31
0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0 PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLIS Nº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128 AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DANO AMBIENTAL - RESPONSABILIDADE CIVIL AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL LISTISCONSORTE ATIVO: UNIÃO RÉUS: MARE BARRACA DE PRAIA LTDA – ME; EDUARDO MAIA OBERLAENDER; MUNICÍPIO DE PORTO SEGURO e UNIÃO SENTENÇA I- RELATÓRIO O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ajuizou a presente Ação Civil Pública em desfavor de MARE BARRACA DE PRAIA LTDA – ME, EDUARDO MAIA OBERLAENDER, MUNICÍPIO DE PORTO SEGURO e UNIÃO, todos devidamente qualificados nos autos, em virtude de suposta irregularidade na instalação de barraca na Praia de Pitinga, município de Porto Seguro, constituindo obstáculo à livre circulação da população e à fruição de bem de uso comum do povo, em área tombada, non aedificandi e de preservação permanente. Assevera o MPF que os dois primeiros réus ocuparam privativamente área de praia/terreno de marinha situada na praia de Pitinga, Distrito de Arraial D’Ajuda, Município de Porto Seguro, ressaltando que o local ocupado compreende área de preservação permanente, de domínio público, pertencente ao patrimônio da União, caracterizada também como Zona de Valor Paisagístico. O autor relata que a União e o Município de Porto Seguro foram omissos no que se refere ao exercício do poder de polícia inerente à tutela dos interesses públicos a eles confiados. Em razão disso, pugna pela condenação dos requeridos na obrigação de fazer, consistente na retirada da Barraca de Praia da Maré, em definitivo, bem como de quaisquer outras intervenções construtivas correlacionadas, e recuperação da ________________________________________________________________________________________________________________________ Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006. A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282. Pág. 1/31

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DANO AMBIENTAL - RESPONSABILIDADE CIVIL AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL LISTISCONSORTE ATIVO: UNIÃORÉUS: MARE BARRACA DE PRAIA LTDA – ME; EDUARDO MAIA OBERLAENDER; MUNICÍPIO DE PORTO SEGURO e UNIÃO

SENTENÇA

I- RELATÓRIO

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ajuizou a presente Ação Civil Pública

em desfavor de MARE BARRACA DE PRAIA LTDA – ME, EDUARDO MAIA OBERLAENDER, MUNICÍPIO DE PORTO SEGURO e UNIÃO, todos devidamente

qualificados nos autos, em virtude de suposta irregularidade na instalação de barraca

na Praia de Pitinga, município de Porto Seguro, constituindo obstáculo à livre

circulação da população e à fruição de bem de uso comum do povo, em área tombada,

non aedificandi e de preservação permanente.

Assevera o MPF que os dois primeiros réus ocuparam privativamente área

de praia/terreno de marinha situada na praia de Pitinga, Distrito de Arraial D’Ajuda,

Município de Porto Seguro, ressaltando que o local ocupado compreende área de

preservação permanente, de domínio público, pertencente ao patrimônio da União,

caracterizada também como Zona de Valor Paisagístico.

O autor relata que a União e o Município de Porto Seguro foram omissos no

que se refere ao exercício do poder de polícia inerente à tutela dos interesses públicos

a eles confiados.

Em razão disso, pugna pela condenação dos requeridos na obrigação de

fazer, consistente na retirada da Barraca de Praia da Maré, em definitivo, bem como

de quaisquer outras intervenções construtivas correlacionadas, e recuperação da

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 1/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 2: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

área, mediante elaboração de PRAD a ser aprovado pelos órgãos competentes, a fim

de devolver o status quo ante; bem como pela condenação dos réus na obrigação de

pagar indenização por danos materiais extrapatrimoniais coletivos, em patamar não

inferior a R$50.000,00 (cinquenta mil reais) para cada um dos réus, pela degradação

ao meio ambiente.

Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no

pagamento de indenização pelos danos ambientais decorrentes da omissão do poder

de polícia na ocupação irregular da área.

A inicial veio instruída com o procedimento administrativo n.

1.14.010.000155/2016-51 (fls.17/145).

Decisão de fls. 154 designou inspeção judicial na localidade objeto dos

autos.

O MUNICÍPIO DE PORTO SEGURO apresentou contestação às fls.162/175,

na qual alegou que a área ocupada pelos réus pertence à União, sendo este o ente

responsável por autorizar a sua ocupação. Assevera, ainda, que a fiscalização

compete a todos os entes federativos, inclusive ao IBAMA e ao IPHAN. Defende a

inexistência de responsabilidade do ente municipal.

Auto de inspeção judicial às fls. 185/190.

Manifestação da UNIÃO às fls. 199/212, através da qual alega,

preliminarmente, ilegitimidade passiva ad causam, ao fundamento de que a

atribuição de fiscalização se dá em razão do critério da preponderância do interesse e

que não há imposição legal que atribua à União a fiscalização ambiental única e

exclusivamente considerando a titularidade/dominialidade do bem afetado. Pugna

pela inversão do polo processual para figurar como litisconsorte ativa, vez que

também tem interesse no uso regular do seu patrimônio territorial. No mérito, alegou

que não pode ser responsabilizada por fatos de terceiros, uma vez que não houve

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 2/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 3: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

omissão juridicamente relevante de sua parte, de modo a também inexistir nexo

causal para a responsabilidade.

Os requeridos EDUARDO MAIA OBERLAENDER e MARE BARRACA DE

PRAIA LTDA - ME apresentaram contestação às fls. 223/235, alegando que possuem

alvará de funcionamento expedido pela Prefeitura Municipal de Porto Seguro/BA, bem

como que efetuam o recolhimento dos impostos, taxas e licenças devidos perante os

órgãos competentes. Aduz que, ao contrário de outros empreendimentos existentes no

local, a Barraca da Maré está devidamente regularizada perante a SPU, eis que a área

de marinha que pertence à Fazenda Pitinga, cujo “proprietário” é José Carmo Alves,

possui inscrição de RIP n. 2807010002094 e recolhe a respectiva taxa de ocupação.

Audiência de justificação e conciliação realizada em 14.10.2016, conforme

termo de fls. 186/289, na qual as partes se comprometeram a adotar medidas

imediatas para desobstrução da área de praia.

Relatório Técnico de Vistoria da SPU às fls. 307/314.

Manifestação dos réus EDUARDO MAIA e MARÉ BARRACA DE PRAIA às

fls. 320/321.

Nova inspeção judicial realizada em 12.12.2016, conforme auto de fls.

325/326.

Informação Técnica do IPHAN às fls. 363/365.

Audiência de justificação e conciliação realizada em 26.03.2017, na qual foi

concedido prazo de 45 (quarenta e cinco) dias para que os réus apresentassem PRAD

(fls. 366/369).

Manifestações dos requeridos EDUARDO MAIA e BARRACA MARÉ às fls.

374/376 , fls. 383/384.

Relatório do SPU às fls. 414/439.

Relatório circunstanciado de diligência externa realizada pelo MPF às fls.

442/446.

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 3/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 4: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

Manifestação de EDUARDO MAIA e BARRACA MARÉ, às fls. 451/454, na

qual suscita ilegitimidade passiva, ao fundamento de que a área de marinha ocupada

pertence a terceiro, José Carmo Alves, quem teria legitimidade para apresentar o

PRAD determinado em audiência.

Manifestação do MPF às fls. 473/474 em que requer o não-acolhimento da

preliminar ventilada e pede pela inclusão de José Carmo Alves no polo passivo da

ação.

Manifestação de José Carmo Alves às fls. 476/477.

II – FUNDAMENTAÇÃO

Inicialmente, verifico que José Carmo Alves, em petição de fls. 476/477,

requereu adiamento de audiência supostamente designada para o dia 13/09/2018, ao

fundamento de que, na qualidade de terceiro interessado, deveria também participar da

assentada. Tendo em vista que não houve audiência designada neste feito para aquela

data, e que as audiências realizadas no dia 13/09/2018 dizem respeito a outros

processos, nada a prover em relação à petição de fls. 476/477. Saliento, outrossim, que restou evidente a frustração das tentativas de

conciliação empreendidas entre as partes. Ao contrário, em audiência realizada no dia

26.03.2017, embora não registrado expressamente no respectivo termo, os réus

manifestaram-se pela concordância com a retirada da edificação irregularmente

construída no local objeto do presente litígio, sendo-lhes concedido prazo de 45

(quarenta e cinco) dias para que apresentassem o respectivo PRAD (fls. 366/369).

Decorrido prazo muito superior ao concedido em assentada, os réus,

contraditoriamente, alegam questões preliminares como suposto óbice ao cumprimento

do compromisso assumido, de maneira a retardar injustificadamente a tramitação do

feito.

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 4/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 5: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

Portanto, ante o manifesto desinteresse da parte em firmar qualquer espécie de acordo com vista à readequação do empreendimento e considerando não haver, no caso, necessidade de produção de prova documental ou pericial, uma vez

que a prova documental e técnica constante dos autos é extensa e suficiente (laudos,

relatórios e pareceres técnicos), não tendo sido impugnada pelas partes, o feito comporta imediato julgamento.

II. 1 DAS PRELIMINARES Da preliminar de ilegitimidade passiva e da desnecessidade de citação

de José Carmo AlvesOs réus Eduardo Maia Oberlaender e Maré Barraca de Praia LTDA suscitam

preliminar de ilegitimidade passiva, ao fundamento de que José Carmo Alves é o titular

da ocupação da área de marinha objeto da demanda perante a SPU, sendo os requeridos

apenas locatários da área.

É assente que a responsabilidade por danos ambientais é solidária entre o

poluidor direto e o indireto, o que permite que a ação civil pública que busque a sua

reparação seja ajuizada contra qualquer um deles, sendo facultativo o litisconsórcio.

Tal conclusão decorre da análise do inciso IV do art. 3º da Lei 6.938/1981, que

considera "poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,

responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental.”

Portanto, a considerar que a responsabilidade pelo dano ambiental é solidária

e objetiva, figura-se legitimada a parte requerida para figurar no polo passivo de

demanda na qual se busca a reparação de dano decorrente da ocupação irregular de

área de praia, independente de quem seja o titular da outorga de ocupação concedida

pela União (SPU). Logo, afasto a preliminar de ilegitimidade passiva aduzida EDUARDO MAIA OBERLAENDER e MARE BARRACA DE PRAIA.

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 5/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 6: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

Outrossim, a considerar que a sentença prolatada não tem o condão de afetar

o direito de ocupação ostentado por José Carmo Alves, eis que gera repercussão apenas

sobre as benfeitorias irregularmente edificadas e mantidas no local. Ademais, o presente

processo encontra-se em avançada tramitação, circunstância que torna, além de desnecessário, inoportuno seu ingresso neste momento processual, ante a evidente possibilidade de retardar o andamento do feito e causar tumulto processual. Portanto, indefiro o pedido de citação de José Carmo Alves requerido pelo MPF.

Da inversão do polo processual da UniãoAnte as peculiaridades da legitimatio ad causam nesse tipo de demanda, e

tendo sido demonstrado o interesse da União quanto ao pedido de desocupação de

áreas de seu domínio, de uso comum do povo, defiro, com fundamento no art. 6º,

§3º, da Lei n. 4.717/1965 c/c arts. 5º, §2º, da Lei n. 7.347/1985 e art. 113, III, do

CPC, o ingresso da União no polo ativo demanda, na qualidade de litisconsorte do MPF, no que tange aos pedidos formulados contra EDUARDO MAIA OBERLAENDER e MARE BARRACA DE PRAIA, devendo permanecer no polo

passivo, concomitantemente, em relação ao pedido de indenização pelo dano

decorrente da omissão do poder de polícia.

Retifique-se o termo de autuação na forma acima especificada.

II.2 DO MÉRITO Do que se extrai da inicial da presente ação civil pública, os dois primeiros réus

teriam ocupado privativamente área de praia/terreno de marinha situada na praia de

Pitinga, Distrito de Arraial D’Ajuda, Município de Porto Seguro, local que compreende

área de preservação permanente, de domínio público, pertencente ao patrimônio da

União, caracterizada também como Zona de Valor Paisagístico. O autor especifica que a

ocupação constitui óbice ao livre acesso da população à praia, bem como à livre fruição

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 6/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 7: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

do bem comum do povo.

Conforme relatório de vistoria do IBAMA , PAR 02519.0000018/2016-72 SEAMB

EUNÁPOLIS/BA/IBAM, o acesso terrestre ao trecho da praia da Pitinga onde localizada

a Barraca Maré é invariavelmente pela Cabana, onde se encontra estacionamento que

serve a toda a praia. O relatório também registra que “dentro da faixa de areia observou-

se a construção de um deck de concreto, recoberto por quiosque de piaçava(…) Foi

observado que o deck de concreto sobre o qual foram erguidas as estruturas da cabana

foram atingidas pelas ondas do mar, observou-se também grande número de sacos de

ráfia dispostos em frente a baraca com a finalidade de conter o avanço da maré e reduzir

os efeitos erosivos causados pelas ondas do mar”. (fls. 24/27).

O quanto exposto no laudo de vistoria do IBAMA que instrui inicial, também foi

constatado em inspeção judicial realizada na localidade em 19.08.2016, conforme se

deduz do auto de inspeção judicial de fls. 185/190, no qual há registro de que “a

localização das Barracas dificulta a circulação de banhistas quando da ocorrência da

maré alta, uma vez que as ondas avançam as construções de alvenaria das barcas”.

Os próprios réus admitem, em contestação, que a barraca foi construída em

área de praia, o que encerra eventual controvérsia sobre tal fato, conforme se extrai de

excerto da peça de defesa abaixo transcrito:

“Verifica-se através do Levantamento planimétrico (doc. 09), de modo

irrefutável que TODAS as barracas, sem exceção, foram construídas na faixa de praia e algumas delas foram erguidas em faixa de marinha pertencente à Fazenda Pitinga ...”.

O relatório técnico de vistoria da SPU de fls. 310/314, registra que “no trecho de

praia, no qual está edificada a MARE BARRACA DE PRAIA está ocorrendo um avanço do

mar, após a supressão da vegetação nativa, dando a entender tratar-se de área de praia,

o que não é verdadeiro, trata-se de área de marinha onde houve supressão de restinga”.

Apesar da aparente incongruência do respectivo relatório técnico, ao afirmar que

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 7/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 8: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

houve o avanço do mar e a supressão da restinga daria erroneamente a entender tratar-

se de área de praia, constata-se, com base na própria informação nela registrada em

cotejo com as demais provas já mencionadas, que o empreendimento encontra-se

efetivamente construído em área de praia não edificável, bem de uso comum do povo.

Isso se deduz da própria informação técnica no sentido de que a barraca está em faixa

de areia onde não há vegetação e sujeita a incidência da maré.

Com efeito, a Lei 7.661/1988, no artigo 10, § 3º, define como praia “a área

coberta e descoberta periodicamente pelas águas, acrescida da faixa subseqüente de

material detrítico, tal como areias, cascalhos, seixos e pedregulhos, até o limite onde se

inicie a vegetação natural, ou, em sua ausência, onde comece um outro ecossistema”.

Ora, se o próprio relatório da SPU afirma que houve supressão da restinga que

havia no local, sem indicar em que momento se deu tal supressão, compreende-se que

as estruturas estão, de fato, sobre a praia, onde não há vestígio de ecossistema diverso.

Portanto, inequívoca a localização da Barraca Maré em área de praia.

Nos termos da supracitada Lei, “as praias são bens públicos de uso comum do

povo, sendo assegurado, sempre, livre e franco acesso a elas e ao mar, em qualquer

direção e sentido, ressalvados os trechos considerados de interesse de segurança

nacional ou incluídos em áreas protegidas por legislação específica “(artigo 10, caput, Lei

7.661/88) não sendo permitida a urbanização ou qualquer forma de utilização do solo na

Zona Costeira que impeça ou dificulte o acesso então assegurado (artigo 10, § 2º, da Lei

Lei 7.661/88).

Ressalte-se que praia (bem de uso comum do povo) não se confunde com terreno

de marinha (bem dominial da União), de modo que nem todo terreno de marinha estará

localizado na praia, e nem toda praia terá sua extensão limitada à faixa de marinha, eis

que os critérios legais para determinação geográfica de uma e de outra são distintos.

Logo, eventual autorização de ocupação de terreno de marinha outorgado à parte ré não

lhe confere o direito de construir em área de praia, obstruindo o livre acesso e fruição,

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 8/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 9: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

como é o caso dos autos.

Além de o empreendimento ter sido construído em área de praia, verifica-se que

também está localizado em área tombada pela União, considerada como Zona de Valor

Paisagístico, sendo esta também outra causa de pedir constante da inicial.

A Constituição Federal, em seu art. 216, inc. V, definiu, como patrimônio cultural

brasileiro, os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,

arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Nesse sentido, já dispunha o Decreto-lei nº 25/37:

Art. 1º Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.[...]§ 2º Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são também sujeitos a tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pela indústria humana.

Como um dos instrumentos previstos pela Constituição Federal, para a

promoção e proteção do patrimônio cultural brasileiro, se encontra o tombamento, forma

de intervenção do Estado na propriedade, que impõe ao proprietário uma série de

obrigações e restrições, com vistas à conservação do bem em seu valor histórico,

paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico ou científico.

Em última instância, o tombamento assegura que seja observada a função

social da propriedade, adequando o domínio privado às necessidades do interesse

público.

Nesse sentido, observa-se que a inscrição lançada no Livro do Tombo em 1968

descreve, como objetos de tombamento, no Município de Porto Seguro, “o marco do

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 9/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 10: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

Descobrimento; o Paço Municipal; as ruínas do Fortim, Reduto ou Bateria da Costa,

juntamente com as duas velhas peças de artilharia ali existentes e o antigo canhão que az

perto da praia; as ruínas da Igreja da Glória; e as Igrejas pertencentes à Diocese de

Ilhéus; de Nossa Senhora da Pena; da Misericórdia e cemitério anexo; dos Jesuítas; e de

Nossa Senhora da Ajuda”.

Todavia, a extensão dessa especial proteção foi ampliada por força do Decreto

nº 72.107, de 18 de Abril de 1973, que assim dispôs:

Art. 1º. Fica erigido Monumento Nacional o Município de Porto Seguro, Estado da Bahia, cuja área urbana, sítio da antiga Capitania, e lugares históricos adjacentes, em especial o Monte Pascoal, serão inscritos nos Livros do Tombo do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.Art. 2º. Na área do Monumento Nacional de Porto Seguro aplicar-se-á regime especial de proteção, nos termos do tombamento determinado no artigo 1º deste Decreto.

Do teor do dispositivo transcrito, infere-se que o Decreto tombou todo o

Município de Porto Seguro, não mais se limitando ao centro histórico, sendo forçoso

concluir que a referida praia está inserida nessa restrição administrativa.

O tombamento geral se impõe, como forma de proteger o patrimônio histórico

e paisagístico, ainda que isso implique uma limitação do direito de propriedade de bens

individualmente considerados, sem que seja oportunizada aos proprietários a prévia

manifestação. Nesse conflito entre interesse público e interesse privado, o primeiro se

sobreleva, pois o direito de propriedade não é absoluto e deve atender sua função social,

conforme preconizado pela Constituição Federal.

Nesse diapasão, importante frisar que a inexistência de homologação do

Ministério da Cultura no prazo de 05 anos do tombamento, exigida pela Lei n. 6.292/75,

não retira a validade da restrição administrativa, porquanto trata-se de exigência criada

a posteriori (o tombamento geral do município se deu em 1973 e a Lei é de 1975), tendo

em vista a proteção do ato jurídico perfeito outorgada pela Constituição Federal.________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 10/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 11: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

Ademais, o TRF1 já se manifestou acerca da validade do tombamento geral do

município de Porto Seguro, conforme se observa dos seguintes precedentes:

CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. CONJUNTO ARQUITETÔNICO E PAISAGÍSTICO DO MUNICÍPIO DE PORTO SEGURO/BA. DISTRITO DE TRANCOSO. TOMBAMENTO EM PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. CONSTRUÇÃO. AUSÊNCIA DE PRÉVIA AUTORIZAÇÃO JUNTO AO IPHAN. I - Tombado, em defesa do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Município de Porto Seguro/BA encontra-se amparado por regime especial de proteção, submetendo-se à legislação de regência qualquer alteração nas suas características originárias, condicionando-se a alteração de qualquer imóvel, público ou particular, que o integra, à apresentação e aprovação de projeto arquitetônico junto ao IPHAN. II - Demonstrado o caráter agressor da obra realizada sem a devida autorização do órgão competente, impõe-se ao requerido a obrigação de restabelecer as características originais do imóvel, nos termos dos art. 17 e 18, do Decreto-Lei nº 25/37. III - Além do caráter punitivo, a multa coercitiva tem por finalidade desestimular o seu destinatário quanto ao eventual descumprimento do julgado. No caso concreto, a fixação do valor da astreinte em R$ 500,00 (quinhentos reais), por dia de atraso no cumprimento da ordem mandamental constante do decisum impugnado, afigura-se compatível com tais objetivos, não se vislumbrando, na espécie, a alegada exorbitância desse valor. IV - Apelação desprovida. (AC 2006.33.10.002175-1, DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE, TRF1 - QUINTA TURMA, e-DJF1 DATA:19/03/2015 PAGINA:887.)

