, era o alimento adequado para as rec%m mames.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    76/945

    C PhisBLCela assegurou com decisoC Quando estava doente, cansado

    e com a perna to dolorida, te dei cerveja com ovos batidos+

    CFoce me deu coisas muito piores Cdisse ele sorrindo de orelha a orelha

    C :as % verdade, tamb%m me deu HhisBL. C1olocou cuidadosamente omenino dormindo na cama e foi em procura da bebidaC @! tem nome+

    Cquis saber sinalizando ao beb7 com a cabea enquanto servia uma

    generosa quantidade de l(quido ambarino.

    C5 chamarei de an, como seu pai. C" mo de @ennL se encostou na

    cabecinha arredondada, recoberta por uma pelugem castanha dourada.

    No ponto macio da coronilha palpitava visivelmente o pulso; para o @amie

    lhe parecia tremendamente fr!gil, mas a parteira lhe tinha assegurado

    que era um menino so e vigoroso; teria que acreditar. :ovido por uma

    obscura necessidade de proteger aquele ponto macio, to e#posto,

    levantou uma vez mais o beb7 e lhe cobriu a cabea com o cobertor.

    C:arL :acNab me contou o que fizeste com a senhora IirbL C

    comentou @ennL tomando um trago C Que pena que eu perdi. 9iz :arL

    que essa velha bru#a esteve a ponto de engulir a prpria l(ngua quando te

    ouviu.

    @amie sorriu como resposta, dando suaves palmadas nas costas do beb7,

    que descansava sobre seu ombro, profundamente dormindo. &eu

    corpinho, inerte como um presunto sem osso, era um peso macio e

    reconfortante.

    CQue pena que no o fez. 1omo faz para suportar essa mulher+ Eu aestrangularia se a tivesse em minha casa todos os dias.

    &ua irm ofegou e fechou os olhos, jogando a cabea para tr!s para que o

    HhisBL descesse por sua garganta.

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    77/945

    C"h, a gente incomoda at% onde se permite. E eu no lhe permito muito.

    9e qualquer modo Cdisse abrindo os olhosC, no me desagradaria

    livrar2me dela. Estou pensando mandar ao velho IettricB, o de 6roch

    :ordha. 5 ano passado perdeu a sua esposa e a sua filha; precisar! quealgu%m o ajude.

    C&im, mas se eu fosse &amuel IettricB ficaria com a vi?va de :urraL,

    no com a de IirbL Cobservou @amie.

    C3eggL :urraL j! est! arranjada C assegurou sua irmC Na

    primavera se casar! com 9uncan Mibbons.

    C9uncan se moveu depressa Ccomentou um pouco surpreso. Ento lhe

    ocorreu algo e sorriuC. "lgum dos dois sabe+

    CNo Crespondeu ela devolvendo2lhe o sorriso. 9epois o gesto se

    esfumou numa olhada especulativaC " no ser que voce tamb%m esteja

    pensando em 3eggL.

    CEu C@amie deu um sobressalto, como se ela acabasse de sugerir que ele

    desejava saltar pela janela.

    CEla s tem vinte e cinco anos Cinsistiu @ennLC. 3ode ter mais filhos. E

    % boa me.

    CFoce no bebeu demais+ Estou vivendo numa gruta, como um animal, e

    voce pensa em me arranjar uma esposaD C9e repente sentiu um vazio

    por dentro.

    CQuanto tempo faz que no se deita com uma mulher, @amie+ C

    perguntou sua irm em tom coloquial.Foltou2se a olh!2la, estupefato.

    CQue tipo de pergunta % essa+

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    78/945

    CNo tem estado com nenhuma das solteiras que vivem em GallLbroch e

    6roch :ordha Ccontinuou ela sem dar atenoC Eu teria sabido. E

    creio que tamb%m com nenhuma das vi?vas. CAez uma delicada pausa.

    C&abe perfeitamente que Cno respondeu sentindo que enrusbeceu asbochechas.

    C3or que+ Cperguntou @ennL sem rodeios.

    C1omo que

  • 8/11/2019 Outlander 03 A viajante-Diana Gabaldon.doc

    79/945

    :as % hora de seguir adiante, @amie. 1laire no ia querer que passasses a

    vida s, sem ningu%m que te console e te d7 filhos.

    CEla estava gr!vida Cmurmurou ele, por fim, falando com seu prprio

    refle#o no vidro embaadoC Quando se... Quando a perdi.9e que outro modo podia diz72lo+ No tinha maneira de e#plicar a sua

    irm onde estava 1laire. 9e e#plicar2lhe que no podia pensar em outra,

    com a esperana de que estivesse viva, ainda sabendo que a tinha perdido

    para sempre.

    9epois de um longo sil7ncio, por fim, @ennL perguntou bai#inho'

    C3or isso veio hoje+

    Ele suspirou e se voltou.

    C4alvez sim. @! que no pude ajudar a minha esposa, pensei que poderia

    te ajudar.Na realidade, no pude Cdisse com certa amarguraC 3ara

    voce sou to in?til como fui para ela.

    @ennL lhe estendeu uma mo, cheia de aflio.

    C@amie, mo chridhe... C: