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POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO CENTRO DE ALTOS ESTUDOS DE SEGURANÇA CAES “CEL PM NELSON DE FREIRE TERRA” CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS - CAO I / 2011 Cap PM Luiz Gustavo Toaldo Pistori O RELATÓRIO DE AVERIGUAÇÃO DE INCIDENTE ADMINISTRATIVO (RAIA) COMO INSTRUMENTO DE FISCALIZAÇÃO NO MUNICÍPIO DE JAÚ SÃO PAULO 2011

Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

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POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

CENTRO DE ALTOS ESTUDOS DE SEGURANÇA

CAES “CEL PM NELSON DE FREIRE TERRA”

CURSO DE APERFEIÇOAMENTO DE OFICIAIS - CAO – I / 2011

Cap PM Luiz Gustavo Toaldo Pistori

O RELATÓRIO DE AVERIGUAÇÃO DE INCIDENTE ADMINISTRATIVO (RAIA)

COMO INSTRUMENTO DE FISCALIZAÇÃO NO MUNICÍPIO DE JAÚ

SÃO PAULO

2011

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Cap PM Luiz Gustavo Toaldo Pistori

O RELATÓRIO DE AVERIGUAÇÃO DE INCIDENTE ADMINISTRATIVO (RAIA)

COMO INSTRUMENTO DE FISCALIZAÇÃO NO MUNICÍPIO DE JAÚ

Dissertação apresentada no Centro de Altos

Estudos de Segurança, como parte dos

requisitos para obtenção do Mestrado em

Ciências Policiais de Segurança e Ordem

Pública.

Orientador: Prof. Dr. Fernando Frederico de Almeida Júnior

SÃO PAULO

2011

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Cap PM Luiz Gustavo Toaldo Pistori

O RELATÓRIO DE AVERIGUAÇÃO DE INCIDENTE ADMINISTRATIVO (RAIA)

COMO INSTRUMENTO DE FISCALIZAÇÃO NO MUNICÍPIO DE JAÚ

Dissertação apresentada no Centro de Altos Estudos de Segurança, como parte dos requisitos para obtenção do Mestrado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública.

( ) Recomendamos disponibilizar para pesquisa ( ) Não recomendamos disponibilizar para pesquisa ( ) Recomendamos a publicação ( ) Não recomendamos a publicação

São Paulo, 06 de outubro de 2011.

______________________________________________ Prof. Dr. Fernando Frederico de Almeida Júnior

Faculdades Integradas de Jaú

______________________________________________ Ten Cel PM Eduardo Agrella Camargo

______________________________________________ Maj PM Marcelo José Rabello Vianna

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Este trabalho é dedicado:

A Deus Pai, pelas Graças recebidas ao longo de toda minha vida e pelas

Forças inestimáveis para concluir com êxito este trabalho.

À minha amada e inseparável esposa, Ana Teresa, que sempre me apoiou

nas horas mais difíceis e importantes desta longa jornada profissional.

Às minhas jóias mais que preciosas, Ana Laura e Ana Lívia, pelo amor

incondicional que me dedicam e pelas lágrimas caídas de saudades na minha

ausência.

Aos meus amados pais, Pedro Pistori e Maria Helena Toaldo Pistori, pelos

exemplos de vida, abnegação e fé, que lapidaram meu caráter.

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Agradecimentos

Ao Professor e amigo, Doutor Fernando Frederico de Almeida Júnior, que

acreditou no projeto, incentivou a pesquisa e sempre orientou este trabalho com

primorosas intervenções de análise crítica e sugestões.

Aos Oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo: o Cel PM LEME, o Ten

Cel DUTRA, o Ten Cel PM AZOR, o Ten Cel PM FÉLIX, o Maj PM PAULO DE

TARSO, o Cap PM MENDES, o Ten PM JOÃO HENRIQUE e a Ten PM GARUTTI,

pelas opiniões ofertadas à formação deste trabalho.

Ao Excelentíssimo Promotor de Justiça de São Paulo, o Dr. Mário Vicente

Malaquias e ao Procurador do Estado de São Paulo, o Dr. Luís Antônio da Silva

Duarte, pelas opiniões e sugestões concedidas à elaboração deste trabalho.

Aos Oficiais, o Ten Cel PM AGRELLA e Maj PM VIANNA, membros da Banca

Examinadora, pelas providenciais sugestões à conclusão deste trabalho.

Aos Oficiais e Praças docentes e aos membros do Centro de Altos Estudos de

Segurança- CAES, pela proficiência e estrutura dada ao corpo discente.

Aos Oficiais companheiros de jornada, que de alguma forma ao longo do curso,

contribuíram com ânimo e amizade no desenvolvimento e conclusão deste trabalho,

em especial, aos novos irmãos, Cap PM ELENU SHIBATA BRANDÃO, Cap PM

FÁBIO ROGÉRIO CÂNDIDO e Cap PM JOÃO LUIS MINGHETI COSTA, pelo

companheirismo e apreço a mim destinados.

A todos meus familiares e aqueles que, de alguma forma, possibilitaram a

conclusão deste trabalho.

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“O cidadão espera do policial que ele tenha a

sabedoria de Salomão, a coragem de Davi, a força

de Sansão, a paciência de Jó, a autoridade de

Moisés, a bondade do Samaritano, o saber

estratégico de Alexandre, a fé de Daniel, a

diplomacia de Lincoln, a tolerância do Carpinteiro

de Nazaré e, enfim, um conhecimento profundo das

ciências naturais, biológicas e sociais. E se ele tiver

tudo isso, pode ser que seja um bom policial”.

August Vollmer

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Resumo

Este trabalho apresenta um estudo de viabilidade sobre o Relatório de Averiguação de Incidente Administrativo (RAIA) como instrumento de fiscalização administrativa municipal na cidade de Jaú/SP, representando o ineditismo e um grande avanço nas relações institucionais da Polícia Militar do Estado de São Paulo com o Poder Executivo Municipal, pois amplia o espectro de atuação do exercício da polícia administrativa de preservação da ordem pública no âmbito do interesse local. Evidencia que as questões de segurança e ordem pública não são necessariamente questões policiais, pois em sua maioria, ensejam mais atuações em outras áreas de competências do que as propriamente de polícia ostensiva ou de preservação da ordem pública. Os fatores causais da incivilidade e da criminalidade, quando não tratados oportuna e adequadamente, tendem a acirrar-se, em níveis sucessivos de frequência, intensidade e duração, gerando grande ônus operacional e diminuição da sensação de segurança pública local. Logo, intervir nesses aspectos causais primários torna os resultados muito mais duradouros e menos onerosos à sociedade. Para tanto, é fundamental a delegação de competências de polícia administrativa especial à Polícia Militar de Jaú para que maximize o exercício da polícia de preservação da ordem pública e aplique medidas imediatas de repressão administrativa. Conclui-se que, uma polícia cidadã e de proximidade comunitária precisa exercer a repressão imediata e eficaz aos que descumprem voluntariamente as normas. Analisados os aspectos legais, doutrinários e o referencial teórico próprio das Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública, este estudo hipotético-dedutivo concluiu também, que é possível o desempenho de atividade delegada no exercício pleno da polícia administrativa municipal, desde que seja firmado convênio a respeito, delimitando as atribuições suficientes e relevantes a esse exercício. O RAIA, mais do que um mero formulário a ser preenchido, representa um novo conceito de atuação policial, voltado à proximidade, ao engajamento, à proatividade criativa, todas características típicas da filosofia de Polícia Comunitária.

Palavras-chave: Polícia Militar. Ciências Policiais. Segurança Pública. Polícia Administrativa. Fiscalização Municipal. Postura Municipal. RAIA.

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Abstract

This work presents a feasibility study on the Report of Verification of Administrative Incident (RVAI) like instrument of administrative municipal inspection in the city of Jahu/SP, representing the inedit and a great advance in the institutional relations of the Military Police of the State of Sao Paulo with the Executive Municipal Power, since it enlarges the specter of acting of the exercise of the administrative police of preservation of the public order in the context of the local interest. It makes evident that the questions of security and public order are not necessarily police questions, since in his majority, they afford an opportunity for some more actings in other areas of competences of what them properly of ostensible police or preservation of the public order. The causal factors of the rudeness and of the criminality, when not treated opportunely and appropriately, tend to be incited, in successive levels of frequency, intensity and duration, producing great operational onus and reduction of the sensation of public local security. So for that, there the delegation of competences is basic for administrative special police to the Military police of Jahu so that it maximizes the exercise of the police officer of preservation of the public order and applies to immediate measures of administrative repression. When the legal aspects were analyzed, doctrinally and even theoretically referential system of the Police Sciences of Security and Public Order, this deductive-hypothetical study and the theoretical referential also concluded, that it is possible to perform of activity delegated in the plain exercise of the administrative municipal police, since convention is signed for in respect, delimiting the attributions sufficient and relevant to this exercise. The RVAI, more than a mere form to be filled out, represents a new concept of police, acting turned to the proximity, to the commitment, to the creative proactively, all typical characteristics of the philosophy of Communitarian Police officer.

Keywords: Militar Police. Police Sciences. Public Security. Administrative Police. Municipal Inspection. Municipal Attitude. RVAI.

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Lista de Figuras

Figura 1- Jaú na Região Administrativa de Bauru dentro do Estado de SP. ............. 32

Figura 2- Área do CPI-4, região de Bauru/SP. .......................................................... 47

Figura 3- Limites territoriais da 1ª Cia PM do 27º BPM/I em Jaú/SP......................... 47

Figura 4- Organograma do 27º BPM/I para Jaú/SP. ................................................. 48

Figura 5- Vitimização na Capital/SP, por final de semana. ....................................... 51

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Lista de Tabelas

Tabela 1- Características Populacionais e demográficas de Jaú/SP ........................ 33

Tabela 2- Características Habitacionais e de Infraestrutura de Jaú/SP .................... 33

Tabela 3- Dados Econômicos de Emprego e Renda em Jaú/SP .............................. 34

Tabela 4- Registro de Ocorrências, até agosto de 2011, em Jaú/SP. ....................... 49

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Sumário

Introdução ................................................................................................................ 12

1 O Relatório de Averiguação de Incidente Administrativo (RAIA) .................... 14

1.1 Origens e evolução ............................................................................................. 14

1.2 O RAIA hoje ........................................................................................................ 18

1.3 O RAIA no Sistema de Gestão da PMESP (GESPOL) ....................................... 21

1.3.1 O RAIA no Policiamento Comunitário .............................................................. 23

1.3.2 O RAIA na Gestão pela Qualidade ................................................................... 28

1.3.3 O RAIA e os Direitos Humanos ........................................................................ 29

2. O Município de Jaú ............................................................................................. 31

2.1 Breve histórico ..................................................................................................... 31

2.2 Características gerais e econômicas ................................................................... 32

2.3 Estrutura da fiscalização municipal em Jaú ......................................................... 35

2.3.1 Alguns dados e números .................................................................................. 35

2.3.2 Referências legais ............................................................................................ 37

2.3.3 Outras considerações....................................................................................... 42

3 A Polícia Militar do Estado de São Paulo na cidade de Jaú ............................. 44

3.1 Breve esboço histórico ........................................................................................ 44

3.2 Estrutura operacional .......................................................................................... 45

3.3 Estrutura organizacional ...................................................................................... 46

3.4 Algumas estatísticas ........................................................................................... 48

4 O RAIA e as Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública ...................... 52

4.1 Referências Legais da atuação da Polícia Militar ................................................ 52

4.2 Referências Teóricas em Criminologia ................................................................ 58

4.2.1 Modelo Social ................................................................................................... 58

4.2.2 Modelo Mecânico ............................................................................................. 60

4.2.3 Modelo Comunitário ......................................................................................... 65

5 Referências para atuação conjunta: PMESP e Prefeitura de Jaú .................... 68

5.1 Delimitações para Polícia Administrativa Geral e Especial ................................. 68

5.2 Polícia Administrativa Repressiva Imediata ......................................................... 71

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5.2.1 Fiscalização de Posturas Municipais ................................................................ 73

5.2.2 Fiscalização de Meio Ambiente ........................................................................ 77

5.3 Poder de Polícia e sua delegabilidade ................................................................ 79

5.4 Meios e eficácia da fiscalização municipal na defesa do interesse público ......... 86

Considerações finais .............................................................................................. 90

Referências .............................................................................................................. 96

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Introdução

As questões de segurança e ordem pública não são necessariamente

“questões policiais”, pois, em sua maioria, ensejam mais atuações em outras áreas

de competência do que as propriamente de polícia ostensiva.

Os fatores causais de violência e criminalidade de menor potencial ofensivo,

quando não tratados oportuna e adequadamente, tendem a acirrar níveis sucessivos

de frequência, intensidade e duração das ocorrências policiais, aumentando

significativamente o ônus operacional e afetando de forma negativa a “sensação de

segurança” na população.

Instituído pela Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMESP), o Relatório

de Averiguação de Incidente Administrativo (RAIA), desenvolvendo-se

continuamente, veio a atender a essa premissa. Entretanto, por diversas vezes não

interrompe o motivo desencadeador da intervenção policial, perpetuando o senso

errôneo de “ineficiência e ineficácia da Polícia” em resolver problemas de menor

potencial ofensivo.

Logo, requer melhorias nos seus atributos como ato administrativo, nas

atividades de Polícia Administrativa de Segurança, para trazer maior eficiência das

atividades de polícia ostensiva e de preservação da ordem pública e eficácia para os

níveis de sensação de segurança da sociedade.

O presente estudo tem como escopo verificar a viabilidade da delegação de

determinadas atividades de polícia administrativa municipal, mediante a utilização do

RAIA nas ações de polícia administrativa de segurança e de preservação da ordem

pública.

Os parâmetros do estudo se situam geográfica e institucionalmente à

realidade do município de Jaú, interior paulista, muito embora possam servir de

embasamento para novas pesquisas, considerando as raízes da sensação de

insegurança e os diversos fatores que concorrem acirradamente para a violência

urbana.

Iniciar-se-á a pesquisa apresentando a definição, origens e evolução do

RAIA até os dias atuais, bem como, o seu papel transversal na filosofia de Polícia

Comunitária, na gestão pela qualidade e o seu papel no cenário de implementação

dos Direitos Humanos na atividade policial-militar.

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Em seguida, far-se-á um estudo acerca do município de Jaú, realizando-se

um breve histórico e apresentando suas características gerais e econômicas,

relevantes ao interesse deste trabalho, notadamente sua estrutura de fiscalização

municipal e considerações a respeito de sua capacidade operacional.

Num capítulo posterior abordar-se-á a atividade da Polícia Militar no

município de Jaú, com um breve esboço histórico, estrutura funcional, indicadores

criminais e relevância das atividades realizadas.

Em continuidade, serão identificados os principais referenciais teóricos

adotados para este estudo hipotético dedutivo nas Ciências Policiais de Segurança e

Ordem Pública, em sentido amplo, trazendo aspectos legais, conceituais e

doutrinários sobre a atuação Polícia Militar, bem como apresentando sintético

referencial teórico da criminologia moderna que embasa este estudo.

Após, a pesquisa se direcionará para o arcabouço jurídico que fundamenta e

especifica a atividade fiscalizatória municipal, as necessidades de melhorias e

enfoque nas atividades de interesse para uma propositura de um convênio com a

Polícia Militar do Estado de São Paulo, bem como, propostas de aspectos

operacionais a serem observados pelas partes.

Encerrar-se-á o presente trabalho com a apresentação de considerações

conclusivas e objetivas acerca do que foi proposto.

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1 O Relatório de Averiguação de Incidente Administrativo (RAIA)

1.1 Origens e evolução

O RAIA é um documento oficial da Polícia Militar do Estado de São Paulo

(PMESP) a ser preenchido pelo policial militar no exercício das suas atividades de

polícia ostensiva e de preservação da ordem pública, de bombeiro e de defesa civil,

ao ser comunicado ou se constatar a existência de incidentes administrativos que,

de alguma forma, possam afetar a ordem pública em qualquer dos seus aspectos

(tranquilidade pública, salubridade pública e segurança pública), sem prejuízo das

medidas de caráter operacional que eventualmente possam ser adotadas, vez que a

função policial militar obriga atuação em tempo real, no calor dos fatos,

diferentemente da maioria dos demais órgãos e entidades.

A primeira versão foi instituída na PMESP pela Portaria Nº PM3-001/02/04,

de 01 de setembro de 2004, publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo, nº

169, de 04 de setembro de 2004, com a denominação “Relatório de Averiguação de

Indícios de Infração Administrativa – RAIIA”, tendo as seguintes considerações:

Considerando que no espectro das atividades próprias de segurança pública, com ações preventivas e repressivas imediatas, encontram-se também aquelas que dizem respeito à contenção de toda e qualquer violação aos direitos das pessoas, sobretudo na busca por melhor qualidade de vida; Considerando que, na esteira da filosofia do Policiamento Comunitário, firmemente seguida pela Polícia Militar do Estado, devem ser adotadas ações pró-ativas no que concerne à preservação da ordem pública nos seus três aspectos – segurança pública, salubridade pública e tranqüilidade pública; Considerando competir a cada órgão público, entidades e instituições, legalmente definidas, a responsabilidade por administrar questões sobre violação de normas administrativas, sanitárias, fiscais, trabalhistas, civis etc., na esfera de suas respectivas atribuições, e que, para tanto, ao serem comunicados ou constatarem qualquer infração às referidas normas, devem adotar as providências necessárias para a devida solução, [...].

Nota-se que, já as iniciais traçam o largo espectro, a vocação e a

transversalidade que este instituto poderá atingir se plenamente aplicado e

processado pelos respectivos órgãos públicos responsáveis sobre as questões de

interesse da preservação da ordem pública.

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E para tanto, determina ao policial militar elaborá-lo quando fosse

comunicado ou constatasse indícios de infrações administrativas em geral, que

possam afetar a ordem pública em qualquer dos seus aspectos (segurança pública,

salubridade pública e/ou tranquilidade pública), sem prejuízo das medidas de caráter

policial que eventualmente couberem.

A Ordem de Serviço Nº PM3-047/02/04-CIRCULAR, de 08 de setembro de

2004, disciplinou a aludida Portaria fornecendo detalhes de preenchimento com

exemplos de algumas infrações administrativas passíveis de serem relatadas:

[...] 1.7 são exemplos de infrações administrativas: 1.7.1 recusa de albergue em receber pessoa apresentada pela PM; 1.7.2 recusa de órgão competente em receber criança ou adolescente apresentado pela PM; 1.7.3 estabelecimentos comerciais que não emitem nota fiscal; 1.7.4 estabelecimentos comerciais com visível deficiência de higiene sanitária; 1.7.5 logradouros com iluminação deficiente (lâmpadas faltando ou queimadas); 1.7.6 terrenos desprovidos de muros e/ou que contenham lixo, entulho, mato etc.; 1.7.7 obras abandonadas, abertas e sem iluminação; 1.7.8 existência de buracos na via pública ou nas calçadas que, pela dimensão, possam representar perigo à integridade física das pessoas; 1.7.9 local que produza ruído ou barulho que incomode a vizinhança; 1.7.10 falta ou defeito na sinalização de trânsito [...].

Os Boletins Gerais PM Nº 170, de 09 de setembro de 2004 e Nº 235, de 15

de dezembro de 2004, respectivamente, deram forma e instruções de

preenchimento, originando o Formulário PM O-31.

Nota-se que as demandas operacionais, acima exemplificadas, têm o

condão de interlocução com órgãos responsáveis por elas, mas que a princípio,

foram constatadas pela Polícia Militar.

Cabe ainda ressaltar que, a partir de então, surgia nova perspectiva de

melhorar a delimitação de competências dos diferentes órgãos públicos perante a

comunidade, pois as responsabilidades acabavam recaindo somente à Polícia

Militar, de maneira que havia a necessidade de aperfeiçoar a interlocução com

demais órgãos do poder público local para que, de fato, os problemas decorrentes

de suas falhas operacionais fossem resolvidos a contento, sem posteriores

intervenções policiais.

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Nesse diapasão, o Cel PM Alberto Silveira Rodrigues, Comandante Geral da

PMESP, à época da criação do RAIIA, declarou em entrevista1:

[...] Nesse contexto, a Polícia Militar acaba sendo responsabilizada por coisas que não são de responsabilidade dela, mas pela repercussão do delito, o fato; os autores; as vítimas e os agentes do Estado, entre eles os policiais, são alvo de discussão, e; os fatores, neles incluído o ambiente propício para a prática delituosa, são deixados para um plano secundário [...] (RODRIGUES, 2009).

E acrescentou justamente que: “... o relatório seria um auxílio para a

Prefeitura, naquilo que concerne ao cumprimento da lei e à necessidade de

fiscalização pelo Poder Público...”, a fim de subsidiar seu poder de polícia

administrativa.

Segundo Carvalho (2008, p. 106), mesmo a nova e positiva iniciativa em

tornar um documento interno da Polícia Militar com repercussão externa corporis,

todavia, com o passar do tempo, em suas visitas de campo a diversos Grandes

Comandos de Policiamento da Capital e do Interior, muito bem diagnosticou a

subutilização do relatório, devido ao descrédito dos policiais militares nas

providências que deveriam ser adotadas por outro(s) órgão(s).

Constatou também em sua pesquisa o entendimento errôneo ou desvirtuado

que os poderes locais teriam sobre o relatório, porque ao invés vislumbrarem como

um auxílio da PMESP, entenderam ora como ingerência ora instrumento de

intervenção do Estado ora uma espécie de intromissão político-administrativa na

gestão municipal.

Em contrapartida, Carvalho (2008, p.106) asseverou ainda, que o RAIIA

estaria longe de ser uma ingerência indevida na atividade alheia, pois na verdade

seria uma forma de colaboração dos policiais militares ao identificar eventuais

problemas e possíveis soluções, o que traria legitimidade às ações de polícia, caso

houvesse violência por decorrência das infrações administrativas.

E concluiu:

Dessa forma, o estudo que ora se conclui apresentou propostas de ações estratégicas para desenvolvimento por parte do binômio Estado e Município, objetivando o controle da violência urbana. Uma das ferramentas mais importantes de efetivação da parceria entre ambos os entes federativos é o RAIIA, que permite à Polícia Militar identificar problemas de interesse de segurança pública, notificando o órgão competente, ao mesmo tempo em que permite ao município tomar ciência de problemas que, muitas vezes, ficariam em completo desconhecimento,

1 Realizada em 17 de julho de 2009, concedida ao então Cap PM Marcelo José Rabello Vianna, para conclusão da sua dissertação do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais- CAO- II / 2009.

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propiciando sua solução. Assim, a incremento do RAIIA é uma das propostas deste estudo, a partir de um trabalho de divulgação e fixação, objetivando eliminar as resistências internas e externas referentes respectivamente à sua elaboração e aceitação [...] (CARVALHO, 2008, p.121).

Sua conclusão tanto retratou àquela realidade, que a rotina de

encaminhamento do RAIIA, elaborado pelo policial militar de serviço, fora alterada do

âmbito local para o escalão superior, em nível de Grande Comando (CPC, CPM,

CPA/M e CPI) 2 e destes aos respectivos Poderes Executivos Municipais ou órgãos

afetos à competência de resolução dos problemas apontados.

Por um lado, tais medidas facilitaram a gestão das relações institucionais,

com o poder público municipal e outros órgãos, onde fossem deficitárias e/ou

controversas. Por outro, onde havia um bom trâmite institucional gerou certos

constrangimentos, haja vista a desnecessidade de um terceiro tomar conhecimento

de uma situação que poderia ser resolvida, pessoalmente ou em âmbito local, sem

haver qualquer desgaste político regional.

Os impactos (eficiência e eficácia) dessas iniciativas na prevenção criminal

foram também avaliados por Santos (2009, p. 82), ao indicar que a mera aplicação

do relatório muito pouco contribuiria para a efetiva melhoria das condições do

ambiente e a satisfação da comunidade, por outro lado, é fundamental à

concretização da filosofia de polícia comunitária, para propagar o envolvimento de

toda sociedade nas questões de segurança pública.

Acredita também que esse relatório estimularia, implicitamente, a obrigação

moral do policial militar em relacionar-se com outros órgãos prestadores de serviços

públicos, que de alguma forma tivessem responsabilidades sobre fatos geradores de

insegurança, evitando-se a visão muito simplista, de meramente nomear falhas dos

outros e argumentar que “fez-se o relatório”, e não teve nenhuma resposta de quem

deveria dar solução.

Outro aspecto indicado por Santos (2009, p. 82), seria a necessidade do

representante da Polícia Militar, responsável pelo território onde há o problema, estar

integrado à comunidade e fluente às instituições, entidades ou órgãos externos para

2 Comando de Policiamento da Capital (CPC), Comando de Policiamento Metropolitano (CPM), que abrange toda a região metropolitana de São Paulo e ambos com Comandos de Policiamento de Área/ Metropolitano (CPA/M) a eles subordinados, bem como, Comandos de Policiamento do Interior (CPI).

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que, juntos pudessem formar verdadeiras redes de ações integradas na solução de

casos que afligissem a sensação de segurança local.

Tangenciando o tema, Vianna (2009) elaborou um audacioso trabalho sobre

outro importante aspecto no processo evolutivo do relatório, estabelecendo uma

proposta de fluxograma de tramitação, informatização e melhoria da celeridade das

tratativas do então RAIIA, havendo um grande salto de qualidade no controle, na

transparência, no encaminhamento e, principalmente, nos rápidos feedbacks,

oriundos das diversas estruturas e órgãos destinatários.

1.2 O RAIA hoje

Em processo de atualização e contínuo aprimoramento técnico e

operacional, uma nova e atual versão deste relatório foi instituída na PMESP, pela

Portaria Nº PM3-002/02/103, de 19 de agosto de 2010, publicada no Diário Oficial do

Estado de São Paulo, nº 163, de 27 de agosto de 2010, e inserta no Boletim Geral

PM Nº 164, de 30 de agosto de 2011, estabelecendo nova denominação: Relatório

de Averiguação de Incidente Administrativo (RAIA).

Alterou-se, portanto, sua denominação e impôs nova conceituação e sintonia

ao tratamento do relatório perante os órgãos destinatários, conforme texto abaixo:

[...] considerando competir a cada órgão público, entidades e instituições, legalmente definidas, a responsabilidade por administrar questões sobre incidentes administrativos na esfera de suas respectivas atribuições, e que, para tanto, ao serem comunicados ou constatarem qualquer incidente administrativo, devem adotar as providências necessárias para a devida solução [...] (g.n.).

Pelo enunciado, o caráter instrumental de auxílio e interlocução com outros

órgãos foi ampliado, pois na medida em que a versão anterior indicava “averiguação

de indícios de infração administrativa” (em sentido amplo), o policial militar ao

constatar determinada situação de falha do poder público local (falta de iluminação

pública ou defeito na pavimentação viária, por exemplo), não poderia tipificá-la como

sendo uma infração administrativa em si, primeiro por falta de amparo e competência

3 Disponível em <http://www.intranet.polmil.sp.gov.br/organizacao/unidades/3empm/legislacao/ordemservico/RAIA.zip>.

Acesso em: 10 abr. 2011.

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legal e segundo, feriria o pacto federativo instituído pela Constituição Federal de

1988.

Outra alteração na nova versão agregou oportunamente em seu artigo 1º, os

policiais militares afetos às atividades de bombeiro e de defesa civil por serem

igualmente responsáveis pela preservação da ordem pública em sentido amplo e,

especificamente, pelas atividades de salubridade pública e de defesa civil.

[...] Artigo 1º - O policial militar, quando no exercício de suas atividades de polícia ostensiva e de preservação da ordem pública, de bombeiro e de defesa civil, ao ser comunicado ou constatar a existência de incidente administrativo que, de alguma forma, possa afetar a ordem pública em qualquer dos seus aspectos (segurança pública, salubridade pública e ou tranqüilidade pública), deverá, incontinenti, elaborar o Relatório sobre Averiguação de Incidente Administrativo - RAIA, nos termos do modelo anexo a esta Portaria, sem prejuízo das medidas de caráter operacional que, eventualmente, couberem [...].

Já no artigo 3º houve a abertura de um novo cenário para o

encaminhamento e tramitação do relatório aos órgãos de interesse, para a resolução

dos problemas afetos às suas respectivas áreas, havendo maior abertura para a sua

elaboração e flexibilidade no seu encaminhamento, na medida em que não o

vinculou a determinados níveis hierárquicos.

[...] Artigo 3º- O Subcomandante da Polícia Militar disciplinará os procedimentos necessários para a elaboração e o encaminhamento dos RAIA à Prefeitura Municipal local ou a outro órgão público municipal, estadual ou federal que tenha atribuição legal para conhecimento e solução do incidente administrativo constatado pela PMESP [...].

Tal mudança se justifica, pois com os avanços da tecnologia da informação

e comunicação (TIC) e a redefinição de rotinas administrativas na Capital paulista,

possibilitaram a inclusão e a informatização desses relatórios nos sistemas

inteligentes da PMESP, como: SIOPM4, COPOM ONLINE5, e sua interface com o

Sistema de Atendimento ao Cidadão (SAC-PRODAM) 6, da Prefeitura Municipal de

São Paulo (PMSP).

No cenário operacional, a formalização dos Boletins de Ocorrência Policial

Militar (BOPM) com elaboração do RAIA, teve sua plataforma alterada no Manual de

Codificação de Ocorrências (M-16-PM) e instituída na Ordem de Serviço Nº PM3-

4 SIOPM: estruturado a partir dos Centros de Operações (COPOM) interligados, possibilita a extração de relatórios gerenciais em relação à atividade operacional.

5 COPOM ONLINE: base de dados georeferenciada que disponibiliza as informações relativas aos indicadores criminais e emprego dos ativos operacionais.

6 Sistema de Atendimento ao Cidadão criado pela Empresa de Tecnologia da Informação e

Comunicação do Município de São Paulo com interface nos Sistemas Inteligentes da PMESP.

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010/02/10- CIRCULAR, em 27 de agosto de 2010, na qual apresentou a tabela de

códigos de ocorrências, para vários tipos de intervenções possíveis que ensejam a

confecção do RAIA, sem prejuízo das demais medidas de polícia ostensiva e de

polícia de preservação da ordem pública.

No sentido de tornar o relatório conhecido e internalizar seus princípios no

comportamento dos policiais militares, a divulgação e o treinamento para a sua

elaboração, desenvolvem-se mediante: as preleções diárias nos serviços

operacionais; a afixação de informativos em murais; as instruções ministradas tendo

como conteúdo a “Instrução Continuada de Comando” (ICC- Súmula Nº 0347, de 14

de dezembro de 2010) 8, as exibições do “Programa de Vídeo Treinamento” (PVT)9;

e as aulas da grade curricular do “Estágio de Aprimoramento Profissional” (EAP)10

do 27º BPM/I.

Na Cidade de São Paulo, rapidamente, iniciou-se à época, a protocolização

online do RAIA no sistema SAC-PRODAM, gerando o conhecimento do fato ao

respectivo órgão, setor ou Subprefeitura Municipal, responsável pelo saneamento do

caso, incluindo ainda, a possibilidade de resposta desse órgão ao agente da

PMESP, sobre as medidas adotadas.

Na cidade de Jaú, porém, o trâmite ainda se faz por mensagens eletrônicas

(e-mails) ao Secretário Municipal de Relações Institucionais, que os distribui aos

respectivos Secretários Municipais, chefes das pastas responsáveis pela natureza

das ocorrências de polícia administrativa.

7

Disponível em <http://www.intranet.policiamilitar.sp.gov.br/icc/ICC_34_10_RAIA_JAN2011.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2011.

8 Instrução Continuada do Comando (ICC): desde 2008, consiste em um método regular e continuado de instrução para o efetivo das OPM, sob responsabilidade dos respectivos comandantes, visando difundir assuntos relacionados aos Procedimentos Operacionais Padrão (POP) e outros de interesse estratégico do Comando Geral, estimulando o pensamento reflexivo e adesão consciente às normas em vigor e a prevenção a situações indesejáveis.

9 Programa Vídeo Treinamento (PVT): desde 1999, realizado sazonalmente trata-se de programa de treinamento continuado de ensino a distância, sendo disponibilizadas atualmente mídias em DVD, cujo conteúdo é definido pela Alta Direção da Instituição com o escopo de disseminar o assunto a toda a força de trabalho e evitar a ocorrência de efeitos indesejáveis.

10 Estágio de Atualização Profissional (EAP): desde 2001, consiste na requalificação do policial militar, nos níveis gerencial, supervisão e operacional para o exercício de suas atividades, propiciando constante revitalização de conhecimentos, técnicas, aperfeiçoamento de habilidades, correção de atitudes e reavaliação de valores morais, sociais e comportamentais. É desenvolvido compulsoriamente em todos os círculos, até Cap PM sem o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais (CAO), anualmente e tem por objetivo a prevenção de situações indesejáveis.

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1.3 O RAIA no Sistema de Gestão da PMESP (GESPOL)

O Sistema de Gestão da Polícia Militar do Estado de São Paulo, intitulado

como GESPOL, é um compêndio literário que consolida e estabelece de maneira

clara o pensamento sistêmico na gestão organizacional, a fim de permitir que os

princípios da eficácia, eficiência, efetividade e excelência se consolidem a partir de

processos e padrões definidos, sob a visão mais moderna da administração,

alinhadas à legislação pertinente, que ordena o funcionamento administrativo e

operacional da PMESP.

A Gestão Operacional é considerada o foco desse Sistema de Gestão, pois

representa o momento crítico de interface com o cidadão, receptor dos serviços

públicos da Instituição, portanto, ela deve estar orientada para atender plenamente

suas missões constitucionais de polícia ostensiva e de preservação da ordem

pública.

A atividade de polícia ostensiva se desenvolve pela prevenção primária11 e

secundária 12 , para a aplicação da lei e evitar o cometimento de infrações

administrativas ou de ilícitos penais. E a preservação da ordem pública, visa

restaurá-la, mediante ações coercitivas de repressão imediata, para a aplicação da

lei contra as infrações administrativas e penais.

A aplicabilidade do RAIA se dá nas atividades de polícia ostensiva, na ação

de presença e vigilância, bem como, nas ações de preservação da ordem pública,

restabelecendo-a mediante ações coercitivas e repressivas imediatas, visando à

aplicação da Lei.

O GESPOL definiu na sua diretiva 9.6, as ações complementares de

responsabilidade social, que inclui o RAIA:

[...] Complementam o processo operacional padrões ligados à prevenção primária, que representam ações de responsabilidade social da Polícia Militar e que na Gestão de Comunicação Social compõem o seu Balanço Social. [...]

11

A prevenção primária pode ser definida como o conjunto de ações destinadas a evitar ou reduzir a ocorrência e a intensidade de infrações penais e perturbações da ordem. Isso é feito por meio da identificação, avaliação, remoção ou redução das condições propícias ou fatores precursores, visando minimizar o dano à vida e à integridade física da pessoa humana, à propriedade e ao ambiente. 12

A prevenção secundária pode ser definida como o conjunto de ações de dissuasão policial, caracterizada pela ação de presença coercitiva e força.

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A Polícia Militar adota três padrões principais de prevenção primária, independentemente de iniciativas locais dos gestores de polícia ostensiva: 1) o Programa Educacional de Resistência às Drogas e Violência (PROERD); 2) o Programa Jovens Construindo a Cidadania (JCC); e 3) o Relatório sobre Averiguação de Indício de Infração Administrativa (RAIIA)

13

[...] (GESPOL, 2010, p. 79-86).

Especificamente, em seu subitem 9.6.3 transcreve:

[...] Relatório sobre Averiguação de Incidente Administrativo (RAIA) O evento criminoso está ligado a um fator de possibilidade de ocorrência, ou seja, o delito acontece onde há maiores possibilidades de êxito para o perpetrador ou por condições ambientais ou por despreparo da comunidade. Diminuir essa possibilidade depende de perceber os fatores que a produzem. Assim, a prevenção primária eficaz está diretamente ligada à capacidade e esforço em reconhecer os ambientes ou situações que podem vir a gerar um fato ilícito. A competência e responsabilidade de cada órgão público, entidades e instituições na administração das questões sobre violação de normas administrativas, sanitárias, fiscais, trabalhistas, civis, etc., na esfera de suas respectivas atribuições, está legalmente definida. A Polícia Militar, por força de sua capilaridade, quando no exercício de suas atividades de polícia ostensiva e de preservação da ordem pública, comunica a esses órgãos, por meio do Relatório sobre Averiguação de Incidente Administrativa – RAIA

14, a existência de indício(s) de prática de

qualquer incidente administrativo, de modo que sejam adotadas as medidas preventivas ou corretivas que impeçam ou minimizem a ocorrência de prejuízos à ordem pública em qualquer de seus aspectos: segurança pública, salubridade pública e ou tranquilidade pública [...] (GESPOL, 2010, p. 82).

O RAIA se insere nas fontes que subsidiarão o planejamento e diagnóstico

operacionais, para a execução de um plano de policiamento inteligente voltado às

áreas de interesse prioritário, pois pode colher as demandas e os anseios da

comunidade que impactam na segurança pública em sentido amplo.

Logo, pode derivar tanto das chamadas policiais, quando o cidadão se

queixa de uma determinada situação em que se caracteriza uma infração

administrativa, como também, pode ser elaborado a partir da ação de proximidade

do policial, de maneira proativa e engajada de intervenção no espaço territorial sob

sua responsabilidade.

E no GESPOL há as seguintes considerações finais:

[...] As organizações para serem sustentáveis necessitam ajustar-se, alinhar-se ao ambiente altamente competitivo que se apresenta. Nesse contexto a Polícia Militar do Estado de São Paulo tem buscado incessantemente seu aperfeiçoamento, inovando e se adaptando ao ambiente competitivo e turbulento, adotando a administração gerencial por resultados, traduzindo sua ação diária em eficiência, eficácia e efetividade. Na Polícia Militar essa

13

Citado conforme publicado, contudo, o GESPOL, 2ª edição, revisada e atualizada em 2010, deveria indicar a nova denominação do relatório, ou seja, RAIA.

14 Citado conforme publicado.

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preocupação ganha força à medida que sendo responsável pela Polícia Ostensiva e de Preservação da Ordem Pública, a Força da Comunidade deve evoluir de maneira estratégica e segura, pois é incontestável que sua atuação é imprescindível à vida harmônica em sociedade, proporcionando um ambiente tranqüilo, seguro e salubre [...] (GESPOL, 2010, p. 99).

Tais indicações representam a constante predisposição da Polícia Militar do

Estado de São Paulo à inovação gerencial e ao emprego de gestão por resultados,

que, em suma, visam aumentar a sensação de segurança e a qualidade de vida de

todos.

1.3.1 O RAIA no Policiamento Comunitário

Em 1997, a Polícia Militar estruturou e implantou a filosofia de Polícia

Comunitária, notadamente baseada na Carta Magna, ou seja, “... a segurança

pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos”, consolidando uma

sistemática mais eficiente e abrangente, pois além de contar com maior interação

entre órgãos do Sistema Nacional de Segurança Pública, passaria a concitar a

sociedade a colaborar, estimulando-a a participar do processo de formação de idéias

e propostas, a fim de propiciar mecanismos voltados ao controle e redução dos

indicadores de criminalidade e de violência em geral.

Dentre suas características intrínsecas, a interação é a mais marcante por

permear todos os níveis e membros da Instituição. Como estratégia, deve direcionar

todos os esforços, medidas e programas, para criar condições de proximidade com o

público externo, cujo respaldo, cooperação, parceria, participação e informações,

serão fundamentais à preservação da ordem pública, à sensação de segurança e à

melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Na execução das diversas missões de polícia ostensiva e de preservação da

ordem pública, cada policial militar deve agir estritamente dentro dos parâmetros

ditados pela lei, consciente de que está a serviço da sociedade e, como tal, deve

atuar sempre de forma imparcial, sem qualquer tipo de preconceito ou discriminação.

Embora a ação de presença da atividade de polícia se fundamente pela sua

visibilidade e ostensividade, há outros aspectos a serem avaliados, cujos limites são

restritos pelo sistema legal vigente.

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Além da presença ostensiva, deve ser incentivada a utilização de métodos

de prevenção primária, cujo custo é menor e seus efeitos são mais duradouros, logo,

apresenta maior produtividade se comparada às ações de repressão imediata,

quando já houve a quebra da ordem pública.

O evento criminoso está ligado a diversos fatores e possibilidades, que ditam

maiores chances de sucesso para o infrator, quer por oferecer condições ambientais

quer pelo despreparo da comunidade em diminuir essas chances ou perceber os

fatores envolvidos.

Assim, a prevenção primária eficaz está diretamente ligada à capacidade e

esforço em reconhecer e diagnosticar os ambientes ou situações que podem vir a

gerar um fato ilícito. E é o policial militar quem está mais bem preparado para este

exercício.

Deve haver avaliação constante das características físicas, sociais e

comportamentais da comunidade para detecção dos fatores e planejamento das

medidas de prevenção primária tendentes a evitar a ocorrência de infrações penais.

Baseando-se na premissa de que as demandas contemporâneas requerem

ações mais completas e serviços de excelência 15 , deve-se envolver toda a

sociedade no processo de diagnóstico, de identificação, priorização e resolução de

problemas que afetam sobremaneira a sensação de segurança da sociedade.

Não só para a eliminação ou minimização de fatores criminógenos; o RAIA

vem a representar o amalgama da interação entre os órgãos na conjugação de

políticas públicas harmônicas entre si, voltadas à segurança pública.

A prevenção necessita de planos e ações em outras áreas, diversas do

espectro policial, por exemplo, políticas públicas de redução da desigualdade

econômica, de promoção da educação e saúde, do esporte, lazer e cultura, de

prevenção e tratamento do abuso de álcool e drogas, de melhorias da infraestrutura

urbana e habitacional, de valorização do espaço público; enfim, para que concorram

solidariamente com a responsabilidade de preservação da ordem pública.

Segundo Mesquita Neto (2006), a concepção de prevenção estaria apoiada

na idéia de que as ações de prevenção se caracterizariam principalmente pela

natureza da ação, mais especificamente, pela anterioridade ao crime e à violência e

pela ausência de punição ou ameaça de punição, e não tanto pelo resultado ou

15

Vide Lei Estadual 10.294, de 20 de abril de 1999 – Lei de Proteção do Usuário do Serviço Público do Estado de São Paulo.

Page 26: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

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consequência da ação. E uma concepção alternativa se apoiaria na idéia de que as

ações de prevenção se caracterizam principalmente pelo resultado ou consequência

da ação, mais especificamente pela redução da incidência, dos danos e da

reincidência do crime e da violência na sociedade e pelo aumento da segurança dos

cidadãos.

Skolnick e Bayley (1998 apud ANDRADE JR, 2006, p. 44), asseveraram: “O

Policiamento Comunitário faz a diferença quando é algo que todo mundo faz,

quando representa uma filosofia de serviço policial, e não quando é exercido por um

grupo de especialistas em um determinado comando”.

Neste sentido, a 3ª Seção do Estado-Maior da Polícia Militar ao instalar o

RAIA, desenvolveu, portanto, uma ferramenta que permite a interação da Polícia

Militar com os órgãos externos, atuantes indiretos na prevenção primária de

infrações, fora do contexto policial, mas cujas responsabilidades repercutem na

preservação da ordem pública em sentido amplo.

Ainda Andrade Júnior (2006, p. 45) questiona se fora delegada autoridade

suficiente aos policiais operacionais para que pudessem iniciar inovações com um

mínimo de restrições burocráticas. Ou ainda, se fora dado aos policiais comunitários,

tempo, oportunidade e instrução, para que aplicassem técnicas de resolução de

problemas da criminalidade, drogas, medo do crime e da desordem e a decadência

da comunidade. Portanto, eis aqui o cerne da problematização e aplicabilidade deste

estudo.

Conforme Andrade Júnior:

[...] A expansão da missão policial para impedir a desordem e a decadência da comunidade significa que os policiais operacionais rotineiramente terão que recorrer para a ajuda de outras instituições públicas ou não lucrativas. Isto pode significar ter que envolver a prefeitura [...] (ANDRADE JR, 2006, p. 45).

Os policiais comunitários, imbuídos de espírito solidário e de

responsabilidade moral pelas demandas de sua área, executam suas atividades

buscando a proximidade com o seu público, que por sua vez interage e responde

positivamente, mediante informações sobre possíveis atuações de infratores da lei,

denunciando crimes diversificados ou mesmo indicando os esconderijos desses

indivíduos.

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26

Nesta interface se forma o relacionamento ideal, ético, legítimo e

responsável entre o aparelho estatal e o cidadão, contudo, ele é precário e frágil, a

ponto de ser facilmente abalado por fatores de incompreensão dos deveres policiais,

dos limites da sua discricionariedade na mediação de conflitos e da competência

legal para atuar, principalmente, nas questões tidas como de “menor potencial

ofensivo”.

Conforme preconiza as Normas do Sistema Operacional de Policiamento

(NORSOP) 16 em sua estrutura fundamental:

[...] 6.3.1.de polícia Trata-se de distinguir polícia ostensiva de polícia de preservação da ordem pública, vez que o legislador não pretendeu ser apenas enfático ao atribuir as missões constitucionais da Polícia Militar. Entendendo-se, pois, que ao estender a atuação da Polícia Militar, definida na lei federal nº 667/69, do policiamento ostensivo (que vem a ser a fiscalização de polícia) para polícia ostensiva (o exercício do poder de polícia lato sensu na modalidade ostensiva, isto é, preventiva), pretendeu o legislador referir-se à atuação preventiva, em todo seu espectro. Por outro lado, baseado no fato de que, em princípio, teleologicamente, o legislador não promoveu redundância de terminologias, então, a preservação da ordem deve significar como normalmente se entende a restauração da ordem, ou seja, o poder-dever de intervir imediatamente no fato que causa quebra da ordem e restaurá-la pela sua cessação. 6.3.1.1. polícia ostensiva Conceito abrangente, que envolve atividades de prevenção primária e secundária, as quais são executadas para consecução da segurança pública, tais como policiamento comunitário, radiopatrulhamento e todas as demais que são levadas a efeito pela Polícia Militar a fim de prevenir o cometimento de ilícitos penais ou de infrações administrativas sujeitas ao controle da Instituição. 6.3.1.2. polícia de preservação da ordem pública É a atividade cometida à Polícia Militar de restauração da ordem pública, envolvendo a repressão imediata às infrações penais e administrativas e a aplicação da lei [...] (PMESP, 2006). (g.n.)

O paradigma operacional que atribui eficiência à polícia ostensiva e de

preservação da ordem pública, somente quando há confrontos diretos com a

criminalidade quer pelas prisões em flagrante e/ou pelas apreensões de armas,

drogas e objetos relacionados a crimes; está ultrapassado e tornou-se obtuso aos

anseios da sociedade por sensação de segurança.

Fundamentalmente, a Polícia Militar trabalha para servir e proteger o

cidadão, e o faz por diversas maneiras, não se restringindo a processos

operacionais que visem, exclusivamente, prisões em flagrante ou apreensão de

16

PMESP. Diretriz PM3-008/02/06. Normas para o Sistema Operacional PM – NORSOP, de 01 de agosto de 2006.

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objetos. A defesa social e a proteção do cidadão não ficam em segundo plano, são

prioridades do emprego operacional.

Por mais heróica e arrojada que seja a repressão imediata, priorizar a prisão

de pessoas em flagrante delito, requer maior esforço para consecução de

resultados, que por sinal são pouco duradouros, predispondo riscos à vida e à

integridade física do policial, de vítimas, de terceiros e do próprio infrator da lei.

O senso amplo e complexo de “servir e proteger”, nos turnos de trabalho,

indica ao policial colher diversas informações que impactarão na probabilidade dos

resultados da criminalidade, devendo ser o catalisador de medidas saneadoras

perante os respectivos responsáveis pela prevenção primária.

De acordo com o conceito de que existem grupos que, em conjunto, devem

atuar harmonicamente com o policiamento comunitário, sendo eles: a comunidade, a

comunidade de negócios, a mídia, autoridades cívicas eleitas e outras instituições,

sobre estes dois últimos, definem-se:

[...] 3. Autoridades cívicas eleitas – incluindo o prefeito, o administrador da cidade, os vereadores e quaisquer outros funcionários federais ou estaduais cujo apoio possa afetar o futuro do policiamento comunitário. Outras Instituições – incluindo instituições públicas (justiça, serviços públicos, serviços de saúde, etc.) e instituições sem fins lucrativos, desde clubes de escoteiro até grupos de obras de caridade e grupos de voluntários [...] (TROJANOWICZ; BUCQUEROUX, 2003, p. 3).

Logo, o agente público adquire uma responsabilidade que exige atenção

para aspectos que antes eram ignorados, deixando-se os efeitos da criminalidade

como foco um metodológico, para diagnosticar e solucionar as causas das

ocorrências policiais, até então desprezadas ou tidas como sem relevância

estratégica, pois eram consideradas fora da sua esfera de responsabilidades.

Embora Trojanowicz e Bucqueroux (2003) tenham considerado que “... o

policial comunitário encaminha os problemas para as instituições apropriadas:

fiscalização, serviços sociais, tratamento de drogas, controle de animais, saúde

pública, e assim por diante...”.

Verifica-se ainda, o que afirmaram:

[...] O desafio é adotar uma estratégia de policiamento comunitário que garanta o atendimento cuidadoso e atencioso das necessidades de todos, e exija a adoção de uma estratégia que conceda poder aos policiais operacionais a fim de que possam tornar-se solucionadores de problemas comunitários eficazes [...] (TROJANOWICZ; BUCQUEROUX, 2003, p. 31). (g.n.)

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Não é eficiente à gestão operacional de segurança pública que se contente

estritamente com os “encaminhamentos”. Seria ideal que houvesse a contrapartida

proporcional dos outros órgãos afetos à segurança primária, mas que, devido ao

gigantismo da Polícia Militar, a universalidade, a responsividade e a

ininterruptoriedade de seus serviços, dificilmente conseguiriam ter a mesma atuação.

Notadamente, os organismos municipais de pequeno a médio porte, gerando

verdadeiros “abismos” operacionais, que impedem a continuidade do combate às

causas mais sensíveis da violência e da criminalidade.

Na Cidade de Jaú não é diferente, tanto no descompasso quanto na

desproporcionalidade de ações fiscalizatórias em diversas áreas, somente atenuada

com algumas e raras operações conjuntas, em horários de expediente, o que limita

em muito a efetividade e a eficácia dos resultados aos finais de semana ou à noite.

1.3.2 O RAIA na Gestão pela Qualidade

A melhoria contínua e a adoção de boas práticas de gestão são

fundamentais para uma intervenção dinâmica e adequada à minimização de riscos

operacionais que prejudicam pessoas, danificam patrimônios ou causem qualquer

tipo de abalo à ordem pública.

É praticamente impossível atacar todas as causas primárias e secundárias

dos resultados indesejados ou falhas nos processos produtivos, de uma forma

definitiva e única, pretendendo alcançar 100% de resultados positivos nesse

embate.

O tralho é árduo e deve ser constante em busca de coletar as verdadeiras

causas dos problemas, para economizar meios materiais e recursos humanos,

intervindo “cirurgicamente” naquilo que, de fato, vai melhor repercutir na sensação

de segurança da população e na criminalidade.

Naquilo que seria factível intervir ou catalisar soluções legítimas, o RAIA foi

inserido para eliminar ou minimizar o foco causal dos problemas de interesse local,

antes de se tornarem de fato “caso de polícia”.

Permite a constante avaliação dos processos e procedimentos públicos, pela

constatação de não-conformidades urbanas e comportamentais das atividades

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econômicas, colaborando sobremaneira para a melhoria contínua e a revisão na

prestação de serviços públicos mais voltados às áreas de desenvolvimento humano,

segurança e dignidade humana.

Os agentes da Polícia Militar na defesa social e territorial deparam-se tanto

com os efeitos e quanto com as causas prováveis da quebra da ordem pública, sem

muitas vezes, conseguir diagnosticá-las ou, principalmente, bem solucioná-las.

Incoerentemente, esta realidade operacional é justamente o paradoxo

operacional do policiamento comunitário, ou seja, impele um conceito de “polícia de

proximidade”, sem capacidade resolutiva de problemas de menor potencial ofensivo.

De maneira que algumas ações distorcidas geram as soluções precárias ou

temerárias, que acabam por macular a imagem da Instituição durante a prestação

desses serviços.

1.3.3 O RAIA e os Direitos Humanos

A transversalidade que o RAIA pode atingir em relação aos princípios

norteadores dos Direitos Humanos é inigualável se compararmos com outros

documentos operacionais de polícia.

Ele permeia a atividade operacional de tal maneira que os mais simples

indícios de violação de qualquer natureza ou atentatórios à vida, à integridade física

e à dignidade da pessoa humana, podem ser prontamente diagnosticados e de

imediato tratados.

Permite ao aparelho estatal como um todo, atualizar-se em sincronia com os

anseios legítimos da sociedade, universalizando seus serviços, incluindo as pessoas

envoltas nos grupos de risco ou os mais vulneráveis e negligenciados.

Nas demandas sociais, urbanísticas, sanitárias etc., o espectro operacional

se amplia de tal modo, que o RAIA passar a ser signatário dos processos de

implementação e melhoria da dignidade das pessoas, da urbanidade e civilidade,

notadamente pela proatividade, pelo engajamento e a responsabilidade moral do

policial militar em bem resolver aos reclamos da população.

Na medida em que deve observar, constatar e diagnosticar situações

desfavoráveis ao convívio social e que, provavelmente, gerarão o rompimento da

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ordem pública, o policial militar, engajado no compromisso de zelar pela dignidade

da pessoa humana, cuja condição degradante lhe impõe sério risco à influência

criminal, tem um forte alicerce no RAIA para neutralizar essas influências, cabendo

ainda, a proporcional diligência e o endosso das providências adotadas, por partes

dos destinatários dos relatórios.

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31

2. O Município de Jaú

2.1 Breve histórico17

O nome da cidade deriva do tempo das monções e tem ampla significação

na língua Tupi-Guarani-Kaiagangue. E “Ya-hu”, quer dizer: “peixe guloso, comedor,

um grande bagre comedor, mas também pode significar ― o corpo do filho rebelde,

proveniente de uma lenda, sobre um jovem guerreiro Kaingangue que não aceitou

uma troca de cunhas, entre seu pai e o chefe da tribo dos Coroados, a qual selava

um acordo de paz.

Por causa de uma das moças, talvez a amada, o jovem índio Ya-hu revoltou-

se contra o pai e reagiu. Perseguiu os Coroados até próximo a Serra de São Paulo,

onde os encurralou e fez guerra, causando muitas mortes. Porém, bastante ferido, o

jovem guerreiro busca voltar à sua casa, mas desta vez, fora seguido pelos

Coroados.

Durante a caminhada, Ya-hu acabou sendo atingido por duas vezes.

Cercado pelo inimigo, vendo que não tinha mais espaço para a fuga e a fim de evitar

que seu corpo fosse comido, sua cabeça cortada e erguida como troféu; o jovem

guerreiro preferiu afogar-se num ribeirão, de onde ressurgiu mais tarde,

transformado em peixe.

O nome, dado pelo chefe Kaigangue e mais tarde também passado ao rio e

ao Município, significa “o corpo do filho rebelde”, justamente porque o referido peixe

mostrava no seu dorso, uma mancha irregular na cor vermelha, igual àquela usada

pelo jovem guerreiro, jamais retornado da guerra contra os Coroados.

Por ser passagem obrigatória dos bandeirantes que desbravavam o oeste

paulista, já que chegavam pela única via existente na região- o Rio Tietê, a cidade

surgiu numa área conhecida como “Barra do Ribeirão de Jaú”, antigo pouso de

bandeirantes que, seguindo pelo Rio Tietê, buscavam as minas de Cuiabá.

Por iniciativa de alguns de seus moradores, dentre eles: Bento Manoel de

Moraes Navarro, o Capitão José Ribeiro de Camargo, o Tenente Manoel Joaquim

17

Disponível em <http://www.jau.sp.gov.br/conhecajau_historia.php>. Acesso em 8 set. 2011.

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32

Lopes e o Tenente Francisco Gomes Botão, foi fundada em 15 de agosto de 1853,

como um povoado em terras situadas entre a margem esquerda do Rio Jaú e o

Córrego da Figueira, doadas por Gomes Botão e Manoel Joaquim Lopes.

O grupo traçou os planos da futura cidade, incluindo as construções de um

cemitério e uma choupana, destinada aos serviços religiosos católicos, que deu

origem à Capela de Nossa Senhora do Patrocínio de Jaú – elevada a Curato por

provisão de 03 de maio de 1856, por ordem do Bispo de São Paulo.

Em 24 de março de 1859, passou à Freguesia do Município de Brotas, com

a denominação de Jaú. Posteriormente, em 23 de abril de 1866, foi criada a vila que,

em 06 de fevereiro de 1889, recebeu foros de cidade18.

2.2 Características gerais e econômicas19

Localizada no centro-oeste paulista, há aproximadamente 310 km da capital

do Estado de São Paulo, a cidade de Jaú está inserida na Região Administrativa de

Bauru e tem cerca de 688,34 km².

Figura 1- Jaú na Região Administrativa de Bauru dentro do Estado de SP.

Fonte: Fundação SEADE.

18

Disponível em <http://www.seade.gov.br/produtos/perfil/perfilMunEstado.php>. Acesso em 8 set. 2011.

19Dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados- SEADE. Disponível em <http://www.seade.gov.br/produtos/perfil/perfilMunEstado.php>. Acesso em 8 set. 2011.

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33

Segundo SEADE 20, possui uma população de aproximadamente 132.933

habitantes e índice de urbanização de 96,87%, com densidade demográfica de

193,12 habitantes por km², enquanto o Estado apresenta taxa de 167,97 habitantes

por km².

Na sequência, o quadro geral sobre território e a população de Jaú.

Tabela 1- Características Populacionais e demográficas de Jaú/SP.

Território e População Ano Município Região de Gov. Estado

Área 2011 688,34 3.073,47 248.209,43

População 2011 132.933 291.576 41.692.668

Densidade Demográfica (Habitantes/km2) 2011 193,12 94,87 167,97

Taxa Geométrica de Crescimento Anual da População - 2000/2010 (Em % a.a.)

2010 1,58 1,11 1,09

Grau de Urbanização (Em %) 2010 96,87 96,13 95,94

Índice de Envelhecimento (Em %) 2011 63,56 63,06 53,79

População com Menos de 15 Anos (Em %) 2011 20,23 20,66 21,48

População com 60 Anos e Mais (Em %) 2011 12,86 13,03 11,55

Razão de Sexos 2011 96,1 97,95 94,8

Fonte: Fundação SEADE.

Na tabela 2, o perfil de habitação e infraestrutra urbana com excelentes

níveis de abastecimento de água, coleta de lixo, tratamento de esgoto sanitário e

perfil de domicílios.

Tabela 2- Características Habitacionais e de Infraestrutura de Jaú/SP.

Habitação e Infraestrutura Urbana Ano Município Região de Gov. Estado

Domicílios com Espaço Suficiente (Em %) 2000 91,72 91,75 83,16

Domicílios com Infraestrutura Interna Urbana Adequada (Em %)

2000 98,1 97,87 89,29

Coleta de Lixo - Nível de Atendimento (Em %) 2000 99,5 99,4 98,9

Abastecimento de Água - Nível de Atendimento (Em %) 2000 99,27 99,21 97,38

Esgoto Sanitário - Nível de Atendimento (Em %) 2000 98,93 98,59 85,72

Fonte: Fundação SEADE.

Na tabela 3, a atividade econômica, o emprego e o nível de renda da

população de Jaú, como fatores importantes para a avaliação de políticas públicas

municipais e de segurança pública voltadas à melhoria da qualidade de vida e da

sensação de segurança.

20

Dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados- SEADE. Disponível em <http://www.seade.gov.br/produtos/perfil/perfilMunEstado.php>. Acesso em 8 set. 2011.

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34

O poder econômico e aquisitivo da sociedade não são determinantes para

vinculação da criminalidade em seus aspectos causais, mas são impactantes para

os efeitos nas comunidades mais vulneráveis economicamente.

Tabela 3- Dados Econômicos de Emprego e Renda em Jaú/SP.

Economia, Emprego e Rendimento

Ano Município Região de

Gov. Estado

PIB (Em milhões de reais correntes) 2008 1.556,46 3.451,89 1.003.015,76

PIB per Capita (Em reais correntes) 2008 11.661,56 11.709,99 24.457,00

Participação no PIB do Estado (Em %) 2008 0,155178 0,344151 100

Rendimento Médio nos Vínculos Empregatícios na Agropecuária (Em reais correntes)

2010 992,25 985,75 1.064,13

Rendimento Médio nos Vínculos Empregatícios na Indústria (Em reais correntes)

2010 1.183,33 1.290,24 2.226,86

Rendimento Médio nos Vínculos Empregatícios na Construção Civil (Em reais correntes)

2010 1.194,64 1.142,06 1.501,97

Rendimento Médio nos Vínculos Empregatícios no Comércio (Em reais correntes)

2010 1.137,23 1.063,76 1.415,16

Rendimento Médio nos Vínculos Empregatícios nos Serviços (Em reais correntes)

2010 1.362,11 1.327,99 2.028,66

Rendimento Médio no Total de Vínculos Empregatícios (Em reais correntes)

2010 1.225,01 1.238,35 1.903,11

Fonte: Fundação SEADE.

As principais atividades econômicas desenvolvidas são o plantio da cana-de-

açucar para a produção de etanol combustível e a indústria calçadista voltada à

produção de calçados femininos, determinando forte impacto também nas atividades

comerciais de venda desses calçados.

Tem grande vocação na área médica, com a instalação da Fundação Amaral

Carvalho, importante complexo hospitalar voltado ao tratamento oncológico, sendo

referência nacional de excelência.

A frota de veículos21 licenciados em Jaú supera 81.600 unidades, sendo

47.820 automóveis e 15.929 motocicletas, sem contar outros meios de transportes

terrestres e veículos licenciados em outros municípios que por lá transitam.

21

Dados consolidados até agosto de 2011 pelo Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN). Disponível em <http://www.denatran.gov.br/frota.htm> Acesso em: 2 out. 2011.

Page 36: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

35

2.3 Estrutura da fiscalização municipal em Jaú

2.3.1 Alguns dados e números

A estrutura de fiscalização municipal basicamente está distribuída entre as

Secretarias Municipais de Meio Ambiente, de Economia e Finanças, de Obras, de

Saúde e de Trânsito e Transportes.

Entretanto, foram considerados os contingentes das principais Secretarias

Municipais de acordo com o mérito desta pesquisa, cujos desempenhos impactam

na segurança pública.

Segundo dados da Prefeitura Municipal de Jaú, a Secretaria de Meio

Ambiente conta com 07 fiscais, a Secretaria de Obras conta com 14 fiscais, sendo

que 04 estão em atividades administrativas internas, a Secretaria de Economia e

Finanças conta com 03 agentes vistores (fiscais de posturas municipais).

Não foram contabilizados os efetivos das Secretarias de Trânsito, pois já há

convênio municipal para as atividades fiscalizadoras e de educação de trânsito22,

muito embora sejam extremamente importantes para a segurança pública, visto que

o “esforço legal” aliado à “educação para o trânsito” e à “engenharia viária” será

fundamental para a formação do “trinômio do trânsito”, menos violento e mais seguro

a todos.

Nem foram fornecidos dados sobre o efetivo da Secretaria Municipal de

Saúde, pois exercem atividades de rigor técnico expressivo, cujas normas são

amplas, em diferentes especificidades (resíduos hospitalares, farmácias, segurança

alimentar etc.).

A frota de viaturas dessas Secretarias da Prefeitura Municipais mencionadas

está distribuída de seguinte maneira:

A Secretaria de Meio Ambiente não possui viatura própria, sendo utilizado

por todas as diretorias da pasta, um veículo alugado (Marca VW, modelo Kombi),

incluindo o serviço de fiscalização ambiental, que, dentre outras ações, faz a

22

Lei Municipal Nº 3.352/1999, que autoriza o Poder Executivo Municipal a celebrar “Convênio de Trânsito” com a Polícia Militar do Estado de São Paulo. Disponível em <http://www.camarajau.sp.gov.br/legislativoweb/docs>. Acesso em: 12 mai. 2011.

Page 37: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

36

fiscalização de poluição sonora, nos casos de perturbação da tranquilidade, do

trabalho e do sossego público etc.

A Secretaria de Obras possui um veículo de marca VW, modelo Fusca e 03

motocicletas, todos os veículos próprios.

A Secretaria de Economia e Finanças, que abriga o Departamento de

Posturas Municipais, conta com um veículo de marca FIAT, modelo Uno.

O regime de trabalho dos agentes fiscais, de maneira geral, está

compreendido em turnos de 08 horas diárias, em horário de expediente, de segunda

às sextas-feiras. Porém quando necessário, os horários são adequados às

atividades extras ou específicas.

Portanto, não há plantões ordinários e regulares que possam dar suporte

operacional ininterrupto às atividades de polícia administrativa de preservação da

ordem pública às ocorrências policiais militares de natureza administrativa especial,

ou seja, próprias das competências municipais.

Os números da fiscalização municipal têm como período de referência, de

janeiro a agosto de 201123 e, segundo dados da Secretaria de Meio Ambiente, foram

realizadas 90 notificações e 40 multas.

Já a Secretaria de Obras realizou 517 notificações, 4950 fiscalizações em

obras para acompanhamento e 300 processos administrativos por mês.

A Secretaria de Economia e Finanças, através do Departamento de Posturas

Municipais realizou 80 notificações, 30 multas, 15 apreensões de mercadorias, além

de várias movimentações diárias de processos e visitas a estabelecimentos

comerciais e empreendedores ambulantes.

De maneira geral, os alvarás de funcionamento de estabelecimentos

comerciais e industriais são concedidos pela Secretaria de Economia e Finanças, no

Departamento de Fiscalização Tributária. A Fiscalização de Obras inspeciona os

imóveis no trâmite processual. O Setor de Fiscalização de Posturas opina em

relação aos alvarás de ambulantes e a Fiscalização de Meio Ambiente opina em

relação aos alvarás para publicidade.

Segundo dados das próprias Secretarias Municipais, os equipamentos

especiais de fiscalização disponíveis são: um decibelímetro da Secretaria de Meio

Ambiente, recentemente adquirido para verificação de emissão de sons e de níveis

23

Fonte: Prefeitura Municipal de Jaú – Diretoria de Fiscalização Tributária, com dados fornecidos e consolidados até 05 de agosto de 2011.

Page 38: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

37

de poluição sonora; uma trena e uma máquina fotográfica da Secretaria de Obras,

para medições diversas e materialização de imagens dos locais vistoriados; e por fim

uma máquina fotográfica do Departamento de Posturas Municipais subordinado à

Secretaria de Economia e Finanças.

2.3.2 Referências legais

A Assembléia Constituinte Federal adotou o sistema de competências

reservadas ou enumeradas aos Municípios, estando implícitas ou explícitas na Carta

Magna.

A primeira competência municipal enumerada na Constituição Federal (art.

30, I) é a de legislar sobre assuntos de interesse local.

[...] Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; III - instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como, aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; IV - criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual; V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação pré-escolar e de ensino fundamental; VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006), VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; VIII - promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

No inciso I, verifica-se que a denominação “interesse local” veio a substituir a

de “peculiar interesse”, no entanto, não se pode considerar esta mudança uma

novidade, vez que o conteúdo não trouxe inovações. O interesse local do Município

não é exclusivo, ou seja, somente prepondera quando confrontado com os Estados

Membros e a União.

Nesse sentido, nos ensina o doutrinador Hely Lopes Meirelles:

Page 39: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

38

Interesse local não é interesse exclusivo do Município, não há interesse municipal que o não seja reflexamente Estado-membro e da União. O que caracteriza o interesse local é a predominância desse interesse para o Município em relação ao eventual interesse estadual e federal acerca do mesmo assunto (MEIRELLES, 2008, p. 344).

Com base nesta premissa é que se devem selecionar os assuntos de

competência municipal, ou seja, aqueles que prevalecem ao interesse local.

Existe também a possibilidade de regulamentação simultânea ou

concorrente de matéria pelos três entes, no âmbito federal, estadual e municipal,

culminando no interesse local. Por exemplo, o trânsito urbano, cujas competências

recaem das normas gerais do Código Nacional de Trânsito, ensejando atribuições no

âmbito estadual (licenciamento veicular, emplacamento, etc.) e em âmbito municipal

(semaforização, sinalização e engenharia de tráfego, rodízio municipal etc.)

Todo arcabouço legislativo municipal exprime a vontade de seu povo e

deverá ser plenamente cumprido, em vantagem da própria coletividade. E uma das

maneiras de compelir os administrados a obedecerem esse ordenamento dar-se-á

pela ação de presença fiscalizatória imediata.

A Lei Orgânica de Jaú24, revisada pela Emenda Revisional Nº 06/2009, em

14 de dezembro de 2.009, que representa em suma, a “Constituição Municipal” e

exprime os anseios dos cidadãos, com grau tamanho de especificidade que consiga

atingir plenamente seus objetivos em prol da coletividade local.

[...] CAPÍTULO I - DA ORGANIZAÇÃO DO MUNICÍPIO.

Seção II - Dos Direitos dos Munícipes

Art. 5º. Todo munícipe terá assegurado, nos termos da Constituição Federal, da Constituição Estadual e desta Lei Orgânica, o direito à saúde, ao trabalho, à educação, ao lazer, ao transporte, à segurança, à proteção, à maternidade e à infância, à assistência aos desamparados, à moradia e a um meio ambiente equilibrado.

Na medida em que legisla com exclusividade sobre questões de interesse

local, o Poder Público Municipal passa a ter o dever-poder de executar e fiscalizar

sobre aquilo que criou em sua legislação seja em concorrência com o Estado ou

com a União ou de modo suplementar, conforme preconiza seu artigo 9º, nos incisos

destacados abaixo:

[...]

Seção IV - Dos Bens e da Competência

24

Disponível em <http://www.camarajau.sp.gov.br/legislativoweb/docs/leiorganica.pdf>. Acesso em: 20 mai. 2011.

Page 40: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

39

Art. 9º. Compete ao Município: I - legislar sobre assuntos de interesse local, inclusive concorrentemente com a União e o Estado; II - suplementar a legislação federal e estadual, no que couber; (...) VI - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluindo o de transporte coletivo, que terá caráter essencial; (...) XI - elaborar e executar a política de desenvolvimento urbano com objetivo de ordenar as funções sociais das áreas habitadas do Município e garantir o bem estar de seus habitantes; XII - elaborar e executar o Plano Diretor como instrumento básico da política de desenvolvimento, de expansão urbana e de planificação do ambiente rural; (...) XIV - constituir e manter a guarda municipal destinada à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme dispuser a lei; XV - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas; [...]. (g.n.)

Quanto às competências concorrentes, no artigo 10, destacam-se os

seguintes incisos:

[...] Art. 10. É da competência administrativa do Município, em comum com a União e o Estado: I – cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas com deficiência; (...) V - proteger o meio ambiente e combater a poluição em quaisquer de suas formas; (...) VI - preservar as florestas, as matas nativas, as matas ciliares, a fauna e a flora; IX - combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos; (...) XI - estabelecer e implantar a política de educação para a segurança do trânsito. [...]. (g.n.)

Já no inciso XI, do artigo 14, indica-se a competência exclusiva da Câmara

Municipal em relação a convênios:

CAPÍTULO II - DO PODER LEGISLATIVO Seção II - Das Atribuições da Câmara Municipal

Art. 14. É de competência exclusiva da Câmara Municipal: (...) XI - resolver definitivamente sobre convênios que acarretem em encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio municipal; [...]. (g.n.)

Ainda em relação ao Poder Legislativo, o artigo 24 indica o processo

legislativo:

[...] Seção VI - Do Processo Legislativo

Art. 24. O processo legislativo compreende a elaboração de: I - Emendas à Lei Orgânica do Município; II – Códigos e Consolidações de Leis; III - Leis Complementares; IV - Leis Ordinárias; V - Decretos Legislativos; VI - Resoluções. Parágrafo único – A elaboração, redação, alteração e consolidação de Leis dar-se-á na conformidade da Lei Complementar Federal, desta Lei Orgânica Municipal e do Regimento Interno [...]. (g.n.)

Page 41: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

40

Embora não exista no momento uma “Consolidação das Leis de Fiscalização

Municipal”, em sentido amplo, é permitida a sua condensação, conforme o artigo 26

c/c o artigo 32, § único e incisos:

[...] Subseção II - Das Codificações

Art. 26. As Leis Municipais poderão ser reunidas em codificações e consolidações, integradas por volumes contendo matérias conexas ou afins, constituindo em seu todo, a Consolidação de Legislação Municipal. Parágrafo único - A Consolidação consistirá na integração de todas as Leis pertinentes a determinada matéria num único diploma legal, revogando-se formalmente as Leis incorporadas à consolidação, sem modificação do alcance nem interrupção da força normativa dos dispositivos consolidados e reservando-se ao Regimento Interno os requisitos de preservação do conteúdo normativo original dos dispositivos consolidados e demais circunstâncias atinentes. (...)

Subseção VIII - Das Leis Complementares Art. 32. As Leis Complementares serão aprovadas por maioria Parágrafo único. Serão objeto de Lei Complementar, expressamente: I – o Código Tributário e demais assuntos de caráter tributário; II – o Plano Diretor e suas inovações; III - a Lei de Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo; IV - o Código de Obras; V – o Código de Postura; VI - o Código do Meio Ambiente; [...]. (g.n.)

Destaque especial é dado ao § 2º, do artigo 35, em relação à integração

entre os Poderes, Legislativo e Executivo Municipais, no sistema de controle interno:

[...]

Seção VII - Da Fiscalização Art. 35 – Os Poderes, Legislativo e Executivo, manterão, de forma integrada, o sistema de controle interno com a finalidade de: § 2º. Qualquer cidadão, Partido Político, associação ou sindicato é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidade ou ilegalidade perante a Comissão Permanente de Finanças, Orçamento e Economia da Câmara Municipal. § 3º. A Comissão Permanente de Finanças, Orçamento e Economia da Câmara Municipal, ao tomar conhecimento de irregularidades ou ilegalidades, poderá solicitar à Autoridade responsável que, no prazo de 05 (cinco) dias, preste os esclarecimentos necessários. § 4º. Concluindo pela irregularidade ou ilegalidade, a Comissão proporá à Câmara as medidas que julgar convenientes à situação [...]. (g.n.)

Dentre outras atribuições do Prefeito Municipal de Jaú, destacam-se as

menções feitas nos incisos VI e XIV e, em especial, no § único, do artigo 44, quanto

à possibilidade de delegação de poderes:

[...] CAPÍTULO III - Do Poder Executivo

Seção II - Das Atribuições do Prefeito Art. 44. Compete, privativamente, ao Prefeito: IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as Leis, bem como expedir Decreto e Regulamentos para sua fiel execução;

Page 42: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

41

VI - repassar, até o dia 20 (vinte) de cada mês, o duodécimo orçamentário do Poder Legislativo; XIV – cumprir outras atribuições previstas na Lei Orgânica; XVII – dispor sobre a organização e o funcionamento da Administração Municipal, na forma da Lei; Parágrafo único – O Prefeito Municipal poderá delegar as atribuições mencionadas nos incisos VI e XIV, deste Artigo [...]. (g.n.)

Em relação às atividades de Defesa Civil Municipal há especial deferência

ao seu papel assessoramento, planejamento e execução de medidas contra

desastres e calamidades em sentido amplo, o que corrobora com as atividades de

bombeiro e de defesa civil, que a nova versão do RAIA estendeu seu preenchimento

aos policiais militares do Corpo de Bombeiros:

[...] CAPÍTULO VII

Dos Recursos Hídricos Art. 74. – Caberá ao Município, no campo dos recursos hídricos: IV - proceder no zoneamento das áreas sujeitas a risco de inundações, erosão e deslizamento do solo, estabelecendo restrições e proibições ao uso, parcelamento e à edificação nos locais impróprios ou críticos, de forma a preservar a segurança e a saúde pública; V - ouvir a Defesa Civil a respeito da existência, em seu território, de habitações em área de risco, sujeitas a desmoronamentos, contaminações ou explosões, providenciando a remoção, compulsória se for o caso, dos seus ocupantes; VI - implantar sistemas de alerta e Defesa Civil para garantir a saúde e segurança pública, quando de eventos hidrológicos indesejáveis; [...]. (g.n.)

Por fim, em relação ao Meio Ambiente, dentro do Capítulo “Ordem Social”,

em seu artigo 86, no § 1º, inciso IV, que especifica:

[...] CAPÍTULO VIII - DA ORDEM SOCIAL

Seção V - Do Meio Ambiente Art. 86. Todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à comunidade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Município: (...) IV - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; [...]. (g.n.)

Em relação ao artigo acima, cabe considerar o chamamento que o texto

legal faz ao “sentido do dever”, tanto público como de toda a sociedade, em

defender e proteger o meio ambiente, sob todas suas formas.

Neste caso, amplificam-se as perspectivas de atuações operacionais que

justificariam a propositura de um convênio entre o Estado de São Paulo,

representado pela Polícia Militar de Jaú (27º BPM/I), notadamente, para as questões

de fiscalização municipal, nos casos de emissão de ruídos, vibrações e poluição

Page 43: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

42

sonora, particularmente, afetos à Secretaria Municipal do Meio Ambiente, cuja

estrutura é extremamente deficitária em responder às demandas, mesmo que em

atuação conjunta.

Nesta seara, encontram-se as diversas e conflitantes correntes, que

discutem os papéis, as responsabilidades e as competências de “polícia

administrativa de segurança” em concorrência com as atribuições da “polícia

administrativa especial”, sendo esta atrelada, em princípio, aos órgãos públicos

municipais, por tratarem de interesses ditos como “locais ou peculiares”.

Para tanto, é senhor tecer breves considerações a respeito desses dois

campos de atuação de polícia administrativa, que interferem sobremaneira na

preservação da ordem pública e na sensação de segurança na população, o que

será feito no Capítulo 5.

2.3.3 Outras considerações

Ante ao exposto, fica claro o déficit de recursos materiais e humanos para a

atividade de fiscalização municipal em Jaú. Por mais operações conjuntas e

extraordinárias que sejam realizadas com a Polícia Militar local, a capacidade

operativa ainda requer maior incremento de materiais, viaturas e recursos humanos.

Não restam dúvidas sobre a necessidade de evolução das práticas

fiscalizatórias a serem seguidas tanto pela Polícia Militar quanto pelos órgãos

municipais.

Tamanhos são os desafios contemporâneos e a complexidade de problemas

a serem solucionados, que, isoladamente, nenhuma estrutura do poder público local

nem a sociedade, pelas suas instituições e cidadãos em ações esparsas, conseguirá

fazer frente às demandas num panorama caótico.

Iniciativas para a conjugação harmônica de esforços já despontam, como é a

do Prof. Dr. Fernando Frederico de Almeida Júnior, Vereador Municipal de Jaú, que

propôs à Câmara Municipal, o “Programa- Fiscal da Cidade” 25, com os objetivos de

25

PROJETO DE LEI Nº 068/2009, de 1º de Junho de 2009, que cria o programa “Fiscal da Cidade” no Município de Jahu e dá outras providências. Disponível em <www.camarajau.sp.gov.br>. Acesso em: 15 ago. 2011.

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43

“... estimular o exercício da cidadania e de ampliar a participação da sociedade,

organizada em atividades de fiscalização que interessem diretamente à

comunidade...”.

As atribuições propostas ao Fiscal da Cidade estão indicadas conforme

abaixo:

Art. 2º. São atribuições do “Fiscal da Cidade”: I – identificar violação a códigos, posturas, leis e regulamentos municipais; II – identificar irregularidades, abusos, omissões ou desídias cometidas por servidores municipais no exercício de suas funções; III – apresentar sugestões referentes à melhoria dos regulamentos e dos serviços públicos prestados à população. Parágrafo único. A comunicação das ocorrências ao Poder Executivo Municipal deve ser feita sempre por escrito, via protocolo, devidamente fundamentada e instruída com os documentos pertinentes.

Os requisitos necessários à indicação do Fiscal da Cidade estão nos artigos

3º e 4º do projeto:

Art. 3º. São requisitos necessários para ser “Fiscal da Cidade”: I – não ser funcionário público municipal em exercício; II – ser maior de 18 anos de idade; III – estar associado a uma organização comunitária que preencha os requisitos do art. 4° desta lei; IV - não possuir antecedentes criminais. Art. 4º. O “Fiscal da Cidade” deverá ser indicado, para um período de quatro anos, por associação de moradores com pelo menos cinco anos de funcionamento ininterruptos, devidamente registrada nos termos da legislação em vigor e reconhecida de utilidade pública.

Diante desta propositura, fica patente a relevância sobre o tema

“Fiscalização Municipal” e o interesse real do Poder Legislativo Municipal em buscar

alternativas viáveis para a melhoria das atividades de polícia administrativa especial.

Outras tratativas estão em processo no sentido de viabilizar uma

“Consolidação das Leis de Posturas Municipais de Jaú”, fonte primordial ao bom

amparo técnico e jurídico, não só dos agentes públicos como de toda sociedade,

pois concentraria todas as leis municipais em vigor, facilitando em muito o estudo, a

assistência jurídica e a prática da fiscalização em Jaú.

Entende-se por postura municipal toda deliberação escrita, a qual obriga os

munícipes ao cumprimento de certos deveres, sendo certo que dentre os munícipes

também está inserido o policial militar quer como cidadão comum quer como

profissional de segurança pública.

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44

3 A Polícia Militar do Estado de São Paulo na cidade de Jaú

3.1 Breve esboço histórico

A Polícia Militar do Estado de São Paulo inicia a sua história na cidade de

Jaú, em 185726 , quando o incipiente povoamento é elevado a Distrito de Paz,

passando a ter na figura de um de seus fundadores, o Capitão José Ribeiro de

Camargo, sua primeira autoridade.

Dispunha como cadeia pública, de uma palmeira no Largo da Matriz, onde

os presos eram amarrados com um laço, e em 1868, a recém emancipada Vila de

Jahu é promovida a Termo Judiciário, passando a ter um destacamento da 3ª

Companhia da Milícia Paulista, então denominada - Corpo Policial Permanente.

Para sediar o quartel e a cadeia, foi comprada uma casa com 60 palmos de

frente por 80 de fundos e um puxado na frente. A primeira sede, localizada numa

esquina da atual Rua Edgard Ferraz, com o Largo da Matriz.

Em 1966 com o desenvolvimento urbano, foi criada a primeira Companhia

de Policiamento, denominada a “1ª Cia do 4º Batalhão Policial”, designada após

alguns anos como 3ª e 4ª Cia PM do 4º BPM/I, respectivamente.

Tornara imprescindível adequar-se à dinâmica local e desta forma, por força

do Decreto nº 24.572 de 27 de agosto de 1985, instalou-se o Vigésimo Sétimo

Batalhão de Polícia Militar do Interior (27º BPM/I), em 03 de abril de 1986, na cidade

de Jaú, subordinado, ao então, Comando de Policiamento da Área do Interior- 9

(CPA/I-9), da Região de Bauru (CPA/I-9), hoje, Comando de Policiamento do

Interior- 4 (CPI-4), na cidade de Bauru.

A primeira instalação física do 27º BPM/I ocorreu em 03 de abril de 1986, na

Praça Jorge Tibiriçá, s/nº - Centro – Jaú/SP, passando por quatro outros endereços

em 1992, 1996, 2001, respectivamente, e em 2004, no dia 01 de julho, a sede foi

transferida para a Rua Vinte e Quatro de Maio, nº 943, Vila Nova, onde se encontra

até os dias atuais.

26

Dados históricos obtidos do Relatório de Gestão de 2011, ao Prêmio Paulista da Qualidade/2011.

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45

3.2 Estrutura operacional

O 27º BPM/I tem suas atividades voltadas ao policiamento ostensivo

territorial e à preservação da ordem pública, conforme preconizam a Constituição

Federal e a Constituição do Estado de São Paulo.

A preservação e o restabelecimento da ordem pública são obtidos por meio

de dois macro-processos que se complementam: o primeiro, de prevenção que visa

à inibição da prática de delitos e de infrações administrativas (prevenção primária e

secundária), e o segundo que visa à cessação dos delitos (dissuasão e repressão

imediata).

O policiamento ostensivo territorial se caracteriza pelo exercício da polícia

ostensiva para evitar a eclosão do ilícito penal e da intranquilidade pública. Refinado

em 2005 e 2007, pelas edições dos programas de policiamento, que são subdivisões

do policiamento ostensivo, voltados a determinados objetivos, ajustáveis ao longo do

tempo, que traduzem a estratégia operacional da Instituição.

São eles: Programa de Policiamento Escolar, Programa de Policiamento

Integrado, Programa de Forças Táticas, Programa de Viaturas Comunitárias,

Programa de Radiopatrulha, Programa ROCAM (Rondas Ostensivas com Apoio de

Motocicletas) e Programa de Trânsito.

O atendimento emergencial: desde 1970, apresenta-se como a ação policial

para o restabelecimento imediato da quebra da ordem pública, por meio do

acionamento do telefone “190" ou diretamente a um policial militar.

Como toda organização pública da administração direta, o 27º BPM/I não

distingue no seu atendimento ao público, as pessoas em função de idade, sexo,

religião, situação econômica, raça, cor de pele, etc., portanto, todas as pessoas que

se encontram na região de atuação, são considerados clientes-alvo.

Os clientes-alvo estão divididos entre os clientes diretos e indiretos,

respectivamente beneficiários da restauração da ordem pública e da manutenção da

ordem pública. O cliente direto é a pessoa envolvida em conflito que gera

intranquilidade, insegurança ou insalubridade pública, exigindo a intervenção da

Instituição para a restauração imediata da ordem violada. E o cliente indireto é o

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46

integrante do grupo que envolve todos os cidadãos que necessitam de ações de

manutenção da ordem pública.

O 27º BPM/I em Jaú procura sempre efetuar o policiamento além do que é

esperado pela população, e, principalmente, além do que é esperado pelos

transgressores da lei, razão pela qual tem índices de criminalidade muito baixos,

conforme será visto mais a frente.

Os objetivos desafios a serem atingidos são inúmeros, destacando-se: a

criação de uma Companhia de Força Tática; continuar tendo índices de

criminalidade muito baixos e conquistar o título de cidade mais segura de São Paulo,

com mais de 100.000 habitantes; fortalecer e aperfeiçoar as ações de integração

com órgãos públicos municipais, estaduais e federais, de todos os poderes.

No Relatório de Gestão da Qualidade do 27º BPM/I (2011, p. 10), há

destaque ao risco organizacional externo pela “... fiscalização deficitária por parte do

poder público municipal, junto aos estabelecimentos comerciais (bares,

desmanches, ferros-velhos, fliperamas etc.); ...”.

Dentre as principais estratégias organizacionais do batalhão, destaca-se, a

consolidação da integração com os órgãos públicos, por meio de indicadores de

desempenho, ou seja, dentro do plano de ações de cristalização da utilização do

RAIA, a meta é o acréscimo de pelo menos 5%, no número de confecções anuais do

RAIA 27, para estimular práticas de gestão e foco no estabelecimento de convênios

com a Prefeitura Municipal de Jaú.

Portanto, as principais necessidades e expectativas de cada tipo de cliente e

do próprio 27º BPM/I são, respectivamente: a preservação da ordem pública

prestada ininterruptamente; a paz social; a expectativa do imediato restabelecimento

dela, com o mínimo de trauma social; e a disponibilidade da força de trabalho

capacitada, equipamentos e tecnologia em quantidade e qualidade compatíveis com

a demanda.

3.3 Estrutura organizacional

27

Segundo dados da Seção de Operações do Batalhão (P/3), de janeiro até agosto de 2011 foram elaborados 18 RAIA, na Cidade de Jaú sendo recebidas 02 devolutivas da Prefeitura.

Page 48: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

47

Sua área territorial faz divisa com 4º BPM/I, em Bauru/SP, estando

subordinado ao Comando de Policiamento do Interior- 4 (CPI-4) e responsável pelo

policiamento em 10 municípios. Possui 03 Companhias Operacionais, das quais, a

1ª Companhia PM atua exclusivamente na cidade de Jaú, possuindo 04 Pelotões

PM Operacionais, além de um Pelotão de Força Tática/Canil.

Figura 2- Área do CPI-4, região de Bauru/SP.

Fonte: 27º BPM/I- Relatório de Gestão da Qualidade 2011.

A 1ª Cia PM do 27º BPM/I, responsável pelo policiamento na cidade de Jaú,

faz divisas territoriais com as cidades de Barra Bonita, Mineiros do Tietê e Dois

Córregos, todas pertencentes à circunscrição da 2ª Cia PM. E também com as

cidades de Itapuí, Bariri e Bocaina, todas pertencentes à circunscrição da 3ª Cia PM,

Figura 3- Limites territoriais da 1ª Cia PM do 27º BPM/I em Jaú/SP.

Fonte: 27º BPM/I- Relatório de Gestão da Qualidade 2011.

Page 49: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

48

A estrutura organizacional da Polícia Militar apresenta o seguinte

organograma:

Figura 4- Organograma do 27º BPM/I para Jaú/SP.

Fonte: 27ºBPM/I.

Segundo a Portaria do Comandante Geral PM Nº 004/01/1128, o efetivo total

fixado do 27º BPM/I é de 360 policiais militares, sendo que na 1ª Cia PM,

responsável pela exclusivamente pela cidade de Jaú, estão fixados 145 policiais

militares, porém existentes são 128 policiais militares.

3.4 Algumas estatísticas

A cidade de Jaú se destaca no Estado de São Paulo por ter sido

considerada, por vários anos consecutivos, como a mais segura do Estado com mais

de 100 mil habitantes, levantamentos realizados pelo Instituto Fernand Braudel29

28

Disponível em <http://www.intranet.polmil.sp.gov.br/organizacao/unidades/3empm/index2.html>. Acesso em: 2 out. 2011.

29 Disponível em <http://pt.braudel.org.br/pesquisas/arquivos/downloads/ranking-grandes-municipios-

alfabetica.pdf>. Acesso em 2 out. 2011.

COMANDO

27° BPM/I

COORDENADOR OPERACIONAL

1ª CIA PM - JAÚ

1° PEL PM NORTE/LESTE

2° PELOTÃO PM

SUL

3° PELOTÃO PM CENTRO

4° PELOTÃO PM OESTE

5° PELOTÃO

FORÇA TÁTICA/CANIL

SUBCOMANDO

27º BPM/I

Page 50: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

49

Já no ano de 2011, a tabela 4 apresenta os principais indicadores criminais,

mês a mês, de janeiro a agosto:

Tabela 4- Registro de Ocorrências, até agosto de 2011, em Jaú/SP.

OCORRÊNCIAS REGISTRADAS POR TIPO 2011 ITEM Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total

HOMICÍDIO DOLOSO 0 2 2 0 0 1 1 1 ... ... ... ... 7

Nº DE VÍTIMAS EM HOMICÍDIO DOLOSO 0 2 2 0 0 1 1 1 ... ... ... ... 7

HOMICÍDIO CULPOSO POR ACIDENTE DE TRÂNSITO

0 2 1 1 2 0 3 1 ... ... ... ... 10

HOMICÍDIO CULPOSO OUTROS 0 0 0 0 0 0 0 0 ... ... ... ... 0

TENTATIVA DE HOMICÍDIO 0 1 0 1 1 0 0 1 ... ... ... ... 4

LESÃO CORPORAL DOLOSA 68 60 48 62 52 54 55 70 ... ... ... ... 469

LESÃO CORPORAL CULPOSA POR ACIDENTE DE TRÂNSITO

41 50 58 75 85 63 67 81 ... ... ... ... 520

LESÃO CORPORAL CULPOSA - OUTRAS 0 0 3 1 0 0 0 1 ... ... ... ... 5

LATROCÍNIO 0 0 0 0 0 0 0 0 ... ... ... ... 0

Nº DE VÍTIMAS EM LATROCÍNIO 0 0 0 0 0 0 0 0 ... ... ... ... 0

ESTUPRO 1 2 0 0 1 1 1 1 ... ... ... ... 7

TRÁFICO DE ENTORPECENTES 7 15 20 10 8 20 13 9 ... ... ... ... 102

ROUBO - OUTROS (1) 17 12 16 16 24 13 12 20 ... ... ... ... 130

ROUBO DE VEÍCULO 0 0 3 2 1 1 2 2 ... ... ... ... 11

ROUBO A BANCO 0 0 0 0 0 0 0 0 ... ... ... ... 0

ROUBO DE CARGA 0 0 0 1 0 0 0 0 ... ... ... ... 1

FURTO - OUTROS 111 171 151 124 163 112 126 163 ... ... ... ... 1121

FURTO DE VEÍCULO 15 14 26 21 16 9 22 10 ... ... ... ... 133

Fonte: SSP/SP, conforme Resolução 160/2001.

Na sequência, a tabela 5 apresenta as taxas de delitos por 100.000

habitantes, elaborada pela Coordenadoria de Análise e Planejamento da Secretaria

de Segurança Pública do Estado de São Paulo, no período de 2000 a 2010:

Tabela 5- Indicadores criminais em Jaú/SP.

Taxa de delito por 100 mil habitantes

Ano Homicídio Doloso Furto Roubo Furto e Roubo de

Veículo

2000 1,79 1.041,19 107,52 113,8

2001 5,27 1.000,25 106,35 132,72

2002 3,44 1.026,02 80,18 125,88

2003 5,91 1.079,52 137,68 86,15

2004 3,32 1.154,85 73,78 130,16

2005 4,88 1.198,53 97,64 113,91

2006 4,01 1.156,26 88,94 15,39

2007 4,73 1.089,74 107,32 77,33

2008 6,94 937,6 90,21 92,53

2009 1,51 1.108,06 137,09 119,67

2010 8,39 1.162,76 147,25 116,73

Fonte: CAP-SSP/SP, conforme Resolução 160/2001.

Page 51: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

50

Nota-se nos quadros anteriores, que os indicadores de latrocínios estão

ótimos e homicídios dolosos são relativamente baixos desde 2000, se for

considerado o padrão indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o qual

preconiza um patamar aceitável de até 8 casos por 100.000 habitantes. No entanto,

verifica-se forte tendência de acréscimo se for considerado que, já em agosto de

2011, ocorreram 7 casos.

Nota-se ainda, que os casos de acidentes de trânsito ocupam grave

percentual de vítimas fatais, derivadas de culpa dos motoristas, sem contar as

lesões corporais, gerando grande ônus operacional às viaturas PM.

Segundo Kahn e Zanetic (2005, p. 24) o uso e abuso das bebidas

alcoólicas seriam alguns dos principais fatores criminógenos, ou seja, “com a

presença do álcool a violência é potencializada”. Entre outros efeitos, o álcool

diminui a capacidade de raciocínio e motora, além de aumentar a probabilidade de

respostas agressivas do indivíduo na presença de uma provocação. O indivíduo

alcoolizado apresenta déficits na atenção, cognição e na capacidade de julgamento,

ficando mais vulnerável, não apenas à vitimização por agressões físicas fatais, mas

também, a outras situações envolvendo acidentes de trânsito. Sabe-se que álcool e

a violência estão intrinsecamente associados, seja pelos efeitos farmacológicos da

bebida alcoólica seja porque indivíduos violentos ou com intenção da agressão,

adotam comportamentos de risco.

Conforme esses autores:

[...] levantamentos estatísticos realizados nos anos 90 pelo CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas – estimam que entre 6,6 e 11,2% da população brasileira pode ser considerada dependente de álcool. Entre os jovens do sexo masculino, a prevalência de dependentes de álcool sobe para 23,7%, de acordo com a pesquisa realizada em 2001 nas 107 cidades brasileiras com mais de 200 mil habitantes. Aproximadamente 69% dos pesquisados revelaram ter usado álcool alguma vez na vida, sendo a prevalência elevada mesmo entre adolescentes entre 12 a 17 anos (48,3%) [...] (KAHN; ZANETIC, 2005, p. 27).

E ainda:

Curiosamente, apesar dos mais ricos terem maior prevalência de consumo de álcool, as classes mais baixas são as que vão aos bares e botecos da cidade com maior freqüência. Na classe “E”, por exemplo, aqueles que disseram freqüentar bar ou boteco quase todos os dias somam 15,5%, enquanto os que disseram freqüentar uma ou duas vezes por semana somam 27,9%, totalizando 43,4%. Na classe “D”, essa parcela totaliza 36,6%, enquanto nas classes “A” e “B” os números são de 19,4% a 24,3%. A análise dos dados do Boletim de Ocorrência da Polícia Civil mostra que a maior proporção dessas ocorrências corresponde aos finais de semana, concentrando 50,0% do total de casos: sábado (500 vítimas), domingo (462) e sexta-feira (348). A quarta- feira é o dia com menor número de vítimas

Page 52: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

51

(233). Quanto ao horário, é durante a noite e madrugada que ocorre a maior parte dos crimes contra a pessoa (entre 19:00h e 01:00h foram registrados 41,1% dos eventos). Esses dados também possibilitaram o conhecimento do local de ocorrência do evento, tendo sido verificada a coincidência entre local de residência da vítima e local de ocorrência do crime para 50,6% das vítimas. Para 24,0% dos óbitos essas localidades eram próximas e para 17,3% deles, os locais de residência e ocorrência eram diferentes (KAHN; ZANETIC, 2005, p.12-14).

Figura 5- Vitimização na Capital/SP, por final de semana.

Fonte: Revista Veja São Paulo, 15 de novembro de 2006.

Igualmente, concluíram:

De uma maneira simplista, então, pode-se afirmar que com o fechamento desses locais de venda de bebidas alcoólicas, haverá uma redução da criminalidade, porém, muitas outras ações também deverão ser tomadas em conjunto com os diversos órgãos e entidades para que se obtenha o resultado esperado. [...] Estes bares são abertos clandestinamente, sem qualquer licença ou alvará de funcionamento, os quais acabam atraindo parcela dessa comunidade que não tem alternativa de diversão ou ponto de encontro. É também nas periferias, incluindo-se as favelas, onde há uma grande atuação de grupos ligados ao crime organizado, basicamente se sustentando com o tráfico de drogas, cujos consumidores, oriundos dessas comunidades, não raras vezes acabam se endividando e, por não pagarem as dívidas contraídas, são mortos por meliantes desses grupos nos “pontos de encontro”, geralmente bares ou suas imediações. Daí a necessidade da integração dos organismos sociais e policiais para realmente criarem políticas e ações preventivas contra o crime em geral (KAHN; ZANETIC, 2005, p. 34).

Diante do apresentado no levantamento acima, a fiscalização sobre o

seguimento de bares, botecos, lanchonetes, boates, lojas de conveniências junto a

postos de combustíveis, dentre outros; será fundamental para consecução dos

objetivos na redução dos indicadores criminais e de vitimização por acidentes de

trânsito.

Page 53: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

52

4 O RAIA e as Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública

4.1 Referências Legais da atuação da Polícia Militar

A União, por meio do Decreto-lei Federal nº 667, de 2 de julho de 1969, cuja

redação foi alterada pelo Decreto-lei nº 2010, de 12 de janeiro de 1983, estabeleceu

o exercício exclusivo do policiamento ostensivo, por parte das Polícias Militares.

CAPÍTULO I Definição e competência

[...] Art. 3º - Instituídas para a manutenção da ordem pública e segurança interna nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, compete às Polícias Militares, no âmbito de suas respectivas jurisdições: a) executar com exclusividade, ressalvadas as missões peculiares das Forças Armadas, o policiamento ostensivo, fardado, planejado pela autoridade competente, a fim de assegurar o cumprimento da lei, a manutenção da ordem pública e o exercício dos poderes constituídos; b) atuar de maneira preventiva, como força de dissuasão, em locais ou áreas específicas, onde se presuma ser possível a perturbação da ordem; c) atuar de maneira repressiva, em caso de perturbação da ordem, precedendo eventual emprego das Forças Armadas; [...]. (g.n.).

Coube ao Decreto Federal n 66.862, de 8 de julho de 1970 (R-200), que

regulamentou o Decreto-lei n 667/69, afirmar no artigo 2º, "13", a primeira definição

legal de policiamento ostensivo: "Ação policial em cujo emprego o homem ou a

fração de tropa engajados sejam identificados de relance, quer pela farda quer pelo

equipamento, armamento ou viatura".

Necessário se faz indicar o texto legal que conceitua a “ordem pública” e

“perturbação da ordem”, atribuindo competências, conforme o Decreto Federal n.º

88.777, de 30 de setembro de 1.983, que estabelece o regulamento para as Polícias

Militares e Corpos de Bombeiros Militares (R-200):

[...] CAPÍTULO II Da Conceituação e Competência Artigo 2° - Para efeito do Decreto-lei n° 667, de 2 de julho de 1969, modificado pelo Decreto-lei n° 1.406, de 24 de junho de1975, e pelo Decreto-lei n° 2.010, de 12 de janeiro de 1983, e deste Regulamento, são estabelecidos os seguintes conceitos: (...) 21) Ordem Pública - Conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento jurídico da Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os níveis, do interesse público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e pacífica, fiscalizado pelo poder de polícia, e constituindo uma situação ou condição que conduza ao bem comum. (...)

Page 54: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

53

25) Perturbação da Ordem - Abrange todos os tipos de ação, inclusive as decorrentes de calamidade pública que, por sua natureza origem, amplitude e potencial possam vir a comprometer, na esfera estadual, o exercício dos poderes constituídos, o cumprimento das leis e a manutenção da ordem pública, ameaçando a população e propriedades públicas e privadas. As medidas preventivas e repressivas, neste caso, estão incluídas nas medidas de Defesa Interna e são conduzidas pelos Governos Estaduais, contando ou não com o apoio do Governo Federal. (g.n.)

O novo R-200, Decreto Federal n 88.777, de 30 de setembro de 1983, ao

revogar o de n 66.862/70, aperfeiçoou a definição de policiamento ostensivo

acrescentando a extensão dessa competência policial militar e o seu objetivo, da

seguinte forma: "Ação policial, exclusiva das Polícias Militares, em cujo emprego o

homem ou a fração de tropa engajados sejam identificados de relance, quer pela

farda, quer pelo equipamento ou viatura, objetivando a manutenção da ordem

pública" - art. 2, "27".

A Constituição Federal, promulgada em 05 de outubro de 1.988, recepcionou

os preceitos apontados e indica no caput do artigo 144, incisos I a V os órgãos

responsáveis pela segurança pública e em seus parágrafos 5º e 6º, expressa a

competência das Polícias Militares, como atividade principal e cotidiana, a polícia

ostensiva e a preservação da ordem pública além de atuar como força auxiliar

reserva do Exército na defesa territorial.

[...] Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I - polícia federal; II - polícia rodoviária federal; III - polícia ferroviária federal; IV - polícias civis; V - polícias militares e corpos de bombeiros militares. [...] § 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil. § 6º - As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. [...]

Da interpretação do citado artigo, deduz-se que todos os órgãos

relacionados como integrantes do sistema de segurança pública exercem a

chamada polícia de segurança, e o fazem para preservação da ordem pública, a

incolumidade das pessoas e do patrimônio. E, em outras palavras, a segurança

pública é exercida para atingir a ordem pública, esta é objeto daquela e muito mais

abrangente.

Page 55: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

54

Esclarece que enquanto todos os órgãos inclusos no sistema exercem a

segurança para atingir a ordem pública, às Polícias Militares foi conferida

especificamente a competência de preservação desta mesma ordem, uma atuação

excepcional inserida no capítulo constitucional da segurança pública.

Tal inferência é evidente posto que o legislador explicitou as competências

das Polícias Militares (144, § 5º da Constituição Federal) já que o exercício da

segurança pública é função de todos os órgãos integrantes do sistema de segurança

pública mediante o exercício da polícia de segurança.

A Lei Estadual nº 616, de 17 de dezembro de 1974, do Estado de São Paulo

dispõe sobre a organização básica da Polícia Militar, definindo igualmente as

missões exclusivas da Polícia Militar do Estado de São Paulo:

Lei nº 616, de 17 de dezembro de 1974 TÍTULO I

CAPÍTULO ÚNICO Destinação - Missões - Subordinação

Artigo 1º - A Polícia Militar do Estado de São Paulo, considerada força auxiliar, reserva do Exército, nos termos do § 4º do artigo 13 da Constituição da República (Emenda Constitucional nº 1), de 17 de outubro de 1969, organizada com base na hierarquia e na disciplina, em conformidade com as disposições da legislação federal, destina-se à manutenção da ordem pública na área do Estado. Artigo 2º - Compete à Polícia Militar: I - executar com exclusividade, ressalvadas as missões peculiares das Forças Armadas, o policiamento ostensivo fardado, planejado pelas autoridades policiais competentes, conceituadas na legislação federal pertinente, a fim de assegurar o cumprimento da lei, a manutenção da ordem pública e o exercício dos poderes constituídos; II - atuar de maneira preventiva, como força de dissuasão, em locais ou áreas específicas, onde se presuma ser possível a perturbação da ordem; III - atuar de maneira repressiva, em caso de perturbação da ordem, precedendo o eventual emprego das Forças Armadas; (g.n.).

Historicamente, não se falava em “ostensividade” como característica

inerente à atividade de polícia, restringindo-se a aspectos de vigilância30 e serviços

de policiamento31.

Com o passar dos anos, o termo ganhou novos traços de dignidade

conceitual, pois sem essa característica, a atividade de polícia de segurança não se

concretiza, pois não seria possível ser identificada de relance senão devido à

utilização de fardamento, viaturas e equipamentos especiais.

30

LEI FEDERAL Nº 192, de 17 de janeiro de 1936, que reorganizou as Polícias Militares, artigo 2º. 31

DECRETO ESTADUAL Nº 20.910, de 05 de novembro de 1951, que aprova o Regulamento da Força Pública, para o Serviço de Policiamento.

Page 56: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

55

A Constituição do Estado de São Paulo, de 05 de outubro de 1989 32 ,

ratificou o prescrito na Constituição Federal, artigo 144, V e §§ 5º e 6º, conforme

segue:

[...] ARTIGO 139 - A Segurança Pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e incolumidade das pessoas e do patrimônio.§ 1º - O Estado manterá a Segurança Pública por meio de sua polícia, subordinada ao Governador do Estado. [...] SEÇÃO III - Da Polícia Militar ARTIGO 141 - À Polícia Militar, órgão permanente, incumbe além das atribuições definidas em lei, a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública.§ 1º - O Comandante Geral da Polícia Militar será nomeado pelo Governador do Estado dentre oficiais da ativa, ocupantes do último posto do Quadro de Oficiais Policiais Militares, conforme dispuser a lei, devendo fazer declaração pública de bens no ato da posse e de sua exoneração.§ 2º - Lei Orgânica e Estatuto disciplinarão a organização, o funcionamento, direitos, deveres, vantagens e regime de trabalho da Polícia Militar e de seus integrantes, servidores militares estaduais, respeitadas as leis federais concernentes.§ 3º - A criação e manutenção da Casa Militar e Assessorias Militares somente poderão ser efetivadas nos termos em que a lei estabelecer.§ 4º - O Chefe da Casa Militar será escolhido pelo Governador do Estado entre oficiais da ativa, ocupantes do último posto do Quadro de Oficiais Policiais Militares. ARTIGO 142 - Ao Corpo de Bombeiros, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil, tendo seu quadro próprio e funcionamento definidos na legislação prevista no § 2º do artigo anterior. [...]

Em âmbito interno, as Normas para o Sistema Operacional de Policiamento

PM (NORSOP) estruturam fundamentalmente conceitos de relevância sobre o tema:

[...] 6.3. Estrutura Fundamental: 6.3.1.de polícia: Trata-se de distinguir polícia ostensiva de polícia de preservação da ordem pública, vez que o legislador não pretendeu ser apenas enfático ao atribuir as missões constitucionais da Polícia Militar. Entendendo-se, pois, que ao estender a atuação da Polícia Militar, definida na lei federal nº 667/69, do policiamento ostensivo (que vem a ser a fiscalização de polícia) para polícia ostensiva (o exercício do poder de polícia lato sensu na modalidade ostensiva, isto é, preventiva), pretendeu o legislador referir-se à atuação preventiva, em todo seu espectro. Por outro lado, baseado no fato de que, em princípio, teleologicamente, o legislador não promoveu redundância de terminologias, então, a preservação da ordem deve significar como normalmente se entende, a restauração da ordem, ou seja, o poder-dever de intervir imediatamente no fato que causa quebra da ordem e restaurá-la pela sua cessação. 6.3.1.1. polícia ostensiva: Conceito abrangente, que envolve atividades de prevenção primária e secundária, as quais são executadas para consecução da segurança pública, tais como policiamento comunitário, radiopatrulhamento e todas as demais que são levadas a efeito pela Polícia Militar a fim de prevenir o cometimento de ilícitos penais ou de infrações administrativas sujeitas ao controle da Instituição.

32

Disponível em http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/constituicao/1989/>. Acesso em: 14 mai. 2011.

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56

6.3.1.2. polícia de preservação da ordem pública: É a atividade cometida à Polícia Militar de restauração da ordem pública, envolvendo a repressão imediata às infrações penais e administrativas e a aplicação da lei. 6.3.2. policiamento ostensivo: Compõe-se das ações de fiscalização de polícia, sobre matéria de segurança pública, em cujo emprego o policial militar ou a fração de tropa é identificado de relance, quer pela farda, quer pelo equipamento, armamento ou viatura. É modo de atuar do Poder de Polícia [...].

No entender de Diogo de Figueiredo Moreira Neto:

"A polícia ostensiva, afirmei, é uma expressão nova, não só no texto constitucional, como na nomenclatura da especialidade. Foi adotada por dois motivos: o primeiro, já aludido, de estabelecer a exclusividade constitucional e, em segundo, para marcar a expansão da competência policial dos policiais militares, além do policiamento ostensivo. Para bem entender esse segundo aspecto, é mister ter presente que o policiamento é apenas uma fase da atividade de polícia. A atuação do Estado, no exercício de seu poder de polícia, se desenvolve em quatro fases: a ordem de polícia, o consentimento de polícia, a fiscalização de polícia e a sanção de polícia ... o policiamento corresponde apenas à atividade de fiscalização; por esse motivo, a expressão utilizada, polícia ostensiva, expande a atuação das Polícias Militares à integralidade das fases do exercício do poder de polícia. O adjetivo ostensivo refere-se à ação pública da dissuasão, característica do policial fardado e armado, reforçada pelo aparato militar utilizado, que evoca o poder de uma corporação eficientemente unificada pela hierarquia e disciplina (MOREIRA NETO, 1991, p. 147 e 148).

Lazzarini (1991, p. 6) enquadra a polícia ostensiva como uma atividade

preventiva direta ou especial, que atua sobre as conseqüências das deficiências

individuais e sociais, a fim de evitar as infrações mediante ações de presença e força

dissuasória.

Já a prevenção indireta ou geral, para ele, conjuga aos esforços da Polícia,

ações de Governo e da própria Sociedade, porque atua sobre os fatores causais do

comportamento infracional, portanto, muito mais complexa e profunda do que as

ações diretas.

Para o Moreira Neto:

A prevenção se caracteriza pela previsão; tomada de medidas que tenham como finalidade evitar a violação da ordem jurídica, da incolumidade do Estado, das instituições e dos indivíduos; tanto pode atender a comportamentos como a situações potencialmente perigosas, o que significa que a prevenção de segurança surge como preocupação universal, dever do Estado e de cada um (MOREIRA NETO, 1991, p. 357).

Para Lopes (2003, p. 24), a prevenção se traduziria em “... toda e qualquer

providência para afastar, ainda que potencialmente, os perigos violadores da ordem

pública”.

A prevenção primária se baseia nas ações voltadas ao meio ambiente físico,

arquitetônico e urbanístico de modo geral, bem como, ao ambiente social de risco

Page 58: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

57

latente de vitimização e de marginalização. Em suma, busca reduzir

comportamentos desagregadores da coesão social e os comportamentos de risco

dos cidadãos vítimas em potencial.

Detalhadamente, compreende ações de prevenção situacional e de

prevenção social, relacionada aos fatores de risco e de proteção que agem no

ambiente físico e social. Na prevenção social se busca mudanças nas estruturas

sociais, de forma a reduzir a predisposição das pessoas para a prática de crimes e

atos de violência, enquanto na prevenção situacional se objetiva a redução das

oportunidades para a prática de crimes e de violência.

A prevenção secundária se baseia em ações dirigidas às pessoas mais

suscetíveis de praticar crimes e atos de violência, ou seja, voltadas à dissuasão

policial, preventiva e repressiva imediata, típicas de polícia ostensiva e de

preservação da ordem pública, combatendo concretamente as ações criminosas

e/ou limitando seus danos de qualquer espécie. Ou ainda fomenta ações para as

pessoas mais suscetíveis de serem coaptadas pela atividade criminosa, como:

jovens adolescentes e grupos vulneráveis.

E é nesse cenário tortuoso que o RAIA se insere, por otimizar a conjugação

dos esforços perante os órgãos externos à Instituição, na missão de preservação da

ordem pública em sentido amplo.

Como preceitua a Carta Magna “... a segurança pública, dever do Estado,

direito e responsabilidade de todos,...”, o grande valor-fonte ora exposto, reside no

fato de que, embora a atividade de polícia ostensiva (prevenção direta) seja

exclusiva das Polícias Militares, já a prevenção indireta transcende a atuação policial

para que outros vetores atuem concorrentemente na preservação da ordem pública.

Para Da Silva (2010), sumariamente, a segurança pública representaria um

processo, enquanto a ordem pública seria o produto deste mesmo processo. O

primeiro a causa, o segundo o efeito.

Ele entende que a segurança somaria o elemento equilíbrio social aos fatos

ou atividades policiais, mais o ambiente e os valores-fonte para que,

cumulativamente, a ordem pública assuma traço de fenômeno social, próprio da

convivência social democrática. Fazendo-se sempre a relação entre o fato policial e

as atividades estatais de polícia ostensiva.

A segurança pública por ser dever do Estado, erroneamente, sugere ao

senso coletivo, a “responsabilidade exclusiva”, no combate das causas e efeitos da

Page 59: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

58

criminalidade e da violência. Mas estabelecer parâmetros de influência e relação da

criminalidade e da violência com a sociedade, identificando suas causas para

adoção de medidas efetivas, eficazes e eficientes contra os fatores que geram o

crime e a desordem social, isto sim, é responsabilidade de todos.

4.2 Referências Teóricas em Criminologia

A criminologia moderna evoluiu sobremaneira em seus referenciais teóricos,

várias são as premissas e perspectivas que caracterizam o crime, o criminoso, a

vítima e o ambiente.

O contexto da criminalidade e da violência não pode ser visto como um

fenômeno extravagante ao convívio social, pois são intrínsecos à natureza humana,

independentemente do nível socioeconômico, raça, etnia, credo religioso ou

ideologia política.

O que se verifica ao longo da História, é o sentido axiológico que possam

assumir em diferentes épocas e sociedades, bem como, os níveis de tolerância legal

e social para o seu enfrentamento.

Os referenciais teóricos de prevenção indireta baseiam-se na obra de José

Maria Rico e Luís Salas (1992), amplamente citada por Paulo Marino Lopes (2003),

a fim de subsidiar didaticamente a postulação do RAIA, como instrumento de

prevenção e combate à criminalidade e à violência.

Obviamente sem pretender esgotar o assunto ou desmerecer as demais

Escolas de Criminologia, mas sim, tão somente melhor delimitação do tema por

questões de mérito e de transversalidade a este trabalho.

4.2.1 Modelo Social

O modelo social de prevenção indireta, basicamente se caracteriza em

programas educativos e de assistência psicológica aos jovens, com ações

Page 60: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

59

combinadas de combate à miséria e incentivo à participação familiar na vida política

e social da comunidade.

O Programa Educativo da Polícia Militar “Jovens Construindo a Cidadania

(JCC) tem este viés, que pode fomentar nas comunidades a identificação de

lideranças locais voltadas à observação de irregularidades e incivilidades, em

parceria conjugada aos princípios de polícia comunitária voltada a resolução de

problemas também locais. Como exemplo, a situação de um bar vendendo produtos

inadequados a crianças ou jovens, dentro do perímetro escolar de segurança e que

acaba sendo denunciado pelos próprios alunos da escola à ronda, por acreditarem

nas medidas administrativas e até penais que possam ser adotadas.

O projeto pedagógico do JCC, adaptado às necessidades e requisitos do

Programa “Fiscal da Cidade”, em Jaú JCC, poderia plenamente ser fomentador de

novas lideranças positivas juvenis, exercendo grande impacto no controle social

informal se nas comunidades e bairros da cidade.

Conforme Claudionor Lisboa que abordou o tema:

Na verdade, ninguém pode se considerar alheio à segurança porque quem com ela não se preocupa acaba por contribuir para a insegurança. Assim todos estamos relacionados com a segurança, positiva ou negativamente. Notem que por esse prisma a segurança passa a ser até uma questão cultural necessitando da conscientização de cada indivíduo. Da mesma forma, nas diversas esferas de governo não é apenas a polícia que influencia a segurança, mas sim o desempenho de todos os órgãos públicos, na medida em que obtêm êxito ou fracassam nas políticas públicas que venham a implementar, nas respectivas áreas de competência. O exemplo que está na moda é o da cidade de Nova Iorque, onde a criminalidade baixou devido ao grande engajamento da sociedade e ao maciço investimento do poder público municipal na prestação de serviços básicos nos bairros pobres, de modo a melhorar o atendimento público prestado em escolas e hospitais, além da construção de parques e áreas de lazer, a fim de que a comunidade venha a sentir a presença do governo mais próxima dela. Isso, outra vez, prova que as causas da criminalidade são principalmente sociais e, portanto, é imprescindível que a comunidade e o governo se mobilizem contra a miséria, a falta de educação, a de moradia, a de saúde, enfim contra a falta de infra-estrutura que cria condições favoráveis para que o indivíduo pratique infrações penais. No Brasil, conforme o artigo 30 da Carta Política, a tarefa de atuar socialmente e, portanto, nas causas da criminalidade, foram atribuídas principalmente aos Municípios, e os recursos que lhes são destinados devem ter esse fim, cabendo aos Estados-Membros e à União as funções de polícia, ou seja, a contenção da criminalidade, no tocante aos seus efeitos. Se esse efeitos se multiplicam é porque as suas causas não estão sendo devidamente combatidas e tratadas. Essa é uma constatação inegável (LISBOA, 1997, p. 24).

Nas teorias sociais a assistência se sedimenta na melhoria das relações

institucionais locais que devem estimular o desejo na comunidade em criar

Page 61: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

60

ambientes livres de crime e violência, com ações direcionadas em dois níveis

básicos: o individual e o outro coletivo (bairro), visando alcançar um efeito

intencional, dependente da confiança mútua e da solidariedade entre os residentes

Deve ser considerada a desordem social sob integração dos diferentes

órgãos públicos municipais e estaduais, para atender às demandas de zeladoria

urbana, infraestrutura etc.

O Serviço de Assistência Social deve ser estruturado e universal para que as

camadas mais vulneráveis da sociedade, como jovens, dependentes químicos e

pessoas em situação de rua, idosos, etc., tenham a possibilidade de defesa social

adequada e não sejam alvos fáceis para a criminalidade e violência.

O Conselho Tutelar da Infância e Juventude juntamente com os

Conselhos Municipais de Defesa da Criança e do Adolescente (CMDCA) têm papel

essencial de articulação junto aos pais e jovens em situação de risco, prevenindo a

marginalização, a droga dicção e prostituição infantil e juvenil.

4.2.2 Modelo Mecânico

Amplamente ligado a aspectos ambientais e urbanísticos, este modelo

sintetiza várias postulações que relacionam a atividade delitiva derivada da

facilitação que o ambiente físico proporciona.

Neste modelo se enquadram a deterioração ambiental, a desordem e o

caos, que não são necessariamente eventos estáticos, mas sim, dinâmicos e

perpetuadores do processo de “entropia social”, muito validada e exemplificada, em

1982, pelo psicólogo criminologista George Kelling e o cientista político James Q.

Wilson publicaram na revista Atlantic Monthly um estudo inédito, estabelecendo uma

relação de causalidade entre desordem e criminalidade, surge a Teoria das “Janelas

Quebradas” desenvolvida na obra: Broken Windows: the police and neighborhood

safety, de James Q. Wilson e George L. Kelling 3334.

33

Disponível em: <http://www.theatlantic.com//ideastour/archive/windows.html>. Acesso em: 22 set. 2011.

Page 62: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

61

Tal teoria é amplamente citada por diversos autores relacionados às

Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública, dentre eles destacam-se

(CARVALHO, 2008) e (VIANNA, 2009), por indicarem ao longo de seus trabalhos, o

RAIA como importante instrumento de correção ambiental e interação institucional.

Segundo (CARVALHO, 2008, p. 37-38), em síntese “... Broken Windows

expressa a importância dos problemas enquanto ainda são pequenos. Outra idéia é

que pequenas desordens levariam a grandes desordens e, mais tarde, ao crime”.

No trabalho de James Q. Wilson (1982), o governo estaria mal equipado

para remediar as raízes do crime, até mesmo aquelas que podem ser identificadas,

pois as pessoas fazem escolhas racionais pelo crime e as políticas públicas

deveriam incidir na decisão delas, aumentando o risco e diminuindo a recompensa.

Nesse cenário, criam-se os fatores implícitos ao aparecimento de pessoas

em situação de rua, desocupados, adictos (viciados em drogas) e até, infratores da

lei, por estarem num ambiente tipicamente degradado e confortável aos seus

interesses diversos (invasão de imóveis desocupados, droga dicção, delinquência

etc.).

No ano de 1996, George Kelling juntamente com Catherine Coles, lançou

obra sobre a esta teoria: “Fixing Broken Windows– Restoring Order and Reducing

Crimes in Our Communities” (Consertando as Janelas Quebradas– Restaurando a

Ordem e Reduzindo o Crime em Nossas Comunidades), demonstrando e trazendo a

relação de causalidade entre a criminalidade violenta e a não-repressão a pequenos

delitos e contravenções.

Portanto, a desordem urbana e social leva à criminalidade, à tolerância a

pequenos delitos ou contravenções, por fim, leva à criminalidade mais violenta.

Igualmente, o RAIA se insere incisivamente nesta tese, ao informar os

órgãos competentes quanto aos casos de quebra dessas “janelas”, Em sentido

figurado ou não, elas representam toda e qualquer falência das instituições sociais e

das ações operacionais e administrativas do aparelho estatal, no controle e combate

da criminalidade e da violência.

Concluiu Wilson (1982), que a desordem provocaria o medo, que atrairia a

criminalidade mais grave, cuja distribuição não será mais aleatória, mas se

34

Disponível também <http://jus.uol.com.br/revista/texto/3730/janelas-quebradas-tolerancia-zero-e-criminalidade>. Acesso em: 29 set. 2011.

Page 63: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

62

encontraria em regiões específicas, incisivamente, nas áreas comerciais e centrais,

em detrimento direto da qualidade de vida dos residentes e transeuntes locais.

Outra teoria de prevenção indireta que permanece atual e se baseia no

modelo mecanicista é a Prevenção Criminal Através do Desenho Ambiental

(PCAAA) ou na língua inglesa CPTED- Crime Prevention Through Environmental

Design (Prevenção Criminal Através do Desenho Ambiental)35.

Conceituada e desenvolvida por Oscar Newman, em 1972, no seu livro:

“Espaço Definido: Prevenção do Crime através do Desenho Urbano”,

posteriormente, passou a ser desenvolvido em todo o mundo.

No Brasil, o primeiro autor a escrever a respeito foi Marco Antônio Amaro,

em 2005, trazendo a conceituação de prevenção criminal através da arquitetura

ambiental (PCAAA), como sendo a adoção efetiva de medidas com o objetivo de

reduzir a possibilidade do acontecimento de delitos com mudanças no desenho

urbano, melhorando assim as condições de segurança.

Roberson Luiz Bondaruk (2007) postulou ao longo de sua obra, também

sobre a prevenção do crime através do desenho urbano, sendo o segundo autor a

se dedicar com um livro exclusivamente sobre o assunto. Mostrando a relevância da

temática e o empenho de estudiosos para a qualidade de vida das pessoas.

Segundo Amaro (2005, p. 21), o uso próprio e efetivo do ambiente físico

poderia produzir efeitos comportamentais que iriam reduzir a incidência, o medo do

crime e melhoraria a qualidade de vida da população.

