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Setembro 2012 | 1 Exposição Fotográfica Montanhas do CEL: Montanhistas A beleza e as dificuldades para chegar no topo da Europa Escalando por ai Vale do Frey - Argentina Técnica Rompimento de Mosquetão PAPO DE MONTANHA www.celight.org.br ano 1 | número 1 | janeiro 2013

Papo de Montanha - Jan 2013

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Papo de Montanha é uma publicação do CEL - Clube Excursionista Light (celight.org.br)

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Setembro 2012 | 1

Exposição Fotográfica Montanhas do CEL: Montanhistas

A beleza e as dificuldades para chegar no topo da Europa

Escalando por ai

Vale do Frey - Argentina

Técnica

Rompimento deMosquetão

PAPO DE MONTANHAwww.celight.org.br

ano 1 | número 1 | janeiro 2013

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www.trevous.com | @trevous

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índice

editorial

CEL - Clube Excursionista Light

Presidente: Claudney NevesVice-Presidente: Éder AbreuSecretário Geral: Lucas FigueiraTesoureiro: Claudio VanDiretoria de Montanhismo: Hans RauschmayerDiretoria Social: Gabriela Lima Karla PaivaDiretoria de Ecologia: Daniel ArlottaDiretoria de Comunicação: Paulo Ferreira Judith VieiraDiretoria Cultural: Claudia Gonçalves

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Direção de Arte: Paulo Ferreira

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Papo de Montanha é uma publicação do CEL - Clube Excursionista Light. As opiniões expressas pelos autores não são de inteira responsabilidade dos mesmos e não representam a opinião da revista Papo de Montanha e do CEL.

Fale Conosco:Envie cartas ou nos visite na Av. Marechal Floriano, 199/501, Centro, Rio de Janeiro - RJ.Tel.: +55 21 [email protected]

Bom, lá vamos nós em mais uma novidade. Uma entre tantas que ocorreram no ano que passou.

Ano passado foi ano eleitoral no CEL. A Presidência se manteve, mas o quadro de diretores foi praticamente todo remodelado, e procurando manter o serviço de qualidade prestado pelos diretores anteriores ao longo dos anos, a diretoria do CEL tomou decisões estratégicas para modernizar o clube, como reformas (banheiro novo, muro de escalada reformado, renovação do mobiliário).

Mas esse editorial é para ressaltar a Revista Digital “Papo de Montanha” que é uma das novidades

A revista é uma evolução do antigo boletim “Notícias do CEL”, que circulava periodicamente no clube.

E porque o digital? A mídia digital permite uma distribuição mais dinâmica, e ajuda a preservar a natureza, pois não utiliza papel e tinta, e não é em momento algum descartada, impactando no ciclo do meio ambiente, e qualquer um pode ler através do computador ou tablet e enviar por e-mail para todos os seus amigos.

E as novidades não param por ai. O Papo de Montanha (palestra de mesmo nome que ocorre na sede do CEL todos os meses, retratando algum tema relacionado a montanhismo), de agora em diante passará a ser disponibilizado na internet para quem não conseguiu comparecer para ver, ou queria ver novamente.E ainda falando nas novidades, em breve teremos mais uma turma de CBM buscando superação nas montanhas.Esperamos que gostem de todas as coisas legais que o CEL preparou, e aproveitem a leitura.

escalando por aiVale do Frey ..................................... 06Claudney Neves, presidente do CEL, conta sobre suas aventuras pelo Vale do Frey na Argentina, para escalar montanhas na terra do Tango.

técnicaRompimento de Mosquetão ............. 13 Um dos causadores dos maiores pesadelos dos escaladores dissecado na matéria adaptada por Hans Rauschmayer

capa - alta montanhaElbrus: Emoção na Montanha Russa.19Marcus Vinícius Carrasqueira narra a emocionante aventura de tentar chegar no ponto mais alto da Rússia.

exposiçãoMontanhas do CEL ........................... 32 Hans Rauschmayer, Paulo Ferreira, Gabriela Lima, Anne Peixoto, Claudney Neves, Judy Vieira, Karla Paiva, Gustavo Sacilloto, Ivan Slodoba, Guilherme Costa, Louis Fellipe, Helena Becho e Cláudio Van, mostram seu olhar sobre os montanhistas.

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Claudney Neves é montanhista desde 1993. Escalou em vários

estados do Brasil, países mundo afora, e é Presidente do CEL.

esportiva”, continuamos com essa linha e nessa gestão trouxemos o Projeto Montanhas do CEL, que são exposições permanentes que visam incentivar o casamento perfeito entre fotografia e montanhismo, além de nossas Noites Gastronômicas, onde a culinária nacional e internacional aterrissa em nossa Sede e todos são convidados para essa mistura de sabores, aromas e gente.Na Sede do CEL o sócio pode escalar em nosso muro, utilizar nossa biblioteca e consumir em nossa cantina, além de poder se conectar em nossa rede wi-fi, que já foi um dos objetivos almejados quando conseguimos colocar no site do Clube muitos recursos que facilitam a interação de nossos sócios, como a inscrição on-line em nossos eventos.Enfim, o Clube Excursionista Light é a síntese do desejo de nossos fundadores, o lugar onde nos encontramos, conversamos, treinamos, lemos e interagimos, contribuindo para escrever a nossa história. Será um prazer imenso, daqui a 50, 100 anos (sim, eu acredito na melhoria genética =D) ver o CEL ainda melhor que hoje e saber que essa gestão contribuiu para esse sucesso. O objetivo da nova revista é continuar contando essa história, que seja longa.

Quando o Clube Excursionista Light foi fundado, segundo palavras de Carlos Manes Bandeira, sua finalidade era “promover no decorrer de suas atividades, a prática do excursionismo e montanhismo entre seus filiados, condensados nos mais altos princípios da fraternidade e democracia, mantendo a harmonização de seus associados”. Hoje, 55 anos depois, continuamos com esse mesmo espírito, não que o CEL não tenha se atualizado, pelo contrário, alimentamos o desejo dos nossos corajosos fundadores e mesclamos com a juventude que hoje está à frente do Clube, a qual mantém esse sangue novo pulsando e a cada dia vence novos desafios. A base de todo esse esforço é o trabalho voluntário, não só por parte da Diretoria e guias, mas de cada um dos sócios. Seria simplesmente impossível manter o CEL e fazê-lo crescer sem a ajuda de todos. Cada vez que alguém se doa, está colaborando para manter o Clube vivo e fazendo florescer a memória de todos que já passaram por aqui e também colaboraram.E é surpreendente o que já foi possível fazer com esse trabalho de muitos. Anualmente o CEL promove Cursos Básicos de Montanhismo, Cursos de Guia de Cordada, Cursos de GPS para Trilhas, além de Oficinas Técnicas. O, já consolidado, Papo de Montanha, transformou-se em um evento mensal que traz para toda a comunidade assuntos de interesse do nosso esporte. Ainda citando Bandeira, como um dos objetivos iniciais era manter “a harmonização de seus associados, com uma vida social e

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TOP ROPE

FOTOGRAFIA

PDM INDICAEm abril começa mais uma turma do Curso Básico de Montanha do CEL. Com duração de 2 meses, esse curso é a porta de entrada no montanhismo. Preço: R$ 600,00. Saiba mais na página do clube: www.celight.org.br.

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A sede do CEL teve ano passado seu muro de escalada indoor e seu banheiro reformados, e até Fevereiro (2013) a sede permanecerá fechada para obras de reforma das instalações elétricas entre outras para melhorar as acomodações do clube. Fique atento na página do clube para saber quando o CEL volta a funcionar novamente.

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Felipe Dallorto, está treinando forte e preparando a produção do filme “No Rope, No Bolts 2”. Filme sobre psicoblocs, que teve sua primeira edição exibida no Festival de Filmes de Montanha 2012 e ganhou 3 Corcovados (Melhor Filme, Melhor Fotografia e Melhor Filme - Voto Popular).

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Raphael Nishimura, escalador paulistano conquistou em Setembro na frança o segundo lugar no Mundial de Paraclimbing, disputado na França. Raphael possui ainda um projeto social que busca e estimula o Paraclimbing no Brasil. Para conhecer mais sobre o Raphael e seu projeto social acesse a página do escalador: http://escalango.com

Marcinha Shimamoto (Yumi), tocando pro

alto nas esportivas no Vale de Blair - Serra

do Cipó - MG em Abril de 2012.

Ficha Técnica:Autor: Paulo Ferreira

Nikon D7000 Lente 18-135

1/50 | f/5.0 | 44mm | ISO 800

FILMERisco Total - 1993 (Cliffhanger)Gabe Walker (S.Stallone) com a equipe Rocky Mountain, tem que resgatar 5 montanhistas perdidos, e acaba emboscado por terrosristas internacionais.Ótimo filme para um final de semana chuvoso.

LIVRONo Ar RarefeitoJohn Krakauer - Cia das LetrasBest-seller americano retrata na visão do jornalista John Krakauer, a pior tragédia no Everest onde 12 montanhistas foram mortos após atingirem o cume. Leitura obrigatória.

MÚSICALed Zeppelin - Phisical GrafittiÁlbum lançado em 1975 pela SS Records, é considerado o 70º melhor álbum de rock de todos os tempo pela revista Rolling Stone. A música Kashmir é considerada por Robert Plant (vocalista da banda), como a “Canção Definitiva da Banda”.

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Desde que entrei no mundo da escalada, foram poucas as vezes que fiz uma viagem que não tivesse como objetivo principal escalar. Depois de um tempo, você passa a se acostumar com a beleza dos lugares, isso aconteceu e permaneceu em mim quando voltei de Yosemite. O fascínio em ver as belas paisagens não era o mesmo. Estava precisando de algo novo, e encontrei!Em uma conversa com meu amigo Claudio em um dia de natal, ele me falou de uma viagem já marcada para a Argentina, com Mauro, outro amigo que conheci depois. Topei a empreitada e peguei alguma dicas com Julio, que foi com quem conheci algumas das primeiras vias que escalei no Ceará.Grupo fechado, equipamento dividido, logística combinada, viajamos para Bariloche no mês de janeiro. A melhor época para escalar no Frey vai do início do ano até meados de março.Claudio e Mauro de avião até a cidade base e eu para Buenos Aires, de onde pegaria um ônibus, e depois de 20h de viagem, também chegaria lá.Cumprimos o combinado e nos encontramos no Hostel Gente Del Sur, em Bariloche,

escalando por aiautor: Claudney Nevesfotos: Cladney Neves | Mauro Chiara

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fizemos as compras de mantimentos para uma semana longe da civilização e pegamos um taxi até o Cerro Catedral, onde há uma estação de esqui e é o ponto de partida para a trilha do Frey.

A TrilhaA trilha, ahhh, a trilha... São 4h horas de um agradável sofrimento. O trajeto em si é tranquilo e muito bonito, o peso de mais de 20 kg nas costas é o que incomoda, mas, o que perturba de verdade são os tábanos, uma espécie de mosca argentina que pica, não interessando se você está com a pele coberta ou não.Claudio chegou antes do previsto. Mauro e eu demoramos um pouco mais. No início parávamos a cada 40 minutos - mais ou menos -, esses 40 minutos se transformaram em meia hora, que virou alguns instantes... Próximo ao final da trilha, mirávamos uma pedra, um tronco ou um barranco e chegávamos nele para arriar o peso das costas, uma delícia =)Mas a visão do abrigo é simplesmente S-E-N-S-A-C-I-O-N-A-L! Como o título do artigo diz, o lugar é um vale, com agulhas nevadas ao fundo, que degelam e formam a lagoa, que em suas margens tem o abrigo. Nesse momento encontrei o lugar novo de que tanto precisava. A beleza foi

inédita novamente.Chegamos no final da tarde e o clima estava perfeito! Armamos as barracas e fomos conhecer o abrigo. Ali é possível dormir, comer e beber a preços justos para o local. A cozinha é liberada para todos, assim como os seus utensílios. Quando o sol vai embora, geralmente às 22h, velas iluminam as mesas. Não há eletricidade.Não há chuveiros no local. Para os corajosos que tomam banho, não é permitido fazer isso na lagoa. Nossa sistemática foi utilizar panelas para pegar a água e fazer isso na grama ao redor.A noite estrelada foi uma ilusão, na manhã seguinte as barracas, toalhas,

calçados, sungas e tudo mais que ficou ao relento foram cobertos de neve. O tempo ruim permaneceu por três dias. Em determinados horário o vento era tão forte que nevava na horizontal.

As EscaladasClaudio até tentou fazer algumas escaladas, mas chegando ao ponto de ter que olhar para os dedos e ver que estava mesmo segurando

O começo da trilha para o Vale do Frey

O prêmio por chegar.