ADMINISTRATIVO. EMBARGO EXTRAJUDICIAL. DISTRITO DE TRANCOSO/BA. CONJUNTO ARQUITETÔNICO E PAISAGÍSTICO DO MUNICÍPIO DE PORTO SEGURO/BA. LAGOA DO RIO DA BARRA. IMÓVEL TOMBADO. CONSTRUÇÃO DE CASA RESIDENCIAL. AUTORIZAÇÃO. NECESSIDADE. DECRETO-LEI N. 25/37. 1. Trata-se de imóvel de propriedade do impetrante que se localiza em área sujeita à fiscalização do IPHAN, dado o tombamento do Município de Porto Seguro por meio do Decreto 72.107/73, re-ratificado pela Portaria nº 140/2000, do Ministério da Cultura. 2. Dispõe o art. 18 do Decreto-lei n. 25/37 que, "sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, não se poderá, na vizinhança da coisa

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 11/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 12: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

tombada, fazer construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra ou retirar o objeto, impondo-se neste caso a multa de cinquenta por cento do valor do mesmo objeto". 3. Condiciona-se a alteração de bens tombados à prévia autorização, assim como se determinam critérios e condições de intervenção nas áreas do entorno, a fim de, com isso, garantir a harmonia e preservar a ambiência da localidade onde está o imóvel ou conjunto protegido. 4. Correta, portanto, a sentença que indeferiu segurança objetivando que o IPHAN se abstivesse de paralisar as obras de construção de casa residencial do Impetrante. 5. Apelação a que se nega provimento. (AC 2004.33.00.022080-9, JUIZ FEDERAL JAMIL ROSA DE JESUS (CONV.), TRF1 - QUINTA TURMA, e-DJF1 DATA:23/04/2010 PAGINA:205.)

Assim, torna-se forçoso concluir que a área em que se encontra a Barraca Maré,

por ser considerada área de singular importância paisagística histórica e cultural, que

deve ser preservada por estar inserida no perímetro do Município de Porto Seguro, não

pode sofrer qualquer tipo de alteração, mediante construção ou reforma sem autorização

circunstanciada do IPHAN.

Contudo, no caso dos autos, a Informação Técnica do IPHAN n. 03/17-ETPS

PS/SBA (fls. 363/365) dispõe que o empreendimento não tem anuência por parte do

IPHAN para sua implantação na área. A informação técnica especifica acerca do “caráter

negativo da atual implantação dos empreendimentos de natureza comercial na área

analisada que com a construção de volumes edificados sem anuência deste Instituto em

faixa de praia próxima às falésias causam relevante impacto negativo na leitura da

paisagem tombada.”

Cumpre afastar a tese de defesa comumente alegada em litígios desta natureza

consistente na alegação de que alvarás emitidos pela Prefeitura Municipal de Porto

Seguro-BA seriam suficientes para permitir as referidas construções.

Conforme acima delineado, os imóveis situados na área urbana de Porto

Seguro-BA, conforme definido no Decreto n. 72.107/73, submetem-se ao regime especial

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 12/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 13: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

do tombamento estabelecido pelo Decreto-lei n. 25/37, particularmente ao disposto nos

seus arts. 17 e 18, in verbis:

Art. 17. As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum ser destruídas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ser reparadas, pintadas ou restauradas, sob pena de multa de cinquenta por cento do dano causado.Parágrafo único. Tratando-se de bens pertencentes à União, aos Estados ou aos municípios, a autoridade responsável pela infração do presente artigo incorrerá pessoalmente na multa.

Art. 18. Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra ou retirar o objeto, impondo-se neste caso a multa de cinquenta por cento do valor do mesmo objeto.

Condiciona-se, portanto, a alteração de bens tombados à prévia autorização

do IPHAN, sem que eventual manifestação favorável de administração municipal consiga

suplantar essa exigência legal, porquanto o imóvel localiza-se em área sujeita à especial

proteção federal.

Nesse sentido:

ADMINISTRATIVO. PRESCRIÇÃO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. TOMBAMENTO. REFORMA QUE ALTERAM CARACTERÍSTICAS ORIGINAIS DE IMÓVEL TOMBADO. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO DO IPHAN. VIOLAÇÃO AO ART. 17 DO DECRETO LEI 25/1937. DESFAZIMENTO. PRECEDENTE. (...) 2. Inexistência de dúvidas quanto ao tombamento pelo IPHAN do imóvel em questão, vez que está inserido na Poligonal de Entorno de Bens Tombados, Área 1 - Santo Antônio e São José, consoante documento de fls. 32/33, bem como que houve reforma no citado bem que alterou as suas características originais, fato, aliás, reconhecido pelo próprio demandante. 3. As reformas realizadas no imóvel provocaram a descaracterização do bem, alterando tanto a sua volumetria quanto a sua fachada, pois, não

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 13/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 14: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

foram observados os parâmetros urbanísticos para a zona. (...) 5. Comprovação de que o imóvel tombado foi objeto de modificação, sem autorização da autoridade administrativa competente, restando violado o comando previsto no artigo 17 do Decreto-Lei 25/37. (...)(AC 200583000086093, Desembargador Federal Manoel Erhardt, TRF5 - Primeira Turma, DJE - Data::10/05/2012 - Página::116.)

AÇÃO CIVIL PÚBLICA - DANOS AO MEIO AMBIENTE - DEVER DE INDENIZAR E RESTAURAR - ABSTENÇÃO DE CONSTRUÇÃO EM ZONA DE AMORTECIMENTO E AREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE - CONSTRUÇÃO DE LOTEAMENTO SEM PRÉVIA LICENÇA AMBIENTAL DO ÓRGÃO COMPETENTE. (...) 3) O fato de a ré ter obtido licenças ou autorizações perante a Prefeitura Municipal de Paraty para lá construir - Alvará de Construção e Laudo de Vistoria - não a exime de obter a licença ambiental pelo órgão competente. (...).6) Apelação desprovida. Sentença mantida. AC 200351110007917. Desembargadora Federal CARMEN SILVIA LIMA DE ARRUDA. E-DJF2R - Data::08/05/2012 - Página::341. TRF2.

Diante das provas coligidas ao feito, restou, assim, plenamente configurada a

existência de construção danosa ao patrimônio histórico, artístico e paisagístico

nacional, sem a devida autorização do órgão competente, qual seja, o IPHAN.

Também não consta dos autos prova de que os réus tenham obtido a devida

licença ambiental para construção e funcionamento da Barraca de Praia.

Ora, há que se considerar que a construção erigida em faixa de praia pode

provocar dano ambiental em razão da supressão e descaracterização da vegetação de

restinga típica dessa área, a qual tem papel fundamental na fixação do substrato

arenoso, evitando, assim, a formação de processos erosivos. A supressão da vegetação

para inserção da Barraca obviamente descaracteriza o ecossistema típico da faixa de

praia. No caso dos autos, conforme mencionado alhures, o relatório do SPU registra que

a área onde localizada a barraca da Maré trata-se de “área de marinha onde houve

supressão da restinga” (fls. 310).

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 14/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 15: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

Nesse particular, a despeito de a Lei 12.651/2012 ter revogado o regime de

proteção das restingas que tinha como base a Resolução CONAMA n. 303/2002, em

especial as áreas de restingas localizadas em faixa mínima de 300 metros, medidos a

partir da linha de preamar máxima; entendo que as áreas de restinga,

independentemente de terem a função de estabilizar mangue ou fixar dunas, são áreas

de preservação permanente em face da previsão constante no art. 215, IV, da

Constituição Estadual da Bahia e art. 89, inciso IV e paragrafo único da Lei Estadual n.

10.431/2006 que dispõe sobre a Política de Meio Ambiente e de Proteção à

Biodiversidade do Estado da Bahia.

Assim, tendo por premissa a regra da máxima eficácia dos direitos

fundamentais, sempre deve prevalecer a norma mais protetiva ao meio ambiente, e, na

eventual hipótese de contradições entre normas editadas por dois ou mais entes da

federação, deverá predominar a norma que se apresentar mais benéfica à preservação do

meio ambiente.

