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quinta-feira I 30 de abril de 2020 I ANO LXIV - N.º 3292 I Preço 1,30 PORTE PAGO - TAXA PAGA FUNDADOR: José Barão I DIRETOR: Fernando Reis Agora com TAC - Rx - Ecografia - Mamografia RX Panorâmico Dentário Acordos - Convenções ADSE - SAMS - CGD - PSP - CTT - TELECOM - ADMFA ADMG - MÚTUA PESCADORES - MEDIS SAMS QUADROS - MULTICARE Rua Aug. Carlos Palma n.º 71 r/c e 1.º Esq. - Tel. 281 322 606 em frente à farmácia do Montepio (Tavira) Lojas 2.02 a 2.05 – 8700-137 Olhão - Tel. 289 722 535 E.N. 125, Algarve Outlet, nº 100 Dr. Jorge Pereira RADIS O SEMANÁRIO DE MAIOR EXPANSÃO DO ALGARVE www.jornaldoalgarve.pt Prioritário P 4/5 Chega a haver situações a roçar a escravatura, há máfias organizadas, em alguns casos passam fome. Uma boa parte dos cerca de 30 mil trabalhadores agrícolas que erram entre Algarve e Alentejo ao sabor das campanhas e safras agrícolas não têm qualquer tipo de segurança e vivem em total precariedade. Outros têm mais sorte e chegam a trazer as famílias. A maioria vem de países asiáticos, mas também há muitos do Leste europeu e até brasileiros JORNAL do ALGARVE - em PDF para todos os leitores Dada a situação difícil e extraordinária que o País atravessa, as consequências para a vida de cada um de nós do Estado de Emergência em vigor e a de compaginar essas dificuldades com a impreterível necessidade de manter a população informada, o JORNAL DO ALGARVE informa que a edição semanal em PDF está gratuitamente disponível a todos os leitores no nosso site jornaldoalgarve.pt. Apesar de o jornal continuar a ser semanalmente impresso, é possível que nas próximas semanas possam surgir algumas dificuldades de distribuição da edição em papel. Não sendo diretamente responsáveis por tais problemas, pedimos a maior compreensão aos nossos leitores que possam vir a ser afetados por eles. Podem continuar a contar connosco, nos melhores e piores momentos, tal como, estamos certos, podemos contar convosco. A Direção ANIMAIS SOFREM EM TEMPO DE VÍRUS Mais abandonos e menos doações O novo coronavírus não se transmite aos animais. Mas há alturas em que a ignorância e o medo falam mais alto. Em tempo de pandemia de COVID-19, os abandonos de animais de companhia aumentam, enquanto as doações e donativos diminuem, numa época de grande necessidade. Os canis, gatis e associações de animais do Algarve estão já a passar por sérias dificuldades, incluindo ações de despejo. O voluntariado e boa vontade dos amigos dos animais têm sido uma mais valia, para proporcionar o bem-estar da população animal, as vítimas silenciosa do vírus P 10/11 NESTE NÚMERO Autoridade Marítima vai coordenar segurança das praias P 3 Alunos algarvios criam ideias de negócio e concorrem a prémio internacional P 7 Delegada de Saúde diz que a região está "confortável" Algarve tem número de recuperados superior à média nacional P 8 CRESC Algarve tem 5 milhões para combate ao vírus Última Precários e explorados TRABALHADORES AGRÍCOLAS IMIGRANTES Precários e explorados

Prioritário O SEMANÁRIO DE MAIOR EXPANSÃO DO ALGARVE · Rua Jornal do Algarve, 46 8900 Vila Real Santo António Depósito Legal n.º 9578-85 ISSN 0870-6433 Tiragem média semanal

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Page 1: Prioritário O SEMANÁRIO DE MAIOR EXPANSÃO DO ALGARVE · Rua Jornal do Algarve, 46 8900 Vila Real Santo António Depósito Legal n.º 9578-85 ISSN 0870-6433 Tiragem média semanal

quinta-feira I 30 de abril de 2020 I ANO LXIV - N.º 3292 I Preço 1,30 € Porte Pago - taxa PagaFundador: José Barão I Diretor: Fernando Reis

Agora com TAC - Rx - Ecografia - MamografiaRX Panorâmico Dentário

Acordos - ConvençõesADSE - SAMS - CGD - PSP - CTT - TELECOM - ADMFA

ADMG - MÚTUA PESCADORES - MEDIS SAMS QUADROS - MULTICARE

Rua Aug. Carlos Palma n.º 71 r/c e 1.º Esq. - Tel. 281 322 606em frente à farmácia do Montepio (Tavira)

Lojas 2.02 a 2.05 – 8700-137 Olhão - Tel. 289 722 535E.N. 125, Algarve Outlet, nº 100

Dr. Jorge Pereira RADIS

O SEMANÁRIO DE MAIOR EXPANSÃO DO ALGARVE

www.jornaldoalgarve.pt

Prio

ritár

io

P 4/5

Chega a haver situações a roçar a escravatura, há máfias organizadas, em alguns casos passam fome. Uma boa parte dos cerca de 30 mil trabalhadores agrícolas que erram entre Algarve e Alentejo ao sabor das campanhas e safras agrícolas não têm qualquer tipo de segurança e vivem em total precariedade. Outros têm mais sorte e chegam a trazer as famílias. A maioria vem de países asiáticos, mas também há muitos do Leste europeu e até brasileiros

JORNAL do ALGARVE - em PDF para todos os leitores Dada a situação difícil e extraordinária que o País atravessa, as consequências para a vida de cada um de nós do Estado de Emergência em vigor e a de compaginar essas dificuldades com a impreterível necessidade de manter a população informada, o JORNAL DO ALGARVE informa que a edição semanal em PDF está gratuitamente disponível a todos os leitores no nosso site jornaldoalgarve.pt.

Apesar de o jornal continuar a ser semanalmente impresso, é possível que nas próximas semanas possam surgir algumas dificuldades de distribuição da edição em papel. Não sendo diretamente responsáveis por tais problemas, pedimos a maior compreensão aos nossos leitores que possam vir a ser afetados por eles.

Podem continuar a contar connosco, nos melhores e piores momentos, tal como, estamos certos, podemos contar convosco.