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alguma coisa como agarra, pois não sentia nada devido ao frio.Mauro e eu formamos uma dupla e escalamos três vias em dois dias. No primeiro de tempo bom, entramos na clássica Diedro de Jim (5), cerca de 60m, com a primeira parte mais fácil e os 15m finais em uma fenda perfeita de entalamento de mão.Rapelamos e, logo em seguida, entramos na Sifuentes Weber (5+), bem mais exigente que a primeira e com diversos lances, digamos, interessantes. Com diedros, fendas frontais, domínios e um visual de tirar o fôlego! Abri e fechei a via, Mauro guiou as duas enfiadas do miolo. Com isso encerramos o expediente.No dia seguinte, Claudio perseguiu a Agulha Principal, que tentava escalar desde que

chegou ao Frey. Mauro e eu entramos na Ñaca Ñaca Crush Crush (5). Mais uma via que o guia classifica como três estrelas, a exemplo das duas anteriores. E falando em guia, o livrinho é bem simplório. Antes de entrar em qualquer

via, é bom colher o máximo de informações com escaladores mais experientes. Com certeza essas informações terão peso.A via segue por uma sequência de platores, que sempre ficávamos na dúvida se eram realmente da linha. As proteções, inclusive paradas, todas em móvel, como no dia anterior.. Fomos alternando a guiada até chegarmos ao grande

teto que dá acesso ao cume da Agulha Abuelo. Mauro protegeu com friends grandes e mandou, arrastei a mochila e me juntei a ele no cume. Rapelamos do nosso último dia de

Tipo de rocha: Granito

Tipo das vias: Tradicionais

Proteções: 95% são móveisGraduação:

5 a 8 (grau francês)

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No Cume da Agulha Abuelo.

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escalada.Na véspera de partirmos, mudamos para o abrigo e já deixamos as mochilas arrumadas. A manhã do dia seguinte começou cedo, acordamos Às 4h30 e baixamos para Bariloche. A trilha, ao amanhecer, está livre dos malditos tábanos.

O Fim da AventuraPegamos o ônibus até o hostel e de lá cada um seguiu seu destino. Claudio e Mauro pegaram o avião em horário diferentes e eu enfrentei mais 20h de ônibus até Buenos Aires, de onde embarquei de volta para o Brasil.Foi a segunda vez que fui para a Argentina. Na primeira, em Los Gigantes, todo aquele papo de rivalidade entre brasileiros e argentinos foi por água abaixo. Dessa vez, ratifiquei isso. Nossos hermanos nos recebem muito bem, são solícitos, simpáticos – pelo menos a maioria que conheci – e dão exemplo de organização quando se trata de turismo. Uma estrutura como a do Frey poderia ser facilmente montada aqui. Temos locais,

gente e exemplos de como fazer. Para não ir muito longe, locais como Salinas, aqui no Rio, têm tudo para se tornarem referência em escaladas, caminhadas e para aqueles que só querem se isolar um pouco para aproveitar paisagens de sonho em um lugar paradisíaco. Isso eles sabem fazer, nós ainda não.Como falei lá no início, o Vale do Frey é um dos lugares mais bonitos que já conheci. Se você quer escalar em móvel, tem uma coluna forte – a trilha é bruta – e gosta de conhecer gente do mundo inteiro, lá é o lugar perfeito. Escalamos pouco, mas aproveitamos muito, se soubesse que só escalaria dois dias e passaria quatro enfurnado em um abrigo, mesmo assim iria para lá. Curti cada minuto!

Claudney Neves é montanhista desde 1993. Escalou em vários

estados do Brasil, países mundo afora, e é Presidente do CEL.

Nascer do Sol na trilha

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RUPTURA DEMOSQUETÃO

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É raro um mosquetão romper. Mesmo assim, dentro da cadeia de segurança é este o equipamento que falha com maior frequência. Mais que grampo, corda ou cadeirinha. No verão de 2011 quebraram dois mosquetões em Tirol durante escaladas esportivas. Chris Semmel analisou os acidentes.

autor: Chris Semmel tradução e adaptação: Hans Rauschmayer

Acidente n° 1

No dia 14 de maio de 2011, um escalador alemão se acidentou em uma via 7c (escala francesa), na Áustria. Ele se encontrava entre a terceira e quarta chapeleta1 , a aproxima-damente 9m acima do chão. Na tentativa de alcançar uma agarra em bote na altura da quarta chapeleta, ele caiu de forma controla-da. O mosquetão clipado na terceira chapele-ta rompeu, sem que o segurador sentisse um tranco. O escalador despencou até o chão e lesionou a coluna de forma severa. O mosquetão rompido era o modelo Helium do fabricante Wild Country, a chapeleta do fabricante AustriAlpin (fig. 1).

Como aconteceu:A imagem do mosquetão quebrado indica o tipo de rompimento com gatilho aberto: tipicamente, mosquetões abertos rompem na curva do lado mais aberto, ou próximo dela. A resistência do mosquetão é de 24/7/10 kN (longitudinal, transversal, trava aberta). São valores respeitáveis para um mosquetão leve, produzido no forjamento a quente. O teste de outros mosquetões do mesmo mo-delo conforme a norma (EN12275) confirmou a resistência informada pelo fabricante. As superfícies de ruptura não apresentaram irregularidades na formação do metal. Chama atenção a incisão próxima ao nariz, causado pela chapeleta durante o rompimen-to (fig. 2).

1 A matéria relata acidentes que ocorreram com chapeletas. Ela não discute eventuais diferenças entre chapeletas e grampos batidos, o que seria interessante no contexto brasileiro. Na tradução usamos o termo “chapeleta” na maior parte das aparições para evitar equívocos.

fotos: Wilhelm / Plattner / Departamento de pesquisa de segurança do DAV

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Raramente um mosquetão rompe somente pelo tranco com gatilho aberto. Afinal a força aplicada no ponto de deflexão fica na faixa de 3 a 6 kN, conforme pesquisa do departamen-to de segurança da confederação alemã de alpinismo-DAV (quedas de escalada esporti-va; freio dinâmico, fator de queda 0,2 a 0,5). Mesmo mosquetões “fracos” apresentam uma resistência mínima de 7kN (exigência da norma). Para o mosquetão romper ocorre geralmen-te uma combinação de gatilho aberto com torção por travamento dentro da chapeleta. Esta alavanca adicional reduz a resistência. O rompimento no caso apresentado, com alta probabilidade, ocorreu desta forma (fig. 3).

Na posição da figura, o mosquetão fica es-tável e não desliza para uma outra posição, mesmo sob força. A resistência fica na faixa de 2 a 3 kN. A própria chapeleta abre o gati-lho lateralmente, aplicando uma alavanca que reduz a resistência.

Culpa de quem?Neste acidente não se pode culpar o mos-quetão. Comprovamos os 10kN de resistência com gatilho aberto declarados pelo fabri-cante no nossos ensaios. Mesmo ensaios do mosquetão aberto, forçado sob uma quina mostraram que, contra primeiras suspeitas, mosquetões leves forjadas a quente não per-dem contra modelos clássicos, forjados a frio.

