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PANORAMA DA DESERTIFICAO NOESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Natal RNOutubro de 2005
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Ministrio do Meio Ambiente
Fundo Nacional do Meio Ambiente
Governo do Estado do Rio Grande do Norte
Secretaria de Estado dos Recursos Hdricos SERHID
Instituto de Desenvolvimento Econmico e Meio Ambiente IDEMA
Fundao Grupo Esquel Brasil
Articulao do Semi-rido ASA
Agncia de Desenvolvimento Sustentvel do Serid ADESE
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MINISTRIO DO MEIO AMBIENTESecretaria de Recursos Hdricos
PANORAMA DA DESERTIFICAO NOESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Natal RNOutubro de 2005
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Coordenao Tcnica
Ponto Focal Governamental
Vera Lcia Lopes de Castro
Ponto Focal No-Governamental
Emdio Gonalves de Medeiros
Ponto Focal Parlamentar
Fernando Mineiro
Consultor /Colaborador
Ione Rodrigues Diniz Morais (Consultora)
Elisngelo Fernandes da Silva (Colaborador)
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SUMRIO
1 ANTECEDENTES 22 ASPECTOS GERAIS SOBRE O FENMENO DESERTIFICAO 143 DESERTIFICAO NO RIO GRANDE DO NORTE 18
3.1 Caracterizao Geral do Territrio Norte-rio-grandense 183.2 As reas Susceptveis Desertificao do Rio Grande do Norte 32
3.2.1 Caractersticas 333.2.2 reas Susceptveis Desertificao 443.2.2.1 reas Semi-ridas 463.2.2.1.1 Ncleo de Desertificao do Serid 483.2.2.2 reas Submidas Secas 523.2.2.3 reas do Entorno das reas Semi-ridas e Submidas Secas 53
4. CONVNIOS, PROGRAMAS E PROJETOS NO MBITO DAS POLITCAS PBLICAS DE COMBATE DESERTIFICAO. 555. INSTITUIES GOVERNAMENTAIS E NO-GOVERNAMENTAIS COM AES NA REA SCIO-AMBIENTAL. 62REFERNCIAS 70ANEXOS 73
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1 ANTECEDENTES
A segunda metade do sculo XX e o limiar do sculo XXI foram marcados por um elevado
estgio de desenvolvimento cientfico-tecnolgico, ampliando-se os horizontes da criao, inovao e
reinveno do saber-fazer humano. Nesta fase, tambm foram dilatados o nvel e a natureza das aes e
intervenes humanas sobre o meio ambiente, de modo que a explorao dos recursos naturais passou a
registrar maior produo/produtividade, traduzindo-se em maior presso sobre os mesmos. Assim, a
ampliao de possibilidades criadas pelo meio tcnico-cientfico-informacional contempornea
elevao da magnitude dos problemas enfrentados pela humanidade.
Neste contexto, as relaes entre os homens e entre estes e a natureza tm sido presididas
por uma racionalidade economicista, manifestando-se na explorao social (dos homens entre si) e
ambiental (homem x meio ambiente). Em conseqncia, expande-se a degradao social, transformando
pessoas em farrapos humanos, cuja existncia se constitui um grosseiro simulacro da vida. A
espacializao deste processo assume a forma de degradao ambiental, cuja feio mais intensa a
desertificao. Este fenmeno que se revela no desgaste dos solos, dos recursos hdricos, da vegetao,
da biodiversidade, por conseguinte, da prpria qualidade de vida, manifesta-se sobretudo nas regies
ridas e semi-ridas da Terra. Sobrepondo-se os indicadores sociais a estes recortes, constata-se que
neles h uma expressiva concentrao de pobreza e misria, cujas razes no se fundam em fenmenos
naturais, mas na trajetria histrica. So mais de 1 bilho de pessoas vivendo nas terras secas e
utilizando, em termos gerais, sistemas produtivos de baixo nvel tecnolgico e totalmente
descapitalizados (PERNAMBUCO, 2001, p. 9), procurando sugar os escassos recursos na luta para
subsistir.
Nos ltimos decnios, a expanso e os impactos da desertificao despertaram a
comunidade cientfica para a necessidade de se aprofundar os estudos sobre o tema e de formular
polticas que tenham como objetivo atuar sobre os agentes desencadeadores e/ou minimizar seus
efeitos.
As preocupaes com a desertificao adquiriram proeminncia, na dcada de 1930, em
funo da intensa degradao dos solos verificada no meio-oeste americano, conhecida como Dust
Bowl, que atingiu uma rea de 380.000 km. A ocorrncia deste fenmeno motivou os cientistas a
desenvolverem estudos e pesquisas neste campo e a identificarem tal processo como sendo o da
desertificao.
Contudo, foi nos anos de 1970, quando o Sahel africano regio semi-rida abaixo do
deserto do Saara - vivenciou uma grande seca resultando, entre outras conseqncias, na dizimao de
7
mais de 500.000 pessoas de fome, que a problemtica repercutiu mundialmente (MMA, [199-], p. 2-3).
As precrias e dramticas situaes de vida da populao africana, enredadas em secas, fome e guerras,
j vinham chamando a ateno da comunidade internacional desde a dcada de 1960. Intensos
movimentos migratrios e uma acentuada devastao ambiental pontilhavam o territrio africano,
especialmente o Sahel, e sinalizavam para a conformao de um quadro scio-ambiental resultante da
associao entre pobreza, fome e destruio dos recursos naturais vitais como gua, vegetao e solo.
A leitura deste processo conduziu interpretao de que se tratava do fenmeno da desertificao, cuja
face ambiental manifestava-se pela destruio dos recursos naturais; a face econmica revelava-se pela
reduo da produo e da produtividade agrcola e a face social mostrava-se atravs do
empobrecimento da populao, expresso no aumento das epidemias e das taxas de mortalidade infantil.
Desta constatao inicial, a comunidade internacional construiu um outro entendimento: o de que o
fenmeno em pauta no se restringia frica, aparecendo nos demais continentes, mais especificamente
nas regies sob climas ridos e semi-ridos - sujeitos seca. Neste sentido, a desertificao passou a ser
considerada um problema de escala global e, como tal, tornou-se um tema recorrente na agenda das
organizaes internacionais.
Neste cenrio, as Naes Unidas patrocinaram as iniciativas primeiras e de maior
envergadura. Sob seus auspcios, em 1972, na Sucia (Estocolmo), foi realizada a Conferncia
Internacional sobre Meio Ambiente Humano, sendo abordada a catstrofe africana decorrente da seca
(1967-1970) e dos problemas de desertificao. As propores que a problemtica assumiu foram
fundamentais para que, nesta Conferncia, fosse decidida a realizao de um outro evento especfico
para abordar a desertificao.
Este ocorreu em 1977, no Qunia (Nairbi), sob o ttulo de Conferncia das Naes Unidas
sobre Desertificao, e resultou na consolidao do tema a nvel mundial, sendo includas no cenrio
das discusses as regies ridas e semi-ridas da Terra e questes pertinentes relao entre pobreza e
meio ambiente, alm da deciso de se elaborar o Plano de Ao Mundial contra a Desertificao
(MMA, [199-], p. 14-15).
Na seqncia dos eventos internacionais com repercusses sobre desertificao, sagrou-se a
Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Brasil, na
cidade do Rio de Janeiro, em 1992. A Rio 92 ou ECO 92, como ficou conhecida, representou um
marco nas discusses e aes sobre o tema, tendo em vista a consolidao e aprovao de cinco
documentos relacionados ao ambiente: Carta da Terra, Conveno do Clima, Conveno da
Biodiversidade, Declarao de Princpios sobre Florestas e Agenda 21. Este ltimo considerado por
muitos ambientalistas como o principal documento assinado pelas autoridades mundiais nesse evento e
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conforme registra textualmente est voltada para os problemas prementes de hoje e tem o objetivo,
ainda, de preparar o mundo para os desafios do prximo sculo.
Na Agenda 21, em seu Captulo 12 (1997, p. 183), encontra-se sistematizada uma definio
para o termo desertificao, assim expressa: a desertificao a degradao do solo em reas ridas,
semi-ridas e submidas secas, resultante de diversos fatores, inclusive de variaes climticas e de
atividades humanas. A degradao da terra entendida como correspondente degradao dos solos,
dos recursos hdricos, da vegetao e da biodiversidade, significando, por fim, a reduo da qualidade
de vida das populaes afetadas (MMA, 2004, p. 4). Como resultado da implementao da Agenda 21,
merece ser ressaltada a sistematizao e aprovao da Conveno das Naes Unidas para o Combate
Desertificao nos pases que sofrem seca grave e/ou desertificao, particularmente na frica-
CCD, em vigor desde 26 de dezembro de 1996, que representa um progresso em termos de
enfrentamento do problema em nveis nacionais e internacionais.
Tecida no mbito do entrelaamento de fatores naturais e aes antrpicas, a desertificao
alastrou-se pelo mundo atingindo cerca de um sexto da populao, 70% das terras secas e um quarto da
rea do planeta (Agenda 21, 1997, p. 183). Considerando a dimenso e a extenso deste fenmeno
possvel admitir que a sociedade atual vive um momento de extrema periculosidade, posto que o
crescimento demogrfico, embora desacelerado, ainda positivo e se traduz em maior presso sobre os
recursos naturais.
Embora se tenha conhecimento de que a apropriao das terras pelo homem um processo
secular, reconhecvel que, na segunda metade do sculo XX, em decorrncia de uma srie de fatores
sociais, econmicos, polticos e culturais, a sociedade passou a intervir com maior avidez sobre a
natureza e a exigir vorazmente dos recursos naturais, em muitos casos levando-os ameaa de
exausto.
No Brasil, a trajetria da desertificao seguiu basicamente os (des)caminhos trilhados pelo
processo em nvel mundial. As referncias a uma preocupao com a destruio das matas, remontam
ao sculo XVIII, mais precisamente ao ano de 1726, quando o governo colonial criou o cargo de juiz
conservador de matas, com o objetivo de coibir as aes indiscretas e desordenadas que assolavam as
matas (VILLA, 2000, p. 65 apud MEDEIROS, 2004, p. 22). Fragmento textual extrado de um
discurso proferido por Jos Bonifcio, na Assemblia Geral Constituinte e Legislativa do Imprio, em
1823, expressa o quo antigo o problema da degradao no Brasil: [...] nossas preciosas matas vo
desapparecendo, victimas do fogo e do machado destruidor da ignorncia e do egosmo; nossos montes
e encostas vo-se escalvando diariamente, e com o andar do tempo faltaro as chuvas fecundantes, que
favoreo a vegetao, alimentam nossas fontes e rios, sem o que o nosso bello Brasil em menos de
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dois sculos ficar reduzido aos paramos e desertos ridos da Lybia (BRITO, 1987, p. 57 apud
MEDEIROS, 2004, p. 23).
No decorrer do sculo XX, importantes contribuies foram dadas por estudiosos como
Phillip Luetzelburg, Jos Guimares Duque, Thomas Pompeu de Souza Brasil, Thomas Pompeu de
Souza Brasil Filho, Thomas Pompeu Sobrinho, Carlos Bastos Tigre, Drdano de Andrade Lima e Lauro
Xavier (MMA, 2004, p. 52). Alm destes, h ainda estudos produzidos por Aziz AbSaber, Edmon
Nimer, Phillip M. Fearnside, Luciano Jos de Oliveira Acciolly, Magda Adelaide Lombardo, Alexandre
Jos Rego P. de Arajo, Jos Bueno Conti, Benedito Vasconcelos Mendes, entre outros.
