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1 PÉROLAS Tatiana Rocha

pérolas

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Estória de uma jovem que trocou os seus sonhos com os de Deus

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  • 1PROLAS

    Tatiana Rocha

  • 2PROLAS

    #

  • 3PROLAS

    Tatiana Rocha

  • 4SUMRIO

  • 5Dedico aos meus pais, Ulisses e Mirtes, que

    com coragem e sabedoria me educaram, eu os amo.

    As minhas irms, Thais, Tain e Taciane, que

    acreditaram que um dia eu poderia chegar at aqui e

    alm mais, agradeo tambm pelas oraes e pelos

    momentos felizes que passamos juntas, momentos

    inesquecveis.

    Ao meu tio, Luiz Pereira, que muito me ajudou

    e incentivou e que um exemplo para mim, sempre

    me mostrando o melhor caminho a seguir.

    A todos da minha famlia que contriburam,

    dando-me foras para caminhar.

    As minhas amigas, Rafaella (ela sempre dizia:

    termina logo esse livro Tati.) e Luzia, que meincentivaram para chegar at aqui e que

    compartilharam sonhos e alegrias comigo.

    A Edson Arthur Staroscky que sempre me

    perguntava: quando vai terminar o livro?E ao meu Deus que me deu inspirao para

    escrever este livro. Ao meu Deus, a minha fora e

    salvao e Pai querido. Amo-te Pai!

  • 6PREFCIO

    Um dos grandes sacrifcios do homem tentar

    realizar seus sonhos. Mas ser que voc teria coragem

    de trocar seus sonhos com Deus? Aqueles sonhos que

    voc passou a vida toda projetando, que pensou em

    cada detalhe, de como seria. Passou muito tempo de sua

    vida tentando descrever nos mnimos detalhes. Mais uma

    vez fao a pergunta: voc teria coragem de trocar seus

    sonhos com Deus? difcil fazer essa troca, pois voc

    est trocando o certo pelo duvidoso. E se os sonhos de

    Deus forem menores que o seu? Esse um risco que a

    nossa protagonista correu. Delicie-se na histria de uma

    mulher que trocou os sonhos com Deus. Quando tudo

    parecia que ia ficar do jeito que ela imaginou, sua vida

    mudou completamente e ela teve que mudar de planos.

    Essa uma histria para ser vivida depois de lida.

    Tatiana Rocha

  • 7

  • 8I - PROLAS

    Sempre procurei fazer tudo certinho, com manda a

    Bblia. Sempre acreditei em Deus como um Pai, eu

    procurava ser a melhor filha do mundo para o meu Pai,

    no decepcion-lo nunca, queria que Deus olhasse do

    cu para mim e ficasse contente por me ter como filha.

    Uma das primeiras coisas que fiz foi trocar os

    meus sonhos pelos Dele. Fi-lo logo aps ler a histria de

    Suzi. Ela tinha um grande amor por seu colar de prolas,

    mesmo que estas fossem falsas. Ela o amava por que

    seu pai lhe dera. Por sua inconstncia em casa, pois

    viajava muito, quando chegava, os dois faziam festa na

    sala da casa. Numa de suas viagens, aps percorrer o

    Oriente Mdio, seu pai chegou em casa com muitas

    saudades.

    Aps brincarem por um tempo, seu pai lhe

    perguntou se ela o amava, ela respondeu que sim. Claro

    que o amava, ento ele lhe pediu que ela desse-lhe seu

    colar de prolas, ao que ela respondeu que no daria,

    pois amava as prolas tambm. Seu pai saiu do quarto e

    deu-lhe um beijo de boa noite. Suzi passou a noite

    pensando no pedido de seu pai, aquela manh tambm.

  • 9Quando chegou a tarde pegou seu colar de prolas e se

    dirigiu ao seu pai e lhe entregou:

    - Tome papai, eu o amo mais que as minhasprolas.

    Seu pai pegou uma maleta que estava perto e

    abrindo-a tirou uma colar de prolas, estendeu para Suzi

    e disse que era um presente.

    -Oba! Prolas de verdade!.A primeira coisa que pensei foi que eu tambm

    poderia trocar com meu Pai as minhas prolas falsas

    pelas prolas dele que eram verdadeiras. E o fiz. S

    tinha um problema, eu iria trocar os meus sonhos,

    aqueles que tanto idealizei, planejei, e que tanto

    esperava alcanar, pelos sonhos de Deus para mim, e eu

    no sabia quais eram. E se fossem piores que os meus?

    Eu queria me formar, voltar para casa, cuidar de minha

    famlia e tentar conquistar o meu grande amor, Lucas,

    um amor que eu nutria por mais ou menos sete anos.

    No eram grandes sonhos que eu jamais pudesse

    realizar, eu s queria uma vida tranqila e nada mais,

    no era pedir muito para Deus.

    Eu estava na metade da minha faculdade, quando

    li a histria acima e decide trocar as minhas bijuterias

  • 10

    pelas jias de Deus. No relutei muito, at senti certa

    paz, era como se eu estivesse fazendo a coisa certa,

    mais depois uma dvida surgiu, e ento me perguntei se

    tivesse feito a melhor escolha. S dali a alguns anos teria

    a resposta de todas as perguntas, mas sinceramente eu

    sabia que Deus no me daria algo ruim, pois Ele afirma

    na sua Palavra que se pedirmos uma ma para Ele no

    nos daria uma serpente. Ento iria honrar a minha f. Eu

    tinha que confiar em Deus mais do que tudo.

    A cada dia que passava eu contava os dias para

    que eu pudesse voltar para casa. Muitas vezes me

    peguei pensando em como seria se eu no tivesse feito a

    troca e ficava me perguntando como seriam os sonhos

    que Deus tinha guardado para mim. E se Deus quisesse

    que eu fosse morar em outro lugar? E se eu tivesse que

    renunciar o grande amor da minha vida? Era um risco

    que eu tinha que correr. Alm de tudo se Ele me tirasse

    tudo isso, Ele me daria algo melhor, tenho certeza. Mas

    nem sempre eu pensava assim, s vezes me

    desesperava e na angustia, se pudesse voltar atrs no

    faria tudo de novo. Mas depois me ajoelhava e pedia

    perdo a Deus pelas minhas palavras. A luta em mim era

    grande, e ainda tinha o tempo que no passava, isso me

  • 11

    deixava mais irritada. Eu s queria saber os planos Dele

    para mim, isso me deixaria mais calma, mais Ele ficava

    calado. Ele queria que eu confiasse Nele para tudo,

    assim eu estaria usando a f.

    Ao terminar a faculdade, fui morar com meus pais

    em outro estado. A felicidade em mim era tamanha, era

    visvel em meus olhos e boca.

    Tinha sado de casa para tentar uma faculdade em

    outro lugar, pois onde morvamos era mais difcil. Passei

    algum tempo fora, uns quatro anos, mais no foi tempo

    suficiente para apagar o amor que sentia pelo Lucas. Dia

    e noite eu me imaginava chegando em casa e ele l para

    me d um abrao. Ele no era o rapaz mais bonito da

    igreja, mais era o que mais me chamava ateno. Seu

    jeito era extraordinrio de lidar com as pessoas. Todos

    os dias eu orava para que Deus o pudesse livrar das

    namoradas, eu o queria muito. De todas as maneiras eu

    tentava chamar sua ateno, procurava ser a melhor em

    tudo para que ele pudesse se orgulhar de mim e me ver

    como mulher e no como uma irm da igreja, como sua

    amiga. Fui em busca de uma vida melhor para ns dois,

    j que ele no era muito dado aos estudos.

  • 12

    Eu o conheci depois que ele se converteu. Jesus

    operou muito em sua vida, Jesus o transformou da gua

    para o vinho, era impressionante ouvir sua histria, sua

    vida, mais impressionante ainda era ver como ele estava

    agora.

    Quando fui morar em outro lugar, ns sempre

    conversvamos a respeito de tudo, ramos os melhores

    amigos, mais eu o amava de um modo diferente, no o

    queria t-lo como amigo, mas como companheiro, mas

    nunca tive coragem de falar. Preferia que ele sempre

    fosse meu amigo do que perd-lo e nem assim ter ele.

    Depois que fui, perdi o contato com ele. Minha irm

    sempre me dizia como ele estava, e numa dessas

    noticias ela me diz que ele tinha namorada, ou melhor,

    noiva. O cu caiu sobre a minha cabea. A culpa de

    Deus, que no livrou ele, eu sempre dizia. O maior susto

    foi quando descobri quem era. Tudo bem se fosse com

    qualquer menina da igreja, mas aquela no. Seu nome

    era Vilma. O que mais me deixou com raiva que ela

    no tinha testemunho de crente. Como ele poderia ter

    olhado para ela. Como Deus poderia ter dado o trofu

    para ela, se foi eu que tinha lutado por ele durante dois

    anos, para que ele pudesse se firma r na palavra e ser

  • 13

    uma beno. Eu duvidava da justia de Deus, se Ele

    justo porque deixou que eles dois namorassem? Tudo

    bem eu sou crente, vou me comportar como tal. Ento

    comecei a orar para que Deus abenoasse aquele

    relacionamento, mesmo que o meu corao no

    desejasse isso era o que minha boca pedia.

    Certa vez o telefone toca, era pra mim. Quase

    pulo de alegria quando minha irm me fala que o noivado

    do Lucas tinha acabado. Tinha uns dois anos que eles

    tinham iniciado o relacionamento, mas ela, no se sabe

    como, se desviou e terminou tudo com ele. Tinha toda

    certeza, ou era Deus com providencia para mim, ou era

    Deus com livramento para ele. Nesse perodo de tempo

    em que eles estavam juntos, iniciei um namoro com um

    rapaz da localidade onde eu estava morando, no

    demorou um ms. Eu no o amava e ficar com ele cada

    dia era mais difcil, tinha plena certeza que no era da

    vontade de Deus.

    Foi depois de tudo isso que troquei os meus

    sonhos com Deus. No foi nada fcil para mim. Era como

    ter nadado o oceano inteiro e morrido na praia. Mas eu

    no podia prever nada sobre o futuro, tinha que deixar

  • 14

    tudo nas mos de quem onisciente, Ele saberia qual o

    melhor caminho a seguir.

    difcil tomar uma deciso dessas, pois implica

    que eu deveria renunciar muitos planos, muito sonhos.

    Era preciso ter muita coragem para fazer isso. Eu tinha

    que fazer isso, pois uma das coisas que sempre quis foi

    estar no centro da vontade de meu pai. O que mais me

    preocupava era o que estava por vir. Se Deus no

    quisesse que eu casasse com o grande amor da minha

    vida? Essa era pra mim uma pergunta crucial, era a que

    mais me maltratava por dentro. Eu no tinha olhos para

    outros rapazes, no queria nem um deles. Se Deus

    dissesse para eu esperar por Lucas que s daqui a trinta

    anos ele me daria a bno que eu tanto esperava,

    esperaria sem titubear. Mas se Ele dissesse que no

    nunca, como eu ficaria? Eu j tinha planejado que se eu

    um dia casasse com Lucas eu seria a melhor esposa do

    mundo. At me imaginava lavando suas roupas, fazendo

    jantar para quando ele chegasse. Eu o amava e queria

    viver o resto de minha vida com ele.

  • 15

    II CHEGANDO EM CASAPassou muito tempo antes de eu v-lo depois que

    Vilma tinha terminado tudo com ele. Quando cheguei em

    casa, foi aquela emoo. Tinha chegado com um diploma

    na mo. Isto era motivo de orgulho para os meus pais.