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1. Chapeleta do acidente 1 | 2. Incisão no mosquetão rompido | 3. Posição do mosquetão na chapeleta no momento da ruptura

peleta, ele desescalou até que seu quadrial estava na mesma altura da chapeleta, lateral-mente afastado por cerca de 40cm. Ele pediu ao segurador para travar a corda. Quando sentiu a tração da corda, ele se soltou. Nisso, o mosquetão rompeu e o escalador aterrissou de uma altura de aproximadamente 10m. O mosquetão era um modelo Hot do fabricante Salewa, do primeiro lote do ano 2006 (fig. 5)

Como aconteceuNeste acidente, a imagem indica novamen-te uma ruptura causada por gatilho aberto. A resistência do mosquetão, conforme fa-

Bem ao contrário: eles parecem apresentar uma deformabilidade mais alta. O Helium mostrou uma enorme deformação e uma re-sistência de aproximadamente 7 kN (fig. 4).

Acidente Nº 2

No dia 2 de junho de 2011, um escalador austriaco entrou numa via de grau 7a+ (escala francesa). Ele descansou na quinta chapeleta. Na tentativa de escalar o próximo lance se deu conta que era difícil demais. Com a inten-ção de descansar novamente na quinta cha-

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4. Ensaio de carga em mosquetão similar e deformação | 4a. Deformação | 5. Mosquetão do acidente 2

6. Incisões no nariz do mosquetão | 7. Posição do mosquetão na hora da ruptura | 8. Opções para reduzir o risco de ruptura: a.mosquetão key-lock com fita larga no lado do grampo b.mosquetão de trava em ancoragens estratégicas c.modelo Frog do fabricante Kong

bricante, é de 23/8/8kN; a verificação com mosquetões similares do mesmo lote não apresentou anormalidades. Da mesma forma, as superfícies de ruptura não apresentaram irregularidades. Chamam atenção as incisões no nariz, causado pela chapeleta (fig. 6) que indicam que o mosquetão estava apoiado pelo nariz na chapeleta no momento da queda.

Será que um mosquetão rompe nesta posi-ção pelo mero peso do escalador? Quais são as forças aplicadas e qual é a resistência do mosquetão nesta constelação? Para responder resolvemos refazer a si-tuação no muro. Resultado: ao se “sentar” a partir de uma posição 30 cm lateral à da chapeleta, um escalador de 75kg causou uma

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Hans Rauschmayer é guia de montanhismo e diretor técnico

do CELIGHT.

força de 2,1kN na chapeleta (duas medições). Em seguida repetimos o ensaio duas vezes com mosquetões posicionados como no aci-dente. Nos dois casos, o mosquetão rompeu, sendo que a força de ruptura estava em 1,8 e 2,1 kN. Como o escalador acidentado tinha 10kg a mais e encontrava-se a uma distância lateral de 40cm, a ruptura do mosquetão não parece somente plausível mas imperativa. A combinação de tração com gatilho aberto e alavanca causam uma redução drástica da resistência.

Culpa de quem?Neste acidente, novamente, não há como culpar o mosquetão. Outros modelos também apresentam num posicionamento similar uma resistência baixa.

Como evitar:

Desclipamento ou ruptura de mosquetões ocorre em 99% dos casos no mosquetão da chape-leta, não da corda. Os seguintes meios reduzem o risco de acidentes do tipo descrito:

_Fitas expressas fixadas no mosquetão do grampo (fig. 3 e 7) transmitem qualquer movimento da corda ao mosquetão superior e o empurrem para dentro da chapeleta. O mesmo vale para fitas rígidas ou costuradas até junto dos dois mosquetões._Deve-se, portanto, tomar cuidado para que o mosquetão do grampo não esteja fixado na fita e que ela seja larga neste lado (fig. 8), permitindo que os movimentos possam ser compensados._É importante clipar o mosquetão da forma que o gatilho fique para o lado oposto da direção da via. Quando o mosquetão for empurrado para dentro da chapeleta, será pelo eixo fechado, mais resistente que o do gatilho._Mosquetões sem nariz (key-lock) e sem vincos correm menos risco de travar na borda da chapeleta._Do lado da corda recomendam-se mosquetões com gatilho de arame, por causa da inércia reduzida._Mosquetões com resistência de gatilho aberto acima de 9 ou 10kN certamente são melhores do que aqueles que somente atendem à norma (7kN)._Pouco difundido é o produto “frog” do fabricante Kong (fig. 8) que elimina o risco do rompimento do mosquetão na chapeleta._Antes de lances com maior risco no caso de queda pode-se recorrer a mosquetões com trava ou duas expressas clipadas de forma invertida.Afinal: na prática não ocorrem rupturas de mosquetões a não ser com gati-lho aberto... e não esqueça de verificar a qualidade do grampo / da chapele-ta e do segurador.

fonte: Karabinerbruch x 2, Ber-gundsteigen 1/12, páginas 52-55

www.bergundsteigen.at

Chris Semmel é guia de mon-tanhismo, perito, kitesurfista e gerente do Depto. de Pesquisa

do DAV.

Para mais literatura técnica acesse:

www.celight.org.br/artigos

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autor: Marcus Vinícius Carrasqueirafotos: Agnaldo Gomes | Aurélio Macha Manoel Morgado | Marcus Carrasqueira

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- Consulado Gerral do Russíía!- Bom dia! Gostaria de saber...- Senhôrr, nao falarr porrtuguês!Quem sabe outro idioma, arrisquei!- Senhôrr, nao falarr ingles!- Qual o horário... ... Alô, alô!Não acredito, o sujeito desligou! Ligo novamente!- Eu somente queria...- SenHÔRR, JA di-ZERR, NAO fa-LARR POR-tu-GUÊS!! PAM!

Bateu o telefone na minha cara com raiva! Será esse o mau humor soviético que li em algumas narrativas e que estará me esperando de braços abertos? Não foi um bom início, mas não vai ser pela inabilidade do camarada moscovita que criarei um caso diplomático, ou desistirei do meu projeto de férias. Elbrus não foi a minha primeira opção. Meu interesse era escalar os vulcões equatorianos Cotopaxi e Chimborazo, o boliviano Sajama e o chileno Parinacota na mesma tacada, mas alguns colegas com os quais convivi no Kilimanjaro insistiram para que nos reencontrássemos na Rússia, sendo que cinco deles já tinham confirmado a presença. Subir uma montanha fora dos padrões brasileiros é um prazer pessoal que, por si só, vale o investimento de tempo e dinheiro; todavia, participar de um grupo alegre e vitorioso e de uma expedição administrada por Manoel Morgado e Lisete Florenzano são argumentos imbatíveis. Não precisei de maiores elucubrações para decidir meu destino!Considerando as aulas de Mínimo Impacto ministradas nos cursos básicos de montanhismo, recordo que apenas dois princípios podem e devem ser aplicados antes da viagem: “Planejamento é Fundamental” e “Você é Responsável pela sua Segurança”. Nesse sentido, planejamento começa com informação confiável. A leitura prévia dos relatos de viajantes e a visualização dos vídeos são medidas essenciais para a formação de uma imagem mais próxima da realidade e dos obstáculos encontrados pelos antecessores. Sabendo que a língua inglesa não é tão difundida lá quanto nos países da comunidade européia, meu primeiro passo foi aprender algo de russo (incluindo leitura

