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Preciso “ensinar” o letramento? Não basta ensinar a ler e a escrever? Resumo: Preciso “ensinar” o letramento? Não basta ensinar a ler e a escrever?, de Angela B. Kleiman por Barbara Malato No capítulo introdutório do livro, a autora diz que o conceito de letramento é um tanto confuso, uma vez que é um termo utilizado por diversas áreas, como didática, pedagogia, linguística aplicada. Por esse motivo, ela prefere explicar antes o que o letramento não é, para então esclarecer o conceito. Em primeira instância, Angela Kleiman explica que letramento não é um método de ensino, mas baseia-se na imersão da criança, do jovem ou do adulto no mundo da escrita e da leitura. Para tal fim, os professores podem adotar práticas cotidianas em sala de aula que envolvam a constante presença de textos, livros, revistas, placas, etc, visando ampliação de vocabulário e de conhecimento e fluência de leitura do aluno. A seguir, a autora diz que letramento não é alfabetização, mas estão associados. A alfabetização é constituída de prática (concretizada em sala de aula, liderada por um especialista – nesse caso, o professor), conjunto de saberes sobre o código escrito (esfera em que podemos denominar um individuo analfabeto, semi-analfabeto, semi- alfabetizado e alfabetizado, de acordo com os níveis de saber que ele apresenta) e processo de aquisição (que envolve sequências de operações cognitivas e engajamento físico-motor, mental e emocional). A alfabetização precisa de um ensino sistemático, diferentemente de outras práticas de letramento, onde se é possível aprender apenas olhando os outros fazerem. Uma pessoa que saiba a função de um bilhete, de um rótulo, mesmo que marginalmente, é considerada letrada, mas não necessariamente ela é alfabetizada. Como prática escolar, a alfabetização é de suma importância: todos que desejam participar de forma autônoma da sociedade devem ser alfabetizados. O letramento também não pode ser considerado uma habilidade, mesmo que seja composto de um conjunto delas e de competências. A leitura de um jornal, por exemplo, envolve muito mais habilidades e competências do que parece. O leitor sabe o significado de manchetes maiores ou menores, sabe em que parte do jornal vai achar certo tipo de notícia. E estas capacidades nada têm a ver com a capacidade de leitura propriamente ditas. No segundo capítulo, Kleiman explica que o letramento é um conjunto de práticas de uso da escrita mais amplo do que as práticas escolares, mas que as incluem. Então, ela traça comparações entre as práticas letradas dentro e fora da escola: Prática coletiva e cooperativa X prática individual e competitiva: dentro da escola, alunos competem entre si, enquanto fora da sala de aula, eles se ajudam nas diversas atividades que envolvem ler (e.g: procurando um endereço num guia de ruas); leituras comunitárias em sala de aula são um bom jeito de aproximar a vivência escolar da vivência extraescolar. Prática situada X abstração: fora da sala de aula há uma tendência humana de contextualizar a ação, ou seja, o modo com que se realiza uma atividade, o recurso que se mobiliza, o material que se utiliza são diferentes de acordo com a situação em que se encontram. Já as práticas escolares são desvinculadas da situação de origem, indiferentes à situação. Quando mudam os objetivos, mudam as estratégias de leitura. O terceiro capítulo discorre sobre o letramento escolar. Ali ela diferencia estudantes que crescem em metrópoles, rodeadas de outdoors, placas, anúncios e avisos de todos os tipos - que mesmo antes de aprenderem o valor fonético das letras, já leem o que lhes é familiar (e.g. o M do McDonald’s e a grafia cursiva da Coca-Cola) –, de crianças que crescem em áreas rurais, portanto sem tais recursos visuais. Além disso, crianças que participam de

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Necessidade de divulgação para compartilhamento de méritos científico-filosóficos além do status político que uma atividade dessa ordem pode adquirir em razão do movimento gerado pela atitude cada vez mais rara de se dividir o conhecimento.

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Preciso ensinar o letramento? No basta ensinar a ler e a escrever?

Resumo: Preciso ensinar o letramento? No basta ensinar a ler e a escrever?, de Angela B. Kleiman

por Barbara Malato

No captulo introdutrio do livro, a autora diz que o conceito de letramento um tanto confuso, uma vez que um termo utilizado por diversas reas, como didtica, pedagogia, lingustica aplicada. Por esse motivo, ela prefere explicar antes o que o letramento no , para ento esclarecer o conceito.

Em primeira instncia, Angela Kleiman explica que letramento no um mtodo de ensino, mas baseia-se na imerso da criana, do jovem ou do adulto no mundo da escrita e da leitura. Para tal fim, os professores podem adotar prticas cotidianas em sala de aula que envolvam a constante presena de textos, livros, revistas, placas, etc, visando ampliao de vocabulrio e de conhecimento e fluncia de leitura do aluno.

A seguir, a autora diz que letramento no alfabetizao, mas esto associados. A alfabetizao constituda de prtica (concretizada em sala de aula, liderada por um especialista nesse caso, o professor), conjunto de saberes sobre o cdigo escrito (esfera em que podemos denominar um individuo analfabeto, semi-analfabeto, semi-alfabetizado e alfabetizado, de acordo com os nveis de saber que ele apresenta) e processo de aquisio (que envolve sequncias de operaes cognitivas e engajamento fsico-motor, mental e emocional).

A alfabetizao precisa de um ensino sistemtico, diferentemente de outras prticas de letramento, onde se possvel aprender apenas olhando os outros fazerem. Uma pessoa que saiba a funo de um bilhete, de um rtulo, mesmo que marginalmente, considerada letrada, mas no necessariamente ela alfabetizada. Como prtica escolar, a alfabetizao de suma importncia: todos que desejam participar de forma autnoma da sociedade devem ser alfabetizados.

O letramento tambm no pode ser considerado uma habilidade, mesmo que seja composto de um conjunto delas e de competncias. A leitura de um jornal, por exemplo, envolve muito mais habilidades e competncias do que parece. O leitor sabe o significado de manchetes maiores ou menores, sabe em que parte do jornal vai achar certo tipo de notcia. E estas capacidades nada tm a ver com a capacidade de leitura propriamente ditas.

No segundo captulo, Kleiman explica que o letramento um conjunto de prticas de uso da escrita mais amplo do que as prticas escolares, mas que as incluem. Ento, ela traa comparaes entre as prticas letradas dentro e fora da escola: Prtica coletiva e cooperativa X prtica individual e competitiva: dentro da escola, alunos competem entre si, enquanto fora da sala de aula, eles se ajudam nas diversas atividades que envolvem ler (e.g: procurando um endereo num guia de ruas); leituras comunitrias em sala de aula so um bom jeito de aproximar a vivncia escolar da vivncia extraescolar. Prtica situada X abstrao: fora da sala de aula h uma tendncia humana de contextualizar a ao, ou seja, o modo com que se realiza uma atividade, o recurso que se mobiliza, o material que se utiliza so diferentes de acordo com a situao em que se encontram. J as prticas escolares so desvinculadas da situao de origem, indiferentes situao. Quando mudam os objetivos, mudam as estratgias de leitura.O terceiro captulo discorre sobre o letramento escolar. Ali ela diferencia estudantes que crescem em metrpoles, rodeadas deoutdoors, placas, anncios e avisos de todos os tipos - que mesmo antes de aprenderem o valor fontico das letras, j leem o que lhes familiar (e.g. o M do McDonalds e a grafia cursiva da Coca-Cola) , de crianas que crescem em reas rurais, portanto sem tais recursos visuais. Alm disso, crianas que participam de eventos de letramento no lar, associa a leitura de um livro a algo prazeroso, embora esse no seja um sentimento universal, uma vez que adultos que no tiveram contato ou que tiveram dificuldades com a leitura de livros, associam a atividade a algo desconfortvel. A autora reala, ainda, que permitir e ajudar que os alunos deem asas imaginao na hora da leitura de um livro essencial para que eles contextualizem a histria do livro.

Unir prticas didticas com acontecimentos do dia-a-dia uma boa forma de permitir que os alunos compreendam as funes dos gneros e da escrita. Quando o foco est na prtica do letramento, menos provvel que se engaje o aluno em atividades de faz de conta.

Em seguida, Kleiman discorre sobre a hibridicidade das situaes cotidianas: dependendo da formalidade ou informalidade da situao, podemos usar a linguagem escrita ou a oral, uma vez que a relao entre a oralidade e o letramento no de oposio, mas de continuidade. Outra forma de conceber a relao entre os diversos gneros a classificao por famlias de textos, que se baseia nas semelhanas de funo e estrutura do gnero.

Para a autora, o professor deve usar do letramento para continuar a aprender e, consequentemente, ensinar. Para formar leitores, o professor deve ser totalmente letrado e gerir saberes.

Conclui, ento, que o letramento pode comear com atividades prticas simples, que visam extrair as informaes dos textos. Este trabalho deve permitir tambm que a criana experimente diversos modos de agir por meio de manuseio e escaneamento de revistas ou mapas procura de informaes e leituras atentas. Porm, acima disso, no contexto escolar, o letramento inclui a capacitao de leitura de textos que circulam nas mais diversas esferas sociais. A criana somente passar a escrever se for to fluente na escrita como na fala e, para isso, preciso fazer uso de abordagens e recursos de desvendamento de texto e ensinar o processo scio-cognitivo que est por trs da compreenso da escrita.