Predestinacao - Samuel Falcao

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PREDESTINAO

Tese apresentada ao Union Theological Seminary, Richmond, Va., E.U.A. em abril de 1947, em cumprimento de parte dos requisitos para a colao do grau de Mestre em Teologia,

PELO

Rev. SAMUEL DE VASCONCELOS FALCO

do

Seminrio Presbiteriano do Norte

Recife - Pernambuco Brasil - 1981

NOTAS BIOGRFICASSAMUEL FALCO Professor, Telogo e PastorRealmente, toda a sua vida foi um exemplo de humildade. Assim um dos jornais do Recife comentava o repentino desaparecimento do Rev. Samuel Falco, no dia 9 de setembro de 1965.

OrigemNa cidade pernambucana de Gameleira nasceu o Rev. Samuel Falco, no dia 24 de setembro de 1904, filho de Jos Franklin de Andrade Falco e Maria da Conceio de Vasconcelos Falco era o terceiro filho do casal. Seus pais, dedicados pioneiros presbiterianos, logo cedo o encaminharam nas trilhas do Evangelho, com o auxlio dos missionrios que trabalhavam na regio.

Vida de EstudanteHavendo concludo o Curso Primrio, ali mesmo em Gameleira, comeou ele a trabalhar numa loja da cidade. Depois de alguns meses de convivncia com o rapazinho Samuel, o proprietrio da referida loja aconselhou sua famlia: Este moo sabido demais para continuar trabalhando no balco. Os senhores devem procurar um colgio para ele.

O menino Samuel conseguiu no Colgio Quinze de Novembro, em Garanhuns, uma bolsa completa de estudos, por intermdio de d. Amlia Pimentel, uma das mais antigas crentes de Gameleira. Aos quatorze anos, o rapazinho demonstrou brilhante inteligncia quando freqentava as aulas do Curso de Humanidades. Foi durante os quatro anos que passou no Quinze que se sentiu chamado para o Ministrio da Palavra.

Samuel, o Seminarista,Ainda, no existia propriamente o Seminrio Presbiteriano do Norte, mas sim o Instituto Ebenzer, para onde chegou o jovem Samuel no ano de 1922. Aprendendo aos ps dos Revs. Antnio Almeida, George Herderlite, Jernimo Gueiros e Robert Smith, demonstrava cada vez mais sua vocao para o Ministrio.

O Rev. Josibias Marinho, um dos seus colegas, faz a seguinte referncia inteligncia do seminarista Samuel:

Era um dia de exame de grego. A turma tinha passado a noite sem dormir, estudando, preocupada. As angustiantes declinaes... e as torturantes conjugaes dos verbos?!...Era um Deus-nos-acuda!...Mas, o Samuel, o Samuel bum-bum, como o apelidvamos em referncia sua voz profunda, cheia, de timbre retumbante, passara a noite dormindo, tranqilo, sem qualquer preocupao com a prova do dia seguinte!E, para que preocupar-se, quem tinha uma inteligncia peregrina, excepcional? Quem disse que j estudou alguma lio? Para que? Aprendia somente ouvindo.Criara, ele mesmo, um moderno mtodo socrtico, Perguntava, perguntava, ouvia as respostas, e pronto.Ningum o igualava na capacidade de assimilao, de interpretao, de transmisso dos conhecimentos adquiridos. Certa vez perguntara tanto ao nosso amado mestre Dr. Almeida, que este, no tempo, doente do fgado, esgotado, sem pacincia, no suportando mais o bombardeio de perguntas do Samuel, gritou em desespero:

Deixa-me, Samuel, no te agento mais!E do Dr. Almeida herdou o dom extraordinrio de expositor da Bblia.

Foi durante o seu tempo de seminarista que o Seminrio comeou a consolidar-se. De Instituto Ebenzer transformou-se em Seminrio Evanglico do Norte. De um modesto prdio na rua Imperial mudou-se para a Estrada da Ponte d'Uchoa (atual Av. Rui Barbosa), e depois definitivamente para o Beco da Fbrica hoje Rua Demcrito de Souza Filho.

Ao lado dos colegas Sinsio Lira, Ageu Vieira, Alfeu Oliveira, Severino Lima, Celso Lopes e Josibias Marinho, Samuel concluiu o curso do Seminrio no ano de 1925 (a primeira turma na nova fase), antes de completar 22 anos de idade.

PastorDepois de trabalhar mais de um ano ao lado do Rev. Antnio Almeida, recebendo deste os mais preciosos ensinamentos para a vida pastoral, foi ordenado pelo Presbitrio de Pernambuco, em 1927, sendo designado para ajudar em todo o campo do Presbitrio, especialmente nas Igrejas que no podiam manter pastor. Foi a Igreja Presbiteriana de Areias que mais recebeu os seus cuidados pastorais.

Referindo-se ao Rev. Samuel Falco como um dos nossos maiores oradores, diz ainda o Rev. Josibias Marinho:

Ouvi-lo, era capacitar-se a transmitir o sermo que pregava porque era de uma anlise perfeita, de uma exposio lgica, ajustada. J como seminarista se notabilizara pela sistematizaro de seus sermes. Impossvel era tirar uma de suas partes constitutivas sem mutil-lo, e acrescentar-lhe qualquer idia seria suprfluo estava completo!Foi pastor tambm das Igrejas de Campo Alegre, Canhotinho, Palmeirina e Cachoeira Dantas. Durante curtos perodos multo ajudou no pastorado de Igrejas em Recife Primeira e Encruzilhada e Jaguaribe, em Joo Pessoa.

Presidiu o Presbitrio de Pernambuco em vrias legislaturas e tambm o Snodo Setentrional. Ocupou diversas vezes os cargos de Secretrio e Tesoureiro desses Conclios. Participou de reunies do Supremo Concilio, mesmo depois de jubilado:

O Alegre SamuelAo lado da aparncia serena, um tanto sisuda, ajudada pela sua caracterstica de ancio gordo, calvo, passo tardo, encontrvamos tambm nele um Samuel brincalho, alegre, humorista.

Desde os tempos de Colgio, de Seminrio, quando ele era jovem, como lembra o Rev. Josibias Marinho, olhos negros, expressivos, vivazes, basta cabeleira negra, magro, tez alva,acetinada figura de adolescente intelectual, que todos gostavam de sua companhia alegre, de um humorismo contagiante.

Quem no se lembra, nesta regio nordestina, do Netuno o velho carro do Dr. Almeida, e da cano que o Samuel sempre cantava?L na Amrica do Norte, "Junto a um lago cor de anil... (bis

"Fabricou-se este carrinho

"Que seguiu logo a caminho

"Do nosso caro Brasil!

"Este carrinho corre e anda de verdade

Em cada viagem vai deixando uma saudade!

"Serve ao nosso Seminrio

"Serve Igreja e ao seu pastor... (bis

"Serve aos sos, serve aos doentes,

"Aos que nascem, aos nubentes

"E aos feridos pela dor!(Canta-se com a msica de Eu nasci naquela serra)...

Essas e outras canes ns ouvamos se parssemos junto dele numa hora de folga!

Dona Ithamar Bueno de Arajo, esposa do professor do SPN, Rev. Joo Dias de Arajo, e bibliotecria do mesmo Seminrio, comenta:

Amava as crianas e era amado por elas. No Seminrio Presbiteriano do Norte era o amigo nmero um dos filhos dos professores e alunos. Gostava de conversar com eles, coloc-los no colo, cantar para eles quadrinhas alegres e engraadas e descobrir as suas preferncias.Sabia de cor o aniversrio de quase todos e sempre trazia um presentinho no natalcio de cada um desses seus pequenos amiguinhos.

Era para as crianas o querido "Titio Samuel". Como as crianas, era simples, humilde, alegre e sincero.

Preparador de PastoresFoi ao Seminrio Presbiteriano do Norte que ele dedicou a maior parte de seu Ministrio. Nas inmeras crises que atravessou o Seminrio, foi um dos seus maiores sustentculos ao lado do Dr. Almeida.Na dcada de 30 estava o SPN em condies as mais precrias, sem possibilidade alguma de remunerar os professores. O Rev. Antnio Almeida ento combinou com o Rev. Samuel dedicarem-se com mais ardor ainda obra, na esperana de que Deus proporcionasse ao Seminrio melhores dias.

Durante muitos anos lecionou as diversas matrias dos Departamentos de Bblia, Teologia Sistemtica e Histria.

Bolsa nos Estados UnidosCom a finalidade de melhor preparo e especializao das matrias que ensinava, esteve no Union Theological Seminary - Richmond, Virgnia, U. S. A. durante os anos de 1946 e 1047, onde obteve o grau de Mestre em Teologia.

O presente trabalho PREDESTINAO foi a sua obra prima, em ingls, que serviu de tese para a conquista do grau de Mestre. Alm desta h mais duas obras inditas tambm em ingls. Escreveu durante treze anos as lies para a Escola Dominical publicadas pela Misso Presbiteriana do Norte, e mais inmeros trabalhos traduzidos do ingls.

HomenagensEm reconhecimento aos seus vinte e sete anos de dedicao completa ao Seminrio Presbiteriano do Norte, duas grandes homenagens lhe foram prestadas: da Diretoria do Seminrio recebeu em 1959 o ttulo de Reitor Emrito, depois de ocupar por vrios anos a Reitoria dessa Instituio; ao ser totalmente remodelado o prdio do internato, tornando-o num grande e modernssimo bloco de trs pavimentos, a Diretoria e a Congregao do SPN deram ao edifcio o nome de REV. SAMUEL FALCO. Em novembro de 1964, o edifcio era inaugurado com a solenidade de aposio da placa, contando com a presena honrosa do homenageado.

Jubilao e ltimos TrabalhosRecebendo do Seminrio, em 1964, a aposentadoria (com vencimentos integrais), continuou o Rev. Samuel Falco a cooperar com as Igrejas do Recife, e uma vez ou outra levava aos seus seminaristas um precioso estudo bblico.

As Igrejas de Encruzilhada Recife, e Jaguarbe Joo Pessoa, foram as ltimas a receber os seus cuidados pastorais.

Quando do desmembramento do Presbitrio de Pernambuco para formar o novo Presbitrio Norte de Pernambuco, em janeiro de 1965, ele optou cooperar com o mais novo, ajudando-o nos seus primeiros passos, como co-pastor da Igreja Presbiteriana da Encruzilhada sede do Concilio.

Na primeira semana de setembro, de 1965, aceitou convite para fazer uma srie de conferncias na Igreja de Caruaru. No domingo seguinte, como fazia nos ltimos meses, viajou para Joo Pessoa tomando parte e dirigindo os trabalhos dominicais da Igreja de Jaguaribe. Demorou-se por l trs dias voltando pela manh de quarta-feira 8 de setembro.

tardinha daquele mesmo dia o Rev. Samuel fez uma de suas costumeiras visitas ao Seminrio, indo visitar cada professor, conversando e brincando com os alunos, levando um pouca de sua alegria famlia do SPN. Depois de jantar com os estudantes foi pregar na Igreja da Encruzilhada.

Longe estavam de imaginar aqueles que o ouviam naquela noite, que pela ltima vez ele entregava a mensagem do Evangelho, e que seria imediatamente chamado presena do Senhor

De fato, vtima de um enfarte, veio a falecer aos primeiros minutos do dia 9 de setembro. Foi assistido nos ltimos momentos pelo seu irmo Ervegisto Falco.

ltimas HomenagensDurante todo aquele dia seu corpo permaneceu no Salo Nobre do Seminrio, recebendo a visita de centenas de pessoas.

Todos os ministros presbiterianos de Recife, muitos de outras denominaes e mais alguns de Estados vizinhos, vieram prestar suas ltimas homenagens ao grande mestre.

Da amizade que cultivou em todas as camadas sociais, de todas as homenagens que lhe foram prestadas, dos discursos proferidos ante seu tmulo, da saudade presente em cada corao, podemos concluir que o Rev. Samuel Falco soube temperar a sua vasta cultura com a excelsa virtude da humildade.

ENOS MOURA(Do Instituto Martinho de Oliveira de Pesquisas Presbiterianas)

Recife, janeiro de 1967.

SNTESE DO LIVROEsta tese sobre um dos assuntos mais difceis da teologia, no tem a pretenso de originalidade. A predestinao um assunto muito estudado. Todavia o esboo aqui usado e a linguagem simples aqui empregada podero, talvez, ajudar o leitor que ainda no estudou o assunto profundamente e deseja ter uma introduo a essa doutrina. A posio do autor calvinista, e, ainda que reconhea as muitas dificuldades e embaraos envolvidos no assunto, ele cr firmemente que esta a posio das Escrituras.

l No primeiro captulo o autor considera a dificuldade do assunto em comparao com as dificuldades de outras matrias da Bblia; faz a declarao do humilde objetivo da teologia, que no explicar, mas expor os fatos da Revelao: apresenta a razo pela qual ele escolheu o assunto desta tese; diz como se deve aproximar do assunto, e a quem ele pensa que deve ser ensinado; e faz uma advertncia acerca da necessidade de equilbrio na apresentao da doutrina, evitando extremos devido ao fato de ela ter um lado divino e outro humano.2 O secundo captulo uma breve apresentao da doutrina dos decretos de Deus, de que a predestinao o mais importante captulo. Depois, declarando a necessidade de uma previa considerao da doutrina dos decretos de Deus, o autor explica o significado do termo e apresenta uma declarao da doutrina. Em seguida apresenta os argumentos que provam a doutrina, particularmente, as afirmaes claras da Bblia: a considerao da sabedoria de Deus, sua soberania, prescincia e providncia; e a considerao da profecia e da histria. Apresenta oito caractersticas ou propriedades dos decretos de Deus, a saber: unidade, eternidade, imutabilidade, universalidade, eficcia, liberdade, incondicionalidade e sabedoria. Na seco seguinte considera os decretos positivos e permissivos encarando o serio problema do mal moral e do pecado. Trs fatos que todos os cristos tm que aceitar so apresentados, e tambm trs possveis explicaes da razo pela qual Deus permitiu o pecado. A parte final do captulo uma considerao do principal objetivo dos decretos de Deus, a saber, a manifestao de sua glria.3 No captulo terceiro, que trata do assunto principal da tese, a predestinao, o autor comea com a definio da doutrina e a apresentao dela em duas divises: eleio e reprovao. Ento, apresenta as doutrinas implicadas na predestinao, a saber: a doutrina da depravao total, da regenerao, da graa, da soberania de Deus e da providncia. Depois desenvolve a doutrina da eleio. Aps apresentar a base bblica dessa doutrina, o autor menciona as diferentes espcies de eleio encontradas na Bblia, e apresenta as duas teorias sobro a eleio para a salvao: Arminianismo e Calvinismo. Em seguida, apresenta trs teorias sobre a predestinao e conclui o captulo com uma seco sobre a reprovao ou preterio sua definio, significado, prova, justia e razes.4 O quarto captulo, que a concluso, tem duas seces: objees e aplicaes prticas. Seis das objees mais comuns a essas doutrinas so consideradas: a questo da harmonia entre a soberania de Deus e a vontade livre do homem; a acusao de que essas doutrinas no passam de fatalismo; a afirmao de que essas doutrinas anulam todos os motivos do esforo humano; a acusao de que a eleio faz de Deus uma pessoa insincera no seu oferecimento, universal do Evangelho; que faz de Deus uma pessoa parcial, porque faz acepo de pessoas; e que essa doutrina contradiz as passagens bblicas que afirmam que Deus deseja salvar todos os homens. Na segunda seco, quatro aplicaes prticas dessas doutrinas so delineadas, principalmente o conforto que elas trazem ao corao do crente, seu resultado em glorificar a Deus e fazer humilde o homem; a segurana que elas do ao crente e a confiana que transmitem ao pregador.CONTEDO

10CAPTULO I

10Introduo

10I Assunto difcil

10II Dificuldades de outros assuntos na Bblia:

10III O Objetivo da Teologia:

11IV A razo por que escolhi a predestinao como assunto da minha tese.

11V Como considerar o assunto:

12VI A quem devemos ensinar o assunto

13VII Necessidade de equilbrio:

14CAPTULO II

14I A necessidade de uma declarao prvia e de uma exposio dos decretos de Deus:

14II Significado do termo:

14III Declarao da doutrina dos decretos de Deus.

14IV Argumentos que provam a Doutrina.

141. Argumento da Bblia.

162. Argumento da sabedoria divina.

173. Argumento da Soberania de Deus:

194. Argumento da Prescincia de Deus:

225. Argumento da Providncia de Deus:

246. Argumento da Profecia e da Histria

28V Algumas Caractersticas ou Propriedades dos Decretos de Deus

281. Unidade

292. Eternidade

303. Imutabilidade

314. Universalidade

315. Eficcia

326. Liberdade

327. Incondicionalidade

338. Sabedoria

34VI Decretos Positivos e Permissivos

351. Trs fatos a respeito do problema do mal:

35a) O primeiro fato que todos temos de reconhecer a existncia do mal ou pecado no mundo.

36b) O segundo fato que todos temos de admitir que Deus no o autor do mal.

37c) O terceiro fato que precisamos admitir, com referncia a este assunto, que Deus decidiu permitir o mal,

372. Trs possveis explicaes da razo pela qual Deus permitiu o pecado:

381. Sendo o propsito final de Deus trazer os homens sua semelhana, estes, para alcanar esse fim, devem chegar a saber em certo grau o que Deus sabe.

382. Uma segunda explicao que a existncia de agentes livres no universo seria uma possibilidade virtual de revolta contra Deus, em qualquer tempo.

383. Uma terceira explicao que Deus permitiu o pecado a fim de ter oportunidade de dar a conhecer sua justia e sua graa, que jamais poderiam ser reveladas se no mundo no houvesse pecadores, para serem condenados, ou serem salvos.

39VII O Objetivo dos Decretos de Deus

391) A glria de Deus a mais alta finalidade da criao

392) A glria de Deus o supremo fim de seus decretos

403) A glria de Deus o objetivo de sua providncia

404) A glria de Deus foi o alvo da vida e obra de Cristo

405) A glria de Deus o alvo de nossas boas obras

406) Quatro razes pelas quais Deus tem o direito de buscar a sua glria:

406.1. Devemos notar, em primeiro lugar, que Deus o nico ser auto-existente.

406.2. Em segundo lugar devemos notar qual o sentido em que Deus procura sua glria em tudo.

416.3. Em terceiro lugar devemos notar que, se a criao apenas a revelao da glria de Deus,

416.4. Em quarto lugar, no caso de Deus, procurar sua prpria glria no pode ser orgulho nem egosmo

42CAPTULO III

42I Definio da Doutrina

43II As Duas Divises da Doutrina da Predestinao: Eleio e Reprovao ou Preterio.

44III Doutrinas que implicam Predestinao

441. A doutrina do Pecado Original e Depravao Total

482. A doutrina da Regenerao ou Novo Nascimento

503. A doutrina da Salvao s pela Graa

503.1 - A eleio pela graa.

503.2 - Jesus a personificao da graa.

503.3 - A Salvao pela graa.

503.4 - A Justificao e o Perdo dos pecados so pela graa.

503.5 - A F pela graa.

503.6 - A graa capacita-nos a servir.

503.7 - Graa capacita-nos a ser pacientes e perseverantes.

503.8 - Devemos crescer na graa.

503.9 - A plenitude de nossa salvao na segunda vinda de Cristo ser uma nova expresso da graa de Deus.

503.10 - Por toda a eternidade os salvos sero um monumento da graa de Deus.

514. A doutrina da Soberania de Deus.

54IV A Doutrina da Eleio

541. A doutrina na Bblia

552. Diferentes espcies de eleio.

573. Diferentes Teorias sobre Eleio para a Salvao.

573.1 - Arminianismo

58a) A teoria:

59b) Objees:

663.2 - Calvinismo

67a) Deus o Autor da Eleio

67b) A Eleio desde a eternidade

68c) A Eleio em Cristo

68d) A Eleio no depende de nossos mritos, mas unicamente da soberana graa de Deus.

69e) A Eleio tem a nossa salvao como seu objetivo imediato.

69f) A Eleio resultar na glria de Deus.

69g) A Eleio tem indivduos por alvo.

71h) A Eleio inclui tanto o fim como os meios.

73V Trs Teorias Calvinistas sobre a Predestinao:

741. Os supralapsorianos

742. Os sublapsorianos ou infralapsorianos

753. Universalismo hipottico

77VI A Doutrina da Preterio ou Reprovao

771. Definio de Reprovao

782. O Sentido da Reprovao

783. Prova da reprovao

824. Justia da reprovao

835. Razo da Reprovao

85CAPTULO IV

85I CONCLUSO: OBJEES E APLICAES PRTICAS

851. Objees s doutrinas dos Decretos e da Predestinao de Deus

851. A primeira e mais importante objeo contra estas doutrinas a que se refere harmonia entre a soberania de Deus e o livre arbtrio ou livre agncia do homem.

912. A segunda objeo s doutrinas dos decretos e da predestinao de Deus que elas equivalem a fatalismo.

913. Uma terceira objeo contra a doutrina da predestinao dizerem que ela anula todos os motivos de sermos diligentes.

924. Outra objeo que a Predestinao faz que Deus no seja sincero em oferecer o Evangelho a toda criatura.

935. Outra objeo que a Predestinao leva Deus a ser parcial e injusto ou fazer acepo de pessoas.

946. Outra objeo contra a Predestinao deriva de passagens que afirmam que Deus quer a salvao de todos os homens, e de passagens em que se diz dependerem as bnos de Deus da aceitao de sua oferta de salvao por parte do homem.

96II Aplicaes Prticas das Doutrinas dos Decretos e da Predestinao.

961. Estas doutrinas trazem conforto ao crente.

962. Estas doutrinas resultam na glria de Deus e na humilhao do homem.

973. Estas doutrinas trazem certeza ao crente

974. Estas doutrinas fornecem maior confiana ao pregador

99BIBLIOGRAFIA

99A. LIVROS

100B. ARTIGOS E ENSAIOS

100C. COMENTRIOS

CAPTULO I

Introduo

I Assunto difcil

Estou ciente que a Predestinao talvez o mais difcil assunto da Teologia Crist. um ramo da profundssima doutrina dos Decretos de Deus. Est relacionada com todas as outras grandes e fundamentais doutrinas da Revelao Divina, devendo-se dizer o mesmo de qualquer outro assunto da Teologia, visto como esta sublime cincia constitui um todo orgnico e harmonioso. A doutrina da Predestinao torna-se difcil de modo especial quando procuramos harmonizar a soberania do Deus, em escolher pessoas, com a livre vontade e a responsabilidade do homem, em aceitar ou rejeitar seus apelos e convites. Esta doutrina difcil tambm por causa de sua ntima relao com o assunto embaraoso da origem do mal moral neste mundo. possvel que Pedro se referisse especialmente a Predestinao quando escreveu a respeito de Paulo: Como igualmente o nosso amado irmo Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como de fato costuma fazer em todas as suas epstolas, nas quais h certas coisas difceis de entender (2Pedro 3: 15-16).