do alfabeto cirílico) e expressões rotineiras com alguns meses de precedência. A compra de um minidicionário juntamente com o conhecimento adquirido foi de grande utilidade e me socorreu em várias ocasiões. Um amigo baixou no celular um aplicativo de tradução que possui o pronunciamento falado da palavra, providência acertada, pois dificilmente um cidadão de meia idade fala inglês ou tem paciência para escutar um estrangeiro, ao contrário dos jovens, que têm noções e se mostram colaborativos.Beto Joly escreve no site adventurezone que Elbrus é um vulcão localizado na região dos Cáucasos, cadeia montanhosa de 1100 km de comprimento resultante da colisão das placas continentais arábica e eurasiana, iniciada há 25 milhões de anos, formando uma cordilheira sudeste-noroeste entre os mares Negro e Cáspio, a qual separa a Rússia da Geórgia. O cume ocidental, ou oeste, possui 5642 m de altitude, enquanto o cume oriental, ou leste, ligeiramente mais baixo, possui 5621 m. Sete picos acima de 5000 m estão ali encravados,

sendo os demais Dich-Tau, Koshtan-Tau, Shkhara, Djangi-Tau e Pushkin Peak, de acordo com o site kavkazskitur. Já o site klingmountainguides informa que elbrus é uma expressão de gênese persa e significa duas cabeças, alusão clara aos dois cones geminados, ou sentinela alta, segundo o site climbing.about. A última

erupção ocorreu na época em que Cristo foi crucificado, praticamente na manhã de hoje, em escala geológica, indicando, segundo uma corrente de cientistas, que o vulcão está vivo, porém adormecido. Como não temos notícia da chegada de nenhum outro salvador da humanidade, fiquei tranqüilo para a escalada. A calmaria terminou até saber que um dos participantes atende pelo nome de Jesus!Todos os sites visitados afirmam que a escalada não se mostra tecnicamente difícil, contudo é árdua e exigente devido à altitude e ventos fortes. Elbrus está situado na latitude 43 graus norte que, rebatida para o hemisfério sul, equivale à cidade hermana de Bariloche, combinação que traz a variável frio para o cenário das dificuldades. A taxa de sucesso é estimada em 80% nos dias de tempo bom, desde que o trekker esteja fisicamente condicionado e aclimatado, conforme estimulado pelo site

... dois princípios podem e devem ser aplicados antes da

viagem: “Planejamento é Fundamental” e

“Você é Responsável pela sua Segurança”.

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fieldtouringalpine. Fiquei animado com a estatística e meu segundo passo foi melhorar o preparo físico, já adentrando no conceito de segurança, outro princípio do Mínimo Impacto. Desde o ano passado incorporei o hábito de dispensar elevador no trabalho e no prédio onde resido e mantive a corridinha regular nas areias de Copacabana. A inovação ficou por conta da repetição do exercício diário de subir e descer escadas por 30 ou 40 minutos, treinamento especialmente útil nos dias chuvosos. As novidades nem sempre são bem compreendidas, principalmente quando quebram a rotina da comunidade de moradores: virei alvo de comentários e olhares dissimulados vindos dos vizinhos, acompanhados do gesto peculiar de apontar o dedo indicador para a parte lateral da própria cabeça e girá-lo repetidamente em torno de um eixo imaginário!E vamos embarcar! A passagem por Moscou com alguns dias de antecedência é aconselhada, não apenas pela rota mais econômica dos voos internacionais, mas sobretudo pela oportunidade de realizar passeios turísticos enquanto o organismo compensa a diferença de sete horas de fuso. Assisti à abertura das Olimpíadas de Londres e a algumas competições no telão do impressionante

Parque Soviético, em frente ao Hotel Cosmos, onde nos hospedamos. A parada naquela bela capital foi providencial, pois fomos às compras na loja de montanhismo Alpindustria, de boa qualidade e com preços bem abaixo do nosso mercado. O guia também orientou para adquirirmos nossas cotas individuais de petiscos para o período de alta montanha. Para mim, esses dias extras revelaram-se propícios, compartilhados que foram com uma atividade nada agradável, pois fui surpreendido pelo extravio da minha cargueira, que nunca chegou a desfilar na esteira rotatória do aeroporto. Precisei me empenhar muito para reavê-la depois de dois dias, situação que me causou um bocado de aporrinhação, além de ter envolvido involuntariamente meu colega de expedição. Terá sido praga rogada pelo camarada moscovita do Consulado?Roupa limpa e bagagem completa, voamos por três horas até a cidade de Mineralnye Vody (ou Água Mineral), lugar onde tomamos um ônibus por quatro horas até a vila de Terskol (2000 m), na região da Cabárdia-Balcária, nossa base temporária e início da aclimatação pelos dias subseqüentes. Essa república faz fronteira com a Geórgia, ao sul, estando próxima da Chechênia, ao leste, províncias que declararam independência mediante guerra civil. A Rússia

Vale Alpino de Terskolà 2000 metros de altitude

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nunca reconheceu a autonomia dessa última, motivo de turbulências política e armada entre os povos. Nota publicada em climbing.about lembra que, no inverno de 2011, separatistas islâmicos bombardearam uma torre de teleférico e mataram três esquiadores. Não obstante o fim dos combates, ao percorrer as estradas encontramos escombros de antigas fábricas e carcaças de veículos militares, pairando no ar uma pesada atmosfera de tensão, sendo necessário aos forasteiros uma autorização de circulação emitida pelo Governo. O condomínio ao lado da nossa pousada possui cerca eletrificada, guarita em torre elevada de cinco metros (tipo presídio) com um homem mal encarado armado de fuzil e sistema sanfonado automático de perfuração de pneus no portão de entrada. Com a minha estranha estampa étnica de sul-americano, fiquei receoso de fotografar! Vai que...No primeiro dia de condicionamento subimos até um observatório astronômico a 3000 m

e descemos para descansar na estalagem. No segundo dia repetimos a dose até o topo do monte Cheget, a 3300 m, voltando para a derradeira noite no aconchego das nossas camas. Em seu livro Sonhos Verticais, Manoel Morgado enfatiza que a regra de ouro da aclimatação é caminhar alto e dormir baixo. Os dias de adaptação foram especiais, pois fomos

oficialmente apresentados aos Cáucasos, desde os seus arborizados vales profundos, cercados por montanhas piramidais nevadas em perfeito estilo alpino, até a exuberante explosão de vida e cores da fauna e flora, cheiro de flores e mato, tudo isso emoldurado por geleiras e banhado pelas fortes e barulhentas correntes dos rios formados pelo degelo do verão europeu! A Chamonix russa, como diz a propaganda. Parodiando Charles Darwin, bonito é modesto demais! Não poderia haver melhor cartão de boas vindas!Do alto do monte Cheget tivemos a primeira visão do Elbrus em toda a sua majestade, ornamentado com o manto branco das neves eternas, única elevação arredondada contrastando com as vizinhas serrilhadas! Conforme estudo da UFRGS, Elbrus é a décima montanha de maior proeminência topográfica no mundo, um conceito que expressa o quanto ela se destaca entre as que a rodeiam. Esse gigante nasceu temporão (somente 4 milhões

de anos atrás, dado na página kavkazskitur), crescendo rápido e diferente dos seus irmãos, se diferenciando tanto que é considerada a maior elevação da Europa. Cabe lembrar que a divisão daquele continente com a Ásia é produto de uma convenção geográfica de 1861, de acordo com a Wikipédia. Elbrus vem registrando aumento na frequência por fazer

