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75 A EDUCAÇÃO E O EMPREGO PARA OS ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO: UMA ANÁLISE DAS PERSPECTIVAS DOS JOVENS DE PARANAGUÁ-PR Priscila Portz (Universidade Federal do Paraná- UFPR) [email protected] Adriano Ribeiro(Universidade Federal do Paraná- UFPR) [email protected] Mayra Taiza Sulzbach (Universidade Federal do Paraná- UFPR) [email protected] RESUMO O presente artigo trata de uma aproximação teórica e empírica sobre as perspectivas de futuro dos jovens do ensino médio de escolas públicas no município de Paranaguá-PR. Para tanto, a metodologia aplicada, além de referencial teórico sobre os temas juventude, educação e emprego, a pesquisa possui um mergulho empírico através do levantamento de dados realizados com o público-alvo no Município, nas quais foi aplicado questionário com 1505 estudantes do segundo e do terceiro ano. Através dos dados obtidos no questionário, pode-se afirmar que as expectativas dos jovens desse Município são consideradas tradicionais, devido ao elevado número de estudantes que optam por cursos como engenharia e medicina, mas deve ser avaliado com cuidado em decorrência que estes cursos não são ofertados na Região e poucos jovens manifestaram interesse em mudar-se do Litoral. Palavras-chave: Educação, Emprego, Juventude, Paranaguá PR. INTRODUÇÃO Esta pesquisa é fruto de um trabalho coletivo, desenvolvido no interior das atividades do Programa de Educação Tutorial (PET) Litoral Social do setor litoral da Universidade Federal do Paraná (UFPR), no projeto “Perspectivas de futuro de jovens do ensino médio das escolas públicas dos municípios do Litoral do Paraná” , de forma a compreender a baixa demanda do público residente nos cursos de graduação do setor, objetivando identificar as perspectivas profissionais e de futuro da população jovem local.

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A EDUCAÇÃO E O EMPREGO PARA OS ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO: UMA ANÁLISE DAS PERSPECTIVAS DOS JOVENS DE PARANAGUÁ-PR

Priscila Portz (Universidade Federal do Paraná- UFPR)

[email protected]

Adriano Ribeiro(Universidade Federal do Paraná- UFPR) [email protected]

Mayra Taiza Sulzbach (Universidade Federal do Paraná- UFPR)

[email protected]

RESUMO

O presente artigo trata de uma aproximação teórica e empírica sobre as perspectivas de futuro dos jovens do ensino médio de escolas públicas no município de Paranaguá-PR. Para tanto, a metodologia aplicada, além de referencial teórico sobre os temas juventude, educação e emprego, a pesquisa possui um mergulho empírico através do levantamento de dados realizados com o público-alvo no Município, nas quais foi aplicado questionário com 1505 estudantes do segundo e do terceiro ano. Através dos dados obtidos no questionário, pode-se afirmar que as expectativas dos jovens desse Município são consideradas tradicionais, devido ao elevado número de estudantes que optam por cursos como engenharia e medicina, mas deve ser avaliado com cuidado em decorrência que estes cursos não são ofertados na Região e poucos jovens manifestaram interesse em mudar-se do Litoral.

Palavras-chave: Educação, Emprego, Juventude, Paranaguá – PR.

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa é fruto de um trabalho coletivo, desenvolvido no interior das

atividades do Programa de Educação Tutorial (PET) Litoral Social do setor litoral da

Universidade Federal do Paraná (UFPR), no projeto “Perspectivas de futuro de

jovens do ensino médio das escolas públicas dos municípios do Litoral do Paraná”,

de forma a compreender a baixa demanda do público residente nos cursos de

graduação do setor, objetivando identificar as perspectivas profissionais e de futuro

da população jovem local.

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No entanto, de forma a garantir as especificidades de cada município, o

projeto foi dividido entre os integrantes do grupo PET, onde cada município e as

ilhas ganharam uma análise individualizada.

O presente artigo revela a análise dos resultados da pesquisa sobre as

perspectivas dos estudantes do ensino médio das escolas públicas no município de

Paranaguá – PR. Inicialmente apresenta-se a metodologia que orientou a pesquisa

exploratória sobre os jovens do Litoral, após os dados conjunturais do local

(Paranaguá) onde vive o público pesquisado, são apresentados. Posteriormente,

busca-se compreender como é esta fase da vida humana: onde a juventude é

compreendida, e como esta está relacionada, no campo bibliográfico, com a

educação e emprego. A análise dos dados quantitativos e qualitativos oriundos da

aplicação de questionários é apresentada, demonstrando os espaços profissionais

almejados pelos jovens, bem como a possibilidade de ingresso desses jovens nos

cursos ofertados pelo Setor Litoral da Universidade Federal do Paraná.

METODOLOGIA

Além da pesquisa bibliográfica sobre os temas juventude, educação e

emprego, a pesquisa possui um mergulho empírico baseado em um questionário

semiestruturado com questões fechadas e abertas, totalizando dezoito questões. A

tabulação dos dados ocorreu no Programa Sphinx Léxica 20001.

A área de abrangência da pesquisa teve o universo de estudantes dos dois

últimos anos do ensino médio, nos três períodos (manhã, tarde e noite) em doze

colégios públicos estaduais do município de Paranaguá, durante os meses de

novembro e dezembro de 2013. Dos 1.505 estudantes pesquisados, 16,9% são do

colégio Alberto Gomes Veiga, 16,6% Caetano Munhoz da Rocha, 11,2% Helena

Viana Sundin, 9,4% Maria de L.R. Morozowski, 8,9% Carmen Costa Adriano, 8,4%

Arthur M. Ramos, 8,7% José Bonifácio, 5,6% Zilah dos Santos Batista, 3,3% Cidália

Rebello Gomes, 3,8% São Francisco, e com 2,7% os colégios Dídio A. de Viana e

Bento Munhoz da Rocha Neto.

1 O Sphinx Léxica 2000 é um software que permite ao usuário elaborar questionários e tabulá-los (coleta de dados, tratamento e comunicação dos resultados), produzindo gráficos e tabelas.

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CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE PARANAGUÁ

Paranaguá, situado na região litorânea do Paraná, é referência para os

demais municípios em seu entorno, pela oferta de serviços essenciais, tais como: o

Hospital Regional, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o Núcleo Regional

de Educação (NRE). Outra referência no município é o Porto de Dom Pedro II, um

dos maiores prestadores de serviço de comércio exterior de grãos da América Latina

e apoiador da economia do estado do Paraná.

De acordo com os Censos de 1991, 2000 e 2010, do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) a taxa de crescimento populacional de Paranaguá foi

de 56,11%. A população de Paranaguá na década de 1990 era composta por

87,42% na área urbana, sendo um total de 102.098 habitantes. No ano de 2000

houve um aumento na população do município de 12% em relação ao ano de 1991.

Em 2010, a população urbana de Paranaguá atingiu 96,41%. (Tabela 01)

TABELA 01 - POPULAÇÃO TOTAL DE PARANAGUÁ E PARTICIPAÇÃO RELATIVA POR

LOCAL DE RESIDÊNCIA URBANO/RURAL - 1991, 2000 e 2010

ANO PARANAGUÁ URBANA (%) RURAL (%)

1991 102.098 87,42 12,58

2000 121.098 87,48 12,52

2010 140.450 96,41 3,59

Fonte: IBGE (2014)

No período entre 1991 a 2010 a População Economicamente Ativa (PEA) do

Município registrou aumentos gradativos: em 1991 o total PEA era aproximadamente

40% da população, em 2000 44% e em 2010 48% (tabela 02 e gráfico 01). Apesar

da população rural em 2000 ter se mantido constante em relação a 1991 a PEA

desta população já registrava queda significativa de participação, de 11,91% para

4,04%, mantendo-se em 2010. A participação das mulheres na PEA em Paranaguá

eleva-se em aproximadamente 10%. Estas informações sugerem que as alterações

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no mercado de trabalho do Município se devem a redução da população

trabalhadora na área rural e a inserção das mulheres no mercado de trabalho.

TABELA 02 – TOTAL POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA NOS ANOS 1991,

2000 E 2010

VARIÁVEL PEA – Total

PEA – Urbana

(%)

PEA – Rural (%)

PEA – Masculina

(%)

PEA – Feminina

(%)

1991 40.475 88,08 11,91 69,39 30,61

2000 52.762 95,96 4,04 63,43 36,57

2010 66.849 96,17 3,83 58,72 40,98

Fonte: IBGE (2014).

GRÁFICO 01 - POPULAÇÃO ECONOMICAMENTE ATIVA NOS ANOS DE 1991,

2000 E 2010

Fonte: IBGE (2014)

A população jovem de Paranaguá (tabela 03), público-alvo desta pesquisa,

apresenta taxa de crescimento médio anual de 9,79% no período de 1991 a 2010.

Apesar do crescimento anual a participação relativa em relação a outras faixas

etárias esta em queda; os jovens no ano de 1991 representavam 29,15% da

população do Município, em 2000 27,73% e em 2010 26,18%. A população jovem

quando distribuída por faixa etária apresenta um envelhecimento desta. A população

jovem na faixa etária entre 15 a 19 anos perde participação relativa ao longo dos

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anos: 35% em 1991 e 27% em 2010. Os jovens na faixa etária entre 25 a 29 anos

passam de 30% para 33% no mesmo período. A distribuição da população por

gênero não apresenta participação relativa de um dos gêneros que mereça atenção.

TABELA 03 - POPULAÇÃO JOVEM DE PARANAGUÁ - PR.

1991 2000 2010

Faixa Etária Total Masc. Fem. Total Masc. Fem. Total Masc. Fem.

De 15 a 19 10.435 49,52 50,48 12.085 50,50 49,50 13.029 50,33 49,67

% da faixa sobre total 35,15 17,40 17,75 36,06 18,21 17,85 35,48 17,86 17,62

De 20 a 24 9.985 49,28 50,72 11.092 49,78 50,22 11.753 49,65 50,35

% dos Jovens 33,63 16,57 17,06 33,09 16,47 16,62 32,01 15,89 16,12

De 25 a 29 9.271 49,23 50,77 10.340 50,00 50,00 11.934 49,15 50,85

% dos Jovens 31,22 15,37 15,85 30,85 15,43 15,42 32,51 15,98 16,53

Total de jovens 29.760 49,34 50,66 33.586 50,09 49,91 36.773 49,71 50,29

Total Pop 102.098 50.701 51.397 121.098 60.318 60.780 140.450 69.306 71.144

% jovens/pop 29,08 14,35 14,73 27,68 13,86 16,38 26,14 13,00 13,14

Fonte: IBGE (2014)

Dados selecionados pelo autor.

Segundo dados da Secretaria de Educação do Estado do Paraná, em um total

de 6.833 matriculados nos três anos do ensino médio no Município em 2012,

participaram da pesquisa 1.505 estudantes dos dois últimos anos, onde 52,59% do

sexo feminino e 46,82% masculino, 0,42% se identificaram como outro e 0,17% não

responderam. 53,27% frequentavam o segundo ano, 45,62% o terceiro ano e 1,11%

não responderam a questão. Foram identificados estudantes de 14 anos a mais 24

anos, em maior número com faixa etária de 16 a 18 anos, 14,70% estavam com 18

anos de idade, 37,04% 17 anos de idade e 31,18% 16 anos.

A relação dos jovens na faixa etária entre 15 a 17 anos com o ensino

fundamental completo em 1991 era de 23,04%, em 2000 52,89% e em 2010

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69,20%. Na faixa etária de 18 a 20 anos, com ensino médio completo em 1991 eram

11,24%, 2000 26,26% e em 2010 41,86%. (SEED, 2014)

Na tentativa de explicar a desistência dos jovens na formação de ensino

básico e médio recorreu-se a observá-los nas atividades produtivas, onde a taxa de

ocupação dos jovens em Paranaguá, no ano de 2000 foi de 62,45% já em 2010,

67,82%. O grau de formalização passou, respectivamente, de 60,80% para 67,86%

no mesmo período. Em 2010, das pessoas ocupadas com mais de 18 anos, apenas

3,11% trabalhavam no setor agropecuário, 0,49% na indústria extrativa, 8,62% na

indústria de transformação, 6,77% no setor de construção, 0,90% nos setores de

utilidade pública, 18,73% no comércio e 54,36% no setor de serviços.

No entanto, as perspectivas de emprego e renda no município de Paranaguá

são limitadas, pois as atividades portuárias, nas últimas décadas, estiveram em

processo crescente de tecnicização e, consequentemente, a demanda relativa de

mão de obra tornou-se cada vez menor e cada vez mais especializada.