II Dificuldades de outros assuntos na Bblia:

Temos de reconhecer, contudo, que a predestinao no o nico assunto difcil e complicado na Revelao de Deus. Quem capaz de entender a doutrina da Trindade? Quem pode explicar a unio das naturezas divina e humana na pessoa de Cristo? Quem pode compreender completamente a doutrina da Expiao? Quem pode explicar o mistrio da Providncia? Como disse Abrao Kuyper:

Aqui ns somos confrontados por um incompreensvel mistrio. Nossa concepo finita entra em contacto diretamente com aquilo que eterno e infinito em Deus, e que inteiramente alm da possibilidade de compreenso pelas nossas mentes e entendimentos limitados No podemos argumentar, especular, explicar, compreender, nem penetrar na eleio. No podemos compreender, nem entender a existncia de trs pessoas em uma na Trindade. No podemos compreender a criao de alguma criatura pela vontade do Criador. No podemos entender como o Filho de Deus assumiu a carne e o sangue do homem e, ao mesmo tempo, era Deus e homem. No podemos compreender nosso prprio nascimento, nossa existncia em alma e corpo, e a continuao de nossa existncia depois da separao entre o corpo e alma. No podemos compreender a origem dos pensamentos em nossa mente. No podemos entender a essncia do amor, da vida ou da morte. Em resumo, ficamos perplexos e confusos quando tentamos com nossa compreenso finita penetrar na verdadeira essncia das coisas, e ultrapassar os limites daquilo que finito. Pelo fato de no podermos compreender totalmente estas doutrinas, h razo para rejeit-las? Pelo contrrio, este fato constitui uma prova de que elas so de Deus. Se a Bblia fosse de origem humana, o homem poderia entender e explicar todas as suas doutrinas, porque o que os homens inventam pode ser explicado pelos homens. Creio na Bblia porque, semelhana da Natureza e da Providncia, ela ao mesmo tempo simples e misteriosa. H mistrios na Natureza; h mistrios na Providncia; h mistrios na Bblia. Todavia, estas trs vm de Deus. Os homens no poderiam inventar aquilo que eles no entendem o que contrrio sua maneira de pensar. Como Paulo escreveu O homem natural no aceita as coisas do Esprito de Deus, por que lhe so loucura; e no pode entend-las porque elas se discernem espiritualmente. (I Co. 2:14)III O Objetivo da Teologia:

Sobretudo, no devemos esquecer que o objetivo da Teologia no explicar, mas expor os fatos da Revelao de Deus. Temos que receber esses fatos pela f, e a f um paradoxo, porque ver o invisvel, receber coisas que ainda no vieram, e entender aquilo que humanamente ininteligvel. A f a certeza das coisas que se esperam, a convico de fatos que se no vem... pela f entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus. (Hb. 11:13). Ter f depender de Deus, no somente com respeito nossa salvao, mas tambm em referencia ao nosso conhecimento. Como filhos de Deus estamos satisfeitos porque nosso Pai sabe todas as coisas. Em referncia a este fato Dr. Charles Hodge fez as seguintes observaes:

Deve-se lembrar que a teologia no filosofia. Ela no pretende descobrir a verdade, ou reconciliar aquilo que ensina como verdadeiro com todas as outras verdades. sua incumbncia declarar simplesmente o que Deus tem revelado em sua Palavra e defender essas declaraes, tanto quanto possvel das noes falsas e das objees. necessrio lembrar este limitado e humilde trabalho da teologia, quando falamos dos atos e propsitos de Deus.

IV A razo por que escolhi a predestinao como assunto da minha tese.

Por que no escolheu um assunto mais proveitoso para sua tese? Perguntou um dos meus amigos. A razo que este assunto tem sido um dos mais embaraosos para mim desde o inicio dos meus estudos teolgicos, e mesmo antes. A primeira vez que pensei nesse assunto tinha 15 ou 16 anos, trs anos antes de entrar no Seminrio. Comecei a pregar quando cursava o ginsio. Durante as frias tinha de ajudar o pastor da minha igreja, que cuidava de outras duas igrejas. No primeiro domingo que eu tive de substitu-lo, ensinei na sua classe na Escola Dominical. O estudo era sobre a epstola aos Romanos, e o captulo sobre o qual eu tinha que ensinar naquele domingo no era outro seno o captulo nove. Eu apenas pude ler o captulo e fazer um comentrio muito breve sobre ele. Aps o culto uma senhora recm-convertida aproximou-se de mim muito perturbada e transtornada, e perguntou-me: Se como S. Paulo diz naquele captulo, porque eu tenho que orar pelo meu marido? Se ele foi eleito, ser salvo; mas se no foi, no adianta orar por ele. No fui capaz de explicar-lhe essa dificuldade, mas depois daquele dia comecei a pensar no assunto. Contudo, desde que aceitei a cadeira de Teologia Sistemtica no Seminrio Evanglico do Norte, em Recife, Pernambuco, este assunto tem dado ocasio para mais discusses e perplexidades entre os estudantes do que qualquer outro dos grandes assuntos da Bblia. Tendo vindo aos Estados Unidos para fazer um curso especial neste Seminrio, resolvi aproveitar a oportunidade para fazer um estudo especial sobre este assunto e tambm escrever uma tese sobre ele. Depois de ter lido cerca de quarenta livros e artigos sobre o assunto, ainda penso que ele envolve problemas que ningum capaz de resolver na vida presente; esta opinio sustentada pelos maiores telogos que eu tenho consultado sobre o assunto.

V Como considerar o assunto:

Estudando um assunto como predestinao em que o eterno destino dos seres morais est envolvido, e, especialmente, em que a concepo dos homens sobre o amor e a justia de Deus est em jogo, devemos consider-lo com um esprito muito humilde, reconhecendo a nossa ignorncia e finidade, e por conseguinte nossa incapacidade para entender esse mistrio de Deus, que somente o seu Esprito capaz de esquadrinhar e entender completamente. (I Co. 2:10-12.) Considerando um assunto como predestinao devemos fazer o que Moiss fez, a saber, tirar os sapatos dos ps, porque o lugar onde estamos pisando terra santa. (Ex. 3:5). Estudando este assunto no devemos nos esquecer do que Deus disse: Os meus pensamentos no so os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor, porque, assim como os cus so mais altos do que a terra, assim so os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos. (Is.55:8,9.). Estudando este assunto e outros semelhantes, devemos lembrar que agora vemos como em espelho, obscuramente, ento veremos face a face; agora conhecemos em parte, e, somente quando estivermos com Deus veremos e conheceremos completamente. (1Co.13:12).

A doutrina deste alto mistrio da predestinao deve ser tratada com especial prudncia e cuidado, a fim de que os homens, atendendo vontade revelada em sua Palavra e prestando obedincia a ela, possam, pela evidncia da sua vocao eficaz, certificar-se da sua eterna eleio. Assim, a todos os que sinceramente obedecem ao Evangelho esta doutrina fornece motivo de louvor, reverncia e admirao de Deus bem como de humildade, diligncia, e abundante consolao. (1)

Calvino, o grande expositor desta doutrina, por cujo nome esta parte da teologia conhecida no mundo, apresenta a seguinte advertncia, acerca do modo como a doutrina da predestinao deve ser tratada:

A discusso da predestinao, um assunto de si mesmo mais do que intrincado feita confusamente, e, por conseguinte, perigosamente pela curiosidade humana, que no tem barreiras para restringir o seu divagar pelos labirintos proibidos e o seu esvoaar alm da sua esfera, como que resolvida a no deixar inexplorados, ou inesquadrinhados os segredos divinos... Primeiramente, ento, faamo-los lembrar que quando inquirem sobre a predestinao, esto penetrando nos recessos mais recnditos da sabedoria divina... Devemos, ento, em primeiro lugar, ter em mente que desejar algum outro conhecimento sobre a predestinao, alm do que est revelado na Palavra de Deus, indica uma grande loucura; como desejar andar por caminhos intransponveis, ou desejar ver no escuro. No devemos nos envergonhar de sermos ignorantes de algumas coisas relativas a um assunto, sobre o qual, quando nos reconhecemos ignorantes, isso uma ignorncia sbia.

Paulo, que foi inspirado pelo Esprito Santo, reconheceu a profundidade deste assunto para a mente humana, e, exclamou, aps fazer a mais completa apresentao do assunto no captulo onze da Carta aos Romanos: profundidade da riqueza, tanto da sabedoria, como do conhecimento de Deus! Quo insondveis so os seus juzos e quo inescrutveis so os seus caminhos! Quem, pois conheceu a mente do Senhor? ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro lhe deu a ele para que lhe venha a ser restitudo? Porque dele e por meio dele e para ele so to das as.coisas. A ele, pois, a glria eternamente. Amm. (Rm 11:33-36).

VI A quem devemos ensinar o assunto

H alguns telogos calvinistas que acham que ns devemos pregar sobre predestinao e ensinar o assunto para qualquer pessoa. Eu no penso assim. Devemos seguir o exemplo de Cristo e de Paulo, que no falavam sobre certos assuntos profundos para aqueles que no estavam preparados para receb-los. Jesus disse aos seus discpulos na vspera da crucificao: Tenho ainda muito que vos dizer, mas vs no podeis suportar agora. (Jo.16:12). E Paulo escreveu para os corntios: Eu, porm, irmos, no vos pude falar como a espirituais; e, sim, como a carnais, como a crianas em Cristo. Leite vos dei a beber, no vos dei alimento slido; porque ainda no podeis suport-lo. Nem ainda agora podeis porque sois carnais. (I Co.3:1,2). Na Epstola aos Hebreus, ns tambm lemos: Pois, com efeito, quando deveis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, tendes novamente necessidade de algum que vos ensine de novo quais so os princpios elementares dos orculos de Deus; assim vos tornastes como necessitados de leite, e no de alimento slido. Ora, todo aquele que se alimenta de leite, inexperiente na palavra da justia, porque criana. Mas o alimento slido para os adultos, para aqueles que, pela prtica, tem as suas faculdades exercitadas para discernir no somente o bem, mas tambm o mal. (Hb.5:12-14). Est claro, portanto, que Cristo e Paulo no ensinavam certas doutrinas profundas para aqueles que no estavam completamente preparados. Penso que esta regra se aplica doutrina da predestinao, uma das mais profundas da Bblia. Concordo totalmente com o Dr. Lewis Sperry Chafer nas seguintes observaes que fez quando escreveu sobre os decretos divinos:

A extenso do prejuzo que tem sido lavrado em certos perodos da Histria da Igreja pela pregao indiscriminada para todas as classes de pessoas sobre as doutrinas da Soberania, Predestinao e Eleio no pode ser estimada... O evangelista quando apresenta sua mensagem aos perdidos ignora todos os problemas que se levantam concernentes aos fatos que pertencem s condies anteriores queda do homem. suficiente para o no regenerado que ele saiba que est legalmente condenado e que uma per feita salvao garantida para ele atravs da graa salvadora de Deus em Jesus Cristo.