    Todos os meus planos at ali estavam se cumprindo, e

    s vezes eu at me perguntava se Deus tinha ouvido

    quando eu fiz a troca, pois um de meus sonhos era ir

    para casa depois que terminasse a faculdade de

    licenciatura em qumica.

    Aparentemente no via Deus agindo ou mesmo

    modificando meus sonhos. Quando dei minhas prolas a

    Ele, elas eram simples. Eu s queria me formar, ir para

    casa de meus pais e casar com Lucas. Formada j

    estava, e tambm j tinha ido para casa de meus pais

    ento s faltava o ltimo sonho.

    O Lucas foi logo me ver. Nosso encontro foi

    maravilhoso. Eu o abracei com tanta fora que parecia

    que no o via h sculos. Conversamos muito sobre

    tudo, a qualquer momento eu esperava que ele me

    pedisse em namoro, mas depois de muito tempo

    conversando, isso no aconteceu. Eu no entendia o

    porqu que ele no se declarava, pois era visvel nos

  • 16

    olhos dele que me amava. Porque que ele no tem

    coragem de se declarar? Eu perguntava muito a Deus.

    Senhor abre a boca dele e faz com que ele fale, essaera a minha orao. Resolvi esperar pela vontade do

    Lucas para me pedir em namoro. Eu no queria faz-lo

    por que aprendi que quem o faz o homem e no a

    mulher. At porque ele sabia que eu o amava e que

    queria passar o resto da vida ao seu lado. Talvez ele

    tivesse medo. As duas ltimas namoradas dele o haviam

    trado e se desviado. Mas eu tinha certeza que isso no

    iria acontecer comigo, pois eu amava a Deus em primeiro

    lugar de tudo na minha vida. s vezes ele me dizia que

    eu no o merecia por eu ser muito esforada nos estudos

    e ele no. Ele no tinha completado os estudos e sempre

    trabalhava com servio braal, enquanto que eu

    prossegui os estudos. Ele sempre dizia que eu mereceria

    uma vida de melhor qualidade. Qualidade para ele era

    conforto, para mim era est ao lado dele e adorar a

    Deus.

    Logo que cheguei consegui um emprego numa

    escola perto de casa, iria lecionar para o ensino

    fundamental. No passou muito tempo consegui outro

    emprego para lecionar para o ensino mdio. Como minha

  • 17

    formao era licenciada em qumica e como havia

    poucos professores de qumica no mercado, no tive

    muitos problemas com emprego. At cheguei a recusar

    servio. Ganhava o suficiente para ajudar em casa e

    guardar um dinheiro na poupana. Esta poupana fiz

    com o pretexto de comprar uma casa pra mim (mas na

    verdade era pra mim e para o Lucas, quando este me

    pedisse em casamento). No muito tempo depois, passei

    num concurso pblico para professores em minha cidade

    e numa cidade vizinha. Ento tive que deixar um dos

    empregos, ficando ento com trs horrios. Trabalhava

    pela manh em minha cidade, pelo municpio, de tarde

    trabalhava numa escola particular e a noite me deslocava

    para outro municpio vizinho. Minha vida profissional era

    muito agitada.

    Com a poupana economizei um bom dinheiro

    durante o primeiro ano que trabalhei. Sonhava a cada dia

    com o futuro e ficava feliz por ver at aquele momento

    que Deus no havia mudado meus planos. At aquele

    momento.

    Eu ia chegando de mais um dia de trabalho

    exausta, ao chegar a minha rua dei de cara com o Lucas

    de mos dadas com a Amanda. Naquele momento meu

  • 18

    teto desabou. Como pode ele namorar com a Amanda se

    ele nunca me comentou nada, pois ramos amigos e

    sempre conversvamos sobre tudo? Meu corao

    comeou a sangrar, mas meus olhos no derramaram

    uma lgrima, tinha de ser forte. No fui questionar a

    Deus, entrei em casa e fui tomar uma ducha. Tinha que

    voltar logo para o outro trabalho. Naquela noite eu no

    consegui dar uma boa aula. No saia do pensamento

    aquela imagem. Voc podem at pensar que estou

    fazendo tempestade num copo de gua. Mas o Lucas

    no abraaria ningum, alm de mim, se no fosse sua

    namorada. A culpa minha, pensava eu. Eu me

    preocupo tanto com a famlia querendo dar o melhor pra

    eles, que no d tempo para ficar mais com o meu

    amado. Eu deveria dar mais ateno a ele e quem sabe

    assim poderia conquist-lo. Mas agora tarde, tenho que

    esperar pela vontade de Deus, e como eu queria que a

    vontade Deus fosse a minha.

    Resolvi no desistir e continuar poupando

    dinheiro, a minha me sempre me perguntava pra que eu

    poupar tanto se o dinheiro que tinha j dava pra comear

    a fazer minha casa. Eu sempre respondia que queria

    fazer uma casa bem grande. Tinha esperana que um

  • 19

    dia ele terminasse tudo com ela e viesse ficar comigo.

    Mas no era isso que Deus queria para mim e eu teria

    que aceitar. S saberia disso mais tarde.

  • 20

    III O PESADELO

    Havia passado um ano desde que comearam a

    namorar e j estavam noivos. Eles estavam apaixonados

    e era visvel nos olhos deles. Tinham marcado o

    casamento para o final daquele ano, mais precisamente

    no dia vinte e trs de dezembro de mil novecentos e

    noventa e nove.

    Eu havia trabalhado como uma doida durante dois

    anos para comprar uma casa de acordo com o nosso

    gosto e agora depois de tanto esperar vi tudo se

    desmoronando, at pude ouvir a zoada do vidro no cho,

    assim foi meu sonho de casar com Lucas.

    Ele mandou um convite para mim e at me

    convidou para ser testemunha de seu casamento, mas

    eu recusei o convite. Disse que tinha que ir para uma

    confraternizao da escola onde trabalhava e no podia

    faltar porque tinha que apresentar um relatrio do ano

    todo para a coordenao. Era mentira. Eu tinha

    reservado uma noite num hotel perto da praia e ia passar

    a noite ali acompanhada da solido e das lgrimas.

    Todos estranharam o porqu de eu no ter ido

    festa, afinal ele era meu melhor amigo. O que ningum

  • 21

    sabia era que eu amava o Lucas, pois havia escondido

    de todos, com exceo de Diego, que era meu melhor

    amigo e do Lucas tambm. Certo que todos

    desconfiavam, mas eu nunca assumia, sempre

    desconversava.

    Tinha esperana que no dia seguinte, eu chegaria

    em casa e algum viesse me contar que ele no havia

    casado, que tinha dado algo errado, que a noiva tinha o

    abandonado na porta do altar. Eu at imaginava que ele

    viria para que eu pudesse o consolar, ai ento ele cairia

    na real e resolveria me amar.

    Passei a noite chorando. A toda hora vinha em

    meu pensamento a cena de um casamento, e isso me

    torturava ainda mais. Doa-me muito pensar que passei a

    vida toda esperando que essa hora fosse minha, e no o

    era. Falava sempre para Deus como queria meu

    casamento com o Lucas. Entre pensamentos e lgrimas,

    adormeci.

    Quando acordei, senti uma raiva to grande de

    tudo o que tinha acontecido. As minhas esperanas no

    tinham acabado ainda, ento resolvi telefonar para o

    Diego, perguntando noticias do Lucas. Como eu queria

    que ele no tivesse casado que ele tivesse desistido, eu

  • 22

    teria sido a melhor esposa para ele, isso eu tenho

    certeza.

    Quando Diego atendeu o celular, ele perguntou

    logo onde eu estava e se estava bem. Disse-lhe onde

    estava e perguntei se ele podia e me ver, queria muito

    conversar com algum. Ele havia acompanhado todo o

    meu sofrimento, ele iria me entender. Diego no demorou

    muito para chegar. Quando ele entrou na sala do quarto

    do hotel eu corri para lhe dar um abrao, mas no era um

    abrao de recepo, era um abrao de carinho que eu

    precisava. Logo perguntei como tinha sido o casamento

    do Lucas, ele me respondeu que havia corrido tudo muito

    bem, e que Lucas havia sentido minha falta. Ento ele

    comeou a me aconselhar:

    -Voc j deveria ter esquecido o Lucas. Voc

    sempre soube que ele te amava de um modo diferente.

    - Ele nunca me amou, essa a verdade, se me

    amasse estaria comigo, mas no est, pelo contrrio est

    casado com outra. Voc acha que para mim fcil ter

    esperado por algum por sete anos e no final das contas

    ele se casar com outra, voc acha isso justo? Onde est

    a justia de Deus nesse caso?

  • 23

    -Talita voc no pode pensar assim. Voc tem que

    aceitar a vontade de Deus em tua vida. Talita, voc

    sempre fala que Deus fiel, e Ele o est sendo agora

    para contigo.

    -Voc vem me falar de fidelidade? Onde poso ver

    a fidelidade de Deus? No, no me pea para ver algo

    que acabei de experimentar que no existe.

    -Voc uma mulher forte, conseguiu vencer

    muitas barreiras na tua vida, vai conseguir vencer mais

    esta.

    -Voc no sabe o que est falando, voc nem ao

    menos sabe o que estou sentido agora. Voc no sabe o

    que dedicar sete anos da tua vida a algum esperando

    uma migalha de amor e no final no receber uma

    fagulha. Voc sabe quantos rapazes eu deixei de

    namorar por causa dele? Sabe quantas vezes me

    esforcei para ser forte, para que ele pudesse reparar em

    mim e me ver como uma mulher forte e determinada? Eu

    perdi sete anos, no foram sete meses nem foram sete

    dias. Sete anos que eu o esperava. Sabe quantas vezes

    ele me deu esperanas quando me olhava de um jeito

    diferente, quando me convidava para sairmos?

  • 24

    -Talita, sei que no fcil para ti. Vou te contar

    algo que guardei por muito tempo a pedido de Lucas,

    mais, por favor, nunca diga para ele que um dia te contei

    isso.

    -Ento fale logo!

    -O Lucas te amava tanto quanto tu o amava, mais

    um dia quando a gente estava conversando , toquei no

    assunto, e ele me disse que queria muito casar contigo

    pois sabia que voc o amava muito, e ele tambm, mas

    no o poderia fazer porque no poderia dar a vida com

    que voc estava acostumada. Ele sabia que seus pais

    lhe mimavam muito. Ele at queira te pedir em namoro

    mais voc teve que ir embora para fazer faculdade em

    outro lugar, ento ele perdeu todas as esperanas. Voc

    nasceu para voar alto, dizia ele, e ele nunca poderia te

    prender ou cortar as tuas asas. Mas ele no tem o

    mesmo estudo que voc, no tem nem diploma de

    segundo grau. Ele disse que voc merecia vida de

    rainha, pois era o que voc era.

    -Isso no justifica. Como ele pode abdicar do

    nosso amor por causa de um diploma? Ele sabe que eu

    enfrentaria tudo para ficar ao lado dele. Eu mesma j

    havia lhe dito que meu maior conforto era est ao seu

  • 25

    lado. Eu no quero um amor heri, daqueles que

    abdicam-se para conforto do outro, eu quero o amor

    realista, com todos os defeitos e qualidades, com todas

    as lgrimas e sorrisos...

    -Sabe, no era para eu ter te contado tudo isso,

    mas vou te dar um conselho. Sei que voc tem uma

    poupana, para comprar uma casa para voc e ele,

    ento pegue o dinheiro e v para outro lugar, um lugar

    que voc gostaria de visitar, passe um tempo l e s

    depois que tiver esquecido o Lucas que voc retorna.