Portanto, concluo que as áreas de restinga no Estado da Bahia possuem

regime protetivo próprio e generalizado, que não se vincula às restingas com a função de

estabilizar mangue ou fixar dunas – nos termos do disposto no art. 215, IV, da

Constituição Estadual da Bahia combinado com o art. 89, IV e paragrafo único, da Lei

Estadual nº 10.431/2006 –; de modo que, mesmo após a revogação do regime de

proteção generalizado dado às restingas (qualquer restinga existente na faixa de 300

metros contados da preamar máxima, pela Resolução CONAMA n° 303/2002), as

disposições constantes na Constituição e legislação infraconstitucional do Estado do

Bahia permitem manter incólume a proteção das áreas de restinga aqui existentes,

independentemente da localização e da função que desempenhem.

De todo modo, os réus não demonstram e, sequer, alegam que possuem

licenças ambientais emitidas por órgão ambiental seja municipal, estadual ou federal.

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 15/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 16: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

Portanto, independentemente da discussão acerca da natureza da área na qual se

instalaram, deveria ter sido precedida de autorização do órgão ambiental competente.

Veja-se que, como não há nos autos prova de que, quando da instalação da

barraca, ainda havia restinga, pode-se concluir que ou houve dano ambiental pela sua

supressão, ou ilegalidade pela edificação em área de praia. Em ambas as hipóteses, a

conduta dos réus é irregular, merecendo a demolição das estrutura e recuperação da

área.

Da responsabilidade dos requeridos pelos danos causadosAs questões relativas ao meio ambiente estão disciplinadas no artigo 225 e

seguintes da Constituição Federal de 1988 como direito de todos, e isso confere à

matéria a natureza de bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida,

impondo ao poder público e à própria coletividade o dever de protegê-lo e preservá-lo.

Além disso, a Constituição impõe condutas preservacionistas a quantos possam direta

ou indiretamente gerar danos ao meio ambiente.

A matéria vem veiculada no art. 225 da Constituição Federal, que assim

estabelece:

“Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações."

A efetividade das normas constitucionais encontra-se aparelhada por normas

infralegais, como a Lei n.º 6.938/81, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente e a

Lei n.º 9.605/98, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de

condutas e atividades lesivas ao meio- ambiente.

Em se tratando da natureza difusa do interesse de preservação ambiental, a

responsabilidade é objetiva, conforme se verifica da redação da Lei nº 6.938/81, ao

dispor em seu art. 14, § 1º:________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 16/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Page 17: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

Art. 14 ...

§1o Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o

poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar

ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados

por sua atividade.

Do artigo acima mencionado, extrai-se que a responsabilidade para os

causadores de danos ambientais é a objetiva e integral. A lei também consagra a

responsabilidade solidária entre o causador direto e o indireto da atividade que enseja a

degradação ambiental (art. 3º, IV, da Lei nº 6.938/81), revelando-se pertinente a

condenação daquele que contribuiu diretamente, bem como daquele que deixou de

fiscalizar efetivamente os danos ambientais ocorridos.

É importante destacar que o “princípio da obrigatoriedade da intervenção

estatal”, que impõe a intervenção do Poder Público na tutela ambiental, tem fundamento

não apenas na Constituição Federal (art. 225, caput e § 1º) e na Lei nº 6.938/81, mas

também na Declaração de Estocolmo/72 (item 7).

Decorre do princípio da obrigatoriedade da intervenção estatal, em

consonância com os princípios da precaução e da prevenção, que atuam como pilares do

sistema protetivo do meio ambiente e compõem a essência do Direito Ambiental, o

encargo do Poder Público (natureza compulsória) de adotar todas as medidas necessárias

para evitar a degradação ou potencial lesão ao ambiente. É o que se denomina de Poder

de Polícia Ambiental.

Insta salientar, ainda, que a responsabilidade estatal, in casu, é de natureza

objetiva, prescindindo da discussão acerca da culpa, o que exsurge da conjugação dos

seguintes dispositivos legais: art. 37, § 6º e art. 225, § 3º da CF; art. 3º, IV e art. 14, § 1º

da Lei 6.938/81; e arts. 43 e 927 do Código Civil.

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 17/31

Eder
Realce
Page 18: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

No caso dos autos, a ocupação da região deveria ter sido precedida de licença

da Secretaria de Patrimônio da União (artigo 1º da Lei nº 9.636/88). De outro lado, não

poderia o Município de Porto Seguro, ignorando as regras sobre licenciamento ambiental,

sem participação das autoridades competentes, conceder autorização para construções

em suas praias.

Com efeito, ao órgão ambiental municipal falta competência para, de maneira

unilateral, exercer uma prerrogativa - universal e absoluta – de licenciamento ambiental

no litoral, uma vez que o Decreto Federal 5.300/2004, que regulamenta a Lei

7.661/1988, adota como "princípios fundamentais da gestão da Zona Costeira" a

"cooperação entre as esferas de governo", bem como a "precaução" (art. 5°, incisos XI e X,

respectivamente). Essa postura precautória, porém, acaba esvaziada, sem dúvida,

quando, após o decurso de décadas, nada mais resta que o fato consumado da

degradação ambiental, justamente por carência de colaboração entre os órgãos

ambientais e pela visão monopolista e territorialista da competência de licenciamento.

Além do mais, evidente que o Município, pelo fato de atuar no âmbito da

autorização para construir, não se despe do seu dever de proteger o meio ambiente,

direito de toda coletividade e dever imposto ao Poder Público, conforme se infere do art.

225 da Constituição Federal.

Configurada está, igualmente, responsabilidade da União pela reparação dos

danos ambientais, uma vez que, estando as construções em áreas de praia e de terreno

de marinha, compete ao ente federal aferir a regularidade na utilização dos imóveis de

sua propriedade (art. 20, IV e VII, da CF), bem como adotar mecanismos de fiscalização,

controle e recuperação de eventuais danos ambientais resultantes dos empreendimentos,

segundo preconizam as Leis ns. 6.938/81 e 9.636/98.

Sendo assim, na forma do art. 11 da Lei n.º 9.636/98, cabe à União Federal

a necessária fiscalização sobre área de sua propriedade, assegurando sua integridade em

face de eventuais danos ambientais.

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 18/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 19: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

“Art. 11 - Caberá à SPU a incumbência de fiscalizar e zelar para que sejam mantidas a destinação e o interesse público, o uso e a integridade física dos imóveis pertencentes ao patrimônio da União, podendo, para tanto, por intermédio de seus técnicos credenciados, embargar serviços e obras, aplicar multas e demais sanções previstas em lei e, ainda, requisitar força policial federal e solicitar o necessário auxílio de força pública estadual.”

Nesse sentido:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO - RECURSO ESPECIAL - MEIO-AMBIENTE - TERRENO DE MARINHA E ÁREA DE PROTEÇÃO PERMANENTE - VEGETAÇÃO DE RESTINGA - OMISSÃO FISCALIZATÓRIA DA UNIÃO - LOCALIZAÇÃO NO PÓLO PASSIVO DA DEMANDA - SÚMULA 7/STJ - PERMISSIVO "C" - SÚMULA 83/STJ. 1. Reconhecida, nas instâncias ordinárias, a omissão da pessoa jurídica de direito público na fiscalização de atos lesivos ao meio-ambiente é de ser admitida sua colocação no pólo passivo de lide civil pública movida pelo Ministério Público Federal. Litisconsórcio passivo entre a União e o Município por leniência no dever de adotar medidas administrativas contra a edificação irregular de prédios em área non aedificandi, caracterizada por ser terreno de marinha e de proteção permanente, com vegetação de restinga, fixadora de dunas. 2. Conclusões soberanas das instâncias ordinárias quanto à omissão da União e de seus órgãos. Impossibilidade de reexame. Matéria de fato. Súmula 7/STJ. 3. Dissídio jurisprudencial superado. Súmula 83/STJ. Recurso especial conhecido em parte e improvido. (RESP 200300670099 RESP - RECURSO ESPECIAL – 529027 Relator(a) HUMBERTO MARTINS Sigla do órgão STJ Órgão julgador SEGUNDA TURMA Fonte DJE DATA:04/05/2009)

ADMINISTRATIVO. AMBIENTAL. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA. I - O MPF ajuizou a presente Ação Civil Pública em face do MUNICÍPIO DE GUARAPARI, da UNIÃO FEDERAL e de REAL EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA, objetivando, em síntese, a

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 19/31

Eder
Realce
Page 20: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

declaração de nulidade do Alvará de Licença nº 0021/2006, concedido para a construção do edifício mencionado em sua peça inicial; que a União Federal não permita a realização de obra pela 3ª Ré, procedendo à devida fiscalização; que a 3ª Ré proceda à demolição da obra já realizada, bem como repare os danos ambientais causados. II - Inicialmente, cumpre rejeitar arguição de ilegitimidade passiva ad causam da União Federal. E isto porque a área objeto da presente demanda, na qualidade de terreno de marinha, pertence à União, na forma do art. 20, VII, da CRFB/88. Em sendo assim, na forma do art. 11 da Lei n.º 9.636/98, cabe à mesma a necessária fiscalização sobre área de sua propriedade, assegurando sua integridade em face de eventuais danos ambientais. (...) VIII - Apelação da União Federal improvida. (AC 200750010026061 AC - APELAÇÃO CIVEL – 544553 Relator(a) Desembargador Federal REIS FRIEDE Sigla do órgão TRF2 Órgão julgador SÉTIMA TURMA ESPECIALIZADA Fonte E-DJF2R - Data::09/05/2012 - Página::221)

A responsabilidade da União, conforme salientado nos autos, é inconteste.

Por outro lado, para o fim de apuração do nexo de causalidade no dano

ambiental e de eventual solidariedade passiva, equiparam-se quem faz e quem não faz

quando deveria fazer.

Consoante entendimento de PAULO AFONSO LEME MACHADO, o Poder de

Polícia Ambiental é a “atividade da Administração Pública, que limita ou disciplina direito,

interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato em razão de

interesse público concernente à saúde da população, à conservação dos ecossistemas, à

disciplina da produção e do mercado, ao exercício das atividades econômicas ou de outras

atividades dependentes de concessão, autorização, permissão ou licença do Poder Público

de cujas atividades possam decorrer poluição ou agressão à natureza”.

No caso sub judice, impõe concluir que o Poder de Polícia Ambiental pertence,

solidariamente, ao Município de Porto Seguro e à União, que não se desincumbiram de

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 20/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Page 21: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

seu ônus, concorrendo, com sua omissão fiscalizatória, para a degradação ambiental na

área em comento.

A União, portanto, é solidária, objetiva e ilimitadamente responsável, nos termos

da Lei 6.938/1981, por danos ambientais decorrentes da omissão do seu dever de

controlar e fiscalizar, na medida em que contribua, direta ou indiretamente, tanto para a

degradação ambiental em si mesma, como para o seu agravamento, consolidação ou

perpetuação.

Com relação à responsabilização de Eduardo Maia Oberlaender e Maré

Barraca de Praia Ltda a prova dos autos é uníssona no sentido de que estes

contribuíram diretamente para ocupação irregular em faixa de praia e prática do dano

ambiental e paisagístico, conforme constatado nos mencionados laudos do IBAMA,

IPHAN e SPU constantes dos autos, bem como nas inspeções judiciais realizadas.

Ademais, o dever de reparação do dano ambiental é imposto inclusive ao

causador indireto, uma “vez que a responsabilidade civil pelos danos ambientais é

objetiva e integral, sendo solidária entre o causador direto e o indireto quanto à reparação

da degradação ambiental em decorrência do caráter propter rem (AC

00064599420114058200, Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho, TRF5 - Segunda

Turma, DJE - Data::30/11/2015)”.

Nesse sentido, recente precedente:

AMBIENTAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. DESMATAMENTO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. FALTA DE LICENÇA. DANO AMBIENTAL COMPROVADO. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA. TEORIA DO RISCO INTEGRAL. APLICABILIDADE. CONDENAÇÃO EM MULTA E RECUPERAÇÃO DOS DANOS AMBIENTAIS. INDENIZAÇÃO INDEVIDA. 1. (...). 4. O dever de recuperar a vegetação nativa incumbe ao proprietário/possuidor (obrigação "propter rem"), ainda que não tenha sido ele o causador direto do dano ambiental. 5. (...). (APELREEX 00056591220104058100, Desembargador Federal Rubens de Mendonça Canuto, TRF5 - Terceira Turma, DJE - Data::09/01/2014 - Página::208.)

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 21/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 22: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

Em face dessa narrativa, os réus devem ser considerados responsáveis pelos

danos causados ao bem tombado, em virtude da realização de intervenções não

autorizadas pelos órgãos competentes.

Impacto no turismo regional Convém enfrentar questão trazida pelo Município de Porto Seguro no sentido

de que os empreendimentos das praias do município são de grande importância para a

economia local e imprescindíveis para o desenvolvimento turístico da região. Cuida-se de

argumento falacioso, pois subverte a ordem real dos fatores. O grande apelo turístico da

região são justamente os valores culturais e históricos que seus empreendimentos

acabam por prejudicar.

O maior fator distintivo do Município de Porto Seguro é o de se tratar do berço

de nosso País, o local do descobrimento. Esse sim é o verdadeiro elemento que atrai

turistas dos mais distintos pontos do Brasil e do mundo. São, portanto, os empresários

do setor que se beneficiam dos valores culturais da região, e não o contrário, como

querem fazer crer.

Não devem ser esquecidos os esforços governamentais no sentido de enaltecer

os valores históricos do nosso povo, com investimentos vultosos, a exemplo da

comemoração dos 500 anos do Brasil, no ano de 2000. Cultivar o patrimônio histórico é

um dos meios de reverenciar nossos antepassados, suas lutas, suas conquistas e

sofrimentos.

A preservação de ambientes naturais segundo as condições que nossos

ancestrais viveram ajuda a compreender a história, as reais dificuldades que

enfrentaram. Também é importante lembrar que o conhecimento da história de um povo

constitui elemento indispensável para a formação de sua identidade, com reflexos em

cada indivíduo, contribuindo para o fortalecimento de sua autoestima.

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 22/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 23: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

Essa é a grande importância da preservação do Município de Porto Seguro,

como patrimônio histórico. Ao contrário de tantos outros municípios desse país, não

pode ficar a mercê de interesses econômicos incompatíveis com sua natureza.

Não que seja impossível conciliar a preservação do meio ambiente natural e

histórico-cultural com a geração de riquezas. Absolutamente. Entretanto, para isso, é

preciso criatividade e, sobretudo, opção por alternativas sustentáveis, que explorem

esses valores culturais sem destruir seus monumentos, naturais ou construídos pelo

homem.

No âmbito normativo, vale pontuar, a atividade econômica está subordinada,

dentre outros princípios gerais, à "defesa do meio ambiente" (CF, art. 170, VI), que

traduz conceito amplo e abrangente das noções de ambiente natural, de meio ambiente

cultural, de meio ambiente artificial (espaço urbano) e de meio ambiente laboral.