A Direção

ANIMAIS SOFREM EM TEMPO DE VÍRUS

Mais abandonos e menos doaçõesO novo coronavírus não se transmite aos animais. Mas há alturas em que a ignorância e o medo falam mais alto. Em tempo de pandemia de COVID-19, os abandonos de animais de companhia aumentam, enquanto as doações e donativos diminuem, numa época de grande necessidade. Os canis, gatis e associações de animais do Algarve estão já a passar por sérias dificuldades, incluindo ações de despejo. O voluntariado e boa vontade dos amigos dos animais têm sido uma mais valia, para proporcionar o bem-estar da população animal, as vítimas silenciosa do vírus

P 10/11

NESTE NÚMERO

Autoridade Marítima vai coordenar segurança das praias

P 3

Alunos algarvios criam ideias de negócio e concorrem a prémio internacional

P 7

Delegada de Saúde diz que a região está "confortável"Algarve tem número de recuperados superior à média nacional

P 8

CRESC Algarve tem 5 milhões para combate ao vírus

Última

Precários e exploradosTRABALHADORES AGRÍCOLAS IMIGRANTES

Precários e explorados

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»Dois [2] JORNAL do ALGARVE

30 I abril I 2020www.jornaldoalgarve.pt

VIPRENSASociedade Editora do Algarve, Lda.Pessoa Colectiva n.º 501 441 352

Capital Social: 60.000,00 EurosFernando G. Reis: 50%Maria Luísa A. Travassos: 50%Registo ICS n.º 100969

Diretor Fernando Reis

Redação Gonçalo DouradoJoão PrudêncioJosé Cruz Lídia PalmaLuísa TravassosNeto Gomes

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ESTATuTo EDIToRIAL emwww.jornaldoalgarve.pt

ColaboradoresAlmerinda Romeira, Ana oliveira, Ana Viegas, Ângelo Cruz, António Manuel, António Montes, António Sustelo (Bélgica), Arnaldo Casimiro Anica, Caldeira Romão, Carlos Alberto, Car-mo Costa, Domingos Francisco, Eduardo Geraldo, Eduardo Palma, Emiliano Ramos, Fernando Cabrita, Fernando Graça, Hélder Bernardo, Hélder Carrasqueira, Horácio Neves Bacelada, João Paulo Guerreiro, João Xavier, Jorge Costa, José António Pires, José Azevedo, José Manuel Livramento, José Mestre, José Saúde, Júlio Farinha, Luigi Rolla, Luís Santos, Mendes Bota, Miguel Duarte, Miguel Jorge, Rita Pina, Rogério Bastos, Rui Marques, Silva Lucas, Teresa Cristina, Teodomiro Neto, Vitor Cardoso.

Paginação EletrónicaLídia Palma, Ana Reis

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Publicidade, Redação, Composição, AdministraçãoRua Jornal do Algarve, 46 8900 Vila Real de Santo António Telefs. 281 511 955 / 56 / 57 Telefax: 281 511 [email protected]

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Impressão: DISTASA Distribuciones Aliadas, S.A.Pol.Ind.La Isla, parcela 53,41700 Dos Hermanas (Sevilha)

Distribuição: Pedaços de Mar, Lda urb. Horta do Vinagre, Lote 2 8950 Castro Marim

Propriedade: Viprensa Sociedade Editora do Algarve, Lda.Rua Jornal do Algarve, 468900 Vila Real Santo António

Depósito Legal n.º 9578-85ISSN 0870-6433

Tiragem média semanal do último mês: 5 500 exemplares

Medalha de Mérito Turístico - Grau Ouro

A s s o c I A ç ã oP o r t u g u e s ad e I m p r e n s a

Passou mais um 25 de Abril e com ele a música de José Afonso lá teve direito a algum tempo de antena. Vão-me dizer (sem razão), que por minha vontade havia de alguém insti-tuir uma M80 para revolucionários (M25 talvez?). O tempo, esse grande escultor (obrigado Marguerite Yourcenar?), vai filtrando o que se ouvia em termos de música portuguesa há cinquenta anos, mas, infelizmente, só ficou o Zeca. Sei que estamos a falar em termos museológicos, e que por-ventura, hoje se faz também tão boa ou má música como se fazia na altura, mas custa um bocado ver desaparecer muito do bom que se ouvia no tempo em que as galinhas tinham dentes. Mas também onde se fez a revolução que possibilita que alguns alarves venham, nas redes sociais, dizer que antigamente é que era bom e que a liberdade de expressão (o que possibilita que eles agora possam escrever o que querem sem que lhes aconteça nada de mal) não interessa para coisa nenhuma. Eu sei (voltando à música) que era a influência da “chanson”, que nos chegava das terras de França, que trazia um certo ar de superioridade intectual (grande parte das vezes involuntário e merecido) que, na prática, despoletou um certo paradigma na crítica que nos pastoreava, na altura, o gosto, género só os revolu-cionários é que são bons. Mas também está certo, lembrar o génio de Zeca Afonso, em datas certas (vinte e cinco de Abril, um de Maio etc.): não é o suficiente mas há coisas piores, como infectar a avó.

Por falar em datas, este ano tivemos a história ro-cambolesca do 25 de Abril, comemora-se ou não. O antigo presidente Cavaco Silva aproveitou as dúvidas para faltar à festa da Assembleia da República o que mostra que, por vezes, se junta a fome à vontade de comer. Segundo parece, compareceram menos de cem pessoas à comemoração; al-guns, obviamente, estavam a mais, mas festa é festa. Sobre se esta deveria ter existido (mesmo com menos pessoas do que lá costumam estar em dias normais), o que tenho a dizer á que se eu fosse guardião da virtude não a teria realizado. Montava-se antes uma coisa por videochamada ou à janela que ninguém tinha cara (nem Telmo Correia) para dizer que não estava de acordo. Mas a verdade é que há – muitas vezes – uma certa malta de esquerda que se supõe moralmente superior e que não aplica a si própria, os mesmos princípios que prega, aos outros. Mas se não existissem estes tiros no pé, a popularidade de António Costa (que, em ultima instância paga justa ou injustamente, as favas), subia a níveis estratosféricos e depois ainda se punha a imaginar coisas complicadas. Quem esteve muito bem, neste particular da festa da liberdade foi o casal Ea-nes. A senhora mostrou que não vai a qualquer lugar (nem mesmo do mais importante para a democracia portuguesa) só porque tem que ir. Ramalho Eanes (a par de Mário Soa-res – já sei que me vão chamar nomes, mas pode ser que alguns sejam bons e Salgueiro Maia), fará parte das nossas maiores figuras, que só a história lhe dará o devido mérito. Para mais é uma daquelas pessoas que procuramos, nas palavras e actos, alguma coisa que o manche e a menos que haja alguma surpresa desagradável (como jogar nas raspadinhas, à sorrelfa da família) não encontramos uma manchazinha.

[avarias]

Fernando Proença

Menina estás à janela

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ComuniCando desportivamente

Um contributo técnico-pedagógico

Conhecermo-nos, é uma virtude não é limitar a ambição

Poder-se-á considerar o que, em síntese, Tarantini extrai do seu exemplar percurso, enquanto jogador de futebol.

De seu nome completo Ricardo José Vaz Alves Monteiro, hoje com 36 anos, capitão e centro-campista ao serviço do Rio Ave, começa por nos relatar como surgiu o alcunha de Tarantini: "Jogava no Sporting da Covilhã e o meu treinador era João Cava-leiro. Certo dia disse-me que era igualzinho a um tal de Alberto Tarantini, antigo defesa esquerdo da seleção da Argentina". Nome que colou, ao ponto de já não se lembrar de quando foi tratado por Ricardo. Até a minha esposa me chama de Tarantini. Adoro", acrescenta Ricardo.

