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Psicologia e Educação 29 Vol. VI, nº 2, Dez. 2007 (Pós) modernidade, ética e educação Ana Pedro* Resumo: O objectivo deste trabalho consiste em examinar a relação entre modernidade, pós-modernidade, ética e educação, bem como os principais limites e desafios que se lhes colocam. Com efeito, a importância de se re-pensar a educação neste novo contexto de pós- modernidade advém da confrontação quotidiana com novos discursos científico- tecnológicos interpretativos da realidade, da impossibilidade de não reconhecer as profundas transformações que configuram aquele novo paradigma de racionalidade, e cujas consequências ainda não conseguimos imaginar na totalidade, bem como da emergência de um novo pensar ético. Na construção de uma visão moderna baseada na racionalidade crítica dos projectos que erege, opera-se um reducionismo daquela ao ser restringida à sua dimensão científica. Contudo, esta hegemonia da modernidade não se livrou de críticas contundentes. O esgo- tamento da racionalidade moderna é brandida desde Nietzsche a Heidegger, a Jurgen Habermas, Horkheimer e Adorno (Escola de Frankfurt) e a Michel Foucault, François Lyotard e Gilles Lipovetsky para os quais, a razão moderna é considerada como uma grande ilusão e responsável pelos terríveis desastres praticados em nome da ciência e do progresso. Neste debate entre modernos e pós-modernos, a questão fundamental residirá, em nosso entender, nas consequências que poderão advir para a actual crise da educação e para a crise de valores e do aparecimento de várias éticas, num mundo marcado por um pensamento fortemente neoliberal. Quais serão, então, as novas tarefas da educação neste novo contexto? De acordo com o pensamento de Habermas, é possível uma educação ética das novas gerações com base na razão e no agir comunicacionais. À educação caberá, por isso, sensibilizar as novas gerações, desde a mais tenra idade, para o problema da ética como fundamento da vida humana e ajudá-las a formar uma nova consciência axiológica, crítica e reflexiva do mundo que as rodeia; um cidadão que participe activamente nesse seu processo de formação. Palavras-chave: pós-modernidade; educação; ética. Post-modernity, ethics and education Abstract: The aim of this paper is to examine the relationship between modernity, post-modernity and ethics, and also their implications, challenges and bounds concerning each of them. We believe that the importance of rethinking teacher training stems from the daily confrontation with new reality interpreting scientific-technological discourses, and from the impossibility of not recognizing the profound transformations that configure this new paradigm of rationality, and whose consequences one cannot yet fully imagine, and from the emergence of a new ethical thinking. _______________ * Universidade de Aveiro, Departamento de Ciências da Educação. E-mail: [email protected]

(Pós) modernidade, ética e educação Ana Pedro*psicologiaeeducacao.ubi.pt/Files/Other/Arquivo/VOL6/PE VOL6 N2/PE... · gerações com base na razão e no agir comunicacionais

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Vol. VI, nº 2, Dez. 2007

(Pós) modernidade, ética e educaçãoAna Pedro*

Resumo: O objectivo deste trabalho consiste em examinar a relação entre modernidade,pós-modernidade, ética e educação, bem como os principais limites e desafios quese lhes colocam.Com efeito, a importância de se re-pensar a educação neste novo contexto de pós-modernidade advém da confrontação quotidiana com novos discursos científico-tecnológicos interpretativos da realidade, da impossibilidade de não reconhecer asprofundas transformações que configuram aquele novo paradigma de racionalidade,e cujas consequências ainda não conseguimos imaginar na totalidade, bem como daemergência de um novo pensar ético.Na construção de uma visão moderna baseada na racionalidade crítica dos projectos queerege, opera-se um reducionismo daquela ao ser restringida à sua dimensão científica.Contudo, esta hegemonia da modernidade não se livrou de críticas contundentes. O esgo-tamento da racionalidade moderna é brandida desde Nietzsche a Heidegger, a Jurgen Habermas,Horkheimer e Adorno (Escola de Frankfurt) e a Michel Foucault, François Lyotard e GillesLipovetsky para os quais, a razão moderna é considerada como uma grande ilusão e responsávelpelos terríveis desastres praticados em nome da ciência e do progresso.Neste debate entre modernos e pós-modernos, a questão fundamental residirá, em nossoentender, nas consequências que poderão advir para a actual crise da educação e paraa crise de valores e do aparecimento de várias éticas, num mundo marcado por umpensamento fortemente neoliberal.Quais serão, então, as novas tarefas da educação neste novo contexto?De acordo com o pensamento de Habermas, é possível uma educação ética das novasgerações com base na razão e no agir comunicacionais. À educação caberá, por isso,sensibilizar as novas gerações, desde a mais tenra idade, para o problema da éticacomo fundamento da vida humana e ajudá-las a formar uma nova consciência axiológica,crítica e reflexiva do mundo que as rodeia; um cidadão que participe activamentenesse seu processo de formação.Palavras-chave: pós-modernidade; educação; ética.

Post-modernity, ethics and education

Abstract: The aim of this paper is to examine the relationship between modernity,post-modernity and ethics, and also their implications, challenges and bounds concerningeach of them.We believe that the importance of rethinking teacher training stems from the dailyconfrontation with new reality interpreting scientific-technological discourses, and fromthe impossibility of not recognizing the profound transformations that configure thisnew paradigm of rationality, and whose consequences one cannot yet fully imagine,and from the emergence of a new ethical thinking.

_______________* Universidade de Aveiro, Departamento de Ciências da Educação. E-mail: [email protected]

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In the construction of a modern vision based on the critical rationality of the projectsthat it sets up, this rationality is sometimes restricted to its scientific dimension.Nevertheless, this hegemony of modernity has not been spared strong criticism. Thecollapse of modern rationality has been discussed from Nietzsche to Heidegger, fromJurgen Habermas, Horkheimer and Adorno (the Frankfurt School) to Michel Foucault,François Lyotard and Gilles Lipovetsky who consider modern reason as a great illusionand who see it as responsible for the terrible disasters practiced in the name of scienceand progress.In this debate between modern and post-modern, the fundamental question will reside,to our mind, in the consequences that may have an impact in the current crisis ofeducation and in the crisis of values and also in the development of several ethics,in a world strongly influenced by neoliberal thought.Which is, then, the new role of education in this new context?According to the thinking of Habermas, new generations can have access to an ethicaleducation, if it is based on reason and in communicational acting. Education wouldhave as its role, therefore, to sensitize new generations, from their youngest age, tothe problem of ethics as the foundation of human life and to help them build a newethical consciousness, critical and meditative of the world that surrounds them; a citizenthat would actively participate in his/her own training process.Nevertheless, we consider that this task does not belong exclusively to school butto the whole of society, which aims to become increasingly democratic.Keywords: Post-modernity; education; ethics.

1. O contexto da modernidade1 e dapós-modernidade

O que é modernidade? Como uma pri-meira aproximação, digamos simples-mente o seguinte: o termo ‘modernida-

de’ refere-se a modos de vida e de or-ganização social que emergiram naEuropa cerca do século XVII e que ad-quiriram, subsequentemente, uma influ-ência mais ou menos universal (Giddens,1998:1).

_______________1 A par do conceito modernidade surgem outros conceitos afins, tais como, modernismo e modernização,

mas que divergem do sentido do primeiro. (Hargreaves,1998). Tal deve-se ao facto de, no início, a modernidadeassociar numa mesma experiência modernismo e modernização. No entanto, à medida que a modernidadese foi generalizando e tornando num princípio legitimador indiscutível da experiência, estes conceitos foramobtendo a sua autonomia noutras áreas com as quais se passaram a identificar. Assim, enquanto modernidadese refere a uma experiência caracterizada por um conjunto de rupturas face aos valores e às normas tradicionais,as quais perdem a sua natureza indiscutível e deixam, consequentemente, de se impor a todos com a mesmaforça de obrigatoriedade, modernismo reporta-se a um movimento estético - a que corresponde a uma modalidadede gosto nos diferentes domínios da arquitectura e da arte (literatura, pintura, música) e a um movimentoético. Caracteriza-se, sobretudo, pela sobrevalorização da experiência do presente, pelo imperativo da invençãoincessante de novos modelos estéticos e, ainda, pelo predomínio da representação do fluido e do efémerosobre o perene e o transcendente. Por sua vez, no domínio ético, manifesta-se na procura constante de novosmodelos e de novas normas de comportamento a par da mudança e das transformações do presente, motivadapelos desafios que as inovações técnicas colocam ao homem. No que diz respeito à modernização, trata-se de um processo técnico e económico marcado pelo imperativo de renovação. De um modo geral, podemosafirmar que a estrutura uniformizadora do pensamento e do conhecimento associada à modernidade resultouda apologia da Ciência, construtora do pensamento objectivo e da crença na tecnologia instrumento de dominação,quer ao nível do ambiente natural quer ao nível da condição humana.

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A Modernidade está associada a um con-junto de ideias e atitudes perante o mundode autonomia, liberdade, primado dasubjectividade, primazia e centralidade doindivíduo como sujeito de direitos e dedecisões, pluralismo e ideologia, confian-ça na hegemonia da racionalidade daciência e da tecnologia para explicar osfenómenos da natureza e da cultura, e cujasconsequências ainda estamos longe depoder avaliar com todo o rigor, predomí-nio cada vez maior da informática -pautadas por um constante exame críticoda razão e por uma tendência permanenteque apontam para um dinamismo e umamudança incessantes.É em As Consequências da Modernidadeque Giddens (1998:3) caracteriza a soci-edade moderna desenvolvendo uma inter-pretação sobre as descontinuidades do de-senvolvimento social, através de mudan-ças, as quais, nos últimos três ou quatroséculos…têm sido tão dramáticas e deimpacte tão vasto que o nosso conheci-mento de períodos de transição anterioresapenas de forma limitada pode ajudar-nosa tentar interpretá-las.Para além disso, essas descontinuidades aque o autor se refere e que separam asinstituições sociais modernas das ordenssociais tradicionais, são ainda caracteriza-das pelo facto de poderem ocorrer con-soante o ritmo da mudança (verificável emtodas as esferas a uma velocidade extre-ma), o alcance da mudança (asinterconexões de diferentes áreas geramondas de transformação social a nívelglobal), e a natureza das instituiçõesmodernas (a modernização não ocorre deum modo uniforme pelas diversas regiõesdo globo); (Giddens,1998:4).Por sua vez, em A condição pós-moderna,Jean-François Lyotard (2003:12) refere queo período da modernidade tem sido regidopelo poder de certas metanarrativas, no-

meadamente, hegelianas e marxistas queprocuraram explicar tudo à luz de umaúnica teoria ou princípio, e que o pós-moderno é a incredulidade em relação àsmetanarrativas, pelo que há a necessidadede valorizar as “pequenas narrativas”.Para Touraine (1994), as duas categoriasfundadoras dos tempos modernos são aracionalidade e a subjectividade, catego-rias aparentemente contraditórias, mas quese completam mutuamente, na medida emque o ser humano procura avançar atravésda ciência e da racionalidade, mas tam-bém pretende afirmar-se enquanto sujeito,com toda a sua subjectividade: a razão eo Sujeito, que podem realmente unir-se,e que o agente desta união é o movimentosocial, isto é, a transformação da defesapessoal e cultural do Sujeito em acçãocolectiva dirigida contra o poder quesubmete a razão aos seus interesses. Amodernidade é refractária a todas as for-mas de totalidade, e é o diálogo entre arazão e o Sujeito, que não pode ser rom-pido nem terminado, que mantém abertoo caminho da liberdade (Touraine,1994:394).A experiência moderna denota, assim, avivência de uma certa ambivalência asso-ciada à emergência do sujeito, entendidonão só enquanto elemento autónomo, mastambém como elemento de sujeição aoimperativo ditatorial do novo e da mudan-ça. Desta duplicidade, o sujeito modernoexperiencia uma consciência dilacerada(Lipovetsky,1989,1994).Quando este imperativo ditatorial procuratransformar a diferença em norma, incorrenum paradoxo lógico que faz equivalertodas as diferenças elegendo-as como anorma, geradora de um contexto propícioao aparecimento da pós-modernidade.Mas, é a partir do momento em que aexperiência tradicional perde o seu sentidofundador e atinge o seu limite máximo,

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i.é, o estado de an-arquia (no sentidoetimológico do termo, de algo que seperdeu ou de que se esqueceu o sentido,ou ainda, o fundamento originário da suarazão de ser, a arque) que a modernidadese instala, exigindo um novo processofundador de sentido(s).Ao romper com a ordem transcendente2

que serve de fundamento à tradição, amodernidade situa no horizonte da própriahistória o sentido para a experiência dosujeito estando, por isso, associada a umaconsciência de solidão do homem, devidoao sentimento de abandono dos deuses e,desse modo, estar completamente entregueao seu destino num mundo onde, não rarasvezes, a injustiça e a maldade são recom-pensadas, ao passo que a justiça, a ver-dade e a bondade estão acompanhadas porinfelicidade e solidão.A crítica constitui outro aspecto dominan-te caracterizador da modernidade associ-ado à natureza racional do fundamento dasopiniões e das decisões, tanto na esferado saber como nas esferas política(Habermas, 1998), estética e ética(Lipovestky, 1994,2007)Por outro lado, no mundo moderno, ve-rifica-se a passagem de uma visãocosmocêntrica para uma visãoantropocêntrica da realidade que conduzà descoberta da subjectividade, da autono-

mia, da livre escolha pessoal, da liberdadee da consciência dos direitos fundamentaisque assistem o ser humano.Para Hegel3, o princípio do mundo mo-derno reside na liberdade da subjectividade,na sua superioridade, mas também na suavulnerabilidade à crise, na medida em queo mundo é, simultaneamente, um mundodo progresso e de espírito alienado de sipróprio. Por isso, Hegel propõe o poderunificador da intersubjectividade contra araiz autoritária da razão.No entanto, para Heidegger (1993), devi-do à compreensão pré-ontológica do Ser,segundo o qual, é o mundo que institui,em primeiro lugar, o contexto a partir decuja compreensão nos podemos depararcom o ente, o ser humano, está origina-riamente comprometido na relação demundo, no qual não existe um eu isolado,mas sim um eu-com-os-outros, em que apessoa humana se define pela transforma-ção reflectida de si e do seu meio ambi-ente.No entanto, apesar da valorização dasubjectividade, em que o ser humano seassume como o autor da sua própriahistória, e adquirida, finalmente, a cons-ciência da sua influência decisiva enquan-to factor de acção e de transformação desi e do mundo, instaura-se uma tendênciacada vez maior do individualismo, doconsumismo e do egocentrismo, eivado deum narcisismo do sujeito excessivamentepreocupado consigo mesmo, exaltador doconsumismo materialista como objectivomáximo de vida, facto que comporta umextremo empobrecimento das relaçõespessoais e sociais.

_______________2 Depois das lutas religiosas que caracterizaram,

no início, o processo de secularização, a moderni-dade adopta o princípio da tolerância como prin-cípio regulador da convivência entre os homens,apesar de estes poderem continuar a defenderopiniões divergentes e de professarem credos dife-rentes. A este ideal moderno de tolerância estáassociado aquilo que Max Weber (1864-1920) de-signava por pluralismo dos valores. É neste sentidoque a modernidade era por si designada de desen-cantamento do mundo, devido à perda das referên-cias mítico-religiosas que, para o homem da tradi-ção, conferiam sentido e coerência à sua experiênciae ao seu destino.

_______________3 http://www.mundodosfilosofos.con.br/

hegel3.htm Conjunto de textos de Hegel sobre adialéctica hegeliana, o Senhor e o escravo e con-cepção dialéctica da história e da filosofia. Con-sultado a 15/12/07.

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Para além disso, tudo é questionado4,problematizado e sujeito a uma diversida-de imensa de interpretações sobre o mundo,a sociedade, os valores, a vida e a iden-tidade, no sentido em que nenhuma pers-pectiva moderna passou a ser consideradacomo única em validade e legitimidadefundacional ou passou, sequer, a ser con-siderada como inquestionável e a únicainterpretação correcta. Todavia, esta situ-ação é igualmente responsável pelo apa-recimento de crises subjectivas onde amaior parte das pessoas se sente inseguranum mundo confuso face à imensidão depossibilidades de interpretação e onde oser humano, segundo Kierkegaard (2002),se encontra perdido no labirinto do pro-gresso mecânico, desamparado e quasedesesperado: a sua única esperança reside,então, na compreensão da existência.Com a modernidade, percebe-se também quea liberdade é constantemente mediada poruma outra realidade concreta relativa aoespaço e ao tempo, i.é, por referência a umacorporeidade e a uma história humana es-pecífica e particular de cada um. Nestesentido, a liberdade é sempre limitada ecircunscrita não só ao espaço individual, mastambém ao espaço ocupado pelo outro, oque impõe, inevitavelmente, a aceitação deregras. Mas, se por um lado, alcançamos umgrau muito maior de liberdade individual,por outro, caímos no risco de considerar osoutros como objectos e instrumentos.Com o advento da época moderna,enfatizou-se a concepção racionalista doser humano como res cogitans e consciên-

cia-de-si, num dualismo da ideia racionalistado ser humano diferente do dualismo pla-tónico, pois, a res cogitans separa-se do corpocomo res extensa, não para se elevar até àcontemplação do mundo das Ideias (Fédon),mas para melhor conhecer e dominar omundo (Discurso do Método).É, então, sobretudo a partir de Descartes,que o interesse das discussões se centramais no sujeito enquanto cogito ergo sumtransformando-se em juíz da verdade, emque a reflexão e a análise crítica passama ser profundamente valorizadas.Todavia, o Iluminismo, ao exacerbar osentido da emancipação humana, caíu numsistema de opressão em nome da liberdadehumana. Por isso, Nietzsche (1987) afirmaque a razão não é mais do que a vontadeperversa de poder, ambição essa que arazão oculta.Devido a essa sede de poder, Horkheimere Adorno em A dialética do esclarecimen-to5, enveredam por um cepticismo perantea razão, na medida em que consideram quequer a economia capitalista quer o estadomoderno tudo reduzem ao horizonte limi-tado da racionalidade: em última análise,tal significa reconhecer que a razão épotencialmente destruidora, não faltando,para isso, exemplos: desde os campos deconcentração e esquadrões da morte, às duasguerras mundiais e às ameaças de aniqui-lação nuclear (Hiroshima e Nagasaki).As análises da Escola de Frankfurt evi-denciaram, assim, as terríveis consequên-cias da razão científica que, quando aban-donada a si mesma renunciando à sua forçacrítica, chega a justificar até a exploraçãodo ser humano.

_______________4 Para Giddens (1998), o facto de as sociedades

modernas terem atingido um estado de elevadareflexividade permitiu-lhes analisarem-se retrospec-tivamente (modernização reflexiva), pelo que, nãoé de admirar que, à luz dessa reflexividade, osmodelos tradicionais de desenvolvimento das soci-edades criem problemas e gerem dilemas tão fun-damentais que questionam qualquer movimento deacordo com esses princípios.

