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Psicologia e Educação 49 Vol. V, nº 1, Jun. 2006 A Escala de Provisões Sociais: uma medida da percepção do suporte social Maria do Rosário Moura Pinheiro* Joaquim Armando Alves Ferreira** Resumo: Apresentam-se dois estudos (A e B) de adaptação e validação da Escala de Provisões Sociais-SPS (The Social Provisions Scale; Russel & Cutrona, 1984), um instrumento de avaliação da percepção do suporte social. Os resultados obtidos em duas amostras de estudantes universitários (NA=175; NB=219) permitiram verificar que a escala total (24 itens), de acordo com o construto de provisões sociais subjacente (Weiss, 1974, Russell & Cutrona, 1984), apresenta uma consistência interna muito satisfatória (alfa de Cronbach no valor de .91). Relativamente às seis subescalas (Integração social, o Reforço do valor, Orientação, Aliança, Vinculação e Oportunidade de cuidar) que a compõem, os valores de alfa variaram entre .68 e .75. As análises em torno da validade convergente e divergente da SPS, revelaram correlações significativas e positivas com medidas de personalidade (como a extroversão), de auto-estima, e de bem-estar psi- cológico, significando que são os indivíduos com níveis mais elevados naquelas medidas que tendem a apresentar níveis mais elevados de suporte social percebido, isto é de satisfação das suas necessidades relacionais. As correlações negativas e muito signi- ficativas com uma medida de solidão representaram a tendência para serem os indivíduos que se percebem como menos apoiados os que sofrem de maior solidão. De uma forma geral os resultados encontrados, nesta amostra de estudantes universitários portugueses, mostram o valor desta medida das provisões sociais enquanto indicadora do bem-estar psicológico e do isolamento social e emocional dos indivíduos. Palavras-Chave: Suporte social; Provisões sociais; Necessidades relacionais The Social Provisions Scale: A measure of the perceived social support Abstract: Two studies (A and B) of adaptation and validation of the Social Provisions Scale – SPS (Russel & Cutrona, 1984), an instrument of evaluation of the perceived social support, are presented. A very satisfactory internal consistency (alpha of Cronbach of .91) of the total scale (24 items), in accordance with the social provisions concept underlying (Weiss, 1974, Russell & Cutrona, 1984), in two samples of university students (NA =175; NB=219) was obtained. Concerning the six subscales (Attachment, Social integration, Reassurance of worth, Reliable alliance, Guidance and Opportunity for nurturance) of this scale the values of alpha had varied between .68 e.75.. Further examinations about the SPS convergent and divergent validity, showed significant and positive correlations with measures of personality (as the extroversion), of self-esteem, and psychological well-being. This means that the individuals with higher levels in those measures tend to present higher _______________ * Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Membro do Centro de Psicopedagogia da Universidade de Coimbra E-mail: [email protected]). ** Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Membro do Centro de Psicopedagogia da Universidade de Coimbra. Trabalho elaborado com o apoio do Centro de Psicopedagogia da Universidade de Coimbra [FEDER/POCTI-SFA-160-490].

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Psicologia e Educação 49

Vol. V, nº 1, Jun. 2006

A Escala de Provisões Sociais: uma medida da percepção do suportesocialMaria do Rosário Moura Pinheiro*Joaquim Armando Alves Ferreira**

Resumo: Apresentam-se dois estudos (A e B) de adaptação e validação da Escala deProvisões Sociais-SPS (The Social Provisions Scale; Russel & Cutrona, 1984), uminstrumento de avaliação da percepção do suporte social. Os resultados obtidos em duasamostras de estudantes universitários (NA=175; NB=219) permitiram verificar que aescala total (24 itens), de acordo com o construto de provisões sociais subjacente (Weiss,1974, Russell & Cutrona, 1984), apresenta uma consistência interna muito satisfatória(alfa de Cronbach no valor de .91). Relativamente às seis subescalas (Integração social,o Reforço do valor, Orientação, Aliança, Vinculação e Oportunidade de cuidar) que acompõem, os valores de alfa variaram entre .68 e .75. As análises em torno da validadeconvergente e divergente da SPS, revelaram correlações significativas e positivas commedidas de personalidade (como a extroversão), de auto-estima, e de bem-estar psi-cológico, significando que são os indivíduos com níveis mais elevados naquelas medidasque tendem a apresentar níveis mais elevados de suporte social percebido, isto é desatisfação das suas necessidades relacionais. As correlações negativas e muito signi-ficativas com uma medida de solidão representaram a tendência para serem os indivíduosque se percebem como menos apoiados os que sofrem de maior solidão. De uma formageral os resultados encontrados, nesta amostra de estudantes universitários portugueses,mostram o valor desta medida das provisões sociais enquanto indicadora do bem-estarpsicológico e do isolamento social e emocional dos indivíduos.Palavras-Chave: Suporte social; Provisões sociais; Necessidades relacionais

The Social Provisions Scale: A measure of the perceived social support

Abstract: Two studies (A and B) of adaptation and validation of the Social ProvisionsScale – SPS (Russel & Cutrona, 1984), an instrument of evaluation of the perceived socialsupport, are presented. A very satisfactory internal consistency (alpha of Cronbach of .91)of the total scale (24 items), in accordance with the social provisions concept underlying(Weiss, 1974, Russell & Cutrona, 1984), in two samples of university students (NA =175;NB=219) was obtained. Concerning the six subscales (Attachment, Social integration,Reassurance of worth, Reliable alliance, Guidance and Opportunity for nurturance) of thisscale the values of alpha had varied between .68 e.75.. Further examinations about theSPS convergent and divergent validity, showed significant and positive correlations withmeasures of personality (as the extroversion), of self-esteem, and psychological well-being.This means that the individuals with higher levels in those measures tend to present higher

_______________* Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Membro do Centro

de Psicopedagogia da Universidade de Coimbra E-mail: [email protected]).** Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra. Membro do Centro

de Psicopedagogia da Universidade de Coimbra. Trabalho elaborado com o apoio do Centro de Psicopedagogiada Universidade de Coimbra [FEDER/POCTI-SFA-160-490].

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levels of perceived social support, which means the satisfaction of their relational needs.The significant and strong negative correlations with a measure of loneliness revealedthat the individuals who perceive less supported are the ones who suffer from biggerloneliness. In a general way this finding, on a Portuguese university students sample,demonstrate the value of this measure of the social provisions as an indicator about thepsychological well-being and the social and emotional isolation of the individuals.Key-words: Social Support; Social provisions; Relational needs

Introdução

O conceito de provisão social, ficou a dever-se ao sociólogo Robert Weiss, que ao es-tudar as necessidades relacionais afirmouque estas são de duas categorias: de per-tença a uma rede ou grupo social e deintimidade num relacionamento específico.Satisfazendo a primeira categoria de neces-sidades os indivíduos evitam o isolamentosocial, satisfazendo a segunda evitam o iso-lamento emocional.Weiss (1974) que começou por se dedicarao estudo da solidão logo reconheceu quediferentes contextos, problemas ou situaçõesvividas pelos indivíduos requerem diferen-tes formas de apoio que designou de pro-visões sociais. Identificadas por Weiss comosendo também as seis funções essenciaisdos relacionamentos interpessoais quepodem satisfazer as duas categorias denecessidades relacionais referidas, as seisprovisões sociais são a vinculação, a inte-gração social, o reforço do valor, a aliança,a orientação e a oportunidade de cuidar.A partir das concepções de Weiss outrosinvestigadores abordaram os relacionamen-tos interpessoais, enquanto fontes de suportesocial, verificando que estes tendem a espe-cializar-se nos benefícios ou provisões quedisponibilizam, embora o mesmo relaciona-mento possa fornecer várias provisões, e sepossa recorrer a vários relacionamentos inter-pessoais para garantir uma determinadaprovisão social (Cutrona, 1982; Cutrona &Russell, 1987; Russell & Cutrona, 1984). Istofaz com que a avaliação das provisões sociais

seja considerada uma peça fundamental,senão imprescindível, na avaliação da per-cepção do suporte social.É a partir da operacionalização das seisprovisões sociais enunciadas por Weiss quesurgem os trabalhos desenvolvidos porDaniel Russell e Carolyn Cutrona, nos anos80, e dos quais resulta a construção da SocialProvisions Scale-SPS, um instrumentodestinado a avaliar a percepção individualdas funções de suporte social dos relaci-onamentos interpessoais, através da carac-terização do grau de presença ou ausênciade cada provisão nos relacionamentosinterpessoais de cada indivíduo. Desdeentão, a SPS é utilizada por muitos inves-tigadores como uma escala de avaliação dosconteúdos de suporte social proporcionadospelas interacções e relacionamentosinterpessoais em situações de transição ede mudança, essencialmente em situaçõesenvolvendo alguns níveis de stresse, soli-dão e mal-estar.A versão original da SPS, com 24 itens,constituiu-se como uma medida da percep-ção de seis provisões sociais1 originalmentedesignadas de attachment, social integration,reassurance of worth, reliable alliance,guidance e opportunity for nurturance.Assim, a sub-dimensão Vinculação

_______________1 Quanto à designação da escala, a tradução por

Escala de Provisões Sociais procurou ser o mais fielpossível à tradução do termo provision e ao que sa-bemos ser o conteúdo semântico comum às duaslínguas (o que, sendo dado por alguém, está arma-zenado e disponível para servir de apoio, de bene-fício ou de ganho).

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(attachment) avalia a existência de umsentido de proximidade emocional e desegurança dados pelas relações interpessoais.A Integração Social (social integration)representa o sentido de pertença a um grupoque partilha ou tem em comum um conjuntode interesses ou actividades. O reforço dovalor (reassurance of worth) é a provisãoque traduz o reconhecimento dos outros emrelação à nossa própria competência, apti-dões e valores. A Aliança (reliable alliance)significa a garantia, a certeza, de que se podecontar com os outros para nos darem umaassistência tangível ou concreta dirigida àresolução de um problema; a Orientação(guidance) refere-se a uma função de infor-mação e aconselhamento; e por fim, aOportunidade de Cuidar (opportunity fornurturance) procura traduzir o sentido da res-ponsabilidade pelo bem-estar de outra pes-soa (Cutrona & Russell, 1987; Cutrona,Russel & Rose, 1986; Russell & Cutrona,1984; Weiss, 1974).Utilizada em variadas populações, a consis-tência interna da escala global é relativamenteelevada, flutuando entre .85 e .92. Os co-eficientes alfa para as subescalas variam entre.64 e .76 (Cutrona & Russell, 1987). Ascorrelações encontradas entre as seis dimen-sões revelaram-se elevadas, oscilando entre.55 e .89, valores manifestamente elevadose que exigem uma análise profunda dacomposição factorial da SPS2. Nos estudosoriginais (N=1792) a estrutura factorial doinstrumento, mediante a realização de umaanálise factorial confirmatória, corroborou aexistência de seis factores de primeira or-dem (correspondentes às seis provisõessociais) e a existência de um único factorde segunda ordem (Russell & Cutrona, 1984,citados por Cutrona & Russell, 1987, p. 47).A análise dos diversos índices obtidos levouos autores da SPS a concluírem pela exis-tência de componentes específicas do supor-