Aclimatação em baixa altitude

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parte dos Seven Summits (circuito cada vez mais popular entre os montanhistas), fato que tem aquecido o turismo de veraneio em Terskol, um aglomerado que possui nos esportes de inverno sua grande movimentação econômica. A página de Alan Arnette notifica que, no verão, não é incomum encontrar até cem escaladores tentando o cume em um mesmo dia. No site pilgrim-tours há a estimativa de dez mil pessoas por ano, sendo 70% russos.A missão final em Terskol foi conhecer uma loja de material de montanha para compras de última hora e alugar os equipamentos específicos de neve e gelo. Despedimos-nos da confortável pousada, da sua deliciosa comida e de seus simpáticos funcionários, curiosos que foram com as coisas brasileiras, rumo aos refúgios de altitude. Embarcamos no teleférico de três estágios que nos transportou diretamente para 3700 m, já na linha nevada que nunca desaparece. Sentados nas cadeirinhas observamos trekkers que caminhavam encosta acima carregando suas mochilas e confesso que senti certa pontinha de inveja. Minha história de montanha tem a ver coma aquela cena. Os abrigos são chamados de barrels (ou barris/tambores, pelo formato cilíndrico) e possuem beliches para seis pessoas, aquecedor elétrico e tomadas. Poucos anos atrás foram instalados conjuntos de containers convencionais em cotas superiores cumprindo igual função, com capacidade para oito pessoas cada,

onde ficamos refugiados, com um deles adaptado para cozinha e refeitório. As mulheres invadiram o primeiro container, parte dos homens outro, um terceiro estava ocupado por um grupo da Austrália e os três homens restantes ficaram no último, junto com dois guias russos e as duas cozinheiras. Os banheiros são um caso à parte, tipo latrina fabricada em monobloco metálico, sujos, nojentos, fedidos, nauseabundos, dramaticamente erguidos à beira dos abismos gelados e estremecendo ao sabor dos ventos, ganhando com méritos os notórios apelidos de “casa dos horrores” ou “quarto do pânico”, como dito em summitpost.org. Descobri o motivo da pior forma possível: cheguei aos barrels com diarreia que me perseguiu pelos dois dias seguintes. Sem opção de banho, fui salvo pelo pacotinho de lenços umedecidos que ganhei da premonitória namorada.Após nos acomodarmos, fiquei em pé sobre a neve admirando os cones vulcânicos. Mal podia acreditar, ali estávamos nós, encastelados nos ombros do Elbrus! Tão perto e ainda tão longe! Hoje aquele lugar é quase uma cidade de barrels, mas qual terá sido a emoção dos conquistadores na época do deserto branco? O cume leste foi escalado pela primeira vez pelo guia kabardiniano Killar Kashirov, em 1829, trabalhando para o Exército do Império Russo, enquanto o cume oeste foi conquistado pelo guia balkariano Akhia Sottaiev, em 1874, membro de uma expedição anglo-suíça, informa Beto Joly. Naquela tarde, e

Teleférico

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sem perder tempo, o guia continuou com o processo de aclimatação, dessa vez utilizando o equipamento alugado: botas duplas de plástico, polainas, crampons, ice axe, bastões e óculos de neve (google). Nosso refúgio estava a 3900 metros e os participantes foram conduzidos pelo glaciar até a cota de 4500 m, por entre o corredor de segurança formado pelas Pastuckhov Rocks, rota normal de ascensão usada pelos montanhistas, haja vista a existência de perigosas cravasses (ou gretas) no gelo. Elbrus alimenta vinte e duas geleiras ao seu redor, algumas com 400 m de espessura, segundo o site elbrus-team. Não fui ao treinamento e fiquei em repouso, enfraquecido pelo distúrbio orgânico. Acima de 3000 m a ordem é hidratação diária com 4 a 5 litros de água, ajudando no condicionamento do corpo. Abastecia por um lado e perdia por outro, saldo zero! Nem sei por que me lembrei do camarada moscovita do Consulado!No dia seguinte me enchi de coragem,

integrando-me ao grupo na continuidade da adaptação e com objetivo de chegar a 4700 m, mas tive que parar em 4200 m no abrigo Diesel Hut devido à repentina cólica abdominal, onde esperei a volta dos colegas. A casa dos horrores já estava ficando familiar demais, para o meu desespero! Explorando o local, casualmente me deparei com um monumento aos alpinistas que ali sucumbiram pelo esporte, uma grande rocha ornamentada com placas, fotos e mensagens. Boris Tilov, chefe do serviço de resgate no Elbrus, entrevistado pelo site alexclimb, declara que morrem em torno de 15 a 30 montanhistas por ano e que 7 em cada 10 mortos são estrangeiros. Procurei a madeira

mais próxima e bati três vezes! O grupo voltou muito eufórico, pois tinham encontrado duas modelos russas apenas de biquíni fazendo fotos promocionais no meio da neve, algo insólito. No retorno aos barrels tive uma pequena dor de cabeça que incomodamente persistiu ao longo do dia, sinal do insucesso da hidratação. Com três médicos no grupo comecei a tomar antibiótico, pois em 36 horas iríamos fazer nosso ataque ao cume. Naquela noite acordei com a movimentação do grupo da Austrália se preparando para a sua escalada. Às três da madrugada os australianos saíram debaixo de vento e flocos gelados, mau sinal! O tempo estava mudando. Nesses dois dias em que estávamos nos abrigos, amanhecia com sol, mas, no decorrer das horas, chuva e neve se alternavam pela tarde. Ma noel Morgado, inquieto, acompanhava simultaneamente vários sites climáticos monitorando as tendências.O terceiro dia foi de descanso e treino leve

Grupo completo

Homenagem aos mortos no Elbrus.

