Upload
missionaria-tatiana-rocha
View
3
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Estória de uma jovem que trocou os seus sonhos com os de Deus
Citation preview
1PROLAS
Tatiana Rocha
2PROLAS
#
3PROLAS
Tatiana Rocha
4SUMRIO
5Dedico aos meus pais, Ulisses e Mirtes, que
com coragem e sabedoria me educaram, eu os amo.
As minhas irms, Thais, Tain e Taciane, que
acreditaram que um dia eu poderia chegar at aqui e
alm mais, agradeo tambm pelas oraes e pelos
momentos felizes que passamos juntas, momentos
inesquecveis.
Ao meu tio, Luiz Pereira, que muito me ajudou
e incentivou e que um exemplo para mim, sempre
me mostrando o melhor caminho a seguir.
A todos da minha famlia que contriburam,
dando-me foras para caminhar.
As minhas amigas, Rafaella (ela sempre dizia:
termina logo esse livro Tati.) e Luzia, que meincentivaram para chegar at aqui e que
compartilharam sonhos e alegrias comigo.
A Edson Arthur Staroscky que sempre me
perguntava: quando vai terminar o livro?E ao meu Deus que me deu inspirao para
escrever este livro. Ao meu Deus, a minha fora e
salvao e Pai querido. Amo-te Pai!
6PREFCIO
Um dos grandes sacrifcios do homem tentar
realizar seus sonhos. Mas ser que voc teria coragem
de trocar seus sonhos com Deus? Aqueles sonhos que
voc passou a vida toda projetando, que pensou em
cada detalhe, de como seria. Passou muito tempo de sua
vida tentando descrever nos mnimos detalhes. Mais uma
vez fao a pergunta: voc teria coragem de trocar seus
sonhos com Deus? difcil fazer essa troca, pois voc
est trocando o certo pelo duvidoso. E se os sonhos de
Deus forem menores que o seu? Esse um risco que a
nossa protagonista correu. Delicie-se na histria de uma
mulher que trocou os sonhos com Deus. Quando tudo
parecia que ia ficar do jeito que ela imaginou, sua vida
mudou completamente e ela teve que mudar de planos.
Essa uma histria para ser vivida depois de lida.
Tatiana Rocha
7
8I - PROLAS
Sempre procurei fazer tudo certinho, com manda a
Bblia. Sempre acreditei em Deus como um Pai, eu
procurava ser a melhor filha do mundo para o meu Pai,
no decepcion-lo nunca, queria que Deus olhasse do
cu para mim e ficasse contente por me ter como filha.
Uma das primeiras coisas que fiz foi trocar os
meus sonhos pelos Dele. Fi-lo logo aps ler a histria de
Suzi. Ela tinha um grande amor por seu colar de prolas,
mesmo que estas fossem falsas. Ela o amava por que
seu pai lhe dera. Por sua inconstncia em casa, pois
viajava muito, quando chegava, os dois faziam festa na
sala da casa. Numa de suas viagens, aps percorrer o
Oriente Mdio, seu pai chegou em casa com muitas
saudades.
Aps brincarem por um tempo, seu pai lhe
perguntou se ela o amava, ela respondeu que sim. Claro
que o amava, ento ele lhe pediu que ela desse-lhe seu
colar de prolas, ao que ela respondeu que no daria,
pois amava as prolas tambm. Seu pai saiu do quarto e
deu-lhe um beijo de boa noite. Suzi passou a noite
pensando no pedido de seu pai, aquela manh tambm.
9Quando chegou a tarde pegou seu colar de prolas e se
dirigiu ao seu pai e lhe entregou:
- Tome papai, eu o amo mais que as minhasprolas.
Seu pai pegou uma maleta que estava perto e
abrindo-a tirou uma colar de prolas, estendeu para Suzi
e disse que era um presente.
-Oba! Prolas de verdade!.A primeira coisa que pensei foi que eu tambm
poderia trocar com meu Pai as minhas prolas falsas
pelas prolas dele que eram verdadeiras. E o fiz. S
tinha um problema, eu iria trocar os meus sonhos,
aqueles que tanto idealizei, planejei, e que tanto
esperava alcanar, pelos sonhos de Deus para mim, e eu
no sabia quais eram. E se fossem piores que os meus?
Eu queria me formar, voltar para casa, cuidar de minha
famlia e tentar conquistar o meu grande amor, Lucas,
um amor que eu nutria por mais ou menos sete anos.
No eram grandes sonhos que eu jamais pudesse
realizar, eu s queria uma vida tranqila e nada mais,
no era pedir muito para Deus.
Eu estava na metade da minha faculdade, quando
li a histria acima e decide trocar as minhas bijuterias
10
pelas jias de Deus. No relutei muito, at senti certa
paz, era como se eu estivesse fazendo a coisa certa,
mais depois uma dvida surgiu, e ento me perguntei se
tivesse feito a melhor escolha. S dali a alguns anos teria
a resposta de todas as perguntas, mas sinceramente eu
sabia que Deus no me daria algo ruim, pois Ele afirma
na sua Palavra que se pedirmos uma ma para Ele no
nos daria uma serpente. Ento iria honrar a minha f. Eu
tinha que confiar em Deus mais do que tudo.
A cada dia que passava eu contava os dias para
que eu pudesse voltar para casa. Muitas vezes me
peguei pensando em como seria se eu no tivesse feito a
troca e ficava me perguntando como seriam os sonhos
que Deus tinha guardado para mim. E se Deus quisesse
que eu fosse morar em outro lugar? E se eu tivesse que
renunciar o grande amor da minha vida? Era um risco
que eu tinha que correr. Alm de tudo se Ele me tirasse
tudo isso, Ele me daria algo melhor, tenho certeza. Mas
nem sempre eu pensava assim, s vezes me
desesperava e na angustia, se pudesse voltar atrs no
faria tudo de novo. Mas depois me ajoelhava e pedia
perdo a Deus pelas minhas palavras. A luta em mim era
grande, e ainda tinha o tempo que no passava, isso me
11
deixava mais irritada. Eu s queria saber os planos Dele
para mim, isso me deixaria mais calma, mais Ele ficava
calado. Ele queria que eu confiasse Nele para tudo,
assim eu estaria usando a f.
Ao terminar a faculdade, fui morar com meus pais
em outro estado. A felicidade em mim era tamanha, era
visvel em meus olhos e boca.
Tinha sado de casa para tentar uma faculdade em
outro lugar, pois onde morvamos era mais difcil. Passei
algum tempo fora, uns quatro anos, mais no foi tempo
suficiente para apagar o amor que sentia pelo Lucas. Dia
e noite eu me imaginava chegando em casa e ele l para
me d um abrao. Ele no era o rapaz mais bonito da
igreja, mais era o que mais me chamava ateno. Seu
jeito era extraordinrio de lidar com as pessoas. Todos
os dias eu orava para que Deus o pudesse livrar das
namoradas, eu o queria muito. De todas as maneiras eu
tentava chamar sua ateno, procurava ser a melhor em
tudo para que ele pudesse se orgulhar de mim e me ver
como mulher e no como uma irm da igreja, como sua
amiga. Fui em busca de uma vida melhor para ns dois,
j que ele no era muito dado aos estudos.
12
Eu o conheci depois que ele se converteu. Jesus
operou muito em sua vida, Jesus o transformou da gua
para o vinho, era impressionante ouvir sua histria, sua
vida, mais impressionante ainda era ver como ele estava
agora.
Quando fui morar em outro lugar, ns sempre
conversvamos a respeito de tudo, ramos os melhores
amigos, mais eu o amava de um modo diferente, no o
queria t-lo como amigo, mas como companheiro, mas
nunca tive coragem de falar. Preferia que ele sempre
fosse meu amigo do que perd-lo e nem assim ter ele.
Depois que fui, perdi o contato com ele. Minha irm
sempre me dizia como ele estava, e numa dessas
noticias ela me diz que ele tinha namorada, ou melhor,
noiva. O cu caiu sobre a minha cabea. A culpa de
Deus, que no livrou ele, eu sempre dizia. O maior susto
foi quando descobri quem era. Tudo bem se fosse com
qualquer menina da igreja, mas aquela no. Seu nome
era Vilma. O que mais me deixou com raiva que ela
no tinha testemunho de crente. Como ele poderia ter
olhado para ela. Como Deus poderia ter dado o trofu
para ela, se foi eu que tinha lutado por ele durante dois
anos, para que ele pudesse se firma r na palavra e ser
13
uma beno. Eu duvidava da justia de Deus, se Ele
justo porque deixou que eles dois namorassem? Tudo
bem eu sou crente, vou me comportar como tal. Ento
comecei a orar para que Deus abenoasse aquele
relacionamento, mesmo que o meu corao no
desejasse isso era o que minha boca pedia.
Certa vez o telefone toca, era pra mim. Quase
pulo de alegria quando minha irm me fala que o noivado
do Lucas tinha acabado. Tinha uns dois anos que eles
tinham iniciado o relacionamento, mas ela, no se sabe
como, se desviou e terminou tudo com ele. Tinha toda
certeza, ou era Deus com providencia para mim, ou era
Deus com livramento para ele. Nesse perodo de tempo
em que eles estavam juntos, iniciei um namoro com um
rapaz da localidade onde eu estava morando, no
demorou um ms. Eu no o amava e ficar com ele cada
dia era mais difcil, tinha plena certeza que no era da
vontade de Deus.
Foi depois de tudo isso que troquei os meus
sonhos com Deus. No foi nada fcil para mim. Era como
ter nadado o oceano inteiro e morrido na praia. Mas eu
no podia prever nada sobre o futuro, tinha que deixar
14
tudo nas mos de quem onisciente, Ele saberia qual o
melhor caminho a seguir.
difcil tomar uma deciso dessas, pois implica
que eu deveria renunciar muitos planos, muito sonhos.
Era preciso ter muita coragem para fazer isso. Eu tinha
que fazer isso, pois uma das coisas que sempre quis foi
estar no centro da vontade de meu pai. O que mais me
preocupava era o que estava por vir. Se Deus no
quisesse que eu casasse com o grande amor da minha
vida? Essa era pra mim uma pergunta crucial, era a que
mais me maltratava por dentro. Eu no tinha olhos para
outros rapazes, no queria nem um deles. Se Deus
dissesse para eu esperar por Lucas que s daqui a trinta
anos ele me daria a bno que eu tanto esperava,
esperaria sem titubear. Mas se Ele dissesse que no
nunca, como eu ficaria? Eu j tinha planejado que se eu
um dia casasse com Lucas eu seria a melhor esposa do
mundo. At me imaginava lavando suas roupas, fazendo
jantar para quando ele chegasse. Eu o amava e queria
viver o resto de minha vida com ele.
15
II CHEGANDO EM CASAPassou muito tempo antes de eu v-lo depois que
Vilma tinha terminado tudo com ele. Quando cheguei em
casa, foi aquela emoo. Tinha chegado com um diploma
na mo. Isto era motivo de orgulho para os meus pais.
Todos os meus planos at ali estavam se cumprindo, e
s vezes eu at me perguntava se Deus tinha ouvido
quando eu fiz a troca, pois um de meus sonhos era ir
para casa depois que terminasse a faculdade de
licenciatura em qumica.
Aparentemente no via Deus agindo ou mesmo
modificando meus sonhos. Quando dei minhas prolas a
Ele, elas eram simples. Eu s queria me formar, ir para
casa de meus pais e casar com Lucas. Formada j
estava, e tambm j tinha ido para casa de meus pais
ento s faltava o ltimo sonho.
O Lucas foi logo me ver. Nosso encontro foi
maravilhoso. Eu o abracei com tanta fora que parecia
que no o via h sculos. Conversamos muito sobre
tudo, a qualquer momento eu esperava que ele me
pedisse em namoro, mas depois de muito tempo
conversando, isso no aconteceu. Eu no entendia o
porqu que ele no se declarava, pois era visvel nos
16
olhos dele que me amava. Porque que ele no tem
coragem de se declarar? Eu perguntava muito a Deus.
Senhor abre a boca dele e faz com que ele fale, essaera a minha orao. Resolvi esperar pela vontade do
Lucas para me pedir em namoro. Eu no queria faz-lo
por que aprendi que quem o faz o homem e no a
mulher. At porque ele sabia que eu o amava e que
queria passar o resto da vida ao seu lado. Talvez ele
tivesse medo. As duas ltimas namoradas dele o haviam
trado e se desviado. Mas eu tinha certeza que isso no
iria acontecer comigo, pois eu amava a Deus em primeiro
lugar de tudo na minha vida. s vezes ele me dizia que
eu no o merecia por eu ser muito esforada nos estudos
e ele no. Ele no tinha completado os estudos e sempre
trabalhava com servio braal, enquanto que eu
prossegui os estudos. Ele sempre dizia que eu mereceria
uma vida de melhor qualidade. Qualidade para ele era
conforto, para mim era est ao lado dele e adorar a
Deus.
Logo que cheguei consegui um emprego numa
escola perto de casa, iria lecionar para o ensino
fundamental. No passou muito tempo consegui outro
emprego para lecionar para o ensino mdio. Como minha
17
formao era licenciada em qumica e como havia
poucos professores de qumica no mercado, no tive
muitos problemas com emprego. At cheguei a recusar
servio. Ganhava o suficiente para ajudar em casa e
guardar um dinheiro na poupana. Esta poupana fiz
com o pretexto de comprar uma casa pra mim (mas na
verdade era pra mim e para o Lucas, quando este me
pedisse em casamento). No muito tempo depois, passei
num concurso pblico para professores em minha cidade
e numa cidade vizinha. Ento tive que deixar um dos
empregos, ficando ento com trs horrios. Trabalhava
pela manh em minha cidade, pelo municpio, de tarde
trabalhava numa escola particular e a noite me deslocava
para outro municpio vizinho. Minha vida profissional era
muito agitada.
Com a poupana economizei um bom dinheiro
durante o primeiro ano que trabalhei. Sonhava a cada dia
com o futuro e ficava feliz por ver at aquele momento
que Deus no havia mudado meus planos. At aquele
momento.
Eu ia chegando de mais um dia de trabalho
exausta, ao chegar a minha rua dei de cara com o Lucas
de mos dadas com a Amanda. Naquele momento meu
18
teto desabou. Como pode ele namorar com a Amanda se
ele nunca me comentou nada, pois ramos amigos e
sempre conversvamos sobre tudo? Meu corao
comeou a sangrar, mas meus olhos no derramaram
uma lgrima, tinha de ser forte. No fui questionar a
Deus, entrei em casa e fui tomar uma ducha. Tinha que
voltar logo para o outro trabalho. Naquela noite eu no
consegui dar uma boa aula. No saia do pensamento
aquela imagem. Voc podem at pensar que estou
fazendo tempestade num copo de gua. Mas o Lucas
no abraaria ningum, alm de mim, se no fosse sua
namorada. A culpa minha, pensava eu. Eu me
preocupo tanto com a famlia querendo dar o melhor pra
eles, que no d tempo para ficar mais com o meu
amado. Eu deveria dar mais ateno a ele e quem sabe
assim poderia conquist-lo. Mas agora tarde, tenho que
esperar pela vontade de Deus, e como eu queria que a
vontade Deus fosse a minha.
Resolvi no desistir e continuar poupando
dinheiro, a minha me sempre me perguntava pra que eu
poupar tanto se o dinheiro que tinha j dava pra comear
a fazer minha casa. Eu sempre respondia que queria
fazer uma casa bem grande. Tinha esperana que um
19
dia ele terminasse tudo com ela e viesse ficar comigo.
Mas no era isso que Deus queria para mim e eu teria
que aceitar. S saberia disso mais tarde.
20
III O PESADELO
Havia passado um ano desde que comearam a
namorar e j estavam noivos. Eles estavam apaixonados
e era visvel nos olhos deles. Tinham marcado o
casamento para o final daquele ano, mais precisamente
no dia vinte e trs de dezembro de mil novecentos e
noventa e nove.
Eu havia trabalhado como uma doida durante dois
anos para comprar uma casa de acordo com o nosso
gosto e agora depois de tanto esperar vi tudo se
desmoronando, at pude ouvir a zoada do vidro no cho,
assim foi meu sonho de casar com Lucas.
Ele mandou um convite para mim e at me
convidou para ser testemunha de seu casamento, mas
eu recusei o convite. Disse que tinha que ir para uma
confraternizao da escola onde trabalhava e no podia
faltar porque tinha que apresentar um relatrio do ano
todo para a coordenao. Era mentira. Eu tinha
reservado uma noite num hotel perto da praia e ia passar
a noite ali acompanhada da solido e das lgrimas.
Todos estranharam o porqu de eu no ter ido
festa, afinal ele era meu melhor amigo. O que ningum
21
sabia era que eu amava o Lucas, pois havia escondido
de todos, com exceo de Diego, que era meu melhor
amigo e do Lucas tambm. Certo que todos
desconfiavam, mas eu nunca assumia, sempre
desconversava.
Tinha esperana que no dia seguinte, eu chegaria
em casa e algum viesse me contar que ele no havia
casado, que tinha dado algo errado, que a noiva tinha o
abandonado na porta do altar. Eu at imaginava que ele
viria para que eu pudesse o consolar, ai ento ele cairia
na real e resolveria me amar.
Passei a noite chorando. A toda hora vinha em
meu pensamento a cena de um casamento, e isso me
torturava ainda mais. Doa-me muito pensar que passei a
vida toda esperando que essa hora fosse minha, e no o
era. Falava sempre para Deus como queria meu
casamento com o Lucas. Entre pensamentos e lgrimas,
adormeci.
Quando acordei, senti uma raiva to grande de
tudo o que tinha acontecido. As minhas esperanas no
tinham acabado ainda, ento resolvi telefonar para o
Diego, perguntando noticias do Lucas. Como eu queria
que ele no tivesse casado que ele tivesse desistido, eu
22
teria sido a melhor esposa para ele, isso eu tenho
certeza.
Quando Diego atendeu o celular, ele perguntou
logo onde eu estava e se estava bem. Disse-lhe onde
estava e perguntei se ele podia e me ver, queria muito
conversar com algum. Ele havia acompanhado todo o
meu sofrimento, ele iria me entender. Diego no demorou
muito para chegar. Quando ele entrou na sala do quarto
do hotel eu corri para lhe dar um abrao, mas no era um
abrao de recepo, era um abrao de carinho que eu
precisava. Logo perguntei como tinha sido o casamento
do Lucas, ele me respondeu que havia corrido tudo muito
bem, e que Lucas havia sentido minha falta. Ento ele
comeou a me aconselhar:
-Voc j deveria ter esquecido o Lucas. Voc
sempre soube que ele te amava de um modo diferente.
- Ele nunca me amou, essa a verdade, se me
amasse estaria comigo, mas no est, pelo contrrio est
casado com outra. Voc acha que para mim fcil ter
esperado por algum por sete anos e no final das contas
ele se casar com outra, voc acha isso justo? Onde est
a justia de Deus nesse caso?
23
-Talita voc no pode pensar assim. Voc tem que
aceitar a vontade de Deus em tua vida. Talita, voc
sempre fala que Deus fiel, e Ele o est sendo agora
para contigo.
-Voc vem me falar de fidelidade? Onde poso ver
a fidelidade de Deus? No, no me pea para ver algo
que acabei de experimentar que no existe.
-Voc uma mulher forte, conseguiu vencer
muitas barreiras na tua vida, vai conseguir vencer mais
esta.
-Voc no sabe o que est falando, voc nem ao
menos sabe o que estou sentido agora. Voc no sabe o
que dedicar sete anos da tua vida a algum esperando
uma migalha de amor e no final no receber uma
fagulha. Voc sabe quantos rapazes eu deixei de
namorar por causa dele? Sabe quantas vezes me
esforcei para ser forte, para que ele pudesse reparar em
mim e me ver como uma mulher forte e determinada? Eu
perdi sete anos, no foram sete meses nem foram sete
dias. Sete anos que eu o esperava. Sabe quantas vezes
ele me deu esperanas quando me olhava de um jeito
diferente, quando me convidava para sairmos?
24
-Talita, sei que no fcil para ti. Vou te contar
algo que guardei por muito tempo a pedido de Lucas,
mais, por favor, nunca diga para ele que um dia te contei
isso.
-Ento fale logo!
-O Lucas te amava tanto quanto tu o amava, mais
um dia quando a gente estava conversando , toquei no
assunto, e ele me disse que queria muito casar contigo
pois sabia que voc o amava muito, e ele tambm, mas
no o poderia fazer porque no poderia dar a vida com
que voc estava acostumada. Ele sabia que seus pais
lhe mimavam muito. Ele at queira te pedir em namoro
mais voc teve que ir embora para fazer faculdade em
outro lugar, ento ele perdeu todas as esperanas. Voc
nasceu para voar alto, dizia ele, e ele nunca poderia te
prender ou cortar as tuas asas. Mas ele no tem o
mesmo estudo que voc, no tem nem diploma de
segundo grau. Ele disse que voc merecia vida de
rainha, pois era o que voc era.
-Isso no justifica. Como ele pode abdicar do
nosso amor por causa de um diploma? Ele sabe que eu
enfrentaria tudo para ficar ao lado dele. Eu mesma j
havia lhe dito que meu maior conforto era est ao seu
25
lado. Eu no quero um amor heri, daqueles que
abdicam-se para conforto do outro, eu quero o amor
realista, com todos os defeitos e qualidades, com todas
as lgrimas e sorrisos...
-Sabe, no era para eu ter te contado tudo isso,
mas vou te dar um conselho. Sei que voc tem uma
poupana, para comprar uma casa para voc e ele,
ento pegue o dinheiro e v para outro lugar, um lugar
que voc gostaria de visitar, passe um tempo l e s
depois que tiver esquecido o Lucas que voc retorna.
