Pedro Demo - Educar Para Pesquisa - Fichamento Didática

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Faculdade de Cincias e Letras de Assis Curso: Letras Licenciatura Plena

Disciplina: DidticaDocente: Professora Andria da Cunha Malheiros SantanaDiscentes: Ingrid Leutwiler, Pedro Moya e Tssia Neves.Fichamento: DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. Campinas So Paulo: Ed. Campinas, 1943.O intuito do trabalho de Pedro Demo desenhar um roteiro terico-prtico do desafio de educar pela pesquisa, do ponto de vista metodolgico. No se trata de uma viso pedaggica, embora a suponha e inclua, mas de um enfoque tipicamente propedutico, ligado ao desafio de construir a capacidade de (re) construir, na educao bsica e superior, qualidade formal e poltica. (DEMO, 1941, P.1)

Educar pela pesquisa tem como condio essencial primeira que o profissional da educao seja pesquisador, ou seja, maneje a pesquisa como princpio cientfico e educativo. [...] Decorre, pois a necessidade de mudar a definio do professor como perito em aula, j que a aula que apenas ensina a copiar absoluta impercia. (DEMO, 1941, P.2)(...) dividimos o trabalho em duas partes. A primeira dedica-se educao bsica, (...) a segunda parte dedica-se educao superior. (DEMO, 1941, P.2)

A proposta de educar pela pesquisa tem pelo menos quatro pressupostos cruciais: a) a educao pela pesquisa a especificidade mais prpria da educao escolar e acadmica; b) o reconhecimento de que o questionamento reconstrutivo com qualidade (...) o cerne do processo de pesquisa; c) a definio de educao como processo de formao da competncia histrica humana. (DEMO, 1941, P.3)A aula que apenas repassa conhecimento, ou a escola que somente as define como socializadora de conhecimento, no sai do ponto de partida, e, na prtica, atrapalha o aluno, porque o deixa como objeto de ensino e instruo. (DEMO, 1941, P.7)

No possvel sair da condio de objeto sem formar conscincia crtica desta situao e contest-la com iniciativa prpria, fazendo deste questionamento o caminho da mudana. [...] Nenhum fenmeno histrico mais caracterstico do questionamento reconstrutivo do que o processo emancipatrio. (DEMO, 1941, P.8)

[...] Hoje, professor mero instrutor. Acha que sua habilidade apenas e de repassar conhecimento e procedimentos, (...) por isso mesmo, qualquer um pode ser professor, bastando que transmita. (DEMO, 1941, P.10)

Por questionamento, compreende-se a referncia formao do sujeito competente, no sentido de ser capaz de, tomando conscincia crtica, formular e executar projeto prprio de vida no contexto histrico. (DEMO, 1941, P.10)

Por reconstruo, compreende-se a instrumentao mais competente da cidadania, que o conhecimento inovador e sempre renovado. (DEMO, 1941, P.11)

Ser til distinguir entre pesquisa como atitude cotidiana e pesquisa como resultado especfico. Como atitude cotidiana, est na vida e lhe constitui a forma de passar por ela criticamente, tanto no sentido de cultivar a conscincia quanto no de saber intervir na realidade do modo alternativo. [...] Como resultado especfico, pesquisa significa um produto concreto e localizado, como a feitura do projeto pedaggico, ou de material prprio. [...] Assim, o professor precisa cultivar ambas as dimenses. (DEMO, 1941, P.12-13)Tomamos educao como processo de competncia. [...] Competncia no executar bem, mas caracteristicamente refazer-se todo dia, para postar-se na frente dos tempos. (DEMO, 1941, P.13)

Pesquisa do aluno: Em primeiro lugar, mister repisar que fazemos aqui uma incurso pedaggica. [...] Em segundo lugar, as propostas aqui arranjadas so apenas sinalizadoras sugestivas, j que, para sermos com o conceito de competncia, no cabe jamais produzir receitas prontas. (DEMO, 1941, P.15)

Em vista disso, ser til logo retirar o pedestal do professor, para apresentar-se como orientador do trabalho conjunto, coletivo e individual, de todos. (DEMO, 1941, P.16)

Ser o caso estimular o estilo de trabalho de equipe, com o objetivo de aprimorar a participao conjunta, cuidando, entretanto, da evoluo individual e da produtividade do trabalho. (DEMO, 1941, P.17)Todavia, trabalhar em equipe um reclamo cada vez mais insistente dos tempos modernos. De uma parte, trata-se de superar a especializao excessiva. [...] De outra, (...) coloca a necessidade de exercitar a cidadania coletiva e organizada. (DEMO, 1941, P.18)

Da segue a valorizao do trabalho em equipe, apesar de seus riscos notrios. [...] claro que isto pode acarretar outra misria, que a mediocridade de processos e produtos coletivos, (...) por sua fcil superficialidade. (DEMO, 1941, P.19-20)Por fim, importante que, no grupo, se manejem habilmente fenmenos psicossociais negativos, como o isolamento de algum, intrigas e cimes, altos e baixos em termos de nimo, desagregao, etc. (DEMO, 1941, P.20)

Neste sentido, podemos acrescentar aqui, ao lado da idia central de motivar um ambiente de trabalho conjunto, a outra de aproveitar a experincia de cada um e de relacionar o que se aprende com a vida concreta. (DEMO, 1941, P.23)

Tendemos na vida, at por fora de uma escola que apenas ensina a copiar. [...] Esta deficincia se revela, por exemplo, no fato de que o lido, mesmo que seja dirio, no repercute em nada na vida concreta. (DEMO, 1941, P.24)

A escola deveria ser a imagem viva e mesmo agressiva do contrrio. Nada se passa mecanicamente. Antes, tudo precisa virar saber pensar, aprender e aprender, em nome de uma cidadania capaz de permanentemente, reconstruir-se. (DEMO, 1941, P.25)A seguir, lana-se mo do conhecimento disponvel, transmitido no sistema cultural dominante. Este o espao da transmisso e socializao do conhecimento. [...] O conhecimento est nos livros, bibliotecas, videotecas, universidades, institutos de pesquisa,... [...] Assim, a escola do futuro entrar com absoluto empenho no processo de transmisso eletrnica de conhecimento, para dispor da maneira mais abundante e acessvel dele. (DEMO, 1941, P.26-27)O ponto de chegada ser o questionamento reconstrutivo, tanto como atividade especfica, quanto sobretudo como atitude cotidiana. (DEMO, 1941, P.27)

O aluno precisa ser motivado a, partindo dos primeiros passos imitativos, avanar na autonomia da expresso prpria. Isto no se reduz a texto, por mais importante que seja. Inclui tambm a capacidade de se expressar, de tomar iniciativa. (DEMO, 1941, P.29)Ser fcil destacar algumas estratgias didticas, do ponto de vista metodolgico, que facilitam ou instigam o questionamento reconstrutivo: a) o recurso motivaes ldicas, b) o hbito de leitura, c) o manejo eletrnico, d) o apoio familiar, e) o uso intensivo do tempo escolar. (DEMO, 1941, P.30-32)

A educao pela pesquisa supe cuidados propeduticos decisivos, no professor e no aluno, por conta da qualidade educativa que a formao da competncia formal e poltica implica. [...] Destacam-se aqueles que contribuem para construir a capacidade de reconstruir, entre eles: a) desenvolver o saber pensar, b) cultivar o aprender e aprender, c) unir qualidade formal e poltica. (DEMO, 1941, P.32-33)Tais cuidados propeduticos devem fazer parte do processo escolar. [...] Algumas insistncias poderiam ser teis, tais como: a) chamar sempre a ateno para a necessidade de expressar-se de maneira fundamentada; b) exigir que todo processo de pesquisa tenha o questionamento reconstrutivo; c) exercitar na formulao prpria o bom uso da lgica; d) incitar os procedimentos criativos; e) tornar o questionamento atitude cotidiana. (DEMO, 1941, P.33-34)J o currculo intensivo volta-se para a formao da competncia autnoma, crtica e criativa do aluno. [...] Desta viso poderamos retirar outros formatos organizados do currculo, que poderamos, a ttulo de exemplificao preliminar, aduzir: a) preferir o aprofundamento por temas; b) preferir aula curta; c) o desafio da pesquisa leva naturalmente a organizar o trabalho; d) reservar uma semana inteira para realizar certo processo, e) organizar o currculo. (DEMO, 1941, P.34-36)

indispensvel introduzir formas alternativas de avaliao escolar, com base sobretudo em dois critrios interligados: (...) compreender avaliao como processo constante e (...) formular indicadores de desempenho. (DEMO, 1941, P.36-37)PESQUISA NO PROFESSOR

O professor no precisa ser um profissional da pesquisa, como um doutor, no obstante, deve pesquisar quotidianamente, prevalecendo a pesquisa como princpio educativo.

Os cinco desafios da pesquisa so: re-construir um projeto pedaggico prprio, re-construir textos cientficos prprios, re-fazer material didtico prprio, inovar a prtica didtica e recuperar constantemente a competncia.

O professor no deve ser mero porta-voz de teorias alheias.

O projeto pedaggico deve ser refeito de maneira ininterrupta. Cada professor deveria elaborar seu projeto, e exp-lo aos outros na biblioteca, sempre havendo uma preocupao com a tica ideolgica, sem se fazer, no entanto, uma patrulha ideolgica, selecionando apenas os fiis. Deve se evitar tanto o ecletismo da valorizao de qualquer posio, quanto a monologia ideolgica.

H a necessidade de uma confluncia entre teoria e prtica. O projeto pedaggico no tem apenas por inteno a averiguao da leitura de determinados tericos, mas principalmente a competncia questionadora do profissional, que deve usar todos os autores pertinentes, no para se esconder atrs deles, mas para fazer-se, tanto melhor se com fundamentao, autor tambm. (DEMO, 1941, p.41) O professor deve ensaiar textos cientficos prprios, voltados para a rea de interesse curricular. Cada um precisa ter um tema predileto, dentro do qual buscar ser atualizado e produtivo. Sem perseguir a excessiva especializao, necessrio se debruar sobre uma matria. Essa focalizao sistemtica induziria o professor a sair da condio de leitor, reprodutor e expectador, para tornar-se agente ativo no processo, contribuindo de forma eficaz.

O conhecimento reconstrudo no pode ser mero enfeito intelectual, mas deve ser uma inovao tica.

A teorizao das prticas a forma mais eficiente de amalgamar teoria e prxis, sendo a prtica o ponto de partida da crtica e da autocrtica. Do mesmo modo que uma teoria precisa da prtica, para poder existir e viger, assim toda prtica precisa voltar teoria, para poder renascer. (DEMO, 1941, p.43) Nenhum material didtico pode ser to decisivo quanto a presena dinmica do professor. Ao mesmo tempo, no se pode fazer nada em sala que no tenha sido previamente formulado e pesquisado, o que no principalmente uma questo de planejamento, mas sobretudo a reconstruo permanente dos contedos e procedimentos didticos. (DEMO, 1941, p. 45) A referncia central no mais seria a aula, mas a formao da competncia do aluno, cabendo ao professor e ao sistema escolar este servio.

Deve-se fomentar a qualidade poltica, motivando-se a emancipao do aluno, que dever passar de objeto a sujeito do conhecimento.

Iniciativas para se combater o fracasso escolar:

Avaliar inicialmente os alunos de forma qualitativa para conhec-los.

Re-fazer material didtico prprio

Pesquisar sadas para os problemas que se encontra na prtica.

Garantir a progresso real do aluno, e no a automtica.

Reorganizar o tempo curricular e paracurricular, de modo a recuperar oportunidades para garantir um bom desempenho.

Saber avaliar-se (o fracasso do aluno sobretudo o fracasso do professor).

Saber avaliar o aluno de maneiras alternativas, baseando-se em sua produo prpria e em sua participao ativa.

Ao professor cabe a pesquisa, de forma a reunir teoria e prtica, a formulao prpria, sobretudo para criar um projeto pedaggico prprio, teorizao das prticas, para exercitar sua crtica e autocrtica, e a atualizao permanente.

Cabe a escola ter as competncias materiais, como bibliotecas, videotecas, salas de informtica, etc., para que o professor possa ter a base material para seu desenvolvimento pedaggico.

CURRCULO INTENSIVO NA UNIVERSIDADE

PRESSUPOSTOS

Educar bem no significa apenas a qualidade formal (inovao pelo conhecimento), mas tambm qualidade poltica (interveno tica e cidadania).

A competncia a formao de um sujeito histrico no apenas capaz de inovar, mas sobretudo de humanizar a inovao.

Enquanto o capitalismo moderno busca aprisionar a cidadania, para que ela no atrapalhe a produtividade, na educao deve prevalecer os fins ticos.