De salientar que Tarantini, em 2018, publicou um livro a que deu o sugestivo título de "A Minha Causa", que tem vindo a ser apontado como exemplo, sobretudo para os jogadores de futebol no "depois do adeus" às suas carreiras.

Nesse mesmo ano foi eleito com o prémio "Ética no Desporto", o que diz bem da sua postura enquanto especialista na temática das transições de carreira no desporto em Portugal.

Tarantini que nos relata um pouco do seu percurso: "Nunca fui um mago da bola. Nunca fui o melhor da escola nem sequer pelos clubes onde andei. A transição júnior para senior e ao longo destes 20 anos de carreira profissional, mostrou-me que não há espaço para todos, nem mesmo lugar cativo para aqueles que tratam a bola por tu. Até podem dizer que o futebol é injusto! Mas, então onde caberiam aqueles que fazem da vontade, resiliência e determinação, as suas armas? Não há dúvidas, que o futebol dá oportunidades àqueles que verdadeiramente a querem agarrar. Eu sou um deles".

E, de forma sustentada e assertiva, ainda refere: "A partir de certa altura da minha carreira, apercebi-me que nem todos podem

Humberto gomes*

ser os melhores do mundo".Razão pela qual escolhemos para título

esta afirmação de Tarantini: "Conhecermo-nos, é uma virtude, não é limitar a ambi-ção", ao mesmo tempo que complementa o seu raciocínio: "É saber estabelecer estratégias. E aí há uma marca que me distingue", refere justificadamente, rematando com o pé ou de cabeça, afinal de corpo inteiro: "São já 27 anos de vida, a conciliar a escola e o futebol. Em 2001 a licenciatura, em 2014 o mestrado e em 2017 o doutoramento". Elucidativo, acrescentaremos! Para, de forma categórica, sublinhar. "A con-clusão deste último vai permitir afirmar ainda mais essa marca. Será a minha bola de ouro".

Pelas (muitas) razões aduzidas, compreender-se-á que, face ao exemplar percurso, tenha sido distinguido com o prémio "Ética no Desporto".

De que, particularmente o futebol, tanto precisa, como, a fe-char, em jeito de remate final, Tarantini nos dá conta. "É possível conciliar carreiras e jogar num nível alto, pois uma grande certeza vai acontecer, um dia: qualquer profissional de futebol vai pendurar as chuteiras. O grande vazio, identificado pelos ídolos de outrora, vai chegar e uma nova carreira nascer".

Que lição de vida para, num último time out, termos presente, em homenagem aos seus progenitores, esta recordação de Taran-tini: "Os meus pais sempre me disseram, que a maior herança que me podiam dar era a minha formação académica".

Nada mau, em tempo de justificado e responsável confina-mento.

Afetuosamente, aquele abraço. “Embaixador para a Ética no Desporto”

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JORNAL do ALGARVE [3] AtuAlidAde

30 I abril I 2020www.jornaldoalgarve.pt

A Autoridade Marítima Nacional anunciou que vai coordenar, no âm-bito das suas competências, e em cooperação com as autarquias locais no que for aplicável, a segurança balnear nas praias marítimas e nos espaços com aptidão de uso balnear, nas vertentes de vigilância, proteção, fiscalização, salvaguarda, socorro e assistência de utentes e banhistas, e salvamento marítimo, anunciou a Polícia Marítima em comunicado.

Estas ações irão implicar, respeti-vamente, o empenhamento da Polícia Marítima, do pessoal ao serviço das Capitanias dos Portos, das Estações Salva-Vidas e do pessoal da Marinha

que for empregue na Autoridade Ma-rítima Nacional em reforço de ação de vigilância, designadamente ao abrigo do Projeto "SeaWatch", numa ação concertada.

Todo o quadro de intervenção dos órgãos da Autoridade Marítima Nacio-nal será desenvolvido em observância do que for previamente determinado pelas autoridades de saúde, sendo que as premissas de controlo de acessos, regras de uso do areal e implementação das atividades que nele se poderão desenvolver serão estabelecidas em cooperação com as autarquias locais e, no aplicável, com a Agência Portuguesa do Ambiente,

atenta a tipologia, dimensão e carac-terísticas das praias, enuncia a nota de Imprensa.

Estas ações serão desenvolvidas em complemento às decisões que, entretanto, forem tomadas, em âmbi-to técnico, pela Agência Portuguesa do Ambiente e restantes autoridades que integram a Comissão Técnica de Acompanhamento das Águas Bal-neares - onde a Autoridade Marítima Nacional também está representada - em termos da classificação das águas balneares, o que será sempre um pressuposto prévio para o uso balnear que vier a ser enquadrado pelo Governo.

Carlos Luís Figueira

VAi AndAndo Que estou ChegAndo

Não fosse a sessão comemorativa realizada na Assembleia da República, contra todas as pretensões da direita e de muitos falsos “abrilistas” que, na conjuntura, aproveitaram para despir a casaca e, na circunstância felizmente, saíram da sessão não só derrotados mas profundamente humilhados, não fora esse facto que marcou as comemorações, como era devido na casa da democracia, marcada por um discurso valioso do Presidente da República, seguido de outro do também Presidente da Assembleia, e dos Partidos que defenderam as comemorações do dia mais importante de Portugal dos últimos séculos, tinha-se revestido de alguma tristeza. A fazer-me remeter para as minhas memórias quando nessa madrugada tinha marcado às 6 da manhã um encontro com uma camarada nas margens do rio Douro para lhe entregar documentação que tinha de ser salvaguardada, porque embora tivesse notícias do mo-vimento que iria ocorrer, não tínhamos certezas do seu êxito, remetendo para outro encontro já para finais da tarde, para receber notícias mais frescas sobre o ambiente vivido então na cidade do Porto.

A partir desse dia a minha comemoração dessa gloriosa data, ao longo de anos, confundiu-se sempre entre a noite e madrugada de 24 e a ma-nhã de 25. Mesmo quando tinha nessa manhã de intervir nas sessões em representação do Partido em diversas instituições do novo regime democrático. O avanço dos anos, a situação de saúde e sobretudo a relação de rotura com o PCP, fez com que a minha participação nas comemorações tomassem outro ritmo. Apesar de tudo da minha janela, mesmo que único, acabei por cantar a Grândola Vila Morena e o Hino Nacional. Embora com infinita tristeza.

Os próximos dias revelam-se da maior importância para a vida futura do País. Desde logo porque no final do mês acaba o período de quarentena e a este período há que responder com medidas que aliviam a vida dos portugueses e da actividade económica, sem colocar em causas os passos dados no combate à epidemia. Medidas que têm de ser entendíveis e sobretudo viáveis na sua execução e estou particularmente a referir-me para a área da restauração que tanta importância representa no Algarve. Mas também no que respeita aos pequenos serviços para os empresá-rios, para todos é necessário estar claro o que têm de fazer e como, para saberem o que está ao seu alcance.

Mas igualmente entender que milhares de portugueses levaram um golpe profundo na sua qualidade de vida e hoje vivem com muito menos do que viviam, enfrentando dívidas, compromissos, que todas as ajudas não cobrem, porque empobreceram no espaço de poucos meses, e só a reanimação da economia pode abrir um espaço, mesmo que lento, mesmo que tendo de reaprender a viver em circunstâncias diferentes que lhes possam abrir, com outras ajudas, janelas de oportunidade, e para tal têm de ter respostas claras do governo.

A meados de Maio, em princípio, se decidirão os montantes de ajudas que as instâncias da UE, disponibilizarão, para enfrentar os efeitos desta profunda crise em que a Europa está envolvida. Pelo que se vai sabendo, quer por declarações do PM e do MF, a questão gira em torno do montante a disponibilizar, das condições do seu acesso mas, fundamentalmente, do compromisso de cada Estado para o obter. Ou seja a relação entre os montantes a disponibilizar a fundo perdido e os cativados a uma dívida mesmo que paga a prazo alargado, solução que menos interessaria ao nosso País. Esperamos pela decisão final, sendo que, também, é justo dizê-lo, chegados até aqui, se assim for, foi dado um passo gigantesco.

Ainda no plano político, quer o Bloco, quer o PSD, preparam propostas a apresentar ao Governo para responder à crise, com base em apoio de especialistas de um lado e doutro. Seria importante que da parte do PCP viessem iniciativas no mesmo sentido.

O momento de crise que o País atravessa, cujas consequências ainda se farão sentir de forma mais violenta, exige respostas que a todos nos cabem exigir, para não deixarmos nas mãos de outros o que também nos compete fazer, fazendo com tal atitude morrer a esperança, o que de todo não pode acontecer.

[email protected]

Autoridade Marítima vai coordenar segurança das praias

Confesso-me dividido. De um lado, o infindável planalto minimalista a que chegámos, as muitas interrogações sem resposta com o futuro por tema, a crise – e sim, sobretudo os milhões de crises pessoais – que se instalou, os primeiros assomos de fome e miséria absoluta que devastam milhares de existências no meu País, um início de crise que se vai multiplicar e sempre agravar, e agravar, e agravar. Tudo a impulsionar-nos para fazermos alguma coisa, rompermos com este ciclo de uma realidade que só piora.Do outro lado, a inevitável conclusão de que afrouxar medidas vai, deixemo-nos de subterfúgios, matar gen-te. Sim, por muitas máscaras, lavagens, distâncias, cautelas com que atolemos o nosso futuro próximo fora de casa, aumentarão riscos, casos e mortes.Qual é então o critério da nossa escolha ética e, em matéria executiva, da opção do Governo? Valerá a pena este regresso imediato à normalidade? Não será ele precoce? Quantos pratos de sopa valerá uma vida humana? Quantas famílias satisfeitas? Quantas fábricas abertas, bicas ao balcão, restau-rantes cheios, lojas cheias, praias apinhadas, pique-niques de felicidade, escolas com aulas, esplanadas repletas, teatros cheios (ainda que com um terço da lotação)? Qual o preço a pagar, em sacrifícios íntimos, privados, chorados, pela nossa felicidade coletiva, ainda que essa felicidade se chame apenas, tecnocraticamente, “retoma”?É esta a minha divisão e é à saída dela que não che-guei. Continuo ignorando quantos pastéis de belém, ou mesmo carros produzidos pela Autoeuropa, vale uma vida, mesmo que de um velhote de 80 ou 90 anos. Qual o valor da antecipação da sua morte em alguns miseráveis anos?

Mortes sacrificiaisAntónio Costa mostra-se disposto a recuar um passo caso os passos à frente deem para o torto. Por outras palavras: se morrer gente. Mais crua-mente, o primeiro-ministro está disposto a arriscar o sacrifício de umas quantas vidas em nome da retoma da economia e da felicidade coletiva. Depois… entra a numerologia: a tal questão de saber a partir de quantos mortos para baixo se constrói um sucesso.Afinal, provavelmente, seremos cobaias da retoma económica. Se não resultar – quer dizer, se morrer mais gente do que morre agora – daremos um passo atrás e regressaremos ao (des)conforto do lar. E, em milhares de casos, à miséria.Faz-me lembrar a atitude das nações quando se trata de guerra: se o ideal vencer, podem morrer uns quantos. A morte é o natural sacrifício em nome de um conceito que se elegeu como mais nobre. Na frente de batalha, ou na campanha da retoma, há um número de baixas acima do qual se pode falar em derrota. O problema não é “se” existirão esses sacrifícios de vidas (existirão inevitavelmente), é “quantos” serão eles até o magnânimo Estado decidir que é demais e, porventura, dar o tal passo atrás. Até porque, reforço o que já disse, não é só a estrita felicidade terrena que está em causa do outro lado da balança: a fome, multiplicada por milhares de vidas, também tem um peso, assim como os sacri-fícios brutais, o desemprego, os sem-abrigo. Mais do que Costa (que já decidiu), estou eticamente dividido, como um general sensível à morte dos seus homens na hora de decidir se avança. Indeciso entre a vida e a vida.

> João Prudêncio

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30 I abril I 2020www.jornaldoalgarve.ptRepoRtagem [4] JORNAL do ALGARVE

> João Prudêncio

Ninguém sabe ao certo quantos são, aparecem e de-saparecem aqui e ali por todo o sul do País, mas calcula-se que haverá pelo menos 30 mil imigrantes estrangeiros a trabalhar entre Alentejo e Al-garve, muitas vezes saltitando entre as duas regiões. Calcula-se que 90% dos trabalhadores agrícolas do sul português são estrangeiros, os portugueses preferem o Turismo e a “lim-peza” do setor dos serviços.

A maioria são indo-asiá-ticos, provenientes da Índia, Bangladesh, Nepal, Paquistão, Tailândia. No interior do Alen-tejo há muita gente africana. Mas também chegam do Leste europeu, Moldávia, Ucrânia, Roménia. E do Brasil.

Saltam entre Algarve e Alentejo ao sabor das cam-panhas (frutos vermelhos, azeitona, uva), mas muitos deambulam por regiões mais longínquas, vão à campanha da pera no litoral Oeste, che-gam às vinhas do Douro ou até às vinhas de Trás-Os-Montes.