_______________5 Bailão, a. 2007, A dialética do esclarecimento:

o olhar crítico de Adorno e Horkheimer sobre a históriado homem. (http://chacombolachas.wordpress.com/2007/12/02a-dialetica-do-esclarecimento-o-olhar-criti-co-de-adorno-e-horkheimer-sobre-a-historia-do-ho-mem/). Consultado a 13/01/08.

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2. Pós-Modernidade6: alguns limites

Mas, se a modernidade trouxe grandesconquistas marcadas pela construção de um

mundo mais democrático, pela defesa dosdireitos humanos, pelo avanço técnico-científico, entre muitos outros aspectos,nem sempre estes avanços corresponderam

_______________6 Antes de manifestarmos a nossa opinião re-

lativamente à problemática da modernidade/pós-modernidade, gostaríamos de apresentar algunspontos característicos da pós-modernidade sintetiza-dos por Azevedo (1993), necessários à sua compre-ensão: 1. a pós-modernidade surge pela invalidaçãohistórica e cultural das grandes análises(Giddens,1998). As perspectivas filosóficas, políti-cas ou religiosas típicas da modernidade que pre-tendiam dar uma visão unitária e integrada explicativados diversos fenómenos, passam agora a constituirmeras narrações estilizadas e não objectivas darealidade em consequência dos eventos históricos,entretanto, registados (totalitarismos, dizimação depopulações, ..). Instala-se, assim, um ambiente desuspeita quanto às ideias da modernidade, pelafalência das utopias criadas. O desejo de escapara um mundo duro e de cuja transformação já nãose tem esperança, é exacerbada a individuação, afuga da realidade, a falta de ideais comuns, bemcomo a falta de sentido da vida. 2. na pós-moder-nidade, emerge uma ruptura com os grandes mo-delos epistemológicos, e as suas pretensões deverdade, objectividade e universalidade. Odeterminismo das leis da natureza, como referePrigogine (1996: 26-27), foi posto em questão. Essemodelo, teve um imenso sucesso. A explicação dequalquer fenómeno natural, em termos de leisdeterministas, parecia estar à disposição e, uma vezque contassemos com essas leis básicas, daí deri-varia todo o resto (a vida, nossa consciência hu-mana) por simples dedução. Com isso, as leis é queexistem, não os eventos. A descoberta das instabi-lidades reconhecida nos vários sistemas, o conceitode caos, de probabilidade, a consideração dairreversibilidade do tempo, entre tantas mutações emconceitos antes formulados como certezas, abremuma nova perspectiva da natureza. As diferencia-ções sócio-humanas também emergem como factos,bem como, a variabilidade humana, asheterogeneidades, e não as unicidades, tal comoMorin (1996:46-47) explica: Expulsou-se o sujeitoda antropologia, para só ver estruturas, e ele tam-bém foi expulso da sociologia. A consideração daexistência do sujeito, sua reposição nas ciênciashumano-sociais que vem se processando sob vari-adas formas, trouxe a implicação necessária de seconsiderar o princípio da incerteza nas vidas e nahistória humanas. 3. Uma última característica da

_______________era pós-moderna: minimiza o sentido emancipadorda história que o moderno dá ao homem, atravésdos mitos do progresso, da salvação e da constru-ção da própria história. Não é negado este sentido,mas sua unicidade (Azevedo, 1993:91). Com a in-tensificação da fragmentação da realidade social ecultural desencadeada pelas tecnologias, pela comu-nicação de massa, pela informação instantânea e sempossibilidade de proceder a qualquer reflexão denatureza mais profunda, resvala-se para umamultiplicidade de sentidos sem sentido e para a perdade referências mais sólidas. Conforme Moraes(2000:212), encontramo-nos numa nova era quandoa produção da cultura tornou-se integrada à pro-dução de mercadorias em geral: a frenética urgên-cia de produzir bens com aparência cada vez maisnova. O impacto instantâneo prevalece sobre os sig-nificados e a falta de profundidade de grande parteda produção cultural actual é posta em evidência.

Assim, e em nosso entender, qualquer discursosobre a pós-modernidade resulta ambíguo, dada a suanatureza polissémica, acrescida de alguma polémica.De certa forma, este termo é indefinível, fluido einconsistente. Inclusivamente, julgamos também queo seu nome é contraditório, uma vez que recorre auma definição histórica – pós – para denominar ummovimento cultural em ruptura com o historicismo.No entanto, na esteira de Azevedo (1993) e Goergen(1997), consideramos tratar-se de uma transição, pois,não conseguimos sair completamente do campo damodernidade nem conseguimos estar integralmentena pós-modernidade. Com efeito, modernidade e pós-modernidade não se encontram numa relação desuperação de uma pela outra, mas numa relaçãodialética (Goergen,1997:63).

E, muito embora Adorno e Horkheimer, Rorty,entre muitos outros autores pós-modernos, estejampreparados para romper com a forma de pensaragressiva, que vê a natureza como a coisa a serdominada e que concebe a ciência e a tecnologiacomo instrumentos de dominação, não podemos negarque esta ainda é uma forma dominante de pensarda maior parte das elites económicas, políticas eintelectuais do mundo. Não é claro, por isso, queexista uma ruptura da pós-modernidade com opensamento dominante da modernidade. É nestesentido que, para Harvey (1996), o termo pós-moderno não significa uma mudança de paradigma,mas um conjunto de pressupostos, experiências eproposições de um período já existente.

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a uma realização profunda do existirhumano.Na verdade, tal como já referimos anterior-mente, a crença absoluta na razão, no pro-gresso, no nacionalismo, no capitalismo e nosocialismo, tinham dado mostras evidentes defracasso (fascismo, nazismo, comunismo),pelo que era urgente operacionalizarem-senovas mudanças de paradigma; de umparadigma eurocêntrico, de cunho colonialista,imperialista e capitalista, para um paradigmapolicêntrico de orientação pluralista.Contudo, era um facto que o processocivilizacional da modernidade comportavainúmeras consequências nefastas para osujeito que alteraram significativamente oseu quotidiano, tais como: a possibilidadeeminente de uma guerra nuclear, catástofresecológicas, explosão demográfica econsequente urbanização caótica edesumanizante, industrialização ao serviçodo consumismo, desemprego, ciência etécnica ao serviço da guerra e da violência,actividade económica movida exclusiva-mente pelo lucro e desmobilização dasestruturas reguladoras do Estado.Daí, o conjunto de críticas que se teceramem torno do processo de modernidademarcadamente caracterizado pela descon-fiança da razão, desaparecimento dedogmas, agnosticismo, subjectivismo,pluralidade ideológico-cultural com fortetendência eclética, crise de valores,narcisismo, hedonismo do prazer fácil eimediato, flexibilidade de costumes,permissividade e fragmentação religiosa e,ainda, o consumismo ditado pela novaordem económica mundial baseada nahegemonia do livre mercado globalizado.Mas, se por um lado, as novas técnicasde comunicação nos aproximaram uns dosoutros dando-nos a consciência alargadade pertencer a um mundo só, por outrolado, deparamo-nos com um novo fenóme-no, segundo o qual, os média usam a

publicidade não só para vender mercado-rias, como também para oferecer política,religião, cultura, sexo, viagens, moda e bensde consumo, pelo que, consumir, passa aser sinónimo de participação, inserção sociale até exercício de cidadania.Para além disso, o capitalismo adquiriupretensões de se assumir como o únicosistema válido e possível, sem outras al-ternativas, devido à falência do projectosocialista que, tal como se realizou naEuropa do Leste, desabou, com consequên-cias inevitáveis ao nível da perda de algunsdireitos sociais anteriormente adquiridos, daflexibilidade, da subcontratação em condi-ções desumanas, do desemprego, dos bai-xos salários e dos deslocamentos. Ora, taisfactos, como sabemos, reduzem enorme-mente as possibilidades de uma maior justiçasocial ao mesmo tempo que os sujeitos sãofriamente seleccionados em função do maisapto, possuindo valor de meras mercado-rias.Com a pós-modernidade, dá-se, então, oreconhecimento da impotência e da falibi-lidade do pensamento e da razão e é re-jeitado o conceito da ideia clara e distinta7.

_______________7 É neste sentido que se verifica, na literatura

e na pintura, uma ênfase do irracional, do non-sense.As ciências sociais, por sua vez, recusam qualquerprincípio ou regra sócio-cultural universal, e na fi-losofia, esta atitude traduz-se no nihilismo e norelativismo. Para um estudo mais aprofundado sobrea genealogia da pós-modernidade pode consultar-seHall (1999.34-46), o qual refere cinco cortesepistemológicos principais que tiveram forte impactono descentramento do sujeito cartesiano e na poste-rior elaboração da noção de pós-modernidade, a saber:a) Marx; b) Freud, com a releitura lacaniana do seusujeito; c) Saussure, com a ideia de que a língua éum sistema social e não individual; d) os movimentosdo final da década de 60, como o Feminismo, e, porfim, e) Foucault, com a noção de poder disciplinarcomo regulador dos comportamentos dos sujeitos.Souza; S. Modernidade, pós-modernidade e educa-ção: como começar segunda-feira de manhã? (http://www.elton.com.br/FSDB/TI-FSDB-Esp-Texto1-Souza.pdf). Consultado a 15/12/07.

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Por outro lado, na sociedade-mercado,o Outro é facilmente considerado umaameaça levando a que cada um se en-cerre nos limites da sua subjectividade,conduzindo ao esquecimento do outroou, em casos-limite, à sua rejeição.Sucede, então, que as batalhas de ou-trora deram lugar às guerras culturaisde hoje que ocorrem entre culturas es-tranhas entre si, em que todos, brancose negros, homens e mulheres, adeptosde uma religião ou de outra, ou mesmosem religião, nada mais são que inimi-gos.Paralelamente a este conjunto de factoscom os quais lidamos no dia-a-dia, tam-bém é possível constatar a existência desituações de evidente respeito pelaalteridade e compreensão das diferen-ças através do aparecimento de váriosmovimentos sociais (mulheres, crianças,homossexuais, negros, ecologistas), bemcomo de movimentos de pensamentoanti-autoritário, que valorizam a auten-ticidade, a descentralização, a democra-tização, o poder da imaginação sobrea materialidade.Consequência do que acabamos de afir-mar, o pensamento pós-moderno cons-titui expressão inevitável de uma criserelativamente aos modelos éticos conven-cionais e tradicionais, dada a acentuadapluralidade de concepções e de compor-tamentos no campo moral, a perda deeixos matriciais comuns, a confusão devalores, num contexto de globalização doparadigma neoliberal, que se vai impon-do como se fosse a única alternativaviável (Lipovetsky, 2007).A estes factos, acresce a enorme difi-culdade em responder satisfatoriamenteàs novas questões que a bioética nos vaicolocando, ou ainda, a necessária(re)formulação da resposta para antigosproblemas morais.

O homem pós-moderno, orientado pelasua vontade e desejo de autonomia,passa agora a agir somente em obedi-ência a si mesmo (liberdade) e não emrelação ao bem e à verdade comuns(princípio da utilidade). Assim sendo,nunca como agora, alguns valores típi-cos da sociedade moderna, como aliberdade, a dignidade e os direitoshumanos, correm permanentemente orisco de desaparecer.O materialismo exacerbado não tem,pois, em consideração o equilíbrio dosrecursos naturais e, incentivado por umacultura tecnocrát ica e pela moralutilitarista, vemos instaurar-se cada vezmais uma tendência para avaliar a im-portância das coisas e das pessoas, combase na sua funcionalidade imediata.A perspectiva pós-moderna hedonistaidentifica a felicidade com todas as for-mas de prazer substituto da virtude.Todo o prazer possível é legítimo, pelofato de que possa ser experimentado enão porque seja moralmente bom(Lipovetsky,2007).A sociedade de hoje organiza-se em fun-ção de uma ética individualista em queo mais importante é tirar vantagem detudo. Não importam, por isso, os gra-ves problemas sociais de pobreza e ex-clusão, o acentuar da crise ambiental,o desequilíbrio da acumulação de rique-za, o aumento de violência e dos pre-concei tos sociais , a corrupção, oclientelismo, o autoritarismo, o oportu-nismo e tantas outras práticas de abusode poder e ganância irresponsável.A nossa sociedade assume, assim, umavertente característica paradoxal, umavez que a par das dimensões negativasacima referidas, regista-se, igualmente,o aumento de consciência na defesa dosdirei tos pela dignidade humana(Lipovetsky,2007).

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A globalização8 e a informacionalização(Castells, 2007:85), causaram um impac-to gigantesco sobre a sociedade geran-do, em última análise, uma enormepopulação excluída.Por sua vez, devido ao uso da comuni-cação e dos média, surgiram novas formasde interacção no mundo, novas formas derelação social, bem como um novo olharsobre o outro e sobre si mesmo (Castells,2007).Na verdade, as relações que antes eramrealizadas face-a-face assumem, agora,características mediáticas, sendo possívelrelacionarmo-nos com pessoas que estãoem lugares distantes do planeta (fenómenoda globalização).Adorno e Horkheimer (Escola de Frank-furt), consideram que a “indústria cultu-ral”, extremamente manipulativa, é forte-mente responsável pelo isolamento a quedestina as pessoas, influenciando o seujuízo crítico e racional e submetendo-as,incansável e intencionalmente, à publici-dade e ao consumo dos produtos que quervender.

A liberdade de escolha não passaria, então,de uma pura ilusão para o consumidor,sendo o conformismo o corolário máximoda indústria cultural. Trata-se, por isso, deobter o lucro a partir da domesticação daspopulações contemporâneas (Domingues,1999).Uma das características da IndústriaCultural consiste na repetição de fórmulasconsagradas, como a música popular ro-mântica e as histórias de happy ending;ou seja, não há o conhecimento do ouvintefrente a uma nova música, mas sim oreconhecimento. Mesmo ao ouvir a músi-ca pela primeira vez, ela já tem umafórmula familiar. O ouvinte passa, então,por um processo de reconhecimento, o quefaz com que ele aceite e goste desta “nova”música. Com isso as pessoas têm os seussentidos e desejos entorpecidos, limitan-do, assim, o exercício da sua sensibilidade(Thompson, 1995).O consumismo surge, agora, como umamentalidade dominada pela técnica quepretende transformar-se no seu motor epenetrar no íntimo da vida de todos comoum princípio de vida, moldando as pes-soas de tal maneira, que estas se deixemseduzir pela procura insaciável e constantede tudo o que é novo, sonho ou desejo;deste modo, o prazer e a felicidade estãosempre para além do que já foi alcançadocaindo-se, assim, numa escravização dodesejo (Thompson, 1995).A indústria liberal de bens de consumo elazer desfigurou as necessidades básicasdo ser humano, de tal modo que já nemele as reconhece, pelo que a satisfação dosprazeres assim gerados estão, uma vezmais, apenas ao alcance de quem temdinheiro, desvirtuando-se aqueles que estãopreocupados em “ter mais” prazer, do que“ser mais”.Por sua vez, as ameaças ecológicas (apoluição química nos mares suficiente para

_______________8 Globalização como conceito se refere tanto

à compreensão do mundo quanto à intensificaçãoda consciência do mundo como um todo…A mençãoà ideia de desglobalização por assim dizer, tenta-tivas de desfazer a compreensão do mundo deve-nos relembrar que o que correntemente chamamosde globalização é um processo longo, desigual ecomplicado (Robertson;1992:8-10). Nessa linha depensamento, Castells (2007:85,86) adverte-nos ain-da mais claramente que se a globalização e ainformacionalização, determinadas pelas redes deriqueza, tecnologia e poder estão a transformar onosso mundo, possibilitando a melhoria da nossacapacidade produtiva, criatividade cultural e poten-cial de comunicação, ao mesmo tempo, estão a privaras sociedades de direitos políticos e privilégios…arepentina aceleração do tempo histórico, aliada àabstracção do poder numa rede de computadores,tem vindo a desintegrar os actuais mecanismos decontrolo social e de representação política. É nestesentido que vemos instalar-se o caos, a desordeme a ausência de controlo de cada um sobre as suaspróprias vidas, o seu meio, os seus empregos.

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destruir o plâncton que renova uma boaparte do oxigénio da atmosfera; o “efeitoestufa” derivante dos poluentes atmosfé-ricos que atacam a camada de ozono, adestruição de grandes áreas de florestatropical que são uma fonte básica deoxigénio renovável; e a exaustão das terrasférteis como resultado do uso intensivo defertilizantes artificiais, entre outros), con-tinuam a constituir uma preocupação se-cundária guiadas pela procura exclusiva dolucro.O pensamento pós-moderno, é ainda,marcado pela provisoriedade e pelaefemeridade, no sentido em que se cons-titui como um processo de rejeição do uno,do imutável e do eterno em direcção àdiferença, à pluralidade, à mudança e aocontingente. Tudo é provisório, porque asnossas estruturas de pensamento são ins-táveis e mutáveis. Tudo é consideradocomo produto do tempo e do acaso. Acontingência é, portanto, o princípio dopensar, de modo que vivemos num mundoconsciente de que não há estruturas só-lidas e essenciais: o provisório, o efémeroe o temporário tornaram-se mais expres-sivos que o eterno, o imutável e o subli-me, pelo que é urgente desenvolver umpensamento que promova uma estratégiainteligente capaz de fazer face à incertezae à contingência.Hoje assistimos, portanto, a uma perda dosentido ético, um grande vazio de sentido(Lipovetsky,1989), fruto do homemconsumista, bem como à deterioração dasrelações humanas caracterizada pela indi-ferença em relação à vida, seja de animaisou de pessoas, sem uma forte ligação comum sentido e com valores que, evidente-mente, não devem servir de algemas ougrilhões, mas de ajuda e protecção.Chama-nos ainda a atenção, o grandepluralismo de valores, numa proliferaçãodo relativismo, sob a égide do “não existe

nada de absoluto”, do “vale tudo”. Mer-gulhamos, assim, no campo do instável,do banal, do “viver cada instante”, do “aquie agora” à margem de toda e qualquerreferência.No entanto, a par desta crise de valores,é possível identificar ainda espaços devalorização de liberdade individual queincentivam o sujeito a encontrar critériospara o seu comportamento a partir de simesmo, da sua razão e liberdade, assumin-do uma atitude autónoma e crítica face aosvalores tradicionais.

3. Pós-modernidade e educação: desa-fios e possibilidades

Perante o cenário pós-moderno paradoxaldescrito, em que tudo é incerteza,efemeridade, mutabilidade e fluídez, mastambém defesa da liberdade humana eautonomia individuais, de que modo é quepodemos pensar que estas questões influ-enciam a educação?Como educar o homem de amanhã?Nesta era em que muitos docentes vivem,conscientemente ou inconsciente, o mal-estar da modernidade (Hargreaves,1998),quais são os desafios que se colocam hojeaos professores ao nível da sua formação?Ao olharmos para a escola actual, veri-ficamos a existência de uma fragmentaçãodo conhecimento, um processo de avali-ação por conteúdos, embora sem grandesignificado para os alunos, facto que a tornamenos significativa e menos valorizada,sobretudo se se distanciar da sua funçãode problematização.Por sua vez, o professor moderno é pre-parado para o previsto, o controlável e,qualquer tipo de problematização, aindaque ocasional, provoca tensões enormes eé considerada uma ameaça à virtualidadedo seu papel e da sua função, sendo objectode eliminação pelo poder.