O presente conceito serve de pedra de toque ao ferramental que o próprio

Relatório de Averiguação de Incidente Administrativo preconiza, na medida em que

indica situações predisponentes, como: terrenos baldios, sem muros adequados,

com vegetação densa e sem manejo, sujeita à proliferação de animais peçonhentos

e a esconderijo de infratores da lei.

Igualmente ruas mal iluminadas ou sem iluminação pública, com árvores

sem poda adequada, que limitam a possibilidade de “ver e ser visto” ou ruas sem

pavimentação adequada, ensejando acidentes de trânsito, danos em veículos ou

interceptação abrupta de marginais.

As vantagens da PCAAA (CPTED) é que se baseiam na integração da

estrutura arquitetônica e urbana com a intenção de criar motivação suficiente no

35

Disponível em <http://norcalheal.cnr.berkeley.edu/docs/PHLP_CPTED_Call_Notes.pdf>. Acesso em: 12 mai. 2011.

Page 64: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

63

homem para proporcionar condições desfavoráveis à realização da ação criminosa.

Cria também uma cultura de prevenção criminal ou de menos comportamentos de

risco, porque as facilidades da estrutura ambiental são abundantes, ficando o custo

baixo à ação de criminosos.

Outros autores são citados por Bondaruk:

A socióloga americana Elizabeth Wood (COLQUHOUN, 2004, p. 38) em 1961 propôs alguns padrões arquitetônicos para melhorar a segurança de micro-conjuntos residenciais americanos, no estudo Housing Design: a Social Theory (Projetos habitacionais: uma teoria social) sendo considerada por aquele autor, a precursora da Arquitetura contra o Crime, embora a maioria dos demais autores afirme que Jane Jacobs teria este pioneirismo. A antropóloga americana Jane Jacobs, publicou o livro Morte e vida de grandes cidades, em 1961, nos Estados Unidos da América (EUA), onde destacava a importância, entre outros aspectos, da identidade territorial dos bairros e da vigilância natural

36.

Em 1971, o Dr. C Ray Jeffery cunhou a expressão Crime Prevention Through Envirommental Design (prevenção do crime através da arquitetura ambiental), em seu livro Criminal Behavior and the Physical Environment (O comportamento criminal e o ambiente físico), também nos EUA, desenvolvido com base em estudos da National Comission of Causes and Prevention of Violence (Comissão Nacional para as Causas e Prevenção da Criminalidade), desenvolvidos entre 1964 e 1968 (BONDARUK, 2007, p. 33).

Tem papel importante, considerando que esta teoria prestigia também as

questões de acessibilidade e mobilidade urbana, transportes e trânsito e ideais de

arquitetura e urbanismo aplicáveis em ruas, calçadas, praças, pontes, viadutos,

passarelas, semáforos, espaços residenciais, além de abordarem a importância da

zeladoria pública com atenção especial à iluminação e ao paisagismo, dentre outros

aspectos que interferem na fisiologia do comportamento humano.

Um ambiente negligenciado, mais o infrator estimulado pela chance de agir

sobre uma vítima desatenta a esses aspectos de segurança, determinarão a

situação ou o momento exato do “ataque” criminoso.

Eliminar esses fatores ambientais predisponentes faz parte das premissas

desta teoria, mesmo existindo outras estratégias de abordagem da Arquitetura

Contra o Crime, o que mereceria uma pesquisa mais aprofundada, implica numa

eficiente estrutura de zeladoria municipal, com rápida reparação das falhas urbanas,

bem como, fiscalização contínua dos munícipes em suas atividades econômicas.

36

Conceito de Arquitetura contra o crime, onde há uma maior circulação de pessoas, há menores índices de criminalidade, devido ao “ver e ser visto”.

Page 65: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

64

Portanto, os efeitos do bairro sobre os resultados sociais são constituídos

por processos sociais que envolvem aspectos coletivos da vida comunitária, o seu

controle e sua respectiva coesão social.

As condições físicas e interações sociais dentro do bairro e a capacidade

dos moradores em defini-lo, gerarão determinado nível de eficácia coletiva, que se

baseia nas características estruturais do ambiente, nas redes sociais formadas, nos

fatores institucionais e organizacionais de interação e integração.

Para Rico e Salas (1992, p. 191 a 262), devem ser considerados o meio

físico que exerce influência sobre o comportamento dos indivíduos, pois quando

dificulta ação do infrator, este se transfere para outro lugar. Outro aspecto é que o

comportamento depende do ambiente físico, social e administrativo, sendo possível

modificá-lo, alterando um desses componentes, por sua vez interferirá ou provocará

alterações nos demais.

O modelo mecânico manifesta-se de quatro formas ou estratégias como

explicam José Maria Rico e Luís Salas:

a. espaço defensável: vinculado às questões urbanísticas, ou seja, a distribuição das obras e benfeitorias no terreno, consistindo na iluminação, derrubada de matagais, construção de muros, cercas, ordenação das edificações (prédios, condomínios, vilas), etc.; b. reforço do objetivo: constitui evolução do espaço defensável, destinando-se a tornar difícil o acesso a locais tidos como objetivo para determinados delitos. Isso através da combinação de sistemas de segurança (vigias, cães, controles eletrônicos, cartões de identificação e acesso, blindagens, etc.); comporta também medidas especiais anti-seqüestros, etc.; c. operação identificação: parte da premissa que a maioria dos roubos e furtos a residências e estabelecimentos comerciais são cometidos por oportunistas moradores no mesmo bairro da vítima, conhecendo suas vulnerabilidades e costumes. Daí para aumentar a probabilidade de prisão dos culpados passou-se, a partir da Califórnia, em 1963, a identificar os objetos de maior valor com gravação interna e externa de números e marcas. No começo essa operação teve êxito considerável, mas atualmente ela está parcialmente neutralizada pelas mudanças constantes dos delinqüentes e falta de colaboração das pessoas que não controlam o registro dos seus objetos. Ainda assim é aplicada em todos os Estados Unidos da América e Canadá (RICO; SALAS, 1992 apud LOPES, 2003, p. 27-28).

A proposta da abordagem aplicada ao espaço urbano segue a filosofia da

Polícia Comunitária, ou seja, de forma simples e acessível fortalece a participação

da comunidade na segurança.

Não se pretende que a comunidade faça o trabalho da polícia, mas adquira

uma cultura de prevenção criminal ou de menos comportamento de risco, porque as

Page 66: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

65

facilidades da estrutura ambiental são abundantes, ficando o custo baixo à ação de

criminosos.

4.2.3 Modelo Comunitário

Por último, Rico e Salas, apresentam o modelo comunitário fundamentado

na proposta de que muitos delitos não teriam lugar se as pessoas colaborassem

umas com as outras e principalmente com a polícia. Este modelo requer programas

permanentes de fluxo de informações e educação e se enquadra na filosofia de

Polícia Comunitária:

a. campanhas publicitárias: alertando por folhetos, rádios, TV, etc., as pessoas de uma determinada área, sobre os "modus operandi" dos criminosos em determinadas regiões. b. patrulhas de vizinhos: que voluntariamente se revezam vigiando o bairro e avisando a polícia sobre qualquer atividade suspeita. Não devem ser confundidas com as "gangs" americanas que atuam arbitrariamente. c. associações de bairros ou comitês de bairros: voltadas a incitar as pessoas a identificar os problemas locais de criminalidade, reunindo-se regularmente para troca de informações e repasse delas à polícia. No Brasil esses comitês receberam a denominação de CONSEG (Conselho Comunitário de Segurança) e CONSEB (Conselho de Segurança de Bairro) (RICO; SALAS, 1992 apud LOPES, 2003, p. 28).

A preponderância da desorganização social é o elemento inovador e

mecanismo interveniente específico na relação entre o crime e a estrutura social.

A teoria da desorganização social de Shaw e McKay (1.942) que envolve a

diminuição do papel do Estado no local, mais a constante mobilidade residencial e a

heterogeneidade de etnias, corroborariam para a eclosão do crime, ou seja, fatores

exógenos atuando num determinado espaço geográfico ensejando diretamente o

crime.

Segundo Arruda (2007, p. 359), as relações institucionais deveriam criar o

fortalecimento de Núcleos de Ação Locais (NAL) para a discussão dos dirigentes

policiais locais com os demais órgãos responsáveis pelas políticas sociais e

urbanísticas, visando iniciativas conjugadas num mesmo propósito, a ordenação

local dos espaços com serviços eficazes do aparelho estatal além das medidas de

polícia ostensiva atuante.

Page 67: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

66

A crescente urbanização e o esgarçamento do tecido social são barreiras

que dificultam a efetividade das políticas públicas de segurança, pois o controle

social diminui e gera baixa participação e organização popular local.

Relações institucionais fracas ou condescendentes enfraquecem a

capacidade da comunidade em defender-se e proteger os interesses locais, e a

chave para o sucesso é encorajá-la a criar clubes, associações de bairro, instituições

locais e outras organizações e participação das pessoas em grupos formais e

associações voluntárias, tudo para a redução das taxas de vitimização e

delinquência, mesmo que sejam econômica e socialmente frágeis.

Independentemente, do modelo ou teoria homologada nesse arcabouço

teórico, a própria Ciência Física tem condições de tecer explicações sobre o próprio

espaço urbano e sobre as relações sociais, com base em uma das suas Leis

Universais da Termodinâmica - a entropia.

Segundo o Prof. Dr. Mario Bruno Sproviero 37 , Titular da Faculdade de

Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, em entrevista

concedida ao também Professor Jean Lauand, em 10 de julho de 2.001: “... no

problema da entropia ocorre um fenômeno curioso: apesar de ter a máxima

importância, afetando diretamente- a curto, médio e longo prazo - a própria

sobrevivência humana no planeta, tem sido bem pouco divulgada e assim

praticamente ignorada pela opinião pública”.

Citou também, que na Europa fora publicada a tradução atualizada do

clássico “Enthropy”, de Jeremy Rifkin, no qual apresenta “... a tendência universal de

todos os sistemas - incluindo os econômicos, sociais e ambientais - a passar de uma

situação de ordem à crescente desordem”. Portanto, devendo ser discutido por toda

a sociedade, em todos os seus setores e não apenas em círculos especializados de

cientistas.

Citou ainda, que: “o problema da entropia não seria tão destruidor se

tivéssemos outra „visão de mundo‟, pois o consumismo é algo conatural e o

progresso é seu imperativo ético.

Em outras palavras, o consumismo desenfreado de tudo que se possa ter de

mais supérfluo; a insustentabilidade das reservas energéticas ante a demanda de

37

Disponível em <http://www.hottopos.com/vdletras2/mario.htm>. Acesso em: 10 jul. 2011.

Page 68: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

67

crescimento, mas sem o progresso sustentável; o individualismo hedonista e

insaciável, enraizado na cultura gananciosa do “ter” em detrimento do “ser”.

Page 69: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

68

5 Referências para atuação conjunta: PMESP e Prefeitura de Jaú

5.1 Delimitações para Polícia Administrativa Geral e Especial

Conforme os princípios constitucionais da Administração Pública indicados

no artigo 37 da CF/88 e no artigo 111 da CE/89 de São Paulo, a polícia

administrativa (lato sensu) é uma das atividades exercidas pelo poder público, regida

pelos princípios do Direito Administrativo, incidindo sobre bens, direitos e atividades,

portanto, atinge reflexamente as pessoas.

Conforme Masagão (1977, p. 167), diz que: "polícia administrativa é o

conjunto das limitações, eventualmente coativas, das atividades dos indivíduos,

impostas pela administração a fim de prevenir os danos sociais que dessa atividade

possam resultar".

Para Diogo de Figueiredo Moreira Neto (1990, p. 339), "... a Polícia

Administrativa, em geral, atua em todos os demais campos e disciplina todas as

demais manifestações de liberdades e direitos individuais e dela remanescem todas

as demais formas de atuação preventivas e repressivas, aplicando suas sanções,

executoriamente, sobre as propriedades e atividades das pessoas".

Doutrinariamente, a polícia administrativa divide-se em dois grandes ramos,

ou seja, um de caráter geral e outro de caráter especial, sendo esta sedimentada em

várias atribuições específicas.

Segundo Lopes (2003, p. 36), “... a polícia geral é encarregada da ordem

pública, enquanto a especial está voltada ao uso da propriedade, ao comércio, à

indústria e outras atividades privadas sujeitas ao controle do Estado”.

Segundo Cretella Júnior (1968, p. 62), também citado por Lopes (2003, p.

36), esclarece a distinção entre os grandes ramos: "...Polícia Administrativa geral é a

que tem por objetivo a consecução direta de certos fins preventivos, que não estão

ligados a nenhum outro serviço público ... Polícia Administrativa especial é a que

aparece como acessória a outros serviços públicos ...".

Diante das designações prévias, Lopes:

A combinação dos conceitos emitidos pelos autores supracitados permite-nos concluir que:

Page 70: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

69

a. a polícia administrativa geral cuida dos três aspectos da ordem pública - segurança, tranqüilidade e salubridade - sendo, portanto, a polícia da ordem pública. Ex.: polícia de segurança, polícia de costumes. b. a polícia administrativa especial cuida de aspectos específicos da atividade particular - propriedade, edificação, comércio, indústria - nos quais o Estado impõe controles visando o bem comum. Ex.: polícia aduaneira, polícia de uso e ocupação do solo, etc. (Lopes 2003, p.37). (g.n.)

Enfaticamente, o legislador constituinte, destinou atuação exclusiva às

Polícias Militares, no § 5º do artigo 144 na CF/88 e no artigo 141 da CE/89, portanto,

no campo da polícia administrativa geral, sendo a única detentora do monopólio do

uso da força, de que dispõe a Administração Pública, para a aplicação da lei e

preservação da ordem pública, corporificadas em instituições policiais. Já a polícia

administrativa especial, não dispõe desse poderio legal de uso da força para

compelir os administrados ao cumprimento da lei, nem atribuições exclusivas em

relação ao chamado “interesse local”, muito embora exerça, indiretamente,

atividades que impactam na preservação da ordem pública.

Conforme já tratado anteriormente nos referenciais teóricos, todo e qualquer

ato de polícia que vise prevenir o cometimento de infração (penal ou administrativa),

violação dos costumes ou da moralidade pública é considerado de polícia

administrativa. Porém, quando a ordem pública é rompida por qualquer tipo de

infração, o aparelho estatal adota medidas de repressão imediata para restabelecê-

la e ações mediatas repressivas no sentido de buscar a aplicação das sanções de

polícia.

Até então, essas ponderações referem-se à busca de um estado antidelitual,

num processo contínuo de causa e efeito na criminalidade e violência, com

desempenhos de papéis institucionais estanques na persecução criminal,

rigidamente balizados pela lei, no chamado “círculo completo de polícia criminal”.

Contudo, como também visto baixos indicadores criminais não

necessariamente ensejarão uma percepção positiva em relação ao medo, à

desordem e ao caos urbano em que se vive. Daí a importância a ser dada pelas

instituições públicas, aos aspectos e requisitos que geram a “sensação de

segurança” na população em geral.

Obviamente, tais atributos e qualidades quem cria ou determina é a própria

sociedade, dentro de seus parâmetros éticos, morais, de tolerância legal etc. Logo,

essa “sensação” permeia sobremaneira o interesse local, porque os fatos policiais,

criminais ou antisociais, antes de acontecerem em âmbito estadual ou federal,

Page 71: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

70

incisivamente, ocorrerão numa casa ou num estabelecimento comercial, em via

pública numa rua ou lugarejo, de um determinado bairro, numa pequena ou grande

cidade.

Não se quer neste momento, indicar ou não a municipalização da atividade

de polícia administrativa de segurança, nas ações polícia ostensiva preventiva e

fardada. Aliás, muito pelo contrário, busca-se sim, a reflexão sobre o modelo atual

de distribuição de competências das polícias administrativas.

Diferentemente da persecução criminal comum, afeta à Polícia Judiciária

(artigo 4º do Código de Processo Penal); o campo da Polícia Administrativa de

Preservação da Ordem Pública é muito mais dinâmico e deve buscar alternativas

legais e regimentais de atuação integrada com as atividades de Polícia

Administrativa Especial.

Não se fala em desvio de finalidade da polícia ostensiva, porque ela se soma

à necessidade de preservação da ordem, ou seja, de mantê-la e/ou imediatamente

restabelecê-la com ações dissuasórias diretas e preventivas indiretas.

Nem muito menos em ferir o pacto federativo nas questões de interesse

local, mas sim, estabelecer novos paradigmas de integração, sem os inconvenientes

de sobreposições de funções ou duplicidades de ações e meios, visando à

combinação de esforços, na busca do bem comum.

As competências da polícia administrativa de segurança devem permear e

atuar efetiva e cirurgicamente, junto aos fatores predisponentes da criminalidade e

da sensação de insegurança, logo policial que está fazendo a prevenção, tomando

conhecimento de infração administrativa quebrando a ordem pública, tem o dever de

reprimi-la imediatamente, fazendo atuar seu poder de polícia.

Seria inadmissível dividir de forma estanque as atividades de polícia

preventiva (administrativa geral) da polícia administrativa especial, impedindo que o

mesmo agente público que executa aquela não possa fazer esta, em caso de

infração administrativa que afeta o interesse local.

Cabe à polícia administrativa, segundo Diogo de Figueiredo Moreira Neto

(1990, p. 338) estabelecer os parâmetros e envidar atuações concretas de modo a

garantir uma convivência social harmônica. Esta desejada harmonia na convivência

social resultará do ajustamento coativo das atividades particulares ao bem comum".

Page 72: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

71

5.2 Polícia Administrativa Repressiva Imediata

Se a atividade preventiva é atuação básica da polícia de ordem pública e por

isso sempre existirá, nota-se nas últimas décadas, em especial a partir de 1960, o

crescimento da importância da atividade repressiva.

Diógenes Gasparini (1993, p. 60) valoriza a repressão imediata ao definir

seu modelo de polícia moderna: "A polícia hoje só tem eficácia se estiver distribuída,

estrategicamente, para chegar rápido ao local do ilícito, for bem equipada com

viaturas e comunicações ágeis e puder ser facilmente acionável pelo público. Tudo

aliado a bons arquivos, a competência territorial ampla, ao trabalho analítico do

crime, a formação de pessoal especializado. É nisso que consiste a polícia moderna,

primorosa na rapidez de resposta ao ato criminoso”.

Enquanto Gasparini enfatiza a velocidade de resposta na repressão

imediata, Álvaro Lazzarini ressalta a importância da perfeição e da amplitude da

coleta inicial das provas:

É o policial militar o homem do primeiro combate ao crime. É ele que faz a chamada repressão imediata, que enfrenta o fato no calor dos acontecimentos, sendo, pois o posto avançado da Justiça... Um policial que, ao atender a ocorrência não seja capaz de distinguir entre a preservação do local para a perícia, em casos graves, e a própria ação de busca das provas por sua iniciativa, quando a situação o exigir, não terá mais utilidade, podendo ser substituído facilmente devido ao seu pouco valor (LAZZARINI, 1991, p. 18).

A lentidão ou ineficácia na resposta policial à infração administrativa são

defeitos graves da atividade repressiva imediata (competência da Polícia Militar) que

geram descrença da população, mesmo que essas responsabilidades não sejam da

própria Polícia Militar.

E conforme preceitua Lopes para a melhoria da repressão imediata:

a. nova codificação de ocorrências que estabeleça as rotinas de procedimento e permita a otimização dos meios; b. melhor preparação do policial militar para coleta de provas, incluída nisso a evolução do BO/PM; c. implantação de um sistema de fiscalização hierárquica voltado às funções policiais, privilegiando a coleta de provas (LOPES, 1993, p. 82-96).

Nota-se que dessas indicações feitas há quase 20 anos, o RAIA acaba por

ser um instrumento inovador e específico para a polícia administrativa de

preservação da ordem pública, na repressão imediata às infrações administrativas

especiais, interferindo concorrentemente nos aspectos de interesse local.

Page 73: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

72

A doutrina refere a “repressão imediata” ao campo estritamente criminal, o

que não responde às demandas atuais de repressão imediata no campo de polícia

administrativa geral, quando em atendimento de ocorrências que envolvam a polícia

administrativa especial.

Nesse vácuo operacional, não há respostas consensuais, pois a Polícia

Militar não irá se furtar de atender todo e qualquer chamado, mesmo que as

responsabilidades recaiam sobre as competências especiais, mas por outro lado, ao

atendê-las, restam poucas possibilidades de bem resolvê-las, causando baixa

eficiência de meios e, principalmente, tempo, para a atuação de polícia de presença

ostensiva, dissuasório ou repressiva imediata no campo criminal, tipicamente mais

graves.

Na ponta da linha de frente operacional, muitas vezes frustrante ao policial

militar que é acionado pela população e queira bem resolver os problemas, é o

usuário do serviço público, que constata ineficácia da ação deste policial, mormente

sem levar em consideração que a ineficiência dos verdadeiros responsáveis legais, é

que gerou a eclosão da infração administrativa.

Doravante, se estiver municiada de amparo legal e técnico, estendido aos

seus quadros operacionais, a intervenção policial administrativa maximizará inclusive

o aporte municipal em sua capacidade fiscalizatória, neste caso na cidade de Jaú.

Como já mencionado, esperar meramente a melhoria do aparato municipal,

não é viável a curto ou médio prazo, bem como, antiproducente, pois as

necessidades e demandas são variadas e quanto mais graves, requerem o emprego

de força policial.

O melhor preparo do policial militar para determinar a constatação de

infrações administrativas de esfera municipal provas exige ajustes na área de ensino

e instrução, na melhoria do suporte tecnológico informacional na Prefeitura de Jaú e

dotar o RAIA de fé pública ou porque não dizer o próprio Boletim de Ocorrência

Policial Militar (BOPM), eis que, representa o relato do agente público que atendeu

de imediato ao fato infracional in loco, tendo, portanto, as melhores condições de

descrevê-lo e ratificá-lo.

Cabe indicar que a Lei Orgânica Municipal de Jaú no inciso II, do artigo 7º

prescreve que “... é vedado ao Município recusar fé aos documentos públicos”,

abrindo um grande precedente para a aceitação do RAIA ou do próprio BOPM, como

fontes de fiscalização administrativa municipal num eventual convênio firmado.

Page 74: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

73

O policial militar no serviço operacional está investido de Autoridade Policial

Administrativa, exercendo o poder de polícia administrativa geral na prevenção das

infrações contra a ordem pública. Trata-se do trabalho de polícia preventiva, calçado

legalmente pelo Decreto-Lei 667/69, artigo 3.º, "b" e Lei 616/74, artigo 2.º, II "atuar

de maneira preventiva...”. Abrange ainda a repressão imediata das infrações

administrativas.

Para o exercício dessa autoridade de polícia administrativa mais ampla pelo

policial militar, houve a necessidade de, primeiramente, dirimir qualquer resíduo de

dúvida sobre a competência da polícia administrativa geral.

Como exceção, há a repressão imediata completa no caso das infrações ao

Código Florestal, matéria em que a Polícia Militar detém competência para realizar o

ciclo completo de polícia administrativa e judiciária, conforme a Constituição

Paulista, no artigo 195 e parágrafo único.

Secundariamente, para a polícia administrativa especial, foram verificados

os textos legais municipais se prescreviam ou não quaisquer atribuições

fiscalizatórias exclusivas aos seus agentes fiscais, nos campos de sua polícia

administrativa especial. E, quer na atual Lei Orgânica de Jaú quer nas Leis

Complementares, que tratam de interesses relevantes à Segurança Pública,

justamente, foi constatada a predisposição ao estabelecimento de parcerias e até

convênios nessas áreas de interesse comum.

5.2.1 Fiscalização de Posturas Municipais

O Poder Executivo Municipal editou a Lei Complementar Nº 366, de 26 de

maio de 2.010, na qual altera a estrutura da Prefeitura Municipal de Jaú e cria na

Secretaria Municipal de Economia e Finanças, o Departamento de Fiscalização de

Posturas que coordenará e controlará todas as exigências da legislação de posturas,

bem como as atividades dos fiscais de posturas.

Segundo Roberto Tauil em seu artigo “Poder de Polícia e a Fiscalização

Municipal” 38:

38

Disponível em <http://www.consultormunicipal.adv.br/novo/admmun/0030.pdf>. Acesso em: 29 mai. 2011.

Page 75: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

74

[...] os municípios, em geral, possuem quadros de funções específicas na fiscalização do poder de polícia administrativa especial. São quadros de atuação nas áreas: I– fiscalização de posturas municipais; II– fiscalização de obras de construção civil e outras; III– fiscalização sanitária; IV– fiscalização de meio ambiente; V– fiscalização de transporte (TAUIL, 2006, p. 4).

Para ele a chamada “Fiscalização de Posturas Municipais” abrangeria, entre

outras funções:

I– autorização e funcionamento de estabelecimentos comerciais, industriais etc.; II– uso dos logradouros públicos; III– autorização e controle de propagandas, placas e anúncios nas áreas públicas e frontais aos imóveis; IV– controle dos mercados públicos, feiras e abatedouros; V– autorização e funcionamento de eventos, shows, parques de diversões, circos etc. (TAUIL, 2006, p. 4).