Dentre os estudiosos do tema desertificao, merece um realce especial a produo de Joo
de Vasconcelos Sobrinho, professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco. O referido
professor, alm de publicar uma significativa produo bibliogrfica nesta rea, contemplando
principalmente a Regio Nordeste, tambm atuou na elaborao do Relatrio Brasileiro para a
Conferncia das Naes Unidas sobre Desertificao e foi membro da delegao brasileira para a
Conferncia em Nairbi. Entre suas proposies cientficas mais relevantes situa-se a teoria dos Ncleos
de Desertificao e a metodologia para identificao de processos de desertificao (VASCONCELOS
SOBRINHO, 2002).
Uma outra importante contribuio ao conhecimento das reas susceptveis desertificao
do Brasil, correspondentes ao bioma Caatinga, foi produzida pelo Conselho Nacional da Reserva da
Biosfera da Caatinga. O Projeto Cenrios para o Bioma Caatinga, envolve a montagem de um banco
de dados em ambiente SIG, com sistema interativo de consulta, e a elaborao de cenrios, a partir do
diagnstico e da identificao das potencialidades regionais. A publicao dos resultados deste trabalho,
sob o ttulo Cenrios para o Bioma Caatinga, foi sistematizada em tpicos que tratam das bases para
o desenvolvimento sustentvel do referido bioma, do cenrio tendencial, do cenrio desejvel, da
agenda de desenvolvimento sustentvel e do diagnstico. Neste ltimo, so analisados os aspectos do
desenvolvimento regional, caracterizadas as dimenses econmicas, sociais, culturais e ambientais do
bioma caatinga e apresentados os impactos ambientais decorrentes do uso dos recursos naturais e os
impactos das polticas pblicas sobre o desenvolvimento do mencionado bioma (BRASIL, 2004). Este
projeto se constitui o maior banco de dados sobre o bioma Caatinga, sendo uma referncia para os
estudos que tratem de temas relativos a esta frao do territrio brasileiro.
Considerando a definio de desertificao, anteriormente exposta, vislumbra-se que uma
significativa parcela do Brasil passvel ocorrncia do fenmeno, mais especificamente, a regio
semi-rida nordestina. No Mapa de Ocorrncia da Desertificao do Brasil este recorte apresenta reas
com processos de degradao intensos, muito graves, graves e moderados. As reas de intensa
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degradao, ou seja, os Ncleos de Desertificao situam-se em Gilbus/PI, Irauuba/CE, Cabrob/PE
e na Regio do Serid/RN (MMA, [199-], p. 10-11).
No mbito dos compromissos firmados pelo governo brasileiro, ao ratificar a Conveno
das Naes Unidas de Combate Desertificao, foi construdo o Programa de Ao Nacional de
Combate Desertificao e Mitigao dos Efeitos da Seca PAN Brasil (MMA, 2004). Norteado pelo
paradigma do desenvolvimento sustentvel, conforme explicitado na Agenda 21, este documento
assume relevncia na medida em que faz referncia e busca criar condies de prosperidade para uma
regio com grandes dficits sociais e produtivos, resultantes de uma histria ambiental, social,
econmica e poltica, que configuram um quadro muitas vezes desolador de pobreza e misria (MMA,
2004, p. xxiii). Em termos de territrio brasileiro, conforme as definies da Conveno, a regio em
foco corresponde aos espaos semi-ridos e submidos secos do Nordeste e alguns trechos igualmente
afetados pelas secas nos estados de Minas Gerais e Esprito Santo. Identificados como reas
Susceptveis Desertificao ASD, estes espaos esto concentrados na Regio Nordeste, abrangem
1.338.076 km, equivalentes a 15,72% do territrio nacional, abrigam mais de 31,6 milhes de
habitantes (18,65% da populao brasileira) e correspondem circunscrio da Caatinga, um bioma sui
generis.
Tratando-se especificamente da problemtica da desertificao no Rio Grande do Norte,
possvel evidenciar na bibliografia pertinente que fraes do territrio estadual j foram inseridas como
representativas deste processo, desde os estudos de Vasconcelos Sobrinho, sobre a ocorrncia do
fenmeno no Nordeste brasileiro. Ao desenvolver o conceito de rea Piloto, o mencionado autor
definiu que no Rio Grande do Norte esta seria representada pela Regio Fitogeogrfica do Serid,
envolvendo os municpios de Currais Novos, Acari, Parelhas, Equador, Carnaba dos Dantas, Caic,
Jardim do Serid e reas de municpios vizinhos (VASCONCELOS SOBRINHO, 2002, p. 60).
Outros trabalhos contemplando o territrio potiguar sob a tica da questo da
desertificao e/ou temas correlatos como a seca, a explorao de recursos naturais e o
desenvolvimento sustentvel, foram desenvolvidos por vrios estudiosos transformando-se em um
importante legado para as geraes atual e futura, dos quais destacamos:
BORGES, A. M. et, alii. reas vulnerveis Desertificao do Rio Grande do Norte. CadernoNorte-riograndense de temas geogrficos, Natal, , v. 4, 1979.BRASIL; MMA; SERHID. Projeto piloto de combate desertificao na Regio do Serid, 2001(partes A e B).COSTA, Thomaz Corra e Castro da. et. al. Mapeamento da fitomassa da caatinga do Serid pelosndices de rea de planta e vegetao normalizada. Sci. Agric. (Piracicaba, Braz. [on line].out./dez.2002, v. 59, n 4, p. 707-715. Disponvel em
11
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&S0103-90162002000400014&ing=pt&nrm=iso.ISSN 0103-9016.EMPARN. Avaliao de prticas de revegetao em reas degradadas pela atividade decermica-RN. [S.l.: s.n., 19--].EMPARN. Introduo e seleo de espcies florestais para florestamento e reflorestamento nosemi-rido potiguar. [S.l.: s.n., 19--];.FARIA, H. B. de. Identificao de ncleos de desertificao na regio seridoense do Estado do RioGrande do Norte. Seminrio sobre desertificao no Nordeste. Recife: SUDENE, 1986.FREIRE, Adalberto Antnio Varela. A caatinga hiperxerfila Serid: caracterizao e estratgia para asua conservao. Publi. ACIESP/U.S. FISH & WILDLIFE SERVICE, n. 11. So Paulo, 2002. IICA. Preservao e conservao e recuperao da cobertura vegetal nativa do municpio deEquador RN, [S.l.: s.n., 19--].MEDEIROS, Getson Lus D. de. Mapeamento dos agentes de degradao ambiental do Serid. In:Seminrio Sociedade e Territrios no Semi-rido Brasileiro: em busca da sustentabilidade. CampinaGrande-PB, 2002.MEDEIROS, Getson Lus Dantas de. A desertificao do semi-rido nordestino: o caso da Regio doSerid norte-rio-grandense. 2004. Dissertao (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Mossor, 2004.MEDEIROS, Josemar Arajo de; MEDEIROS, Erivelto Elpdio de. gua: a questo hdrica no Serid.Dirio de Natal, Natal, 22 mar. 2003.MEUNIER, Isabelle Maria J.; CARVALHO, Adailton Jos Epaminondas de. Crescimento da caatingasubmetida a diferentes tipos de cortes na Regio do Serid do Rio Grande do Norte. Boletim Tcnico,n 4, Natal: MMA, set. 2000.NRI, M. S. A. Processo de desertificao: o caso de So Jos do Serid. Natal: UFRN, 1982.PNUD/FAO/BRA/87/007. Diagnstico florestal do Rio Grande do Norte. [S.l.: s.n.], 1994.PNUD/FAO/BRA/93/033. Crescimento da caatinga submetida a diferentes tipos de cortes na Regiodo Serid do RN. [S.l.: s.n.], 1999. PNUD/FAO/BRA/87/007. Incremento das matas nativas do Serid do Rio Grande do Norte. [S.l.:s.n.], 1991; PNUD/FAO/BRA/87/007. Plano de manejo florestal para a Regio do Serid do RN: v. I Levantamentos bsicos, v. II Definio de estratgias, v. III Plano de manejo florestal. [S.l.: s.n.],1992.QUEIROZ, Alvamar Costa. Desertificao: causas e conseqncias. In: Seminrio sobre desertificaono Serid RN, 1997, Currais Novos/RN: 1997. p. 1-9. Texto xerog..RIO GRANDE DO NORTE; SEPLAN; IICA. Plano de desenvolvimento sustentvel do Serid: v. 1 -Diagnstico; v. 2 Estratgias, programas e projetos e sistema de gesto. Caic, set. 2000.SILVA, Carlos Srgio Gurgel da. Abordagens sobre o processo de desertificao nos municpios deParelhas e Equador no Estado do Rio Grande do Norte: uma avaliao. 1999. Monografia(Bacharelado em Geografia) UFRN, Natal, 1999.SZILAGYI, Gustavo. Abordagens sobre o processo de desertificao e uma reviso conceitual para ofenmeno investigado. Monografia (Bacharelado em Geografia) UFRN, Natal, 2004.
No mbito da produo norte-rio-grandense um estudo que se tornou referncia foi
produzido por Carvalho; Gariglio; Barcellos (2000) sob o ttulo Caracterizao das reas de
ocorrncia de desertificao no Rio Grande do Norte. Este trabalho teve como aporte o Plano
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&S0103-90162002000400014&ing=pt&nrm=iso
12
Nacional de Combate Desertificao PNCD (1995), no qual o territrio potiguar foi avaliado sob a
tica da ocorrncia e da intensidade do processo de desertificao. As reas susceptveis ao fenmeno
foram classificadas segundo o Grau de Susceptibilidade, em reas com intensidade muito grave, grave e
moderada (TAB. 01).
TABELA 01Ocorrncia do Processo de Desertificao no Rio Grande do Norte
CLASSE DE REA POPULAOINTENSIDADE Km % Absoluta %
Muito Grave 12 965 24,3 289 767 11,0Grave 20 545 38,5 591 158 22,5Moderada 5 120 9,6 215 112 8,2Total Afetado no RN 38 630 72,5 1 096 037 41,7Estado 53 307 100,0 2 630 000 100,0
FONTE: PNCD, 1995 apud CARVALHO; GARIGLIO; BARCELLOS. Caracterizao das reas de ocorrncia dedesertificao no Rio Grande do Norte, 2000, p. 8.
As informaes apresentadas permitem inferir que, possivelmente no incio dos anos de
1990, a desertificao j tinha afetado 72,5% do territrio potiguar, em nveis de intensidade variados e
sinalizavam para estatsticas preocupantes, principalmente em funo da representatividade que assumia
as reas com estgios de ocorrncia classificados como grave e muito grave. Um outro aspecto
importante refere-se abrangncia populacional, visto que nas reas afetadas moravam 41,7% do
contingente estadual, ressaltando-se que, na regio com nvel de desertificao muito grave, residiam
11% dos potiguares.