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Assente numa cultura de homogeneidade,a escola da modernidade apresenta umahomogeneização a vários níveis - dosprofessores, das disciplinas e da organi-zação curricular - onde os saberes seapresentam de um modo mais ou menosestático e hermético e o professor não sentegrande necessidade de renovação dosconhecimentos nem de formação contínua(Barroso, 1995).Deparamo-nos, assim, com uma escolacaracterizada por uma organização pedagó-gica que visa a homogeneização dos alu-nos e a uniformização das práticaseducativas (Barroso, 1998:13), onde aautoridade do professor assenta em sabe-res mais ou menos estereotipados, perma-nentes, imutáveis e indiscutíveis, maisdirigidos à memória do que, propriamente,ao desenvolvimento de competências ecapacidades, transmitidos vertical ehomogeneamente aos alunos9 Em suma,uma escola que ainda se podia dar ao luxode preparar os seus filhos para viver numasociedade semelhante à sua (Leite &Orvalho, 1995:27).E, se é um facto que para a escola damodernidade era suficiente o tipo deformação existente, dada a perenidade doparadigma epistemológico em que assen-tava, com a época da pós-modernidade, asgrandes mudanças sociais, políticas eeconómicas entretanto verificadas(Touraine, 1994; Giddens, 1998; Lyotard,2003; Pourtois & Desmet, 1999;Hargreaves, 1998), as TIC e, consequen-temente, a nova contingência dos saberes,passaram a exigir aos professores umacorrespondente atitude de permanentereflexão-acção, baseada no diálogo, noreconhecimento da contingência e da

problematização das questões, procurandoa sua articulação com os problemas da vidaquotidiana.Um exemplo do que acabamos de referir,prende-se exactamente com os desafios/dilemas que a escola actual enfrenta, e quepõem em questão tanto a sua possibilidadecomo a sua capacidade de ser desejada.Assim, como é que, apesar de defender-mos uma escola democrática que promovea formação de indivíduos para que pen-sem e se comportem de forma autónoma,racional e criativa, esse ideal ainda estátão longe de ser atingido?Para Terrén (1998), a resposta a estaquestão, encontra-se no facto de se esta-rem a verificar simultaneamente alteraçõesnos planos económico (trabalho), político(participação) e cultural (valores, crençase tradições) e que afectam profundamentea forma como a educação pública, raci-onal e democrática, por sua vez, está aenfrentar o desafio da condição pós-mo-derna. Algumas dessas reacções são aindiferença, o relativismo e adesmotivação.Que efeitos é que a percepção do ambi-ente hostil às formas tradicionais de tra-balho podem ter sobre o campo da edu-cação?O facto é que, quando colocados perantea ideia de um futuro marcado pela incer-teza quanto à obtenção de emprego na áreaem que se pretendem formar, muitosjovens, desanimados, desistem de continu-ar a elaborar projectos para o futuro.Por outro lado, em relação àqueles que jáse encontram a trabalhar, a sua grandemaioria sente-se desmotivada, porque sabeque, dadas as circunstâncias actuais de forteinstabilidade económica, o seu empregonão irá durar sempre.Todavia, ao afastar cada vez mais aspessoas do âmbito relacional do trabalhoverifica-se uma forte desvinculação social,pois, em vez dele, é o desânimo e a

_______________9 Costa, V. A formação contínua na pós-moder-

nidade (http://www.Cf-francisco-holanda.rcts.pt/public/elo8/elo8_28.htm). Consultado a 10/12/07.

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desmotivação que traçam as trajectórias decada um (Castel,1995); ora, tal facto, éextremamente empobrecedor, na medidaem que desqualifica os indivíduos doexercício da sua própria cidadania.(Terrén,1998). Trata-se, em última análise,de uma cidadania negativa.Que pode, então, a educação fazer peranteeste conjunto de desafios?Uma forma de os suplantar poderá estarna (revisão) da ideia de aprendizagem, eixocentral do trabalho escolar, que passe aremeter o conjunto de preocupações eobjectivos não só para a formação, mastambém para a preparação para a vidaactiva.Neste sentido, trata-se de desenvolverestilos de ensino mais participativos, quefavoreçam o diálogo e a negociação, emvez de se basearem no simples princípioda autoridade assimétrica, em rotinas nãoquestionadas e pré-estabelecidas - quepossibilitem o desenvolvimento de com-petências comunicativas e relacionais,criativas e participativas, bem como deiniciativa permitindo, deste modo, umaintegração mais activa capaz de ajudar alidar com a flexibilidade e adescontinuidade que, certamente, os espe-ra10.E o que dizer da indiferença, da apatia,do desafecto político, da desconfiançaquanto à forma como a política funciona?Ou, mesmo, da fragmentação cultural a queconstantemente assistimos, geradora denovas exclusões que afastam, assim, umdeterminado grupo de pessoas da vida eda participação cívica?Que desafios se colocam à educação nestescasos?

Em nosso entender, é fundamental resta-belecer o exercício da cidadania activaatravés de uma intervenção e de umaparticipação mais democrática dos alunosna vida política escolar, ainda tão defici-tária, como forma de ajudar a vencer asinércias de uma cidadania representativaque, hoje em dia, tendem a ser exploradaspelas orientações neoliberais. Da mesmaforma, é igualmente fundamental insistirnas práticas de inclusão capazes de darlugar a uma cidadania mais activa einterventiva numa sociedade que se pre-tende que seja cada vez mais democrática.A diferença principal reside, então, nomodus faciendi que considera que asrelações de poder, entendidas na perspec-tiva foucaultniana (1998), sãoquestionáveis, desnaturalizadas, devendoser verdadeiramente analisadas, discutidase desconstruídas.Todavia, e este é um facto importante, nãose trata apenas de reconhecer a existênciadessas relações de poder nem tão somentede as compreender, pois, nesse caso, te-ríamos novas dicotomias.Como adverte Freire (1999), a questão nãoreside somente no facto de termos cons-ciência da opressão, mas de possuirmosum saber crítico relativamente à mesmainspirada numa prática experiencial,(conscientização), a qual não pertenceexclusivamente ao domínio da consciên-cia logocêntrica, mas ao da reflexãoepistemológica e da capacidade deproblematizar criticamente o “dado”.Assim sendo, o fim das certezas cientí-ficas, geradora de insegurança, transmiteaos professores uma necessidade cada vezmaior de reduzir tais incerteza, acompa-nhada da necessidade de procurar outrasfontes de actualização de conhecimento,seja através de uma formação contínua epermanente, seja através da formação aolongo da vida (Delors,1996), numa atitude

_______________10 Gatti, B. Pós-modernidade, educação e pes-

quisa: confrontos e dilemas no início de um novoséculo (http://www.scielo.br/pdf/cp/v35n126/a04n126.pdf), Consultado a 15/12/07.

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de permanente reflexão-acção. O modelodo professor reflexivo, avançado por Schön(1983), Perrenoud (2002), Alarcão eTavares (1996), entre tantos outros, impõe-se, portanto, como um paradigma absolu-tamente necessário.Também para Habermas (1992), é possí-vel sair deste contexto limitador e contra-ditório que são as condições instauradaspela modernidade, através da sua propos-ta, a teoria da acção comunicativa e doque designa de “razão comunicacional” ourazão dialógica.Em seu entender, basta mudar o centro dereferência, e instaurar-se uma racionalidadedetentora de consciência reflexiva e deracionalidade dialógica, em que a suavalidade assenta na argumentação racionale não na vontade arbitrária do sujeito.Dado que a escola não pode manter-sealheada à formação de uma cultura derespeito pela dignidade humana, de valo-res como a liberdade, a justiça, a igual-dade e a solidariedade, aquela deverá serreconsiderada como uma organizaçãodemocrática, onde o diálogo, no sentidohabermasiano do termo, deverá visaracordos significativos que só serão justosse respeitarem certos princípios11.Esta atitude dialógica que a educação devefomentar potencia o aparecimento de umaconsciência crítica, o reconhecimento dosoutros como interlocutores válidos comdireito a expressarem os seus interesses,o desenvolvimento de capacidades departicipação num colectivo, a procura deuma decisão final que expresse interessesuniversalizáveis, através da obtenção deconsensus.Em última análise, a escola, como orga-nização dialógica comunicativa, não pode

ficar indiferente aos princípios de justiça,à igualdade e aos direitos humanos faceà diversidade e à pluralidade.O diálogo aparece, então, como a condi-ção sine qua non para a participação detodos no diálogo (em condições de reci-procidade), pois é através dele que seconsegue a racionalização dos argumen-tos.Deste modo, Habermas proclama umaracionalidade processual entregue unica-mente à força racional dos seus argumen-tos, livre de quaisquer constrangimentos,interiores ou exteriores, os quais alcançamvalidade a partir do momento em que todasas pessoas que afecta conseguem pôr-sede acordo democraticamente.Constatamos, assim, que a éticahabermasiana se caracteriza por uma pre-ocupação que recai sobre o fundamento davalidade das normas, numa discussãoprática, na qual tomam parte todas aspessoas nela implicadas. E é graças a esteprocedimento de validação das normas queestas podem vir a obter um reconhecimen-to intersubjectivo.Todavia, não se trata de um consensoqualquer mas, como já adiantamos, de umconsenso “fundado” sob determinadascondições definidas pelas regras da argu-mentação. Para além disso, embora nãomenos importante, o princípio da ética dodiscurso, tal como Habermas o entende,impede que se possam ver especificadosdeterminados conteúdos normativos emnome de uma autoridade filosófica e deos fixar, definitivamente, em nome de umaqualquer teoria moral (Pedro,2007).Deste modo, propõe uma importante enecessária reformulação do princípio ca-tegórico a partir dos paradigmas da lógicada comunicação: em vez de impor a todosuma máxima que eu quero que seja umalei universal, devo submeter a minhamáxima a todos os outros a fim de exa-

_______________11 Habermas refere-se aos princípios de since-

ridade, de inclusão de todos os interlocutores, todosos interesses devem estar sujeitos à revisãoargumentativa, respeito pela diferença do outro.

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minar, pelo discurso, a sua pretensão àuniversalidade.Neste sentido, as decisões, numa perspec-tiva comunicativa, estão nas mãos dospróprios sujeitos implicados, são tomadaspor consenso democraticamente, prevale-cendo o melhor argumento, que se vaiconstruindo e enriquecendo com a refle-xão e a participação de todos os actoresno discurso. Deste processo emerge acondição do espaço público, lugar porexcelência da palavra. (Pedro, 2007)É neste sentido que Habermas, autor daética dialógica, denuncia a actual falta dedemocraticidade nas relações sociais pre-conizando, por isso, a necessidade de umatransformação cultural, assente em novasbases teóricas.O exercício da crítica exige, portanto, umcritério e é a partir de uma racionalidadeprática, a partir da universalidade da razãoe a partir da incondicionalidade do prin-cípio ético, que a ética discursiva se opõea todo o dogmatismo, oferecendo umcritério de validade universal que permitesuperar a mera vigência fáctica (Pedro,2007).Mas, apesar de admirarmos este pensamen-to precisamente por contribuir para umavinculação democrática do discurso éticoe, assim, ser capaz de melhor e maisadequadamente responder às complexida-des da sociedade hodierna, não podemosdeixar de identificar, no entanto, algumasdas suas limitações, nomeadamente, quan-to à forma como este consenso é obtido.Em primeiro lugar, como superar asassimetrias que marcam nitidamente asrelações sociais condicionadas que estão,pelos interesses egoístas, pelas lutas depoder e que, inevitavelmente, introduzemconflitos inviabilizadores de consensos?Por outro lado, como assegurar a verda-deira comunicação, o exercício de diálogoracional imprescindível à justificação

argumentativa dos juízos moraisconducente, deste modo, ao estabelecimen-to de consensos, geradores de acordosintersubjectivos?Deveremos associar a validade ou a jus-teza de uma norma social a um consensointersubjectivo sem considerar a sua de-pendência das pressões e condicionamen-tos presentes numa discussão, ainda quetal se verifique em condições radicalmentedemocráticas?Para além disso, o conceito de comuni-cação habermasiano pressupõe a imparci-alidade, mas não a pode fundamentar, nãosendo capaz de resolver o hiato entre ascondições ideais de comunicação e ascondições reais; i.é, por deixar de lado osaspectos volitivos e dar prioridade somen-te aos aspectos cognitivos (Ferry, 1996).Todavia, consideramos ser este, efectiva-mente, o enorme potencial que a educaçãopode desempenhar, na medida em que umaintervenção no sentido da formação críticae reflexiva permitirá ao sujeito afirmar-seplenamente na sua cidadania.

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