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no uso dos equipamentos alugados. Com mais uma visita matutina ao quarto do pânico não tive dúvidas: tomei dois comprimidos de imosec e fechei a porta, mas um dano à saúde já podia ser contabilizado! Pelo meio da manhã o grupo da Austrália tinha chegado da sua incursão, cansados e cabisbaixos por terem sido forçados a retornar de 5350 m. O experiente guia russo Viktor Yanchenko, do alto do seu título de recordista de cumes no Elbrus (mais de 150, como registrado na página de elbrus-team), optou pela volta por questão de segurança devido à forte nevasca. Apreensão geral, pois nessa noite seria a nossa vez! No almoço os participantes prestaram uma justa homenagem às nossas competentes cozinheiras, pessoas simples que nos trataram muito bem e temperando a comida com muito carinho! Lena, mais escolada, se comunicava com alegria e nos abraçava com afeto, enquanto Yula, jovem e tímida, aprendia com sua superior e respondia com um sorriso sincero aos agradecimentos, após servir nossos pratos. Cada uma foi presenteada com um colar que comprei no Brasil. Levar souvenires é uma estratégia eficaz de quebrar a barreira idiomática e ampliar os contatos sociais (sugestivamente, souvenir é anagrama de universo). Na Rússia, um inusitado elemento possui o mesmo papel de integração e facilitação social: pepino! Os russos amam pepino tanto quanto vodka: é pepino no café-da-manhã, é pepino no

almoço, é pepino no jantar, é pepino no lanche de montanha, é pepino no cinema, é pepino na recuperação médica! Quer fazer amizade por lá, ofereça um pepino e marque um golaço nas relações diplomáticas!O momento mais esperado estava chegando! Na sua preleção final o guia informou que a subida nos tomaria entre oito e dez horas, enquanto a descida demoraria de quatro a cinco horas, que levássemos água na térmica ou em cantis de boca larga virados para baixo, que estivéssemos vestidos com todas as camadas de roupa e que o snowcat (um tipo de trator adaptado para terreno nevado) já estava contratado para nos transportar até 5000 m. Com tanta facilidade de deslocamento e alojamento, o site outdoors.whatitcosts classifica Elbrus como o mais civilizado dos Seven Summits. Consegui adormecer sem interrupções graças aos protetores auriculares de espuma e máscara de dormir, itens indispensáveis em grupos. Acordamos às duas da madrugada com vento e neve, as mesmas condições agourentas da noite anterior. Emudecidos, embarcamos no veículo embrulhados em quatro camadas de roupas, entre segundas-peles, fleeces, impermeáveis, balaclavas, meias, gorros e capuzes. A preocupação aumentava proporcionalmente com a intensidade da tormenta e a declividade ascendente percorrida. Quando desci do snowcat, um frio incomensurável vencia o obstáculo aparentemente protetor das luvas e

Aclimatação em alta altitude.

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Lisete Florenzano guiando o grupo no ataque ao cume.

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invadia minhas mãos. Ao mesmo tempo, não conseguia encontrar o equilíbrio necessário para firmar os crampons e bastões devido à força do vento. Maurício Clauzet relata, no site hangon, que também passou pelo perrengue do frio, mas solucionou o problema amarrando sacolas plásticas de mercado em torno das luvas.A lua cheia havia ocorrido poucos dias antes e, naquele 5 de agosto, ainda havia 91% do disco lunar iluminado, mas não conseguia visualizar nada além de vultos a poucos metros à minha frente, sequer a rampa de gelo (que chega a 40 graus de inclinação, conforme página de bergadventures). Desgrudar-se do grupo era uma possibilidade concreta. Tecnicamente já estávamos dentro de uma nevasca e uma instabilidade emocional começava a tomar conta de mim! Pela diminuta fresta existente entre os óculos e a depressão do globo ocular, microscópicos flocos gelados entravam lateralmente empurrados pela força da ventania e dolorosamente atingiam meu olho como a ponta de uma agulha. A neve depositada ali dentro derretia com o calor do corpo e acumulava água na parte inferior do google, me obrigando a retirá-la regularmente com movimento semelhante ao de uma máscara de mergulho, deixando-o constantemente embaçado pela condensação. Tirá-lo estava fora de questão e essa desatenção adicional minava minha concentração! Mais um passo, outro deslize e quase com a cara branca. Enquanto escorregava a cada passada, lembrava do que li em todos os sites pesquisados: o maior risco no Elbrus é a mudança brusca de clima, com tempestades repentinas! Em ewpnet está registrado que a temperatura pode facilmente descer para

20 graus negativos. A página de elbrus.net adverte que, em más condições atmosféricas, o efeito do vento frio pode causar sensação térmica de 50 graus negativos e que, de junho a setembro, em 50% dos dias existe tempo adequado para tentar a escalada. Em elbrus-team há o alerta de que os ventos podem chegar a 110 km/h.O site travelthewholeword surpreende os leitores ao informar que, em dia de cume, o consumo energético pode chegar a inacreditáveis dez mil calorias. Meus planos originais de subir distraindo-me com música e degustando alternadamente chocolate e gel de carbohidrato foram para o

espaço, impedido que estava de tirar as grossas luvas para manipular alimentos com mais precisão, não apenas pelo quase congelamento imediato mas, principalmente, pela eventualidade dela ser surrupiada pela nevasca e perdida ladeira abaixo. A câmera de um amigo congelou, deixando de fotografar; quando do seu retorno, ele verificou que a especificação de funcionamento terminava em 10 graus negativos. A tormenta não dava trégua e a subida ficava mais complexa. A neve acumulava e cada pé, pesando 1,5 kg adicional, afundava totalmente, às vezes até a canela. O esforço era tremendo, bem como a exposição a uma das maiores manifestações da natureza. Não dá para encarar esse duelo! No seu blog, Manoel Morgado, montanhista experiente e detentor do título de segundo brasileiro a escalar os Seven Summits, declara que foi o vento mais forte que enfrentou na vida, deixando os bastões na horizontal perfeita quando pendurados apenas pela alça de punho. Aos poucos os participantes foram desistindo e voltando com o apoio inestimável dos guias auxiliares, até o momento em que, a cerca de 5350 m de altitude, o próprio guia principal decretou o fim da escalada, pois, na sua avaliação, havia risco de avalanche. Alívio para uns e descontentamento para outros. O que era para ser prazeroso começou penoso e estava ficando perigoso! Por coincidência, algumas semanas antes do embarque, assisti a um documentário no canal NetGeo sobre os Cáucasos, onde o locutor destacou que aquela cadeia montanhosa era a região da Rússia mais propensa a avalanches! No seu blog, Lei Wang é clara e direta na sabedoria oriental: atingir o cume é opcional; descer com segurança é obrigatório!