E, um pouco antes tinha declarado:

Muito daquilo que tem sido revelado no pertence totalmente aos regenerados, que por causa da sua imaturidade ou carnalidade, somente podem receber o "Leite da Palavra". Algumas pores da revelao divina, sendo divinamente classificadas como "alimento slido", no so prometidas para crianas. Devo acrescentar contudo, que ns cristos no devemos permanecer crianas para sempre, mas necessitamos crescer "at que todos cheguemos... perfeita varonilidade, medida da estatura da plenitude de Cristo". (Ef. 4:13; comparar com Hb. 6:1; II Pe 3:18).

VII Necessidade de equilbrio:

Um fato que devemos reconhecer de incio que na Bblia temos a soberania de Deus e a responsabilidade do homem. Penso que um erro dar nfase a uma e desprezar a outra. Muitas vezes os calvinistas do tanta nfase soberania de Deus que do a impresso que no adianta apelar para o homem, fazendo assim ininteligvel a multido de apelos, desafios, convites e pedidos de que a Bblia est cheia. Por outro lado os arminianos do tanta nfase vontade livre e responsabilidade do homem que perdem a viso da soberania de Deus. E ainda a de sua onipotncia para fazer todas as coisas de acordo com a sua vontade e os seus planos. Devemos lembrar que ternos aqui dois lados do mesmo assunto: o divino e o humano. Partindo do lado divino, a salvao toda de graa; partindo do lado humano, h responsabilidade e escolha. Pode-se dizer que a Escritura no reala um sistema determinista dos decretos de Deus a ponto de negar a liberdade humana. Sem dvida, h muitas declaraes de tendncia determinista nas Escrituras, declaraes que por si mesmas provem um verdadeiro arsenal de passagens para quem deseja documentar uma teoria do determinismo absoluto. Mas, h tambm outro depsito de declaraes bblicas para o telogo que deseja defender a tese de que o homem, pelo menos nas decises importantes da vida, capaz de fazer uma escolha genuna. Como Robert L. Dabney observa: Pode-se acrescentar que quando voc se aproxima da teologia revelada, encontra as Escrituras (que to freqentemente apresenta o decreto de Deus e a providncia) asseverar e afirmar com igual freqncia a ao livre do homem".

Por causa desse fato podemos dizer (como costumam dizer na Inglaterra) que um calvinista arminiano de p, e um arminiano calvinista de joelhos, porque os calvinistas apelam para a vontade do homem e sua escolha quando pregam, e os arminianos reconhecem que tudo depende de Deus quando oram. Devemos orar como se tudo dependesse de Deus, e pregar como se tudo dependesse do homem.

Somente para ilustrar isto devemos dizer que o cristo bblico deve ser e ser um calvinista de joelho, e um arminiano de p. Ele orar por si mesmo e pelos outros confiando num Deus que tem todas as escolhas humanas dependendo da Sua Vontade. Apelar para si mesmo e para os outros como se a vontade e a responsabilidade do homem fossem reais. No que a verdade esteja igualmente nos sistemas relacionados com os nomes de Calvino e Armnio, mas h nas Escrituras uma nfase aos dois pontos. E o completo segredo da harmonia entre os dois est em Deus". E, assim, como temos sugerido, quando o Evangelho pregado todos os pecadores ouvem o convite: Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Mat. 11:28. Mas quando alguns aceitam esse convite e vm, sabem que vieram porque so ovelhas de Jesus, dadas a Ele pelo Pai (Jo.10:26 a 29). Do lado de fora do cu est escrito: Aquele que tem sede, venha, e quem quiser receba de graa a gua da vida. (Ap. 22:17). Mas, dentro do cu est escrito: assim como nos escolheu nEle, antes da fundao do mundo. (Ef.1:4).

CAPTULO II

OS DECRETOS DE DEUSI A necessidade de uma declarao prvia e de uma exposio dos decretos de Deus:

Antes de estudar a doutrina da predestinao, indispensvel considerar a doutrina dos decretos de Deus, desde que a predestinao, como j foi dito na introduo, um ramo dessa importante doutrina. A relao entre elas to ntima que alguns telogos tm usado a palavra predestinao como equivalente palavra genrica decreto, incluindo todos os eternos propsitos de Deus.

II Significado do termo:

O termo decreto divino uma tentativa para reunir em uma designao aquilo que a Bblia apresenta com vrias palavras e expresses: o propsito divino, (Ef.1:11), determinado conselho, (At.2:23), prescincia (1Pe.1:2; comparar com 1:20), eleio, (1Ts.1:4), predestinao, (Rm.8:30), a vontade divina, (Ef.1:11), e beneplcito (Ef.1:9). (Chafer).

Decreto divino o termo geral, e refere-se ao plano de Deus em toda a criao; predestinao um aspecto particular ou diviso do decreto de Deus, e, refere-se a seres morais, tanto anjos como homens, e est dividida em dois aspectos: a eleio dos salvos, e a reprovao ou preterio dos condenados.

III Declarao da doutrina dos decretos de Deus.

A mais concisa e compreensiva declarao da doutrina dos decretos divinos est no Breve Catecismo, na resposta a pergunta 7: Os decretos de Deus so o seu eterno propsito de acordo com o conselho da sua vontade, pelo qual, para sua prpria glria, Ele predestinou tudo que acontece. Essa definio formada pelas prprias palavras das Escrituras, que so base da doutrina.

A mesma doutrina definida no Catecismo Maior com as seguintes palavras (resposta pergunta 12): Os decretos do Deus so os atos sbios, livres e santos do conselho da sua vontade, pelos quais, desde toda a eternidade, Ele, para sua prpria glria, imutavelmente, predestinou tudo que acontece, especialmente com referncia aos anjos e aos homens.

Na confisso de f a doutrina apresentada nestes termos: Desde toda a eternidade. Deus, pelo muito sbio e santo conselho da sua prpria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porm, de modo que nem Deus o autor do pecado, nem violentada a vontade da criatura, nem tirada a liberdade ou contingncia das causas secundrias, antes estabelecidas. Dr. A. A. Hodge define esta doutrina com as seguintes palavras:

O decreto de Deus o seu eterno, imutvel, santo, sbio e soberano propsito que compreende ao mesmo tempo todas as coisas que foram e que ho de ser em suas causas, condies, sucesses e relaes, e que determinam o seu futuro. Os vrios contedos do eterno propsito so denominados decretos, por causa da limitao das nossas faculdades que os concebem em seus aspectos parciais e em suas relaes lgicas.

Isto suficiente para a declarao da doutrina. Consideremos agora os argumentos que provam sua veracidade.

IV Argumentos que provam a Doutrina.

1. Argumento da Bblia.

Para aqueles que crem na Bblia como a revelao de Deus para a humanidade, a prova suprema, o argumento por excelncia em favor de qualquer doutrina aquele que derivado das Escrituras. Assim comearemos com esta espcie de prova.

H muitas passagens na Bblia que ensinam a doutrina dos decretos de Deus. Esta doutrina constitui na realidade uma das tnicas gerais dos ensinos bblicos. O Dr. Benjamin Warfield fez a seguinte declarao acerca desse fato:

No dizer demais que ela (a doutrina da predestinao, e por conseguinte, os decretos de Deus) fundamental para a conscincia religiosa de todos os escritores da Bblia; e assim, envolve todas as suas concepes religiosas, que, se fossem erradicadas, toda a apresentao bblica seria transformada. Isto verdade tanto com respeito ao Velho como ao Novo Testamento, como poder ser suficientemente manifesto se prestarmos ateno natureza e s implicaes dos elementos formativos do sistema do Velho Testamento, bem como as suas doutrinas de. Deus, da providncia, da f e do reino de Deus.

O que se segue uma srie de passagens bblicas que ensinam essa doutrina: O conselho do Senhor dura para sempre, os desgnios do seu corao por todas as geraes. (Sl.33:11). Este o desgnio que se formou concernente a toda a terra; e esta a mo que est estendida sobre todas as naes. Porque o Senhor dos Exrcitos o determinou; quem, pois, o invalidar? A tua mo est estendida; quem, pois, a far voltar atrs? (Is.14:26-27). Lembrai-vos das coisas passadas da antigidade; que sou Deus e no h outro, eu sou Deus, e no h outro semelhante a mim; que desde o princpio anuncio o que h de acontecer, e desde a antigidade as coisas que ainda no sucederam; que digo: o meu conselho permanecer de p, farei toda a minha vontade. (Is.46:9-10). ... e eu bendisse o Altssimo, e louvei e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domnio sempiterno, e cujo reino de gerao em gerao. Todos os moradores da terra so por ele reputados em nada e segundo a sua vontade ele opera com o exrcito do cu e os moradores da terra; no h quem lhe possa deter a mo, nem lhe dizer: que fazes? (Dn.4:34-35) No se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cair em terra sem o consentimento de vosso Pai. E quanto a vs outros, at os cabelos todos da cabea esto contados. (Mat.10:29-80). Porque o Filho do homem, na verdade, vai segundo o que est determinado, mas ai daquele por intermdio de quem ele est sendo trado. (Lc.22:22). ... sendo este entregue pelo determinado desgnio e prescincia de Deus, vs o matastes, crucificando-o por mo de inquos. (At.2:23) Porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pncio Pilatos, com gentios e povos de Israel para fazerem tudo o que a tua mo e o teu propsito predeterminaram. (At.4:27-28). ... de um s fez toda a raa humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitao. (At.17:26). Diz o Senhor que faz estas coisas conhecidas desde sculos. (At. 4:18) Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que so chamados segundo o seu propsito. Porquanto aos que de antemo conheceu, tambm os predestinou para serem conformes a imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primognito entre muitos irmos. E aos que predestinou, a estes tambm chamou; e aos que chamou, a esses tambm justificou; e aos que justificou, a esses tambm glorificou. (Rm.8:28-30). Mas falamos a sabedoria de Deus em mistrio, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para nossa glria. (1Co.2:7) ... nele, digo, no qual fomos tambm feitos herana, predestinados segundo o propsito daquele que faz todas as coisas, conforme o conselho da sua vontade. (Ef.1:11). Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemo preparou para que andssemos nelas. (Ef.2:10) ... segundo o poder de Deus, que nos salvou e nos chamou com santa vocao; no segundo as nossas obras, mas conforme a sua prpria determinao e graa que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos. (2Tm.1:8-9) ... sabendo que no foi mediante coisas corruptveis, como prata ou ouro que fostes resgatados do vosso ftil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mcula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundao do mundo, porm manifesto no fim dos tempos, por amor de vs. (1Pe.1:18-20), etc, etc.

Estas passagens e muitas outras que poderiam ser facilmente acrescentadas, mostram que o Deus todo poderoso tem um plano ou propsito para este universo que dele. Este plano ou propsito foi concebido na eternidade e est sendo executado no tempo. um plano sbio porque est de acordo com o conselho de Deus. um plano bom porque para a glria de Deus. um plano eterno porque foi concebido antes da fundao do mundo. um plano poderoso porque ningum pode anular. um plano suficientemente grande para abarcar todo o universo, suficientemente minucioso para se interessar com os mnimos detalhes, e atualizando-se com inevitvel certeza em cada acontecimento que sucede. (Dr. Warfield).