Segundo dados do retirados do Caderno Estatístico Municipal do Instituto

Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES, 2014), o Produto

Interno Bruto (PIB) per capita e as receitas municipais totais de Paranaguá se

mantiveram aproximados desde 2006, tendo média de 47.425,00. Apesar da baixa

deste indicativo em 2009 de 23,95%, no ano seguinte ele superou 24,36% e em

2011 acresceu mais 18,59%.

Segundo o IPARDES (2014), no ano de 2010 o município de Paranaguá

possuía 60.828 pessoas ocupadas, principalmente: no Comércio, reparação de

veículos automotores e motocicletas com 12.362 ocupados, nos Transportes,

armazenagem e correio com 8.412; na Indústria de transformação com 5.166, na

Construção com 4.177, na Educação com 3.535, nos Serviços de Alojamento e

alimentação com 3.309, nos Serviços domésticos com 3.218 pessoas ocupadas.

Já quando se observa o número de empregos formais no Município estes são

pouco acima da metade, em 2011 33.578 empregos. Estes empregos estavam

relacionados a 2.760 empresas registradas. Esta diferença de número de pessoas

ocupadas e o número de empresa e emprego acabam impactado na sociedade de

forma distinta. Economicamente as pessoas empregadas possuem garantias

previdenciárias, salários, descanso e férias remuneradas, ou seja, são para o local o

fluxo de renda garantida. As ocupações apesar de poderem ser de longo prazo não

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expressam garantias de fluxo monetário no local. Igualmente nas ocupações, até

mesmo por elas incluírem as vinculações formais, o maior número de vinculação do

trabalho formal ocorre: no Comércio varejista, com 6.966 empregadas em 1.055

estabelecimentos, no Setor de transporte e comunicação, com 6.668 em 355

estabelecimentos, nos Serviços de alojamento, alimentação, reparos, manutenção,

radiodifusão e televisores com 4.715 empregados em 466 estabelecimentos, na

Administração pública direta e indireta com 4.681 empregados em 8

estabelecimentos, na Indústria química, produção farmacêutica, veterinária,

perfumaria, sabões, velas e materiais plásticos com 2.612 empregados em 28

estabelecimentos, na Administração de imóveis, valores mobiliários, serviços

técnicos profissionalizantes, auxiliar de atividades econômicas com 2.160 empregos

em 316 estabelecimentos, na Construção civil com 966 empregados em 97

estabelecimentos e, no Comércio atacadista com 783 empregados em 91

estabelecimentos.

REVISÃO DE LITERATURA

A JUVENTUDE NA ATUALIDADE

De acordo com a Lei nº 12.852, de 05 de agosto de 2013, que institui o

Estatuto da Juventude, jovem é uma pessoa com idade entre 15 e 29 anos, sendo

os jovens de 15 a 18 anos também considerados adolescentes, de acordo com a Lei

nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente

(ECA).

A juventude é uma fase onde o indivíduo está se descobrindo, conhecendo

por si sua identidade, traçando gostos e uma personalidade. Conceituar a juventude

na atualidade é um desafio enfrentado por diversos escritores, visto que o jovem não

é mais uma criança e nem é ainda um adulto. Sposito (2005) baseada em Galland

(1996)2 e Singly (2000)3, diz que:

22

GALLAND, Olivier, “L´entrée dans la vie adulte en France”, Sociologie et sociétés, vol. 28, núm. 1, 1996.

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A juventude é vivida como um processo definido a de uma inegável singularidade: é a fase de vida em que se inicia a busca dessa autonomia, marcada tanto pela construção de elementos da identidade – pessoal e coletiva – como por uma atitude de experimentação. (SPOSITO, 2005, p. 3)

Definir jovem isoladamente então se torna um desafio, visto que este é único

em seu modo de ser. Conforme Pais (19934, apud RAITZ e PETTERS, 2008),

existem diferentes juventudes e diferentes olhares, diferentes teorias que explicam a

juventude, de acordo com suas abordagens. É mergulhando nessa perspectiva de

incompletude que a corrente geracional concebe a fase da juventude, o jovem, um

sujeito incompleto, que depende do futuro, ou melhor, de seu ingresso na vida adulta

para ser reconhecido socialmente.