Segundo esse autor, "Posturas Municipais" representaria uma expressão

antiga, já aplicada no período colonial como um conjunto de normas locais que

deveriam ser obedecidas por todos os seus moradores. Agrupava um elenco variado

de dispositivos, desde regras básicas de civilidade, relações trabalhistas e até os

procedimentos que deveriam adotar na construção de suas casas.

Para facilitar o manuseio e a sua leitura, as normas foram aos poucos se

consolidando no formato de um código único, uma consolidação de leis de posturas

municipais, dividido por assuntos.

Todavia ao longo do tempo, os próprios Municípios resolveram distribuir

suas normas jurídicas por assuntos, criando códigos em separado, o Código de

Obras, o Código de Zoneamento Urbanístico, o Código de Saúde Pública e outras

leis, cada qual tratando de sua matéria.

Em sua conclusão, assevera também que o Código de Posturas perdeu a

magnitude da importância de outrora, restringindo-se, praticamente, a regular o uso

dos espaços públicos, o funcionamento de estabelecimentos, a higiene e o sossego

público etc.

Um dos exemplos que Tauil indica no seu artigo, é a proliferação de licenças

de funcionamento de estabelecimentos comerciais. “

Um estabelecimento para funcionar, e dependendo de sua atividade, precisa obter de um mesmo Município, o alvará de funcionamento, o alvará (ou assentamento) da vigilância sanitária, a licença da fiscalização do meio ambiente. E se a atividade for transporte coletivo, adiciona-se a licença da fiscalização de transportes (TAUIL, 2006, p. 5).

Por outro lado, Tauil (2006, p. 5) questiona:

... o alvará é uma licença que gera direitos ao seu possuidor, e uma séria contradição. Afinal, se o Município liberou o alvará de funcionamento, a

Page 76: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

75

ausência do alvará de vigilância sanitária, por outro lado, poderia provocar a interdição do estabelecimento? E vice-versa? (TAUIL, 2006, p. 5).

A consolidação das atribuições de poder de polícia municipal, num Código

de Posturas em Jaú seria, portanto, um passo importante para Administração

Pública local, facilitando a compreensão dos regulamentos e simplificando o seu

conteúdo, inclusive para difusão do texto legal e melhor treinamento dos policiais

militares.

Além do que e ao mesmo tempo, todo o quadro de fiscalização municipal de

em cooperação técnica poderia/deveria, no mínimo, atuar em conjunto, agrupado

num mesmo setor e sob direção única, harmônica e eficiente, bem como, em

orientação aos policiais militares nas operações conjuntas

Salvo raras e excelentes exceções, a estrutura administrativa de uma

Prefeitura sofre de profundas distorções operacionais.

Coincidentemente na Administração Pública Municipal de Jaú existe as

contradições citadas por Tauil (2006, p. 5), em seu artigo:

I- vigilância sanitária nada tem a ver com a Secretaria de Saúde, onde, geralmente, está lotada; II- alvará de funcionamento nada tem a ver com a Secretaria de Finanças, onde, geralmente, é liberado; III- fiscal de obras nada tem a ver com a Secretaria de Obras Públicas, ou Secretaria de Urbanismo, onde, geralmente, está lotado; IV- fiscal de posturas nada tem a ver com a Secretaria de Finanças, onde, geralmente, está lotado (TAUIL, 2006, p. 5).

Sugere Tauil, que: “... o melhor caminho seria a criação de uma super

„Secretaria de Fiscalização de Poder de Polícia‟, onde todos os fiscais municipais

estariam agrupados e trabalhariam de maneira multidisciplinar dentro de um plano

unificado de ações, respeitadas as especificidades de cada área”.

Com isso, ganharia a população, já sabendo onde procurar e encaminhar

suas reivindicações e requerimentos. Os processos correriam mais facilmente e as

decisões seriam tomadas sob uma mesma base legal, sob a impessoalidade da

administração pública.

Outras distorções apontadas por Tauil normalmente ocorrem:

I– fiscais de poder de polícia fiscalizando tributos (principalmente as taxas); II– fiscais de poder de polícia reprimindo vendedores ambulantes não autorizados; III– fiscais de poder de polícia interditando estabelecimentos por falta de pagamento de tributos; IV– fiscais de poder de polícia reprimindo arruaças, vandalismos, invasões e ocupações indevidas de prédios públicos e privados (TAUIL, 2006, p. 6).

Por fim, Roberto Tauil fundamenta:

Page 77: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

76

A) Agente Fiscal não é, e nem foi preparado, para atuar como policial. O concurso público para admissão de um Agente Fiscal é calcado nos conhecimentos jurídicos e técnicas de fiscalização. Ao contrário do policial, não se exige do Agente Fiscal capacidade e adestramento físico e militar. B) A repressão aos ambulantes não cadastrados e ao transporte não permitido, o ordenamento de passeatas, desfiles e shows nas áreas públicas são atividades pertinentes a guarda municipal (em proteção ao patrimônio público) e aos policiais militares. C) O controle de trânsito nas vias públicas é de competência da Guarda Municipal, ou da Polícia Militar, e não de agentes fiscais de posturas. D) Lançar e cobrar tributos são competências das autoridades fazendárias. A fiscalização e cobrança de tributos competem aos Agentes Fiscais Fazendários ou Tributários, inclusive as taxas. E) Alvará de Funcionamento não é taxa; é uma licença a ser concedida pelo órgão responsável de poder de polícia. O Alvará, portanto, não é de alçada fazendária, mas as taxas decorrentes do poder de polícia, estas sim, devem ser lançadas, cobradas e fiscalizadas pelos Fiscais de Tributos (TAUIL, 2006, p. 6). (g.n.).

O Vereador Dr. Fernando Frederico 39 também tem atuado mediante

requerimentos, cobrando satisfações e providências fiscalizatórias de ofício do Poder

Executivo Municipal e nesse sentido, segue na íntegra:

REQUERIMENTO Nº 250/2010 Atualmente a “Fiscalização de Posturas” do município de Jahu passa por problemas estruturais, os quais vêm trazendo dificuldades no que tange à eficiência e eficácia das atividades dos fiscais. A atuação dessa categoria de fiscais é de fundamental importância para o município, uma vez que agem pontualmente nos casos de infrações à legislação junto às empresas comerciais e industriais no que se relaciona ao alvará de funcionamento, ambulantes, vendedores autônomos, carrinhos de lanches, assim como em questões relativas a ruídos excessivos. A situação de hipossuficiência da “Fiscalização de Posturas” é notória, uma vez que apenas 3 (três) pessoas compõem o atual quadro da categoria, lembrando que uma delas encontra-se afastada. Faz-se necessário esclarecer que a dotação atual dessa categoria de fiscalização é de 10 (dez) elementos e, conforme editais de concursos públicos recentemente publicados, nenhuma vaga para o cargo em referência se buscou suprir, fato este que nos leva a inferir que não haverá modificação na estrutura que ora se apresenta. Temos sido procurados por inúmeros jauenses questionando a fiscalização atualmente exercida pelo Poder Executivo, principalmente em relação à ausência de ações empreendidas para o cumprimento da Lei Municipal nº 4.346/2009, de autoria dos ilustres vereadores Carlos Alexandre Ramos e José Carlos Zanatto, que dispõe sobre os sons urbanos e fixa níveis e horários em que será permitida sua emissão. Diante disso, requeiro, ouvido o douto Plenário e cumpridas as formalidades regimentais, seja oficiado o Senhor Prefeito Municipal para que informe o seguinte: a) Ante a relevância do trabalho prestado pelos fiscais de postura na busca da satisfação das necessidades dos jauenses, pretende o Poder Executivo criar um departamento específico na estrutura administrativa da Prefeitura Municipal? Se sim, qual a previsão para sua criação e a qual secretaria

39 Disponível em <http:// www.camarajau.sp.gov.br>. Acesso em: 2 ago. 2011.

Page 78: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

77

municipal tal departamento estaria vinculado? Se não, favor expor as razões. Caso o Departamento já exista, indicar a Lei que o criou. b) Levando-se em conta que, para atuar no campo específico de controle sonoro, os profissionais devem ter formação técnica adequada, os fiscais de postura que atualmente atuam no município têm formação técnica exigida? c) Quais providências foram e/ou serão tomadas para a devida preparação dos profissionais que atuam na fiscalização? Quando elas serão adotadas? d) Quantos aparelhos para medição de som (decibelímetros) existem hoje à disposição dos fiscais? e) Considerando que os aparelhos (decibelímetros) devem ser periodicamente aferidos pelo INMETRO, aquele(s) existente(s) na “Fiscalização de Posturas” passam por aferição periódica? Qual a periodicidade e quando ocorreu a última aferição? f) Quais providências foram e/ou serão tomadas para o cumprimento do disposto na Lei 4.346/2009? g) É pretensão do Poder Executivo aumentar a quantidade de fiscais de posturas? Se sim, quando isso ocorrerá? Se não, favor expor as razões. S.S., 26 de abril de 2010. FERNANDO FREDERICO DE ALMEIDA JÚNIOR Vereador

Nota-se, portanto, a preocupação do representante do Poder Legislativo

Municipal em relação à atividade de fiscalização de postura e de meio ambiente,

requerendo dados e providências quanto ao cumprimento da Lei e sobre a atuação

fiscalizatória.

5.2.2 Fiscalização de Meio Ambiente

Em 30 de setembro de 2009, foi sancionada a Lei Municipal Nº 4.34640, que

dispõe sobre os sons urbanos, fixa níveis e horários em que será permitida a sua

emissão nas diferentes zonas e atividades e dá outras providências. Definiu a

proibição de perturbar o sossego e o bem-estar público e o da vizinhança com a

emissão de sons de qualquer natureza e vibrações que ultrapassem os níveis para

as diferentes zonas e horários, sem o prejuízo da legislação federal e estadual,

prevalecendo a mais restritiva.

No seu Art. 1º, § 3º, inciso VIII, define a poluição sonora como sendo: “toda a

emissão de som que, direta ou indiretamente, seja ofensiva ou nociva à saúde, ao

rendimento do trabalho, à segurança, ao sossego e ao bem-estar da coletividade ou

transgrida as disposições fixadas nesta Lei”.

40

Disponível em <http://www.camarajau.sp.gov.br>. Acessado em: 23 ago. 2011.

Page 79: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

78

O artigo 1º, § 4º, estabelece os períodos e horários para efeitos dessa Lei: I -

período diurno, das 07:00h às 16:00h; II – período vespertino, das 16:00h às 19:00h

e III – período noturno, das 19:00h às 07:00h.

O Artigo 7º e § 1º, faculta ao Município, através dos Departamentos de

Fiscalização de Obras e/ou de Posturas, a fiscalização do disposto na presente Lei,

podendo como forma de repressão, autuar os infratores e apreender o material

sonoro resultante da prática infracional.

No § 2º indica que qualquer munícipe, em constatando a afronta ao disposto

na presente Lei, poderá apresentar denúncia ao Departamento de Fiscalização

Municipal que, imediatamente, tomará as medidas cabíveis. E o parágrafo 3º cria o

“DISK PSIU”, visando possibilitar a qualquer munícipe fiscalizar o cumprimento

dessa Lei.

Para a ação fiscalizatória respectivo Departamento fará vistorias sempre que

julgar conveniente e no § 2º do artigo 41, temos que se hover embargo à ação

fiscalizadora, os agentes responsáveis por ela poderão solicitar, diretamente apoio

policial para dar cumprimento à medida ordenada.

Desta forma, não houve a predisposição do legislador em tornar tal

fiscalização municipal exclusiva da Secretaria do Meio Ambiente, muito pelo

contrário, conscita a todos a tal exercício. Nota-se ainda que, acessoriamente, prevê

a possibilidade de requerimento de emprego de apoio policial.

Destaca-se no artigo 43, § 3º, da Lei 4.346 do Município de Jaú, no qual

indica “... se for desrespeitada a interdição ou fechamento administrativo, a

Prefeitura Municipal solicitará auxílio policial para exigir o cumprimento da

penalidade administrativa e providenciará boletim de ocorrência...”. E

relevantemente, o artigo 55, da Lei Nº 4.346 do Município de Jaú, que “.... autoriza o

Chefe do Poder Executivo a celebrar convênios que se fizerem necessários ao

cumprimento desta lei”.

Por derradeiro, o processo de delegação de poder nas atividades de polícia

administrativa especial poderia ser uma grande evolução no cenário da segurança

pública no País, restando apenas atos concretos, por parte do poder público e

político do municipal de Jaú e da Secretaria de Segurança Pública, representada

pela Polícia Militar Estadual.

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79

5.3 Poder de Polícia e sua delegabilidade

A maioria dos doutrinadores conceitua o poder de polícia como uma

faculdade do Estado em limitar o exercício dos direitos individuais a favor do

interesse geral, o qual engloba tudo o que se refere à Segurança Pública, à Ordem,

à Economia, à Moralidade e à Justiça. O Código Tributário Nacional (CTN) traz a

definição do poder de polícia em seu artigo 78:

Considera-se poder de polícia a atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.

Embora o Poder Público tenha o comando nas ações dos seus

administrados, vale salientar o parágrafo único do mencionado artigo, citado por Di

Pietro (2008, p. 108), que enfoca a legalidade na atividade administrativa, pois a

ausência de tal princípio desnatura a força da lei, dos preceitos da Carta Magna; o

poder de polícia, além de pertencer ao regime jurídico-administrativo, está delimitado

pelo caráter impositivo da lei.

Portanto, verifica-se que tudo relacionado ao mundo da Administração

Pública depende de lei; não se concebe, no Direito Brasileiro, criação de algum

dever ou obrigação se não estiver pautado em norma ou ato normativo. Qualquer

passo dado pelo Poder Público necessita de aprovação da lei; o oposto não é digno

nem de discussão, pois fere totalmente o princípio da legalidade, princípio que vela

pela aplicação do poder de polícia de forma justa, concomitante com os princípios da

proporcionalidade e da razoabilidade.

Por essa razão, quando se pensa em legalidade, logo é feito menção ao art.

5º, inciso II, da Constituição Federal que diz: “ninguém será obrigado a fazer ou

deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. O artigo mencionado reflete a

imagem do princípio da legalidade, porém, não pode ater-se a ele exclusivamente,

pois matérias de ordem pública e de interesse público estão intimamente ligadas ao

cerne da legalidade, e como tal, pertence a este plano o poder de polícia; ou melhor,

todos os atos da Administração Pública.

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80

Contudo, o que leva o poder de polícia a ser considerado um ato

administrativo é o objeto a que ele se predispõe a atingir, ou seja, a liberdade e a

propriedade dos administrados, isto é, mesmo que o objetivo seja pugnar pelo

interesse público, este jamais deve aniquilar os direitos individuais dos

administrados, pois existem limites a serem observados. O poder de polícia não

serve como pretexto para invadir o campo dos direitos fundamentais positivados pelo

ordenamento jurídico pátrio.

Segundo Hely Lopes Meirelles:

As liberdades admitem limitações e os direitos pedem condicionamento ao bem-estar social. Essas restrições ficam a cargo da polícia administrativa. Mas sob a invocação do poder de polícia não pode a autoridade anular as liberdades públicas ou aniquilar os direitos fundamentais do indivíduo, assegurados na Constituição, dentre os quais se inserem o direito de propriedade e o exercício de profissão regulamentada ou de atividade lícita (MEIRELLES, 2008, p.135).

Os limites do poder de polícia mantêm uma conexão expressiva com o

interesse social e com os direitos individuais, e espera-se que estejam em contínuo

equilíbrio, para que o poder administrativo possa ser aplicado com eqüidade, sem

excessos. Por essa razão, o poder de polícia, na atualidade, é bastante extensivo no

modo de atuação, uma vez que, desde a Constituição de 1946, já se condicionava o

uso do direito de propriedade ao bem-estar social.

Os meios humanos e materiais empregados no ato de polícia são

componentes de caráter concreto, que advém do poderio policial, quantidade e

qualidade das pessoas e equipamentos, cuja somatória é também chamada de

poder da polícia.

Em relação a esse poderio policial, é preciso dotá-lo de atributos

correspondentes e necessários ao exercício pleno da autoridade policial militar, para

que na “proximidade” ao interesse local, na interface comunitária onde residem os

conflitos concretos, a mediação e as soluções possam ser discricionária e

legalmente resolvidas.

Eficiência na administração pública, embora seja um princípio constitucional,

mas se dissociado da legalidade, não se sustenta e não prospera. Logo, somente o

texto legal respaldará qualquer iniciativa mesmo observados os critérios de

conveniência, oportunidade e justiça.

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81

A autoexecutoriedade dos atos administrativos, segundo Celso Antônio

Bandeira de Mello, decorre basicamente de duas iniciais, ou seja:

[...] da previsão expressa na lei sobre a conduta a ser seguida e preveja tal comportamento, bem como, quando a ação pública for tão urgente que demande atuação imediata, por não existir outra maneira igualmente eficaz e expor ao risco sério o interesse público caso não seja adotada (MELLO, 2005, p. 87).

Apesar de ser uma faculdade da Administração Pública em cercear as

atividades particulares em prol do bem comum ou interesse público, direcionar as

próprias decisões sem a intervenção do Judiciário, não pode ser confundido com o

recrudescimento legal, levando a punições sumárias sem o contraditório, visto que

só poderiam ser aplicadas nos casos urgentes, que coloquem em risco a segurança

e a vida das pessoas.

Consoante o analisado, o RAIA perde a sua eficácia jurídica e a operacional,

na medida em que não tem por ele próprio, o condão de ser ato administrativo pleno

e perfeito, aos auspícios da letra Legal

Assim, quando se fala em autoexecutoriedade, remete-se à coercibilidade,

atributo este munido de força mandamental, que a Administração faz uso por meio

da exigibilidade própria da sua estrutura funcional, exigibilidade esta movida de

meios indiretos de coação tais como: a multa ou a não liberação do veículo quando

do não pagamento das multas de trânsito.

Para Mello (2005 apud DI PIETRO, 2008, p. 112), “... o poder de polícia é

visto como uma atividade negativa no sentido de que impõe ao particular uma

abstenção, um „não fazer‟ (non facere)”. Logo, o particular se vê impossibilitado de

agir livremente, consequentemente, ou até mesmo forçosamente, abre mão da sua

liberdade individual, para o Poder Público assim sanar alguma nocividade que

porventura poderia existir com sua pretendida ação.

Amplamente, a Administração Pública exterioriza seu poder de polícia por

atos preventivos, fiscalizadores e repressivos. Atos preventivos seriam os próprios

regulamentos administrativos expedidos no intuito de padronizar certos

comportamentos ou mesmo através das autorizações ou licenças, às quais cabe ao

Poder Público conceder. Os atos fiscalizadores consistem em inspeções, vistorias ou

exames realizados pela Administração, justamente, para ver cumpridos os

regulamentos e as normas pertinentes. Por fim, os atos repressivos fecham o ciclo

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82

desta atividade administrativa e consistem na aplicação de sanções pela

desobediência das normas de conduta, previamente impostas aos administrados.

Lopes (2003, p. 59) cita Diogo de Figueiredo Moreira Neto para explicar com

maior profundidade os modos de atuar do poder de polícia, cujo resumo verifica-se a

seguir:

a. ORDENS DE POLÍCIA: são determinações sobre atividades dos particulares em prol do interesse público, dividindo-se em: 1) preceito negativo absoluto: não se faça aquilo que pode prejudicar o interesse coletivo. 2) preceito negativo com reserva de consentimento: não se deixe de fazer aquilo que poderá evitar ulterior prejuízo público. b. CONSENTIMENTOS DE POLÍCIA: são atos administrativos de anuência para o exercício de determinada atividade, constituindo controles prévios da parte do Estado visando o interesse público, geralmente com a forma de alvará, dividindo-se em licença e autorização: Licença: ato administrativo declarativo vinculado. Autorização: ato administrativo constitutivo discricionário. 1) Licença: sempre vinculada à lei. Atendidas todas as exigências legais é obrigatória sua outorga, e não admite revogação. Torna exeqüível um direito preexistente, declarando-o. Ex.: direito de edificação >>> alvará: licença de construção. 2) Autorização: aplicável quando a lei não fixa todas as condições para o consentimento, deixando a juízo da autoridade competente, discricionariamente, estabelecê-las, conforme a oportunidade e a conveniência. Nesse caso não há direito preexistente, assim, a autorização é precária, podendo ser revista e alterada. discricionariamente, a qualquer tempo. Ex.: não há direito de portar arma, mas o Estado pode consentir que se porte um revólver >>> alvará: autorização de porte de arma. c. FISCALIZAÇÃO DE POLÍCIA: destina-se a verificar se as ordens e os consentimentos de polícia estão sendo obedecidos sem abusos, tendo dupla utilidade: 1) prevenção das infrações pela observação das pessoas. 2) repressão das infrações pela constatação dos atos infringentes. A fiscalização pode ser feita "ex officio" pela autoridade competente ou provocada por quem tenha interesse no cumprimento da ordem ou em manter ou revogar certo consentimento de polícia. d. SANÇÃO DE POLÍCIA: ocorrida a infração surge a fase da aplicação da sanção de polícia (sanção administrativa) que pode ser: 1) constrangimento de polícia: compelir a pessoa a fazer ou a deixar de fazer algo, visando o bem comum; 2) pena de polícia: tem o sentido de castigar, ainda que por imposição pecuniária, revelando-se como intervenção punitiva. Observe-se que os constrangimentos, por exigirem uso de força, são próprios da polícia de ordem pública. A sanção de polícia é unilateral, externa e interventiva, obrigando o infrator a corrigir seu ato ou dissuadindo-o de nele persistir. Modalidades de sanção de polícia: multa, interdição, cassação, confisco, destruição de coisas (MOREIRA NETO, 1988, p. 336, 340-343).

A extensão do poder de polícia é muito ampla nos dias atuais, atuando em

diversos setores, de modo a garantir os mais variados interesses da vida em

sociedade, a saber: o trânsito; as posturas municipais; a economia popular; a

segurança e ordem pública; saúde e alimentação; valores culturais, estéticos e

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83

artísticos etc. De fato, o âmbito de incidência do poder de polícia mostra-se bem

amplo distribuindo-se por toda a atividade estatal.

Segundo Meirelles (2008, p. 197 a 200), as sanções administrativas a serem

aplicadas pela Administração Pública em busca de sua autotutela, devem ser

previamente fixadas em lei e podem ser: I – pecuniárias (multas); II – restritivas

(interdição de atividade); III – destrutivas (inutilização de gênero alimentício

impróprio ao consumo). É possível que o mesmo fato, juridicamente, possa gerar

pluralidade de ilícitos e de sanções administrativas. Entretanto, as sanções devem

ser escalonadas de modo a causar o menor sacrifício possível ao particular.

Ademais, é na aplicação das sanções que deve ser observado o princípio da

proporcionalidade ou da adequação dos meios aos fins. O que se busca é a

legalidade da sanção aplicada pelo administrador e sua proporcionalidade à infração

cometida.

Sob este prisma que a polícia administrativa posiciona seus variados meios

de atuação, seja mediante ordens e proibições, seja mediante normas limitadoras e

sancionadoras; assim, tem a presença do alvará como forma de licença ou

autorização concedida pela Administração para a realização de determinada

atividade ou exercício de algum direito, como também, tem a fiscalização, mais uma

forma de atuação estatal que está direcionada ao controle de atividades privadas, se

estão sendo executadas dentro dos parâmetros permitidos pelo Poder Público.

Por fim, não se deve esquecer que as sanções impostas pela polícia

administrativa devem ser aplicadas com observância do devido processo legal de

modo a permitir ao administrado o direito à ampla defesa e ao contraditório,

constitucionalmente previstos no art. 5.º, inc. LIV e LV da Carta Magna.

No desempenho de suas funções, o Estado sedimenta e estrutura sua

organização administrativa, constituindo órgãos e definindo competências públicas.

O faz diretamente ou pode prestá-las mediante outros sujeitos, particulares ou não,

conferindo-lhes personalidade jurídica de Direito Privado ou Público,

descentralizando ou desconcentrando as atividades de sua alçada.

Magnificamente, Celso Antônio Bandeira de Mello (2005, p. 133) definiu:

“Então o poder, na competência, é a vicissitude de um dever”. Presta-se para

realizar o fim a que se destinam as competências: satisfazer interesses públicos

(consagrados em lei), ou seja, todos os interesses dos cidadãos considerados

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“enquanto conjunto”, em perspectiva coletiva, mesmo dizer- Sociedade, ficando

delimitado pelo necessário e suficiente ao cumprimento do escopo da lei.

Segundo o próprio Mello (2005, p. 134-136), a conceituação de competência

emerge como um “círculo compreensivo de um plexo de deveres públicos a serem

satisfeitos mediante o exercício de correlatos e demarcados poderes instrumentais,

legalmente conferidos para a satisfação de interesses públicos”.

E ainda, Mello indica sucintamente suas características e propriedades:

[...] a obrigatoriedade, pois o seu exercício não é de livre decisão do agente titular; irrenunciabilidade, devido seu titular não poder dispensá-la; intransferibilidade, porque não pode ser objeto de transação, cabendo, nos casos previstos em lei, delegação de seu exercício, sem que o delegante perca o poder sobre ela, de retomá-la ou não possa controlar seu exercício pelo delegado; inamodificabilidade seja pela sua restrição ou ampliação de composturas decorridas em lei; e a imprescritibilidade, ou seja, mesmo não ocorrendo hipóteses para sua aplicação, não deixa e nem deixará de existir [...] (MELLO, 2005, p. 135). (g.n.)