2. Argumento da sabedoria divina.

Se Deus um ser racional e superior, deve ser sbio. Sendo infinito, deve ser infinitamente sbio. Nenhum ser sbio faria alguma coisa sem um plano bem pensado e bem preparado antecipadamente. Um arquiteto, por exemplo, no iniciaria a construo de um edifcio sem preparar primeiro a planta do edifcio cuidadosamente com todos os seus detalhes. Um general no daria ordens para o seu exrcito lutar contra o inimigo, sem antes preparar, com seu estado maior a estratgia para a batalha. Jesus mesmo indicou a sabedoria e a necessidade de fazer plano com antecedncia, quando disse: Pois, qual de vs, pretendendo construir uma torre, no se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para concluir. Ou, qual o rei que, indo para combater outro rei, no se assenta primeiro para calcular se com dez mil homens poder enfrentar o que vem contra ele com vinte mil? (Lc.14:28,31).

Nenhuma deduo a respeito de Deus pode ser mais desonrosa e enganosa do que a suposio de que ele; no soberano sobre as suas obras, ou que ele no est agindo de acordo com um plano que articula a ordem de sua inteligncia infinita. A mente humana poderia imaginar uma situao em que nada tivesse ainda sido criado, quando Deus tinha diante dele uma infinita variedade de planos possveis para escolher; e que finalmente escolheria o melhor plano divisado pela infinita sabedoria, consumado pelo infinito poder, e, que seria a suprema satisfao para seu infinito amor.

Um Deus existente por si prprio, independente, perfeito, imutvel, existindo sozinho desde toda a eternidade, comeou a criar o universo fsico e moral no vcuo absoluto; impulsionado a fazer isso, partindo de certos motivos para atingir determinados fins, e de acordo com idias e planos totalmente emanados de seu interior e de sua iniciativa. Se Deus governa o universo, Ele deve tambm, como um ser inteligente, govern-lo de acordo com um plano; e, este deve ser perfeito em extenso, alcance e detalhes. Se Ele tem um plano agora, deve ter tido o mesmo plano imutvel desde o princpio. Decreto de Deus, por conseguinte, o ato de uma pessoa infinita, absoluta, eterna, imutvel e soberana, compreendendo um plano que abrange todas as suas obras, de todas as espcies, grandes e pequenas, desde o comeo da criao at a infindvel eternidade. Por esta razo ele deve ser incompreensvel e no pode ser condicionado por algo exterior a Deus, pois j estava acabado antes que existisse qualquer coisa exterior a ele, e, por isso, abrange e determina todas essas supostas coisas exteriores e todas as condies delas para sempre.

Um universo sem decreto seria to irracional e espantoso como um trem viajando na escurido da noite, sem farol e sem maquinista, e sem nenhuma certeza de que a qualquer momento poderia precipitar-se no abismo.

Apesar de algumas pessoas se oporem teoricamente predestinao, todos ns, em nossa vida diria seguimos praticamente predestinao. O nosso maior e mais importante empreendimento teve um plano feito por ns, de outro modo, nossa obra terminaria em fracasso. Uma pessoa seria considerada mentalmente perturbada se resolvesse construir um navio, ou uma estrada de ferro, ou governar uma nao, sem um plano. Foi-nos contado que antes de Napoleo comear a invaso da Rssia, tinha feito um plano bem elaborado em seus detalhes, mostrando que linha de marcha cada diviso de seu exrcito devia seguir, onde devia estar em determinado tempo, que equipamento e proviso devia ter, etc. Tudo o que faltou no plano foi devido s limitaes da sabedoria e do poder do homem. Tivesse Napoleo uma previso perfeita e um controle absoluto dos acontecimentos, seu plano, ou como ns poderamos dizer, sua predestinao teria se estendido a cada soldado que executou aquela marcha.

Deus menos sbio que Napoleo?

O homem foi feito imagem de Deus. Isso significa que o homem uma espcie de miniatura de Deus. O que o homem e tem em uma escala limitada, Deus e tem em uma escala absoluta e infinita (exceto o pecado, que alguma coisa que o homem adquiriu depois de ser criado por Deus). A inteligncia um dos atributos do homem. Por conseguinte, Deus deve ser infinitamente inteligente e sbio. Como ns temos visto, uma das expresses da inteligncia e da sabedoria do homem que ele, em tudo que faz, prepara um plano e o segue. A concluso lgica, portanto, que Deus, sendo infinitamente inteligente e sbio, deve ter um plano perfeito e compreensivo para toda a sua criao. este plano que ns chamamos decretos de Deus. Por conseguinte, a sabedoria de Deus prove os decretos divinos.

3. Argumento da Soberania de Deus:

O dicionrio define a palavra soberano como um que possui suprema autoridade; que exerce ou possui suprema ou original jurisdio de poderes; que no est sujeito a nada. A palavra vem do latim super acima, e significa literalmente um que est acima dos outros. Deus est acima de cada coisa e de cada criatura. Ele soberano. Uma boa definio de soberania de Deus a seguinte: Soberania de Deus seu poder e direito de domnio sobre todas as suas criaturas para disp-las e determin-las, como lhe parece melhor. Este atributo evidentemente demonstrado no sistema da criao, providncia e graa; pode ser considerado como absoluto, universal e eterno. (1)

Soberano sinnimo de rei, monarca, potentado e imperador. Reconhecer a soberania de Deus , por conseguinte, reconhecer sua realeza. A mais alta concepo que o homem pode ter de autoridade est incorporada na pessoa de um rei. Esta a concepo bblica de Deus. Tua, Senhor, a grandeza, o poder, a honra, a vitria e a majestade; porque teu tudo quanto h nos cus e na terra; teu, Senhor, o reino, e tu te exaltaste por chefe sobre todos. Riquezas e glria vem de ti, tu dominas sobre tudo, na tua mo h fora e poder; contigo est o engrandecer e a tudo dar fora. (1Cr.29:11,12).

Reina o Senhor. Revestiu-se de majestade; de poder se revestiu o Senhor, e se cingiu. Firmou o mundo, que no vacila. Desde a antigidade est firme o teu trono: tu s desde a eternidade. (Sl.93:1,2). Porque o Senhor o Deus supremo, e o grande rei acima de todos os deuses... Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemo-nos diante do Senhor que nos criou (Sl.95:3,6). Com efeito, eu sei que o Senhor grande, e que o nosso Deus est acima de todos os deuses. Tudo quanto aprouve ao Senhor, ele o fez, nos cus e na terra, no mar e em todos os abismos (Sl.135:5,6). Ento ouvi uma como voz de numerosa multido, como de muitas guas, e como de fortes troves, dizendo: Aleluia! pois reina o Senhor nosso Deus, o Todo-Poderoso (Ap. 19:6).

H muitas outras passagens que falam a respeito de Deus como rei e governador, sobre todas as coisas e sobre cada ser que ele criou nos cus e na terra. So to numerosas porm essas passagens que impossvel citar todas. Elas apresentam Deus reinando com todo poder, bondade e sabedoria. Elas falam dele assentado sobre um alto e sublime trono, como o rei dos reis, Cada criatura no universo tem que se curvar diante dele. At satans e os demnios tm que reconhecer sua soberania. Satans no podia fazer qualquer coisa contra J sem sua permisso (J.1:9-12; 2:4-6). Reconhecendo Cristo como Deus, os demnios admitiam a possibilidade de serem atormentados por ele antes do tempo, e de serem por ele mandados imediatamente para o abismo. E eles no podiam entrar nos porcos sem a permisso dele (Mt.8:28,33; Mc.5:1-13; Lc.8:26-33).

Criao implica soberania. Qualquer que acredita em Deus como criador no pode negar sua soberania sobre tudo que Ele fez. Isto observado na vida diria. Ningum jamais teve oportunidade de dizer que ia existir antes de existir. A existncia lhe foi dada sem que fosse pedido o seu consentimento. Uma mo soberana o introduziu na existncia, colocou-o dentro de um torvelinho de experincias, sem possibilidade para interrupo e descanso; e fez isso sem perguntar se Ele queria ou no. Nenhum homem jamais escolheu a data e o lugar do seu nascimento, ou sua nacionalidade; se nasceria na poca ante-diluviana ou no sculo XX, se nasceria na China ou na Amrica, se seria esquim ou americano. Nada mais evidente para o homem racional do que o fato de existir uma soberania dirigindo sua vida.

Na grande expanso da eternidade que se estende antes de Gn. 1:1, o universo no tinha nascido e a criao existia somente na mente do Criador. Em sua soberana majestade Deus existia sozinho. Ns nos referimos quele longnquo perodo antes que os cus e a terra fossem criados. No havia anjos para entoar hinos de louvor a Deus, nem criatura para ocupar sua ateno, nem rebeldes para serem trazidos em sujeio. O grande Deus era a totalidade nica no meio do espantoso silncio de seu prprio vasto universo. Mas, ainda naquele tempo, se que pode ser chamado tempo, Deus era soberano. Ele podia criar ou no criar, de acordo com o seu beneplcito. Podia criar desta ou daquela maneira; podia criar um mundo ou milhes de mundos; e quem existia para se opor sua vontade? Ele podia chamar existncia um milho de criaturas diferentes e coloc-las em igualdade absoluta, dotando-as com as mesmas faculdades, pondo-as no mesmo ambiente; ou Ele podia criar milhes de criaturas, cada uma diferente da outra, no possuindo nada em comum, exceto a sua condio de criatura, e quem haveria para se opor a esse direito? Se Ele assim desejasse poderia chamar existncia um mundo to imenso que suas dimenses estariam alm da estimativa finita. E, se estivesse disposto, poderia criar um organismo to pequeno que nada, exceto o mais poderoso microscpio poderia revelar sua existncia aos olhos humanos. Era seu soberano direito criar, por um lado, o exaltado serafim para queimar ao redor do seu trono, e, por outro lado, criar um inseto to frgil que morre na mesma hora que nasce. Se o poderoso Deus escolhesse ter uma vasta gradao em seu universo, desde o mais sublime serafim at o rptil que se arrasta, desde os mundos em revoluo aos tomos flutuantes, do macrocosmo ao microcosmo, em vez de fazer cada coisa uniforme, quem poderia questionar sua vontade soberana?. Ver J 38:1-21.

Dr. Warfield prova em seu artigo (Predestinao Biblical Doctrines, p. 7) que a concepo do Velho Testamento sobre Deus a de uma pessoa moral, toda poderosa que dirige todo o universo.

No podemos pensar em Deus seno como um ser que determina tudo o que acontece no mundo, deste mundo que produto de seu ato criador. A doutrina da providncia, que est espalhada em todas as pginas do Velho Testamento sustenta totalmente esta crena. O Todo Poderoso construtor apresentado tambm como o irresistvel governador de tudo quanto Ele tem feito. Todas as coisas sem exceo esto dispostas por Ele, e sua vontade a ltima palavra para tudo o que acontece. Os cus e a terra e tudo o que neles h so instrumentos pelos quais Ele executa seus planos. A natureza, as naes e o destino do indivduo so, igualmente, em todas as suas mutaes, cpia de seu propsito. Os ventos so seus mensageiros, a chama de fogo sua serva, cada ocorrncia seu ato; a prosperidade seu dom, e, se a calamidade cai sobre o homem o Senhor que tem feito (Am.3:5,6; Lm. 3:33-38; Is.45:7; Ec.7:14; Is.44:16). Ele que dirige os passos dos homens, quer eles saibam ou no, quem ergue e derriba; abre e endurece o corao; e, cria os pensamentos e intentos verdadeiros do corao. Em uma palavra, a soberania da vontade divina, como princpio de tudo que acontece, um postulado primrio da vida religiosa, como tambm da viso do mundo como apresentada no Velho Testamento. Ela est implicada na verdadeira idia de Deus, est dentro da concepo da relao de Deus com o universo e com tudo que acontece na natureza, na Histria e no destino dos indivduos. Ela est tambm dentro do esquema da religio, seja nacional ou pessoal. Est colocada na base de todas as emoes religiosas e o fundamento de todo o carter religioso construdo em Israel".