te social para além de uma componenteglobal da percepção do suporte social.Estudos vários, usando uma metodologia deavaliação da validade convergente (avalian-do as correlações elevadas entre a SPS eoutras medidas de suporte social) e diver-gente (avaliando as correlações entre a SPSe outras medidas de construtosconceptualmente distintos) têm vindo a apoiara validade descriminante da SPS. Comoesperado, as correlações da SPS com outrosinstrumentos de suporte social foram maiselevadas do que as encontradas com outrasmedidas psicológicas (Cutrona & Russell,1987). A satisfação das necessidadesrelacionais surge, assim, positivamentecorrelacionada com o número de entidadesde suporte disponíveis (com a dimensão darede avaliada pelo Social SupportQuestionnaire3 a correlação da pontuaçãoglobal da SPS foi de .40, p≤.001), com asatisfação com o suporte social (com adimensão satisfação com a rede avaliada peloSocial Support Questionnaire a correlação dapontuação global da SPS foi de r=.35,p≤.001). Noutros estudos, a maioria com es-tudantes universitários, foi possível certifi-car a sua validade preditiva da SPS emrelação à solidão (Cutrona, 1982), à depres-são (Russell & Cutrona, 1984) e ao fenó-meno de burnout (Cutrona, 1986), estandotodas estas situações associadas a baixosníveis de provisões sociais.Os estudos que apresentamos tiveram comoobjectivo principal produzir a versão portu-guesa da Social Provisions Scale-SPS (Russel& Cutrona, 1984).

Método

Objectivo dos estudosOs estudos A e B que apresentamos,relativos à adaptação e validação da SPS,

_______________2 Os estudos da composição factorial da versão

portuguesa SPS serão oportunamente divulgados.

_______________3 A versão portuguesa do Social Support

Questionnaire também integra esta investigação.

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integraram um trabalho mais abrangente(Pinheiro, 2003). Em ambos os estudoslevou-se a cabo a avaliação das carac-terísticas psicométricas da Escala de Pro-visões Sociais e foram efectuados osestudos relativos à sua validade conver-gente e divergente. Nestes estudos, emduas amostras (A e B), aplicaram-sedistintos instrumentos de avaliação dedimensões teóricas de proximidade rele-vante, entre as quais: a satisfação e apercepção da disponibilidade da rede desuporte social, a solidão e a auto-estima,(estudo A e B), a extroversão e amabi-lidade (estudo A) e, ainda, o bem-estarpsicológico (estudo B).

AmostrasNesta secção é feita primeiramente a ca-racterização da amostra do estudo A seguin-

do-se a do estudo B. O Quadro 1 permitecomparar alguns dos dados de caracteriza-ção das amostras. A amostra do estudo Afoi constituída por 175 estudantes dosdiversos anos (1º ao 5º) das licenciaturasem Ciências da Educação (n=63); Psico-logia (n=80) e Engenharia Informática(n=32). Composta por sujeitos de ambosos géneros, 35 (20%) do género masculinoe 140 (80%) do género feminino, comidades compreendidas entre os 17 e os 27anos, a amostra apresenta uma média deidades de 20.63 anos (DP=2.15), um valorque pode ser considerado próximo damediana (20 anos) e da moda (19 anos).Os estudantes distribuem-se pelos diversosanos dos cursos a que pertencem, estando57 (32.6%) no primeiro ano, 65 (37.1%)no segundo, 13 (7.4%) no terceiro, 17(9.7%) no quarto e 23 (13.1%) no quinto.

,osruc,orenégsieváiravsadoãçiubirtsiD-1ordauQ)912=n(Be)571=n(Asodutsesonosrucodona

AodutsE BodutsE

n % n %

orenéG

onilucsaM 53 02 87 6.53

oninimeF 041 08 141 4.46

latoT 571 %001 912 %001

osruC

aigolocisP 08 7.54 601 4.84

oãçacudEadsaicnêiC 36 0.63 17 4.23

acitámrofnIairahnegnE 23 3.81 24 2.91

latoT 571 %001 912 %001

osruCedsonA

onAº1 75 6.23 37 3.33

onAº2 56 1.73 58 8.83

onAº3 31 4.7 31 9.5

onAº4 71 7.9 22 1.01

onAº5 32 1.31 62 9.11

latoT 571 %001 912 %001

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No estudo B a amostra foi constituída por219 sujeitos, de ambos os géneros, sendo78 (35.6%) do género masculino e 141(64.4%) do género feminino. As licenciatu-ras a que pertencem são, tal como acon-tece no estudo anterior, as de Psicologia(n=106), Ciências da Educação (n=71) eEngenharia Informática (n=42). Relativa-mente aos anos dos cursos a que estesalunos pertencem, verificou-se que 73(33.3%) frequentavam o primeiro ano, 85(38.8%) o segundo, 13 (5.9%) o terceiro,22 (10%) o quarto e 26 (11.9) o quintoano. Com idades compreendidas entre os18 e os 27 anos, a amostra apresenta umamédia de idades de 20.94 anos (DP=2.37),um valor igual ao da mediana (20) e damoda (20).

InstrumentosEscala de Provisões Sociais-SPS – A Escalade Provisões Sociais constitui a versãoportuguesa da Social Provisions Scale(Russell & Cutrona, 1987). O primeiropasso da sua adaptação, a tradução obe-deceu ao método tradução-retroversão (Hill& Hill, 2000) e envolveu os seguintespassos: (i) Tradução dos questionários paraportuguês, executada por dois portugueses,um com conhecimentos profundos doinglês e o outro com conhecimentos pro-fundos do inglês americano. O objectivodeste passo foi o de conseguir uma tra-dução que respeitando o mais possível otexto original, respeitasse também a sin-taxe, a gramática e as subtilezas da línguaportuguesa; (ii) Retroversão dos questio-nários por uma terceira pessoa, detentorade conhecimentos das duas línguas; (iii)Comparação das diversas versões de cadaquestionário, de forma a avaliar semelhan-ças e diferenças entre elas. Nesta fase acomparação foi feita pela equipa de in-vestigadores responsáveis do projecto deinvestigação, que recorreu aos esclareci-

mentos dos diversos tradutores sempre queentendeu necessário; (iv) Refinamento datradução, em que se pretendeu confirmara manutenção da ideia inerente a cada iteme, simultaneamente, fazer a sua adaptaçãolexical e semântica à língua portuguesa.Com o objectivo de proceder à adaptaçãodas instruções da escala e de continuar orefinamento da tradução aplicou-se oinstrumento a um pequeno grupo de 12indivíduos, estudantes universitários. Ime-diatamente após o preenchimento do ques-tionário por cada grupo, convidámos osparticipantes a falarem sobre os problemasencontrados no preenchimento do questi-onário, incluindo as próprias instruções.Este procedimento é considerado legítimo,pois melhora a validade e precisão aparentedo instrumento (Anastasi, 1977). Pelo factode não haver incompatibilidades entre atradução e a retroversão todos os itens daescala original permaneceram, dando ori-gem à versão portuguesa provisória da SPS.Na SPS cada uma destas dimensões éavaliada por quatro itens, dois que des-crevem a presença e dois que descrevema ausência da provisão. É, por exemplo,o caso dos itens 11 e 21, da sub-dimensãoAliança, respectivamente, Tenho relaciona-mentos próximos que me dão segurançaemocional e me proporcionam bem-estar(+) e Sinto falta de um sentimento deintimidade com outra pessoa (-). Os in-divíduos respondem numa escala de qua-tro pontos (de 1= Discordo Muito/ a 4=Concordo Muito) consoante cada afirma-ção descreve a actualidade das suas rela-ções interpessoais. Para obter os resulta-dos de cada subescala é necessário inver-ter os itens negativos (dois por subescala)sendo possível também obter um resultadoglobal a partir da soma dos 24 itens daescala.Juntamente com a SPS, no estudo A,administraram-se as versões portuguesas da

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Escala de Auto-Estima de Rosenberg (Seco,1991), da Escala de Solidão (Neto, 1989)e das Escalas de Extroversão e Amabili-dade do NEO-PI-R (Lima, 1997). Combase num pequeno questionário foi aindapossível recolher o que considerámosserem os dados demográficos essenciais.No estudo B, para além da SPS foramtambém utilizados dois dos instrumentosutilizados no estudo A: a Escala de Auto-Estima de Rosenberg (Seco, 1991) e aEscala de Solidão (Neto, 1989). Foramainda administradas as Escalas de Bem-Estar Psicológico (EBEP) de Ryff (Ferreira& Simões, 1999) e o Questionário deSuporte Social-SSQ6 (Pinheiro & Ferreira,2002).

ProcedimentosOs instrumentos referidos foram aplicadosaos sujeitos, isoladamente ou em peque-nos grupos, em diversos espaços perten-centes às Faculdades de Psicologia e deCiências da Educação e de Ciências eTecnologia (Departamento de EngenhariaInformática) nomeadamente, salas de es-tudo, bibliotecas e salas de aula. A recolhados questionários ocorreu durante os mesesde Junho e Julho de 2000. Realizaram-se18 sessões (comuns aos estudos A e B)de aplicação. Verificou-se que o temponecessário para o preenchimento da SPSé aproximadamente de 8 minutos.

Resultados

O processo de apreciação da Escala deProvisões Sociais-SPS iniciou-se com umaanálise por sujeito seguida de uma análisepor item, procedimento que conduziu àeliminação de questionários (5 no estudoA e 14 no estudo B). Uma vez que nãofoi encontrado nenhum padrão sistemáticona distribuição dos dados omissos (apenas

1 valor omisso por item, num total de 6itens na amostra do estudo A, e 7 valoresomissos num total de 6 itens na amostrado estudo B), estes foram substituídos pelamédia do item na respectiva amostra.A análise das características psicométricasda SPS iniciou-se com o cálculo das médias,desvios-padrão, correlações corrigidas dositens e índices de consistência interna, se-guindo-se o cálculo do coeficiente alfa deCronbach enquanto índice de fidelidade decada dimensão da SPS. Por último foirealizada uma análise exploratória da suacomposição factorial, pelo método deAnálise de Componentes Principais.Em ambos os estudos, os coeficientes decorrelação item/total da Escala de Provi-sões Sociais e item/total da subescala,foram, de uma forma geral muito signi-ficativas, exceptuando as do item 7 (dasubescala oportunidade de cuidar) queforam notoriamente inferiores. No estudoB o referido item apresentou uma corre-lação, embora significativa, de .25 (p≤.01)e no estudo A apenas apresentou umacorrelação de .17 (sendo necessário quefosse superior a .19 para um nível designificaria de p≤.05). Este item perma-neceu por se tratar de um item cujoconteúdo era importante e porque a suaexclusão não aumentava a consistência daescala global (Quadro 2). No seu conjuntoestes resultados permitiram manter os 24itens da escala original. No que diz res-peito à consistência interna os resultadosrevelaram um coeficiente alfa de Cronbachno valor de .91 para o total da SPS emambos os estudos (Quadro 2).De acordo com os objectivos destes es-tudos os dados foram submetidos a umaanálise factorial exploratória, utilizando ométodo de análise em componentes prin-cipais, com retenção dos factores queapresentaram valores próprios superioresa 1 e dos itens com saturações acima de

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:SPS–siaicoSseõsivorPedalacsEansodatluseR–2ordauQ)912=n(Be)571=n(AsodutsE

)571=n(AranimilerpodutsE )912=n(BranimilerpodutsE

metI M PDromes()meti

ahplaomes()meti

metI M PDromes()meti

ahplaomes()meti

1 67.3 84. ***64. 09. 1 .76.3 75. ***63. 09.

2 33.3 87. ***85. 98. 2 03.3 67. ***85. 09.

3 35.3 47. ***73. 09. 3 14.3 37. ***45. 09.

4 28.3 04. ***43. 09. 4 87.3 44. ***24. 09.

5 06.3 65. ***74. 09. 5 05.3 65. ***74. 09.

6 04.3 85. ***53. 09. 6 42.3 86. ***14. 09.

7 60.3 28. 71. 19. 7 29.2 87. *52. 19.

8 51.3 66. ***55. 09. 8 50.3 46. ***14. 09.

9 14.3 46. ***84. 09. 9 53.3 36. ***84. 09.

01 56.3 65. ***56. 98. 01 55.3 46. ***25. 09.

11 55.3 26. ***06. 98. 11 14.3 07. ***36. 09.

21 77.3 74. ***95. 09. 21 46.3 35. ***95. 09.

31 14.3 65. ***84. 09. 31 62.3 36. ***74. 09.

41 65.3 26. ***46. 08. 41 25.3 75. ***76. 09.

51 14.3 77. ***55. 09. 51 53.3 07. ***26. 09.

61 57.3 94. ***65. 09. 61 36.3 85. ***95. 09.

71 87.3 84. ***43. 09. 71 36.3 55. ***84. 09.

81 87.3 64. ***86. 98. 81 07.3 15. ***27. 09.

91 66.3 85. ***27. 98. 91 94.3 17. ***45. 09.

02 13.3 65. ***44. 09. 02 82.3 35. ***45. 09.

12 90.3 69. ***84. 09. 12 99.2 49. ***64. 09.

22 55.3 65. ***36. 98. 22 74.3 65. ***06. 09.

32 26.3 36. ***36. 98. 32 95.3 95. ***65. 09.

42 14.3 26. ***45. 09. 42 63.3 26. ***84. 09.

latoTSPS 73.48 32.8 19.=ahpla latoTSPS 80.28 36.8 19.=ahpla

p* ≤ p**;50. ≤ p***;10. ≤ 100.

.50. O Índice de Kaiser-Mayer-Olkin foide .873 (Chi-Square Bartlett’s Test ofSphericity (df=276)=1764.04; p<.001) noestudo A, e de .900 no estudo B (Chi-Square Bartlett’s Test of Sphericity(df=276)=2034.42; p<.001), indicando nosdois casos que a análise das componentesprincipais pode ser executada. Em ambasas amostras a solução inicial (sem rotação

dos eixos) revelou a presença de um factorque agrupava 23 itens, ficando apenasexcluído o item 7 da subescala de opor-tunidade de cuidar por apresentar valoresde saturação de .18 (n=175) e de .27(n=219). No estudo preliminar A, avariância explicada pelo factor era de 37.78(valor próprio=8.11) e no estudo B era de33,69 (valor próprio=8.09).

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Em relação ao estudo A (n=175) as res-tantes saturações situavam-se entre .38 e.47 para 5 itens da SPS (3, 4, 6, 17 e 20)e acima de .50 para os demais itens. Emrelação ao estudo B (n=219) as restantessaturações situavam-se entre .43 e .46 para2 itens da SPS (1 e 6) e acima de .50nos restantes itens.A realização da análise de componentesprincipais seguida de rotação Varimax, nosdois estudos A e B, revelou a presença de6 factores aumentando a percentagem davariância explicada para 61% (estudo B)e 62.5% (estudo A). No entanto, a matrizresultante, não se revelou interpretável emfunção das dimensões esperadas pelo queprosseguimos com a análise das subescalasem função dos agrupamentos de itenssugeridos por Cutrona e Russell (1987).Para as subescalas (Quadro 3) os resul-tados da consistência interna foram umpouco diferentes nos dois estudos, osci-lando, no estudo A, entre .60 (na opor-tunidade de cuidar) e .82 (na aliança); eno estudo B, variando entre .58 (na opor-tunidade de cuidar) e .75 (na integraçãosocial). No entanto, tal como aconteceu nosestudos originais, os valores encontradospodem certamente estar relacionados como baixo número de itens por subescala(somente quatro) sugerindo que se utilizepreferencialmente o resultado global e queem estudos com amostras maiores serevejam as propriedades psicométricas dassubescalas. O Quadro 3 apresenta para cadasubescala e respectivos itens as correla-ções corrigidas e índices de consistênciainterna.Tal como em estudos de outros autores,também nos presentes estudos as correla-ções encontradas entre as possíveis pon-tuações da SPS se revelaram elevadas(Quadros 4 e 5). Entre as seis subescalasas correlações oscilaram entre .33 e .65,no estudo A e, entre .42 e .65 no estudo

B. Estes valores foram ainda superiores noque respeita às correlações de cada pon-tuação parcial com a escala global. Nosestudos A e B a variação dessas correla-ções foi, respectivamente, de .67 a .82, ede .72 a .83. De facto são valores eleva-dos, o que contribuiu para reforçar anecessidade de uma análise profunda dacomposição factorial da SPS, caso sepretendam utilizar os resultados parciaisda SPS (Cutrona & Russell, 1987).Desta forma manteve-se a SPS com 24itens que permitem obter um resultadoglobal que parece ser o escore mais apro-priado, já que os índices de consistênciainterna das subescalas são, na sua maioria,inferiores a .75, e as correlações destas coma escala global são realmente elevadas,tudo apontando para a existência de umadimensão geral. As correlações entre a SPSe as diferentes escalas utilizadas paraavaliação da validade concorrente encon-tram-se no Quadro 6 (estudo A) e noQuadro 7 (estudo B), podendo afirmar-seque na globalidade foram encontradosindicadores que apontam para a sua va-lidade de constructo.A SPS apresenta correlações significativase positivas com a medida de extroversãoutilizada (.38≤ r ≤.59), assim como coma escala de auto-estima (com excepção dasubescala oportunidade de cuidar o valorde r varia entre .31 e .44), sugerindo queos indivíduos que obtêm maior pontuaçãonas provisões sociais manifestam umatendência para a extroversão, uma auto-estima mais elevada e, simultaneamente,sentem menos solidão (as correlações coma escala de solidão são muito significativase negativas, variando entre .37 e .76).Curiosamente os resultados obtidos emrelação à medida de amabilidade surpre-endem por não estarem correlacionados demodo significativo com a oportunidade decuidar. De facto, esta subdimensão parece

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aflaetneicifeocesnetisodsadigirrocseõçalerroC-3ordauQsalacsebussadhcabnorCed

salacsebuS571=n

)metiomes(rahpla

)metiomes(912=n

)metiomes(rahpla

)metiomes(

oãçatneirO

3metI 33. 87. 54. 96.

21metI 06. 95. 45. 46.

61metI 75. 06. 55. 26.

91metI 55. 95. 94. 66.

latoT 86.1=PD;7.41=M 47.=ahpla 88.1=PD;2.41=M 37.=ahpla

rolaV.feR

6metI 83. 16. 45. 16.

9metI 73. 26. 84. 56.

31metI 54. 65. 44. 76.

02metI 15. 25. 25. 36.

latoT 36.1=PD;5.31=M 56.=ahpla 18.1=PD;1.31=M 17.=ahpla

laicoS.tnI

5metI 25. 07. 75. 86.

8metI 55. 96. 94. 37.

41metI 25. 17. 45. 96.

22metI 16. 66. 95. 76.

latoT 28.1=PD;9.31=M 57.=ahpla 77.1=PD;5.31=M 57.=ahpla

oãçalucniV

2metI 73. 75. 63. 86.

11metI 65. 54. 06. 45.

71metI 33. 06. 64. 46.

12metI 34. 55. 25. 06.

latoT 00.2=PD;8.31=M 46.=ahpla 61.2=PD;3.31=M 07.=ahpla

radiuC.pO

4metI 81. 46. 61. 26.

7metI 93. 35. 13. 75.

51metI 94. 34. 65. 13.

42metI 05. 54. 44. 54.

latoT 18.1=PD;7.31=M 06.=ahpla 27.1=PD;4.31=M 85.=ahpla

açnailA

1metI 55. 18. 64. 17.

01metI 56. 77. 05. 96.

81metI 96. 67. 16. 46.

32metI 17. 47. 55. 66.

latoT 27.1=PD;8.41=M 28.=ahpla 37.1=PD;5.41=M 47.=ahpla

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)571=n,AodutsE(SPSadsalacsebussaertneseõçalerrocedzirtaM-4ordauQ

1 2 3 4 5 6

1 oãçatneirO —

rolavodoçrofeR2 74. —

laicosoãçargetnI3 75. 45. —

oãçalucniV4 26. 64. 85. —

radiucededadinutropO5 54. 73. 74. 44. —

açnailA6 56. 84. 26. 26. 33. —

labolgSPS7 18. 17. 28. 28. 76. 08.

pedaicnâcifingisedlevínmumeussopseõçalerrocsasadoT ≤ 100.

)912=n,BodutsE(SPSadsalacsebussaertneseõçalerrocedzirtaM-5ordauQ

1 2 3 4 5 6

1 oãçatneirO —

rolavodoçrofeR2 94. —

laicosoãçargetnI3 85. 05. —

oãçalucniV4 06. 64. 95. —

radiucededadinutropO5 45. 93. 94. 06. —

açnailA6 56. 25. 85. 94. 34. —

labolgSPS7 38. 27. 08. 28. 37. 87.

pedaicnâcifingisedlevínmumeussopseõçalerrocsasadoT ≤ 100.

,edadilanosrepadsieváiravmocSPSodsalacsebussadseõçalerroC-6ordauQ)571=n(amitse-otuaeoãdilos

salacsE ahpla M PD .tneirO.feRrolaV

.rgetnIlaicoS

.lucniV.pOradiuC

açnailASPSlabolg

edadilibamA 28. 7.421 5.31 71. 71. *22. *02. 51. *32. **42.

oãsrevortxE 09. 7.321 6.81 ***44. ***24. ***65. ***54. ***83. ***64. ***95.

oãdiloS 19. 7.03 1.8 ***26.- ***74.- ***17.- ***66.- ***73.- ***66.- ***67.-

amitse-otuA 09. 6.33 5.5 ***53. ***44. ***33. ***93. 90. ***13. ***14.

p* ≤ p**;50. ≤ p***;10. ≤ 100.

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comportar-se diferentemente das outrasprovisões sociais, o que já vinha sendonotado a partir do estudo dos seus níveisde consistência interna.As análises correlacionais (Quadro 7) re-velaram que a Escala de Provisões Sociaisapresenta correlações fortemente significa-tivas quer com a percepção da disponibi-lidade da rede de suporte social (com adimensão SSQN a correlação da pontua-ção global da SPS foi de .38, p≤.001), quercom a satisfação com o suporte social (coma dimensão SSQS a correlação da pontu-ação global da SPS foi de .44, p≤.001).No estudo B (Quadro 7) as correlaçõesencontradas entre a SPS e as medidas deBem-Estar Psicológico (EBEP) global eespecíficas são, realmente, para além depositivas, muito significativas. Neste es-tudo é possível reforçar a validade da SPSdevido às correlações encontradas com a

escala de solidão (-.47≤ r ≤-.73), coma escala de auto-estima (.24≤ r ≤.56) ecom as de bem-estar psicológico (.26≤ r≤.69). Estes resultados permitem constatarque as correlações mais expressivas dasmedidas concorrentes acontecem com oresultado global da percepção das provi-sões sociais, à excepção da justificada cor-relação entre a auto-estima e a percepçãodo reforço do valor (r=.56; p≤.001)4.Destacam-se as correlações elevadas (queoscilam entre .44 e .69) da SPS com asubescala das relações positivas com osoutros (EBEP). De uma forma geral, é pos-sível afirmar a tendência para a existênciade uma forte associação entre os níveis

,oãdilosedsadidemsamocSPSodsalacsebussadseõçalerroC-7ordauQ)912=n(ratse-mebeamitse-otua

salacsE ahpla M PD .tneirO.feRrolaV

.rgetnIlaicoS

.lucniV.pOradiuC

açnailASPSlabolg

NQSS 09. 12.42 11 82. 13. 33. 13. 13. 53. 83.

SQSS 09. 50.13 95.4 14. 32. 23. 34. 34. 33. 44.

oãdiloS 19. 22.13 71.8 75.- 25.- 56.- 66.- 74.- 25.- 37.-

amitsE-otuA 98. 75.23 71.8 83. 65. 53. 33. 42. 93. 84.

ratse-meBocigólocisP

labolg69. 82.283 74.94 05. 85. 35. 55. 14. 05. 66.

oãçatiecAoirpórpised

29. 59.19 82.21 64. 35. 34. 74. 43. 54. 75.

sovitcejbOadivan

38. 5.36 78.9 14. 74. 34. 34. 53. 93. 35.

seõçaleRsavitisopsomocsortuo

88. 15.76 74.01 15. 84. 46. 46. 44. 05. 96.

-ivlovneseDotnemlaossep

18. 1.96 84.7 04. 45. 44. 54. 33. 34. 55.

odoinímoDetneibma

58. 32.95 69.9 14. 05. 34. 24. 23. 83. 35.

aimonotuA 08. 79.06 51.9 72. 83. 92. 13. 62. 53. 04.

pedaicnâcifingisedlevínmumeussopseõçalerrocsasadoT ≤ 100.

_______________4 Noutros estudos com estudantes universitários,

foi possível certificar a validade convergente da SPS,pelas correlações evidenciadas com outras medidasde suporte social (Pinheiro & Ferreira, 2001, Pinhei-ro & Ferreira, 2002).

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de bem-estar e a percepção dos benefíciosou provisões sociais provenientes dosrelacionamentos interpessoais. Destes resul-tados saem, igualmente, reforçadas as re-lações entre a percepção de provisões sociaise as variáveis de auto-estima e solidãoencontradas no estudo preliminar A.

Discussão

Neste trabalho apresentaram-se dois estu-dos de adaptação e validação da Escalade Provisões Sociais-SPS5 (The SocialProvisions Scale; Russel & Cutrona, 1984)cujos resultados apresentados permitiramconcluir satisfatoriamente quer pelas qua-lidades psicométricas quer pelos indicado-res de validade externa da versão portu-guesa deste instrumento de avaliação dapercepção do suporte social. O cálculo docoeficiente alfa de Cronbach foi o procedi-mento estatístico através do qual avaliá-mos a consistência interna ouhomogeneidade dos itens do instrumento.Tendo-se verificado concordância entre osresultados dos dois estudos é possívelconcluir por um adequado grau de con-fiança na informação obtida. Os resulta-dos obtidos nas duas amostras, apesar denão permitirem obter uma estruturafactorial interpretável em função dos seiscomponentes teóricas das provisões soci-ais, permitiram para a escala total (24itens), uma consistência interna muitosatisfatória (nas duas amostras o valor dealfa foi de .91). Não esquecemos contudoa necessidade de dar continuidade à ava-liação da estrutura factorial desta provapsicológica através de análises factoriaisconfirmatórias. Só este método permitirá

concluir em definitivo pela sua uni oumultidimensionalidade.Tal como aconteceu nos estudos originaisde Cutrona e Russell (1987) a satisfaçãodas necessidades relacionais surge (Estu-do B) positivamente correlacionada comoutras medidas de suporte social, nome-adamente com aspectos da satisfação edisponibilidade da rede. Neste sentido, eapesar de um mesmo relacionamento poderfornecer várias provisões e de váriosrelacionamentos interpessoais poderemgarantir uma provisão social específica(Cutrona, 1982; Cutrona & Russell, 1987;Russell & Cutrona, 1984), o que os re-sultados anteriores reforçam é a importân-cia da diversificação dos relacionamentosinterpessoais e a manutenção dos relacio-namentos mais satisfatórios, enquanto es-tratégia interpessoal geral de satisfação dasnecessidades relacionais dos estudantes.As análises adicionais em torno da vali-dade convergente e divergente da SPS,revelaram, à semelhança de outros estudos(Cutrona, 1982, 1986; Cutrona & Russel,1987), correlações significativas e positi-vas com medidas de personalidade (comoa extroversão), da auto-estima, e de bem-estar psicológico, e correlações muitosignificativas e negativas com a medidade solidão. De realçar a tendência para queà medida que aumenta a percepção dosuporte social aumentar o nível deextroversão dos indivíduos, o que pode serjustificado pelo facto de serem os indiví-duos com maior desembaraço no contactoe comunicação interpessoal os que conse-guem simultaneamente maior satisfação dassuas necessidades relacionais.A forte associação encontrada entre a nossamedida de suporte social e a de bem-estarpsicológico vem alertar para que os be-nefícios ou provisões sociais que obtemosdos relacionamentos com os outros estãoassociados, podendo depender ou fazer

_______________5 Para qualquer utilização parcial ou integral do

instrumento EPS, os interessados deverão contactaros autores do artigo através dos seguintes e-mails:[email protected] ; [email protected]

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depender, de aspectos como as relaçõespositivas com os outros, a aceitação de sipróprio, o desenvolvimento pessoal, odomínio do ambiente, os objectivos na vidae a autonomia.Por fim, o facto de elevados resultados namedida de provisões sociais estarem as-sociados a baixos resultados na medida desolidão reforça o valor da medida dasprovisões sociais enquanto indicador domaior ou menor isolamento social eemocional dos indivíduos. Por se tratartambém de uma escala com um númerode itens muito aceitável, a vantagem dasua utilização na avaliação da percepçãodos benefícios pessoais resultantes das inte-racções e relações interpessoais em mo-mentos de mudança e adaptação a novoscontextos sociais parece ser um dos seuselementos mais atractivos.A avaliação do suporte social e dos seusmecanismos de acção em situações detransição, potencialmente stressantes edesconhecidas, tem sido uma preocupaçãocrescente da comunidade científica, paraa qual o suporte social percebido é con-siderado um recurso essencial que deve serreorganizado de forma a potenciar asrespostas do indivíduo ao leque de desa-fios que se apresentam naquelas situações.Sempre que estão em questão mudançasnos relacionamentos interpessoais os in-divíduos podem ser afectados quer pelacarência ou ausência de uma rede socialquer pela perda ou afastamento de umarelação de maior proximidade ou intimi-dade. As correlações muito significativase negativas entre as medidas de provisõessociais e de solidão espelharam, a nossover, a tendência dos indivíduos que sepercebem como menos apoiados parasofrerem de maior solidão. Em especial,estes resultados reforçam o valor da medidadas provisões sociais (SPS) enquantoindicador do isolamento social e emoci-onal dos indivíduos.

Avaliando (1) os sentimentos de proximi-dade emocional e de segurança (necessi-dade de vinculação), (2) os sentimentos depertença a um grupo que partilha ou temem comum um conjunto de interesses ouactividades (necessidade de integraçãosocial), (3) o reconhecimento dos outrosem relação à nossa própria competência,aptidões e valores (necessidade de reforçodo valor), (4) a garantia de que se podecontar com os outros para nos darem umapoio tangível (necessidade de aliança); (5)a informação e aconselhamento (necessi-dade de orientação) e, por fim, (6) osentimento de responsabilidade pelo bem-estar de outra pessoa (necessidade de cuidardos outros), a Escala de Provisões Sociais-SPS apresenta-se como um instrumento útilna avaliação da percepção do suportesocial, mediante a caracterização do graude presença ou ausência de cada provisãosocial nos relacionamentos interpessoais decada indivíduo.

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