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Plano Estudo 2015 GiselleOliveira Versao Final
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Giselle Aparecida de Oliveira Pinto
__________________________________________
Redes em trnsito:
uma anlise das caixas-pretas e controvrsias do pr-Olimpadas 2016
Plano de estudos apresentado ao Programa de
Ps-graduao em Comunicao Social da
Universidade Federal de Minas Gerais.
Linha de pesquisa: Textualidades Miditicas
Belo Horizonte
2014
Redes em trnsito: uma anlise das caixas-pretas e controvrsias do pr-Olimpadas 2016
1
INTRODUO E JUSTIFICATIVA
O processo comunicativo visto a partir das mediaes tecnolgicas tem sido objeto de
nossa observao desde a graduao, quando estudamos a produo colaborativa de
jornalismo cultural na web. Em pesquisa realizada na ps-graduao, nosso interesse se voltou
para o processo comunicativo existente em peas publicitrias cuja mensagem s poderia
acontecer diante de algum grau de interao do interlocutor.
Neste plano de estudo, o interesse de investigao vincula-se ao processo
comunicacional, definido por Frana (2006, p. 13) como processo instituidor de sentidos e de
relaes; lugar no apenas onde os sujeitos dizem, mas tambm assumem papis e se
constroem socialmente; espao de realizao e renovao da cultura. Sob a perspectiva do
paradigma relacional, delimitamos nosso objeto na observao de indivduos e instncias de
intensa produo sociocultural ambas mediadas tecnicamente por mltiplas telas.
O estudo The New Multi-screen World: Understanding Cross- platform Consumer
Behavior, desenvolvido pela Google em 2012, demonstra a crescente utilizao de
mltiplas telas por pessoas no que tange ao consumo e produo de informao. De
acordo com esse estudo, a televiso uma das telas mais consumidas em conjunto com
outras telas, em especial, smartphones e tablets. Os entrevistados consomem seu tempo online
em quatro dispositivos de mdia, destinando em mdia para cada interao, 17 minutos para
smartphones; 30 minutos para o tablet; 39 minutos para o Laptop; e 43 minutos para a
televiso. So utilizadas diariamente, em mdia, trs combinaes de telas, sendo 81% a
combinao de smartphone e TV; 66% smartphone e laptop; e 66% laptop e TV. Em 77% do
tempo em que os entrevistados utilizavam a TV e um segundo dispositivo, em 49% do tempo
tambm utilizaram o smartphone e em 34% o laptop. Em 75% do tempo destinado ao uso do
tablet e de outro disposto, em 44% desse tempo tambm se utilizou a TV. Vrias telas nos
fazem sentir mais eficientes, pois podemos agir espontaneamente e ter um sentimento de
realizao o que resulta em um sentimento de tempo encontrado1.
Nosso interesse pelo tema foi reforado a partir da realizao de cursos de extenso
direcionados em planejamento e gesto de marcas em redes sociais online. Em tais
oportunidades, ficou clara a crescente utilizao dos dispositivos tecnolgicos de mdia para
diferentes graus de interao entre as pessoas e meios de comunicao. As conexes
1 Multiple screens make us feel more efficient because we can act spontaneously and get a sense of
accomplishment this results in a feeling of found time. Traduo nossa (Google, 2012. P.3). Disponvel em http://www.google.com/think/research-studies/the-new-multi-screen-world-study.html#
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viabilizadas pelo aparato tcnico presente em tais dispositivos se mostram como ambientes
propcios para mltiplas possibilidades de interao.
Nota-se que a interao mencionada aqui parte de diferentes dispositivos, por vezes
simultaneamente, permitindo mais que compartilhamentos textuais e abarcando intervenes
de imagem e som, que repercutem e amplificam as vozes de interlocutores e meios
comunicacionais. Estes ltimos, aos poucos, vm abandonando o modelo transpositivo
pautado simplesmente na transmisso da informao sem qualquer interao do usurio
(herana da dicotomia emissor-receptor) que marcou a primeira fase desses meios na web
para, ento, atender demanda de dilogos que se estabelecem entre usurios.