Considera-se a interveno inovadora e tica como uma extenso, em vez de fazer parte intrnseca da educao.

A reprodutividade da educao transparece em atividades centrais como a aula reprodutiva, a prova colada, a avaliao pela restituio copiada.

O CIDADO COMPETENTE

A prpria idia da extenso problemtica porque considera a interveno inovadora e tica como algo anexado, voluntrio e eventual, sem fazer parte intrnseca da formao. Na sala de aula, se reduz a educao a ensino, e na pesquisa, em geral esquece-se da funo educativa.

A interveno inovadora e tica na sociedade significa a competncia de construir, na histria, modos alternativos de vida em comum nos quais o progresso seja desde logo bem comum. [...] O ponto de referncia mais decisivo a formao de sujeitos capazes, crticos e criativos, democraticamente organizados, aptos a superarem a condio de massa de manobra ou de objetos. (DEMO, 1941, p. 62).

A pobreza poltica incorpora a degradao humana total, o excludo aquele que no se torna agente ativo e crtico no processo da formulao do conhecimento.

A determinao de superar a pobreza poltica ser o sentido de humanizar a sociedade, aparecendo neste esforo a qualidade da educao popular como alavanca decisiva. A inovao fecundada pelo conhecimento comparece como instrumentao substancial dos fins e valores comuns da humanizao da histria. No vale apenas uma histria nova e sempre renovada, mas principalmente uma histria sempre renovadamente humana, ou humanamente nova e inovadora. (DEMO, 1941, p.62) Ao contrrio da intocabilidade do mercado, como quer o neoliberalismo ps-moderno ou o ps-neoliberalismo, deve-se propugnar pela competncia de interferir, no sentido preciso de fomentar a competitividade a servio do bem comum e de coibir os excessos e escamoteamentos que desumanizam a sociedade e a economia. Faz parte desta mesma competncia organizar um estado competente, definido como instancia delegada de servio pblico, e por isso tambm intervir no mercado, se o bem comum assim o exigir. (DEMO, 1941, p.63).

Tambm faz parte da cidadania a no subservincia ao estado, de forma que o prprio Estado tem sua decorrncia da capacidade crtica de seus cidados.

O caminho mais promissor no so as estratgias externas, como a extenso, mas colocar a pesquisa dentro da prpria escola e academia, medida que atravs do questionamento reconstrutivo, se atinja a possibilidade de evoluo terica e prtica. (DEMO, 1941, p. 66)

Necessidade de emergncia do sujeito enquanto agente ativo e criativo do processo, no lugar do sujeito consumidor, inclusive na esfera intelectual. Ficaria ocioso o conceito de extenso, porque a pesquisa seria parte integrante do currculo em todos os anos da universidade, solidificando-se a pesquisa como motivo de ser da universidade.

PROFISSIONAL COMPETENTE

A cincia j no encarada como estoque de conhecimentos disponveis, mas como processo de constante inovao, sendo o questionamento ininterrupto seu motor.

A graduao deve ser encarada principalmente como o trmino de uma etapa, sobretudo do ponto de vista formal e jurdico, mas todo profissional dever se renovar continuamente, em constante refazer. ( o aprender a aprender que faz o bom profissional).

A multidisciplinaridade deve ser promovida, porque a especialidade isolada perde a noo da produo do conhecimento como um desafio e obra comum.

No se pode gestar o profissional competente pela via do treinamento, onde o estudante escuta a aula e faz a prova. Este modelo, nos legado pelos E.U.A., produz um nivelamento baixo que facilita o acesso ao diploma, mas sucateia a formao. Enquanto este treinamento tpico forma profissionais destitudos de competncia, e um ambiente de relativa interpretao prpria promove uma competncia incipiente, o questionamento reconstrutivo busca uma competncia inovadora, refazendo-se constantemente o conhecimento. No criar profissionais que sigam as indicaes alheias, mas que formulem suas prprias estratgias, eis o que deseja o autor.

FORMAO DE COMPETNCIA NA UNIVERSIDADE

A academia tende a ser apenas terica e afastada da capacidade reconstrutiva. A mediocridade do aluno reflexo da mediocridade da prpria academia.

Enquanto professor e aula copiada forem sinnimos, ser garantida a mediocridade do ensino.

O nvel dos alunos um indicativo da qualidade do prprio professor.

H um grande problema quando o professor apenas ensina a copiar, e pune o aluno que no consegue reproduzir o conhecimento copiado com a reprovao. A cpia est alienada do sujeito, e lhe impede ser agente ativo no processo de aprendizagem.Problema 2 - Currculo extensivo: a aula copiada

O pressuposto errneo de que um novo professor pode ser atribudo para administrar qualquer aula por tratar-se de expor o que se encontra em livros.

Esse procedimento de reproduo mecnica, nega a competncia do prprio professor.

O currculo compreendido como um acordo de competncias, para um questionamento reconstrutivo no aluno e no professor.

Aulas justificadas pela necessria viso geral do assunto, que apesar de servir como introdutor se estende e cria problemas quando o professor no possui competncia e apela a um status de autoridade.

Para uma aula ser pedaggica, necessrio uma reformulao e um caminho de duas vias na relao de aprendizagem aluno/professor.

A aula tornou-se praticamente identidade cultural e to difcil de errdic-la quanto difcil mudar um trao cultural (DEMO, 1941, p. 81)

Em contraste com a aula copiada, existem tipos de aulas mais aceitveis como: a aula socializada pesquisa, que tem como meta expor um conhecimento novo para o pblico; a aula questionadora com o intuito de aumentar a pesquisa; a aula introdutria cujo objetivo apresentar uma viso geral; a aula ttica que intercala num processo de exposio ordenada e ordenadora.

Interpretar precisamente expor como sujeito (DEMO, 1941, p. 82)

Necessidade de analisar criticamente a pretenso de que o processo educativo (escolar e universitrio) mera transmisso de conhecimento, quando necessrio chegar a um questionamento reconstrutivo.

O grande aumento do uso de mdias para a transmisso de conhecimento ressalta a funo do professor de reconstruo de conhecimentos com qualidade poltica e formal.

O problema do aluno que ele fruto de um crculo vicioso em que apenas treinado, o que deve ser rompido, e tomar rumos novos a partir deste ponto de partida.

Problema 3 Expectativa equivocada do aluno: aprender a copiar

O vestibular, em vez de representar uma proposta de recuperao, aperfeioa os mecanismos reprodutivos, j que , na verdade, um esforo ingente de memorizao, voltado para um tipo de prova que apenas isto supe. (DEMO, 1941, p. 84)

O sistema tem respondido sempre com adaptaes apequenantes, em de buscar alternativas que preservem o direito competncia. (DEMO, 1941, p. 84)

Trata-se de ensino superior apenas e tipicamente, mero treinamento, se tanto. Certamente melhor que nada, mas no se trata de (re)construir competncia. Se ETA fosse buscada com maior cuidado, caberia propor que o direito do aluno seria melhor preservado se, entre outras coisas, o curso fosse alongado em 50%, com o objetivo exclusivo de promover pesquisa e elaborao prpria. (DEMO, 1941, p. 85)

Essencial tambm mostrar que o desafio do questionamento reconstrutivo no supe genialidade, ttulos, e condies especiais.

II. Ensaio de Currculo Intensivo

1. Definindo Termos

Currculo intensivo representa a traduo curricular da educao pela pesquisa, fazendo, pois, da pesquisa como princpio cientfico e educativo o cerne da questo. (DEMO, 1941, p. 86)

parte-se de educao como processo de formao da competncia humana, tornando-se isto o compromisso eminente da universidade, que deveria, ao mesmo tempo, (re)construir conhecimento e humanizar o progresso; (DEMO, 1941, p. 86)

considera-se critrio da pesquisa o questionamento reconstrutivo, por conter, no esprito, o que comum a todo processo educativo escolar e universitrio, e, ao mesmo tempo, permitir sua realizao prpria em ambiente acadmico, incluindo elaboraes mais avanadas e mesmo sofisticadas; (DEMO, 1941, p. 86)

a aproximao, e at certo ponto a coincidncia, de educao e pesquisa est sobretudo no mpeto emancipatrio de ambas, j que se alimentam da conscincia crtica, questionamento, capacidade de interveno alternativa, ligao de teoria e prtica, e assim por diante; (DEMO, 1941, p. 86)

compreende-se pesquisa como atitude cotidiana em primeiro lugar, ou seja, capacidade de estabelecer o questionamento reconstrutivo como propedutica diria e da vida como tal, com destaque para a qualidade poltica, [...], para inovar (qualidade formal) e intervir (qualidade poltica). (DEMO, 1941, p. 87)

A pesquisa como componente crucial do processo de formao e recuperao permanente da competncia.

ao lado da profissionalizao inovadora e atualizada, desponta o compromisso com a tica da inovao, unindo teoria e prtica, conhecimento e poltica, progresso e bem-estar comum; (DEMO, 1941, p. 87)

Currculo Intensivo 1 Prevalncia da pesquisa e elaborao prpria sobre a aula

No currculo intensivo, a intensividade representa a capacidade de dar conta tendencialmente exaustiva de um tema, implicando o aprofundamento reconstrutivo como objetivo fundamental. (DEMO, 1941, p. 88)

evidente que a conexo intrnseca de um curso com outro, perfazendo um todo organicamente evolutivo do incio at o fim, facilitada pela capacidade questionadora reconstrutiva, muito mais que pela mera assistncia de aula. (DEMO, 1941, p. 88)

Currculo Intensivo 2 Dar conta tendencialmente exaustiva de um tema Viso geral de dentro

Fica claro que o conceito de viso geral outro, marcado necessariamente pela capacidade reconstrutiva, no pelo mero olhar distanciado e sobranceiro, inevitavelmente marcado pela superficialidade, como o caso da aula expositiva espichada durante um semestre. (DEMO, 1941, p. 89)

Dois caminhos complementares: tomar um clssico e fazer uma pesquisa sobre certo tema selecionado e considerado importante; tomar um tema que leve a pesquisar clssicos.

O desenvolvimento de uma capacidade de lidar com qualquer tema pertinente por saber como pesquisar.

Currculo Intensivo 3 Capacidade de se confrontar com qualquer tema

[...] o currculo intensivo consegue arquitetar o ambiente educativo e cientfico necessrio para o processo de formao da competncia humana. (DEMO, 1941, p. 91)

A competncia inteira, precisamente educativa, inclui qualidade poltica, comprometida com o debelamento da pobreza poltica, ostensivamente presente em didticas fincadas no ensino copiado. (DEMO, 1941, p. 91)

Currculo intensivo 4 Necessrio para o processo educativo e cientfico de formao da competncia humana

por isso inestimvel o valor educativo de um ambiente marcado pela discusso aberta, trabalho conjunto criativo e tico, conjugao natural de teoria e prtica, obteno de consensos bem argumentados e sempre discutveis. (DEMO, 1941, p. 91)

[...] a emerge, com radicalidade fundamental, o papel da educao, com o objetivo de fazer prevalecer competncia sobre competitividade. (DEMO, 1941, p. 92)

O que educa ao pluralismo e solidariedade no , de forma alguma, a subservincia de objetos manipulados, mas a competncia de sujeitos emancipados. (DEMO, 1941, p. 92)

2. Bases Gerais Do Currculo Intensivo

No se pode exigir questionamento reconstrutivo dos alunos, se os professores no souberem fazer dele sua razo maior e melhor de ser. (DEMO, 1941, p. 93)

A condio mais essencial do currculo intensivo a qualidade do professor. (DEMO, 1941, p. 93)

Educao e pesquisa como atributos humanos pela vida toda, sendo termos diferentes.

Procedimentos para (re)construir a qualidade do professor: estudar, com elaborao prpria, fundamentos propeduticos; organizar processo sistemtico de pesquisa e elaborao prpria; demarcar um espao cientfico a ser ocupado; formulaes didticas; montar perfil consistente de pesquisador. (DEMO, 1941, p. 95)

O currculo intensivo muda radicalmente o processo avaliativo do aluno, que se torna voltado pesquisa e elaborao prpria, e para isso essencial: o ambiente fsico e institucional positivo; acesso literatura e outras formas de armazenar dados e informaes importantes; o apoio produo sistemtica e publicao; o intercmbio acadmico; deve existir a avaliao do professor, no duplo sentido de auto-avaliao, mas principalmente de avaliao externa; o aluno deve ser avaliado sob a forma de acompanhamento orientativo.

[...] o currculo intensivo muda radicalmente a relao professor/aluno, no s em termos didticos, mas inclusive estatsticos (DEMO, 1941, p. 99)

[...] em vez de esticar aulas durante a semana, basta um encontro, melhor organizado, produtivo e suficientemente longo para permitir o questionamento reconstrutivo adequado. (DEMO, 1941, p. 100)

Aulas organizadas como encontros e seminrios com objetivos direcionados ao: questionamento reconstrutivo individual e coletivo; organizao e disciplina em nome da produtividade; pesquisa e elaborao prpria como condio de participao.

O aluno motivado autonomia, deve saber encontrar seus caminhos e suprir deficincias de sua formao com iniciativa prpria. (DEMO, 1941, p. 101)

fundamental equilibrar teoria e prtica, com o objetivo de construir uma competncia inteira. (DEMO, 1941, p.101)

A prtica comparecendo desde o primeiro semestre como contato profissional, depois uma posio intermediria da teorizao das prticas , e finalmente a prtica profissional.

No competente o curso excessivamente terico, ou excessivamente prtico, porque formao bsica to importante quanto o exerccio prtico. Um fecunda o outro. p.102

Ao lado dos poucos professores excelentes, seria o caso ter um corpo mdio restrito dedicado organizao e administrao de seminrios e questes mais bsicas.

3. Exerccios Curriculares Intensivos

No funciona nem poderia funcionar lgica e democraticamente esperar de um professor destitudo de fundamentao propedutica terica e prtica, que consiga arquitetar com os alunos a competncia que ele mesmo nega e sobretudo se nega. p.106

Ciclo bsico comum: filosofia, linguagem, matemtica; metodologia cientfica; uso e produo de dados; tica da cincia. (DEMO, 1941, p.106)

A propedutica especfica como processo em que o estudante orientado a iniciar seu processo de profissionalizao.

Propedutica especfica: introdues; teoria e clssicos; multidisciplinaridade; metodologia e mtodos prprios (DEMO, 1941, p.108)

O perodo de profissionalizao ser dedicado a metade do tempo curricular, combinando sabiamente teoria e prtica.

Teoria: questionamento reconstrutivo da teoria; autores e teorias; paradigmas e polmicas; contatos inovadores. (DEMO, 1941, p. 111)

Prtica: contato profissional; teorizao das prticas; prtica profissional (DEMO, 1941, p.112)

[...] o trabalho de concluso de curso, considerado parte essencial do desempenho qualitativo do aluno e definido como momento privilegiado para demonstrar a capacidade de projeto prprio, terico e prtico. (DEMO, 1941, p. 113)

4. Riscos e Desafios

[...] mister reconhecer que nossa forma de organizar o sistema universitrio e sobretudo a didtica predominante est extremamente distante da qualidade implicada no currculo intensivo. (DEMO, 1941, p. 114)

[...] a implantao plena do currculo intensivo supe tempo integral e dedicao exclusiva, no professor e no aluno. (DEMO, 1941, p.114)

[...] o currculo intensivo combina melhor com entidades de carter pblico e gratuito, nas quais a preocupao pela sobrevivncia no se sobreponha dedicao e ao desempenho. (DEMO, 1941, p. 115)

[...] levam-se em conta tambm os benefcios do currculo intensivo, inclusive financeiros, j que, alm de mais qualitativo, mais barato. (DEMO, 1941, p. 115)

[...] o currculo intensivo no poderia dispensar processos avaliativos mais acurados e qualitativos, sobretudo avaliao constante do sistema e dos professores. (DEMO, 1941, p. 115)

[...] questo crtica e autocrtica no impor modelos nicos em todas as reas do conhecimento. (DEMO, 1941, p. 115)

Um lugar particularmente vocacionado para introduzir o currculo intensivo a ps-graduao. Embora seja absurdo aceitar que pesquisa coisa de ps-graduao, pelo menos existe o consenso de que, a estas alturas, mister pesquisar. (DEMO, 1941, p.116)

De partida, um disparate afrontoso conceber um mestrado como um curso apenas mais sofisticado que a graduao, onde perdura o mesmo ambiente de ensino. (DEMO, 1941, p. 116)

Com certeza, no caso da ps-graduao lato sensu, um curso de 360 horas feito atravs de aulas apenas, atravs das quais no se ultrapassa a mera transmisso, geralmente apenas copiada, de conhecimento, fantstica a perda de tempo e sua inutilidade em termos de construo da competncia. (DEMO, 1941, p. 119)