Como o Dr. Charles Hodge mostra, a soberania de Deus exercida: 1) Estabelecendo as leis fsicas e morais que governam suas criaturas; 2) Determinando a natureza e os poderes das diferentes ordens dos seres criados e designando cada um em sua esfera apropriada; 3) Apontando para cada indivduo sua posio e seu destino; 4) E, tambm, nas distribuies de seus favores. "porventura no me lcito fazer o que eu quero do que meu? Mt.20:15.

Em resumo, reconhecer Deus como o supremo soberano do universo, como governador moral do mundo, admitir sua divindade e seu direito de dispor o que ele criou de acordo com sua vontade e seu plano, dizer que Ele na realidade um Deus e no um ttere sujeito s circunstncias que Ele no criou e no pode controlar; no um fantoche que acomoda seus planos s circunstncias que no dependem dele, mas da vontade livro e dos atos de suas prprias criaturas. A concepo que ns temos de Deus, especialmente de acordo com o que aprendemos na Bblia, obriga-nos a crer que, sendo soberano Ele decretou tudo o que acontece para sua glria e para o bem daqueles que o amam, daqueles que so chamados segundo o seu propsito. (Rm.8:28). Ele nunca derrotado. Ainda quando tudo parece estar contra o que Ele planejou, como quando Cristo era rejeitado pelas cidades onde operou a maioria de seus milagres e onde pregou a maioria de seus sermes; ainda assim, devemos fazer como Cristo fez naquela ocasio, isto , deu graas a Deus porque tudo aconteceu de acordo com o seu plano. Passou, ento, Jesus a increpar as cidades nas quais ele operara numerosos milagres, pelo fato de no se terem arrependido: Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vs se fizeram, h muito que elas se teriam arrependido com pano de saco e cinza. E, contudo, vos digo: no Dia do Juzo, haver menos rigor para Tiro e Sidom do que para vs outras. Tu, Cafarnaum, elevar-te-s, porventura, at ao cu? Descers at ao inferno; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se fizeram, teria ela permanecido at ao dia de hoje. Digo-vos, porm, que menos rigor haver, no Dia do Juzo, para com a terra de Sodoma do que para contigo. Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graas te dou, Pai, Senhor do cu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sbios e instrudos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. (Mt.11:20-26). A morte de Cristo parecia ser uma grande derrota, no entanto, lemos na Bblia, em referncia a essa aparente frustrao o seguinte: Vares israelitas, atendei a estas palavras: Jesus, o Nazareno, varo aprovado por Deus diante de vs com milagres, prodgios e sinais, os quais o prprio Deus realizou por intermdio dele entre vs, como vs mesmos sabeis; sendo este entregue pelo determinado desgnio e prescincia de Deus, vs o matastes, crucificando-o por mos de inquos. (At.2:22,23). Ainda quando tudo est to escuro como num dia de tempestade, ns sabemos que alm e acima das nuvens escuras de nossa aflio e perplexidade, o sol da misericrdia e do poder de Deus brilha e que, no fim, tudo acontecer como Ele planejou e determinou para sua glria e nossa felicidade. claro, portanto, que a soberania de Deus, pressupe os seus decretos.Gostaria de concluir esta seco com as seguintes observaes do Dr. Charles Hodge:

No obstante essa soberania ser universal e absoluta, soberania de sabedoria, santidade e amor. A autoridade de Deus no limitada por nada fora dele mesmo, mas controlada em todas as suas manifestaes, por suas perfeies infinitas. Esta soberania a base da paz e da confiana de todo o seu povo. Eles se regozijam porque o Senhor Deus Onipotente reina, porque nem a necessidade, nem o acaso, nem a loucura dos homens, nem a malcia de satans controla a seqncia dos acontecimentos e os seus resultados finais. Sabedoria infinita, amor e poder pertencem ao nosso grande Deus e Salvador, em cujas mos esto confiados todos os poderes nos cus e na terra. (1)

4. Argumento da Prescincia de Deus:Deus sendo eterno, no h uma seqncia de tempo em suas atividades. Por conseguinte, sua prescincia e seus decretos so de fato simultneos. Existe, no entanto, uma relao lgica nas atividades; de Deus, embora no haja uma relao cronolgica. Sendo assim, podemos perguntar: A prescincia divina precede ou sucede aos decretos de Deus? Precisamos fazer aqui uma distino muito importante para responder essa pergunta. H de fato em Deus duas espcies de conhecimento, uma que logicamente precede, e outra que logicamente sucede aos seus decretos. A primeira o conhecimento que Ele tem das possibilidades; e a segunda o seu conhecimento ou antes, sua prescincia da certeza dos fatos possveis. Antes de decretar ou preordenar, Deus deve ter conhecido uma multido de planos possveis. Porm de nenhum desses planos possveis podia haver certeza enquanto ele no decidisse neste sentido.

E com referncia a este fato que a Confisso de F declara:Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou h de acontecer em todas as circunstncias imaginveis, ele no decreta coisa alguma por hav-la previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais condies.

Na Confisso citam-se duas passagens bblicas que ilustram o conhecimento que Deus teve de possibilidades que nunca chegaram a ser realidades. Em 1Sam.23:11,12, Davi perguntou a Deus, Entregar-me-o os homens de Queila nas mos dele? Descer Saul, como o teu servo ouviu? Ah! Senhor, Deus de Israel, faze-o saber ao teu servo. E disse o Senhor: Descer. Perguntou-lhe Davi: Entregar-me-o os homens de Queila, a mim e aos meus servos, nas mos de Saul? Respondeu o Senhor: Entregaro. Deus sabia o que aconteceria se Davi ali ficasse. Mas como no estava decretado que tal acontecesse, Davi foi avisado e retirou-se, pelo que aquilo jamais se realizou. Em Mat.11:21,23 Cristo disse que se tivesse feito em Tiro, Sidom e Sodoma os prodgios que fizera em Corazim, Betsaida e Cafarnaum, aquelas cidades pags ter-se-iam arrependido. Isso conhecimento de uma possibilidade que no chegou nunca a se tornar realidade, porque no fora includa nos decretos de Deus. Este no criou as circunstncias que teriam resultado no arrependimento daquelas cidades pags, e assim claro que Ele no preordenou a converso delas. Todos os eventos, porm, que Deus conheceu antes ou previu como certos, esses Ele incluiu nos seus decretos, e os previu pela simples razo de hav-los decretado. Reconhecer, pois, que Deus prev ou conhece de antemo tudo o que acontece reconhecer que Ele tudo decretou.

Decretar a criao implica em decretar-lhe os resultados previstos... Na eternidade no podia haver nenhuma causa da futura existncia do universo fora do prprio Deus, visto como nenhum ser existia alm dele. Na eternidade Deus previu que a criao do mundo e o estabelecimento das leis que o regem fariam certa sua histria atual, at mesmo nos mais insignificantes detalhes. Mas Deus decretou criar e estabelecer essas leis. Assim decretando, decretou necessariamente tudo quanto haveria de acontecer. Por fim, Ele previu os acontecimentos futuros, do universo, como certos, porque decretou criar; porm tal determinao de criar envolveu tambm a determinao de todos os resulta dos atuais dessa criao ou, em outros termos, Deus decretou esses resultados.

O conhecimento de um plano como ideal ou possvel pode preceder ao decreto; mas o conhecimento de um plano como real ou decidido deve seguir-se ao decreto... Deus portanto prev a criao, as causas, as leis, os acontecimentos, as conseqncias porque decretou a criao, as causas, as leis, os acontecimentos, as conseqncias; isto , porque Ele incluiu tudo isso em seu plano. A negao dos decretos envolve logicamente a negao da prescincia que Deus tem das livres aes humanas; a isto so levados de fato os socinianos e alguns arminianos... Deus conheceu as livres aes humanas como possveis, antes de decret-las; conheceu-as como futuras, haveriam de acontecer, porque as decretou... Quando digo, Sei o que vou fazer, evidente que antes j tomei uma resoluo; esse meu saber no precede a resoluo, mas vem depois dela e nela se baseia... Existem pois duas espcies de conhecimento divino: 1. conhecimento do que pode acontecer do possvel (scientia simplicis intelligentiae); 2. conhecimento do que h e do que vai acontecer, porque Deus o decretou (scientia vsionis). Entre essas duas, o jesuta espanhol Molina concebeu erroneamente uma outra, a saber, um conhecimento intermedirio do que haveria de acontecer, embora Deus no o decretasse (scientia media). Seria este naturalmente um conhecimento que Deus fizesse derivar no de si mesmo, mas de suas criaturas! Mas decretar criar, quando Ele prev que certos atos livres dos homens viro depois, decretar tais atos livres no nico sentido em que empregamos a palavra decreto, a saber, tornar certo, ou abranger em seu plano. Nenhum arminiano, que creia na prescincia que Deus tem das livres aes humanas, tem boa razo para negar os decretos de Deus, explicados assim".

Mas, como harmonizar a prescincia de Deus neste sentido, isto , como resultado de seus decretos, com a responsabilidade do homem? Por causa desta dificuldade, os socinianos no admitem que Deus conhea de antemo as aes livres e contingentes dos homens, e assim negam de fato a oniscincia divina. Os arminianos, no entanto, reconhecem que Deus prev como certas as livres aes do homem, sem decret-las, embora as inclua no seu plano. Mas se Deus viu antes que certa pessoa, criada em determinado tempo e lugar e colocada em certas circunstncias, agiria de certo modo, e apesar disso a criou exatamente em tais circunstncias, no que Ele decretou que essa pessoa agisse desse modo? Entretanto, Deus no ser responsvel pelos atos dessa pessoa, porque esta age livremente, espontaneamente, de acordo com sua prpria natureza e suas inclinaes. Deus no a compele a fazer coisa alguma a pessoa age por si mesma. Por que o povo de Queila no cometeu o crime de entregar Davi a Saul? Porque Deus avisou a Davi, de modo a desaparecerem as circunstncias que a eles teriam sido favorveis para a perpetrao do delito. Suponha-se que Deus no tivesse avisado a Davi, que teria acontecido? T-lo-iam entregue a Saul. Isto provaria que Deus decretara que eles agissem dessa maneira, criando as circunstncias que iam resultar naquele ato. Podemos dizer que Deus seria responsvel pelo que fizessem com Davi? No absolutamente. Eles que seriam responsveis pelo que fizessem, apesar de estar isso includo nos decretos de Deus. O mesmo podemos dizer dos irmos de Jos, e tambm de Judas e de todos quantos contriburam para a crucificao de Cristo. Cometeram um crime, agiram livremente nisso, foram acusados por sua prpria conscincia. Nada obstante, seus atos pecaminosos foram includos nos decretos de Deus e, por isso, foram conhecidos de antemo.