Em decorrência, a Lei Federal Nº 9.78441, de 29 de janeiro de 1.999, que

regulamenta o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal

preconiza:

[...] Art. 11. A competência é irrenunciável e se exerce pelos órgãos administrativos a que foi atribuída como própria, salvo os casos de delegação e avocação legalmente admitidos. Art. 12. Um órgão administrativo e seu titular poderão, se não houver impedimento legal, delegar parte da sua competência a outros órgãos ou titulares, ainda que estes não lhe sejam hierarquicamente subordinados, quando for conveniente, em razão de circunstâncias de índole técnica, social, econômica, jurídica ou territorial. Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se à delegação de competência dos órgãos colegiados aos respectivos presidentes. Art. 13. Não podem ser objeto de delegação: I - a edição de atos de caráter normativo; II - a decisão de recursos administrativos; III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade. Art. 14. O ato de delegação e sua revogação deverão ser publicados no meio oficial. § 1º O ato de delegação especificará as matérias e poderes transferidos, os limites da atuação do delegado, a duração e os objetivos da delegação e o recurso cabível, podendo conter ressalva de exercício da atribuição delegada. § 2º O ato de delegação é revogável a qualquer tempo pela autoridade delegante. § 3º As decisões adotadas por delegação devem mencionar explicitamente esta qualidade e considerar-se-ão editadas pelo delegado. [...]

41

Disponível em http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%209.784-1999?OpenDocument.> Acesso em: 26 set. 2011.

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Em âmbito Estadual, a Lei de Nº 10.177, de 30 de dezembro de 1.998 que

regula o processo administrativo em âmbito da Administração Pública Estadual,

dispõe sobre a matéria, porém sendo anterior e menos descritiva do que a citada lei

federal.

A Administração Pública ao transferir e distribuir suas atividades

administrativas (plexos de competências) que lhes são pertinentes, em âmbito

interno, exerce a desconcentração administrativa. A desconcentração não tira a

unidade nem a identidade monolítica do Estado, pois ainda permanecerá o vínculo

hierárquico no aparelho estatal. Já na descentralização, o Estado age indiretamente

pela atuação de pessoa(s) jurídica(s) distinta(s) dele, mesmo que sejam de sua

criação, sendo a vinculação não mais hierárquica, mas sim, controle.

O Decreto-lei Federal Nº 200, de 25 de fevereiro de 1.967, dispõe sobre a

organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma

Administrativa e dá outras providências:

CAPÍTULO III DA DESCENTRALIZAÇÃO Art. 10. A execução das atividades da Administração Federal deverá ser amplamente descentralizada. § 1º A descentralização será posta em prática em três planos principais: a) dentro dos quadros da Administração Federal, distinguindo-se claramente o nível de direção do de execução; b) da Administração Federal para a das unidades federadas, quando estejam devidamente aparelhadas e mediante convênio; c) da Administração Federal para a órbita privada, mediante contratos ou concessões. § 2° Em cada órgão da Administração Federal, os serviços que compõem a estrutura central de direção devem permanecer liberados das rotinas de execução e das tarefas de mera formalização de atos administrativos, para que possam concentrar-se nas atividades de planejamento, supervisão, coordenação e controle. § 3º A Administração casuística, assim entendida a decisão de casos individuais, compete, em princípio, ao nível de execução, especialmente aos serviços de natureza local, que estão em contato com os fatos e com o público. § 5º Ressalvados os casos de manifesta impraticabilidade ou inconveniência, a execução de programas federais de caráter nitidamente local deverá ser delegada, no todo ou em parte, mediante convênio, aos órgãos estaduais ou municipais incumbidos de serviços correspondentes. § 6º Os órgãos federais responsáveis pelos programas conservarão a autoridade normativa e exercerão controle e fiscalização indispensáveis sobre a execução local, condicionando-se a liberação dos recursos ao fiel cumprimento dos programas e convênios. § 8º A aplicação desse critério está condicionada, em qualquer caso, aos ditames do interesse público e às conveniências da segurança nacional. (g.n.)

E em seu artigo 11º preconiza:

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CAPÍTULO IV DA DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIA

Art. 11. A delegação de competência será utilizada como instrumento de descentralização administrativa, com o objetivo de assegurar maior rapidez e objetividade às decisões, situando-as na proximidade dos fatos, pessoas ou problemas a atender. (g.n.)

No Estado de São Paulo, a Lei Complementar Nº 7, de 06 de novembro de

1.969, dispõe sobre as entidades descentralizadas

SEÇÃO I Disposições Preliminares

Artigo 1º - O Estado descentralizará os serviços que, por sua natureza ou finalidade, justifiquem autonomia técnica, administrativa, ou financeira. Artigo 2º - A descentralização se efetivará mediante a constituição de: I - autarquias; [...] Artigo 4º - As entidades descentralizadas deverão vincular-se diretamente ou por intermédio de outra entidade também descentralizada, à Secretaria de Estado cujas atribuições se relacionem com a atividade principal que lhe cumpra exercer. Parágrafo único - A vinculação poderá também ser estabelecida com Secretários Extraordinários, ou com órgãos subordinados diretamente ao Governador, desde que investidos em funções de coordenação ou supervisão de programas governamentais.

No que tange as relações com terceiros, as autarquias por serem pessoas

de Direito Público, equivalentes à própria Administração Direta, embora restritas à

índole e ao setor da atividade que lhes sejas afetos, desfrutam das mesmas

prerrogativas genéricas, poderes e, reversamente, sujeições que vinculam o próprio

Estado. Igualmente, seus atos são também atos administrativos e devem ser

revestidos de presunção de legitimidade, exigibilidade e executoriedade, nos

mesmos termos da Administração Direta.

Para que o serviço público possa ser, então, objeto de delegação, é

necessário que sua prestação não tenha sido reservada com exclusividade ao

próprio Poder Público e tenha outorga autorizada por lei que a especifica.

5.4 Meios e eficácia da fiscalização municipal na defesa do interesse público

Como já mencionado, cabe reiterar as diferenças entre as naturezas de

averiguações relatadas pelos policiais militares, pois se forem consideradas as

situações em que envolvem as falhas de execução e atuação do poder público

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municipal, por exemplo, nos casos de falta de iluminação pública, pavimentação

danificada, má conservação de praças públicas etc.; não seria razoável em última

análise, tipificá-los como “infrações administrativas”, até porque não há qualquer

previsão ou tipificação jurídica, portanto, fora providencial o ajuste da nomenclatura

do relatório para “averiguação de incidente administrativo” em relação ao ente e ao

âmbito público.

Sobre as atividades do ente particular, em âmbito privado, por exemplo: no

uso e ocupação do solo, de bens, propriedades, serviços; caberia perfeitamente o

entendimento anterior quanto à nomenclatura do relatório, ou seja, “averiguação de

indícios de infração administrativa”.

Ou, melhor ainda, o próprio Boletim de Ocorrência PM tem um campo

exclusivo no qual o policial militar assinala se a ocorrência em si, é decorrente de

fato de polícia administrativa ou de polícia judiciária, o que poderia ser perfeitamente

aceitável pela administração municipal, se considerar o BOPM um documento

público dotado, portanto de “fé pública”, conforme preconiza o inciso II, do artigo 7º

da Lei Orgânica de Jaú.

Desta forma, o RAIA poderia ficar afeto prioritária ou especificamente aos

casos que devem ser comunicados à Administração Pública Municipal de Jaú, nas

suas questões operacionais em geral, por exemplo, iluminação pública,

pavimentação da via pública, limpeza urbana, zeladoria urbana em geral.

Já nos casos de infrações administrativas municipais constatadas pelos

policiais militares, o preenchimento do próprio BOPM poderia servir, pois apresenta

todos os campos necessários ao conhecimento do fato (data, hora, local, envolvidos,

croqui etc.), qualificação completa do munícipe, campo para descrição dos fatos e

versões dos envolvidos e respectivas assinaturas em campos próprios.

Outro aspecto importante, é que o BOPM requer numeração de talão de

ocorrência dado pelo COPOM, o qual pode ser controlado, auditado, monitorado e

tabulado eletronicamente, evitando-se novos processos administrativos de controle

de formulários, pois, em ambiente informatizado do SIOPM Web, não há

intervenção humana na manipulação de formulários, gerando grande transparência

e celeridade no processamento dos dados, podendo inclusive ser impresso a

qualquer tempo.

Caso seja interessante à Prefeitura Municipal de Jaú estabelecer o SIOPM

Corp para o controle dos RAIA e/ou dos BOPM recebidos e confeccionados para as

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infrações administrativas, melhoraria em muito a atual sistemática de envio de

relatórios por mensagens eletrônicas (e-mails).

O policial militar, ao constatar um bar em plena atividade, mas sem o alvará

de funcionamento (nem mesmo com o protocolo de solicitação de alvará), ou fora do

horário permitido, estabelecido em lei municipal ou sem condições sanitárias e

higiênicas das instalações, ou também, que perturba inclusive o sossego público

com a emissão de altos sons, ou ainda, que ocupa irregularmente o passeio público

com mesas e cadeiras; tem condições de avaliar e tipificar faticamente a flagrância

administrativa do particular, podendo então solicitar talão de ocorrência de polícia

administrativa ao COPOM.

Segundo dados do INFOCRIM, de 1º janeiro a 30 de agosto de 2011, foram

registrados 78 casos de Perturbação do Trabalho e do Sossego Público e 21 casos

de Perturbação da Tranquilidade Pública, sendo que cerca de 60% delas, foram em

horários fora do expediente administrativo e 45% aos finais de semana, portanto,

dificilmente, haveria condições operacionais de manutenção de plantões

permanentes.

Outro aspecto importante é que estes números representam as ocorrências

registradas nas Delegacias de Polícia Civil em Jaú, não sendo computados os casos

atendidos pela Polícia Militar, mas resolvidos pelo local dos fatos.

Em relação aos casos de Lesões Corporais Dolosas, em bares, lanchonetes,

boates, motéis, postos de combustíveis e estabelecimentos comerciais, no mesmo

período, foram registradas 31 ocorrências, sendo que 62% foram à noite ou de

madrugada e 53% do total foram entre sexta-feira e domingo, portanto, sem a efetiva

presença de Agentes Vistores de Posturas Municipais pouco se pode avançar no

fechamento desses estabelecimentos caso alguma infração administrativa fosse

constatada.

Pela missão legalista que exerce e o seu conhecimento sobre as leis locais

ou não, dão-lhe respaldo e discernimento para reconhecer ou constatar prontamente

as condutas tipificadas na esfera administrativa, como por exemplo, nos casos

referentes à emissão de poluição sonora perturbando o sossego público e

prejudicando o meio ambiente ou estabelecimentos comerciais sem alvará ou em

desacordo no funcionamento.

Pelo fato de não haver estrutura municipal de fiscalização em Jaú

condizente à demanda, e ainda, porque o policial militar não tem a atribuição

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89

delegada para notificar, autuar, fechar ou interditar estabelecimentos comerciais, por

exemplo, cujas atividades estejam em desacordo com as leis, ficam as

possibilidades de que ocorram novas intervenções policiais sem expectativas de

soluções duradouras.

A perturbação do sossego público, que até então estaria em nível de

infração administrativa, poderá tornar-se de fato, uma ocorrência policial mais grave,

se na sua origem não houver uma atuação eficaz do agente público em saneá-la.

Logo, o objeto da averiguação/fiscalização do policial militar não muda, pois

continua atrelado exclusiva e especialmente aos atributos do poder de polícia

administrativa de segurança, reforçados pela proximidade comunitária em prol do

interesse público local.

Se o RAIA atende sobremaneira ao interesse público local, deve-se ajustá-lo

aos padrões de eficiência e eficácia jurídica, para que atinja a relevância requerida

na contenção de atividades particulares anti-socais que demasiadamente diminuem

a sensação de segurança e a qualidade de vida das pessoas.

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90

Considerações finais

Considerado um grande precursor de iniciativas voltadas às relações

institucionais interativas e integradas entre a Polícia Militar e o Poder Executivo

Municipal, o RAIA possibilita diagnosticar preventiva e primariamente os diversos

fatores impactantes na criminalidade e violência percebidas pela população.

Contudo, conforme foi verificado, não basta encaminhá-lo aos respectivos

órgãos municipais competentes, esperando que se torne eficaz nas soluções dos

problemas. Até porque, nem todos os aparelhos municipais procedem e respondem

de forma equânime às demandas de suas administrações.

Especificamente, os problemas de interesse da segurança pública,

transcendem barreiras jurídicas e institucionais de forma que o modelo atual de

competências públicas precisa ser reavaliado e adequado à realidade concreta e

atual.

Os mecanismos de administração pública evoluíram muito em termos de

gestão, tecnologia da informação e comunicação, articulação política e esforços

harmônicos em busca de objetivos comuns.

A ampla literatura das ciências sociais, jurídicas e policiais de segurança e

ordem pública não é uníssona em atribuir responsabilidades, definir competências

ou apresentar propostas efetivas para que o quadro da violência no Brasil tenha um

perfil mais esperançoso.

De fato, as iniciativas devem ser pautadas pela integração, pela conjugação

de esforços entre todos os entes federativos, no sentido de bem resolver os

problemas de segurança pública ou amenizar seus efeitos negativos sobre a tão

almejada sensação de segurança, a despeito inclusive dos indicadores criminais.

O interesse público, soberano e universal, deve prevalecer nas políticas

públicas sem, contudo, deixar de propiciar o fomento das atividades particulares

voltadas ao desenvolvimento sustentável da sociedade.

Há significativa sedimentação de competências legais entre os entes

federativos e em seus respectivos órgãos, não permite a necessária

transversalidade e a concorrência cooperativa na busca da preservação da ordem

pública.

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91

Não se trata de “socializar responsabilidades e competências”, a ponto de

ninguém ficar responsável por nada, mas respeitando as especificidades das

missões e o aprofundamento técnico, buscar mais do que o “concurso de agentes”,

mister será, respaldar a “concorrência de competências e atribuições me relação ao

ambíguo interesse local”.

Se o agente público (policial militar) pode resolver graus superiores de

complexidade de ocorrências, por que não poderia solucionar as de menor

gravidade? Falta de capacitação técnica e jurídica não seria. Ou apenas mera

formalização legal para conceder-lhe delegação?

Daí emerge a indefinição de responsividade presumida no campo da

segurança pública em âmbito local, pois como foi visto nas teorias de prevenção

criminal, grande é a parcela de contrapartidas possíveis, referentes ao ente

municipal, contudo, obtusamente enviesado no Brasil, para a criação de Guardas

Municipais.

Como já mencionado ao longo deste estudo, não se trata de municipalizar o

policiamento ostensivo, altamente oneroso ao erário municipal, que salvo raras

exceções, não tem condições de mantê-lo sem o prejuízo de outras áreas de

interesse municipal, mas sim, de ampliar o espectro de atuação efetiva da polícia

ostensiva e de preservação da ordem pública para áreas de atuação ligadas ao

exercício da polícia administrativa especial, que tenham relevância para a ordem

pública e para a paz social.

Do mínimo e especialíssimo estado de vigilância à máxima e completa

repressão administrativa imediata para a consecução do estado democrático de

direito, caracterizado pela mitigação ou ausência de infrações administrativas,

mediante a profícua aplicação da lei.

A desconcentração e a descentralização do poder requerem a delegação, a

cooperação mútua, as parcerias e os convênios, cujas fontes são inesgotáveis de

sentido prático para a busca do interesse público e coletivo, inigualáveis a qualquer

ação isolada, desintegrada ou independente.

Tanto os processos decisórios institucionais quanto os ordenamentos

jurídicos têm foco centralizado e genérico, enquanto as demandas cotidianas

orbitam em níveis locais, bem mais específicos. Em círculos concêntricos, seria

como se a atividade de segurança pública em nível mais amplo, não pudesse

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92

romper a “blindagem” do núcleo do interesse local, em detrimento da própria

sociedade no escopo maior de atingir o estado da arte de ordem pública.

O poder de polícia de preservação da ordem pública, assim, não o será de

fato, caso não possa aplicar, escalonadamente, as medidas administrativas mínimas

à interrupção da infração administrativa e restabelecer a ordem pública (em sentido

amplo). Nem também, se na proximidade da polícia comunitária, não puder exercer

a repressão imediata eficaz aos que riscam as normas voluntariamente e ao arrepio

da razoabilidade, do convívio social sadio e sustentável.

Também esta outra evidência empírica nas Ciências Policiais, de Segurança

e Ordem Pública é contumaz e precisa de respostas aplicáveis e urgentes.

Como já explicitado, o dever-poder inerente à atribuição constitucional da

Polícia Militar não se universaliza eficazmente quando do exercício pleno da polícia

de preservação da ordem pública, por ser extremamente inespecífica em relação ao

interesse local. As responsabilidades são infindáveis sobre as polícias, sem a

concorrência proporcional de competências legais.

Neste vácuo, a população sem acesso a um serviço público essencial,

digno, inalienável e indelegável, deprecia a Polícia, desacredita a Justiça e, às

vezes, clama ou enaltece quem consiga exercer medidas extremas, violentas,

descabidas e arbitrárias.

A Polícia Militar do Estado de São Paulo não poderá furtar-se de prestar

seus serviços públicos com efetividade, eficiência, eficácia e excelência, dentre

outras características de seu policiamento ostensivo e prescindir da universalidade e

da responsividade.

É preciso respaldar as medidas preliminares, paliativas e mediadoras de

conflitos, presumidamente legítimas e verídicas, após a constatação objetiva da

tipicidade administrativa de fatos praticados pelos administrados, que caracterizam

infrações, incluindo as de caráter especial, pois impactam ou determinam efeitos

nefastos à segurança e à ordem pública.

Após análise comparativa entre a Lei Orgânica da Polícia Militar do Estado

de São Paulo e a Lei Orgânica da Cidade de Jaú nada que obstasse a delegação foi

encontrado, notadamente nas ações de polícia administrativa concorrentes sob o

ambíguo campo do “interesse local” e nas questões de segurança e ordem pública.

Verificadas as leis municipais que tenham enfoque nas atividades de polícia

administrativa especial (postura municipal, meio ambiente, trânsito, obras etc.) e

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nada que indicasse atuação de caráter exclusivo ou privativo de órgão municipal foi

encontrado ou que não pudesse ser tratado e desenvolvido, mediante convênio ou

termo de cooperação técnica, notadamente, nos assuntos relevantes, influentes,

impactantes ou determinantes à segurança e à ordem pública local.

Constatada a possibilidade da delegação de poderes de polícia

administrativa especial do Poder Público Municipal de Jaú, considerando também as

leis complementares e regulamentadoras, existentes nos âmbitos federal, estadual e

municipal, os “remédios jurídicos” viáveis ao tratamento destas questões serão os

convênios, termos de cooperação ou qualquer tipo de contrato público que

possibilite à Polícia Militar atuar lastreada pela lei.

Como exemplo, os convênios têm sido a forma encontrada para se levar o

direito de trânsito seguro às cidades do Estado. Oportunamente, poderia ser feito em

relação às posturas municipais e ao meio ambiente, pois são, neste momento, as

atividades delegáveis de maior relevância para a consecução dos objetivos da

preservação da ordem pública, quando se verifica o interesse recíproco entre os

convenentes.

Como proposta inicial, a Câmara Municipal de Jaú deverá autorizar o Poder

Executivo a celebrar o convênio com a Polícia Militar atribuindo provável e

genericamente as áreas de interesse.

Após reuniões entre as partes e estabelecidos os planos de trabalhos ao seu

desenvolvimento, o convênio deverá ser minutado em termos mais genéricos, pois o

detalhamento constará no plano de trabalho, incluindo o foco da atividade a ser

delegada, portanto, proponho que os policiais militares de Jaú, atuem sobre as

questões ambientais, contra a emissão de poluição sonora com a utilização de

decibelímetro ou sonômetro, devidamente habilitados para operação destes

equipamentos, durante o atendimento das ocorrências ou por iniciativa própria.

Tal indicação atenderia à demanda operacional aos finais de semana ou em

horários mais noturnos e permitiria a notificação ou autuação dos infratores

administrativos, quer nas questões ambientais, posturais ou de trânsito urbano.

Outra sugestão para delegação de competências seria a fiscalização de

alvarás de funcionamento dos estabelecimentos comerciais ou industriais, bem

como autorizações de uso e ocupação de solo nos casos de comércio ambulante.

Neste caso, a princípio, poderia ser priorizada a atuação no perímetro

escolar de segurança, ou seja, até 100 metros dos estabelecimentos de ensino de

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Jaú, como escolas públicas de ensino fundamental ou médio, não podendo haver

qualquer tipo de comércio ambulante, nem bares, botecos, fliperamas, etc. Tudo a

ser fiscalizado pela Ronda Escolar, que de ofício cuida das cercanias escolares.

O projeto pedagógico do JCC- Jovens Construindo a Cidadania, adaptado

às necessidades e requisitos do Programa “Fiscal da Cidade”, em Jaú, poderia

plenamente ser fomentador de novas lideranças positivas juvenis, exercendo grande

impacto no controle social informal se nas comunidades e bairros da cidade e,

principalmente, no perímetro escolar de segurança observado pelos próprios alunos.

Na medida em que o policial militar é acionado ou proativamente verifica a

ausência de alvará ou funcionamento em desacordo com a lei, ele preencheria no

próprio BOPM em todos os campos necessários à identificação e qualificação do

munícipe envolvido; suas razões objetivas de constatação da irregularidade; colheria

a versão e assinatura do notificado/autuado e o encaminharia conforme a rotina.

Ao receber o RAIA, o BOPM ou qualquer outro tipo de formulário, eletrônico

ou não, instituído por força do convênio, a Prefeitura Municipal de Jaú iniciaria

igualmente o procedimento administrativo, obviamente, sujeito à ampla defesa e ao

contraditório, para ao final impor ou não sanção administrativa ao munícipe.

Para tanto, a Polícia Militar do Estado de São Paulo poderia disponibilizar o

SIOPM Corp, em cooperação técnica, para a gestão e a convergência de dados e

tecnologia.

Mais do que atrelar os diferentes aspectos de fiscalização municipal ao RAIA

ou a qualquer outro tipo de formulário, o que é passível de destaque, seria o

endosso da “fé pública” atribuída ao trabalho policial militar em si, pois a veracidade

e a legitimidade dos atos de polícia transcendem o mero preenchimento de

formulários.

Reiterando, nos casos em que as naturezas dos despachos de talão de

ocorrências versem sobre falhas de atuação e zeladoria do aparelho público, deveria

ser estritamente adotado, o preenchimento do RAIA (por questões conceituais e

incidentais).

Entretanto, em relação às naturezas de despacho envolvendo atividades e

bens particulares, o próprio BOPM deveria ser aceito, pois é também dotado de fé

pública, tem os campos de preenchimento necessários ao conhecimento do fato,

quem o praticou, em que circunstâncias, assinaturas, etc., podendo ser a inicial do

processo administrativo municipal sancionatório, conforme o caso concreto.

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No convênio, a aceitação do BOPM em Jaú, como instrumento de

fiscalização, seria outro marco na história da Segurança Pública Brasileira, pois

evitaria rotinas inócuas e burocratizantes.

A minuta de convênio a ser estabelecido entre os participantes deveria

sintetizar os interesses comuns, genericamente, deixando ao respectivo plano de

trabalho, a missão de detalhar e prever os parâmetros das contrapartidas, logo, não

pode ser detalhista ou minucioso o bastante, para gerar nova propositura perante a

Secretaria de Segurança Pública, se algo tiver que ser ajustado ou alterado.

Em relação ao Plano de Trabalho do Convênio Municipal de Jaú proponho

que haja o esforço no processo legislativo municipal em aprovar uma “Consolidação

das Leis de Posturas Municipais”, em sentido amplo, envolvendo outras áreas de

interesse como: meio ambiente, obras, zeladoria urbana, saúde pública etc.

Tal condição facilitaria em muito a integração dos conhecimentos legais à

realidade operacional e seu conteúdo ser incluso no currículo do Estágio de

Aprimoramento Profissional ou nas pautas de reuniões de tropa pronta ou preleções.

Nos convênios não há partes, e sim, participantes com interesses comuns e

coincidentes. Não devendo haver distinções, mas sim, similaridades a serem

sinergicamente desenvolvidas em prol do bem comum.

Refletir sobre o embasamento teórico da prevenção criminal, empiricamente

vivenciada, traz a baila uma nova argumentação para as Ciências Policiais de

Segurança e Ordem Pública.

A adoção do Relatório de Averiguação de Incidente Administrativo, além de

ser marco histórico da Segurança Pública Brasileira, é mais do que mero formulário

a ser preenchido, representa sim, um novo conceito de atuação policial, voltado à

proatividade criativa, ao engajamento solidário e à polícia de proximidade cidadã.

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Referências

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Page 98: Pistori DISSERTAÇÃO ENTREGA FINAL LIVRO 01DEZ11

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