De acordo com Carrano (20005, apud RAITZ e PETTERS, 2008), a juventude

deve ser compreendida como uma complexidade variável: os jovens são diferentes

porque diferentes são seus modos de viver, diferentes são seus espaços e tempos

sociais, diferentes são suas identidades.

Raitz e Petters (2008, p. 410), ressaltam que ainda que “a juventude deve ser

compreendida como uma complexidade variável: os jovens são diferentes porque

diferentes são seus modos de viver, diferentes são seus espaços e tempos sociais,

diferentes são suas identidades.” O espaço e tempo contemplam as possibilidades a

ele ofertadas e as responsabilidades a ele delegadas entre outros.

Saviani (2007) salienta o drama vivenciado pelos jovens após terminar a

formação da educação básica, diante das novas oportunidades proporcionadas

pelas políticas educacionais brasileiras, o sistema produtivo e as exigências

estabelecidas pela própria sociedade.

Cada pessoa possui um ritmo e tempo próprio, por esse motivo nem todos

optam pelas mesmas coisas ao mesmo tempo ou no momento que esperam que ele

o faça. Raitz e Petters (2008, p. 408) lembram que “os jovens se deparam com

grandes impasses ao buscarem seu direito de trabalhar, de estudar, de realizar seus

3 SINGLY, François de, Sociologie de la famille contemporaine, Nathan, París, 1993.

______, “Penser autrement la jeunesse”, Lien social et politiques – RIAC, 43, 2000, pp. 9-21.

4 Pais, J. M. (1993). Culturas juvenis. Porto: Imprensa Nacional Casa da Moeda. 5 Carrano, P. C. R. (2000). Juventude: as identidades são múltiplas. Juventude, Educação e Sociedade, n.º 1, 52-72.

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sonhos e projetos de vida”, assim como acreditam que a fase da juventude é

incompleta e que apenas o ingresso à fase adulta pode fazê-lo ser compreendido na

sociedade (idem, p. 410).

A EDUCAÇÃO E O TRABALHO PARA O JOVEM

Qual o papel da educação escolar na sociedade atual? Bem, não é uma

tarefa fácil responder a esta questão, visto que muitas vezes a própria escola

desconhece o seu papel. Nas palavras de Dermeval Saviani, em seu artigo “O

trabalho como princípio educativo frente as novas tecnologias” (1994, p. 8) “Parece

que a escola cuida de tudo, menos de ensinar, de instruir.” Saviani (idem, p.1)

esclarece que a educação confundida com escola tem relação direta com o não-

trabalho. Salienta ainda que a educação potencializa o trabalho, na perspectiva de

que a educação é funcional para o sistema capitalista.

A tendência dominante é a de situar a educação no âmbito do não trabalho. Daí o caráter improdutivo da educação, isto é, o seu entendimento como um bem de consumo, objeto de fruição. Essa situação tendeu a se alterar a partir da década de 60 com o surgimento da "teoria do capital humano", passando a educação a ser entendida como algo não meramente ornamental mas decisivo para o desenvolvimento econômico, pois é funcional ao sistema capitalista, não apenas ideologicamente, mas também economicamente, enquanto qualificadora da mão de obra (força de trabalho).[...] Assim é que, desde suas origens, a escola foi posta do lado do trabalho intelectual, constituindo-se num instrumento para a preparação dos futuros dirigentes que se exercitavam não apenas nas funções da guerra (liderança militar), mas também nas funções de mando (liderança política), através do domínio da arte da palavra e do conhecimento dos fenômenos naturais e das regras de convivência social. (SAVIANI, 1994. p.10)

Segundo SILVA e PUZIOL (2013), foi através da Teoria do Capital Humano

e da Teoria do Capital Social aplicados nas políticas educacionais que se

materializaram no sistema educacional brasileiro por meio das ações do Estado,

dos programas e projetos educacionais, leis e documentos oficiais.

A teoria do Capital Humano e a Teoria do Capital Social, principal foco de estudo, se encaixam perfeitamente no contexto

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neoliberal em que estão inseridas as políticas educacionais, nas quais se tem a priorização do ensino voltado e organizado para o trabalho, ou seja, para a produção e formação de trabalhadores e/ou de novas medidas transplantadas no trabalho produtivo da sociedade capitalista. (SILVA e PUZIOL, 2013, p.02)

Pereira (2011, p.5) ressalta que o papel da educação é formar para o ofício e

preparar os jovens para trabalhos diferentes à medida que evoluem as formas de

produção.

Souza (2012, p. 87), baseada em Tanguy (1986)6 e Segnini (2000)7 destaca

que se com estudo não há garantia de trabalho, sem ele o exercício profissional

pode ser de forma precária: “o diploma não garante nem inserção profissional, nem

segurança no trabalho” ao mesmo tempo em que “a saída da escola se traduz por

desemprego, estágios, empregos precários, entre outras”.

Segundo o estudo realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e

Estudos Socioeconômicos (DIEESE, 2009) 70% dos jovens na faixa etária entre 16

a 24 anos que trabalhavam no setor do comércio e estavam longe das escolas, 60%

deles tinham o ensino médio completo ou o superior incompleto, 25% tinham o

ensino fundamental completo ou médio incompleto, 15% não possuía nenhuma

escolaridade ou possuía o superior completo.

O tema do jovem comerciário ultrapassa o mundo do trabalho, pelo fato de ser neste período da vida que o indivíduo completa sua formação, intelectual, moral, física etc. Assim, há que se pensar numa agenda que dê conta das necessidades de estudo, de acesso à cultura, de participação política, além das condições de trabalho (desenvolvimento físico) e de emprego (salário, tipo de vínculo etc.). (DIEESE, 2009, p 7)

Conciliar trabalho e estudo é um desafio para o jovem comerciário, mas não é

um problema que diz respeito apenas a ele, mas sim a toda sociedade e ao Estado.

É nessa fase que os jovens perdem, assim, muitas vezes, a ideia de que são

responsáveis pela sua própria história, faltam-lhes perspectivas para o futuro.

6 TANGUY, L. L´introuvable relation formation/emploi: un etat de recherches en France. Paris: La Documentation Francaise, 1986. 7 SEGNINI, L. Educacao e trabalho: uma relacao tao necessaria quanto insufi ciente. Sao Paulo em Perspectiva, Sao Paulo, v. 14, n. 2, p. 72-81, abr./jun. 2000.

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ANÁLISE DE DADOS

Dos jovens entrevistados 17,10% não pertencem aos municípios do Litoral:

2,7% nasceram em Morretes, 5,15% em Guaraqueçaba, 2,75% em Antonina, 1,37%

em Matinhos e Guaratuba.

GRÁFICO 02 - CIDADES DE ORIGEM DOS JOVENS

Fonte: Autor (2014)

Em relação ao tempo de residência em Paranaguá dos não nascidos, mais de

95% declaram residir no local, tempo superior ao inicio do ensino médio, ou seja,

mais de três anos.

Esses jovens em sua maioria residiam com pai e mãe, 56,8%, com a mãe

10%, com mãe e irmãos 7,5%, com mãe e padrasto 4,2%, com o marido ou esposa

3,6%, com o pai 3,5%, com avôs 4,6%, os demais com outros graus de parentesco.

Quanto à escolaridade dos pais 3,65% declararam que estes possuía o

ensino fundamental I incompleto, 3,91% o fundamental I completo, 12,40% o

fundamental II incompleto, 10,28% o fundamental II completo, 9,17% o ensino médio

incompleto, 28,46% o médio completo, 1,44% o ensino superior incompleto, 6,97% o

superior completo, 0,59% pós-graduação e 8,07% desconheciam a escolaridade dos

pais. Como parte significativa dos jovens residem com os pais, os elementos destes

espaços de socialização tornam-se importante para relaciona-los com as

perspectivas de educação dos jovens.

Os estudantes reconhecem tanto o nível de escolaridade dos pais quanto a

profissão deles. A profissão do pai foi destacada como de maior recorrência as

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atividades de: caminhoneiro ou motorista 7,6%, portuário ou estivador 5,4%,

construção civil 5,1%, autônomos 4,6%, aposentados 4,2%, operador de máquina

3,1%, vigilante/segurança 2,4% e vendedor/ representante de vendas 1,5%. Já a

profissão da mãe destacaram-se as atividades de: dona de casa, 24,6%, autonomia

5,1%, professora 4,6%, empregada doméstica 4,3%, cozinheira 3,7%, vendedora

3,1%, empresária 2,3%, funcionária pública e comerciante 2,0% cada.

Apesar de apenas 3,6% dos estudantes já constituírem sua própria família

como chefes mais de 9% necessitavam da renda obtida pelo trabalho para sua

manutenção e mais de 30% dos estudantes trabalhavam: 15,1% com carteira

registrada, 11,1% sem registro, 8,2% eram estagiários.

A profissão exercida foi identificada para apenas 3,74% do total dos

entrevistados. Entre as profissões exercidas pelos jovens estão: dona de casa

professora, doméstica, diarista e balconista pelas mulheres e construção civil e

enfermeiro homens.

Apesar de não trabalharem 33,22% dos jovens afirmavam saber desenvolver

alguma atividade produtiva, entre elas: informática 7,0%, auxiliar administrativo

6,0%, estagiário e vendedor 2,7%, eletrônica 2,0%, secretária 1,6%, técnico em

mecânica de automóveis 1,3% e caixa 0,9%.

Por se tratar de uma parcela da população que além de jovem podem ser

adolescente, a qual o exercício de atividade laboral somente pode ser exercido em

nível de aprendiz e a educação estarem condicionada ao recebimento de

transferência de renda para as famílias de baixa renda, os alunos foram

questionados se faziam parte de um de programas deste cunho, 16,99% afirmaram

pertencer a famílias beneficiárias.

Entre as profissões de maior interesse, almejadas pelas estudantes,

destacam-se as Administração 23,0%, Advocacia 27,7%, Arquiteto 8,5%, Biologia

11,8%, Ciências Contábeis 5,3%, Engenheiro, 9,9%, Enfermagem 12, 2%,

Fisioterapia 11,4%, Medicina 25,3%, Medicina Veterinária 15,3%, Militar 7,0%,

Odontologia 7,2%, Professor 21,0% e Psicologia 14,8%. Já as profissões de maior

interesse do público masculino, destacam-se as: Administração 23,7%, Advogado

19,0%, Arquiteto 6,1%, Biólogo 4,6%, Bombeiro 6,3%, Engenheiro 21,1%, Médico

14,6%, Militar 13,4%, Policial 5,6% e Professor 11,7%. Dos cursos ofertados no

Setor Litoral da Universidade Federal do Paraná, foram citados pelos pesquisados:

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Gestão Pública 0,2%, Artes 0,4%, Serviço Social 0,6%, Gestão e

Empreendedorismo 0,7%, Gestão Ambiental 1,5% e Turismo 2,0%.

Nem todos os jovens após terminar o ensino médio pretendem ingressar no

ensino superior: os jovens que desejam trabalhar 67,5%, 68% desejam continuar

estudando, 16,9% pretendem mudar de cidade, 9,1% almejam constituir família e

7,2% planejam continuar no Litoral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muitas possibilidades estão presentes nas análises e no tratamento dos dados em

relação aos caminhos que os jovens pretendem seguir após concluírem o ensino

médio. Havia um número elevado de estudantes que optavam por cursos mais

tradicionais como engenharia e medicina, no entanto isto deve ser avaliado com

cuidado em decorrência que estes cursos não são ofertados na Região e poucos

jovens manifestaram interesse em mudar-se da Região.

Em contrapartida, onze dos cursos de ensino superior, são ofertados nas IES

do litoral: Professor, Direito, Administração, Engenharia Ambiental, Biologia,

Oceanografia, Serviço Social, Gestão Pública, Gestão e empreendedorismo,

Turismo e Artes.

De acordo com a literatura específica sobre a educação e o trabalho observa-

se que a educação superior não garante um melhor posicionamento no mundo do

trabalho, mas a não realização deste pode promover ocupações precárias, neste

sentido salienta-se que as ocupações precárias já existem em grande número no

município de Paranaguá, especialmente pela parcela de jovens que não realizaram

nem o ensino médio. A entrada ainda jovem no mundo de trabalho sem a ampliação

ou profissionalização tende a elevar a oferta e a precariedade nas ocupações dos

jovens no Município.

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Juventude e dá providências. Brasília: Senado Federal, 2013.

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