A investigao aqui proposta visa o encontro de uma abordagem que possibilite a
anlise das redes que se desenham no universo entre usurios e meios relacionados s redes
sociais online de modo a nos permitir a coleta e interpretao de dados sobre a rede de
significados que se formam a partir dessas interaes.
Acredita-se que o paradigma relacional pode tambm ser de grande valia para a
observao proposta, uma vez que ser possvel perceber a atuao ativa dos sujeitos em um
todo integrado, em um contexto sociocultural que orienta processos de significao.
A linha de pesquisa textualidades miditicas nos parece a mais adequada para
receber a proposta aqui apresentada devido ao carter das pesquisas sobre convergncia e
novas mdias que a linha abriga. Alm disso, cabe ressaltar que a possibilidade em ter
cursado a disciplina de referncia dessa linha Mdias e dispositivos miditicos trouxe
conceitos e autores importantes na estruturao do presente plano de estudos.
A pesquisa pretendida procura compreender, em face do uso crescente de mltiplas
telas, de que maneira um megaevento esportivo poderia reabrir a caixa-preta estabilizada no
episdio pr-Copa do Mundo na configurao de uma outra controvrsia.
FUNDAMENTAO TERICA E ABORDAGEM METODOLGICA
Em junho de 2013, ocorreu no Brasil o fenmeno das manifestaes de rua, tambm
conhecidas como Jornada de Junho. Milhes de pessoas saram s ruas com reivindicaes
variadas, sendo o estopim da situao o aumento das tarifas de nibus e os gastos com os
preparativos para a Copa do Mundo de 2014. Em meio Copa das Confederaes, um ano
antes do megaevento esportivo, ocorreram muitas aglomeraes populares e confrontos
constantes entre manifestantes e a fora policial.
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O uso intenso das redes sociais online por pessoas comuns, pela mdia tradicional e
pela mdia considerada alternativa, com forte representao no conglomerado Mdia Ninja2,
trouxeram novos elementos aos processos comunicativos dessa ocasio. O uso de dispositivos
mveis para produo de contedo voltada para a cobertura das manifestaes confrontou o
modelo massivo de comunicao, uma vez que j no havia um nico emissor oficial das
informaes sobre o fato, mas uma troca constante de lugares entre emissores e receptores.
Diante desse histrico, o recorte que propomos nesse plano de estudo investigar as
controvrsias que podem ou no surgir no perodo que antecede outro megaevento esportivo
que ser sediado no Brasil: as Olimpadas de 2016. As redes atuantes no evento pr-Copa do
Mundo, que podem ser reativadas em um novo grande evento esportivo, sero suficientes para
trazer novas controvrsias que reabram a caixa-preta que se estabilizou no ps-manifestaes?
Esclarecemos que os conceitos de caixa-preta e controvrsia aqui empregados so
aqueles referenciados na Teoria Ator-Rede (TAR). Segundo Lemos, controvrsia3 o lugar e
o tempo da observao, onde se elaboram as associaes e o social aparece antes de se
congelar ou se estabilizar em caixas-pretas (LEMOS, 2013, p. 55). As controvrsias do a
ver a formao do social, uma configurao de tenses atravessadas por linhas de fora que
buscam uma estabilizao em caixas-pretas.
Assim, as caixas-pretas so tidas por Latour (2012) como um caminho para a
resoluo de um problema. quando todas as controvrsias sobre um tema, acontecimento ou
rede se esgotam em algum momento e agem como se fossem um s. a estabilizao da rede,
quando os elementos de uma rede passam a agir como se fossem nicos e a partir de ento,
desaparecem de alguma forma, at que algum novo fato desperte essa rede e a torne
novamente visvel. As caixas-pretas so, portanto, intermedirios, transportam sem modificar
at que algo acontea e novos eventos possam emergir. Toda associao tende a virar uma
caixa-preta, a se estabilizar e cessar a controvrsia. (LEMOS, 2013, p. 56).
Importante ressaltar que o conceito de rede que trabalhamos nessa proposta de estudo
o trazido por Lemos (2013) e Latour (2012) em seus escritos sobre a TAR. Lemos (2013)
vai nos dizer que rede em TAR no conexo, mas composio, onde ator no
necessariamente o indivduo e a rede no a sociedade. A rede seria o movimento da
formao do social e da associao resultante de interaes hbridas com atores humanos e
2 Perfil no Facebook do conglomerado: https://pt-br.facebook.com/midiaNINJA
3 O conceito de controvrsia desenvolvido em outros textos por Bruno Latour e outros tericos da
TAR, como Tomasso Venturini. A opo pela citao de Lemos (2013) se d devido ao carter pedaggico
encontrado na leitura desse autor.
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no-humanos se relacionando e dando movimento ao social. O ator rede e a associao
tambm rede. Rede no por onde as coisas passam, mas aquilo que se forma na relao
(mediao, traduo) das coisas. o espao e o tempo (LEMOS, 2013, p. 54). Latour (2012)
diz que rede um indicador de qualidade do texto, aquilo que demonstra a capacidade dos
atores de exercerem influncia sobre os outros. Portanto, rede uma expresso para avaliar
quanta energia, movimento e especificidade nossos prprios relatos conseguem incluir. Rede
conceito, no coisa. uma ferramenta que nos ajuda a descrever algo. No algo que esteja
sendo descrito (LATOUR, 2012, p. 192).
Nosso interesse verificar se os atores humanos e no humanos em especial os
smartphones, tablets, TV e algoritmos em seu uso concomitante como mltiplas telas
envolvidos nos episdios que antecederam a Copa do Mundo sero reativos a um novo
momento com caractersticas semelhantes e se este ser suficiente para abrir a caixa-preta das
redes que se movimentaram no primeiro episdio. Partimos da premissa de que smartphones e
tablets, enquanto atores no humanos tm papel fundamental na produo de controvrsias.
Certamente no se desconsidera as mudanas que surgiram entre os perodos de um e
outro evento. Como por exemplo, tem-se as mudanas ocorridas entre o clmax das primeiras
manifestaes e as que se seguiram na Copa do Mundo. Aps as primeiras ocorrncias as
tticas policiais foram levemente modificadas, embora a palavra de ordem ainda fosse a
represso aos manifestantes. Estes, por sua vez, perderam apoio popular com os casos de
ataque ao patrimnio pblico e privado, caracterizado por muitos atores miditicos como
vandalismo e terrorismo, servindo inclusive de argumento para que o judicirio prendesse
preventivamente ativistas ligados s manifestaes.4 Tem-se ainda a passagem das eleies
presidenciais e um novo (ou mesmo, se pensarmos em reeleio) governo estar no poder.
Contudo, vlido destacar que estaremos novamente em perodo pr-eleitoral eleies para
prefeito e vereadores e que boa parte das reinvindicaes pr-Copa do Mundo foram
direcionadas aos gestores municipais, como as tarifas do transporte pblico.
Nosso ponto de observao emprica toma as redes sociais online, Twitter e
Facebook, como redes sociotcnicas que encontram nos dispositivos mveis em especial
smartphones, um dos seus principais pontos de acesso. Neste caso, tais tecnologias so vistas
como mediadoras tcnicas do consumo, produo e disseminao de contedo.
4 Sobre a priso de ativistas das manifestaes, conferir matria publicada no site G1, disponvel em:
. Acesso em: 17/07/2014.
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Acredita-se que a abordagem terico-metodolgica da Teoria Ator-Rede (TAR), em
especial seus conceitos de caixa-preta e controvrsia sejam adequadas ao estudo em questo.
Um aspecto importante para a TAR o olhar direcionado ao movimento das associaes, das
conexes que emergem a cada nova configurao da rede. A TAR trata de redes constitudas
por entidades de variados tipos que transportam aes, constituindo o que chamamos de redes
heterogneas (BUZATO apud DANDRA, 2014, p. 04). Ela vai em busca de uma
cartografia e a ideia de reconfigurao de rastros que redesenham o social nas associaes e
contradies dos atores-redes estabilizando-se em caixas-pretas. Movimento este que faz
ressurgir uma nova controvrsia, um movimento constante que d a ver a prpria dinmica da
rede.
REFERNCIAS
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