Mas é no sul do País que sobretudo se estabelecem: “Há um ciclo, que começa em janeiro no Algarve com os frutos vermelhos [framboesas, amoras, morangos], depois vão para o Oeste também com frutos vermelhos, a se-guir fazem a campanha da uva sem grainha no Alentejo, continuam no Alentejo com frutos vermelhos do final de maio até setembro (Odemira); depois fazem a campanha da pera no Oeste [Torres Vedras,

Chega a haver situações a roçar a escravatura, há máfias organizadas, em alguns casos passam fome. Uma boa parte dos cerca de 30 mil trabalhadores agrícolas que erram entre Algarve e Alentejo ao sabor das campanhas e safras agrícolas não têm qualquer tipo de segurança e vivem em total precariedade. Outros têm mais sorte e chegam a trazer as famílias. A maioria vem de países asiáticos, mas também há muitos do Leste europeu e até brasileiros

TRABALHADORES AGRÍCOLAS IMIGRANTES

Precários e explorados

Caldas da Rainha] e terminam em novembro e dezembro nos olivais do interior alente-jano. Muitos tiram férias em dezembro e janeiro. De 15 de dezembro a finais de janeiro alguns vão às suas terras de origem”, detalhou ao JORNAL do ALGARVE o empresário agrícola Tiago Andrade, 42 ano, da Hubel, empresa de frutos vermelhos situada no Pechão, entre Tavira e Olhão, que chega a empregar, no pico das campanhas, 580 traba-lhadores imigrantes.

Não é o caso da Hubel, uma start-up agrícola recente e modernizada, com fortes exigências quanto à legalidade e qualidade das condições humanas da sua mão-de-obra, mas muitos dos trabalhadores que alternam entre Alentejo e Algarve vivem em precá-rias condições de habitação, alguns são explorados por autênticas máfias organiza-das com ramificações entre os seus países de origem e destino.

Empresas de trabalho temporário

que desaparecemAlberto Matos, 67 anos,

dirigente da Solidariedade Imigrante – a maior associa-ção portuguesa de defesa dos imigrantes – reside no interior do Alentejo e sabe do que fala quando fala de mão-de-obra explorada: “Muitos deles le-galizaram-se. Eles estão cá, ninguém os expulsa, esse não é o problema. A questão é se muitos estão ilegais a ser ul-tra-explorados, ou se estando

legais ou em situação de regu-larização estão regularizados no sistema de trabalho”.

“Quer no litoral, quer no interior, raramente os agricul-tores empregam diretamente as pessoas: recorrem a empre-sas de trabalho temporário e, pior do que isso, a empresas prestadoras de serviços, que alugam mão-de-obra à hora. Raramente têm um mês in-teiro de descontos, porque a tarefa acaba e aí muitas vezes há precaridade total e ainda há pessoas em situação irregular, embora com esses contratos depois se comecem a regularizar. Mas há muitos que, estando em processo de legalização ou legalizados, são sujeitos a uma exploração muito grande”, acrescenta o dirigente associativo.

O problema não é, por-tanto, a legalização desses imigrantes. É muitos deles serem vítimas de esquemas de angariação de mão-de-obra que passam por empresas de trabalho temporário sem escrúpulos. “Estou a falar de prestadores de serviços que são criados na hora e desa-parecem no minuto seguinte, nomeadamente quando o Fisco e a Segurança Social vão atrás deles, por não te-rem pago. São criadas em espaço europeu ou fora dele, movimentam-se com a maior facilidade. E muitos empre-sários agrícolas, mesmo com contratos de trabalho, que não estão para ter compromissos com muita gente, recorrem a estas empresas, sobretudo nos picos de trabalho”, enun-cia Alberto Matos.

Em caso de ilegalidade flagrante, o dono da terra também é responsabilizado, segunda a legislação da res-ponsabilidade solidária, de 2016. “O problema é que tem que haver alguém condenado com trânsito em julgado e normalmente esses peque-ninos [empresas de trabalho temporário] são muito difíceis de apanhar, porque desapa-recem e é difícil haver alguém condenado com trânsito em julgado. Senão os donos da terra tinham que pensar duas vezes sobre quem metem lá

dentro”, salienta o dirigente da Solidariedade Imigrante.

Empresas que asseguram o transporte dos trabalhado-res dos tugúrios onde habitam até às explorações agrícolas: “São carrinhas cheias de gente, agora em período de pandemia a GNR tem feito fiscalização. Mas transportam em carrinhas velhas. E essa gente está a ser transportada como gado para as explo-rações. São empresas que têm nomes engraçadíssimos, como Golden Practice, Comi-tiva Radical, Work Permit ou Wonderfull World”, pormeno-riza Alberto Matos.

Quinze dias a comer melão

Quando essas empresas desaparecem, não é só a Segurança Social ou a ATT que deixam de receber o que lhes é devido: os trabalhado-res contratualizados também ficam a arder, muitas vezes abandonados à sua sorte. Acabam por desaparecer e repetir o ciclo da exploração com outra empresa, conforme aprofunda Alberto Matos: “Os contratos dizem que ganham o salário mínimo, mas como aquilo é à hora e é propor-cional, podem ganhar três

euros, 3,5 euros, chegam a ganhar 2,5 euros à hora. E isso é quando lhes pagam, porque há situações em que os pequenos empresários desaparecem e deixam os trabalhadores sem dinheiro, sem comida, à fome. No fim da campanha da azeitona, no interior do Alentejo, há pes-soas abandonadas em casas. E ao fim de 15 dias, um mês de comerem miseravelmente, apenas o mínimo para irem trabalhar… Soubemos de uns, da campanha do melão, que a empresa desapareceu e eles só comiam melão. Ao fim de 15 dias já nem dava para trabalhar. Iam-se embora, levavam-nos, ou eles próprios pediam para irem embora. E depois vinham mais. É um mundo cão”.

“Nas campanhas, que são limitadas no tempo, os em-presários não querem com-promissos com trabalhadores e dá-lhes jeito haver essas empresas de trabalho tempo-rário”, explicou por seu turno ao JA um técnico agrícola do Algarve que pediu para não ser identificado. E acrescenta: “Todas as estufas de frutos vermelhos, no Algarve e Alen-tejo, vivem dessa gente e está cada vez mais a viver dessa

gente toda a agricultura em geral”.

Uma necessidade explica-da, segundo a mesma fonte, pela forte concorrência do setor, com os preços a serem pressionados para baixo pelas grandes empresas distribui-doras: “O mercado é muito concorrencial. O negócio dos pequenos frutos vermelhos é, em grande parte, para exportação, mas há muita produção que vai para as gran-des superfícies, que escoam os produtos mas ao mesmo tempo esmagam preços. O agricultor tem que se defender e tem que ser eficiente, ter mais produção e menos área e diminuir ao máximo os fato-res de produção, entre eles a mão-de-obra, energia e água”. Vai daí, argumenta a fonte anónima, o esmagamento do salário do “elo mais fraco” da cadeia é o corolário lógico dessa gigantesca pressão dos preços para baixo. Se os preços não estiverem à altura das exigências dos hipermer-cados, haverá quem os tenha.