A projeo dos dados da desertificao no espao norte-rio-grandense revela o mapa de
ocorrncia do fenmeno, explicitando a classe de intensidade, segundo as regies afetadas (MAPA 01).
MAPA 01 Ocorrncia de Desertificao no Rio Grande do Norte
13
FONTE: CARVALHO; GARIGLIO; BARCELLOS. Caracterizao das reas de ocorrncia de desertificao no RioGrande do Norte, 2000, p. 9.
Conforme a representao cartogrfica da desertificao no territrio potiguar, o recorte de
ocorrncia muito grave correspondia Microrregio Homognea do Serid (centro-sul do Estado),
inclusive sendo retratada a rea de abrangncia do Ncleo de Desertificao, compreendido pelos
municpios de Currais Novos, Acari, Cruzeta, Carnaba dos Dantas, Parelhas e Equador. Em 1989,
com a vigncia da nova diviso regional do Brasil, adotada pelo IBGE, este espao passou a configurar
duas microrregies geogrficas: Serid Oriental, onde se situa o Ncleo de Desertificao, e Serid
Ocidental (vide MAPA 02).
O espao onde a desertificao se manifestava de forma grave era constitudo pelas
Microrregies Salineira Norte-rio-grandense (litoral norte em sua poro centro-oeste), Au e Apodi
(centro e oeste) e Serra Verde (centro-leste). Com a nova diviso regional, houve um reordenamento
que resultou nas seguintes microrregies: Mossor, Chapada do Apodi, Mdio Oeste e Vale do Au,
localizadas na poro centro-oeste, e Litoral Nordeste, Baixa Verde e Angicos, situadas no centro-leste
do Estado.
A circunscrio de ocorrncia moderada restringia-se Microrregio Homognea Serrana
Norte-rio-grandense, cuja localizao corresponde ao extremo sul-oeste do territrio potiguar.
Mediante a reorganizao regional foi dividida em trs microrregies: Umarizal, Pau dos Ferros e Serra
de So Miguel.
14
A identificao dos estudos sobre a desertificao no Rio Grande do Norte denota que a
preocupao com o problema j se fazia presente nos ltimos decnios do sculo XX, sendo
sintomtico que, em 1997, tenha sido criado o Grupo de Estudos sobre Desertificao no Serid
GEDS. O referido grupo, que envolve diversas instituies, foi fruto de um processo de reflexo em
torno das questes da seca, das alternativas de convivncia com a mesma e do combate direto aos
processos desencadeadores da desertificao e tem como objetivo fomentar estudos e debates sobre o
tema, articulando aes capazes de promover o desenvolvimento sustentvel no Serid (IDEMA, 2004,
p. 11).
Nesta mesma linha de ao, em 17 de junho de 2004, atravs de Termo de Cooperao
Tcnica e Cientfica N 004/2004, instrumento que visa implantar estratgias para combater e controlar
o processo de desertificao no Estado, a partir da criao de reas pilotos e aes sincronizadas, foi
criado o Ncleo de Desenvolvimento Sustentvel da Regio do Serid NUDES. O referido Termo foi
celebrado entre a Procuradoria Geral de Justia do Ministrio Pblico do Estado do Rio Grande do
Norte, o Governo do Estado do Rio Grande do Norte, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
a Escola Superior de Agricultura de Mossor, o Departamento Nacional de Obras contra as Secas, o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renovveis e a Agncia de Desenvolvimento do
Serid. Os signatrios do Termo se propem a desenvolver aes conjuntas, de modo a integrar os
diversos recursos materiais e humanos existentes, bem como toda a experincia e conhecimento
adquiridos sobre o tema.
A criao do NUDES foi idealizada pelo Ministrio Pblico, atravs do Centro Operacional
s Promotorias de Meio Ambiente (CAOPMA). Os trabalhos de elaborao do plano foram
deflagrados, no incio de 2004, atravs de estudos de viabilidade scio-econmica e de impacto
ambiental.
O arcabouo de aes desenvolvidas no mbito do NUDES norteia-se por trs vertentes:
educao ambiental, medidas jurdicas de proteo ao meio ambiente e introduo de propostas
econmicas alternativas, que conciliem a preservao ambiental e a gerao de renda
(http://www.serhid.rn.gov.br). Nesta perspectiva, objetiva o desenvolvimento de aes visando
reduo dos problemas ambientais, sociais e econmicos numa rea geogrfica pr-definida.
A rea piloto escolhida para implantao deste ncleo, abrange uma extenso de 80 km,
localiza-se no municpio de Parelhas, mais especificamente nas comunidades rurais de Cachoeira,
Juazeiro e Santo Antnio da Cobra, inseridas na bacia hidrogrfica do Rio Cobra. Conforme
informaes obtidas na SERHID, nas trs comunidades residem 391 famlias, totalizando 1.567
http://www.serhid.rn.gov.br/
15
habitantes, e existem nove cermicas, sendo uma comunitria, cuja produo de 28 milheiros de
telha/dia.
As razes que levaram estas comunidades a serem escolhidas residem na conjugao de
alguns fatores, dos quais destacamos: o Municpio de Parelhas est entre aqueles que o PAN Brasil
relaciona como rea piloto para investigao sobre desertificao no Semi-rido brasileiro; constitui-se
o principal produtor de cermica do Estado, usando a argila como matria-prima e a lenha como fonte
de energia; h alguns anos, a problemtica da degradao ambiental local alvo de discusses e
reflexes entre as comunidades rurais e organizaes governamentais e no-governamentais, sendo
notvel a existncia de uma conscincia dos danos e dos limites ambientais e de uma tendncia ao
associativismo.
No mbito do NUDES, as principais aes foram desenvolvidas pelo IDEMA e consistiu na
avaliao e monitoramento da Sub-bacia Hidrogrfica do Riacho Cobra e na realizao de um Curso de
Capacitao em Educao Ambiental, que reuniu professores, representantes das atividades produtivas
locais, das organizaes comunitrias e estudantes.
A justificativa para que o Serid seja o objeto de anlise em expressiva parcela da produo
bibliogrfica referente desertificao no Rio Grande do Norte e tenha sido o lcus da criao do
GEDS e do NUDES, fundamenta-se no reconhecimento de que, em nvel de Estado, a regio mais
afetada.
A percepo de que a desertificao est relacionada ocorrncia de secas e forma como
o homem se relaciona com o meio, principalmente para fins de explorao econmica um forte
indicativo de que, em espaos como o Rio Grande do Norte, torna-se premente repensar as estratgias
de produo e de sobrevivncia da sociedade. No cenrio de reestruturao produtiva, delineado aps a
crise do algodo e da minerao (1970-1980), em que emergiram novos segmentos produtivos
remodeladores da geografia econmica do territrio, a insurgncia e/ou acentuao da degradao
ambiental foi uma forte motivao para se pensar estratgias que viabilizassem o desenvolvimento em
bases sustentveis.
Nesta perspectiva ressalta-se que, a partir de demandas da sociedade, o Governo assumiu o
compromisso de desenvolver uma poltica de planejamento regional norteada pelos pressupostos da
sustentabilidade.
Em funo de suas particularidades sociais, econmicas, polticas e ambientais coube ao
Serid a primazia de vivenciar este processo que culminou com a elaborao do Plano de
Desenvolvimento Sustentvel do Serid - PDSS. O panorama em que germinou a idia de sua
formulao, entre 1999 e 2000, foi marcado pela acentuao de problemas, com destaque para a
16
escassez dgua. A sociedade, atravs de suas principais lideranas polticas, empresariais, sindicais e
religiosas recorreram aos representantes do Estado, em suas diversas esferas, reivindicando solues
para os problemas existentes. Da associao de influncias provenientes de uma conjuntura externa,
onde se discutia pobreza e ambiente como facetas de um mesmo processo de degradao da vida
humana e se colocava como paradigma alternativo o desenvolvimento sustentvel atuao local de um
pequeno coro de vozes que pregavam no deserto, chegou-se a uma experincia pioneira e inovadora em
termos de planejamento estratgico participativo.
O PDSS foi elaborado com base em uma metodologia que envolveu a compilao e anlise
de dados e documentos extrados de diferentes fontes, inclusive teses e dissertaes que versam sobre a
regio; a consulta sociedade, atravs de reunies municipais e sub-regionais, e a realizao de
entrevistas com personalidades e lideranas de diversos segmentos da sociedade, conhecedoras da
problemtica regional. A coordenao dos trabalhos foi desenvolvida por consultores do Instituto
Interamericano de Cooperao para a Agricultura IICA.
A adoo desta metodologia de planejamento objetivou possibilitar o envolvimento da
sociedade no processo de construo do seu plano de desenvolvimento. Nesta perspectiva, foram
convidados a participar das reunies municipais, sub-regionais e regionais os representantes das vrias
instituies e organizaes pblicas e privadas da regio que tiveram um importante papel na
identificao dos problemas existentes, na indicao das possveis solues, no desvendamento das
potencialidades e na delineao dos cenrios desejados, contedos informativos que serviram de
subsdios formulao do plano.
Tendo como base a experincia de planejamento descentralizado e participativo e a adoo
dos princpios do desenvolvimento sustentvel, cujas iniciativas devem ser geradoras de uma maior
eqidade social, um elevado nvel de conservao ambiental e uma maior racionalidade/eficincia
econmica, construiu-se um documento estruturado em dois volumes. No primeiro, tem-se um
diagnstico do Serid atravs da caracterizao das dimenses ambiental, tecnolgica, econmica,
scio-cultural e poltica-institucional. Este meticuloso documento, alm de uma anlise consistente
sobre a regio, ainda identifica suas fragilidades e potencialidades. No segundo, so demonstrados
estratgias, programas e projetos por dimenso e o sistema de gesto do Plano, na perspectiva de
apontar diretrizes que permitam a soluo dos problemas e/ou delineao dos cenrios desejados pela
sociedade. Desta forma, o PDSS se prope a ser um norteador das aes que conduziro o processo de
desenvolvimento sustentvel e, neste, a dimenso ambiental assume uma expressiva relevncia em
funo do nvel de degradao regional que se situa entre muito grave e intenso.
17
Dando prosseguimento estratgia de planejamento participativo e descentralizado e
utilizando-se o mesmo arcabouo terico-metodolgico do PDSS, foram elaborados o Plano Regional
de Desenvolvimento Sustentvel do Agreste, Potengi e Trairi e o Plano de Desenvolvimento
Sustentvel da Zona Homognea do Litoral Norte. Em fase de concluso encontra-se o Plano de
Desenvolvimento Sustentvel da Regio do Alto Oeste.
A adoo desta poltica de planejamento do desenvolvimento regional est em sintonia com
os novos postulados do desenvolvimento, por ter como referenciais os princpios de uma nova
racionalidade que no se norteia apenas pelos interesses econmicos. Ademais, representa um avano
em termos de pensar o territrio estadual a partir de suas especificidades regionais e uma significativa
conquista da sociedade, que se torna co-responsvel pela elaborao, execuo e gesto do seu plano
de desenvolvimento.
Considerando que a sustentabilidade do desenvolvimento pressupe a articulao entre as
dimenses econmica, poltica, scio-cultural, cientfico-tecnolgica e ambiental e que, no momento
atual, a sociedade e o Governo deixam transparecer o desejo de apoiar os planos j implementados,
implantar os que esto em fase de construo e expandir o processo para as regies ainda no
contempladas, possvel pensar que a problemtica da desertificao no Rio Grande do Norte tender a
sofrer um refreamento. Esta possibilidade no poder ficar inscrita apenas no cenrio desejado, mas
dever se cristalizar atravs decises e aes que fomentem o desenvolvimento de tecnologias e
alternativas de recuperao de reas degradadas e de preveno e convivncia em reas em processo de
desertificao, de modo que as populaes afetadas conquistem o direito de viver de forma digna nestes
lugares, vivenciando a seca, condio que no se pode mudar, sob novas perspectivas de vida derivadas
do saber cientfico e de novas relaes homem x meio.
18
2 ASPECTOS GERAIS SOBRE O FENMENO DESERTIFICAO
A CCD (MMA, [199-], p. 9) definiu que por Desertificao entende-se a degradao da
terra nas zonas ridas, semi-ridas e submidas secas, resultantes de vrios fatores, incluindo as
variaes climticas e as atividades humanas.
Nas reas susceptveis a este processo o clima prevalecente tem entre suas caractersticas
marcantes: a ausncia, escassez e m distribuio das precipitaes pluviomtricas, no tempo e no
espao, ou seja, a ocorrncia da seca. A definio deste fenmeno remete a uma ocorrncia que se
verifica naturalmente quando a precipitao registrada significativamente inferior aos valores
normais, provocando um srio desequilbrio hdrico que afeta negativamente os sistemas de produo
dependentes dos recursos da terra (MMA, [199-], p. 9).
Neste sentido, seca e desertificao apresentam-se como fenmenos distintos, mas
estreitamente relacionados. Isto porque nas reas marcadas pela semi-aridez registra-se um
desequilbrio entre oferta e demanda de recursos naturais, levando-se em conta o atendimento s
necessidades bsicas de seus habitantes (MMA, 2004, p. 3). Nos perodos de seca este descompasso
aumenta, visto que a presso sobre os recursos naturais se amplia e a interveno do homem, em geral,
se faz atravs do uso inadequado do solo, da gua e da vegetao. Assim, as variaes climticas e as
atividades humanas se conjugam criando um ambiente favorvel instalao do processo de
desertificao, estabelecendo-se um crculo vicioso de degradao, onde a eroso causa a diminuio
da capacidade de reteno de gua pelos solos, que leva reduo de biomassa, com menores aportes
de matria orgnica ao solo; este se torna cada vez menos capaz de reter gua, a cobertura vegetal
raleia e empobrece, a radiao solar intensa desseca ainda mais o solo e a eroso se acelera,
promovendo a aridez. No desenrolar deste processo a ao antrpica tem desempenhado papel
fundamental, acelerando seu desenvolvimento e agravando as conseqncias atravs de prticas
inadequadas de uso dos recursos naturais (ARAJO et. al., 2002, p. 11).
Aportando-se em Sampaio et. al (2003, p. 24) tem-se que, entre as principais formas de
utilizao das terras e possveis degradaes, esto a retirada da vegetao e a prtica da agropecuria.
Com relao retirada da cobertura vegetal, os autores indicam cinco razes principais para o seu
procedimento: a substituio da cobertura vegetal por construes ou sua retirada contnua para a
manuteno de reas descobertas; utilizao do material do solo ou subsolo; a destruio peridica por
fogo; o uso da lenha e a substituio da cobertura original por outra de melhor uso como pastagem.
No que diz respeito substituio da cobertura vegetal, advogam que isto jamais ser
enquadrado como fator da desertificao pelo benefcio antrpico que traz e, no caso do semi-rido,
19
no tem impacto significativo. Porm, a leitura difere quando a justificativa a construo de
reservatrios artificiais. Os de grande porte submergem extensas reas de cultivo e/ou cidades e
deslocam populaes e os de pequeno e mdio portes, subtraem reas de cultivo nos terrenos mais
baixos. Apesar disso, a possibilidade de degradao deve ser considerada, mas em geral, estas
construes trazem mais benefcio que prejuzo, o que esperado de aes planejadas e de custo alto
(SAMPAIO et. al., 2003, p. 25).
A retirada da vegetao para fins de explorao do material do solo ou subsolo, tpica da
atividade mineira, implica na retirada de areia de construo dos aluviais de beira de rio remoo de
camadas de terra para acesso a veios de minrio. Nas reas de minas so comuns a formao de
depsitos de resduos, freqentemente txicos, e a presena de escavaes, que parecem rasgar a terra
deixando expostas suas entranhas. A retirada do solo deixa um legado de terras imprestveis para o uso
agropecurio.
As queimadas, embora tendam a se reduzir, ainda so praticadas, levando perda de
nutrientes do solo e, dependendo do perodo em que o solo ficar despido, pode provocar eroso.
O corte da vegetao para lenha, a rigor, no poderia ser considerado como destruio da
vegetao, posto que, se rea no for mexida, ocorre a recomposio. O problema se instala quando
no se concede natureza este tempo para a recomposio e se realiza a queimada, aps o desmate,
afetando as espcies vegetais e animais, o solo, enfim, a biodiversidade do lugar.
A substituio da cobertura original por outra com maior produo est ligada,
principalmente, agropecuria e produz inquestionveis benefcios, apesar de reduzir a biodiversidade.
Em Sampaio et. al. (2003, p. 27) encontra-se que a substituio da vegetao nativa por espcies
cultivadas, por si s, dificilmente leva degradao das terras. Para isto, a agropecuria precisa ser
praticada em condies que levem a outros processos de perda.
No quesito sobre a agropecuria e a deteriorao das propriedades do solo foram
identificados como principais fatores de degradao: a ausncia de adubao, justificada pelo risco de
falha das colheitas por falta de chuvas; a perda por eroso, que tende a ser maior mediante a retirada da
cobertura vegetal e nas reas de declive e o emprego de tcnicas incompatveis de produo.
A projeo deste elenco de fatores da degradao das terras, a partir das formas de uso do
solo, sob o espao nordestino revela a sua ocorrncia, embora existam alguns cuja interferncia mais
aguda e cuja manifestao intensificada nos perodos de seca. Um exemplo a utilizao dos recursos
de solo para o fabrico de telhas e tijolos no Serid potiguar, colocada como uma das principais razes
da existncia do Ncleo de Desertificao na regio (SAMPAIO et. al., 2003, p. 25).
20
A identificao das ASD brasileiras, foi estabelecida de acordo com a CCD, que se baseia
na definio de aridez formulada por Thornthwaite (1941). Conforme esta definio, o grau de aridez
de uma regio depende da quantidade de gua advinda da chuva e da perda mxima potencial de gua
atravs da evapo-transpirao potencial. Em termos de Nordeste, a classificao de susceptibilidade
desertificao, em funo do ndice de Aridez, foi firmada conforme exposto na TAB. 02.
TABELA 02Classificao de Susceptibilidade Desertificao, em funo do ndice de Aridez
NDICE DE ARIDEZ SUSCEPTIBILIDADE DESERTIFICAO0,05 a 0,20 Muito Alta0,21 a 0,50 Alta0,51 a 0,65 Moderada
FONTE: MATALLO JR. Heitor. A desertificao no mundo e no Brasil. In.: SCHENKEL, Celso Salatino; MATALLOJR. Heitor. Desertificao, 1999, p. 11 apud MMA. Programa de ao nacional de combate desertificao emitigao dos efeitos da seca, 2004, p. 33.
Os estudos realizados para fins de delimitao e caracterizao das ASD do Brasil
conduziram constatao de que, em linhas gerais, abrangem reas correspondentes superfcie do
Bioma Caatinga. Tpica do Nordeste Semi-rido, a vegetao de Caatinga caracteriza-se pelo fenmeno
do xerofilismo. As plantas xerfilas so aquelas que resistem seca, desenvolvendo um sistema de
elaborao e armazenamento de reservas hdricas para as pocas de escassez, que compreende duas
fases: uma de intensa atividade vegetativa e outra de dormncia; na primeira, a folhagem das rvores e
dos arbustos elabora, por meio da clorofila, da luz solar, do ar e da umidade, as substncias
alimentcias, com os elementos sugados pelas razes e aqueles sintetizados nas folhas. Nos meses
chuvosos, h uma elaborao de seiva superior ao consumo e este excesso depositado nos vasos do
caule e nos xilopdios das razes [...]. Na estao seca [...], a maioria dos vegetais perde as folhas para
economizar gua, paralisa a funo clorofiliana e o panorama torna-se cinzento, com uma ou outra
planta verde, graas ao controle rgido da transpirao aquosa [...] (DUQUE, 1964, p. 29). Segundo o
referido autor (1964, p. 39), a Caatinga um complexo vegetativo sui generis, diferente das
associaes vegetais de outras partes semi-ridas do mundo; um laboratrio biolgico de imenso valor
que urge ser preservado.
No obstante, factvel de reconhecimento que, assim como a cartografia do Semi-rido se
superpe a do Bioma Caatinga, tambm o mapa da desertificao sobre estas se delineia. Nesta
circunscrio, a vegetao de Caatinga e o clima Semi-rido esto em estreita correlao e fazem parte
do enredo histrico da sociedade regional. So os rinces sertanejos, onde vive o povo da seca, mas
21
tambm de outras tantas caractersticas marcantes e particulares, principalmente em termos culturais,
que remetem s origens da nao brasileira.
De acordo com o PAN Brasil (2004, p. 188) a extenso das ASD nacionais corresponde a
1.338.076,0 km (15,72% do territrio nacional), abrangendo 11 estados brasileiros. Segundo o Censo
2000, sua populao de 31.663.671 habitantes (18,65% da populao do pas), dos quais 19.692.480
so moradores urbanos e 11.971.191 so residentes rurais, perfazendo uma taxa de urbanizao de
62,19%. A densidade demogrfica de 23,66 hab./km. Interessante registrar que, em 1956, Jean
Dresch observou que as reas semi-ridas do Nordeste brasileiro estavam entre as mais povoadas do
mundo, registro feito pelo gegrafo Aziz Ab Saber, no Congresso Internacional de Geografia,
realizado no Rio de Janeiro, naquele mesmo ano (MMA, 2004, p. 8).
Os estados brasileiros afetados pela desertificao so: Maranho, Piau, Cear, Paraba,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Esprito Santo e Rio Grande do Norte, objeto de
anlise deste estudo.
22
3 DESERTIFICAO NO RIO GRANDE DO NORTE
3.1 Caracterizao Geral do Territrio Norte-rio-grandense
O Rio Grande do Norte possui uma superfcie de 52.796,791 km, ou seja, 0,62% do territrio
nacional. Sua cartografia (MAPA 02), historicamente construda, atualmente comporta 167 municpios
e, de acordo com o Censo 2000 (IBGE, 2000, p. 269), sua populao somava 2.776.782 habitantes,
correspondendo a 1,64% da populao do Brasil. A distribuio populacional pelo territrio estadual
indicou que 2.036.673 habitantes residiam em espaos urbanos e 740.109 eram moradores rurais.
Embora apresente elevada taxa de urbanizao (73,35%), em seu tecido urbano predominam as
pequenas cidades e ocorre uma concentrao demogrfica na Regio Metropolitana de Natal, que
abriga 1.097.273 habitantes, equivalentes a 39,52% da populao potiguar.