Disse Jos a seus irmos: Agora, chegai-vos a mim... Agora, pois, no vos entristeais, nem vos irriteis contra vs mesmos, por me haverdes vendido para aqui; porque para conservao da vida, Deus me enviou adiante de vs... Deus me enviou adiante de vs, para conservar vossa sucesso na terra, e para vos preservar a vida por um grande livramento. Assim, no fostes vs que me enviastes para c e, sim, Deus. (Gen.45: 4-8). O Filho do homem vai, como est escrito a seu respeito, mas, ai daquele por intermdio de quem o Filho do homem est sendo trado! (Mat.26:24; cf. J.17:12). Porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pncio Pilatos, com gentios e povos de Israel, para fazerem tudo o que a tua mo e o teu propsito predeterminaram. (At.4:27,28).Os arminianos mostram muita reverncia pelas perfeies de Deus a ponto de limitarem o conhecimento dele quanto s aes de agentes livres. Mas esforam-se por fugir concluso inevitvel do decreto e por salvar sua doutrina favorita dos propsitos condicionais, limitando o interesse divino pelos atos, e especialmente pelos pecados, de agentes livres, a simples conhecimento prvio, permisso e inteno de fazer do ato permitido uma condio de alguma parte do decreto. Sustento que aqueles que concedem tanto no podem consistentemente parar a. Se o ato pecaminoso (para fazer o mnimo possvel de concesso aos calvinistas) do agente livre foi previsto com certeza por Deus desde a eternidade, ento sua ocorrncia deve ser certa. Contudo neste universo nada acontece sem uma causa; deve pois haver algum fundamento para a certeza dessa ocorrncia. E nesse fundamento que assenta a prescincia de Deus. Perguntais que fundamento esse? Respondo com uma pergunta: Como pode o conhecimento que Deus tem do possvel passar para o seu conhecimento do real? Somente pela sua determinao de assegurar a ocorrncia deste ltimo. Conceba-se Deus a criar um agente livre, de acordo com o seu plano, e a lan-lo a em liberdade. Se Deus conhece de antemo tudo o que esse agente livre vai resolver fazer, se for criado, acaso no prope a realizao desses atos, quando cria esse agente? Neg-lo uma contradio. Podemos no ser capazes de ver perfeitamente como que Deus consegue com certeza a prtica desses atos por agentes livres, e ainda deixando-os agir unicamente pela prpria vontade deles (espontaneamente), mas o que no podemos negar que Ele o faz. Do contrrio teramos a subverso de sua soberania e prescincia. Com relao ao homem tais acontecimentos podem ser de todo contingentes, duvidosos, eventuais; mas quanto a Deus, nenhum deles pode ser contingente; de outro modo, todas as partes do seu decreto' ligadas, como efeitos, com tais eventos como causas, seriam contingentes no mesmo grau.

Os arminianos admitem que todos estes atos intermedirios dos homens foram previstos eternamente por Deus, e assim foram includos no seu plano como condies: mas no foram preordenados. Replicamos: se foram previstos com certeza, sua ocorrncia era certa; se esta era certa, ento alguma coisa devia haver que determinasse tal certeza. Essa alguma coisa ou era a sbia preordenao de Deus, ou um fado, destino, cego e fsico. Os arminianos que escolham. (1)

Em concluso, sendo onisciente. Deus sabe tudo o que pode acontecer, inclusive os atos de agentes livres. E sendo onipotente, s aquilo que Ele faz ou permite que se faa pode ocorrer. Por conseqncia, tudo quanto Deus previu foi por Ele decretado. Conclumos, assim, que a prescincia de Deus prova os seus decretos.

5. Argumento da Providncia de Deus:

A Providncia uma doutrina plena e repetidamente ensinada nas Escrituras, um fato muitas vezes e impressionantemente verificado na histria, uma experincia maravilhosa e alegremente gozada em nossas vidas. a maneira misteriosa e inexplicvel pela qual Deus atua neste mundo. Como disse algum, o milagre da providncia que aparentemente nela no existe milagre. Cremos que, depois de haver criado o mundo, Deus comeou a agir e a operar em tudo quanto fez, a fim de preservar e desenvolver sua criao, e a realizar os fins que tinha em vista desde o princpio. Cremos na transcendncia de Deus, tanto quanto em sua imanncia. Cremos num Deus distinto, separado, acima e eternamente anterior sua criao, visto como no somos pantestas. Contudo cremos tambm num Deus que sustenta, preserva, governa e dirige sua criao, de acordo com um plano sbio e de longo alcance, porque no somos destas, e sim testas.

O Breve Catecismo define a providncia nos seguintes termos:

As obras da providncia de Deus so a sua maneira muito santa, sbia e poderosa de preservar e governar todas as suas criaturas, e todas as aes delas. (Resposta pergunta n. 11).

O Dr. A. A. Hodge apresenta a doutrina da providncia da seguinte maneira:

Tendo Deus, de toda a eternidade, decretado absolutamente tudo quanto acontece, e tendo no princpio criado tudo do nada pela palavra do seu poder, e continuando subseqentemente e sem cessar presente em cada tomo de sua criao, sustentando todas as coisas em sua existncia, na posse e no exerccio de todas as suas propriedades, tambm de contnuo comanda e dirige as aes de todas as suas criaturas assim preservadas, de modo que se por um lado nunca violenta a lei que rege suas vrias naturezas, por outro faz que infalivelmente todas as aes e acontecimentos particulares e universais ocorram de conformidade com o plano eterno e imutvel includo em seu decreto. H um desgnio na providncia. Deus escolheu seu grande fim, a manifestao de sua prpria glria, mas para alcanar esse fim escolheu inmeros fins a Ele subordinados; estes so fixos; e Ele tem designado todas as aes e eventos, em suas vrias relaes, como meios que levam a esses fins, e Ele de contnuo dirige de tal modo as aes de todas as criaturas que todos esses fins gerais e especiais vm a ocorrer no tempo preciso, pelos meios, pelo modo e sob as condies por ele propostos desde a eternidade.

Segundo a Bblia, a providncia de Deus exercida sobre tudo e sobre cada criatura no mundo. Ele comanda o mundo fsico, o mundo animal e o mundo moral. Mediante seu filho, Ele sustenta, todas as coisas pela palavra do seu poder (Hb.1:3). Nele vivemos, e nos movemos, e existimos (At.17:28)A Bblia ensina com clareza o governo e a direo providencial de Deus. 1) sobre o universo em geral (Sl.103:19; Dn.4:35; Ef.1:11). 2) sobre o mundo fsico (J 37:5,10; Sl.104:14; 135:6,7; Mat.5:45). 3) sobre a criao irracional (Sl.104:21,28; Mat.6:26;10:29). 4) sobre os negcios das naes (J.12:23; Sl.22:28; 56:7; At. 17:26). 5) sobre a origem e a condio de vida do homem (1Sam.16:1: Sl.139:16; Is. 45:5; Gal.1:15,16). 6) sobre os sucessos e os fracassos externos da vida dos homens (SI.75:6,7; Luc.1:52). 7) sobre coisas aparentemente acidentais e insignificantes (Pv.16:33; Mt.10:30). 8) na proteo dos justos (Sl.4:8;5:12;63:8;121:3; Rm.8:28). 9) em prover s necessidades do seu povo (Gn.22:8,14; Deut.8:3; Fp.4:19). 10) em responder as oraes (1Sm.1:19; Is.20:5,6; 2Cron.33:13; Sl.65:2; Mat.7:7; Lc.18:7,8). 11) no desmascaramento e castigo dos mpios (Sl.7:12,13; 11:6)

Como o Dr. Chafer mostra, a providncia de Deus qudrupla:

(a) Preventiva (cf. Gen.20:6; Sl.19:13): Deus usa os pais, os governos, as leis os costumes, a opinio pblica, sua palavra, seu Esprito e a conscincia como meios de impedir providencialmente o mal... (b) Permissiva, que abrange aquilo que Deus no restringe (cf. Deut. 8:2; 2Cron.32:31; Os.4:17; Rom.1:24, 28). (c) Diretiva, por cuja ao Deus dirige os movimentos dos homens e muitas vezes sem que eles tenham conscincia dessa direo (cf. Gen.50:20; Sl.76:10; Is.10:5; Jo.13:27; At.4:28) (d) Determinativa, por cujo exerccio Deus decide e executa todas as coisas conforme o conselho de sua prpria vontade

A providncia de Deus ajusta-se por tal forma liberdade humana que, apesar da certeza de Deus agir, no fatalismo em sentido nenhum. Igualmente, a providncia de Deus o oposto de casualidade. O cuidado divino alcana as nfimas minudncias da vida, tanto quanto os seus aspectos maiores. Certos atributos de Deus reclamam o exerccio de sua providncia. Sua justia indu-lo a assegurar todo o bem moral; sua benevolncia move-o a cuidar dos seus; sua imutabilidade garante que Ele levar a cabo o que comeou; e o seu poder suficiente para a execuo de todos os seus desejos.

Lede a Bblia e vereis a providncia de Deus comandando tudo e guiando cada pessoa realizao dos seus fins. Foi sua providncia que levou Rebeca ao poo para se encontrar com o servo de Abrao, logo que Ele terminou sua orao. Foi sua providncia que dirigiu e moldou a vida de Jac at que este se transformasse e viesse a ser Israel. Foi sua providncia que dirigiu a vida de Jos, a fim de preservar a famlia eleita e preparar o povo de Israel para o seu grande destino. Foi sua providncia que preparou Moiss para ser o libertador e guia de seu povo. Foi sua providncia que fez o arco, atirado ao acaso, ferir o rei por entre as juntas de sua armadura (1Reis 22:34), de modo a serem cumpridas suas palavras. Foi sua providncia que fez os assrios e babilnios castigar seu povo, segundo a palavra dos profetas. Foi sua providncia que disps Ciro a permitir e a ajudar o povo de Israel a voltar para sua terra. Foi sua providncia que preparou o mundo para a vinda de seu Filho e dirigiu seus prprios inimigos para fazerem o que Ele houvera decretado, quando mataram o Salvador Sua providncia guiou e continua guiando sua igreja em gera e cada um de seus filhos em particular para o cumprimento de todos os seus planos, no tempo e na eternidade. E sua providncia tem at guiado e guia ainda todas as naes na realizao de tudo quanto Ele tem determinado segundo o conselho de sua vontade. E embora sua providncia comande e dirija a vida dos indivduos e a histria das naes, o que admira que Ele no constrange a livre agncia do homem. Os homens fazem o que Deus decretou e ao mesmo tempo so responsveis pelo que fazem (cf. o caso dos irmos de Jos e dos assassinos de Cristo, Gen.45:4-8; At.2:23; 4:27, 28).O termo providncia abrange trs coisas a cognio da mente, o decreto da vontade e a administrao eficaz das coisas decretadas o conhecimento dirigindo, a vontade ordenando e o poder executando... Da a providncia poder ser considerada quer no decreto antecedente, quer na execuo subseqente; o primeiro a destinao eterna de todas as coisas para os fins que lhes foram designados; a segunda o governo temporal de todas as coisas de conformidade com esse decreto; o primeiro um ato imanente no ntimo de Deus; a segunda um ato transiente de Deus".