O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impregnado de caráter

eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em compromissos

internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justo

equilíbrio entre as exigências da economia e as do ambiente histórico e cultural.

Subordina-se, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente

situação de conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável,

cuja observância não comprometa, nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais

significativos direitos fundamentais: o direito à preservação do meio ambiente, que

traduz bem de uso comum da generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das

presentes e futuras gerações.

Dos danos materiais e morais coletivosO MPF requereu a condenação dos requeridos, MARÉ BARRACA DE PRAIA

LTDA, EDUARDO MAIA ABERLAENDER, UNIÃO e MUNICÍPIO DE PORTO SEGURO no

pagamento de indenização por danos materiais e morais coletivos causados ao meio

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 23/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 24: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

ambiente e a condenação do MUNICÍPIO DE PORTO SEGURO e da UNIÃO no

pagamento de indenização pelos danos ambientais causados em decorrência de suas

condutas omissivas.

Ora, o dano ambiental pode ser compreendido como qualquer lesão aos

recursos ambientais que cause degradação e desequilíbrio ecológico. Assim, não apenas

a degradação da natureza deve ser objeto de reparação, mas também a privação do

equilíbrio ecológico, do bem-estar e da qualidade de vida imposta à coletividade e, no

caso específico, o livre acesso e fruição da praia, bem de uso comum do povo.

Como o dano em geral, o dano ambiental tanto pode ser de ordem material,

quanto moral.

É considerado dano ambiental material ou patrimonial, quando existe a

obrigação de uma reparação a um bem ambiental lesado, que pertence a toda a

sociedade, o qual deve ser integralmente recuperado, mediante obrigações de fazer e não

fazer. Somente quando este dano for irreversível, quando o ambiente não puder ser

recuperado e voltar ao estado anterior ao indigitado evento é que será possível a

indenização em dinheiro. Mas, a prioridade da tutela ambiental é retornar o ambiente ao

statu quo ante.

Em relação aos alegados danos materiais e ao pedido indenizatório, verifico

que, no caso em apreço, é possível a restituição ao status quo ante, impondo-se, assim,

além de demolição das obras irregularmente construídas, a adoção de medidas

restauradoras da área degradada, bem assim, a inibição da prática de ações antrópicas

outras, desprovidas de regular autorização dos órgãos competentes.

Tal obrigação, além de imputada aos referidos requeridos deve ser suportada

também ao Poder Público, pela falta do poder de polícia ambiental e pelo comportamento

omissivo ao longo dos anos.

No que pertine ao pedido de condenação pelos danos morais coletivos, é

importante ressaltar que a possibilidade de indenização por dano moral está prevista na

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 24/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 25: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso V. Outrossim, o texto constitucional não

restringe a violação à esfera individual, e mudanças históricas e legislativas têm levado a

doutrina e a jurisprudência a entender que, quando são atingidos valores e interesses

fundamentais de um grupo, não há como negar a essa coletividade a defesa do seu

patrimônio imaterial.

Alguns juristas não admitem o dano moral coletivo, por se prenderem ao

ultrapassado conceito de dano moral, como a dor e o sofrimento infligidos a um

indivíduo por uma conduta ilícita. Todavia, o direito civil contemporâneo tem se afastado

desse critério, para entender o dano moral como aquele decorrente da violação de

direitos da personalidade, enquanto expressão do princípio da dignidade da pessoa

humana, sendo despicienda a demonstração de que a vítima passou por um sofrimento

ou vexame.

Cuida-se, portanto, de um dano in re ipsa, que decorre inexoravelmente da

violação do direito da personalidade. Por este motivo é que muitos civilistas preferem o

emprego da expressão dano extrapatrimonial a dano moral, pois este último remonta a

um conceito subjetivo, ao passo que a primeira é mais precisa, por se referir

simplesmente ao que não pode ser quantificado em pecúnia.

Ora, tais valores insuscetíveis de aferição patrimonial, decorrentes de direitos

fundamentais, também podem ser inerentes a uma coletividade e, em tal condição,

sofrer um dano. Assim, o dano extrapatrimonial coletivo verifica-se quando ocorre uma

lesão injusta e intolerável a um interesse de natureza transindividual, não havendo que

se perquirir sobre eventual abalo coletivo.

Nesse sentido pronunciou-se a Ministra Eliana Calmon, em voto proferido no

REsp 1.057.274: “as relações jurídicas caminham para uma massificação, e a lesão aos

interesses de massa não pode ficar sem reparação, sob pena de criar-se litigiosidade

contida que levará ao fracasso do direito como forma de prevenir e reparar os conflitos

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 25/31

Page 26: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

sociais”. Ainda em suas eminentes palavras: “o dano extrapatrimonial coletivo

prescindiria da prova da dor, sentimento ou abalo psicológico sofridos pelos indivíduos”.

Por tudo quanto exposto, entendo que a conduta dos requeridos acarretou

dano extrapatrimonial de caráter transindividual, tendo em vista a interferência negativa

no perfil visual do bem tutelado e nos valores fundamentais da comunidade local, que se

viu prejudicada na utilização sustentável do meio ambiente local por vários anos, vez que

a área tornou-se equipamento comercial que limitou sobremaneira o livre acesso e a

fruição da área de praia.

Nestes termos, entendo que a indenização pelo dano moral coletivo deve ser

fixada em R$50.000,00 (cinquenta mil reais), valor proporcional à gravidade do dano e

que atende às finalidades de ordem compensatória e punitiva que o dano moral deve

ostentar.

Embora, em princípio, a condenação seja solidária, na presente hipótese,

entendo que apenas os réus particulares, excluindo-se a UNIÃO e o Município de Porto

Seguro, devem arcar com tal indenização, uma vez que eles foram os únicos beneficiados

pelas edificações ao longo dos anos em que permaneceram no local.

Da Antecipação dos Efeitos da TutelaNos termos do art. 300 do novo CPC, a “tutela de urgência será concedida

quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou

o risco ao resultado útil do processo”.

Em que pese a modificação da redação, para a concessão da antecipação dos

efeitos da tutela continua se fazendo necessária a ocorrência simultânea da prova

inequívoca que convença o Juiz da verossimilhança das alegações e o fundado receio de

dano irreparável ou de difícil reparação.

O juízo de verossimilhança foi sobejamente demonstrado no discorrer da

presente sentença.

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 26/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Page 27: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

Pelo que se pode demonstrar, os réus realizaram construção em área de praia,

obstruindo o livre acesso da população e a fruição do bem de uso comum do povo. A

construção também foi erigida sem autorização do IPHAN e do órgão ambiental

competente.

Saliento que a presente ação foi proposta no ano de 2016 e em audiência

realizada no início do ano seguinte, os réus foram categóricos no sentido de que não

tinham interesse de manter o empreendimento no local, estando dispostos a retira as

construções ali erigidas. Se comprometeram a apresentar PRAD, tendo sido paralisado o

regular andamento do feito, ante a indicação de que providenciariam a retirada

espontânea do equipamento construtivo. Contudo, conforme já asseverado antes, os

requeridos passaram a se comportar de maneira contraditória, obstando a entrega do

PRAD objeto do compromisso firmado em assentada, o que indica a intenção protelatória

com o fim de persistir na ilegalidade.