-No sei se essa a melhor escolha, queria ficar,
amo minha famlia, j me basta ter perdido o Lucas, e
agora voc quer que eu me afaste da minha famlia!
-Voc nunca o esquecer se no se afastar. Tente
voc no perder nada com isso.
Durante a conversa com o Diego, me lembrei que
desde a stima srie, quando vi atravs de livros umas
gravuras do Canad, que sempre tive vontade de
conhecer esse pas. Ento resolvi que iria passar uns
dias nesse pas. Essa conversa com Diego fez me
lembrar desse meu antigo sonho, que eu havia
renunciado para ficar perto dele. A partir desse momento
eu percebi o meu erro, fazer Lucas como o centro da
26
minha vida. Tanto que eu lia que Deus abominava
idolatria e eu nem percebi o quanto o idolatrava, e isso
era arriscado para mim.
No outro dia, fui embaixada canadense, mas na
minha cidade no tinha, tive que me deslocar capital do
pas, para conseguir um visto. Como o Canad tem
densidade demogrfica pequena e tem pouca mo de
obra, geralmente em algumas pocas eles liberam a
entrada de imigrantes, minha sorte que estava
justamente nessa poca. Ento ficou tudo mais fcil.
Comprei as passagens para no muito tempo depois dali.
Antes fui a casa avisar que estava indo conhecer o
Canad. Claro que falei que era como turista, se falasse
que fosse para ficar por uns tempos, minha me no
deixaria.
Antes de subir no avio, olhei para trs e refleti se
era realmente isso que eu queria para mim. Olhei para
frente e um mundo se abriu. Sei que no seria fcil no
comeo me adaptar a um pas gelado, conhecer novas
pessoas, iniciar do zero. Mais eu tinha que faz-lo.
Foram doze horas de viagem at Nova York, paramos,
pois fazia parte da escala. Eram mais duas horas de
viagem de Nova York at Toronto. Aproveitei para
27
comprar uns agasalhos para me proteger do frio glacial
de Toronto.
28
IV BARREIRAS TRANPOSTAS
Ao chegar cidade, fiquei maravilhada com as
paisagens que vi, eram mais bonitas que no livro de
stima srie. A primeira coisa que fiz foi procurar um
templo da Assemblia de Deus, e logo eu encontrei. Era
uma igreja bonita e grande, diferente das que vi no Brasil.
Ao entrar, encontrei uma senhora limpando o
templo com muito zelo e amor. Sua dedicao ao passar
o pano em cada banco me levou a meditar no zelo de
Deus por nossas vidas.
Resolvi perguntar se ela queria ajuda e ela afirmou
que sim. Durante certo perodo fiquei ali tentando limpar
os bancos e a minha mente. Percebi que ela me olhava
com certo espanto. Talvez estava pensando que eu fosse
algum tipo de doida, ou maluca. Num pas to agitado
daquele jeito encontrar algum que se dispusesse a fazer
servio pesado....
Aproveitei para fazer amizade com ela. Era uma
mulher de sorriso fcil, com cabelo prateados, mas uma
postura nobre. Foi quando descobri que ela era a mulher
do pastor local.
29
Ela me fez vrias perguntas, de onde eu era, o
que fazia, porque estava ali, o que fazia quando estava
no Brasil, onde estava hospedada e muitas outras
perguntas. Sinceramente achei-a muito legal, apesar de
suas inmeras perguntas e questionamentos, parecia
que queria me testar. Aceitei o convite para assistir o
culto noite. Cumpri minha palavra.
O culto l diferente do que estava acostumada a
ver, apesar de estar na mesma denominao, era mais
agitado, bem diferente, porm no menos espiritual.
interessante ver que cada povo tem sua cultura de
adorao, porm o que me deixa mais feliz que eu ouvi
a voz de Deus. Sinceramente, eu fiquei maravilhada.
Assim que terminou o culto, a senhora Hannah me
apresentou ao seu esposo. Ele era um senhor bem alto e
forte, tinha a voz grossa e um grande censo de humor.
Ao me conhecer me deu logo um abrao e falou voc a minha mais nova filha do corao, fiquei espantadacom tamanho afeto. Foi a senhora Hannah que me levou
para conhecer a cidade e tambm me indicou para um
emprego na escola para estrangeiros. L eu seria
professora de qumica para o ensino mdio. Mas antes
tive de fazer trs testes.
30
O primeiro foi um exame de validao de diploma,
passei. O segundo foi uma prova para selecionar os
melhores candidatos, passei. E o terceiro, foi dar uma
aula para os coordenadores da escola, o assunto foi
sorteado na hora, eu fiquei com a parte de tabela
peridica, simplesmente dei um show, pois era um
assunto que gostava e dominava muito bem. Passei em
primeiro lugar nas trs fases e assinei contrato com a
provncia Toronto. Foi a partir da que resolvi ligar para
minha me e lhe contar que ficaria no Canad. Minha
me j desconfiava que eu ficasse, era s questo de
tempo.
Aluguei um apartamento pequeno, com trs
cmodos e um banheiro. Era muito pequeno mesmo, era
uma sala que era repartida com a cozinha e o quarto.
Inicialmente comprei uma cama, fogo, cadeiras, mesas,
utenslios para cozinha, uma pequena geladeira e um
microondas. Como as aulas ainda no haviam
comeado, eu procurava passear muito, para refletir na
vida. s vezes dona Hannah me convidava para passar
um dia em sua casa. Eu sempre ia e aproveitava para
limpar a igreja com ela e conversar muito, assim aprendi
31
que inteligncia diferente de sabedoria, algo que me
faltava.
Muitas vezes me sentia sozinha desamparada,
sempre dava vontade de voltar para o Brasil, de ligar
para saber se o casamento do Lucas estava bem, mas
eu no podia desistir, j havia lutado muito e o mais difcil
eu j havia conseguido, era um emprego.
Estava tendo inscrio para mestrado em uma
universidade prximo escola, fui l e me inscrevi, a
partir de ento comecei a me preparar para fazer o
exame de seleo, que seria no muito longe daquela
data. Quando fui fazer a prova estava muito nervosa,
mas consegui ter um bom aproveitamento, e como no
Brasil j havia feito duas especializaes, tinha grandes
chances de entrar, apesar de nossas ps-graduaes
no valerem muito por aqui.
Passava muito tempo na casa de meu pastor. No
sou muito observadora, mas no pude deixar de notar
um certo porta-retrato na mesinha de perto do sof. Era
um porta-retrato de cristal com bordas douradas e umas
rosas na lateral, era muito bonito, assim como a jovem
que estava na foto. Ela no teria mais do que 16 anos.
Aquele rosto com certeza eu j havia visto, porm, com
32
cabelos prateados. Eu no queria ser indiscreta, mas eu
j tinha alguma intimidade com a famlia, o que me
permitia ser um pouco curiosa e indiscreta. Ento falei:
- Sua foto aos 15 anos est linda senhora Hannah,
a senhora mudou pouco, continua com o mesmo sorriso
lindo.
Foi quando vi seu rosto iluminado mudar. Naquela
foto no era a senhora Hannah, mas sua filha...
V DOR DE ME
33
Aps meu casamento passei dois anos sempensar em filhos, queria s curtir o meu casamento.
Depois desse tempo resolvemos que eu iria engravidar.
Mas passou-se trs anos e eu nunca conseguia
engravidar. Fizemos muitas campanhas de orao e
somente depois de dois anos e que tive meus primeiros
filhos. Falo assim porque Deus me deu um casal de
gmeos. Eles eram os bebs mais lindos que eu j tinha
visto. Eram fortes e saudveis.
Ela era muito parecida com voc, tinha o seu
sorriso, o jeito de falar, de sorrir, de olhar para as
pessoas, de brincar, ela tinha uma personalidade forte,
assim como voc. Nossa vida era muito boa, eu amava
meus filhos e meu marido. No faltava nada para minha
felicidade ser completa.
Quando eles completaram quinze anos, houve
uma viagem na igreja, era um retiro espiritual. Eu no
queria que eles fossem mais insistiram tanto para ir que
acabei deixando. Quando estavam voltando da viagem o
nibus em que estavam capotou, dos dois, s o Allam
sobreviveu, a Alice Jesus levou. Minha vida desmoronou.
34
Desde ento no queria mais saber de nada, s
queria esperar o dia em que iria encontrar minha amada
filha. Isso j faz muito tempo, onze anos mais
precisamente. Ao v-la sendo enterrada era como se
estivessem enterrando um pedao grande de mim. Eu
afirmo com todo o meu amor que eu teria dado minha
vida para salv-la.
Durante esses quatorze anos eu no sai de casa,
o quarto dela ainda est do jeito que ela deixou quando
foi viajar. Meu esposo e meu filho sofreram muito com
tudo isso que estava acontecendo e principalmente com
a minha dor. Foi mais dolorido ainda quando o Jnior
teve que ir para a faculdade, ento ficamos somente eu e
meu esposo. Foi a partir da que eu me fechei mais
ainda.
No faz muito tempo e a pessoa que limpava a
igreja teve que ir embora ento eu pedi ao Allam para
assumir o lugar dela, queria sair daquele estado, tinha de
fazer algo para o meu Deus. Desde ento tenho esse
prazer de limpar a casa do meu Deus.
Sabe, Talita, acho que Deus me colocou onde eu
estou para te conhecer. Voc me faz lembrar da minha
filha, me trouxe a alegria de ser me de uma garota
35
novamente, no sei o porqu que voc esta aqui, mais
tenho certeza que foi proviso de Deus.Nossa que histria. Durante o tempo que ela me
contava, correram umas lgrimas quentes em meu rosto.
Eu nunca imaginaria que ela tivesse tanto carinho assim
por mim. O olhar dela denunciava todo o amor maternal.
Do lado da Alice na foto tinha um rapaz que deveria ser o
Allam. Ele parecia alto, tinha os olhos azuis e um sorriso
muito bonito. Logo preconceituei-o. Seu pai era pastor,
sua me lhe mimava muito, fazia faculdade, e era muito
bonito, ento s poderia ser um tremendo chato. No
gostei dele s de pensar no que ele poderia ser.
Depois ela me contou que ele tinha feito faculdade
de medicina, na especialidade de pediatria. Isso s
reforou minha tese. Hoje ele mdico em Montreal,
mas s vezes vem visitar os pais.
A partir daquele dia em diante eu passei a cham-
la de me, isso fez com ela abrisse um enorme sorriso.
Nosso relacionamento passou de amigas para me e
filha.
36
VI - BAJULAO
O resultado do exame saiu. Consegui passar e
agora ia fazer mestrado. Trabalharia de manh e fazia
mestrado de tarde. O curso tem a durao de dois anos.
Minhas mes fizeram uma festa ao saberem da minha
vitria. A minha nova me principalmente, pois ela
sempre sonhou que Alice iria dar esse orgulho para ela,
eu no era a Alice mais estava ocupando um lugar que
era dela.
Comecei a lecionar e a estudar. Como no tinha
tempo de fazer minha comida, minha me resolveu que
eu ia comer na casa dela todos os dias. Comecei a
freqentar constantemente a casa deles, j me sentia em
casa, na verdade eu estava em um lar. No raras vezes
dormir l, pois minha nova me tinha medo que eu fosse
muito tarde para casa. Ela tambm no concordava que
eu dormisse sozinha no meu apartamento.
s vezes no gostava de tanta bajulao, mas era
bom ter algum para se preocupar conosco. Ela
realmente cuidava de mim como uma filha. s vezes me
lembrava do Lucas e uma tristeza invadia meu corao.
37
Estava ali para esquec-lo e ainda no o havia
conseguido.
Os dias foram passando. A imagem de Lucas ia se
apagando da minha memria igual quando voc pega
uma roupa escura e coloca no sol, depois de um tempo
essa roupa vai clareando. Assim era a imagem de Lucas
em minha mente, estava se rarefazendo. Na verdade, ele
ainda estava escondido em mim, pois todas as vezes que
eu olhava o nome Lucas em qualquer lugar meu corao
acelerava um pouco mais. H alguns dias eu havia
percebido que essa acelerao estava diminuindo, mas
ainda assim havia uma palpitao em meu peito.
Apesar de tudo eu estava feliz e serena. Depois
de tudo o que eu passei eu havia decidido que eu seria
feliz. Mesmo que tudo desse ou d errado eu optei pela
felicidade. Eu no deixaria que qualquer coisa apagasse
de meus olhos o brilho de Jesus. Essa foi minha deciso
para toda a vida.
Eu acabei descobrindo que a felicidade somente
dependia de mim e no do Lucas. Minha lei agora
essa: est decretado para todo sempre que Talita ser
feliz, independentemente de qualquer circunstncia
adversa. Tambm proibido tirar o sorriso do rosto,
38
mesmo que as lgrimas teimem em rolar. Chorar
somente permitido se for de alegria. No brega cantar
na chuva. No permitido fechar as janelas do carro
para no desfazer o penteado, mais valioso o vento no
rosto. Nada de passar fome para emagrecer, pipoca
contm fibras.
Claro que a minha legislao no to coerente
assim, mas o que vale a inteno de ser feliz. Todos
deveriam ter sua legislao da felicidade.
39
VII PISCINA DE PLSTICO
Allam Jnior chegaria em breve. Graas a Deus
que ele viria justamente na poca das provas, isso me
daria a desculpa de no aparecer muito na casa da me
Hannah.
Me me ligou perguntando se eu queria ir at o
aeroporto com ela e o pastor para a chegada do Allam,
disse-lhe que no podia ir, pois estava com um monte de
provas para corrigir e colocar notas no dirio escolar. Ele
iria chegar na manh de sbado, mas prometi que depois
passaria l para conhec-lo.
Por volta do meio dia a campainha toca, corri para
pegar o dinheiro da pizza e receb-la. Ao abrir a porta
tive uma grande surpresa ao ver me e um homem de
dois metros de altura na minha porta. Quando ela viu o
dinheiro na minha mo foi logo reclamando:
-Mais voc no tem jeito! J tinha encomendado
uma pizza, no ! Como eu sabia que voc no faria
comida mais iria encomendar pizza ou lasanha, vim te
convidar para comer comida saudvel.
Ela foi entrando no apartamento e contemplando
a baguna que estava. Papeis empilhados no cho e
40
sobre a mesa. Ela no perdeu tempo e comeou a ajeitar
toda aquela baguna organizada. Enquanto ela arrumava
as coisas eu pedia para ela no se preocupar, pois tinha
separado as provas que tinha corrigido das que no
tinha. Ela se levantou e me apresentou o Allam.
-Ah! Ento voc que minha nova irm?
Realmente voc tem o sorriso parecido com o de Alice.
Ele se props a me ajudar a corrigir as provas,
disse-me que se no fosse mdico seria professor. Claro
que eu recusei. Ele insistiu tanto que resolvi dar uma
chance para ele. J de banho tomado fui para casa de
Me, j que vieram me buscar para ir para l. Queriam
que eu conhecesse bem o Allam Jnior. O prprio me
convidou para tomar banho de piscina. Piscina? Onde?
Na casa do pastor no tem piscina. Ser que alm de
chato ele seria esquizofrnico?
Quando cheguei l o pastor estava fazendo
churrasco (no confundam nosso churrasco com o deles.
Eles usam hambrguer, ns usamos carne). A grande
piscina estava no quintal. Mil litros de gua em um
reservatrio de plstico. O pastor tinha um bom senso de
humor.
41
Allam chegou-se at mim e perguntou se eu
queria banhar na piscina, respondi que no.
Sinceramente no estava querendo fazer amizade com
ele. Ele foi e sentou-se na piscina, o pastor foi logo atrs.
Aquela cena eu no podia esquecer. Quanta diferena...
ainda bem que no usavam sunga, mas o short que
usavam era bem engraado, com seus coqueiros e sis e
ambos tinham um.
Mame insistiu para que eu pudesse entrar
tambm. Foi quando percebi que o Allam estava atrs de
mim, saiu me puxando pelos braos e derrubou na
grande e profunda piscina de plstico. No vou mentirque me divertir um pouco, mas no dei o brao a torcer.
Eu fazia o papel de irm mais nova, procurava ser
chata, arrogante, ser uma mala sem alas. Mame
perguntava o porqu de eu tratar o Allam assim. Tratoele como trataria qualquer um, sempre eu respondia. Elepassou uma semana em Toronto. Depois disso ele
sempre ligava para saber como estavam as coisas.
Nesse perodo eu conheci o David. Ele era vivo e
tinha um filho de seis anos de idade. David casou-se
muito cedo para os padres canadenses. Logo no
primeiro ano de casamento sua esposa engravidou, mas
42
veio a bito no momento do parto. A criana sobreviveu.
David o chamou de Benjamim, mas seu apelido era Ben.
O pequeno Ben.
43
VIII - BENJAMIM
Conheci Ben na escola dominical, eu era
professora das crianas, e Ben era meu aluno. Ele era
calado, tmido e parecia muito triste. Pedi-lhe para falar
com seu pai. Foi assim que conheci o David. Aps sua
esposa ter falecido ele no se casou mais. Os dois
pareciam muito carentes de afeto.
O pai de Ben me convidou para jantarmos. Aceitei.
Foi uma noite maravilhosa, nunca havia me divertido
tanto. Foi nessa noite que ele me pediu em namoro. No
respondi de imediato, mais prometi que pensaria e oraria.
David era um homem fabuloso, me fazia rir a bea e era
muito romntico. Como no o conhecia muito bem fui
procurar informaes para que as pudessem me dar com
maior preciso, minha me. Ela me contou toda a histria
de David e me deu timas referncias sobre ele, resolvi
ento dar uma chance para ele conquistar meu corao.
David ficou muito feliz com a minha resposta. Mas
o meu irmozinho no ficou muito satisfeito. Alegava-me
que David tinha outros planos diferentes do meu.
Perguntava como, ele sempre me respondeu que era
44
Ben, ele no quer uma esposa, ele quer uma me parao seu filho.
Sempre gostei muito de crianas, e Ben era
especial. Ele precisava de muito carinho materno, e eu
procurei dar a ele todo o meu amor de me. Quando no
estava trabalhando e nem estudando, ficava cuidando do
Ben. Fazia tudo para agradar-lhe e aos poucos fui
conquistando sua confiana, depois de algum tempo ele
perguntou-me se eu queria ser sua me. A este apelo
respondi que sim.
David trabalhava como engenheiro e muita vez
tinha que viajar, durante suas viagens eu ficava com Ben.
Adorava acordar de manh e fazer o caf dele, preparar
seu lanche e levar-lhe para a escola. Quando terminava
de dar aula ia buscar-lhe, o levava para almoar e ele me
acompanhava para o meu curso de mestrado. Muitas
vezes faltava ao mestrado para assistir Ben jogando
hquei, e no bajulao de quase me, mais ele era
uma fera nesse jogo.
Muitas vezes conversava com David lhe cobrando
mais presena na vida de seu filho. Ele me respondia
que tinha que batalhar muito para dar uma vida digna
para Ben. Quando chegaram as frias levei Ben para
45
conhecer o Brasil. Como sempre o David no podia ir
conosco. Ben me chamava da me, isso causou espanto
para minha verdadeira me.
Eu j havia lhe explicado que tinha um namorado
e que esse namorado tinha um filho, mais eu no havia
lhe dito que esse filho do meu namorado me chamava de
me. Gostava de ser chamada de me. Sempre tive essa
vontade de ser me e acho lindas mulheres quando
esto grvidas, aqueles barriges que mais parecem
uma bola de festa junina.
Ben parecia um pouco comigo, tinha os mesmos
olhos castanhos e passou a ter um sorriso alegre, talvez
era a gentica adquirida. Realmente eu me sentia a
prpria me dele. Eu era a me que ele conhecia. A
mulher que lhe dava carinho, que ia busc-lo na escola,
que assinava seu boletim e lhe admirava enquanto
brincava no parque com outros meninos. Eu me sentia
realmente a prpria me dele quando lhe passava
remdio, se em um jogo com amigos ele casse. Eu
estava muito apegada a ele. Ele realmente era o meu
filho.
46
IX FRIAS COM MEU FILHO
Nossas frias foram maravilhosas. Fomos ao
centro histrico, levei-o para conhecer todas as praias.
Por ele ser branquinho, e andar muito no sol, mesmo
com o protetor solar, ele ficou bem vermelho. Eu vi
aquele menino renascer. Sua fisionomia era outra, ele
agora estava vivendo.
Levei-o para conhecer tambm os lenis
maranhenses, que ele achou esplndido. Adorou banhar
nas lagoas formadas pela gua da chuva, rolar as dunas
de areia. Aps o passeio ele estava exausto, mas ainda
tinha energia para tomar um sorvete de aa durante
nosso passeio noturno pelo beira-rio. Aps o final de um
dia exausto ele descansou em meu colo.
Seu maior prazer era falar a palavra me e ser
correspondido. Passamos vinte dias no Brasil. Minha
me e meu pai se apaixonaram por ele, e ele retribuiu
esse amor. Fomos at conhecer o sitio do meu av, onde
ele andou cavalo. Tiramos muitas fotos, leite de vaca,
corremos pelo campo, tomamos banho de rio e ensinei-o
a jogar pio. Adorou dormir de rede, mais quase caiu.
Uns garotos foram l no sitio onde estvamos e o
47
chamaram para jogar futebol. Ele era todo
desengonado, no sabia jogar nada de futebol,
conseqentemente seu time perdeu e nunca mais foram
cham-lo para jogar, mas apesar de tudo era a
sensao, pois era gringo e no falava portugus.
Comprei para ele um par de patins in line para que
ele pudesse brincar na rua. Dessa vez ningum o
ganhou, ns j estvamos de volta a capital do meu
estado. Apesar de s ter sete anos seu tamanho era de
um garoto brasileiro de dez anos. Nesse tempo que
passamos juntos ele me fez prometer que jamais deixaria
de ser sua me.
Seu pai foi nos buscar no Brasil e gostou muito da
minha famlia, apesar de somente ter passado trs dias.
Lembro-me que Ben perguntou ao pai se ns
poderamos viver aqui no Brasil, David respondeu que
no, mais que assim que pudesse sempre viria para
passear. Do Brasil levamos muitas coisas de lembranas
como camisetas, enfeites, chaveiros, um barco de
madeira, carros de madeira, (que deu um trabalho para
passar pela alfndega), e um grande sorriso de Ben, meu
filho.
48
X O NOIVADO
Aps um ano de namoro, David me pediu em
casamento, para a felicidade de Ben. David me convidou
para jantarmos em um restaurante chins na
comemorao de um ano de namoro. Deu-me um anel
de noivado muito bonito que ele e Ben haviam escolhido.
Era um anel de ouro com um diamante em formato de
corao, no fundo do anel havia escrito as palavras
amor eterno. Nesta noite fizemos muitos planos, eDavid at falou que eu podia decorar a casa como
quisesse, at falou em comprar casa nova. Ben ficou
animadssimo.
Quando cheguei em casa liguei logo para minhas
mes. Elas ficaram felicssimas, diferente do Allam, que
se mostrou preocupado ou mesmo chateado.
Depois de um tempo eu e Allam nos tornamos
amigos-irmos. Conversvamos durante muito tempo ao
telefone. Allam sempre me dizia que queria o meu bem e
que me amava como irm. Sempre quando vinha para
Toronto ns passevamos muito e assim tirei todo o
preconceito que tinha sobre a pessoa dele. Ele era tudo o
que eu no imaginava. Ele realmente me surpreendeu.
49
Foi ele quem me ensinou a andar de patins in-line.
Para isso levei muitas quedas, mais deu resultado. Como
o David era muito ocupado, sempre saamos eu, Allam e
Ben. Allam no queria que eu levasse o garoto, acho que
tinha cimes dele, ou talvez somente a presena de Ben
o incomodava.
Todos os sbados amos eu, David e Ben fazer
compras. Estvamos escolhendo o nosso enxoval. Como
gostava muito da cor verde sempre procurava mais
coisas com essa cor. Estava decidido tambm que no
prximo sbado iramos ver a casa que moraramos.
Sinceramente eu no queria morar numa casa que
respirava outra mulher, a falecida esposa de David.
Muitas vezes antes de conhec-los me pegava
sonhando com meu noivado e as compras para o meu
casamento, escolher as cores, as coisas, tenta combinar
cada uma delas.
Nessas horas adoraria que minha me biolgica
estivesse no Canad, mas ela no podia, tem medo de
viajar de avio. Mas, eu tinha uma me canadense e ela
me ajudou muito. Deu-me palpites do que realmente era
necessrio para se comprar e do que no era.
50
J tnhamos quase tudo. Faltava a casa e marcar
a data de casamento. Este ultimo s faria depois de
comprar o vestido.
Como trabalhava em uma escola, ganhei muitos
presentes, utenslios para o lar. Na igreja fizeram um ch
de cozinha e l novamente ganhei muita coisa.
Sinceramente j no via a hora de me casar, cuidar de
David e Ben, ter uma vida pacata e tranqila, esse era o
sonho que eu tinha no corao e talvez no trocaria por
nada tudo o que Deus estava reservando para mim.
Cada vez que olhava para meu anel de noivado,
imagina o dia em que entraria pela porta da igreja e
David estaria no altar a me esperar com um sorriso de
orelha a orelha, isso me deixava feliz. Ainda no
havamos falado quantos filhos queramos ter alm de
Benjamim, mais eu j pensava em ter pelos menos mais
dois, gosto de casa com muita criana.
Agora a imagem de Lucas era apenas um borro,
como uma fumaa que o vento leva. Como eu posso ter
me enganado tanto assim com meus sentimentos? Bom,
saber que meu respirar no dependia mais de Lucas, me
deixava aliviada.
51
Quando amos jantar fora, e as pessoas nos
perguntavam se ramos marido e mulher, sempre
respondamos que estava bem perto.
Na compra de coisas pequenas que ainda
faltavam no novo enxoval, eu sempre ia sozinha, ele no
tinha muita pacincia nessas horas, at porque eram
muitas peas e eu sou muito indecisa. Demorava um
tempo para escolher as colchas que melhor
combinavam com as cores das paredes do nosso quarto.
E as toalhas de mesa tambm davam um trabalho para
combinar com as cores dos mveis e eletrodomsticos
da cozinha.
Eu amava fazer tudo isso. O que eu sempre
imaginei que iria fazer com o Lucas, agora estava
fazendo com o David, mas dessa vez recproco. Nossa,
at eu me espantei em pensar no Lucas agora. No
procurei saber dele quando fui ao Brasil, nem me passou
pela cabea.
Nesse tempo comecei a trabalhar com os
adolescentes da igreja. No era servio fcil. Eu
ensinava na classe deles, era regente do conjunto e dava
uma de me para eles. Resolvi ento fazer um trabalho
diferente com os adolescentes. Separaramos um dia na
52
semana para nos consagrarmos. Estvamos precisando
disso. No comeo iam poucos adolescentes, mas Deus
comeou a operar de maneira grandiosa e logo o nmero
cresceu.
No demorou muito para que o nmero de
adolescentes batizados com Esprito Santo aumentasse.
Eles comearam a ter uma nova viso do que
realmente ser cristos evanglicos. Era muito
desgastante trabalhar com eles, pois a adolescncia
uma fase conturbada e cheia de indecises.
Depois de algum tempo eu pude ver o quanto
Deus tinha trabalhado. As maiorias deles no tinham
uma viso do que queriam fazer para Deus, achavam
que s vir igreja era o suficiente. Foi gratificante eles
terem chegado at mim e me pedido para orar para que
Deus os fizessem missionrios ou missionrias, pastores,
evangelista, cantores e cantoras. Eles no eram mais os
mesmos.
Nas reunies que fazamos sempre procurava
ensinar-lhes o valor da adorao a Deus e como faz-lo
corretamente.
53
Foi numas dessas reunies que, aps vinte e trs
minutos de orao, Deus usando de um deles veio me
falar de sua vontade.
Era uma tarde fria, parecia at que nevaria, ento
corri para no faltar orao. Quando me aproximei da
igreja o tempo at que melhorou, parecia at que era
para chegar mais cedo. Nesse dia foram poucos, mas
foram aqueles a qual Deus queria tratar.
Ao chegar igreja, ajoelhei-me e comecei a orar.
Naquele dia meu corao estava fervendo, tinha a plena
convico que Deus iria fazer algo.
Comearam a chegar de poucos. Entraram e
comearam a orar tambm. No muito tempo depois
Deus comeou a falar de maneira grandiosa. Tenho
certeza que Deus me levou para o Canad para tratar
algo comigo. No Brasil eu era religiosa, mas aqui Deus
realmente estava exigindo algo de mim e ento eu
comecei a buscar sua face como se fosse a nica coisa
que queria no mundo.
Sempre em minhas oraes eu pedia para Deus
me colocar no centro da vontade Dele. Queria que Ele
me obrigasse a fazer sua vontade, eu no queria mais
livre arbtrio. Mesmo que isso doesse em mim, mesmo
54
que eu sofresse, mas era o que eu queria mais do que
tudo.
Durante o tempo em que orava, lembrei-me do
que havia feito h algum tempo atrs, trocar meus
sonhos com Deus. Desde que havia feito isso, muita
coisa tinha acontecido em minha vida.
Eu j no morava mais no mesmo pas, j no
trabalhava mais no mesmo emprego, tinha outras
perspectivas, tinha mudado minha viso em relao s
outras pessoas, eu no as olhava mais com meus olhos,
mais como Deus queria que eu as olhasse. Eu realmente
havia mudado.
Assim como os adolescentes aprendi a ter uma
viso melhor de Deus. Ele agora era meu Pai amoroso, e
no mais o Deus que estava longe. Foi esse Pai amoroso
que usando sua serva me declarou sua vontade.
Eu pedi para o meu Pai falar comigo...
55
XI A VONTADE DE DEUS.
E Ele falou.
Aquela adolescente se dirigiu a mim quando eu
menos esperava. Chegou perto do meu ouvido e
comeou a falar o que Deus a havia mandado.
Durante todos os preparativos para minha festa de
noivado, eu estava preocupada com muitas coisas e a
vontade de Deus era uma delas.
Nas noites, antes de dormir, ao orar, sempre pedia
para Deus me revelar se era da vontade Dele meu
casamento com David. No posso mentir que eu queria
que me respondesse que sim, mas tambm no queria
ficar fora da vontade de Deus.
Foi nesse dia que Ele quis me revelar sua
vontade. Infelizmente a resposta foi negativa. Deus no
aprovava meu casamento com David. Confesso que meu
corao quase parou de dor. Novamente eu iria passar
pelo mesmo pesadelo, s que dessa vez pior. Na hora
no quis aceitar. Era extremamente difcil. Novamente
vejo os meus planos se desmoronando. Mais outra vez
escuto os vidros caindo ao cho.
56
Eu no entendi o porqu de Deus no ter
aprovado meu casamento. David era um bom homem,
crente, desimpedido, trabalhador e me amava. Por que
Deus? Por qu?
Fui para casa chorando e assim fiquei o resto da
tarde e noite. Orei muito para superar tudo. s vezes eu
achava que tudo aquilo era um pesadelo e que pela
manh tudo estaria normal. Mas infelizmente no era. Eu
realmente estava passando por tudo aquilo.
Ainda no sabia como contar tudo para meu noivo,
e nem para aquela criana que me chamava de me.
Neste momento olhei para o alto e procurei ver se Deus
estava brincando comigo. S podia ser brincadeira tudo o
que estava passando. Porque Deus havia feito tudo isso?
Porque me deixou apegar a eles dois pra depois me dizer
que no era da sua vontade?
Por um longo tempo eu fiquei a perguntar para
Deus, eu orava insistentemente pedindo uma palavra de
consolo. Queria somente que Deus usasse um vaso para
me dizer palavras de consolo do mesmo jeito que usou
para me dizer sua vontade.
Pensa que eu no orei? Eu quase me esgoelei,
chorei, pedi, implorei. No entendi o porqu da sua
57
resposta. Ele simplesmente colocou o dedo indicador na
frente da boca e fez o mesmo gesto que uma enfermeira
faz pedindo silncio.
Eu tinha que aceitar. Eu havia trocado meus
sonhos com Ele. Algo l no fundo do meu ser me dizia
que os sonhos de Deus para mim eram maiores do que
os meus. Mas sinceramente naquela hora eu s queria
meus sonhos mixurucas.
O culto que fui depois de receber a noticia no era
o mesmo. Toda vez que o pastor dizia para dar-mos
glria a Deus, mesmo que me esforasse, que
concentrasse toda fora da minha voz nos meus
pulmes, eu no conseguia. Eu estava enfrentando o dia
mal, o dia da provao. E neste dia difcil dar um glria
a Deus. S quem j passou por ele sabe o que estava
sentindo naquele momento. S quem est enfrentado,
sabe o que . Voc rasga o corao na nsia de uma
resposta e no ouve nada. Parece que voc est
sozinho, desamparado, uma ovelha ferida, perdida no
deserto, passando frio de noite e calor de dia.
Pior ficaria aps o culto. David estava me
esperando juntamente com Bem, pois como eu estava
58
cuidando dos adolescentes, tinha que arrumar as coisas
depois do culto.
Quando o culto acabou, olhei para a porta onde
David sempre ficava e o vi com aquele sorriso lindo
olhando para mim. Nessa hora minha alma deu um grito
dentro de mim. O meu corao estava dilacerado pela
dor. Eu tinha que fazer a vontade de Deus. Resolvi
terminar naquela noite.
Ao ir ao seu encontro, ele logo me estendeu os
braos para me abraar. E naquela hora eu me deixei
abraar pelos braos daquele homem. Eu queria sentir
pela ltima vez o calor de seus abraos, sentir o cheiro
dele. Neste momento aquela deciso de terminar tudo
com ele sara da minha cabea. Eu s queria ficar mais
um pouquinho com ele. Sentir por mais um pouco ele do
meu lado.
Assim passaram-se trs semanas e eu ainda no
havia feito a vontade de Deus. Minha mente martelava a
todo instante. Antes de eu o ver eu estava decidida a
terminar tudo, mas quando ele chegava com aquele
sorriso e corria para me abraar, juntamente com seu
filho, eu desistia de fazer tudo o que havia imaginado.
59
Eu realmente queria a vontade de Deus em minha
vida, mas era difcil, muito difcil. Eu estava em um pas
diferente, sem amigos de infncia, sem minha me, sem
minhas irms, sem meu pai, para ficarem comigo depois
que tudo se acabasse, e ento me abraariam e eu me
sentiria protegida e no ficaria to solitria. David era
meu companheiro de risadas, fins de semana, de passeio
de mos dadas, de abraos. Eu j estava at pensando
em desfazer a troca que fiz. Mas ser que Deus me
devolveria as prolas?
Um sonho me fez repensar o que ia fazer. Resolvi
ento fazer mais uma prova com Deus. A prova era essa:
eu, desde menina tinha um sonho de ir para a Etipia
fazer misses. Eu como pretendente a missionria,
deveria casar com um outro missionrio. Ento pensei
que, se David tivesse esse mesmo ardor, quem sabe
Deus voltaria atrs e reconsideraria a sua vontade.
Peguei o telefone e liguei para David. Durante a
minha conversa com ele, procurei influenci-lo para o
campo de misses. E depois de um bom tempo de
conversa perguntei se ele sabia o qual era a vontade de
Deus para vida dele. Expliquei que eu tinha uma
chamada para a frica. E ento perguntei: Qual a
60
vontade de Deus na tua vida?, ao que ele me respondeuque no sabia e no estava nem um mnimo interessado
em misses, ele tinha uma carreira para seguir e no ia
deixar uma vida de construes para ser morto e comido
por canibais em outro pas. Ele sendo evanglico era o
suficiente para agradar a Deus.
Lgrimas rolaram em meus olhos. Ns dois
tnhamos pensamentos totalmente diferentes daquilo que
queramos para o futuro. Aquela era a prova definitiva da
vontade de Deus. Nesse mesmo telefonema pedi que ele
viesse at minha casa. Nessa mesma noite eu tambm
no tive coragem. Foi ento que resolvi que deveria
viajar para orar e me aproximar mais de Deus. Eu no
tinha foras para lutar sozinha, tinha que ter uma fora
superior minha para que fosse feita a vontade de Deus.
Decide ir at Montreal para passar um tempo a ss com
Deus e aproveitar para visitar o Allam.
Fazia tempo que no o via. Ele era meu amigo e
conselheiro espiritual, tenho certeza que me ajudaria em
orao.
Liguei para ele avisando que iria passar uns dias
em Montreal. Ele achou muito bom a minha ida at l.
Morava sozinho, no tinha muitas companhias, no era
61
de ter muitas amizades. Um dos seus principais amigos e
companhias era Jesus, com quem ele conversava a
maior parte do tempo. Era interessante como algum
podia se dedicar tanto a Jesus. No me lembro de
nenhuma conversa com o Allam Jnior em que o nome
de Jesus deixou de ser mencionado. Eu brincava
chamando ele de Allao, o amigo de Deus. No sou
muito boa com piadas, mas a pardia ficou engraada.
62
XII TEMPO DE MUITA ORAO
Durante todo o tempo que fiquei em Montreal,
tomei uma deciso: iria embora depois de terminar tudo
com David. Eu no queria ficar e v-lo todo dia, j estava
sendo castigo tudo isso. Ainda no sabia o que iria fazer,
talvez eu voltasse para o Brasil
Quando expus minhas idias para o Allam, ele
achou um absurdo eu ter que abdicar de meu trabalho e
do mestrado por tudo isso. Logo me perguntou o porqu
dessa deciso, ao que eu contei tudo o que havia se
passado em minha vida, a vontade que Deus me revelou,
e o que eu estava passando para cumpri-la. Oramos e
choramos muito. Trs dias foi o suficiente para juntar
todas as minhas foras.
Ao voltar para Toronto, logo liguei para David e
pedi que fosse at a minha casa. Ao chegar percebeu
logo que as coisas no estavam como antes. Pedi que se
sentasse, ele obedeceu. Olhei para ele e comecei a
explicar sobre sonhos e vontade de Deus. Ele perguntou
o que eu queria com tudo aquilo. Era esse ponto que eu
queria chegar. Ento lhe expliquei: Ao comearmos anamorar, no nos preocupamos em tirar um tempo de
63
orao para saber a vontade de Deus em nossas vidas.
Ao noivarmos, isso tambm aconteceu.
Eu me preocupei e comecei a buscar a Deus em
orao. No demorou muito e ele me respondeu. A
pergunt-lo sobre sua vontade para o nosso casamento,
a sua resposta foi NO. Isso faz bastante tempo, mais ou
menos umas quatro semanas.
No tinha coragem de terminar tudo contigo,
porque ainda te amo, e a deciso ia sendo adiada por
mais um dia. Mas agora no posso mais anular a
vontade de Deus, mas tambm no tinha coragem de
terminar tudo. Foi ento que decidi ir Montreal para um
perodo de orao, para conseguir foras para o que
estou fazendo agora.
Durante todo o tempo ele olhava pra mim sem
acreditar no que estava ouvindo.
- Voc est me dizendo que quer terminar
comigo?
Acenei que sim. Neste momento lgrimas quentes
j percorriam em minha face.
- Por que voc s veio me dizer isso agora? Como
que voc sabe que nosso casamento no da vontade
64
de Deus? O que vou dizer ao meu filho? Porque voc
est fazendo isso comigo?
Ele comeou a me bombardear com perguntas.
Foi quando olhei para ele e seus olhos tambm estavam
cheios de lgrimas.
- Infelizmente essa a realidade. No podemos
mais continuar.
Ele saiu sem olhar para trs.
Eu fiquei com o rosto banhado em lgrimas e com
joelhos no cho, como um soldado que acaba de ser
alvejado por uma lana.
Esse foi um perodo de muita orao. s vezes eu
acordava de madrugada e comeava a buscar a Deus
em orao. Senhor preenche o vazio do meu corao.Eu me sentia realmente sozinha, era como se estivesse
s no mundo. A minha legislao da felicidade no servia
para nada. Agora somente Deus poderia me consolar.
Como interessante como mudamos de opinio
com o passar dos tempos. Eu que me sentia blindada
para os sentimentos, novamente me vejo frgil. Agora
percebo que somente posso confiar em Deus. Que
apesar de todas as minhas decises e legislaes, o que
me sobra confiar em Deus e mergulhar em sua
65
presena. Talvez essa seja a verdadeira felicidade, algo
que nem o inimigo de nossas almas pode por o dedo: a
nossa comunho com Deus. Saber que Jesus cuida de
mim, mesmo que eu no veja e no perceba me deu uma
estranha felicidade em meio as mais quentes e amargas
lgrimas. Eu descobri que Deus fiel, Deus fiel...
Certa vez eu vinha da igreja para casa quando
comeou a chover. Se o David estivesse comigo tentaria
me proteger, talvez correramos, mas seria bem
engraado. Mas ele no estava. A minha companheira
agora era a solido. Durante todo o meu percurso at
chegar em casa, eu chorei. As lgrimas desciam
quentes. Cheguei em casa encharcada. Mas minha
lngua no parava de falar: Deus fiel!
Ele no me ligou em uma semana. Logo aps a
nossa separao, fui buscar como de costume Benjamim
na escola e o levei para casa. Depois de mais ou menos
meia hora a campainha toca. Era David. Ele estava
furioso. Disse-me para no chegar mais perto do seu
filho. Se eu no queria o pai o filho tambm no me
pertencia. Pedi-lhe perdo, s queria ajudar. Benjamim
saiu chorando, queria ficar, mais o pai no o deixou.
66
Era triste ver tudo aquilo que construmos se
esvaindo entre nossos dedos. Mas uma vez eu gritei:
Deus fiel. Eu no posso deixar o inimigo roubar o que
eu tenho de mais precioso em minha vida, a fidelidade de
Deus.
Depois de algum tempo David me procurou, queria
conversar. Conversamos. Disse-me que ainda me amava
muito, e no podia viver longe de mim. Queria voltar. Eu
estava me sentindo to s desde que nos separamos
que naquela noite voltamos. Momentaneamente eu me
senti feliz. Depois disso ele se tornou mais atencioso
para comigo, no queria me perder novamente. Mas
depois que ele foi embora eu senti um vazio e um
remorso muito grande, eu queria obedecer ao meu
criador, mas eu tambm queria ficar ao lado de David.
Deus fiel!
Depois de uma semana sentindo aquele vazio,
resolvi terminar mais uma vez. Terminamos, mais depois
de algum tempo ele voltava me pedindo para voltar ao
que voltvamos. E assim ficamos por mais ou menos um
ms.
Deus falou srio comigo em um culto. Era melhor
obedecer do que sacrificar. E ainda por cima o Inimigo de
67
nossas almas ficava me atentando dizendo contra o meu
criador. Isso o que d ter trocado os seus sonhos comele. Novamente entrei num perodo de orao e jejum,mais dessa vez foi de corao que fiz, melhor a
vontade de Deus em minha vida do que a minha.
Deus fiel!
Chamei-o para uma conversa sria. Nesse dia
brigamos feio. Ele me disse que eu s o queria para us-
lo, que ele estava sendo como uma camisa, quando
precisava usava e depois que estava suja jogava num
balde de roupa suja.
Ali foi a ltima noite que conversamos. Nem na
igreja ele me olhava mais. A pensei: se eu tivesse
acatado a ordem de Deus, tudo isso no teria acontecido,
talvez no estivssemos brigado, mas no final seramos
bons amigos.
Ainda assim, depois de tudo, percebo que Deus
fiel. Eu sabia que Deus queria para mim muito mais do
que eu podia imaginar ou pedir ou ver. A nica coisa que
eu me sustentava era a seguinte frase: Deus fiel!
68
XIII A GRANDE SUPRESA
A tristeza de t-lo deixado e a solido me
acompanhando me fizeram isolar deste mundo. A minha
maior vontade era ficar em casa e s isso. Passei trs
semanas sem ir igreja. Estava mergulhada em uma
profunda tristeza. Meu mundo agora no era mais cor-de-
rosa, era cinza, cinza escuro.
Eu pensava constantemente em voltar para o
Brasil. Queria esquecer tudo o que havia passado.
Estava decidida. Voltaria, cuidaria de minha famlia e
pronto. Esperaria a morte me ceifar a vida. Do jeito que
as coisas corriam parecia ser esta a vontade de Deus.
Depois de algum tempo descobri que David fora
transferido para Calgary.
A campainha do meu apartamento tocou. Ao abrir
tive uma grande surpresa, era Allam. Sinceramente no
queria v-lo, nem ele nem a ningum. Para no ser mal
educada pedi que entrasse. Ele percebeu que minha
casa estava uma tremenda baguna. Ficou observando
as coisas e nem percebeu que eu j havia me jogado no
sof.
69
-Voc conhece minha amiga Talita? J deu para
perceber que ela no mora mais aqui. Ela muito
especial. Tem uma energia que vale por dois. Sabe viver
muito bem, at quando a vida no lhe favorvel. Ela
tinha sonhos de ir para frica e l estabelecer morada
para pregar o evangelho e trazer muitas almas a Cristo.
Nunca conheci pessoa igual a ela. Forte, lutadora,
sonhadora que no se entrega facilmente. Parece que
minha amiga se foi e com ela os seus sonhos.
Durante todo tempo em Allam falou eu o fitava e
as lgrimas corriam em meus olhos. Realmente eu havia
morrido e comigo os meus sonhos. Agora eu no mais
chorava, eu pranteava. Senti no abrao de Allam, o
abrao confortante de Deus. Eu realmente necessitava
disto.
Depois que me acalmei, ele me disse que fora
transferido para Toronto, ou melhor, havia pedido
transferncia. Isso j havia dez meses, mas s agora
tinham lhe concedido. Tinha chegado h dois dias. Essa
foi a grande surpresa que tive. Allam agora morava em
Toronto.
Convidou-me para sair dali a dois dias, sbado
noite. Eu aceitei. Seria bom, no podia passar o resto da
70
vida trancada em casa. Era preciso revidar com alegria
todas as tristezas que a vida me trouxe.
J havia passado quase trs meses depois do
ocorrido. s vezes eu me pegava pensando em como
seria meu casamento com David, como eu seria como
me para Benjamim, como seria essa famlia. Sinto muita
falta deles. Outro dia Ben me ligou, disse-me que estava
com saudades e que o pai ainda me amava e queria
muito ficar o resto da vida comigo. Creio que o pai
mandou-lhe fazer isto. tpico dele o fazer: chantagem
emocional infantil.
Procurei evitar ao mximo falar no que havia
ocorrido. David percebeu e no ligou mais.
Finalmente chegou o dia do encontro. Allam como
sempre estava na hora certa. Eu no gostava de me
atrasar e tambm cheguei na hora indicada. Foi muito
boa quela noite, sorri como nunca, Allam era um
verdadeiro palhao. E me deixou a vontade. Senti-me
melhor.
Comeamos a nos ver frequentemente, e eu at
comecei a acompanh-lo em seus jogos. Ele jogava
hquei e participava do time do hospital onde trabalhava
e dos jovens da igreja.
71
O hquei um dos esportes favoritos do Canad.
Porm muito violento e nunca havia o acompanhado,
apesar dele me chamar sempre.
Mais um dia eu aceitei o convite. Chegamos um
pouco atrasados. Ento ele teve que ficar no banco de
reservas, e eu me sentei logo atrs do banco. Ele foi se
trocar, tinha que colocar uma roupa especial pra jogar.
Logo um dos jogadores teve que ser substitudo e ele
entrou. Antes foi at onde eu estava e pedi que ele
tivesse cuidado. Supreendeu-me com um beijo na testa.
Eu paralisei. Meu corao comeou a bater a mil
por hora. Eu no acreditava no que estava acontecendo
comigo. Ser que eu estava... No, no poderia est...
Eu havia prometido pra mim mesma que no me
apaixonaria de novo. s o que poderia dar mesmo. Ns
estvamos nos aproximando muito. Era como se eu
precisasse dele sempre. Nem percebi quando ele marcou
ponto e ofereceu a mim, parece que eu estava
anestesiada, foi quando a ficha caiu. Eu estava num jogo
de hquei.
Ele foi me deixar em casa e durante todo o trajeto
ele falava nos passes que fez, das jogadas mal feitas,
dos pontos que marcou, ele falava, eu estava calada.
72
Senti vergonha de est ao lado do homem que eu
acabara de descobrir que amava. Sentia-me como uma
adolescente perto de seu primeiro amor. Se no tivesse
sentada, ele veria que minhas pernas estariam tremendo
e que minhas mos estavam suadas.
Quase no prestei ateno ao que ele falava, s
fiquei perdida em meus pensamentos, relembrando cada
momento que passamos juntos e o amor que eu no
esperava que chegasse assim. Ser que eu estava
realmente apaixonada ou estava apenas envolvida por
est frgil? Como saber se o que sentia era amor? Ser
que no existe um manual do amor?
Eu comecei a raciocinar. Amara o Lucas porque
ele me tratava bem, era meu companheiro de sada, me
tratava como se eu fosse sua irm. Ele olhava pra mim
de um jeito especial e assim eu me sentia segura ao seu
lado. Lembrei at do dia em que fomos assistir um culto
em outra igreja e na sada comeou a chover, ele
conseguiu um guarda-chuva e fomos ns dois abraados
pra casa, ele tentava me proteger da chuva e isso
conquistou meu corao.
Amara o David por que estava fragilizada pelo que
havia acontecido, pela decepo com o Lucas. Mais eu
73
jamais esperaria que amasse o Allam. Ele no veio
oferecido, mais enviado. No precisou me conquistar
com belas flores, nem com um tipo de que seria o melhor
esposo do mundo. Ele somente se mostrou quem era. E
eu nem havia percebido que o estava amando.
Agora vem uma dvida na minha mente: ser que
assim o amor? Ele chega sem avisar e quando
percebemos j estamos infectados por esse vrus que
no tem cura. Foi assim que me apaixonei por ele. No
foi preciso mostrar que eu era a melhor, s pra ele
reparar em mim, nem foi preciso mudar penteado, nada.
Aconteceu o dia que eu achara que nunca chegaria. Eu
amava o Allam.
A partir de ento sempre o acompanhava aos
jogos, pois queria sempre est perto dele, mais ao
mesmo tempo eu queria esconder dele todos meus
sentimentos. Decide que faria de todos os momentos ao
lado dele um momento especial.
Mais um jogo de hquei. Tudo parecia normal,
socos, ponta-ps. Eu vestida em uma camisa de hquei
do Allam (a camisa-uniforme mais parecia um vestido
para mim, afinal, Allam tinha mais de dois metros de
altura). Um dos jogadores do time adversrio foi parar a
74
jogada de Allam. Eles se chocaram feio. Allam bateu a
cabea na grade de proteo, sua cabea bateu no gelo.
Mesmo com capacete ele desmaiou, o jogo foi
paralisado, eu sa correndo pra ver como ele estava.
Quase deslizei umas trs vezes no gelo, mas consegui
chegar at ele. Eu gritava atordoada.
-Chamem uma ambulncia!
Chegamos ao hospital e logo liguei para Me (que
a me dele). No sabia como falar para ela que o Allam
estava em um hospital. Logo ela chegou acompanhada
com o pastor. Como ela estava um pouco nervosa,
resolvemos que eu ficaria com Allam e ela voltaria pra
casa depois de ser medicada.
Eu fiquei ali inerte olhando para o homem que me
ensinou novamente a sorrir e a ter esperana. Ele
tambm estava inerte, isso me fez temer. Ser que ele
nunca vai acordar? Olhei para o cu e fiz uma orao
para meus Deus.
Ns seres humanos s criamos coragem depois
que acontece algo com quem amamos. Achamos que
nunca vamos perder-los e quando isso acontece, e ns o
perdemos, passamos o resto de nossas vidas nos
culpando pelo que poderamos ter dito e no dissemos.
75
No meu caso eu no o havia perdido, mas temia essa
possibilidade. Ele havia machucado a cabea. Os
mdicos haviam dito que no houve fratura no crnio, s
havia levado alguns pontos acima da sobrancelha.
Passaram-se uns 10 minutos, quando Allam abriu
os olhos e sorriu pra mim. Eu o olhei e comecei a rir com
lgrimas nos olhos. Ele me disse pra no ficar assim.
Peguei em sua mo e tirei toda coragem do mundo pra
dizer a ele a frase que nunca havia dito a ningum. Amei
o Lucas, mais ele nunca ouviu da minha boca, s pelos
meus gestos eu dizia tudo. Assim tambm aconteceu
com o David.
Ele ficava a me olhar. Ele sabia que eu queria
dizer algo. Ento eu disse:
- Eu te amo!
- Eu tambm te amo. Ele respondeu. Talvez eu j
esperasse essa resposta, mais eu tinha medo.
- Voc quebrou o brao, e levou alguns pontos na
testa. Mais o mdico disse que no fraturou nada mais
grave. Voc nos assustou, sabia. Eu falava rpido com
medo do que eu poderia ouvir da boca dele. Era como se
eu quisesse faz-lo ficar em silncio com as minhas
muitas palavras.
76
Ele me olhava e sorria, eu pude ver a alegria em
seu rosto. Parecia que ele tinha ganhado o presente que
tinha esperado por toda vida.
Ficamos em silencio durante algum tempo. Sua
mo estava segurando a minha.
O silencio foi quebrado.
- Voc quer casar comigo?
77
ESPAO DE TEMPO
78
XIV CURSO DE ENFERMAGEM
Nosso casamento foi simples, no quis uma
grande festa. Casamos no civil e no religioso. Estava
muito feliz. No momento em que subi ao altar me
emocionei muito, achava que esse dia nunca chegaria.
Depois de tanta desiluso e sofrimento eu havia perdido
as esperanas de um dia chegar a me casar. Mais este
era o sonho de Deus, este dia estava escrito no roteiro
de minha vida e o diretor estava dizendo: ao!
Foi uma boa festa. Meus pais estavam presentes
e ficaram muito felizes por mim. Estava todo mundo da
igreja, quis convidar a todos.
Meu vestido era branco, simples e belo. Allam
estava com seu fraque e lindo. Seu sorriso dizia como
ns dois estvamos nos sentindo. Deus estava em nosso
meio.
Passamos trs dias de nossa lua de mel em Lake
Louise, um lugar maravilhoso com jardins esplndidos.
Depois que nos casamos resolvi fazer um curso
tcnico de enfermagem. J havia terminado meu
mestrado e queria fazer algo mais. Allam me apoiou
bastante. O curso tinha durao de um ano e meio. Eu
79
estava feliz com tudo. Planejamos que teramos nosso
primeiro filho assim que eu terminasse meu curso.
Interessante que ningum entendia o porqu de
est fazendo o curso. J tinha mestrado, e esse curso de
enfermagem no ia valer de nada para o meu currculo.
Na verdade eu e Allam queramos ser missionrios na
frica, como ele era mdico precisava de uma
enfermeira, ento eu me dispus a ser.
O tempo passou-se rpido e logo terminei o curso.
Estava chegando a hora de nos prepararmos para ser pai
e me. Passou-se algum tempo e no consegui
engravidar. O mdico disse que s poderia iniciar um
tratamento depois de tentar por um ano. Ento tive que
esperar esse tempo.
Houve uma conferncia com os pastores e nesta
foi decidido que seriam enviadas duas famlias para fazer
misses na frica. Eu e meu esposo nos inscrevemos na
esperana de sermos chamados.
Porm no foi dessa vez que tivemos esse
privilgio. Ento prosseguimos com nossas vidas, orando
e pedindo ao Senhor que nos mandasse pra fazer
misses.
80
Passou-se 6 meses e me preocupei. Ainda no
havia conseguido engravidar. Procurei outro mdico e fiz
exames mais especficos para saber a causa de no ter
engravidado ainda. Foi quando descobri que tinha
endometriose e que tinha que fazer um tratamento. Este
duraria em torno de um ano.
Allam havia me acompanhado em minha consulta,
ele meu deu um abrao e disse que iramos vencer
juntos. Eu faria o tratamento e mais cedo ou mais tarde
eu teria nosso filho.
Passou uma semana e chegou a nossa casa uma
correspondncia. Era da junta de misses. O casal de
missionrios que havia ido, tinha que voltar, pois o
filhinho deles havia sido acometido de malria e eles
teriam que tratar do filho. A junta perguntava se ainda
estvamos dispostos a ir para a misso. Se a resposta
fosse sim teramos que responder na mesma semana,
era caso de urgncia.
Allam me olhou. Eu pude ver em seus olhos o
quanto ele queria ir. Na minha cabea passou uma coisa.
Tinha que fazer o tratamento para poder engravidar, era
a esperana que o mdico me deu. Mais eu tambm
anelava por resgatar as almas.
81
-Diga que vamos. Respondi.
- E o tratamento?
-Deus prover.
Allam sabia a vontade que eu tinha de engravidar.
Eu realmente queria muito sentir o beb se mexendo
aqui na minha barriga, v crescendo a cada dia e um dia
t-lo em meus braos. Eu chorei muito por ter tomado
essa deciso, mais eu sabia que era a melhor a ser
tomada.
Durante o tempo em que levamos para organizar
tudo, passou-se dois meses. No posso mentir que
muitas vezes pensei em desistir e comear meu
tratamento de fertilizao. s vezes me sentia mais
inclinada para a misso, s vezes queria ficar e fazer o
tratamento. Durante a noite eu sonhava com meu filho
nos braos. Era quase real, podia at sentir o cheirinho
de nen.
Ficava lembrando de estvamos noivos. Fazamos
milhares de planos, tnhamos sonhado at com a
quantidade de filhos que iramos ter. Pensvamos em ter
quatro filhos, dois meninos e duas meninas. J tnhamos
at colocado os nomes: Allam, Arthur, Ana Rebeca e Ana
Esther.
82
Agora tenho que optar pela vontade de Deus.
Chegou o dia de nos despedirmos. Foi um dia de
choro e risos. Antes de embarcarmos no avio, o pastor
olhou pra ns dois e perguntou?
- realmente isso que vocs querem?
Olhamos-nos e respondemos afirmativamente que
sim.
- Ento, que Deus abenoe os dois nessa
caminhada.
83
XV FRICA
Chegamos frica depois de um vo conturbado.
Assim que descemos estava o missionrio no aeroporto
a nos esperar. Percebi que ele estava bem abatido. Sua
esposa j estava no Canad para o tratamento do filho e
ele havia ficado para nos receber e nos repassar
algumas orientaes. Tivemos boas-vindas calorosas.
O jipe da igreja estava estacionado logo ali perto.
Colocamos as malas no lugar e comeamos a longa
viagem. Durante o caminho ele foi contando sobre como
era a vida naquele lugar, suas privaes, os mosquitos,
os animais, enfim, tudo o que ele nos podia repassar ele
estava fazendo. Sua pressa era tamanha em nos
repassar que ele parava, respirava bem fundo e
comeava a falar como se fosse uma metralhadora.
Depois de cinco horas de viagem por entre
pequenos desertos e rios, entramos numa vegetao
bem rasteira e no muito longe pude ver a fumaa
subindo. Ele nos apontou com o dedo e disse-nos que
era ali a aldeia onde ele morava.
Durante o tempo de preparao para irmos para a
misso, procuramos aprender o mximo da lngua natal.
84
Na frica se fala muitos dialetos. Em mdia a cada raio
de cem quilmetros, um dialeto diferente. Mas, com
algumas pesquisas conseguimos aprender algumas
palavras e algo sobre seus costumes.
Ao chegarmos, muitos vieram ver os novos
missionrios. At nos ajudaram a carregar as malas. De
inicio, foi tudo muito bem. A noite j estava chegando, a
viagem foi cansativa e cai no sono em uma rede que
estava armada no quarto. Na primeira noite, dormi como
uma pedra.
O dia amanhece. Ouvi a festa das galinhas e o
coral de galos a cantar. Fiz um caf de modo bem
rstico, no estranhei por que quando morava no Brasil,
fazamos caf e covamos num saco de pano. No
Canad o caf era feito na cafeteira o trabalho era s
colocar o caf na mquina e ligar um boto. Mais no
reclamei e pra falar a verdade o caf coado no coador
melhor do que na cafeteira.
Logo aps o nosso caf, samos para conhecer o
lugar. A aldeia onde ficamos era um lugar encantador. A
vida se resumia em duas tarefas: os homens caavam e
as mulheres os esperavam e cuidavam dos filhos e da
casa. As casas eram rsticas, feitas de barro e cobertas
85
com palhas. O cho era de terra batida. Os quintais eram
divididos por cercas de varas e cip. Criavam-se galinhas
e porcos e em algumas casas tinham outros animais. O
principal meio de transporte era o cavalo. Tinha uma
vaca que era de propriedade do missionrio e que agora
ele passara para ns. A casa onde iramos morar no era
diferente das outras, cho de terra batida, telhado de
palha e paredes de barro. Possua cinco cmodos: uma
cozinha, dois quartos, uma sala e um quartinho bem
pequeno que na ombreira da porta tinha escrito:
QUARTO DE ORAO.
Na casa no tinha muitos mveis, s o necessrio.
Uma das coisas que mais incomodava era o calor. Era
quase insuportvel. Depois fomos conhecer a igreja. Era
pequena e tinha cinco bancos de madeira de cada lado.
O plpito era de madeira e na mesma altura do cho da
nave da igreja. Os cultos eram realizados antes do pr do
sol, para que os irmos no fossem no escuro para suas
casas.
Da em diante eu fui para casa preparar o almoo
e Allam ficou aprendendo mais do missionrio.
Percebi que a dispensa tinha somente arroz,
farinha de milho e algumas espigas j secas.
86
Ento fui at o galinheiro e peguei dois ovos e fiz
uma farofa com a farinha de milho. No ficou muito bom
mais deu pra comer.
Naquela noite iramos ser apresentados a igreja e
tomar posse. Percebi que no estavam contentes com a
nossa chegada. Eles haviam aprendido amar o
missionrio Harold e eu os compreendia.
Sete dias passaram e o irmo Harold se despediu
da igreja com lgrimas nos olhos.
Durante as primeiras noites que passamos, quase
no conseguimos dormir. Os mosquitos zoavam muito e
alm de tudo queria nos picar. Algumas picadas eram
dolorosas. Apesar de usarmos o mosquiteiro, mais
parece que no adiantava. Alm de tudo o calor nos fazia
suar muito. Mas aos poucos fomos acostumando.
Nos primeiros cultos que dirigimos o nmero de
presentes era pequeno. Era quase um protesto deles
para a volta do missionrio antigo.
Allam e eu comeamos a visitar todas as pessoas.
Fazamos dois trabalhos, o de evangelizao e
discipulado, e orientao mdica. Nesse nosso trabalho
Deus nos abenoou muito. As pessoas comearam a nos
87
dar confiana e foi ai que conseguimos realizar um bom
trabalho.
Depois de algum tempo conseguimos aumentar o
numero de crentes na igreja. O quarto de orao sempre
era visitado, por mim ou por Allam. Essa era a nossa
chave para vitria, a orao.
Conseguimos baixar o nvel de desnutrio entre
as crianas. Eu passava o dia com elas. Eu formei uma
espcie de creche, onde l eu dava banho e fazia o
asseio geral de todas as crianas. Muitas delas tinham
piolhos e graas e Deus consegui diminuir essa
escabiose. Isso tudo ocorria em minha casa. Tambm vi
muitas crianas virem ao mundo. Eram maravilhoso ver
aqueles rostinhos e o sorriso de agradecimento das
mes.
Com o dinheiro que a igreja mandava para nosso
sustento comeamos a construir uma cisterna de
captao de gua. O sistema era simples: colocaramos
biqueiras no telhado e essas biqueiras levariam toda a
gua a essa cisterna. O nico problema era que no
chovia a uns trs anos e muitos riram de nossa
construo. Diziam que era mais fcil cavar um poo.
Mais Allam no desistiu de seu intento e chamou alguns
88
irmos para ajud-lo. Em um ms a obra ficou pronta.
Agora s faltava a chuva. Iniciamos uma campanha de
orao e depois de 13 dias orando comeou a chover.
Aleluia! O milagre foi maior ainda porque o tanque cabia
vinte mil litros de gua e ele transbordou. A nossa alegria
tambm. Nesse tempo Deus salvou muitas almas e
batizou com Esprito Santo.
Depois de cinco meses, levei uma jovem de 14
anos para morar comigo, seu nome era Zara. Ela havia
casado no fazia muito tempo, porm seu esposo havia
falecido durante uma caada. Ela havia ficado viva e
grvida de trs meses. Quando ela veio para minha