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Pela manhã avançada o grupo já estava recomposto no refeitório, ocupado em lamber as feridas. Os australianos esperavam pelo resultado positivo da nossa incursão para efetuar uma segunda tentativa, uma vez que, entre eles, havia um candidato a Seven Summits, mas a frustração ultrapassou fronteiras. Viktor Yanchenko decidiu pelo fim da expedição dos trekkers da Austrália, pois a previsão do tempo indicava continuidade das condições climáticas adversas. Entre os 19 brasileiros, 15 votaram pelo término da aventura e retorno para a pousada, sendo que Ayesha, de 17 anos, ficou bastante

emocionada, pois ela tem se esforçado para ser a mais jovem brasileira a conquistar os Seven Summits. Os outros quatro compatriotas fariam uma segunda tentativa nessa mesma noite, sob a liderança de Manoel Morgado, entre os quais Gilson, um aspirante a Seven Summits (no dia seguinte, via rádio, soubemos ter sido vitoriosa). O site travelthewholeword cita que Reinhold Messner não conseguiu chegar ao cume na sua primeira tentativa. Boris Tilov comenta em sua entrevista que Tenzing Norgay não conseguiu subir por causa do tempo ruim, sendo sábio o suficiente para voltar atrás. Lisete Florenzano ensina poeticamente em seu blog que saber desistir não é parar no meio do caminho toda vez que encontramos alguma dificuldade, mas sim colocar na balança prós e contras físicos e emocionais e tomar a decisão: se o coração permanecer tranquilo, a escolha foi acertada;

senão, ainda há o que se aprender com o desistir. Saio dessa empreita satisfeito com o conjunto da obra, pois, para um simples mortal tupiniquim, ter uma performance inaugural similar a Messner e Norgay me deixa com uma falsa sensação de equiparação com esses ícones sagrados da história do Montanhismo e aplaca o orgulho ferido do meu ego manhoso (me engana que eu gosto)!Agradeço ao profissionalismo e carisma dos guias Manoel Morgado e Lisete Florenzano, esperando, em um futuro não muito distante, consumir o incrível cardápio de expedições por eles ofertado. Minha gratidão aos guias russos

pelo apoio fundamental por eles prestado, representados por Daniel Timofeev e Igor Novak. Minhas saudades aos maravilhosos companheiros de aventura Agnaldo Gomes, Ayesha Zangaro, Aurélio Macha, Carlos Rustiguel, Cézar Toledo, Cláudia Biasutti, Cristiano Muller, Gilson Francisco, Gisleine Carvalho, Gustavo Huang, Jesus Sulzer, José Resende, Lyss Zangaro, Marieta Arretche, Renato Zangaro e Yayoe Sakai; não poderia haver um grupo melhor entrosado e bem humorado que aquele. Espero revê-los em breve. Grato, uma vez mais, à Anne Peixoto pelo empréstimo do sleeping bag, e aos demais sócios do clube pelo incentivo. A bandeira do CEL continuará sua jornada rumo às montanhas, seja pelas minhas mãos ou pelas de outros associados.Nas palavras do guia, cume é a cereja do bolo e eu me fartei o suficiente com a guloseima

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Marcus Vinícius Carrasqueira montanhista associado à clubes desde 1994 e atual Guia do CEL.

da expedição, através da viagem em terras exóticas, do relacionamento com pessoas interessantes, do enfrentamento de situações desafiadoras, da constituição de novas amizades e da consolidação das antigas. Não ambiciono realizar os Seven Summits, mas desejo passar meus curtos períodos anuais de férias em trekkings exploratórios em ambientes naturais, subindo belas montanhas, vivendo experiências culturais com populações diferentes em países distantes, enfim, enriquecendo minha própria existência humana.Elbrus permanecerá impávido e indiferente à espera daqueles que pensam que o estão conquistando, observando, como testemunha silenciosa, os fatos mundanos dos homens ditos sapiens. Assim o faz desde os primórdios da civilização, quando foi pretensamente submetido ao território dominado pelo Império Alexandrino, depois pelo Império Persa, depois pelo Império Romano, depois pelo Império Bizantino, depois pelo Império Mongol, depois pelo Império Russo, depois tomado pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial, depois... depois...Quanto aos soviéticos, não são latino-tropicais expontâneos como nós, mas também não são tão medonhos e apavorantes como apregoa o folclore internacional. Os mais velhos não costumam sorrir na abordagem inicial, mas não te tratam mal, talvez com um pouco

de distância. A Rússia é um país em busca de uma nova identidade econômica, social e comportamental, em plena mudança. A rigidez do regime comunista ainda permeia a sociedade, traduzida na dificuldade das pessoas em se abrir no primeiro contato (vimos isso na apresentação dos atletas russos nas Olimpíadas, sempre sérios), no semblante duro (quase carrancudo) de autodefesa, na forma ríspida de falar (como se tivessem brigando um com o outro), mas passada essa etapa, a maioria é gente como a gente, que se emociona, fragiliza, brinca, torce, gargalha, sensibiliza e pede afeto, como muitos que encontrei nessa estrada. Nada melhor do que conviver algumas semanas com o povo para formar uma opinião mais centrada. O camarada moscovita do Consulado devia ter acordado com o pé esquerdo naquele dia. Da svidaniya!

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exposição

MONTANHASDO CEL

Os montanhistas são pessoas que por prazer procuram as montanhas, e criam com ela uma relação estreita que sempre os

levará de volta à lugares que acreditam serem mágicos. “Montanhistas” foi o tema escolhido para a segunda edição do

projeto de exposição fotográfica do CEL.

curadoria: Renato Índio do Brasil “Renatão”realização: Gabriela Lima e Karla Paiva

A Força do ArcoHans Rauschmayer

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“As pessoas viajam para

admirar a altura das

montanhas, as imensas ondas

dos mares, o longo percurso

dos rios, o vasto domínio do

oceano, o movimento circular

das estrelas, e no entando elas

passam por si mesmas sem se

admirarem.”

Santo Agostinho

Céu de OuroPaulo Ferreira

Doce Dona MartaGabriela Lima

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Equivalentes Anne Peixoto

Medo de HorizontaisClaudney Neves

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08-08-08Karla Paiva

EscalavradoJudith Vieira

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Miragem - Peru - HuayhuashGustavo Sacilloto Granato

O GuiaIvan Sloboda

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Guilherme Costa

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No Cume do SinoLouis Felippe

Pérolas de IbitipocaHelena Becho

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Jacarépaguá HernandeGuilherme Silva

Combinação PerfeitaClaudio Van

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Programação permanente na Sede do CEL:- Todas as Terças: Treinamento no muro de escalada

- Todas as Quintas: Reunião Social- Terceira semana do mês: Palestra/ Debate no Papo de Montanha

- Última Quinta-feira do mês: Festa dos aniversariantes

acesse:

www.celight.org.br

e fique sabendo das programações do clube e as vantagens de se associar.