Conforme exposto, o dano ao ambiente histórico e cultural vem se perpetrando

e acumulando durante anos, engendrado pela atuação ilegal dos demandados, e que, se

não for imediatamente suspenso, resultará em prejuízo irreversível à sociedade, advindo

disso o fundado receio de dano de difícil reparação, conforme se infere da inteligência do

seguinte precedente:

DIREITO ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. TUTELA ANTECIPADA. DEMOLIÇÃO DE BARRACA CONSTRUÍDA EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. APLICABILIDADE. 1. (...) 2. É certo que o meio ambiente ecologicamente equilibrado é bem comum de uso do povo, cabendo ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo, nos termos do art. 225 da CF/88. 3. A precaução é um dos princípios norteadores do Direito Ambiental, segundo o qual se exige uma atuação antecipada do Poder Público diante do risco ou do perigo de dano ao meio ambiente. 4. Logo, não há como se negar prevalência ao interesse público, de preservação do meio ambiente, e ao princípio da precaução, diante da evidência de que o

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 27/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 28: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

empreendimento pretendido pelo Agravante (barraca) está localizado em área de preservação permanente. 5. A obra em questão, destinada a fins comerciais, foi construída sem licenciamento prévio, portanto está submetida às conseqüências previstas na Lei nº. 7.661/88, quais sejam: interdição, embargo ou demolição, independente da existência de dano efetivo ao meio ambiente (...). Não bastasse tudo isso, o local é também ponto de desova de espécies de tartarugas marinhas. 6. Agravo de instrumento improvido. (AG 200705000357786, Desembargador Federal Francisco Barros Dias, TRF5 - Segunda Turma, DJE - Data: 26/11/2009 - Página::386.)

Não desconhece este Juízo que o art. 300 do CPC estabelece que “A tutela de

urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de

irreversibilidade dos efeitos da decisão”. Ocorre que a situação de difícil reversibilidade

foi criada pelos próprios requeridos ao descumprirem sistematicamente o comando

exarado pelo Poder Público.

Desse modo, o único meio de atingir o quanto postulado na inicial é com a

demolição integral do quanto construído nos últimos anos.

Contudo, tendo em vista a nítida intenção dos réus de não promoverem a

desobstrução da área de praia que ocupam e, considerando a responsabilidade solidária

do Município de Porto Seguro aqui reconhecida, imponho a este ente municipal o dever

de promover, no prazo de 30 (trinta) dias corridos (prazo material), a demolição de todas

as construções realizadas em área de praia e sem autorização do IPHAN na objeto dos

autos, sob pena de imposição de multa diária de R$1.000,00 (mil reais).

Nesse mesmo prazo os requeridos Maré Barraca de Praia e deverão apresentar

PRAD (Plano de Recuperação de Áreas Degradadas) para a área ocupada, a ser aprovado

pelo IPHAN e pelo órgão ambiental local, sob pena de multa autônoma de igual valor.

Por outro lado, segundo dispõe o art. 536, caput e § 1°, do CPC:

Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 28/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 29: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente.

§ 1o Para atender ao disposto no caput, o juiz poderá determinar, entre outras medidas, a imposição de multa, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de atividade nociva, podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força policial.

Assim, ante a recalcitrância dos réus em descumprirem o embargo

extrajudicial e legislação regente, afigura-se adequado o imediato impedimento de

atividade na localidade, a fim de que o Município adote, dentro do prazo assinado, as

medias para demolição acima determinadas.

Por isso que o prazo de 30 (trinta) dias, acima assinalado, para demolição, não

é de início da demolição, mas de sua conclusão. Os trabalhos de demolição devem iniciar

no menor espaço de tempo possível, respeitados apenas os preparativos (contratação de

máquinas e pessoas) para derrubada das construções e retirada dos materiais.

A necessidade de paralisação de qualquer atividade na localidade também se

justifica pelo fato de se tratar de atividade desenvolvida em local inapropriado, já que,

como fartamente demonstrado, erigido sem licença do IPHAN.

III – DISPOSITIVOAnte o exposto, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO, para CONDENAR o

Requeridos, EDUARDO MAIA OBERLAENDER, MARÉ BARRACA DE PRAIA e MUNICÍPIO DE PORTO SEGURO, solidariamente, na obrigação de fazer consistente na demolição de todas as construções sem autorização do IPHAN, da SPU e do órgão ambiental competente na área praia e tombada como patrimônio da União,

bem como na remoção dos entulhos decorrentes da demolição. Condeno, ainda, os Requeridos, EDUARDO MAIA OBERLAENDER e MARÉ

BARRACA DE PRAIA, solidariamente, na obrigação de fazer consistente na

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 29/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 30: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

recuperação de toda a área degradada, as suas expensas, na forma de PRAD a ser

readequado e aprovado pelo IPHAN e do órgão ambiental competente.

Nos termos da fundamentação supra, determino a imediata paralisação das atividades realizadas no empreendimento objeto da ação fixo prazo de 30 dias corridos - contados da intimação da presente – para a conclusão dos trabalhos de demolição das construções não autorizadas, limpeza da área e readequação de Plano de Recuperação de Área Degradada, sob pena de incidência multa diária de R$1.000,00 (mil reais) para o caso de descumprimento da ordem, quantia esta a ser

revertida para o fundo previsto no art. 13 da Lei n. 7.437/85.

A multa ora cominada para o caso de descumprimento das presentes

determinações não afasta eventual responsabilização criminal (arts. 329 e 330 do Código

Penal).

Autorizo o IPHAN, o MPF e a UNIÃO a promoverem a demolição e recuperação

da área por conta própria, se o Município Réu e réus particulares não o fizerem no prazo

supra. Para tanto deverão apresentar projeto e orçamento a ser aprovado pelo Juízo.

Nessa hipótese, ficam os requeridos obrigados a reembolsar os valores gastos pelo autor

na recuperação da área, sem prejuízo do pagamento das multas fixadas acima.

JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO, ainda, para CONDENAR

apenas os requeridos EDUARDO MAIA OBERLAENDER e MARÉ BARRACA DE PRAIA LTDA, na obrigação, solidária, de pagar indenização no valor R$50.000,00 (vinte mil reais), pelos danos morais coletivos, quantia esta a ser revertida para o fundo previsto

no art. 13 da Lei nº 7.437/85.

Retifique-se o termo de autuação para incluir a União no polo ativo dos

autos, na qualidade de litisconsorte assistencial do MPF.

Processos sem custas, ante a natureza da ação.

Deixo de condenar os réus em honorários advocatícios, pois, “dentro de critério

de absoluta simetria, se o Ministério Público não paga os honorários, também não deve

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 30/31

Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Eder
Realce
Page 31: PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA …‡A... · 2019. 11. 10. · Requer, ainda, a condenação da União e do Município de Porto Seguro no pagamento de indenização

0 0 0 0 8 7 8 5 9 2 0 1 6 4 0 1 3 3 1 0

PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO

SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE EUNÁPOLIS

Processo N° 0000878-59.2016.4.01.3310 - 1ª VARA - EUNÁPOLISNº de registro e-CVD 00314.2018.00013310.1.00482/00128

recebê-los.” (Precedente: REsp 1099573/RJ, Rel. Min. Castro Meira, Segunda Turma,

julgado em 27/04/2010, DJe 19/05/2010).

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Eunápolis/BA, 16 de setembro de 2018.

Juiz Federal ALEX SCHRAMM DE ROCHA

________________________________________________________________________________________________________________________Documento assinado digitalmente pelo(a) JUIZ FEDERAL ALEX SCHRAMM DE ROCHA em 16/09/2018, com base na Lei 11.419 de 19/12/2006.A autenticidade deste poderá ser verificada em http://www.trf1.jus.br/autenticidade, mediante código 2717363310282.

Pág. 31/31