MAPA 02 Diviso Poltica e Regional do Rio Grande do Norte
FONTE: FELIPE, Jos Lacerda Alves; CARVALHO, Edlson Alves de. Atlas escolar do Rio Grande do Norte, 1999.
O quadro natural do Rio Grande do Norte, principalmente os seus aspectos climticos e sua
cobertura vegetal, so reveladores de caractersticas tpicas de espaos semi-ridos. Sua trajetria
histrica foi marcada por um processo de ocupao territorial, baseado inicialmente na agricultura e na
23
pecuria, e reorganizado atravs do desenvolvimento de outras atividades como a produo de sal, a
minerao, a extrao da cera de carnaba, entre outros. Nos ltimos decnios do sculo XX,
principalmente em seu recorte semi-rido, atingido pelas crises do algodo e da minerao, adquiriram
realce outras economias, destacando-se a produo ceramista que obteve significativo crescimento. O
somatrio destes processos, acrescido da reestruturao scio-espacial via concentrao demogrfica
nas cidades, repercutiu (e repercute) sobre os ecossistemas, especialmente o da caatinga, de modo que
a vegetao primitiva foi praticamente aniquilada, passando a existir uma vegetao secundria,
apresentando um porte bastante inferior em relao ao passado (FELIPE; CARVALHO; ROCHA,
2004, p. 42).
A partir do exposto, constata-se que a histrica relao homem x meio, estabelecida desde a
colonizao do territrio, com base na explorao e aproveitamento dos recursos naturais, repercutiu
sobre os seus ecossistemas. Nos dias atuais, a associao entre aspectos naturais e ao antrpica
evidenciam a ocorrncia de diferentes nveis de degradao ambiental.
No que se refere s condies climticas, o Rio Grande do Norte caracteriza-se por
apresentar temperatura mdia anual em torno de 25,5 C, com mxima de 31,3 C e mnima de 21,1 C,
pluviometria bastante irregular (em termos de quantidade e perodo) e umidade relativa do ar, com
variao mdia anual de 59% a 76%. Em decorrncia de sua localizao geogrfica prxima ao
Equador, predominam as elevadas temperaturas, verificando-se entre 2.400 e 2.700 horas por ano de
insolao.
De maneira geral, os tipos de clima que ocorrem no Estado podem ser classificados em
Tropical Quente, mido e Submido, e Tropical Quente e Seco ou Semi-rido (FELIPE;
CARVALHO, 1999, p. 26) (MAPA 03).
24
MAPA 03 Tipos Climticos do Rio Grande do Norte
FONTE: FELIPE, Jos Lacerda Alves; CARVALHO, Edlson Alves de. Atlas escolar Rio Grande do Norte, 1999, p. 26.
O Clima Tropical Quente e mido ocorre em uma pequena faixa na poro sul do Litoral
Oriental, que compreende parte da Microrregio Geogrfica Litoral Sul, onde se registra uma
pluviosidade mdia de 1.200 mm anuais. J o tipo Tropical Submido, apresenta uma pluviosidade
mdia entre 800 e 1.200 mm anuais, e abrange basicamente a Mesorregio Geogrfica do Leste
Potiguar, exceto a poro mida, e as reas serranas do interior, onde a morfologia do relevo, com suas
expressivas altitudes, influencia as condies microclimticas, favorecendo ocorrncia de
temperaturas amenas.
O Clima Tropical Quente e Seco ou Semi-rido domina, de forma quase contnua, todo o
interior do territrio estadual, chegando inclusive a atingir o Litoral Setentrional. Este tipo climtico
caracteriza-se pelas altas temperaturas, escassez e irregularidade das precipitaes pluviomtricas,
configurando-se como perodo chuvoso os meses de janeiro a abril. A mdia de precipitao de chuvas
varivel, podendo situar-se entre 400 e 600 mm, em algumas reas centrais do Estado, ou atingir
25
ndices um pouco mais elevados. As regies submetidas a este clima so ciclicamente atingidas pelo
fenmeno da seca, quando as precipitaes so acentuadamente reduzidas, situao que pode se
estender por alguns meses ou prolongar-se por anos consecutivos.
A anlise dos dados demonstra que as reas sob o domnio do clima Semi-rido, onde
impera a Caatinga hiperxerfila, correspondem basicamente cartografia das ASD do Rio Grande do
Norte. De acordo com SantAna (2003), a seca no causa de desertificao, mas pode atuar como
um acelerador dos processos.
Um outro aspecto interessante a ser ressaltado neste estudo sobre a desertificao,
constituindo-se um quesito diretamente relacionado ao clima, diz respeito aos recursos hdricos
superficiais. Estes so representados, principalmente, pelas bacias hidrogrficas constitudas, em sua
maioria, por rios que tm um carter intermitente e passam boa parte do ano com o leito seco, por
vezes mostrando-se caudalosos nos perodos chuvosos. No Estado, a importncia dos rios
evidenciada historicamente a partir dos registros da ocupao espacial, do papel que desempenharam no
processo de interiorizao e na estruturao scio-econmica do territrio.
Uma outra referncia de guas superficiais so os audes que, em alguns casos, ao barrarem
os cursos dos rios, permitem a perenizao total ou parcial, repercutindo favoravelmente em termos
sociais e econmicos, em nvel local/regional. Os audes tambm resguardam sua relevncia histrica,
inclusive como elemento impulsionador da formao de aglomerados humanos que se transformaram
em cidades.
A malha hidrogrfica do Rio Grande do Norte constituda por 16 bacias com extenses e
nveis de importncia scio-econmica variveis (ANEXO 01). No quadro geral, as bacias hidrogrficas
Piranhas-Au e Apodi-Mossor se destacam pela sua extenso, abarcando 60,1 % do territrio
estadual, e pela importncia econmica atravs do desenvolvimento de atividades agrcolas e pecurias.
Apesar das demais bacias apresentarem circunscries mais reduzidas, estas tambm so relevantes para
o abastecimento humano, as prticas agrcolas, a dessedentao animal e as atividades industriais
(MAPA 04)
26
MAPA 04 Bacias Hidrogrficas do Rio Grande do Norte
FONTE: Bacias hidrogrficas do Rio Grande do Norte. Disponvel em : Acesso em 17 mai 2005.
As principais bacias do Estado, a do Piranhas-Au e a do Apodi-Mossor, atravessam o
recorte semi-rido e devido escassez e irregularidade das chuvas associada alta evaporao, que,
provoca a perda de grande parte da gua acumulada, apresentam rios intermitentes. O registro de rios
perenes verifica-se apenas na faixa sedimentar costeira do litoral norte, que em funo da existncia de
fontes, apresenta filetes dgua nos baixos cursos dos rios, e na faixa do litoral leste, onde a influncia
do clima mido, responde pela perenizao dos baixos cursos dos rios (IDEMA, 2004, p. 15).
Na Bacia Piranhas-Au foram cadastrados 1.112 audes, ou seja, 49,3% dos reservatrios
existentes no Rio Grande do Norte. O volume de acumulao destes audes corresponde a
3.503.853.300 m o que torna esta bacia responsvel por 79,6% do volume acumulado no Estado (RIO
GRANDE DO NORTE, [199-], p.21). Ocupa o 1 lugar em nmero de audes e em volume
acumulado. Somente a Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonalves apresenta uma capacidade de
acumulao de 2.400.000.000 m de gua, constituindo-se o maior reservatrio norte-rio-grandense,
tendo sido fator primordial expanso da fruticultura irrigada no Vale do Au.
A Bacia Hidrogrfica Apodi-Mossor coloca-se na 2 posio em extenso no Estado
(14.276 km) e ocupa o 1 lugar quanto ao nmero de municpios que abrange (52). Em termos de
27
audagem, o Inventrio do Espelho Dgua Superficial do Estado do Rio Grande do Norte (IDEC,
1993, p. 24-68), registrando dados relativos aos reservatrios acima de 100.000 m em 1992,
contabilizou 615 reservatrios que correspondiam a 27,4% dos audes potiguares e totalizavam um
volume de acumulao de 443.727.000 m de gua, ou seja, 11,13% do volume acumulado no Estado.
Dados da SERHID sobre audes com capacidade superior a 5.000.000 m informam que mais 04
reservatrios foram construdos - Passagem (Rodolfo Fernandes), Rodeador (Umarizal), Santa Cruz do
Apodi (Apodi) e Umari (Upanema). No conjunto, estes novos reservatrios apresentam uma
capacidade de acumulao de 921.155.650 m de gua. Desta forma, possvel considerar que o
volume de acumulao no recorte da bacia foi ampliado, passando para 1.364.882.650 m de gua,
sendo a Barragem de Santa Cruz do Apodi, com seus 599.712.000 m, responsvel por 43,93% desse
total, e a de Umari, com 292.813.650 m, por 21,45%.
A geologia do Rio Grande do Norte basicamente formada pelo embasamento cristalino e
estruturas sedimentares. O embasamento cristalino corresponde a formaes geolgicas que datam da
Era Pr-Cambriana; conformam terrenos antigos, formados por rochas resistentes como granitos,
quartzitos, gnaisses e micaxistos, onde esto presentes minerais como scheelita, berilo, cassiterita,
tantalita, ferro, micas, ouro, guas marinhas (turmalina), entre outros. Ocupa grande parte do sul e o
centro-oeste do Estado, representando a sua formao geolgica dominante. Caracteriza-se por
apresentar baixa capacidade de infiltrao/reteno de gua que aliada elevada evapotranspirao
potencial e aos perodos de estiagem, so responsveis pela intermitncia dos cursos dgua. Os solos
derivados dessas rochas so predominantemente rasos, com baixa capacidade de infiltrao, alto
escoamento superficial e baixa drenagem natural.
A estrutura geolgica sedimentar data da Era Terciria, portanto, corresponde a uma
formao mais recente. No Rio Grande do Norte est representada por formaes identificadas como
Calcrio Jandara, Arenito Au, Grupo Barreiras e Dunas. Nesta circunscrio geolgica situam-se
recursos minerais de expressivo valor econmico, como petrleo e gs natural, alm de guas
subterrneas, calcrio e argila.
Em relao aos solos do Rio Grande do Norte observa-se a ocorrncia de certa diversidade,
sendo as principais classes assim identificadas: Bruno No Clcico, Litlico Eutrfico, Areia Quartzosa,
Latossolo Vermelho Amarelo, Regossolo, Podzlico Vermelho-Amarelo, Vertissolo,
Solonchaks-Solontzico, Solonetz-Solodizado, Planossolo Soldico, Aluvial, Cambissolo Eutrfico,
Solos Gley, Rendizina e Solos de Mangue (MAPA 05).
28
MAPA 05 Solos do Rio Grande do Norte
FONTE: FELIPE, Jos Lacerda Alves; CARVALHO, Edlson Alves de. Atlas escolar Rio Grande do Norte, 1999, p. 24.
Apesar da diversidade de classes de solos, em que alguns redutos so considerados frteis e
com bom potencial agrcola, em decorrncia das caractersticas ambientais do territrio, prevalecem no
Estado os solos rasos, erodidos e de fertilidade mediana. As caractersticas gerais dos principais tipos
de solo e suas respectivas reas de ocorrncia constam no ANEXO 02.
A distribuio espacial dos solos demonstra uma varivel formao mesmo no domnio da
Caatinga, onde prevalece o clima Semi-rido. Em funo da abrangncia espacial, destacam-se os solos
Litlicos Eutrficos e os Bruno No Clcicos, que apresentam certas restries ao uso agrcola, por
serem pedregosos, de pequena profundidade e muito susceptveis eroso.
Os tipos climticos associados s formas de relevo e aos diferentes solos, permitem
reconhecer no Estado a existncia de sete ecossistemas: Caatinga, Mata Atlntica, Cerrado, Floresta
das Serras, Floresta Ciliar de Carnaba, Vegetao das Praias e Dunas e Manguezal (MAPA 06).
29
MAPA 06 Vegetao do Rio Grande do Norte
FONTE: FELIPE, Jos Lacerda Alves; CARVALHO, Edlson Alves de. Atlas escolar Rio Grande do Norte, 1999, p. 26.
Em termos de Rio Grande do Norte, devido a extenso que ocupa (cerca de 80% do
territrio), destaca-se o ecossistema da Caatinga, em especial a sua formao florestal hiperxerfila que
recobre aproximadamente 60% do Estado (SEPLAN; IDEC, 1997, p. 23. Alm disso, neste trabalho,
em funo da relao existente entre o ambiente ecolgico da Caatinga e as ASD, optou-se por
delimitar a anlise as caractersticas do ecossistema mencionado.
O ecossistema da Caatinga tpico do Nordeste Semi-rido, caracterizando-se pelo
fenmeno do xerofilismo, que se refere capacidade de armazenar gua para sobreviver nos perodos
de seca. Devido a este dispositivo natural, a Caatinga muda seu perfil de acordo com a sazonalidade,
exibindo duas paisagens bem diferenciadas. No perodo chuvoso, suas plantas recobrem-se de folhagens
e se mostram exuberantes o suficiente para, em um verdadeiro emaranhado, produzirem um cenrio em
que a tonalidade do verde assume diversas gradaes. No perodo de seca, as plantas perdem as folhas
deixando mostra seus galhos retorcidos. O tapete verde cede lugar a uma paisagem branca-acizentada
assumindo um certo ar de agressividade, expresso atravs de plantas aparentemente mortas com
salientes espinhos a desafiar o tempo e o espao adverso. O significado da palavra caatinga mato
branco, de origem indgena, remete aparncia que a vegetao assume no perodo de seca.
30
A despeito de apresentar uma certa uniformizao no que diz respeito s diversas formas de
resistncia carncia dgua, a Caatinga potiguar apresenta fitofisionomias diferenciadas, decorrentes
do seu porte. A Caatinga hipoxerfila formada predominantemente por rvores e arbustos; sua
ocorrncia verificada no Agreste e em reas de clima Submido seco e de transio para o
Semi-rido. A Caatinga hiperxerfila caracteriza-se por apresentar uma vegetao de pequeno porte,
seca, rala e resistente a grandes perodos de estiagem, sendo tpica de solos pedregosos, rasos e de
pouca fertilidade; tpica das reas quentes e secas que conformam o semi-rido norte-rio-grandense. A
composio florstica desse ecossistema representada pelas bromeliceas (caro, macambira),
cactceas (xique-xique, facheiro, mandacaru, coroa-de-frade), leguminosas (jurema, sabi, angico,
catingueira, juc), euforbiceas (pinho bravo, faveleiro, marmeleiro), entre outros. A fauna tambm
rica em espcies bem adaptadas s condies locais, destacando-se animais de pequeno porte como o
tatu-verdadeiro, o peba, o pre e o moc.
Considerando a inter-relao entre clima, solo e vegetao e o fato de que a cobertura
vegetal a expresso que marca visualmente a paisagem, tem-se que as ASD esto, sobremaneira,
circunscritas ao ecossistema da Caatinga. Segundo Vasconcelos Sobrinho (2002, p. 64), no semi-rido
nordestino, possvel detectar a existncia de reas em desertificao ao se sobrevoar em vo baixo de
50m a 150m sobre o solo e, em seguida, realizar investigao in loco, posto que elas apresentam uma
fisionomia denunciadora: porte reduzido, espcies com sintomatologia de nanismo e concentrao
diluda, ou seja, com maior permeabilidade do que nas demais reas. O registro deste perfil geralmente
coincide com a presena da Caatinga hiperxerfila, cuja rea de ocorrncia presumivelmente
comprometida com o processo de desertificao, o qual se acentua a cada estio anual e principalmente
aps cada seca. Quando o perodo chuvoso volta, verifica-se um esforo de recuperao que nem
sempre recompensado integralmente. E assim, nesse balano incerto entre recuperao e degradao,
difcil descobrir qual a condio que prevalecer. Mas se o homem interfere negativamente, ento
certo que a desertificao prevalece.
A equao entre ao humana, degradao e recuperao ambiental tem se mostrado um
dos mais urgentes e imprescindveis desafios a serem enfrentados pelas populaes que vivem nas
regies susceptveis desertificao no planeta. Neste contexto, inclui-se a sociedade nordestina, cujo
territrio representa as circunscries das ASD brasileiras, e, nesta delimitao, insere-se o Rio Grande
do Norte.
Decerto a acentuao do quadro de degradao ambiental no Estado est relacionada
dinmica scio-econmico empreendida nos ltimos 35 anos. A literatura pertinente aponta que o Rio
Grande do Norte obteve um excelente desempenho econmico, entre 1970-2000, despontando como o
31
Estado que mais cresceu, a partir de 1970, na Regio Nordeste. Este pequeno notvel teve a faanha
de conseguir a maior taxa de crescimento do PIB do pas na dcada perdida e, como tem,
historicamente, uma base econmica pequena, os efeitos dos investimentos tiveram uma capacidade de
dinamismo muito forte. (CLEMENTINO, 2003, p. 387). A correlao entre a taxa mdia anual de
crescimento do PIB do pas, da regio e do estado evidencia a situao anteriormente descrita (TAB.
03).
TABELA 03Taxa Mdia Anual de Crescimento do PIB Real do Brasil, Regio Nordeste e
Rio Grande do Norte 1970-1999
PERODOTAXA (%)
Brasil Nordeste Rio Grande doNorte
1970-1980 8,60 8,70 10,301980-1990 1,60 3,30 7,41990-1999 2,5 3,0 4,1
FONTE: FGV; IBGE.; SUDENE/DPO/EPR/Contas Regionais Nordeste apud CLEMENTINO, Maria do LivramentoMiranda. Rio Grande do Norte: novas dinmicas mesmas cidades, 2003, p. 389.
Conforme atestam os nmeros, o desempenho econmico do Rio Grande do Norte foi
expressivo, apesar das fases de crises nacional, motivadas pelo dficit pblico e hiperinflao, e
internacional, decorrentes de problemas no Mxico, na Rssia e na sia. A justificativa para essa
situao encontra-se fundamentada no dinamismo recente, alavancado por novas economias e pela
reestruturao de alguns antigos segmentos. No interstcio 1970-1999 a participao do Estado no PIB
do Brasil passou de 0,46% para 1,1% e no PIB do Nordeste oscilou de 4,70 para 6,40. Dentre as
atividades responsveis por este quadro esto o turismo, o petrleo, a fruticultura e o crescimento dos
setores industriais e de servios, principalmente, na Regio Metropolitana de Natal.
No obstante, preciso reconhecer que, embora o desempenho da economia potiguar tenha
atingido ndices crescentes, entre 1970 e 2000, perdura no tecido social um estado de pobreza que se
reflete nas precrias condies de vida de parte considervel de sua populao, traduzindo-se em um
retrato da prpria realidade brasileira.
A falta de alimentao, de trabalho, de moradia so algumas das facetas do universo de
privaes que assola milhares de famlias que vivem na pobreza. Esta perversa vivncia da escassez, j
no permite mais o discernimento dos problemas, a partir da relao entre causa e conseqncia. Seria a
desocupao ou o desemprego responsveis pela fome e pela falta de moradia? Mas, como se inserir no
mercado de trabalho, sem ter acesso educao, sade e, at mesmo alimentao? Como suprir as
32
necessidades bsicas sem trabalho e renda? Este contexto de mltiplas privaes e situaes-problemas,
estreitamente articuladas, parece embaar o cotidiano das pessoas pobres, turvando seus sonhos e
desejos, estabelecendo cercas sociais que delimitam seus espaos de sociabilidade e vivncias.
No mbito deste diagnstico, tratar da pobreza se faz pertinente como forma de trazer
tona uma realidade que tem se mostrado, em alguns lugares, articulada degradao ambiental. Embora
a pobreza esteja disseminada pelo mundo, sua configurao nas regies ridas e semi-ridas do planeta
evidencia uma cristalina nitidez. Nestas reas, que enfrentam longos e cclicos perodos de seca, h
reduo da produtividade agrcola interferindo na produo de gneros alimentcios o que se traduz em
fome, onde j se vive a ameaa de sede. Assim, as nuances da pobreza, que no causada pelos
fenmenos naturais, so aguadas e o suprimento das necessidades humanas aumenta a presso sobre
os recursos naturais, produzindo o seu constante e progressivo desgaste. Desta conjugao entre
degradao social e degradao ambiental tm-se como resposta a manifestao do processo de
desertificao.
O Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil apresenta dados relativos indigncia e
pobreza. De acordo com o referido Atlas, vivenciavam a condio de indigncia a parcela da populao
cuja renda domiciliar per capita era equivalente a do salrio mnimo vigente em agosto de 2000. A
pobreza envolvia a frao populacional que tinha uma renda domiciliar per capita correspondente a
do salrio mnimo vigorante em agosto de 2000. Infere-se, portanto, que a indigncia remete-se a uma
classe que vive a pobreza extrema ou miserabilidade.
As referncias a estes ndices, em termos de Brasil, denotam uma reduo na proporo de
pessoas afetadas por estas situaes, visto que, a proporo de indigentes passou de 20,24%, em 1991,
para 16,32%, em 2000, e a participao da populao em estado de pobreza decaiu de 40,08% para
32,75%, nos anos focalizados. Apesar disso, preciso atentar que os indicadores ainda permanecem
elevados.
A tendncia a declnio tambm se verificou no Rio Grande do Norte. Em 1991, a populao
indigente do Estado equivalia a 34,56% decaindo para 26,89%, no ano 2000. Com relao
representatividade de pobres no universo populacional, registrou-se um declnio de 61,71% para
50,63%. Entretanto, a soma dos indicadores demonstra que 77,52% dos potiguares, em 2000, viviam
com uma renda domiciliar per capita correspondente a do salrio mnimo ou em extrema misria,
constituindo-se um dado preocupante. A cartografia da pobreza e da indigncia dos
norte-rio-grandenses pode ser avaliada nas representaes a seguir (MAPA 07 e MAPA 08)
MAPA 07 Intensidade da Pobreza segundo os Municpios do Rio Grande do Norte - 2000
33
FONTE: PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponvel em: http://www. pnud.org.br/atlas
http://www. pnud.org.br/atlas
34
MAPA 08 Intensidade da Indigncia segundo os Municpios do Rio Grande do Norte - 2000
FONTE: PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponvel em: http://www. pnud.org.br/atlas
O mapa da pobreza norte-rio-grandense demonstra a difuso territorial que esta assume,
sendo importante apreender a sua espacializao regional. A despeito da elevada representatividade que
possui na sociedade potiguar, entre os recortes onde a intensidade da pobreza mostra-se menor (38,34 a
48,36) destacam-se o entorno de Natal, alguns municpios prximos Mossor e Regio do Serid.
No outro extremo, onde a intensidade do problema evidencia-se mais fortemente (61,51 a 72,63),
notifica-se a concentrao entre os municpios do Alto Oeste e do Agreste Potiguar. A espacializao
da intensidade da indigncia, de forma geral, correspondente ao mapa da pobreza.
Na perspectiva de no restringir a anlise apenas a indicadores econmicos, buscou-se
aporte no ndice de Desenvolvimento Humano IDH, que procura retratar alm da renda, duas outras
caractersticas esperadas do desenvolvimento humano: a longevidade de uma populao (expressa pela
esperana de vida ao nascer) e o grau de maturidade educacional (avaliado pela taxa de alfabetizao de
adultos e pela taxa combinada de matrcula nos trs nveis de ensino). A renda calculada atravs do
http://www. pnud.org.br/atlas
35
PIB real per capita, expresso em dlares e ajustado para refletir a paridade do poder de compras entre
os pases. O IDH varia de 0 (nenhum desenvolvimento) a 1 (desenvolvimento humano total) e
estabelece a seguinte classificao: baixo desenvolvimento humano (ndices at 0,499); mdio
desenvolvimento humano (0,500 a 0,799) e alto desenvolvimento humano (maior que 0,800). O mapa
do IDH do Rio Grande do Norte revela a situao em que se encontra o Estado sob o ponto de vista do
desenvolvimento humano (MAPA 09).
MAPA 09 ndice de Desenvolvimento Humano Municipal IDH-M do Rio Grande do Norte - 2000
FONTE: PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. Disponvel em: http://www. pnud.org.br/atlas.
O IDH do Rio Grande do Norte obteve um crescimento positivo passando de 0,604 em
1991 para 0,705 em 2000. No obstante, ainda permaneceu um ndice inferior ao obtido pelo pas que
era de 0,696, em 1991, e foi elevado a 0,776 em 2000. Sua posio no ranking entre os estados da
federao oscilou do 20 lugar, em 1991, para o 19 em 2000.
http://www. pnud.org.br/atlas
36
No mbito do territrio estadual importante a verificao de que todos os municpios
encontram-se no nvel intermedirio de desenvolvimento humano e que a amplitude de 0,544 (Venha
Ver) a 0,788 (Natal). Neste intervalo, conforme mostra o mapa, h uma variao de faixas de
indicadores que, apesar da disperso espacial, chama ateno pela mancha que produz sob o territrio
seridoense. Neste, concentra-se 14 municpios (43,75%) dos 32 que obtiveram maior IDH no Rio
Grande do Norte.
Neste nterim, faz-se mister ressaltar o que ficou evidenciado nas representaes espaciais
da pobreza, da indigncia e do IDH, em termos de Rio Grande do Norte. A elucidao das referncias
positivas projetadas no entorno de Natal e de Mossor podem ser fundamentadas pelo dinamismo
econmico, pela funcionalidade de suas sedes municipais no sistema urbano estadual, dentre outros
aspectos. Instigante a situao do Serid, considerando-se a situao scio-econmica e ambiental em
que se encontra. A regio no se coloca entre os focos dinmicos recentes da economia estadual e
figura no mapa de ocorrncia da desertificao como uma rea de degradao muito grave e intensa.
Porm, o aparente paradoxo se desfaz logo que se busca a historicidade da regio para desvendar o seu
estgio atual e vislumbra-se que as estratgias scio-polticas e culturais de dcadas passadas so
revitalizadas no presente. Criando, inovando e reinventando o saber-fazer regional, a sociedade vem
construindo cenrios de resistncia e a atuao de sua representao poltica tem sido fundamental para
a melhoria dos indicadores sociais, como educao e sade (MORAIS, 2005, p. 308).
Delineado este perfil scio-ambiental do Rio Grande do Norte faz-se mister enveredar pela
cartografia da desertificao a partir da caracterizao e da delimitao das reas identificadas como
susceptveis ao fenmeno.
37
3.2 As reas Susceptveis Desertificao do Rio Grande do Norte
As ASD no Rio Grande do Norte correspondem a 97,6% do territrio e abrigam 95,6% da
populao. Este elevado ndice de incluso dentre as reas susceptveis desertificao decorre da
inter-relao entre o meio natural e o homem, ao longo de sculos de ocupao e explorao do
espao.
3.2.1 Caractersticas
A histria da ocupao do territrio que hoje compe as ASD potiguares remete presena
portuguesa nestas terras, cuja interveno mais efetiva foi deflagrada no final do sculo XVI, quando
passaram a desenvolver a cana-de-acar, no litoral. Nos sculos seguintes, deu-se a apropriao do
espao interiorano utilizado para a criao de gado, a agricultura de subsistncia e, mais adiante, para o
cultivo do algodo. No decorrer dos sculos, outras atividades surgiram como a extrao do sal, da
cera de carnaba, da oiticica e do sisal e a minerao. Alm disso, a populao cresceu, as cidades se
expandiram e se multiplicaram, estradas foram construdas e muitas alteraes foram impressas ao
espao. Neste processo, elevaram-se as demandas em relao aos recursos naturais, mas tambm foram
ampliadas as possibilidades de interveno do homem no espao atravs do emprego de tecnologias.
Todavia, especialmente no recorte semi-rido do Estado, j so notveis os sinais de descompasso entre
os recursos naturais disponveis e o atendimento s demandas sociais.
Em um passado recente, o territrio potiguar foi afetado pelas crises da cotonicultura e da
minerao, que desestabilizaram a sua base produtiva (dcadas de 1970 e 1980). A emergncia de
novas atividades e a expanso de outras j existentes, se encarregaram de refazer a dinmica econmica
que repercutiu diferentemente sobre as regies, em funo de especificidades locais e conjunturais.
No entanto, em meio ao elenco de atividades desenvolvidas existem algumas que tm se
mostrado extremamente danosas ao meio ambiente, inclusive contribuindo decisivamente para a
acentuao da susceptibilidade desertificao, tanto nas circunscries do semi-rido, quanto nas de
clima submido seco. Alm das atividades econmicas um outro componente a incidir sobre este
processo so as prticas culturais, que esto diretamente vinculadas forma de produzir e ao cotidiano
das pessoas, por exemplo o desmatamento e a queimada para uso do solo na agricultura e a extrao da
lenha para fins domsticos.
38
A partir destes pressupostos e da concepo de que a desertificao um processo de
degradao da terra que pode ter mltiplas causas e pode dar lugar a mltiplas conseqncias, de tal
modo interligadas por mecanismos de retroalimentao que formam crculos viciosos (SAMPAIO et. al,
2003, p. 22), possvel identificar as principais atividades econmicas que, no Rio Grande do Norte,
repercutem sobre o ambiente contribuindo para a sua degradao: a agropecuria, a minerao com
destaque para a produo ceramista - e a panificao.
A agropecuria uma atividade secular em terras nordestinas e, por conseguinte, nas
potiguares, sendo desenvolvida desde os primrdios de sua colonizao. Dentre as economias
fundadoras do territrio esto a cana-de-acar, a pecuria e a cotonicultura.
A agricultura da cana-de-acar localizava-se (ainda localiza-se) na faixa litornea ou Zona
da Mata, onde anteriormente, havia sido praticada a extrao do pau-brasil (GOMES, 1997, p. 23). A
partir desta atividade, o espao foi sendo pontilhado por engenhos de acar e pequenos ncleos
populacionais. Tambm ocorria neste espao a agricultura de subsistncia. O territrio da
cana-de-acar, em termos de extenso, foi exgo tendo em vista a estreita faixa de terras cujas
condies eram propcias ao seu plantio. Mas, esta economia foi importante, entre outros motivos, por
definir os primeiros fluxos de exportao do territrio potiguar e por influenciar o surgimento de
centros urbanos.
Ao longo de sua histria, o Litoral Leste tornou-se uma regio que tem na produo
agrcola um dos seus aportes e apresenta-se densamente ocupada e urbanizada. Neste sentido,
observa-se que onde antes predominava a Mata Atlntica, recorreu-se prtica do desmatamento para
viabilizar a implantao da monocultura da cana-de-acar e a estrutura citadina, com suas derivaes,
por exemplo s vias de circulao (estradas).
Possivelmente reside nestes aspectos histricos, a justificativa para que, nos dias atuais,
alguns redutos canavieiros do Estado, localizados ao norte da Mesorregio Leste Potiguar, como
Cear-Mirim e So Gonalo do Amarante, estejam entre as ASD norte-rio-grandenses, classificadas
como reas submidas secas. A mesma explicao servir compreenso da incluso dos municpios de
Extremoz, Natal e Parnamirim na rea do Entorno das reas Semi-ridas e das reas Subumidas Secas
do Estado, sendo tambm passveis de afetao pelo processo de desertificao.
A pecuria aparece como a economia fundante do Serto, responsvel pela sua efetiva
ocupao. Considerando a grande extenso do Serto em relao Zona da Mata, infere-se sobre a
importncia e repercusso que a criao de gado teve em termos de construo do territrio potiguar.
O Serto corresponde, basicamente, ao recorte semi-rido onde impera a Caatinga, territrio dos
currais, hoje identificado como rea semi-rida afetada ou susceptvel processos de desertificao.
39
Com a emergncia do algodo condio de cultura de exportao (final do sculo XIX), o
espao da fazenda sertaneja foi refuncionalizado passando a se estruturar em torno do histrico binmio
gado-algodo. Aps a decadncia da cultura algodoeira (dcada de 1970), a pecuria continuou a ser
praticada e vem demonstrando sinais de incorporao de inovaes tcnicas que repercutem na
produo e na produtividade. Neste perodo, a pecuria diversificou-se influenciada pelas polticas de
incentivo caprinocultura e ovinocultura, cujos rebanhos obtiveram expressivo crescimento, e a
bovinocultura teve sua produo bifurcada entre o gado de corte e o gado leiteiro, em resposta
poltica governamental do Programa do Leite. A agricultura tambm foi redimensionada e modernizada
em algumas regies, destacando-se o segmento da fruticultura.
No mbito da agropecuria faz-se mister atentar que sua incluso dentre as atividades que
podem contribuir para processos de desertificao deriva da forma como implementada. De fato, o
manejo inadequado dos recursos naturais solo, gua e vegetao - para fins de prticas agropecurias
que torna a atividade degradante. Este processo se materializa atravs de aes como o desmatamento e
a queimada, (FIG. 01) realizados sem orientao tcnica ou planejamento, para cultivos em encostas de
serras, (FIG 02) margens de rios e outros ambientes, incluindo-se aqueles destinados formao de
pastagens; o superpastoreio, (FIG. 03 e 04) seja em termos de espao ou tempo; a irrigao, (FIG. 05)
que produziu benefcios, mas sendo realizada de forma inadequada e sem recurso drenagem gerou o
problema da salinizao. Acrescente-se problemtica em foco, o uso indiscriminado e inadequado de
herbicidas.
FIGURA 01 QUEIMADAS NASERRA DE SANTANA MUNICPIO
FIGURA 02 - DESMATAMENTO DEENCOSTAS NO MUNICPIO DE
40
No demais enfatizar que a circunscrio das ASD no Rio Grande do Norte corresponde a
97,6% de seu territrio e que a agropecuria ainda tem um papel importante no quadro econmico,
FONTE: ADESE, 2005.
FONTE: FUNDAO GRUPO ESQUELBRASIL, 2002
FIGURA 03 SUPERPASTOREIO
FIGURA 05 IRRIGAO NOMUNICPIO DE SA JOO DO SABUGI
FONTE: FUNDAO GRUPO ESQUELBRASIL, 2002
FIGURA 04 - SUPERPASTOREIO
FONTE: ADESE, 2005.
41
principalmente na poro semi-rida e submida seca, apesar da reduo de sua participao na
composio do PIB estadual.
Quanto minerao (FIG. 06) do Rio Grande do Norte tambm importante salientar o
seu desenvolvimento h vrios decnios, tendo sido emblemtica de uma fase prspera do Estado, mais
especificamente da Regio do Serid, entre os anos de 1940 e 1980. Neste perodo, a explorao da
provncia scheelitfera curraisnovense no s colocou este municpio em posio de primazia (quase
totalidade do mineral produzido e exportado no pas) como elevou o Rio Grande do Norte ao patamar
de detentor das maiores reservas e de maior produtor brasileiro (ALVES, 1997, p.13-15 apud
MORAIS, 2005, p. 171). A produo da scheelita destinava-se principalmente ao mercado externo e
compunha junto com o algodo e a pecuria o trip de sustentao da economia seridoense. Contudo,
assim como a cotonicultura, esta produo mineira que teve uma singular expresso econmica e
histrica para a sociedade potiguar, especialmente a seridoense, traduzindo-se em uma fase de fausto,
modernizao e riqueza, tambm enfrentou uma crise que a levou decadncia.
Na tessitura deste enredo de crises, que abalou a economia estadual, novos segmentos de
produo do setor mineral foram surgindo e outros, j explorados, tiveram a oportunidade de se
fortalecer e/ou ampliar. A Avaliao Preliminar do Setor Mineral do Rio Grande do Norte (SEDEC,
2004), documento elaborado com base nas informaes do Cadastro Industrial da Federao das
Indstrias do Estado do Rio Grande do Norte FIERN, referente aos anos 2002-2003, e da listagem de
FIGURA 06 - MINERAO LOCALIZADANA COMUNIDADE OLHO DGUA DEQUINTOS MUNICPIO DE EQUADOR
FONTE: ADESE, 2005.
42
processos de licenciamento das atividades de minerao do Instituto de Desenvolvimento Econmico e
Meio Ambiente do Rio Grande do Norte IDEMA, indica os principais bens minerais e os municpios
que respondem pela Indstria Extrativa e de Transformao Mineral do Estado (ANEXO 03 e ANEXO
04).
Os dados sobre este segmento industrial evidenciam a existncia de certa diversidade de
bens minerais sendo explorados, tais como gua mineral, areia, argila, brita, cal, calcrio, caulim,
feldspato, gemas, sal marinho, tantalita, cermica vermelha e cermica branca, dentre outros. A
distribuio destas unidades produtivas pelo territrio abrange as 4 mesorregies do Estado e 18
microrregies das 19 existentes, exceto a Microrregio de So Miguel (vide MAPA 02). No entanto, as
informaes apontam para a ocorrncia de uma concentrao em termos de localizao geogrfica e de
segmento produtivo.
Em termos de concentrao geogrfica dos estabelecimentos da Indstria Extrativa e de
Transformao Mineral do Estado, destacam-se as mesorregies Oeste Potiguar (119 unidades) e
Central Potiguar (120 unidades). Esta ltima tem 104 indstrias (86,6%) localizadas nas microrregies
do Serid Ocidental e Oriental ressaltando-se que, nesta, onde existe o ncleo de desertificao, h 95
indstrias de extrao mineral.
Considerando o nmero de indstrias tem-se que, das 350 empresas que constam na fonte
documental, os segmentos mais representativos so o de produo de cermica vermelha (141) e o
salineiro (40). O primeiro responde por 40,28% do total de empresas e encontra-se disseminado pelo
territrio em unidades isoladas ou formando plos. O segundo responsvel por 11,42% das empresas
e tem como redutos de produo os municpios de Areia Branca, Macau, Grossos, Galinhos e Mossor,
sendo este ltimo detentor de 21 indstrias das 40 identificadas, ou seja, 52,5% do total.
Nesta geografia da Indstria Extrativa e de Transformao Mineral do Rio Grande do Norte
os dados sobre o segmento ceramista e sobre a Regio do Serid despertam a ateno. De acordo com
o levantamento realizado as empresas do setor encontram-se distribudas em 35 municpios do territrio
potiguar e formam trs plos de produo: o da Grande Natal, do Baixo Au e do Serid (MAPA 10).
43
MAPA 10 Municpios produtores de Cermica do Rio Grande do Norte
FONTE: SEDEC. Avaliao preliminar do setor mineral do Rio Grande do Norte. Natal, 2004.
O Plo da Grande Natal abrange 17 empresas e composto pelos municpios de Nsia
Floresta, So Jos do Mipibu, Cear-Mirim, Ielmo Marinho e So Gonalo do Amarante, principal
produtor.
O Plo do Baixo Au formado pelos municpios de Itaj, Ipanguassu, Alto do Rodrigues,
Pendncias e Au. Em Itaj esto concentradas 17 empresas das 34 que compem o plo e 10 no
municpio de Au.
44
No Plo do Serid os dados so mais expressivos: das 141 empresas produtoras de
cermica do Estado, 66 esto situadas na regio (46,8%), dispersas por 14 municpios. Parelhas, com
suas 24 unidades de produo, se destaca como maior produtor do Estado. Em seguida despontam os
municpios de Carnaba dos Dantas (13), Jardim do Serid (6) e Cruzeta (6).
Indiscutivelmente, a minerao, praticada de maneira racional e econmica, se constitui uma
atividade bsica da economia, que deve ser operada com responsabilidade social, consolidando-se no
contexto do desenvolvimento sustentvel, procurando um equilbrio sistemtico entre o trinmio
homem-recurso natural-territrio (SEDEC, 2004, p. 35). Porm, os questionamentos acerca desta
atividade surgem em funo de que o seu exerccio nem sempre se pauta por estas prerrogativas ou pela
observao da legislao pertinente. Disto resulta que a minerao executada sem um devido
planejamento e sem critrios tcnicos e ambientais torna-se uma atividade portadora de expressivo
poder de degradao ambiental.
A assertiva conduz a pensar sobre o desenvolvimento da minerao em um territrio com
elevada susceptibilidade desertificao, como o caso do Rio Grande do Norte, especialmente a
Regio do Serid, principal plo de produo ceramista do Estado e onde se registram os mais altos
nveis de susceptibilidade (muito grave e intenso), responsveis pela configurao de um ncleo de
desertificao.
A difuso da produo de cermica (FIG. 07 e 08) pelo Serid coloca-se no contexto de
rebatimento da crise da base produtiva algodo e scheelita -, insurgindo-se como uma alternativa
capaz de gerar ocupao e renda. Dados do Servio Nacional de Aprendizagem Industrial
SENAI/RN, revelaram que, entre 1989 e 2001, houve um expressivo crescimento do setor ceramista no
Rio Grande do Norte, principalmente, no Serid. No perodo em foco, foi registrado um crescimento
relativo deste segmento da ordem de 93,9% no Estado e de 690% na citada regio (MORAIS, 2005, p.
293).
45
FIGURA 07 - CERMICALOCALIZADA NO MUNICPIO DECRUZETA
FIGURA 08 - CERMICALOCALIZADA NO MUNICPIO DECRUZETA
FONTE: ELISNGELO, 2004 FONTE: ADESE, 2001
46
Nos principais municpios produtores esta atividade tem sido responsvel pela garantia de
trabalho e renda para um grande contingente da populao. Mas, se por um lado pode parecer
promissora em termos de mercado de trabalho, por outro, contribui para acentuar a susceptibilidade
desertificao, tendo em vista a origem da matria prima argila e a rudimentar tecnologia de produo
que utiliza a lenha como fonte de energia. A fabricao de telhas e tijolos com base na utilizao de
recursos florestais e de solos aluviais, antes usados para a lavoura de subsistncia e o plantio de
pastagens, tem aguado os problemas ambientais da regio, cujo ecossistema predominante j apresenta
naturalmente tendncia a processos de degradao. O uso de argila de aude para fins ceramistas
tambm tem contribudo para degradar e gerar conflitos em reas de vazante dos reservatrios, cuja
destinao a produo de hortifrutiganjeiros e de capim para o gado quando o volume dgua
encontra-se baixo. De acordo com Medeiros (2004, p. 74), a produo ceramista considerada pela
maioria dos estudiosos como a atividade que mais corrobora para degradar a regio do Serid
norte-rio-grandense.
A forma como a produo realizada recorrendo-se ao desmatamento de reas recobertas
pela Caatinga, que deixa o solo desnudo, e a extrao de argila em recortes frteis que aceleram a
eroso atravs das crateras que se formam no solo, torna-a um agente incisivo de degradao em um
cenrio marcado pela semi-aridez. Outrossim, o baixo nvel tecnolgico utilizado no fabrico de telhas e
tijolos tem gerado grandes perdas de material que se transformam em resduo, entulhado nas
proximidades das unidades de produo, denotando uma outra face da agresso ao meio ambiente.
Neste sentido, descortina-se o desafio que a sociedade potiguar precisa enfrentar, tendo em
vista a extenso da atividade mineira e, especialmente a dimenso que a produo de cermica assume,
nos dias atuais. Apresentando-se com alguns estabelecimentos dispersos e outros agregados em plos, a
produo de cermica cristaliza a difcil equao entre dividendos econmicos e degradao ambiental.
Neste panorama, porm, h um dado que no se pode negligenciar: 97% das terras do Rio Grande do
Norte so susceptveis desertificao e, no Serid, principal plo ceramista, h um retrato sem
retoques produzido pela exaustiva interveno do homem no meio, um legado de degradao que fez a
regio ser perfilada entre os ncleos de desertificao do Brasil.
Uma outra atividade econmica que pode ser apontada dentre aquelas cujo
desenvolvimento colabora para a desertificao a panificao. Embora ainda no se tenha dado
disponvel sobre o assunto, possvel vislumbrar uma correlao entre o crescimento das panificadoras
e a elevao das taxas de urbanizao, visto que, na atualidade, a quase totalidade dos municpios do
Estado, dispe deste tipo de unidade industrial.
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A relao entre esta atividade e o processo de degradao se estabelece a partir do uso da
lenha no processo de produo. Assim, a panificao passa a ser uma atividade humana a gerar presso
sobre os j comprometidos estoques de vegetao lenhosa do territrio e, dada a constante e crescente
demanda industrial, inclusive por parte de outros segmentos produtivos, amp