Assim, pois, se cremos na providncia de Deus, teremos de crer nos seus decretos, porque essa providncia simplesmente a execuo no tempo do que Ele decretou na eternidade.6. Argumento da Profecia e da Histria

Eu sou Deus e no h outro semelhante a mim, que desde o princpio anuncio o que h de acontecer, e desde a antigidade as coisas que ainda no sucederam; que digo: O meu conselho permanecer de p, farei toda a minha vontade (Is.46:9,10). Este texto afirma dois fatos: primeiro, que Deus prediz o futuro cada evento que vai ocorrer na histria. Ele anuncia desde o princpio o que h de acontecer, e desde a antigidade as coisas que ainda no sucederam". Apresenta-se isto como prova de que Ele o verdadeiro e nico Deus, o nico que conhece e profetiza as coisas futuras. Cristo nenhum nega este fato. Todos, reconhecem que Deus conhece tudo de antemo. Mas isto no o nico fato que o texto afirma. Em segundo lugar, declara que as coisas futuras que Deus prediz so a realizao do seu conselho, o cumprimento de toda a sua vontade. Ele diz, O meu conselho permanecer de p, farei toda a minha vontade. Noutros termos, este texto mostra a relao que existe entre as profecias de Deus e os seus decretos. Declara o que vai acontecer justamente porque Ele tudo decretou. Como vimos antes, nada pode suceder sem a permisso de Deus. No h um fato da histria que no esteja includo em seu plano E por causa disto, Ele o nico que pode profetizar o futuro.

O poder que Deus tem de profetizar o futuro baseia-se em sua prescincia dos fatos reais que, como j vimos, resultam dos seus decretos. Como disse o Dr. Warfield, escrevendo sobre a doutrina da predestinao no Velho Testamento:

Segundo a concepo vtero-testamentria, Deus s conhece de antemo porque predeterminou, e portanto, tambm por isso que Ele faz que acontea... esta a verdade que subjaz na declarao um tanto incongruente, por ltimo tornada, alias, freqente, resultando em que a prescincia de Deus concebida no V. T. como sendo produtiva. Dillman, por exemplo, diz (Handbuch der Alttestamentlichen Theologie, p. 251): A Prescincia que Ele tem do futuro produtiva; no h notcia de uma prescincia ociosa ou de uma praescienta media. No pensamento dos escritores do V. T., entretanto, no a prescincia de Deus que produz os eventos do futuro; o seu irresistvel governo providencial do mundo por Ele criado para si: e sua prescincia do que ainda vai acontecer baseia-se no seu plano de governo pr-estabelecido. Sua prescincia produtiva apenas uma reproduo de sua vontade, que j determinou no somente o plano geral do mundo, mas todos os particulares que entram na marcha inteira do seu desenvolvimento (Am.3:7; J 28:26,27) e todos os pormenores da vida de cada indivduo que venha a existir (Jer.1:5; Sl.139:14-16; J 23:13,14).

Foi esta prescincia produtiva de Deus que possibilitou as admirveis profecias de que a Bblia est cheia.Na Bblia h profecias que foram cumpridas antes da primeira vinda de Cristo. H outras que o foram na sua vida, morte, ressurreio e ascenso. H profecias que tm sido e ainda esto sendo cumpridas na histria da igreja. H outras que tero seu cumprimento no futuro, na segunda vinda de Cristo e nos fatos que se seguiro a esse glorioso acontecimento. No cumprimento dessas profecias Deus tem includo a livre agncia de homens, bons e maus, crentes e incrdulos, amigos, inimigos e pessoas indiferentes. Na realizao de suas profecias Deus tem includo toda espcie de acontecimentos, grandes e pequenos, fatos que a histria registra e outros que nunca foram relatados, e todos, at aqueles que aparentemente no tm ligao com o plano de Deus, so entrelaados, urdidos por tal forma que constituem por assim dizer um projeto grande e maravilhoso, isto , o plano ou os decretos de Deus.Profecia histria escrita antecipadamente. O estudo das profecias da Bblia capacita-nos a ver como Deus molda a histria, como realiza seus planos, como se aproveita das aes dos homens, sem constrang-los a agir. Sendo Criador, tanto dos homens como das circunstncias, Ele capaz de decretar ou preordenar as aes bsicas ou definitivas dos homens.

No podemos aqui estudar todas as profecias, visto constiturem um assunto muito vasto. Consideremos, pois, ligeiramente apenas uns poucos exemplos, os quais, mesmo assim bastam para provar que Deus tem um plano ou decreto com relao ao mundo.

Comecemos com o caso de Jos, dcimo primeiro filho de Jac.

Mediante os sonhos que lhe deu, profetizou o Senhor o que iria acontecer (ver Gen. 37:5-11). E no fim tudo sucedeu exatamente como Deus predissera, ou em outras palavras, tudo sucedeu em conformidade com o seu plano ou decreto.

simplesmente admirvel como Deus dirigiu cada pessoa e cada acontecimento, que levaram Jos ao Egito e fizeram que Ele se tornasse e fizesse l tudo quanto Ele, Deus, decidira e profetizara que fosse e fizesse.

A preferncia que Jac mostrava por Jos, primeiro filho de sua amada Raquel; o conseqente dio dos irmos; a ida de Jos, certo dia, ao encontro deles; a deciso deles de mat-lo; a interferncia de Rubem; a chegada dos ismaelitas, precisamente quando Rubem, estando ausente, no podia intervir; a proposta de Jud no sentido de vend-lo; a compra de Jos por Potifar, oficial de Fara; os desejos impuros da mulher de Potifar, do que resultou ser Jos lanado priso real; a vinda priso do padeiro-chefe e do copeiro-chefe de Fara; os sonhos que estes tiveram e a interpretao exata que Jos lhes deu; os subseqentes sonhos do Fara e a interpretao de Jos; a interferncia sobrenatural e providencial de Deus, dando merc a Jos perante vrias pessoas; os sete anos de fartura, seguidos de sete anos de seca e fome; em suma, todos estes fatos, alguns naturais e outros sobrenaturais, resultaram no cumprimento do plano de Deus, anunciado a Abrao muito antes que, o prprio Jac nascesse e mesmo antes que Abrao tivesse um filho: Sabe, com certeza, que a tua posteridade ser peregrina em terra alheia, e ser reduzida escravido, e ser afligida por quatrocentos anos. Mas tambm eu julgarei a gente a que tm de sujeitar-se; e depois sairo com grandes riquezas (Gen. 15:13,14).

Note-se que no cumprimento dessas profecias Deus atuou direta e indiretamente. Diretamente, dando sonhos a Jos, aos oficiais de Fara e ao prprio Fara; estando sempre com Jos, a quem abenoou e deu merc perante vrias pessoas; e especialmente mandando os sete anos de fartura e os outros sete de fome. Atuou indiretamente usando a livre agncia de vrias pessoas, sem obrig-las a fazer coisa alguma, mas precisamente criando as circunstncias que resultaram nos atos livres e responsveis delas, atos que, mesmo assim, se harmonizavam com o plano de Deus. Note-se, por exemplo, como os irmos de Jos, agentes que causaram a ida dele para o Egito, reconheceram e confessaram sua culpa, ao dizerem uns aos outros na presena do irmo: Na verdade, somos culpados, no tocante a nosso irmo, etc. (Gen.42:21,22). Jos no entanto pde dizer-lhes: Agora, pois, no vos entristeais, nem vos irriteis contra vs mesmos por me haverdes vendido para c, porque para conservao da vida, Deus me enviou adiante de vs... Deus me enviou adiante de vs, para conservar vossa sucesso na terra, e para vos preservar a vida por um grande livramento. Assim, no fostes vs que me enviastes para c, e, sim, Deus (Gen.45:5-8). E naturalmente os ismaelitas, Potifar, sua lbrica esposa, o chefe dos copeiros e o prprio Fara agiram livremente quando, sem o saberem, realizavam o plano e o decreto de Deus com referncia ao seu povo. Foram usados por Deus para levar seu povo ao Egito, onde havia decidido conserv-lo por quatrocentos anos, antes de introduzi-lo na terra prometida. Deus no compeliu ningum, antes usou os impulsos maus e pecaminosos do homem, assim como os motivos nobres, para levar seus planos realizao. Criou as circunstncias que conduziram os homens aos atos que Ele pde usar para seus propsitos.Outro caso interessante de profecia cumprida o cativeiro de Israel, o reino do norte, sob os assrios, e o cativeiro de Jud, o reino do sul, sob os babilnios. Deus usou o rei da Assria e o rei da Babilnia para castigar o seu povo, embora esses reis no soubessem que cumpriam os desgnios de Deus, anunciados antes pelos profetas (ver 1Reis 14:15,16; 2Reis 17:1-8; 18:11-12; Is. 39:5-7; Jer. 13:17-19; 2Reis 24:10-16; 25:1-30; 2Cron. 36:11-21). admirvel tambm como Deus cumpriu sua profecia de restaurao, fazendo seu povo voltar depois de setenta anos de cativeiro babilnico. Para isso usou Ciro, a quem chamou de meu pastor e ungido, cujo esprito Ele excitou para realizar a sua vontade (Ver Is.11:11,12; Jer. 16:14,15; 23:3; 25:11,12; 29:10; 2Cron. 36:22,23; Is.44:28; 45:1-7).E que dizer das profecias do livro de Daniel, referentes aos quatro grandes imprios mundiais Babilnia, Mdio-Prsia, Grcia e Roma? Como admiravelmente Deus predisse o futuro, sculos antes de ocorrerem esses eventos histricos! No h dvida que Deus reina e dirige tio, cada pessoa, cada nao do mundo, levando-os a realizar seus planos sem constrang-los em sua agencia livre e responsvel.

Necessrio seria escrever volumes, as houvssemos de considerar todas as outras predies profticas e todos os outros acontecimentos histricos, que provam que Deus tem um plano ou decreto com relao ao mundo. Concluamos, portanto, considerando a histria mais maravilhosa, a vida mais admirvel de todas a vida e a histria de Jesus Cristo nosso Salvador, nas quais temos o exemplo mais importante e impressionante de cumprimento de profecias.

Quem quer que estude a Bblia sabe que tudo na vida de Cristo est retratado e predito no Velho Testamento. Ele mesmo disse, Examinai as Escrituras... e so elas que testificam de mim (Jo.5:39). E depois de sua ressurreio declarou aos discpulos, So estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco, que importava se cumprisse tudo o que de mim est escrito na Lei de Moiss, nos Profetas e nos Salmos. Ento lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; e lhes disse: Assim est escrito que o Cristo havia de padecer, e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia (Luc.24:44-46). Paulo tambm escreveu, Antes de tudo vos entreguei o que tambm recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras (1Co.15:3,4).

A primeira profecia a respeito de Cristo encontra-se em Gen.3:15. Tem sido chamada proto-evangelho o primeiro evangelho. No alvorecer da histria do homem, logo depois de sua queda, quando Deus proferia suas temveis palavras de condenao, emitiu a primeira profecia, que se tornou em raio de esperana, naquela hora de treva e desalento.

Nessa profecia Deus revelou seu propsito de salvar o homem e destruir o mal, aps tremenda luta em que Satans seria vencido e esmagado por Um que seria a semente da mulher, e portanto homem, mas que tambm seria divino, como veremos adiante, visto como teria o poder de esmagar a cabea da serpente. Mas de acordo com essa profecia, Ele seria ferido no calcanhar, isto , em sua humanidade (porque, sendo o calcanhar a parte do corpo que toca na terra, representa a humanidade de Cristo, ferida na cruz. Note-se que a serpente teria esmagada a cabea, parte vital e central do corpo. Isto significa que Satans seria completamente vencido. Mas a semente da mulher, o homem Cristo Jesus (o nico que pode ser chamado semente da mulher, visto ter nascido de uma virgem, sendo o resto da humanidade semente de homem) seria ferido em seu calcanhar, que no rgo vital do corpo. Por isso recuperar-se-ia de seu ferimento, o que realmente aconteceu em sua ressurreio. Em Gal.4:4,5 temos uma aluso ao cumprimento desta profecia: Vindo, porm, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulhe