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Pêcheux, Michel - 1938-1983 Análise de Discurso : Michel Pêcheux Textos selecionados: Eni Puccinelli Orlandi - Campinas, SP : Pontes Editores, 2011. Bibliografia. ISBN 978-85-7113-335-8 1. Análise de discurso 2. Linguística I. Título índices para catálogo sistemático: 2a Edição 1. Análise de discurso - Michel Pêcheux 2. Linguística 410 410

Posição Sindical e Tomada de Partido Nas Ciências Humanas e Sociais (Michel Pêcheux)

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Pêcheux, Michel - 1938-1983Análise de Discurso : Michel Pêcheux Textos selecionados: Eni Puccinelli Orlandi - Campinas, SP : Pontes Editores, 2011.Bibliografia.ISBN 978-85-7113-335-8

1. Análise de discurso 2. Linguística I. Título

índices para catálogo sistemático:

2a Edição

1. Análise de discurso - Michel Pêcheux2. Linguística

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POSIÇÃO SINDICAL E TOMADA DE PARTIDO NAS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS1

Muitas discussões são feitas atualmente sobre o papel das ciências no desenvolvimento da luta de classes. Fala-se, assim, das ciências em geral, e mesmo às vezes d“A Ciência” querendo- se designar aí o conjunto do processo complexo de apropriação conceituai do real, todas as disciplinas sendo confundidas. Contudo, certos grupos de disciplinas apresentam características suficientemente específicas para justificar o ensaio de uma análise marxista-leninista a seu respeito.

E de tal tentativa que se trata aqui, a propósito das ciências sociais e humanas.

Esta contribuição à discussão visa, por conseguinte, iluminar as condições específicas da luta sindical e política nas camadas intelectuais universitárias que trabalham dentro do setor que se chamava recentemente “Letras e Ciências Humanas” e que agrupa hoje (nas universidades e no CNRS2) o conjunto das “Ciências Humanas e Sociais” (CHS), desde a filosofia à psico­logia, passando pela economia, história, linguística, sociologia, etnologia, geografia, etc.

1 Texto publicado em L a Pensée, n°187, pp53/66, Paris, 19762 Centre National de la Recherche Scientifique (Centro Nacional da Pesquisa

Científica), órgão criado em 1939-

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Estas camadas fazem como um todo parte da pequena burguesia intelectual e apresentam a esse respeito certas caracte­rísticas da fração de classe pequeno-burguesa: se, contrariamente a outros setores não-assalariados da pequena burguesia, estas camadas abandonaram geralmente o sonho da independência econômica ligado aos ideais da livre-iniciativa, isso não se dá do mesmo modo no terreno político e ideológico, onde se conservam numerosas ilusões. Há quanto a isso razões históricas que é bom recordar rapidamente:

1) a partir do pós-guerra, incluído o período dos anos 60, o setor de trabalho assalariado dos intelectuais que trabalham nas CHS conheceu um desenvolvimento rápido no Ensino Superior e no CNRS. Este desenvolvimento ocorreu num contexto específi­co à França, caracterizado ao mesmo tempo pelas transformações sociais surgidas após a Liberação3, nas perspectivas abertas pela Frente Popular4, e pelo clima anticomunista da Guerra Fria dos anos 50. Dois elementos contraditórios intervinham assim neste desenvolvimento:

- o primeiro elemento é constituído pela ideologia in­dividualista da livre-iniciativa que encontra uma relação de “naturalidade” nas posições ideológicas das CHS que, justa­mente nessa época, atravessam o Atlântico no âmbito do Plano Marshall e vêm implantar-se na Europa. A posição de classe dos intelectuais não-comunistas coincide então globalmente com os ideais veiculados pelas CHS made in USA. Teria sido bastante surpreendente, nestas condições, que estas camadas não conservassem em seu todo a ilusão de poder “se colocar por sua própria conta”, política e ideologicamente falando, e compensavam assim sua renúncia aos ideais econômicos da livre-iniciativa.3 Como ficou conhecido o momento histórico em que as forças do Eixo foram

expulsas da França, no contexto da Segunda Guerra Mundial.4 Nome da coalizão de partidos de esquerda que governou a França no período de

1936 a 1937.

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- o segundo elemento é constituído pelo efeito político das consequências da Resistência5 e do imediato pós-guerra, caracterizado pelo início de uma política na qual certas posições da classe operária (por exemplo, relativas ao aparelho escolar) encontram-se concretamente engajadas na via das realizações práticas (por exemplo, o CNRS e a Universidade), com uma posição de força na luta ideológica (por exemplo, à época, o projeto Langevin-Wallon6 7). Nesta medida, as batalhas políticas e ideológicas lideradas então pela classe operária e seu partido tinham indiretamente repercussões positivas sobre as CHS ao tomá-las em consideração, colocando em evidência certos “preconceitos” de classe, e desenvolvendo sob formas variadas a crítica do desperdício dos recursos econômicos (a batalha para a Produção) e dos recursos humanos (a batalha para a Escola democrática).

Ora, a contradição entre estes dois elementos evoluirá muito rapidamente sob o efeito global das determinações po­líticas e ideológicas da luta de classes na Europa ocidental: os temas da luta contra as “desigualdades” entre os indivíduos, para o desenvolvimento do homem, etc.”, não-apoiados sobre um trabalho teórico e ideológico efetuado pela classe operária (haveria, à época, os meios para efetuá-lo?), vão se encontrar progressivamente contornados e ultrapassados pelos temas do individualismo pequeno-burguês, colocando em primeiro plano a burguesia no contexto geral da Guerra Fria, com a exclusão dos comunistas do governo em 1947, a fascinação ideológica pelos EUA, país da Liberdade, etc.5 Como era chamado o movimento de luta contra a ocupação alemã da França.6 Em novembro de 1944 é criada uma comissão para a reforma do ensino, presi­

dida primeiro por Paul Langevin e, após o falecimento deste, por Henri Vallon. Quando a comissão apresenta seu relatório em julho de 1947, o governo havia sido alterado e suas preconizações nunca seriam aplicadas. Tal relatório previa o ensino gratuito e obrigatório até os 18 anos, entre outras medidas.

7 A Escola é um dos lugares principais desta luta. Este ponto não é negligenciável, já que a Escola constituía na época, e permanece iargamente hoje, ainda, um bastião social-democrático (cf. a Federação da Educação Nacional).

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Consequentemente, seria errado pensar que as CHS, por seu desenvolvimento próprio garantido pela “neutralidade cien­tífica”, à época teriam prestado indiferentemente serviços às duas classes antagônicas do modo de produção capitalista (MPC). No trabalho concreto das CHS, a luta contra as “desigualdades” de todas as espécies inerentes ao MPC ia, com efeito, encontrar- se progressivamente subordinada à preparação das condições do Capitalismo Monopolista (planificação - racionalização das “escolhas” em economia, análise da expansão demográfica e a implantação urbana, etc.).

Além disso, as camadas intelectuais que trabalhavam nas CHS não tinham , como um todo, clara consciência: pode-se dizer que tinham , pelo contrário, politicamente uma boa consciência, dispondo ao mesmo tempo, tanto no nível dos salários como no dos meios de trabalho, de um “poder de compra” relativamente conforme suas exigências. Consequentemente: certo conforto, em todos os sentidos do termo, ligado à impressão não desmentida de ser globalmente “mestre em sua própria casa”.

2) A política da 5a República8, essencialmente caracteri­zada pelo acesso direto dos monopólios capitalistas ao poder de Estado, ia alterar tudo isso, progressivamente, do gaullismo de 1958 ao giscardismo atual9: tratava-se ao mesmo tempo de desmontar politicamente o setor público do Ensino Superior e de Pesquisa, enquanto heranças da Frente Popular e da Liberação, e de assujeitá-lo economicamente como dispositivo de trabalho intelectual recuperável do ponto de vista dos interesses da bur­guesia monopolista. A realização desses objetivos necessitava, em consequência, transformar radicalmente a organização e8 A 5a República Francesa se inicia com a promulgação da Constituição de 1958,

em substituição à anterior, de 1946. Entre outras coisas, algumas das quais Pêcheux salienta nesse parágrafo, trata-se da passagem de um sistema de governo parlamentarista a um semi-presidencialista.

9 Pêcheux refere a Charles de Gaulle e Valéry Giscard d’Estaing, que governaram aFrança no período de 1959-69e 1974-81, respectivamente.

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o funcionamento destes setores; as “necessidades” do Capital monopolista faziam-se tão mais imperiosas que a Universidade ficava demasiado ineficaz economicamente e demasiado incerta politicamente para poder responder por si mesma.

Assim, toda a política do capital monopolista (da criação de organismos tecnocráticos como o DGRST10, até o acordo Rhône- Poulenc11 junto ao CNRS) repousa sobre uma única e mesma ideia, progressivamente afirmada, de que o desenvolvimento da universidade e da pesquisa tornou-se um negócio demasiado sério para ser confiado aos universitários e aos pesquisadores, o que de certa maneira é verdadeiro, de outro ponto de vista que não o do capital monopolista, e de outra maneira, mas não nos antecipemos...

Assim, temos hoje:- através da política das Ações temáticas programadas e

outras Ações-programa finalizadas;- com a “descompartimentalização” das comissões do Co­

mitê Nacional do CNRS em Comitês setoriais;- com práticas novas como a notação das formações de

pesquisa e a consequente atribuição de postos;- com projetos de reorganização do Ensino Superior como

a atribuição de bolsas, DGRST para os estudantes do 3o ciclo12, o poder tenta aplicar uma política notavelmente coerente que visa impor diretamente “missões” às CHS. Sobre este ponto, os10 Délégation Générale à la Recherche Scientifique et Technologique (Delegação

Geral da Pesquisa Científica e Tecnológica), estabelecida em 1961.11 Pêcheux refere-se a um acordo de cooperação entre uma grande indústria francesa

e o CNRS, que suscitou viva oposição dos acadêmicos, tendo em vista a submissão que se poderia gerar entre a pesquisa científica e interesses privados. (NT).

12 Os estudos universitários na França dividiam-se em ciclos, em correspondência com a reforma universitária de 1974, correspondendo o 3o ciclo, em linhas gerais, ao mestrado. Como Pêcheux falará a seguirem “americanização das condições de pesquisa”, é interessante notar que esse sistema de ciclos foi substituído em 1984 por um sistema similar ao norte-americano. (NT).

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últimos documentos que emanam das esferas governamentais mostram abertamente que se trata com efeito de forçar as CHS a contribuir, em toda a medida dos seus meios, ao agravamento da superexploração capitalista (fala-se em melhorar a produti­vidade) e ao assujeitamento ideológico e político do povo nos quadros do aparelho de Estado da “sociedade liberal avançada” (fala-se em melhorar as relações entre os cidadãos e as diversas administrações).

Para chegar a impor essas “missões” às CHS, o poder está pronto a tudo, incluindo manipular a massa dos universitários e dos pesquisadores através do espectro da “crise”, da “austeridade” e do “crescimento-zero”; ele organiza a escassez para suscitar a inquietude e docilidade das pessoas e desenvolver a concorrência entre as formações de modo que sobrevivam e desenvolvam-se mais aptas a... servir o capitalismo na sua fase atual.

Assim, essa americanização das condições da pesquisa em CHS leva paradoxalmente a reativar no nível das universidades e das formações de pesquisa o fantasma do “livre jogo da concor­rência” e o espírito da livre-iniciativa, no momento mesmo em que a liberdade de investigação está em realidade diretamente ameaçada, através do desmantelamento e da submissão do setor público. E também paradoxalmente, é no momento em que mais se fala em “abrir a universidade e a pesquisa ao exterior” (quer dizer, aos interesses dos monopólios e do CNPF13, para chamar as coisas pelo seu verdadeiro nome) que a pesquisa uni­versitária encontra-se estrangulada financeiramente e enferma de suas “missões”. Não se saberia imaginar melhor ilustração do liberalismo giscardiano.

Isso quer dizer que a contradição principal no domínio das CHS como efeito direto da luta de classes opõe interesses inconciliáveis econômica e politicamente:13 Confédération Nationale du Patronat Français (Confederação Nacional do

Patronato Francês), criada em 1945.

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- de um lado, a burguesia monopolista luta para impor (pelo sistema generalizado dos contratos, pela insegurança do emprego e pela desprofissionalização da pesquisa universitária) o dispositivo antidemocrático do qual tem necessidade;

- de outro, as camadas intelectuais universitárias lutam com as suas próprias forças sindicais e políticas, essencialmente para preservar as sobrevivências democráticas do período precedente e fazer obstáculo à ofensiva do poder.

É, portanto, extremamente importante reunir estas lutas e coordená-las nas universidades, no CNRS, na EHESS14, etc., sob as palavras de ordem conjuntas de:

- defesa da universidade e do setor público de pesquisa;- defesa dos pesquisadores, professores-pesquisadores e do

pessoal que intervêm no processo de trabalho intelectual da in­vestigação em CHS, sem dissociar nem opor “defesa da pesquisa” e “defesa do pessoal”.

Com as insuficiências e as contradições inerentes à situação sindical na Federação da Educação Nacional, estas lutas diri­gidas contra o poder convergem com as perspectivas políticas da união da esquerda, que encara no seu Programa comum de governo certas perspectivas globais relativas à universidade e a investigação. Estas lutas convergem e desenvolvem-se, mas de uma maneira que se deve caracterizar, sem de modo algum render-se ao “derrotismo”, como ainda muito insuficiente, tendo em conta o desafio a longo prazo da contradição principal que acabamos de descrever.

É, então, urgente refletir sobre os nossos pontos fracos para desenvolver ainda mais a capacidade de luta do conjunto do sector das CHS. Por diversas razões, a urgência desta reflexão não aparece ainda claramente a todos, ainda que cada um constate14 Ecole des Hauces Etudes en Sciences Sociales (Escola de Altos Estudos em Ciências

Sociais), criada em 1975.

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mais ou menos a existência de “bloqueios” e de “barricadas” no desenvolvimento da luta: igualmente, a presente intervenção não pretende mais que preparar e suscitar a discussão coletiva que se impõe.

Uma primeira observação, que aos nossos olhos dirige todo o resto: é a constatação de que, entre as palavras de ordem de defesa do pessoal e de defesa da universidade e da pesquisa, a segunda palavra de ordem encontra-se, com efeito, geralmente subordinada à primeira; a palavra de ordem de defesa do pessoal tem a vantagem de apoiar-se sobre inúmeras situações concretas nas quais camadas intelectuais universitárias tomam, por assim dizer, de fato, consciência de sua situação (desemprego dos jo­vens intelectuais, insegurança do emprego para os que tiveram “a sorte” de encontrar um trabalho, ou então um posto, restrição draconiana dos meios de qualquer natureza, etc...). A palavra de ordem de defesa da universidade e da pesquisa, quanto a isso, continua a ser abstrata e retorna a realidades indefinidas, porque cessaram em parte de existir, ou porque não existem mais.

Portanto, a longo prazo, a segunda palavra de ordem domina politicamente a primeira; e mesmo a curto praz», as insuficiências de elaboração sindical e política de uma política de pesquisa em CHS na universidade e no CNRS começam a produzir inquietantes efeitos, porque, de sua parte, o poder tem uma política (vimos qual) e se esforça em aplicá-la: esta fraqueza facilita largamente, reconhece-se, o esfacelamento progressivo do Comitê Nacional do CNRS e das diferentes instâncias universitárias na elaboração da conjuntura cientí­fica, de modo que o conjunto coerente das medidas governamentais não encontra mais, na matéria, senão a inércia e a “resistência à mu­dança”. O poder giscardiano não se faz de rogado hoje ao explorar esta situação, por exemplo, descompartimentando em seu proveito as disciplinas das CHS para reagrupar o pessoal (com contrato e sem contrato de trabalho) sobre temas explicitamente políticos - no sentido político que lhe convém, é claro.

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Tal parece ser o principal ponto fraco da luta das camadas intelectuais universitárias nas CHS. Mas não é suficiente designá- lo; ainda é necessário tentar analisá-lo para determinar como repará-lo. Avançaremos aqui na hipótese de que este ponto fraco provém, dentro mesmo da contradição principal que acabamos de expor, da existência de uma contradição secundária que, se permanece não tratada ou se é tratada mal, correria o risco de perturbar completamente a relação de forças na contradição principal própria, à imensa vantagem do poder dos Monopólios: para dizê-lo numa palavra, esta contradição secundária concerne à relação que as camadas intelectuais universitárias nas CHS mantêm com a política.

Especifiquemos:Toda a fração de classe da pequena burguesia mantém uma

relação ambígua com a política na medida em que, enquanto mantém a ilusão de “se colocar por sua conta, politicamente falando”, como dizíamos ao início, esta fração de classe prova, contudo, na prática a impossibilidade concreta de aceder a um ponto de vista político gbbal que lhe permita organizar estrategi­camente as suas lutas como podem fazê-lo cada um à sua maneira as duas classes antagônicas do MPC, na luta que efetuam uma contra a outra.

Naturalmente, as diferentes camadas que constituem hoje a pequena burguesia têm “objetivamente” interesse em combinar- se à classe operária contra a classe capitalista (e, a cada ano, a aproximação consolida-se sobre o terreno sindical e, às vezes, sobre o terreno político), mas permanece o fato de que a bur­guesia pode ainda contar com base de massa neste setor, já que a influência da ideologia dominante mantém-se sob diversas formas, conservadoras (ou mesmo reacionárias), reformistas e esquerdistas.

Esta situação geral da fração pequeno-burguesa reproduz-se evidentemente entre as camadas intelectuais, em especial univer­

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sitárias, mas com acentuações específicas que têm essencialmente um efeito de reduplicação da ilusão de autonomia que as leva a adotar espontaneamente em política o “ponto de vista de Sirius” como substituto do ponto de vista global que lhes falta: um jornal como “Le Monde” é a esse respeito exemplar.

Quanto às camadas intelectuais universitárias que trabalham nas CHS, nada as preserva de tal ilusão; ao contrário, dado que a sua atividade profissional própria constitui a aparente garantia de que abordam os problemas do homem e da sociedade de maneira científica: o “ponto de vista de Sirius” em política toma assim nas CHS a forma elaborada do “ponto de vista da Ciência”, face ao qual os outros “pontos de vista”, incluindo, e sobretudo, o da classe ope­rária, aparecem como estreitos, mesquinhos e ultrapassados. Não é necessário procurar noutro lugar a fonte da arrogância política que se manifesta às vezes logo que as CHS encontram a política proletária...

Podemos doravante precisar a natureza da contradição se­cundária, específica, das CHS, sobre a qual vem tropeçar o desen­volvimento da contradição principal: trata-se definitivamente da contradição entre a política espontânea que o “ponto de vista das CHS” leva a efeito e a política proletária da classe operária. Sem recordar as condições históricas de aparecimento deste “ponto de vista das CHS”, observemos apenas que estas condições coincidem historicamente com a formação da classe operária, o aparecimento do marxtsmo-leninismo e da política proletária; sublinhemos tam­bém, como se fosse necessário, que esta coincidência leva maciça­mente não a marca da aliança, mas a do antagonismo (explícito) ou a do recalque e da “ignorância” (implícitos).

Isso é verdadeiro para o período estável dos anos de calmo desenvolvimento, durante os quais o aparelho universitário e de pesquisa nas CHS se constituiu e se reforçou.

Isso é ainda verdadeiro hoje, no momento em que as CHS estão abertamente “em crise”, como todas as camadas intelectuais universitárias, mas com a sua própria especificidade.

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Seria demasiado longo estudar aqui as variações da ideo­logia política das CHS, em que se combinam diferentemente academicismo conservador ou reacionário, a ilusão reformista e o oportunismo esquerdista, com as variações que lhes são vinculadas na ideologia teórica: contentemo-nos em constatar que é cada vez mais a ilusão reformista que assegura (ao menos hoje na França) a aparente coesão global das CHS, tratando do jeito que podem a coabitação com as posições reacionárias ou esquerdistas, que continuam a ser globalmente subordinadas ao reformismo, ainda que possam, aqui e ali, na universidade ou no CNRS, existir abertamente como bastiões ou guetos.

Se é verdadeiro que as CHS estão no elemento do refor­mismo como peixes na água, deve-se dizer, portanto, que estão hoje em condições de servir indiferentemente às duas classes antagônicas como puderam dar a aparência de fazê-lo durante os anos 50, protegidas pelo biombo da “neutralidade científica”? Nada está menos certo no âmbito atual do capitalismo mono­polista, levando-se em conta o desenvolvimento das lutas da classe operária combinada às camadas não monopolistas para conquistar o poder de Estado: a ideologia reformista que domina largamente ainda estas camadas por muito tempo tem cessado de ser “a justa medida” ilusória, “a terceira via” dos anos 50, para tornar-se mera e simplesmente a última cartada do poder giscardiano, o último meio de luta de que este poder dispõe para quebrar a aliança política entre a classe operária e os seus aliados. O regresso para uma autonomia política e ideológica que, de resto, nunca realmente existiu, é, por conseguinte, hoje mais que nunca, radicalmente inconcebível, tanto para as camadas das CHS como para o conjunto das camadas não-monopolistas a que pertencem.

A análise da contradição secundária que acabamos de examinar desemboca assim sobre uma palavra de ordem de luta contra a ideologia reformista nas CHS para o desenvolvimento de

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uma posição de classe proletária. É sob essa única condição que a contradição secundária poderá ser tratada corretamente, permi­tindo o acesso ao ponto de vista de conjunto da classe operária em matéria de “política de pesquisa nas CHS”, tornando ao mesmo tempo possível um novo desenvolvimento disso que cha­mamos de contradição principal, em proveito do conjunto dos trabalhadores, incluindo intelectuais que trabalham nas CHS.

Resta saber concretamente o que quer dizer “lutar contra a ideologia reformista nas CHS” e “desenvolver uma posição de classe proletária”.

Responderemos de maneira resumida dizendo: “isso sig­nifica hoje ter uma posição leninista sobre as e nas CHS”, e acrescentaremos: “ter uma posição leninista é colocar-se do ponto de vista político de conjunto da classe operária”.

É evidentemente “dizer brutalmente as coisas” recordar às camadas intelectuais universitárias que trabalham nas CHS a existência de outro “mundo exterior”, o da classe operária, com as suas organizações sindicais e políticas; é dizer brutalmente as coisas, recordar às CHS uma característica essencial deste “mundo exterior”, a fusão progressiva do movimento operário e da teoria marxista-leninista, porque esta característica toca (negativamente) as CHS de muito perto.

Mas de que outro modo hoje os membros do partido da classe operária poderiam dizer diretamente as coisas? Cabe aos revolucionários explicar-se sobre a relação necessária entre política sindical de defesa da pesquisa nas CHS e tomada de partido político contra o reformismo das CHS, recordando que o marxismo-leni- nismo não é “um ponto de vista” sobre o qual as CHS persistem em convocar “o homem e a sociedade”, mas que é o conheci­mento (sempre incompleto, porque em desenvolvimento) da realidade histórica das formações sociais e de sua transformação, por conseguinte o conhecimento (sempre incompleto, porque em desenvolvimento) das condições concretas de existência do

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“homem e da sociedade”, conhecimento indispensável à trans­formação dessas condições concretas.

Alguns dirão sem dúvida: “Mas houve no passado, e há hoje revolucionários que trabalham nas CHS; consequentemente as posições marxistas-leninistas estão ali representadas. De que reclamam, então, os comunistas? Não seria por acaso que visam a ‘fazer um lance’ sobre as CHS para impor a sua hegemonia?”.

Seria uma falta política extremamente grave não responder bem claramente a tais interrogações, porque o silêncio na ma­téria é interpretado como a pior das ameaças. Tentemos, então, esclarecer ligeiramente a situação:

- Convém, em primeiro lugar, contestar explicitamente a ideia segundo a qual a presença de comunistas nas CHS seria suficiente para garantir que posições marxistas e leninistas este­jam representadas. E fato que um universitário (pesquisador ou professor-pesquisador) em CHS pode tirar sua carteira junto ao PCF15 e hoje militar politicamente no seu laboratório, na sua universidade, no seu escritório de estudos, no seu lugar de trabalho habitual ou no seu bairro sem que a sua prática de in­vestigador em CHS encontre-se necessariamente transformada: a urgência das lutas políticas e sindicais a efetuar, a heterogeneidade teórica das CHS e o estado da discussão entre comunistas sobre estas perguntas contribuem para explicar esta situação, sem, no entanto, justificá-la apropriadamente. Finalmente, porque mesmo no caso de um físico ou de um matemático, tem-se que a formação marxista-leninista que recebe aderindo ao PCF altera, entre outras coisas, as concepções que faz da sua prática científica, da epistemologia da sua disciplina, do lugar histórico desta no desenvolvimento dos conhecimentos e das condições sociais e ideológicas desta prática, etc. Como pensar que não se daria o mesmo a fortiori num domínio onde, por vieses extremamente diversos, o marxismo-leninismo é diretamente receptivo?15 Partido C om unista Francês.

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Ou então é necessário admitir, - e é basicamente a convicção profundamente enraizada do reformismo, - que o “marxismo já está espontaneamente presente nas CHS”, à sua maneira, ao estado de germe, etc., de modo que não há necessidade de introduzi-lo do exterior por razões políticas que caem finalmente no dogmatismo e no fanatismo. Se esta concepção reformista fosse justa, todo o presente texto seria perfeitamente inútil; pior, este texto seria perigoso na medida em que, qualquer boa vontade posta à parte, ajustaria o passo à luta anti-científica do capitalismo em crise, colocando a tônica sobre a luta contra o reformismo nas CHS. O círculo assim se fecha, por uma espécie de auto-justificação do reformismo “marxista” face ao marxismo- leninismo, o que seria da mesma maneira um cúmulo!

A lição a tirar é que o reformismo das CHS é atualmente capaz de digerir o “marxismo” à condição de fazer dele uma teoria social aplainada e antropologizada, mas é incapaz de digerir o leninismo. Aí está porque a palavra de ordem de luta contra a ideologia reformista nas CHS foi precisada mais acima pela palavra de ordem de desenvolvimento de uma posição leninista sobre e nas CHS. Avançar nesta palavra de ordem é recordar que as CHS não contêm em si o germe do marxismo (e ainda menos do le­ninismo), que não se tornarão de mais a mais espontaneamente marxistas por único efeito do “desenvolvimento impetuoso” que lhes é prometido num universo liberado de todos os obstáculos econômicos, políticos e ideológicos que o poder dos monopólios acumula pela sua política anti-social e anticientífica. O materia­lismo espontâneo das CHS não excederá por si mesmo os obje­tivos da “satisfação das necessidades sociais” e do “desabrochar do homem” que, tratados separadamente, são o que resta dos objetivos reformistas.

Permitam-nos ir mais adiante: desenvolver uma posição leninista sobre e nas CHS supõe que se reconheceu que a ilusão reformista de autonomia ideológico-política não desapareceu, e

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só poderá ser combatida eficazmente nas CHS com a condição de se referir a uma posição externa sobre as CHS; é esta a única condição para que se possa compreender porque pode não poder haver “CHS marxistas”, que não há e que não pode haver uma “economia marxista” autônoma, nem “sociologia marxista”, e ainda menos “psicologia marxista” ou “linguística marxista”.

Este “elemento externo” não é outra coisa, sabemo-lo, que a luta das classes efetuada pelo proletariado combinado às camadas não monopolistas, e é finalmente nesta luta de classes que se pode elaborar uma posição global da teoria marxista- leninista sobre e nas CHS. Ora, uma das grandes lições do leninismo é que um desenvolvimento da luta das classes conforme aos interesses do proletariado e aos seus aliados não se realiza nunca espontanea­mente, mas necessita da organização da luta e, por conseguinte, das organizações de luta coordenadas por um “quartel general” da luta revolucionária, para empregar uma expressão que, por seu uso pelo movimento operário, perde sua ressonância dire­tamente militar. Acrescentemos que uma das grandes lições da história contemporânea é também que o socialismo nunca pôde realmente ser instaurado, em nenhum país, sem que este papel dirigente fosse assegurado por um partido marxista-leninista da classe operária.

Este ponto, que se refere ao conjunto da luta das classes, não é evidentemente sem consequências relativamente ao pro­blema certamente menor, mas não negligenciável, da “política de pesquisa em CHS”: há a questão, desta forma, da relação entre o aparelho de Estado, o aparelho político dos partidos e o aparelho ideológico universitário.

Notem primeiramente que essa relação existe sob uma certa forma nas condições de existência do poder burguês atual que dispõe, no seu próprio “quartel general”, de um quadro político que mantém relações com certas frações da universidade, as quais aceitam ainda colaborar com ele para a elaboração dos seus di­

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ferentes planos, projetos, estudos, etc. Entre outros meios, todo esse trabalho político especializado do poder burguês coloca em prática os recursos oferecidos pelas CHS (a economia, a socio­logia, etc.), no estado em que se encontram, com a perspectiva de manutenção e agravamento da dominação dos monopólios sobre o nosso país.

Notemos igualmente que o aparelho político da social-de­mocracia dispõe, ele também, sob outras formas, da colaboração de tal pessoal especializado extraído do aparelho universitário sob bases ideológicas próprias ao reformismo. Tudo o que dissemos mais acima permite compreender porque o aparelho social- democrata está, em seu domínio, distante de ser desprovido de pessoal e ideologias.

Poder-se-ia, à primeira vista, repetir este esquema a pro­pósito do aparelho político da classe operária, distinguindo simplesmente “opções” diferentes no resultado deste trabalho especializado. Mas seria um pesado erro permanecer neste esque­ma, dada a especificidade da relação entre o aparelho de Estado, o aparelho político e o aparelho universitário que impõe a luta de classe proletária: isso se deve essencialmente à existência concre­ta do marxismo-leninismo como teoria científica diretamente tomada pela luta de classes, ou seja, nem um “dogma” nem um “ponto de vista”, mas o guia indispensável da luta.

Isso significa que o aparelho político da classe operária não “recruta” intelectuais “a serviço” de sua política, mas funciona ele mesmo como “intelectual coletivo”, desde que não entendamos o termo “intelectual” em seu sentido universitário, mas no sentido da realização concreta da teoria marxista-leninista em condições históricas concretas. Nesta medida, os economistas, historiadores, sociólogos, filósofos, etc. que têm responsabilidades em tal ou tal setor do aparelho político do Partido Comunista não têm o papel de peritos que viriam “do exterior” (sempre o ponto de vista de Sirius!) trazer suas luzes ao Partido. Mas também não

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são os empregados da “linha do Partido”: colocam-se ao lado de seus camaradas “não-intelectuais”, no sentido universitário do termo, e assim, como eles, participam da vida do Partido como “intelectual coletivo”. O seu trabalho no seio do “aparelho do Partido”, em consequência, toma seu sentido apenas pelos efei­tos que produz na luta das massas: a ligação entre o aparelho universitário, o aparelho político (e o aparelho de Estado na perspectiva da tomada do poder de Estado pelo proletariado e seus aliados) é, por conseguinte, fundamentalmente diferente, em seu princípio mesmo, das formas tecno-burocráticas que se dão necessariamente sob a dominação dos monopólios capitalistas; na prática política proletária, esta ligação não poderia fechar-se novamente no triângulo Universidade-Partido-Estado, mas deve constantemente permanecer “tomada” pela luta das massas, para continuar a existir como tal: porque se, pela desgraça de trágicos erros políticos, a relação do Partido junto às massas viesse a se quebrar, como então evitar a dupla confusão entre a Universi­dade e o Partido, e também entre o Partido e o Estado, gerando universitários e funcionários dos quais não se saberia mais muito bem se efetivamente servem o Partido ou se servem do Partido?

As tomadas de posição inequívocas do Partido Comunista Francês sobre estas perguntas, em política interna e em política internacional (política da União Soviética), destinam-se a evitar perigos similares.

As camadas intelectuais universitárias que trabalham nas CHS não têm, portanto, que temer que a chegada ao poder do Partido Comunista Francês no âmbito da aliança política da união da esquerda as lance de um perigo a outro maior, como alguns creem ou fingem crer para as necessidades de sua luta anticomunista: quanto ao PCF, ele não é um anti-CNPF e não visa a sê-lo; a abertura sobre o mundo exterior da classe operária não é, assim, para os trabalhadores das CHS, o início do fim de sua liberdade: entre a ilusão da auto-gestão e as realidades

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atuais da militarização das CHS, esta abertura é na realidade a única garantia de uma planificação democrática da pesquisa, na qual as orientações serão efetivamente discutidas nas massas, e não elaboradas secretamente por alguns tecnocratas literalmente vendidos aos monopólios capitalistas.

Mas o correlato indispensável de uma planificação democrá­tica assim concebida é o desenvolvimento de uma profunda luta ideológica de classes efetuada sobre e nas CHS com a palavra de ordem leninista que propusemos e comentamos anteriormente. E é apenas a este preço que a discussão relativa às CHS poderá tornar-se realmente o ofício das massas.

De imediato, um aspecto muito importante dessa luta passa pelo trabalho teórico. E necessário desenvolver custe o que custar o marxismo-leninismo em todas as suas direções, porque só a produção de novos conhecimentos mantém vivo o conjunto do marxismo-leninismo. Este princípio concerne também às CHS.

Não se trata de um apelo que convida os comunistas a “investir” em cada uma das CHS para batizá-las como “marxis­tas”, confiando-se nas aparências; também não é uma palavra de ordem de mobilização geral contra as CHS a fim de “denunciar” mera e simplesmente a partir de um lugar teórico marxista- leninista purificado previamente de qualquer contato insalubre; é uma chamada à luta ideológica de classes concebida como guerra de movimento, porque as posições materialistas nunca se desenvolvem no vazio, mas sobre e contra o idealismo. Por isso mesmo, as CHS constituem um excelente campo de batalha para o marxismo-leninismo16. E esta luta ideológica e teórica será potente, organizada e conduzida de maneira consequente,

16 Sublinhemos efetivamente que o campo desta batalha não é de m odo algum isotrópico e homogêneo. Ele contém pontos fortes e pontos fracos, elementos materialistas disjuntos e lugares de forte idealismo. Não será o m om ento de se fazer um balanço da situação geral nas C H S? O u é necessário considerar que a batalha se conduz espontânea e infalivelmente em direção ao bem maior dos interesses do materialismo?

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quanto mais se afirmar, cojuntamente, de imediato e no futuro, de uma maneira mil vezes mais eficaz que puras declarações morais, a determinação dos comunistas de nunca regular pela repressão burocrática e policial, pelo terror dogmático de uma doutrina oficial e pelas instruções vindas “do alto”, todas as perguntas teóricas e ideológicas que deverão, um dia ou outro e de todas as formas, ser abordadas, e que pendem sonolentamente ainda hoje.

Naturalmente, e apesar do que foi dito aqui sobre a relação necessária entre o tratamento da contradição principal e o da contradição secundária, alguns continuarão sem dúvida a pen­sar que é impossível conduzir simultaneamente a luta contra o desmantelamento e a dependência do setor público de pesquisa em CHS e a luta ideológica de classe sobre e nas CHS. Que­reriam, talvez, antes de comprometer este segundo aspecto da batalha, já saber por adiantamento se o reformismo das CHS é-lhes essencialmente inerente, como quando se fala da estupidez do burro ou da esperteza do macaco, ou se ele deriva de um acidente histórico, como quando se fala dos erros do movimento operário. Não é certo que esta pergunta metafísica (trata-se da essência ou do acidente de um objeto?) seja adequada, simplesmente porque, na sequência da batalha, o objeto “CHS”, sem dúvida, terá se transformado radicalmente.

É pelo menos isso que um comunista pode desejar hoje, sem que isto o impeça minimamente de conduzir sobre o terreno político e sindical a luta para “a defesa da pesquisa em CHS”, muito pelo contrário. Os marxista-leninistas repetem frequen­temente que nada no mundo se desenvolve sem contradição. O caso das CHS constitui uma excelente ilustração.

Tradução : Lauro José Siqueira Baldini