    -No sei se essa a melhor escolha, queria ficar,

    amo minha famlia, j me basta ter perdido o Lucas, e

    agora voc quer que eu me afaste da minha famlia!

    -Voc nunca o esquecer se no se afastar. Tente

    voc no perder nada com isso.

    Durante a conversa com o Diego, me lembrei que

    desde a stima srie, quando vi atravs de livros umas

    gravuras do Canad, que sempre tive vontade de

    conhecer esse pas. Ento resolvi que iria passar uns

    dias nesse pas. Essa conversa com Diego fez me

    lembrar desse meu antigo sonho, que eu havia

    renunciado para ficar perto dele. A partir desse momento

    eu percebi o meu erro, fazer Lucas como o centro da

  • 26

    minha vida. Tanto que eu lia que Deus abominava

    idolatria e eu nem percebi o quanto o idolatrava, e isso

    era arriscado para mim.

    No outro dia, fui embaixada canadense, mas na

    minha cidade no tinha, tive que me deslocar capital do

    pas, para conseguir um visto. Como o Canad tem

    densidade demogrfica pequena e tem pouca mo de

    obra, geralmente em algumas pocas eles liberam a

    entrada de imigrantes, minha sorte que estava

    justamente nessa poca. Ento ficou tudo mais fcil.

    Comprei as passagens para no muito tempo depois dali.

    Antes fui a casa avisar que estava indo conhecer o

    Canad. Claro que falei que era como turista, se falasse

    que fosse para ficar por uns tempos, minha me no

    deixaria.

    Antes de subir no avio, olhei para trs e refleti se

    era realmente isso que eu queria para mim. Olhei para

    frente e um mundo se abriu. Sei que no seria fcil no

    comeo me adaptar a um pas gelado, conhecer novas

    pessoas, iniciar do zero. Mais eu tinha que faz-lo.

    Foram doze horas de viagem at Nova York, paramos,

    pois fazia parte da escala. Eram mais duas horas de

    viagem de Nova York at Toronto. Aproveitei para

  • 27

    comprar uns agasalhos para me proteger do frio glacial

    de Toronto.

  • 28

    IV BARREIRAS TRANPOSTAS

    Ao chegar cidade, fiquei maravilhada com as

    paisagens que vi, eram mais bonitas que no livro de

    stima srie. A primeira coisa que fiz foi procurar um

    templo da Assemblia de Deus, e logo eu encontrei. Era

    uma igreja bonita e grande, diferente das que vi no Brasil.

    Ao entrar, encontrei uma senhora limpando o

    templo com muito zelo e amor. Sua dedicao ao passar

    o pano em cada banco me levou a meditar no zelo de

    Deus por nossas vidas.

    Resolvi perguntar se ela queria ajuda e ela afirmou

    que sim. Durante certo perodo fiquei ali tentando limpar

    os bancos e a minha mente. Percebi que ela me olhava

    com certo espanto. Talvez estava pensando que eu fosse

    algum tipo de doida, ou maluca. Num pas to agitado

    daquele jeito encontrar algum que se dispusesse a fazer

    servio pesado....

    Aproveitei para fazer amizade com ela. Era uma

    mulher de sorriso fcil, com cabelo prateados, mas uma

    postura nobre. Foi quando descobri que ela era a mulher

    do pastor local.

  • 29

    Ela me fez vrias perguntas, de onde eu era, o

    que fazia, porque estava ali, o que fazia quando estava

    no Brasil, onde estava hospedada e muitas outras

    perguntas. Sinceramente achei-a muito legal, apesar de

    suas inmeras perguntas e questionamentos, parecia

    que queria me testar. Aceitei o convite para assistir o

    culto noite. Cumpri minha palavra.

    O culto l diferente do que estava acostumada a

    ver, apesar de estar na mesma denominao, era mais

    agitado, bem diferente, porm no menos espiritual.

    interessante ver que cada povo tem sua cultura de

    adorao, porm o que me deixa mais feliz que eu ouvi

    a voz de Deus. Sinceramente, eu fiquei maravilhada.

    Assim que terminou o culto, a senhora Hannah me

    apresentou ao seu esposo. Ele era um senhor bem alto e

    forte, tinha a voz grossa e um grande censo de humor.

    Ao me conhecer me deu logo um abrao e falou voc a minha mais nova filha do corao, fiquei espantadacom tamanho afeto. Foi a senhora Hannah que me levou

    para conhecer a cidade e tambm me indicou para um

    emprego na escola para estrangeiros. L eu seria

    professora de qumica para o ensino mdio. Mas antes

    tive de fazer trs testes.

  • 30

    O primeiro foi um exame de validao de diploma,

    passei. O segundo foi uma prova para selecionar os

    melhores candidatos, passei. E o terceiro, foi dar uma

    aula para os coordenadores da escola, o assunto foi

    sorteado na hora, eu fiquei com a parte de tabela

    peridica, simplesmente dei um show, pois era um

    assunto que gostava e dominava muito bem. Passei em

    primeiro lugar nas trs fases e assinei contrato com a

    provncia Toronto. Foi a partir da que resolvi ligar para

    minha me e lhe contar que ficaria no Canad. Minha

    me j desconfiava que eu ficasse, era s questo de

    tempo.

    Aluguei um apartamento pequeno, com trs

    cmodos e um banheiro. Era muito pequeno mesmo, era

    uma sala que era repartida com a cozinha e o quarto.

    Inicialmente comprei uma cama, fogo, cadeiras, mesas,

    utenslios para cozinha, uma pequena geladeira e um

    microondas. Como as aulas ainda no haviam

    comeado, eu procurava passear muito, para refletir na

    vida. s vezes dona Hannah me convidava para passar

    um dia em sua casa. Eu sempre ia e aproveitava para

    limpar a igreja com ela e conversar muito, assim aprendi

  • 31

    que inteligncia diferente de sabedoria, algo que me

    faltava.

    Muitas vezes me sentia sozinha desamparada,

    sempre dava vontade de voltar para o Brasil, de ligar

    para saber se o casamento do Lucas estava bem, mas

    eu no podia desistir, j havia lutado muito e o mais difcil

    eu j havia conseguido, era um emprego.

    Estava tendo inscrio para mestrado em uma

    universidade prximo escola, fui l e me inscrevi, a

    partir de ento comecei a me preparar para fazer o

    exame de seleo, que seria no muito longe daquela

    data. Quando fui fazer a prova estava muito nervosa,

    mas consegui ter um bom aproveitamento, e como no

    Brasil j havia feito duas especializaes, tinha grandes

    chances de entrar, apesar de nossas ps-graduaes

    no valerem muito por aqui.

    Passava muito tempo na casa de meu pastor. No

    sou muito observadora, mas no pude deixar de notar

    um certo porta-retrato na mesinha de perto do sof. Era

    um porta-retrato de cristal com bordas douradas e umas

    rosas na lateral, era muito bonito, assim como a jovem

    que estava na foto. Ela no teria mais do que 16 anos.

    Aquele rosto com certeza eu j havia visto, porm, com

  • 32

    cabelos prateados. Eu no queria ser indiscreta, mas eu

    j tinha alguma intimidade com a famlia, o que me

    permitia ser um pouco curiosa e indiscreta. Ento falei:

    - Sua foto aos 15 anos est linda senhora Hannah,

    a senhora mudou pouco, continua com o mesmo sorriso

    lindo.

    Foi quando vi seu rosto iluminado mudar. Naquela

    foto no era a senhora Hannah, mas sua filha...

    V DOR DE ME

  • 33

    Aps meu casamento passei dois anos sempensar em filhos, queria s curtir o meu casamento.

    Depois desse tempo resolvemos que eu iria engravidar.

    Mas passou-se trs anos e eu nunca conseguia

    engravidar. Fizemos muitas campanhas de orao e

    somente depois de dois anos e que tive meus primeiros

    filhos. Falo assim porque Deus me deu um casal de

    gmeos. Eles eram os bebs mais lindos que eu j tinha

    visto. Eram fortes e saudveis.

    Ela era muito parecida com voc, tinha o seu

    sorriso, o jeito de falar, de sorrir, de olhar para as

    pessoas, de brincar, ela tinha uma personalidade forte,

    assim como voc. Nossa vida era muito boa, eu amava

    meus filhos e meu marido. No faltava nada para minha

    felicidade ser completa.

    Quando eles completaram quinze anos, houve

    uma viagem na igreja, era um retiro espiritual. Eu no

    queria que eles fossem mais insistiram tanto para ir que

    acabei deixando. Quando estavam voltando da viagem o

    nibus em que estavam capotou, dos dois, s o Allam

    sobreviveu, a Alice Jesus levou. Minha vida desmoronou.

  • 34

    Desde ento no queria mais saber de nada, s

    queria esperar o dia em que iria encontrar minha amada

    filha. Isso j faz muito tempo, onze anos mais

    precisamente. Ao v-la sendo enterrada era como se

    estivessem enterrando um pedao grande de mim. Eu

    afirmo com todo o meu amor que eu teria dado minha

    vida para salv-la.

    Durante esses quatorze anos eu no sai de casa,

    o quarto dela ainda est do jeito que ela deixou quando

    foi viajar. Meu esposo e meu filho sofreram muito com

    tudo isso que estava acontecendo e principalmente com

    a minha dor. Foi mais dolorido ainda quando o Jnior

    teve que ir para a faculdade, ento ficamos somente eu e

    meu esposo. Foi a partir da que eu me fechei mais

    ainda.

    No faz muito tempo e a pessoa que limpava a

    igreja teve que ir embora ento eu pedi ao Allam para

    assumir o lugar dela, queria sair daquele estado, tinha de

    fazer algo para o meu Deus. Desde ento tenho esse

    prazer de limpar a casa do meu Deus.

    Sabe, Talita, acho que Deus me colocou onde eu

    estou para te conhecer. Voc me faz lembrar da minha

    filha, me trouxe a alegria de ser me de uma garota

  • 35

    novamente, no sei o porqu que voc esta aqui, mais

    tenho certeza que foi proviso de Deus.Nossa que histria. Durante o tempo que ela me

    contava, correram umas lgrimas quentes em meu rosto.

    Eu nunca imaginaria que ela tivesse tanto carinho assim

    por mim. O olhar dela denunciava todo o amor maternal.

    Do lado da Alice na foto tinha um rapaz que deveria ser o

    Allam. Ele parecia alto, tinha os olhos azuis e um sorriso

    muito bonito. Logo preconceituei-o. Seu pai era pastor,

    sua me lhe mimava muito, fazia faculdade, e era muito

    bonito, ento s poderia ser um tremendo chato. No

    gostei dele s de pensar no que ele poderia ser.

    Depois ela me contou que ele tinha feito faculdade

    de medicina, na especialidade de pediatria. Isso s

    reforou minha tese. Hoje ele mdico em Montreal,

    mas s vezes vem visitar os pais.

    A partir daquele dia em diante eu passei a cham-

    la de me, isso fez com ela abrisse um enorme sorriso.

    Nosso relacionamento passou de amigas para me e

    filha.

  • 36

    VI - BAJULAO

    O resultado do exame saiu. Consegui passar e

    agora ia fazer mestrado. Trabalharia de manh e fazia

    mestrado de tarde. O curso tem a durao de dois anos.

    Minhas mes fizeram uma festa ao saberem da minha

    vitria. A minha nova me principalmente, pois ela

    sempre sonhou que Alice iria dar esse orgulho para ela,

    eu no era a Alice mais estava ocupando um lugar que

    era dela.

    Comecei a lecionar e a estudar. Como no tinha

    tempo de fazer minha comida, minha me resolveu que

    eu ia comer na casa dela todos os dias. Comecei a

    freqentar constantemente a casa deles, j me sentia em

    casa, na verdade eu estava em um lar. No raras vezes

    dormir l, pois minha nova me tinha medo que eu fosse

    muito tarde para casa. Ela tambm no concordava que

    eu dormisse sozinha no meu apartamento.

    s vezes no gostava de tanta bajulao, mas era

    bom ter algum para se preocupar conosco. Ela

    realmente cuidava de mim como uma filha. s vezes me

    lembrava do Lucas e uma tristeza invadia meu corao.

  • 37

    Estava ali para esquec-lo e ainda no o havia

    conseguido.

    Os dias foram passando. A imagem de Lucas ia se

    apagando da minha memria igual quando voc pega

    uma roupa escura e coloca no sol, depois de um tempo

    essa roupa vai clareando. Assim era a imagem de Lucas

    em minha mente, estava se rarefazendo. Na verdade, ele

    ainda estava escondido em mim, pois todas as vezes que

    eu olhava o nome Lucas em qualquer lugar meu corao

    acelerava um pouco mais. H alguns dias eu havia

    percebido que essa acelerao estava diminuindo, mas

    ainda assim havia uma palpitao em meu peito.

    Apesar de tudo eu estava feliz e serena. Depois

    de tudo o que eu passei eu havia decidido que eu seria

    feliz. Mesmo que tudo desse ou d errado eu optei pela

    felicidade. Eu no deixaria que qualquer coisa apagasse

    de meus olhos o brilho de Jesus. Essa foi minha deciso

    para toda a vida.

    Eu acabei descobrindo que a felicidade somente

    dependia de mim e no do Lucas. Minha lei agora

    essa: est decretado para todo sempre que Talita ser

    feliz, independentemente de qualquer circunstncia

    adversa. Tambm proibido tirar o sorriso do rosto,

  • 38

    mesmo que as lgrimas teimem em rolar. Chorar

    somente permitido se for de alegria. No brega cantar

    na chuva. No permitido fechar as janelas do carro

    para no desfazer o penteado, mais valioso o vento no

    rosto. Nada de passar fome para emagrecer, pipoca

    contm fibras.

    Claro que a minha legislao no to coerente

    assim, mas o que vale a inteno de ser feliz. Todos

    deveriam ter sua legislao da felicidade.

  • 39

    VII PISCINA DE PLSTICO

    Allam Jnior chegaria em breve. Graas a Deus

    que ele viria justamente na poca das provas, isso me

    daria a desculpa de no aparecer muito na casa da me

    Hannah.

    Me me ligou perguntando se eu queria ir at o

    aeroporto com ela e o pastor para a chegada do Allam,

    disse-lhe que no podia ir, pois estava com um monte de

    provas para corrigir e colocar notas no dirio escolar. Ele

    iria chegar na manh de sbado, mas prometi que depois

    passaria l para conhec-lo.

    Por volta do meio dia a campainha toca, corri para

    pegar o dinheiro da pizza e receb-la. Ao abrir a porta

    tive uma grande surpresa ao ver me e um homem de

    dois metros de altura na minha porta. Quando ela viu o

    dinheiro na minha mo foi logo reclamando:

    -Mais voc no tem jeito! J tinha encomendado

    uma pizza, no ! Como eu sabia que voc no faria

    comida mais iria encomendar pizza ou lasanha, vim te

    convidar para comer comida saudvel.

    Ela foi entrando no apartamento e contemplando

    a baguna que estava. Papeis empilhados no cho e

  • 40

    sobre a mesa. Ela no perdeu tempo e comeou a ajeitar

    toda aquela baguna organizada. Enquanto ela arrumava

    as coisas eu pedia para ela no se preocupar, pois tinha

    separado as provas que tinha corrigido das que no

    tinha. Ela se levantou e me apresentou o Allam.

    -Ah! Ento voc que minha nova irm?

    Realmente voc tem o sorriso parecido com o de Alice.

    Ele se props a me ajudar a corrigir as provas,

    disse-me que se no fosse mdico seria professor. Claro

    que eu recusei. Ele insistiu tanto que resolvi dar uma

    chance para ele. J de banho tomado fui para casa de

    Me, j que vieram me buscar para ir para l. Queriam

    que eu conhecesse bem o Allam Jnior. O prprio me

    convidou para tomar banho de piscina. Piscina? Onde?

    Na casa do pastor no tem piscina. Ser que alm de

    chato ele seria esquizofrnico?

    Quando cheguei l o pastor estava fazendo

    churrasco (no confundam nosso churrasco com o deles.

    Eles usam hambrguer, ns usamos carne). A grande

    piscina estava no quintal. Mil litros de gua em um

    reservatrio de plstico. O pastor tinha um bom senso de

    humor.

  • 41

    Allam chegou-se at mim e perguntou se eu

    queria banhar na piscina, respondi que no.

    Sinceramente no estava querendo fazer amizade com

    ele. Ele foi e sentou-se na piscina, o pastor foi logo atrs.

    Aquela cena eu no podia esquecer. Quanta diferena...

    ainda bem que no usavam sunga, mas o short que

    usavam era bem engraado, com seus coqueiros e sis e

    ambos tinham um.

    Mame insistiu para que eu pudesse entrar

    tambm. Foi quando percebi que o Allam estava atrs de

    mim, saiu me puxando pelos braos e derrubou na

    grande e profunda piscina de plstico. No vou mentirque me divertir um pouco, mas no dei o brao a torcer.

    Eu fazia o papel de irm mais nova, procurava ser

    chata, arrogante, ser uma mala sem alas. Mame

    perguntava o porqu de eu tratar o Allam assim. Tratoele como trataria qualquer um, sempre eu respondia. Elepassou uma semana em Toronto. Depois disso ele

    sempre ligava para saber como estavam as coisas.

    Nesse perodo eu conheci o David. Ele era vivo e

    tinha um filho de seis anos de idade. David casou-se

    muito cedo para os padres canadenses. Logo no

    primeiro ano de casamento sua esposa engravidou, mas

  • 42

    veio a bito no momento do parto. A criana sobreviveu.

    David o chamou de Benjamim, mas seu apelido era Ben.

    O pequeno Ben.

  • 43

    VIII - BENJAMIM

    Conheci Ben na escola dominical, eu era

    professora das crianas, e Ben era meu aluno. Ele era

    calado, tmido e parecia muito triste. Pedi-lhe para falar

    com seu pai. Foi assim que conheci o David. Aps sua

    esposa ter falecido ele no se casou mais. Os dois

    pareciam muito carentes de afeto.

    O pai de Ben me convidou para jantarmos. Aceitei.

    Foi uma noite maravilhosa, nunca havia me divertido

    tanto. Foi nessa noite que ele me pediu em namoro. No

    respondi de imediato, mais prometi que pensaria e oraria.

    David era um homem fabuloso, me fazia rir a bea e era

    muito romntico. Como no o conhecia muito bem fui

    procurar informaes para que as pudessem me dar com

    maior preciso, minha me. Ela me contou toda a histria

    de David e me deu timas referncias sobre ele, resolvi

    ento dar uma chance para ele conquistar meu corao.

    David ficou muito feliz com a minha resposta. Mas

    o meu irmozinho no ficou muito satisfeito. Alegava-me

    que David tinha outros planos diferentes do meu.

    Perguntava como, ele sempre me respondeu que era

  • 44

    Ben, ele no quer uma esposa, ele quer uma me parao seu filho.

    Sempre gostei muito de crianas, e Ben era

    especial. Ele precisava de muito carinho materno, e eu

    procurei dar a ele todo o meu amor de me. Quando no

    estava trabalhando e nem estudando, ficava cuidando do

    Ben. Fazia tudo para agradar-lhe e aos poucos fui

    conquistando sua confiana, depois de algum tempo ele

    perguntou-me se eu queria ser sua me. A este apelo

    respondi que sim.

    David trabalhava como engenheiro e muita vez

    tinha que viajar, durante suas viagens eu ficava com Ben.

    Adorava acordar de manh e fazer o caf dele, preparar

    seu lanche e levar-lhe para a escola. Quando terminava

    de dar aula ia buscar-lhe, o levava para almoar e ele me

    acompanhava para o meu curso de mestrado. Muitas

    vezes faltava ao mestrado para assistir Ben jogando

    hquei, e no bajulao de quase me, mais ele era

    uma fera nesse jogo.

    Muitas vezes conversava com David lhe cobrando

    mais presena na vida de seu filho. Ele me respondia

    que tinha que batalhar muito para dar uma vida digna

    para Ben. Quando chegaram as frias levei Ben para

  • 45

    conhecer o Brasil. Como sempre o David no podia ir

    conosco. Ben me chamava da me, isso causou espanto

    para minha verdadeira me.

    Eu j havia lhe explicado que tinha um namorado

    e que esse namorado tinha um filho, mais eu no havia

    lhe dito que esse filho do meu namorado me chamava de

    me. Gostava de ser chamada de me. Sempre tive essa

    vontade de ser me e acho lindas mulheres quando

    esto grvidas, aqueles barriges que mais parecem

    uma bola de festa junina.

    Ben parecia um pouco comigo, tinha os mesmos

    olhos castanhos e passou a ter um sorriso alegre, talvez

    era a gentica adquirida. Realmente eu me sentia a

    prpria me dele. Eu era a me que ele conhecia. A

    mulher que lhe dava carinho, que ia busc-lo na escola,

    que assinava seu boletim e lhe admirava enquanto

    brincava no parque com outros meninos. Eu me sentia

    realmente a prpria me dele quando lhe passava

    remdio, se em um jogo com amigos ele casse. Eu

    estava muito apegada a ele. Ele realmente era o meu

    filho.

  • 46

    IX FRIAS COM MEU FILHO

    Nossas frias foram maravilhosas. Fomos ao

    centro histrico, levei-o para conhecer todas as praias.

    Por ele ser branquinho, e andar muito no sol, mesmo

    com o protetor solar, ele ficou bem vermelho. Eu vi

    aquele menino renascer. Sua fisionomia era outra, ele

    agora estava vivendo.

    Levei-o para conhecer tambm os lenis

    maranhenses, que ele achou esplndido. Adorou banhar

    nas lagoas formadas pela gua da chuva, rolar as dunas

    de areia. Aps o passeio ele estava exausto, mas ainda

    tinha energia para tomar um sorvete de aa durante

    nosso passeio noturno pelo beira-rio. Aps o final de um

    dia exausto ele descansou em meu colo.

    Seu maior prazer era falar a palavra me e ser

    correspondido. Passamos vinte dias no Brasil. Minha

    me e meu pai se apaixonaram por ele, e ele retribuiu

    esse amor. Fomos at conhecer o sitio do meu av, onde

    ele andou cavalo. Tiramos muitas fotos, leite de vaca,

    corremos pelo campo, tomamos banho de rio e ensinei-o

    a jogar pio. Adorou dormir de rede, mais quase caiu.

    Uns garotos foram l no sitio onde estvamos e o

  • 47

    chamaram para jogar futebol. Ele era todo

    desengonado, no sabia jogar nada de futebol,

    conseqentemente seu time perdeu e nunca mais foram

    cham-lo para jogar, mas apesar de tudo era a

    sensao, pois era gringo e no falava portugus.

    Comprei para ele um par de patins in line para que

    ele pudesse brincar na rua. Dessa vez ningum o

    ganhou, ns j estvamos de volta a capital do meu

    estado. Apesar de s ter sete anos seu tamanho era de

    um garoto brasileiro de dez anos. Nesse tempo que

    passamos juntos ele me fez prometer que jamais deixaria

    de ser sua me.

    Seu pai foi nos buscar no Brasil e gostou muito da

    minha famlia, apesar de somente ter passado trs dias.

    Lembro-me que Ben perguntou ao pai se ns

    poderamos viver aqui no Brasil, David respondeu que

    no, mais que assim que pudesse sempre viria para

    passear. Do Brasil levamos muitas coisas de lembranas

    como camisetas, enfeites, chaveiros, um barco de

    madeira, carros de madeira, (que deu um trabalho para

    passar pela alfndega), e um grande sorriso de Ben, meu

    filho.

  • 48

    X O NOIVADO

    Aps um ano de namoro, David me pediu em

    casamento, para a felicidade de Ben. David me convidou

    para jantarmos em um restaurante chins na

    comemorao de um ano de namoro. Deu-me um anel

    de noivado muito bonito que ele e Ben haviam escolhido.

    Era um anel de ouro com um diamante em formato de

    corao, no fundo do anel havia escrito as palavras

    amor eterno. Nesta noite fizemos muitos planos, eDavid at falou que eu podia decorar a casa como

    quisesse, at falou em comprar casa nova. Ben ficou

    animadssimo.

    Quando cheguei em casa liguei logo para minhas

    mes. Elas ficaram felicssimas, diferente do Allam, que

    se mostrou preocupado ou mesmo chateado.

    Depois de um tempo eu e Allam nos tornamos

    amigos-irmos. Conversvamos durante muito tempo ao

    telefone. Allam sempre me dizia que queria o meu bem e

    que me amava como irm. Sempre quando vinha para

    Toronto ns passevamos muito e assim tirei todo o

    preconceito que tinha sobre a pessoa dele. Ele era tudo o

    que eu no imaginava. Ele realmente me surpreendeu.

  • 49

    Foi ele quem me ensinou a andar de patins in-line.

    Para isso levei muitas quedas, mais deu resultado. Como

    o David era muito ocupado, sempre saamos eu, Allam e

    Ben. Allam no queria que eu levasse o garoto, acho que

    tinha cimes dele, ou talvez somente a presena de Ben

    o incomodava.

    Todos os sbados amos eu, David e Ben fazer

    compras. Estvamos escolhendo o nosso enxoval. Como

    gostava muito da cor verde sempre procurava mais

    coisas com essa cor. Estava decidido tambm que no

    prximo sbado iramos ver a casa que moraramos.

    Sinceramente eu no queria morar numa casa que

    respirava outra mulher, a falecida esposa de David.

    Muitas vezes antes de conhec-los me pegava

    sonhando com meu noivado e as compras para o meu

    casamento, escolher as cores, as coisas, tenta combinar

    cada uma delas.

    Nessas horas adoraria que minha me biolgica

    estivesse no Canad, mas ela no podia, tem medo de

    viajar de avio. Mas, eu tinha uma me canadense e ela

    me ajudou muito. Deu-me palpites do que realmente era

    necessrio para se comprar e do que no era.

  • 50

    J tnhamos quase tudo. Faltava a casa e marcar

    a data de casamento. Este ultimo s faria depois de

    comprar o vestido.

    Como trabalhava em uma escola, ganhei muitos

    presentes, utenslios para o lar. Na igreja fizeram um ch

    de cozinha e l novamente ganhei muita coisa.

    Sinceramente j no via a hora de me casar, cuidar de

    David e Ben, ter uma vida pacata e tranqila, esse era o

    sonho que eu tinha no corao e talvez no trocaria por

    nada tudo o que Deus estava reservando para mim.

    Cada vez que olhava para meu anel de noivado,

    imagina o dia em que entraria pela porta da igreja e

    David estaria no altar a me esperar com um sorriso de

    orelha a orelha, isso me deixava feliz. Ainda no

    havamos falado quantos filhos queramos ter alm de

    Benjamim, mais eu j pensava em ter pelos menos mais

    dois, gosto de casa com muita criana.

    Agora a imagem de Lucas era apenas um borro,

    como uma fumaa que o vento leva. Como eu posso ter

    me enganado tanto assim com meus sentimentos? Bom,

    saber que meu respirar no dependia mais de Lucas, me

    deixava aliviada.

  • 51

    Quando amos jantar fora, e as pessoas nos

    perguntavam se ramos marido e mulher, sempre

    respondamos que estava bem perto.

    Na compra de coisas pequenas que ainda

    faltavam no novo enxoval, eu sempre ia sozinha, ele no

    tinha muita pacincia nessas horas, at porque eram

    muitas peas e eu sou muito indecisa. Demorava um

    tempo para escolher as colchas que melhor

    combinavam com as cores das paredes do nosso quarto.

    E as toalhas de mesa tambm davam um trabalho para

    combinar com as cores dos mveis e eletrodomsticos

    da cozinha.

    Eu amava fazer tudo isso. O que eu sempre

    imaginei que iria fazer com o Lucas, agora estava

    fazendo com o David, mas dessa vez recproco. Nossa,

    at eu me espantei em pensar no Lucas agora. No

    procurei saber dele quando fui ao Brasil, nem me passou

    pela cabea.

    Nesse tempo comecei a trabalhar com os

    adolescentes da igreja. No era servio fcil. Eu

    ensinava na classe deles, era regente do conjunto e dava

    uma de me para eles. Resolvi ento fazer um trabalho

    diferente com os adolescentes. Separaramos um dia na

  • 52

    semana para nos consagrarmos. Estvamos precisando

    disso. No comeo iam poucos adolescentes, mas Deus

    comeou a operar de maneira grandiosa e logo o nmero

    cresceu.

    No demorou muito para que o nmero de

    adolescentes batizados com Esprito Santo aumentasse.

    Eles comearam a ter uma nova viso do que

    realmente ser cristos evanglicos. Era muito

    desgastante trabalhar com eles, pois a adolescncia

    uma fase conturbada e cheia de indecises.

    Depois de algum tempo eu pude ver o quanto

    Deus tinha trabalhado. As maiorias deles no tinham

    uma viso do que queriam fazer para Deus, achavam

    que s vir igreja era o suficiente. Foi gratificante eles

    terem chegado at mim e me pedido para orar para que

    Deus os fizessem missionrios ou missionrias, pastores,

    evangelista, cantores e cantoras. Eles no eram mais os

    mesmos.

    Nas reunies que fazamos sempre procurava

    ensinar-lhes o valor da adorao a Deus e como faz-lo

    corretamente.

  • 53

    Foi numas dessas reunies que, aps vinte e trs

    minutos de orao, Deus usando de um deles veio me

    falar de sua vontade.

    Era uma tarde fria, parecia at que nevaria, ento

    corri para no faltar orao. Quando me aproximei da

    igreja o tempo at que melhorou, parecia at que era

    para chegar mais cedo. Nesse dia foram poucos, mas

    foram aqueles a qual Deus queria tratar.

    Ao chegar igreja, ajoelhei-me e comecei a orar.

    Naquele dia meu corao estava fervendo, tinha a plena

    convico que Deus iria fazer algo.

    Comearam a chegar de poucos. Entraram e

    comearam a orar tambm. No muito tempo depois

    Deus comeou a falar de maneira grandiosa. Tenho

    certeza que Deus me levou para o Canad para tratar

    algo comigo. No Brasil eu era religiosa, mas aqui Deus

    realmente estava exigindo algo de mim e ento eu

    comecei a buscar sua face como se fosse a nica coisa

    que queria no mundo.

    Sempre em minhas oraes eu pedia para Deus

    me colocar no centro da vontade Dele. Queria que Ele

    me obrigasse a fazer sua vontade, eu no queria mais

    livre arbtrio. Mesmo que isso doesse em mim, mesmo

  • 54

    que eu sofresse, mas era o que eu queria mais do que

    tudo.

    Durante o tempo em que orava, lembrei-me do

    que havia feito h algum tempo atrs, trocar meus

    sonhos com Deus. Desde que havia feito isso, muita

    coisa tinha acontecido em minha vida.

    Eu j no morava mais no mesmo pas, j no

    trabalhava mais no mesmo emprego, tinha outras

    perspectivas, tinha mudado minha viso em relao s

    outras pessoas, eu no as olhava mais com meus olhos,

    mais como Deus queria que eu as olhasse. Eu realmente

    havia mudado.

    Assim como os adolescentes aprendi a ter uma

    viso melhor de Deus. Ele agora era meu Pai amoroso, e

    no mais o Deus que estava longe. Foi esse Pai amoroso

    que usando sua serva me declarou sua vontade.

    Eu pedi para o meu Pai falar comigo...

  • 55

    XI A VONTADE DE DEUS.

    E Ele falou.

    Aquela adolescente se dirigiu a mim quando eu

    menos esperava. Chegou perto do meu ouvido e

    comeou a falar o que Deus a havia mandado.

    Durante todos os preparativos para minha festa de

    noivado, eu estava preocupada com muitas coisas e a

    vontade de Deus era uma delas.

    Nas noites, antes de dormir, ao orar, sempre pedia

    para Deus me revelar se era da vontade Dele meu

    casamento com David. No posso mentir que eu queria

    que me respondesse que sim, mas tambm no queria

    ficar fora da vontade de Deus.

    Foi nesse dia que Ele quis me revelar sua

    vontade. Infelizmente a resposta foi negativa. Deus no

    aprovava meu casamento com David. Confesso que meu

    corao quase parou de dor. Novamente eu iria passar

    pelo mesmo pesadelo, s que dessa vez pior. Na hora

    no quis aceitar. Era extremamente difcil. Novamente

    vejo os meus planos se desmoronando. Mais outra vez

    escuto os vidros caindo ao cho.

  • 56

    Eu no entendi o porqu de Deus no ter

    aprovado meu casamento. David era um bom homem,

    crente, desimpedido, trabalhador e me amava. Por que

    Deus? Por qu?

    Fui para casa chorando e assim fiquei o resto da

    tarde e noite. Orei muito para superar tudo. s vezes eu

    achava que tudo aquilo era um pesadelo e que pela

    manh tudo estaria normal. Mas infelizmente no era. Eu

    realmente estava passando por tudo aquilo.

    Ainda no sabia como contar tudo para meu noivo,

    e nem para aquela criana que me chamava de me.

    Neste momento olhei para o alto e procurei ver se Deus

    estava brincando comigo. S podia ser brincadeira tudo o

    que estava passando. Porque Deus havia feito tudo isso?

    Porque me deixou apegar a eles dois pra depois me dizer

    que no era da sua vontade?

    Por um longo tempo eu fiquei a perguntar para

    Deus, eu orava insistentemente pedindo uma palavra de

    consolo. Queria somente que Deus usasse um vaso para

    me dizer palavras de consolo do mesmo jeito que usou

    para me dizer sua vontade.

    Pensa que eu no orei? Eu quase me esgoelei,

    chorei, pedi, implorei. No entendi o porqu da sua

  • 57

    resposta. Ele simplesmente colocou o dedo indicador na

    frente da boca e fez o mesmo gesto que uma enfermeira

    faz pedindo silncio.

    Eu tinha que aceitar. Eu havia trocado meus

    sonhos com Ele. Algo l no fundo do meu ser me dizia

    que os sonhos de Deus para mim eram maiores do que

    os meus. Mas sinceramente naquela hora eu s queria

    meus sonhos mixurucas.

    O culto que fui depois de receber a noticia no era

    o mesmo. Toda vez que o pastor dizia para dar-mos

    glria a Deus, mesmo que me esforasse, que

    concentrasse toda fora da minha voz nos meus

    pulmes, eu no conseguia. Eu estava enfrentando o dia

    mal, o dia da provao. E neste dia difcil dar um glria

    a Deus. S quem j passou por ele sabe o que estava

    sentindo naquele momento. S quem est enfrentado,

    sabe o que . Voc rasga o corao na nsia de uma

    resposta e no ouve nada. Parece que voc est

    sozinho, desamparado, uma ovelha ferida, perdida no

    deserto, passando frio de noite e calor de dia.

    Pior ficaria aps o culto. David estava me

    esperando juntamente com Bem, pois como eu estava

  • 58

    cuidando dos adolescentes, tinha que arrumar as coisas

    depois do culto.

    Quando o culto acabou, olhei para a porta onde

    David sempre ficava e o vi com aquele sorriso lindo

    olhando para mim. Nessa hora minha alma deu um grito

    dentro de mim. O meu corao estava dilacerado pela

    dor. Eu tinha que fazer a vontade de Deus. Resolvi

    terminar naquela noite.

    Ao ir ao seu encontro, ele logo me estendeu os

    braos para me abraar. E naquela hora eu me deixei

    abraar pelos braos daquele homem. Eu queria sentir

    pela ltima vez o calor de seus abraos, sentir o cheiro

    dele. Neste momento aquela deciso de terminar tudo

    com ele sara da minha cabea. Eu s queria ficar mais

    um pouquinho com ele. Sentir por mais um pouco ele do

    meu lado.

    Assim passaram-se trs semanas e eu ainda no

    havia feito a vontade de Deus. Minha mente martelava a

    todo instante. Antes de eu o ver eu estava decidida a

    terminar tudo, mas quando ele chegava com aquele

    sorriso e corria para me abraar, juntamente com seu

    filho, eu desistia de fazer tudo o que havia imaginado.

  • 59

    Eu realmente queria a vontade de Deus em minha

    vida, mas era difcil, muito difcil. Eu estava em um pas

    diferente, sem amigos de infncia, sem minha me, sem

    minhas irms, sem meu pai, para ficarem comigo depois

    que tudo se acabasse, e ento me abraariam e eu me

    sentiria protegida e no ficaria to solitria. David era

    meu companheiro de risadas, fins de semana, de passeio

    de mos dadas, de abraos. Eu j estava at pensando

    em desfazer a troca que fiz. Mas ser que Deus me

    devolveria as prolas?

    Um sonho me fez repensar o que ia fazer. Resolvi

    ento fazer mais uma prova com Deus. A prova era essa:

    eu, desde menina tinha um sonho de ir para a Etipia

    fazer misses. Eu como pretendente a missionria,

    deveria casar com um outro missionrio. Ento pensei

    que, se David tivesse esse mesmo ardor, quem sabe

    Deus voltaria atrs e reconsideraria a sua vontade.

    Peguei o telefone e liguei para David. Durante a

    minha conversa com ele, procurei influenci-lo para o

    campo de misses. E depois de um bom tempo de

    conversa perguntei se ele sabia o qual era a vontade de

    Deus para vida dele. Expliquei que eu tinha uma

    chamada para a frica. E ento perguntei: Qual a

  • 60

    vontade de Deus na tua vida?, ao que ele me respondeuque no sabia e no estava nem um mnimo interessado

    em misses, ele tinha uma carreira para seguir e no ia

    deixar uma vida de construes para ser morto e comido

    por canibais em outro pas. Ele sendo evanglico era o

    suficiente para agradar a Deus.

    Lgrimas rolaram em meus olhos. Ns dois

    tnhamos pensamentos totalmente diferentes daquilo que

    queramos para o futuro. Aquela era a prova definitiva da

    vontade de Deus. Nesse mesmo telefonema pedi que ele

    viesse at minha casa. Nessa mesma noite eu tambm

    no tive coragem. Foi ento que resolvi que deveria

    viajar para orar e me aproximar mais de Deus. Eu no

    tinha foras para lutar sozinha, tinha que ter uma fora

    superior minha para que fosse feita a vontade de Deus.

    Decide ir at Montreal para passar um tempo a ss com

    Deus e aproveitar para visitar o Allam.

    Fazia tempo que no o via. Ele era meu amigo e

    conselheiro espiritual, tenho certeza que me ajudaria em

    orao.

    Liguei para ele avisando que iria passar uns dias

    em Montreal. Ele achou muito bom a minha ida at l.

    Morava sozinho, no tinha muitas companhias, no era

  • 61

    de ter muitas amizades. Um dos seus principais amigos e

    companhias era Jesus, com quem ele conversava a

    maior parte do tempo. Era interessante como algum

    podia se dedicar tanto a Jesus. No me lembro de

    nenhuma conversa com o Allam Jnior em que o nome

    de Jesus deixou de ser mencionado. Eu brincava

    chamando ele de Allao, o amigo de Deus. No sou

    muito boa com piadas, mas a pardia ficou engraada.

  • 62

    XII TEMPO DE MUITA ORAO

    Durante todo o tempo que fiquei em Montreal,

    tomei uma deciso: iria embora depois de terminar tudo

    com David. Eu no queria ficar e v-lo todo dia, j estava

    sendo castigo tudo isso. Ainda no sabia o que iria fazer,

    talvez eu voltasse para o Brasil

    Quando expus minhas idias para o Allam, ele

    achou um absurdo eu ter que abdicar de meu trabalho e

    do mestrado por tudo isso. Logo me perguntou o porqu

    dessa deciso, ao que eu contei tudo o que havia se

    passado em minha vida, a vontade que Deus me revelou,

    e o que eu estava passando para cumpri-la. Oramos e

    choramos muito. Trs dias foi o suficiente para juntar

    todas as minhas foras.

    Ao voltar para Toronto, logo liguei para David e

    pedi que fosse at a minha casa. Ao chegar percebeu

    logo que as coisas no estavam como antes. Pedi que se

    sentasse, ele obedeceu. Olhei para ele e comecei a

    explicar sobre sonhos e vontade de Deus. Ele perguntou

    o que eu queria com tudo aquilo. Era esse ponto que eu

    queria chegar. Ento lhe expliquei: Ao comearmos anamorar, no nos preocupamos em tirar um tempo de

  • 63

    orao para saber a vontade de Deus em nossas vidas.

    Ao noivarmos, isso tambm aconteceu.

    Eu me preocupei e comecei a buscar a Deus em

    orao. No demorou muito e ele me respondeu. A

    pergunt-lo sobre sua vontade para o nosso casamento,

    a sua resposta foi NO. Isso faz bastante tempo, mais ou

    menos umas quatro semanas.

    No tinha coragem de terminar tudo contigo,

    porque ainda te amo, e a deciso ia sendo adiada por

    mais um dia. Mas agora no posso mais anular a

    vontade de Deus, mas tambm no tinha coragem de

    terminar tudo. Foi ento que decidi ir Montreal para um

    perodo de orao, para conseguir foras para o que

    estou fazendo agora.

    Durante todo o tempo ele olhava pra mim sem

    acreditar no que estava ouvindo.

    - Voc est me dizendo que quer terminar

    comigo?

    Acenei que sim. Neste momento lgrimas quentes

    j percorriam em minha face.

    - Por que voc s veio me dizer isso agora? Como

    que voc sabe que nosso casamento no da vontade

  • 64

    de Deus? O que vou dizer ao meu filho? Porque voc

    est fazendo isso comigo?

    Ele comeou a me bombardear com perguntas.

    Foi quando olhei para ele e seus olhos tambm estavam

    cheios de lgrimas.

    - Infelizmente essa a realidade. No podemos

    mais continuar.

    Ele saiu sem olhar para trs.

    Eu fiquei com o rosto banhado em lgrimas e com

    joelhos no cho, como um soldado que acaba de ser

    alvejado por uma lana.

    Esse foi um perodo de muita orao. s vezes eu

    acordava de madrugada e comeava a buscar a Deus

    em orao. Senhor preenche o vazio do meu corao.Eu me sentia realmente sozinha, era como se estivesse

    s no mundo. A minha legislao da felicidade no servia

    para nada. Agora somente Deus poderia me consolar.

    Como interessante como mudamos de opinio

    com o passar dos tempos. Eu que me sentia blindada

    para os sentimentos, novamente me vejo frgil. Agora

    percebo que somente posso confiar em Deus. Que

    apesar de todas as minhas decises e legislaes, o que

    me sobra confiar em Deus e mergulhar em sua

  • 65

    presena. Talvez essa seja a verdadeira felicidade, algo

    que nem o inimigo de nossas almas pode por o dedo: a

    nossa comunho com Deus. Saber que Jesus cuida de

    mim, mesmo que eu no veja e no perceba me deu uma

    estranha felicidade em meio as mais quentes e amargas

    lgrimas. Eu descobri que Deus fiel, Deus fiel...

    Certa vez eu vinha da igreja para casa quando

    comeou a chover. Se o David estivesse comigo tentaria

    me proteger, talvez correramos, mas seria bem

    engraado. Mas ele no estava. A minha companheira

    agora era a solido. Durante todo o meu percurso at

    chegar em casa, eu chorei. As lgrimas desciam

    quentes. Cheguei em casa encharcada. Mas minha

    lngua no parava de falar: Deus fiel!

    Ele no me ligou em uma semana. Logo aps a

    nossa separao, fui buscar como de costume Benjamim

    na escola e o levei para casa. Depois de mais ou menos

    meia hora a campainha toca. Era David. Ele estava

    furioso. Disse-me para no chegar mais perto do seu

    filho. Se eu no queria o pai o filho tambm no me

    pertencia. Pedi-lhe perdo, s queria ajudar. Benjamim

    saiu chorando, queria ficar, mais o pai no o deixou.

  • 66

    Era triste ver tudo aquilo que construmos se

    esvaindo entre nossos dedos. Mas uma vez eu gritei:

    Deus fiel. Eu no posso deixar o inimigo roubar o que

    eu tenho de mais precioso em minha vida, a fidelidade de

    Deus.

    Depois de algum tempo David me procurou, queria

    conversar. Conversamos. Disse-me que ainda me amava

    muito, e no podia viver longe de mim. Queria voltar. Eu

    estava me sentindo to s desde que nos separamos

    que naquela noite voltamos. Momentaneamente eu me

    senti feliz. Depois disso ele se tornou mais atencioso

    para comigo, no queria me perder novamente. Mas

    depois que ele foi embora eu senti um vazio e um

    remorso muito grande, eu queria obedecer ao meu

    criador, mas eu tambm queria ficar ao lado de David.

    Deus fiel!

    Depois de uma semana sentindo aquele vazio,

    resolvi terminar mais uma vez. Terminamos, mais depois

    de algum tempo ele voltava me pedindo para voltar ao

    que voltvamos. E assim ficamos por mais ou menos um

    ms.

    Deus falou srio comigo em um culto. Era melhor

    obedecer do que sacrificar. E ainda por cima o Inimigo de

  • 67

    nossas almas ficava me atentando dizendo contra o meu

    criador. Isso o que d ter trocado os seus sonhos comele. Novamente entrei num perodo de orao e jejum,mais dessa vez foi de corao que fiz, melhor a

    vontade de Deus em minha vida do que a minha.

    Deus fiel!

    Chamei-o para uma conversa sria. Nesse dia

    brigamos feio. Ele me disse que eu s o queria para us-

    lo, que ele estava sendo como uma camisa, quando

    precisava usava e depois que estava suja jogava num

    balde de roupa suja.

    Ali foi a ltima noite que conversamos. Nem na

    igreja ele me olhava mais. A pensei: se eu tivesse

    acatado a ordem de Deus, tudo isso no teria acontecido,

    talvez no estivssemos brigado, mas no final seramos

    bons amigos.

    Ainda assim, depois de tudo, percebo que Deus

    fiel. Eu sabia que Deus queria para mim muito mais do

    que eu podia imaginar ou pedir ou ver. A nica coisa que

    eu me sustentava era a seguinte frase: Deus fiel!

  • 68

    XIII A GRANDE SUPRESA

    A tristeza de t-lo deixado e a solido me

    acompanhando me fizeram isolar deste mundo. A minha

    maior vontade era ficar em casa e s isso. Passei trs

    semanas sem ir igreja. Estava mergulhada em uma

    profunda tristeza. Meu mundo agora no era mais cor-de-

    rosa, era cinza, cinza escuro.

    Eu pensava constantemente em voltar para o

    Brasil. Queria esquecer tudo o que havia passado.

    Estava decidida. Voltaria, cuidaria de minha famlia e

    pronto. Esperaria a morte me ceifar a vida. Do jeito que

    as coisas corriam parecia ser esta a vontade de Deus.

    Depois de algum tempo descobri que David fora

    transferido para Calgary.

    A campainha do meu apartamento tocou. Ao abrir

    tive uma grande surpresa, era Allam. Sinceramente no

    queria v-lo, nem ele nem a ningum. Para no ser mal

    educada pedi que entrasse. Ele percebeu que minha

    casa estava uma tremenda baguna. Ficou observando

    as coisas e nem percebeu que eu j havia me jogado no

    sof.

  • 69

    -Voc conhece minha amiga Talita? J deu para

    perceber que ela no mora mais aqui. Ela muito

    especial. Tem uma energia que vale por dois. Sabe viver

    muito bem, at quando a vida no lhe favorvel. Ela

    tinha sonhos de ir para frica e l estabelecer morada

    para pregar o evangelho e trazer muitas almas a Cristo.

    Nunca conheci pessoa igual a ela. Forte, lutadora,

    sonhadora que no se entrega facilmente. Parece que

    minha amiga se foi e com ela os seus sonhos.

    Durante todo tempo em Allam falou eu o fitava e

    as lgrimas corriam em meus olhos. Realmente eu havia

    morrido e comigo os meus sonhos. Agora eu no mais

    chorava, eu pranteava. Senti no abrao de Allam, o

    abrao confortante de Deus. Eu realmente necessitava

    disto.

    Depois que me acalmei, ele me disse que fora

    transferido para Toronto, ou melhor, havia pedido

    transferncia. Isso j havia dez meses, mas s agora

    tinham lhe concedido. Tinha chegado h dois dias. Essa

    foi a grande surpresa que tive. Allam agora morava em

    Toronto.

    Convidou-me para sair dali a dois dias, sbado

    noite. Eu aceitei. Seria bom, no podia passar o resto da

  • 70

    vida trancada em casa. Era preciso revidar com alegria

    todas as tristezas que a vida me trouxe.

    J havia passado quase trs meses depois do

    ocorrido. s vezes eu me pegava pensando em como

    seria meu casamento com David, como eu seria como

    me para Benjamim, como seria essa famlia. Sinto muita

    falta deles. Outro dia Ben me ligou, disse-me que estava

    com saudades e que o pai ainda me amava e queria

    muito ficar o resto da vida comigo. Creio que o pai

    mandou-lhe fazer isto. tpico dele o fazer: chantagem

    emocional infantil.

    Procurei evitar ao mximo falar no que havia

    ocorrido. David percebeu e no ligou mais.

    Finalmente chegou o dia do encontro. Allam como

    sempre estava na hora certa. Eu no gostava de me

    atrasar e tambm cheguei na hora indicada. Foi muito

    boa quela noite, sorri como nunca, Allam era um

    verdadeiro palhao. E me deixou a vontade. Senti-me

    melhor.

    Comeamos a nos ver frequentemente, e eu at

    comecei a acompanh-lo em seus jogos. Ele jogava

    hquei e participava do time do hospital onde trabalhava

    e dos jovens da igreja.

  • 71

    O hquei um dos esportes favoritos do Canad.

    Porm muito violento e nunca havia o acompanhado,

    apesar dele me chamar sempre.

    Mais um dia eu aceitei o convite. Chegamos um

    pouco atrasados. Ento ele teve que ficar no banco de

    reservas, e eu me sentei logo atrs do banco. Ele foi se

    trocar, tinha que colocar uma roupa especial pra jogar.

    Logo um dos jogadores teve que ser substitudo e ele

    entrou. Antes foi at onde eu estava e pedi que ele

    tivesse cuidado. Supreendeu-me com um beijo na testa.

    Eu paralisei. Meu corao comeou a bater a mil

    por hora. Eu no acreditava no que estava acontecendo

    comigo. Ser que eu estava... No, no poderia est...

    Eu havia prometido pra mim mesma que no me

    apaixonaria de novo. s o que poderia dar mesmo. Ns

    estvamos nos aproximando muito. Era como se eu

    precisasse dele sempre. Nem percebi quando ele marcou

    ponto e ofereceu a mim, parece que eu estava

    anestesiada, foi quando a ficha caiu. Eu estava num jogo

    de hquei.

    Ele foi me deixar em casa e durante todo o trajeto

    ele falava nos passes que fez, das jogadas mal feitas,

    dos pontos que marcou, ele falava, eu estava calada.

  • 72

    Senti vergonha de est ao lado do homem que eu

    acabara de descobrir que amava. Sentia-me como uma

    adolescente perto de seu primeiro amor. Se no tivesse

    sentada, ele veria que minhas pernas estariam tremendo

    e que minhas mos estavam suadas.

    Quase no prestei ateno ao que ele falava, s

    fiquei perdida em meus pensamentos, relembrando cada

    momento que passamos juntos e o amor que eu no

    esperava que chegasse assim. Ser que eu estava

    realmente apaixonada ou estava apenas envolvida por

    est frgil? Como saber se o que sentia era amor? Ser

    que no existe um manual do amor?

    Eu comecei a raciocinar. Amara o Lucas porque

    ele me tratava bem, era meu companheiro de sada, me

    tratava como se eu fosse sua irm. Ele olhava pra mim

    de um jeito especial e assim eu me sentia segura ao seu

    lado. Lembrei at do dia em que fomos assistir um culto

    em outra igreja e na sada comeou a chover, ele

    conseguiu um guarda-chuva e fomos ns dois abraados

    pra casa, ele tentava me proteger da chuva e isso

    conquistou meu corao.

    Amara o David por que estava fragilizada pelo que

    havia acontecido, pela decepo com o Lucas. Mais eu

  • 73

    jamais esperaria que amasse o Allam. Ele no veio

    oferecido, mais enviado. No precisou me conquistar

    com belas flores, nem com um tipo de que seria o melhor

    esposo do mundo. Ele somente se mostrou quem era. E

    eu nem havia percebido que o estava amando.

    Agora vem uma dvida na minha mente: ser que

    assim o amor? Ele chega sem avisar e quando

    percebemos j estamos infectados por esse vrus que

    no tem cura. Foi assim que me apaixonei por ele. No

    foi preciso mostrar que eu era a melhor, s pra ele

    reparar em mim, nem foi preciso mudar penteado, nada.

    Aconteceu o dia que eu achara que nunca chegaria. Eu

    amava o Allam.

    A partir de ento sempre o acompanhava aos

    jogos, pois queria sempre est perto dele, mais ao

    mesmo tempo eu queria esconder dele todos meus

    sentimentos. Decide que faria de todos os momentos ao

    lado dele um momento especial.

    Mais um jogo de hquei. Tudo parecia normal,

    socos, ponta-ps. Eu vestida em uma camisa de hquei

    do Allam (a camisa-uniforme mais parecia um vestido

    para mim, afinal, Allam tinha mais de dois metros de

    altura). Um dos jogadores do time adversrio foi parar a

  • 74

    jogada de Allam. Eles se chocaram feio. Allam bateu a

    cabea na grade de proteo, sua cabea bateu no gelo.

    Mesmo com capacete ele desmaiou, o jogo foi

    paralisado, eu sa correndo pra ver como ele estava.

    Quase deslizei umas trs vezes no gelo, mas consegui

    chegar at ele. Eu gritava atordoada.

    -Chamem uma ambulncia!

    Chegamos ao hospital e logo liguei para Me (que

    a me dele). No sabia como falar para ela que o Allam

    estava em um hospital. Logo ela chegou acompanhada

    com o pastor. Como ela estava um pouco nervosa,

    resolvemos que eu ficaria com Allam e ela voltaria pra

    casa depois de ser medicada.

    Eu fiquei ali inerte olhando para o homem que me

    ensinou novamente a sorrir e a ter esperana. Ele

    tambm estava inerte, isso me fez temer. Ser que ele

    nunca vai acordar? Olhei para o cu e fiz uma orao

    para meus Deus.

    Ns seres humanos s criamos coragem depois

    que acontece algo com quem amamos. Achamos que

    nunca vamos perder-los e quando isso acontece, e ns o

    perdemos, passamos o resto de nossas vidas nos

    culpando pelo que poderamos ter dito e no dissemos.

  • 75

    No meu caso eu no o havia perdido, mas temia essa

    possibilidade. Ele havia machucado a cabea. Os

    mdicos haviam dito que no houve fratura no crnio, s

    havia levado alguns pontos acima da sobrancelha.

    Passaram-se uns 10 minutos, quando Allam abriu

    os olhos e sorriu pra mim. Eu o olhei e comecei a rir com

    lgrimas nos olhos. Ele me disse pra no ficar assim.

    Peguei em sua mo e tirei toda coragem do mundo pra

    dizer a ele a frase que nunca havia dito a ningum. Amei

    o Lucas, mais ele nunca ouviu da minha boca, s pelos

    meus gestos eu dizia tudo. Assim tambm aconteceu

    com o David.

    Ele ficava a me olhar. Ele sabia que eu queria

    dizer algo. Ento eu disse:

    - Eu te amo!

    - Eu tambm te amo. Ele respondeu. Talvez eu j

    esperasse essa resposta, mais eu tinha medo.

    - Voc quebrou o brao, e levou alguns pontos na

    testa. Mais o mdico disse que no fraturou nada mais

    grave. Voc nos assustou, sabia. Eu falava rpido com

    medo do que eu poderia ouvir da boca dele. Era como se

    eu quisesse faz-lo ficar em silncio com as minhas

    muitas palavras.

  • 76

    Ele me olhava e sorria, eu pude ver a alegria em

    seu rosto. Parecia que ele tinha ganhado o presente que

    tinha esperado por toda vida.

    Ficamos em silencio durante algum tempo. Sua

    mo estava segurando a minha.

    O silencio foi quebrado.

    - Voc quer casar comigo?

  • 77

    ESPAO DE TEMPO

  • 78

    XIV CURSO DE ENFERMAGEM

    Nosso casamento foi simples, no quis uma

    grande festa. Casamos no civil e no religioso. Estava

    muito feliz. No momento em que subi ao altar me

    emocionei muito, achava que esse dia nunca chegaria.

    Depois de tanta desiluso e sofrimento eu havia perdido

    as esperanas de um dia chegar a me casar. Mais este

    era o sonho de Deus, este dia estava escrito no roteiro

    de minha vida e o diretor estava dizendo: ao!

    Foi uma boa festa. Meus pais estavam presentes

    e ficaram muito felizes por mim. Estava todo mundo da

    igreja, quis convidar a todos.

    Meu vestido era branco, simples e belo. Allam

    estava com seu fraque e lindo. Seu sorriso dizia como

    ns dois estvamos nos sentindo. Deus estava em nosso

    meio.

    Passamos trs dias de nossa lua de mel em Lake

    Louise, um lugar maravilhoso com jardins esplndidos.

    Depois que nos casamos resolvi fazer um curso

    tcnico de enfermagem. J havia terminado meu

    mestrado e queria fazer algo mais. Allam me apoiou

    bastante. O curso tinha durao de um ano e meio. Eu

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    estava feliz com tudo. Planejamos que teramos nosso

    primeiro filho assim que eu terminasse meu curso.

    Interessante que ningum entendia o porqu de

    est fazendo o curso. J tinha mestrado, e esse curso de

    enfermagem no ia valer de nada para o meu currculo.

    Na verdade eu e Allam queramos ser missionrios na

    frica, como ele era mdico precisava de uma

    enfermeira, ento eu me dispus a ser.

    O tempo passou-se rpido e logo terminei o curso.

    Estava chegando a hora de nos prepararmos para ser pai

    e me. Passou-se algum tempo e no consegui

    engravidar. O mdico disse que s poderia iniciar um

    tratamento depois de tentar por um ano. Ento tive que

    esperar esse tempo.

    Houve uma conferncia com os pastores e nesta

    foi decidido que seriam enviadas duas famlias para fazer

    misses na frica. Eu e meu esposo nos inscrevemos na

    esperana de sermos chamados.

    Porm no foi dessa vez que tivemos esse

    privilgio. Ento prosseguimos com nossas vidas, orando

    e pedindo ao Senhor que nos mandasse pra fazer

    misses.

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    Passou-se 6 meses e me preocupei. Ainda no

    havia conseguido engravidar. Procurei outro mdico e fiz

    exames mais especficos para saber a causa de no ter

    engravidado ainda. Foi quando descobri que tinha

    endometriose e que tinha que fazer um tratamento. Este

    duraria em torno de um ano.

    Allam havia me acompanhado em minha consulta,

    ele meu deu um abrao e disse que iramos vencer

    juntos. Eu faria o tratamento e mais cedo ou mais tarde

    eu teria nosso filho.

    Passou uma semana e chegou a nossa casa uma

    correspondncia. Era da junta de misses. O casal de

    missionrios que havia ido, tinha que voltar, pois o

    filhinho deles havia sido acometido de malria e eles

    teriam que tratar do filho. A junta perguntava se ainda

    estvamos dispostos a ir para a misso. Se a resposta

    fosse sim teramos que responder na mesma semana,

    era caso de urgncia.

    Allam me olhou. Eu pude ver em seus olhos o

    quanto ele queria ir. Na minha cabea passou uma coisa.

    Tinha que fazer o tratamento para poder engravidar, era

    a esperana que o mdico me deu. Mais eu tambm

    anelava por resgatar as almas.

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    -Diga que vamos. Respondi.

    - E o tratamento?

    -Deus prover.

    Allam sabia a vontade que eu tinha de engravidar.

    Eu realmente queria muito sentir o beb se mexendo

    aqui na minha barriga, v crescendo a cada dia e um dia

    t-lo em meus braos. Eu chorei muito por ter tomado

    essa deciso, mais eu sabia que era a melhor a ser

    tomada.

    Durante o tempo em que levamos para organizar

    tudo, passou-se dois meses. No posso mentir que

    muitas vezes pensei em desistir e comear meu

    tratamento de fertilizao. s vezes me sentia mais

    inclinada para a misso, s vezes queria ficar e fazer o

    tratamento. Durante a noite eu sonhava com meu filho

    nos braos. Era quase real, podia at sentir o cheirinho

    de nen.

    Ficava lembrando de estvamos noivos. Fazamos

    milhares de planos, tnhamos sonhado at com a

    quantidade de filhos que iramos ter. Pensvamos em ter

    quatro filhos, dois meninos e duas meninas. J tnhamos

    at colocado os nomes: Allam, Arthur, Ana Rebeca e Ana

    Esther.

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    Agora tenho que optar pela vontade de Deus.

    Chegou o dia de nos despedirmos. Foi um dia de

    choro e risos. Antes de embarcarmos no avio, o pastor

    olhou pra ns dois e perguntou?

    - realmente isso que vocs querem?

    Olhamos-nos e respondemos afirmativamente que

    sim.

    - Ento, que Deus abenoe os dois nessa

    caminhada.

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    XV FRICA

    Chegamos frica depois de um vo conturbado.

    Assim que descemos estava o missionrio no aeroporto

    a nos esperar. Percebi que ele estava bem abatido. Sua

    esposa j estava no Canad para o tratamento do filho e

    ele havia ficado para nos receber e nos repassar

    algumas orientaes. Tivemos boas-vindas calorosas.

    O jipe da igreja estava estacionado logo ali perto.

    Colocamos as malas no lugar e comeamos a longa

    viagem. Durante o caminho ele foi contando sobre como

    era a vida naquele lugar, suas privaes, os mosquitos,

    os animais, enfim, tudo o que ele nos podia repassar ele

    estava fazendo. Sua pressa era tamanha em nos

    repassar que ele parava, respirava bem fundo e

    comeava a falar como se fosse uma metralhadora.

    Depois de cinco horas de viagem por entre

    pequenos desertos e rios, entramos numa vegetao

    bem rasteira e no muito longe pude ver a fumaa

    subindo. Ele nos apontou com o dedo e disse-nos que

    era ali a aldeia onde ele morava.

    Durante o tempo de preparao para irmos para a

    misso, procuramos aprender o mximo da lngua natal.

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    Na frica se fala muitos dialetos. Em mdia a cada raio

    de cem quilmetros, um dialeto diferente. Mas, com

    algumas pesquisas conseguimos aprender algumas

    palavras e algo sobre seus costumes.

    Ao chegarmos, muitos vieram ver os novos

    missionrios. At nos ajudaram a carregar as malas. De

    inicio, foi tudo muito bem. A noite j estava chegando, a

    viagem foi cansativa e cai no sono em uma rede que

    estava armada no quarto. Na primeira noite, dormi como

    uma pedra.

    O dia amanhece. Ouvi a festa das galinhas e o

    coral de galos a cantar. Fiz um caf de modo bem

    rstico, no estranhei por que quando morava no Brasil,

    fazamos caf e covamos num saco de pano. No

    Canad o caf era feito na cafeteira o trabalho era s

    colocar o caf na mquina e ligar um boto. Mais no

    reclamei e pra falar a verdade o caf coado no coador

    melhor do que na cafeteira.

    Logo aps o nosso caf, samos para conhecer o

    lugar. A aldeia onde ficamos era um lugar encantador. A

    vida se resumia em duas tarefas: os homens caavam e

    as mulheres os esperavam e cuidavam dos filhos e da

    casa. As casas eram rsticas, feitas de barro e cobertas

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    com palhas. O cho era de terra batida. Os quintais eram

    divididos por cercas de varas e cip. Criavam-se galinhas

    e porcos e em algumas casas tinham outros animais. O

    principal meio de transporte era o cavalo. Tinha uma

    vaca que era de propriedade do missionrio e que agora

    ele passara para ns. A casa onde iramos morar no era

    diferente das outras, cho de terra batida, telhado de

    palha e paredes de barro. Possua cinco cmodos: uma

    cozinha, dois quartos, uma sala e um quartinho bem

    pequeno que na ombreira da porta tinha escrito:

    QUARTO DE ORAO.

    Na casa no tinha muitos mveis, s o necessrio.

    Uma das coisas que mais incomodava era o calor. Era

    quase insuportvel. Depois fomos conhecer a igreja. Era

    pequena e tinha cinco bancos de madeira de cada lado.

    O plpito era de madeira e na mesma altura do cho da

    nave da igreja. Os cultos eram realizados antes do pr do

    sol, para que os irmos no fossem no escuro para suas

    casas.

    Da em diante eu fui para casa preparar o almoo

    e Allam ficou aprendendo mais do missionrio.

    Percebi que a dispensa tinha somente arroz,

    farinha de milho e algumas espigas j secas.

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    Ento fui at o galinheiro e peguei dois ovos e fiz

    uma farofa com a farinha de milho. No ficou muito bom

    mais deu pra comer.

    Naquela noite iramos ser apresentados a igreja e

    tomar posse. Percebi que no estavam contentes com a

    nossa chegada. Eles haviam aprendido amar o

    missionrio Harold e eu os compreendia.

    Sete dias passaram e o irmo Harold se despediu

    da igreja com lgrimas nos olhos.

    Durante as primeiras noites que passamos, quase

    no conseguimos dormir. Os mosquitos zoavam muito e

    alm de tudo queria nos picar. Algumas picadas eram

    dolorosas. Apesar de usarmos o mosquiteiro, mais

    parece que no adiantava. Alm de tudo o calor nos fazia

    suar muito. Mas aos poucos fomos acostumando.

    Nos primeiros cultos que dirigimos o nmero de

    presentes era pequeno. Era quase um protesto deles

    para a volta do missionrio antigo.

    Allam e eu comeamos a visitar todas as pessoas.

    Fazamos dois trabalhos, o de evangelizao e

    discipulado, e orientao mdica. Nesse nosso trabalho

    Deus nos abenoou muito. As pessoas comearam a nos

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    dar confiana e foi ai que conseguimos realizar um bom

    trabalho.

    Depois de algum tempo conseguimos aumentar o

    numero de crentes na igreja. O quarto de orao sempre

    era visitado, por mim ou por Allam. Essa era a nossa

    chave para vitria, a orao.

    Conseguimos baixar o nvel de desnutrio entre

    as crianas. Eu passava o dia com elas. Eu formei uma

    espcie de creche, onde l eu dava banho e fazia o

    asseio geral de todas as crianas. Muitas delas tinham

    piolhos e graas e Deus consegui diminuir essa

    escabiose. Isso tudo ocorria em minha casa. Tambm vi

    muitas crianas virem ao mundo. Eram maravilhoso ver

    aqueles rostinhos e o sorriso de agradecimento das

    mes.

    Com o dinheiro que a igreja mandava para nosso

    sustento comeamos a construir uma cisterna de

    captao de gua. O sistema era simples: colocaramos

    biqueiras no telhado e essas biqueiras levariam toda a

    gua a essa cisterna. O nico problema era que no

    chovia a uns trs anos e muitos riram de nossa

    construo. Diziam que era mais fcil cavar um poo.

    Mais Allam no desistiu de seu intento e chamou alguns

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    irmos para ajud-lo. Em um ms a obra ficou pronta.

    Agora s faltava a chuva. Iniciamos uma campanha de

    orao e depois de 13 dias orando comeou a chover.

    Aleluia! O milagre foi maior ainda porque o tanque cabia

    vinte mil litros de gua e ele transbordou. A nossa alegria

    tambm. Nesse tempo Deus salvou muitas almas e

    batizou com Esprito Santo.

    Depois de cinco meses, levei uma jovem de 14

    anos para morar comigo, seu nome era Zara. Ela havia

    casado no fazia muito tempo, porm seu esposo havia

    falecido durante uma caada. Ela havia ficado viva e

    grvida de trs meses. Quando ela veio para minha