“Há não muitos anos o SEF detetou situações de escrava-tura. Gente que chega cá em situações de dependência tal que tem que garantir o pagamento a quem os trás,

Calcula-se que haja 30 mil trabalhadores agrícolas imigrantes a saltar entre Algarve e Alentejo

A maioria, hoje em dia, tem origem asiática

Muitos dos imigrantes trabalham em estufas, na chamada agricultura de precisão, na apanha de frutos vermelhos

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como acontece com as pros-titutas. Ficam em dívida para pagar o buraco onde vivem, o transporte que tiveram, a legalização. Não recebem em quase nada, é um tráfico de carne que ali está”, afirma o técnico agrícola.

O dirigente da Solidarie-dade Imigrante detalha, com números exemplificativos: “Essas empresas descontam-lhes a habitação miserável, em contentores ou em casas superlotadas: por exemplo 50 euros por mês. São au-tênticas aldeias de conten-tores, 10 mil euros por mês. Cobram-lhes o transporte. Quando chegam ao fim do mês em vez de 600 euros recebem 300, porque o resto foi-lhes descontado”.

Guardados por seguranças

armadosMas os esquemas ilegais

não se esgotam nas empresas de trabalho temporário que aparecem e desaparecem. Há casos piores, autênticas má-fias de exploração de mão-de-obra, segundo Alberto Matos: “Há casos em que o dono da propriedade faz um contrato com um grupo de mafiosos quaisquer, pelo preço mais barato. O dono da terra é o principal beneficiado, porque apanham-lhe a azeitona ao quilo, à tarefa. E pelo preço mais barato ‘Você apanha-me 500 hectares por X’ e esse ain-da subcontrata a outro, 100 a um, 50 a outro. Isto são preços que não davam nem para pagar salários quanto mais Segurança Social e impostos. E sobra sempre para alguém e alguns nem salário recebem ou recebem muito pouco”.

Nos casos dos romenos e moldavos nem há empresa ne-nhuma, segundo o mesmo diri-gente associativo: “São umas camionetes que chegam todas as semanas, na altura da azei-tona, com matrícula moldava. Vêm uns e vão outros, porque uns ficam e alguns até têm a sorte de receber dinheiro, mas a maioria só quer ir outra vez para casa e que não os cha-teiem. As famílias nos países de origem estão reféns destas máfias. Estão ameaçadas. Algumas dessas empresas, nomeadamente moldavas, nem legalizadas são”. Nalguns casos, acrescenta, chegam em autocarros fretados de 55 lugares de matrícula moldava, ou romena.

No Alentejo foram iden-tificados casos, acrescenta Alberto Matos, de proprieda-des guardadas por homens armados até aos dentes: “Em cada casa não há patrões… há é um ou dois seguranças daqueles bem encorpados, ex-militares, ex-polícias, com armas, que mantêm outros

sob coação. Isso passa-se sobretudo com moldavos. Depois são detetados e dizem que não querem voltar para a mesma casa. Vai lá o SEF e não há patrões”.

A continuidade geográfi-ca entre Alentejo e Algarve permite que os fenómenos que ocorrem sobretudo, em massa, no distrito de Beja acabem por ter continuidade a sul, em menor quantidade. É o caso do concelho de Aljezur (Rogil, Odeceixe), onde se repetem situações verificadas em grande escala no conce-lho de Odemira. Sobretudo na chamada agricultura de precisão, os frutos vermelhos.

Ascender de trabalha-dor agrícola a "mafioso"

Segundo Alberto Matos, só o concelho de Odemira tem 270 parques de contentores, com pelo menos quatro con-tentores cada um. O dirigen-te calcula que no perímetro de Odemira haja 8 a 10 mil imigrantes e no concelho de Aljezur mil a 2 mil. Uma pro-porção que é semelhante à da área agrícola afeta à produção de frutos vermelhos nos dois concelhos: 12 mil hectares no perímetro de rega do Mira a norte do rio Seixe e mais de mil hectares no Algarve, calcula o técnico agrícola anónimo, estimando que entre registados e não registados o número total de trabalhadores só naquela zona, no pico da apanha, possa rondar os 20 mil. O dobro dos calculados por Alberto Matos.

Romper com o ciclo de ex-ploração e permitir condições de legalização tem sido a estratégia das autoridades. Al-berto Matos reconhece, aliás, que Portugal é um dos países europeus com melhores con-dições e pré-requisitos para a legalização de imigrantes.

Para romper esse ciclo, é preciso acabar com a estrutu-ra piramidal e criar condições para que não se reproduza a exploração: “Atualmente, o que chega cá primeiro come-ça a falar bem português a tendência é ele aperceber-se do negócio e começar a ser an-gariador dos outros. Ele trata de tudo. Acaba por se criar um esquema de máfia. Alugam uma garagem por 200 euros e metem lá 10 pessoas, a 150 cada um. E têm advogados a tratar-lhes dos problemas!”, assevera o técnico agrícola anónimo.

Essa rutura já está em curso, assegura a mesma fonte: “Há um conjunto de trabalhadores, sobretudo pa-quistaneses, que se querem fixar e trouxeram já a família, os filhos, querem levá-los à escola. Essa gente está fora do esquema das máfias e tem que se abrir caminho para

eles. Enquanto eles viverem naquelas condições, aquilo não acaba”.

O Algarve, dizem as nossas fontes, tem mais condições do que o Alentejo para essa descontinuidade com o ciclo da exploração. “Quando há Turismo, sempre que ele apa-rece, absorve a mão-de-obra, é trabalho limpo e é preferido em detrimento do trabalho agrícola”, afirma o técnico que temos vindo a citar.

´Para muitos destes tra-balhadores, sobretudo os que têm maior formação – e há-os - a agricultura é apenas a porta de entrada. Acontece sobretudo no Algarve. Alberto Matos conta o caso de um seu amigo indiano, economista de formação, que começou na agricultura, mas hoje traba-lha num hotel no Algarve “Eu disse-lhe ‘se eles [hotel] forem espertos, daqui a dois anos és o gerente daquilo’. Ele veio da Índia com qualificações superiores. Apesar de isto ser um mundo cão, Portugal é, na Europa, dos melhores países em termos de Lei de imigra-ção. Alguns conseguem-se libertar destas cadeias e estão perfeitamente integrados. Mas os que estão na base da pirâmide são sempre os que mais sofrem”.

Contentores com ar condicionado e Internet

Isto, dizem as nossas fon-tes, além de o Algarve ter mais condições de habitação do que o Alentejo, região com pouca alvenaria para abrigar trabalhadores temporários.

“Há alguns meses, o Go-verno legalizou e permitiu que haja ainda mais contentores, com Internet, ar condicionado, porque reconhece que isto era uma miséria. E que as aldeias à volta não têm capacidade para absorver essas pessoas”, sublinhou Alberto Matos.

Já para a fonte anónima que temos vindo a citar, “os contentores não são as piores situações. Muitos deles têm boas condições. O problema é muitos deles serem levados para um buraco sem condi-ções nenhumas, como tantas vezes acontece”.

Nos melhores casos, como acontece com a start-up Hu-bel, o contentor não é pago e tem boas condições de salubridade e habitabilidade: “Os trabalhadores não pagam renda nos contentores. E eles são nossos”, garantiu ao JA Tiago Andrade, co-adminis-trador da empresa algarvia de frutos vermelhos.

“A nossa empresa cumpre com as regras definidas para os alojamentos. Têm ar con-dicionado e Internet. Existe uma lei que está definida para alojamentos móveis e temporários e é essa regula-mentação dos estaleiros que é o ponto de partida. A regula-mentação é já antiga, mas que foi pensada na altura para os estaleiros das obras”, explica o engenheiro.

O empresário reconhece a existência de empresas sem alvará para trabalho tempo-rário “a fazer prestação de serviços de colheita à unida-de, ao quilo. Essas empresas acabam por ter menos rigor, aparecem e desaparecem e cobram aos trabalhadores de forma ilegal”.

O bom exemplo da Hubel

Contudo, asseverou que a Hubel não trabalha com esse tipo de empresas: “Só trabalhamos com empresas que têm alvará. Fazer uma empresa na hora custa mil euros, mas para ter um alvará tem que se ter uma garantia mínima de 100 mil euros. Requer músculo financeiro”.

O alvará, esclareceu, pos-sibilita que a empresa de trabalho temporário fique responsabilizada perante a empresa contratante e o próprio trabalhador, caso

seja detetada qualquer si-tuação ilegal.

“Nós fiscalizamos todas as empresas que trabalham connosco, é uma obrigação que faz parte para nós ter-mos a certificação em termos de work wellfare [bem-estar no trabalho]. Fiscalização: recibos, transferências e pa-gamento da Segurança Social. Mensalmente as empresas têm que nos dar cópias dos recibos e das transferências para as contas dos trabalha-dores”.

A Hubel tem cinco unida-des de produção entre Tavira e Olhão. “Temos 700 traba-lhadores, dos quais 580 são de origem asiática. A maior parte são do Bangladesh, indianos e alguns nepaleses. Alguns estão connosco o ano inteiro, por isso têm as suas próprias residências. Temos capacidade de os alojar nas nossas próprias explorações. Em contentores, temos uma capacidade de alojamento de 350 pessoas. Desses 350 alojados em módulos, 200 são permanentes e os outros 150 vão e vêm durante as campa-nhas”, precisa o empresário.

Uma das cinco unidades de produção da empresa foi o palco, na passada semana, de uma sessão de esclarecimen-to para imigrantes sobre os cuidados a ter com a pande-mia do COVID-19, que contou com a participação do ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita. Assistiram cerca de uma centena de imi-grantes, sobretudo da região indo-asiática.

Não é a primeira vez que os imigrantes que trabalham em explorações agrícolas al-garvias são notícia nos tempos mais recentes e, nos demais casos, por razões bem mais infelizes: um total de cerca de 80 trabalhadores de duas explorações agrícolas, dos concelhos de Faro e Tavira, foram vítimas de surtos de COVID-19. Duas dezenas es-tavam infetados.

Alberto Matos, dirigente da Solidariedade Imigrante

JORNAL do ALGARVE [5] RepoRtagem

30 I abril I 2020www.jornaldoalgarve.pt

Aqui rodeado de imigrantes, Alberto Matos, um dos líderes da Solidariedade Imigrante, a maior associação imigrante do País

Estufas da Hubel, empresa nos antípodas dos maus tratos a imigrantes

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A Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de São Brás de Alportel (CPCJ) assinalou abril como o Mês da Prevenção dos Maus Tratos a Crianças, com o lema “Serei o que me deres... que seja amor...!”, anunciou a autarquia.

A comissão daquele concelho alertou, em comunicado, para os maus tratos a crianças que possam existir em tempo de pan-demia e de isolamento social.

“Todos temos que estar ainda mais vigilantes e mais atentos a todos os sinais de maus tratos, que devemos sinalizar às entida-des competentes! Não podemos ser indiferentes!”, refere a autar-quia em comunicado.

Para assinalar esta iniciativa,

a CPCJ convida as famílias a pro-mover os direitos das crianças e dos jovens com a construção de um laço azul com materiais que estejam disponíveis nas suas habitações e coloca-lo à janela.

No Facebook, os interessados poderão utilizar a moldura “pelas nossas Crianças”, nos seus per-fis pessoais.

A CPCJ apelou ainda à parti-lha das imagens dos laços azuis

Desde que o homem descobriu esse desejo de se sedentarizar e começar a viver em sociedade que as margens dos rios se tornaram os locais mais apelativos para essa fixação devido a variadíssimas razões, todas elas ligadas à sua própria sobrevivên-cia. Grande parte das cidades actuais continuam a existir e subsistir à volta de rios de boa dimensão. Nesse sentido, as margens do Rio Guadiana foram também escolhidas desde há muito por povos dos dois países que aí assentaram raízes e criaram po-voações que, como quase todas, foram crescendo e se desenvolvendo. Esse desenvolvimento acabou por provocar a necessidade de, por vezes, entrar em conflito com as povoações vizinhas, ou, noutras ocasiões, promover um espírito de cooperação e fraternidade que as aproximavam criando aos poucos traços comuns. Se a criação de Vila Real de Santo António pouco teve de cooperativo com os nossos vizinhos espanhóis, sendo considerado até uma manifestação do poder luso numa acção de demarcação clara do que era português, o facto é que aos poucos essa vivência foi-se intensificando nos mais variados sectores da sociedade e hoje podemos assumir que existe uma cultura de ter-ritório com fortes influências dos povos das duas margens e que se manifestam em várias áreas, como a gastronomia, a música, a língua ou mesmo os hábitos e tradições.

Em 1991, com a inauguração da Ponte Inter-nacional do Guadiana, esse espírito cooperativo intensificou-se claramente. Com a mobilidade mais facilitada, a vida de portugueses e espanhóis começou a ganhar contornos de gradual proximida-de, verificando-se até uma certa dependência de parte a parte em alguns sectores das economias locais. Negar essa necessidade e dependência é claramente fingir que sozinhos estamos bem e essa não é a realidade. Sendo o nosso território já de si extremamente periférico, pensar o território de forma isolada, por município, é torná-lo ainda mais frágil e acima de tudo menos competitivo. Pensar o território como Eurocidade Guadiana é a possibilida-de de aumentarmos o nosso potencial e combater as assimetrias existentes com outras regiões e no próprio território. Esse é o grande desafio da Euroci-dade Guadiana, sobretudo a partir do momento em que se tornou em 2018 um Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial (AECT) que lhe conferiu personalidade jurídica e capacidade de se candida-tar aos fundos europeus, o que aconteceu em 2019 com o deferimento de uma candidatura INTERREG no valor de um milhão de euros, aproximadamente, que estamos neste momento a desenvolver e que se chama Euro Guadiana 2020 e que iremos explicar detalhadamente em breve.

*Director da Eurocidade Guadiana e Vice Presidente da Câmara Municipal

de Vila Real de Santo António

através do envio de fotografias para o e-mail [email protected], sendo depois produzido um vídeo de homenagem a todas as crianças e jovens do planeta.

O Mercado Municipal de São Brás de Alportel comemora 52 anos com o lançamento do livro gastronómico digital “Ciclo de Sabores do Mercado Municipal de São Brás de Alportel” e com a entrega de viseiras de proteção aos vendedores daquele espaço.

A entrega das viseiras aos comerciantes do Mercado Municipal de São Brás de Alportel complementa outras medidas implementadas pela autarquia, como a distribuição de máscaras, luvas, a colocação de dispensadores de gel desinfetante, a redução do horário e o condi-

cionamento de entradas devido ao COVID-19.As viseiras foram produzidas por uma rede solidária de São Brás

de Alportel e também serão entregues a todos os estabelecimentos comerciais e serviços do concelho.

O livro gastronómico de comemoração do aniversário do Mercado Municipal está disponível no website da autarquia e em breve será possível adquirir a edição completa física, que inclui 75 receitas de chefes algarvios.

Colheitas de hortas comunitárias de Silves entregues a instituições

Lagoa cria plataforma digital Casa da Cidadania

MAUS TRATOS A CRIANÇAS:

S. Brás de Alportel adere a campanha de prevenção

As primeiras colheitas das Hortas Comunitárias de Silves foram distribuídas pelas instituições do concelho, num total de 100 quilos de favas, anunciou a autarquia em comunicado.

As colheitas foram entregues ao Castelo de Sonhos e ao Centro Pastoral de Pêra, ficando agora a promessa do município de que as próximas colheitas serão distribuídas por outras instituições do concelho de Silves.

Além do talhão do município, já foram atribuídos a vários munícipes cerca de 40 talhões no espaço das Hortas Comunitárias de Silves, que promovem a prática da horticultura.

Esta iniciativa permite a quem não possui terrenos próprios, que possa cultivar produtos hortícolas naqueles solos disponibilizados pela Câmara Municipal de Silves.

Aniversário do Mercado de S. Brás assinalado com livro e viseiras

Sociedade [6] JORNAL do ALGARVE 30 I abril I 2020

www.jornaldoalgarve.pt

A Câmara Municipal de Lagoa, no âmbito do projeto Casa da Cidadania, criou a plataforma digital CASADACIDADANIA.PT, que começou a estar disponível para consulta a partir do passado sábado, dia 25 de abril.

Com este ato, o Município de Lagoa associa a Casa da Cidadania “a uma data fundamental na criação do Portugal Democrático e do Poder Local, esteios deste projeto em implantação, assim como à elevação de Lagoa a cidade, sem esquecer os 200 anos que passam sobre a Constituição de 1820”.

Para além de divulgar o projeto de museografia, de cidadania e de cultura política em implantação em Lagoa, com esta plataforma preten-de-se partilhar a História dos Movimentos Sociais no Sul de Portugal.

“Recupera-se, assim, uma história de luta pela Liberdade, pela Igual-dade e pela Dignidade, na qual Lagoa, pela mão dos naturais, tem lugar próprio”, diz a autarquia em comunicado.

Este projeto assume ainda mais relevância neste momento, porque é nos momentos trágicos que a Humanidade e os seus valores se devem fortalecer.

Participam neste projeto historiadores e antropólogos, que em articu-lação com os técnicos da Autarquia, têm vindo a reunir informação sobre História Cultural da Política desde a fundação do Concelho de Lagoa, em 1773, aos dias de hoje, cruzando a política local com a política regional e nacional.

Recorde-se que a Casa da Cidadania será instalada no edifício dos antigos Paços do Concelho, obra de 1860 que aproveitou parte da estru-tura da extinta ermida de N.ª Sr.ª de ao Pé da Cruz, construída no último quartel do séc. XVII e que após o terramoto de 1755 chegou a servir de matriz de Lagoa.

Esta plataforma digital é um trabalho em curso, que em articulação com a página no Facebook, se irá constantemente enriquecendo com informação.

A autarquia recorda que em janeiro passado, no âmbito deste projeto, realizaram-se os POLÍTICA&IMAGEM – encontros internacionais da Política e da Imagem, que contaram com a presença e o apoio da ministra da Cultura, Graça da Fonseca.

Um poUco de História…

> Luís Romão*

Uma vida de cooperação intensificada com a Ponte Internacional do Guadiana

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JORNAL do ALGARVE [7] Regional

30 I abril I 2020www.jornaldoalgarve.pt

> João Prudêncio

Escolhidas entre dezenas de for-mações no passado dia 14 de abril, as 12 equipas são formadas por alunos de três escolas secundárias – seis da escola secundária de Albu-feira, cinco da escola secundária de Vila Real de Santo António e uma da

escola secundária Tomás Cabreira, em Faro – e vão apresentar os seus projetos na próxima quarta-feira, 6 de maio, na Feira (I)limitada, que este ano decorrerá online e por isso terá o nome de Feira (I)limitada Digital, devido ao confinamento pro-vocado pela pandemia COVID-19. Nas edições anteriores, a Feira (I)

limitada teve lugar na Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, em Faro, numa iniciativa chamada “A Empresa”.

A iniciativa, que é promovida pela Junior Achievement, tem como obje-tivo sensibilizar e motivar os jovens para as práticas empreendedoras, promover a criatividade, o espírito de iniciativa e de cooperação.

Neste programa, que decorre durante o ano letivo, os alunos tentam encontrar um conceito inovador, pesquisam e informam-se sobre o mercado, desenvolvem um plano de negócios, procuram parceiros e apresentam-no a poten-ciais investidores, com o objetivo de desenvolverem as suas capacida-des de apresentação em público e comunicação.

“Os alunos tiveram de realizar um vídeo, para além de criarem

A Câmara de Aljezur recebeu 50 viseiras de proteção individual, para combater o contágio de COVID-19, entregues por um grupo de voluntários pertencentes ao grupo “COVID Marafade”. As viseiras que ficam agora disponíveis para serem distribuídas pelas instituições do terceiro setor e forças de segurança do concelho de Aljezur, em função nas necessidades. A autarquia agradeceu publicamente o gesto solidário, nomeadamente à arquiteta Raquel Boto.

Voluntários oferecem viseiras a Aljezur

Alunos algarvios criam ideias de negócio e concorrem a prémio internacional

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VRSA apoia prática desportivaA autarquia vila-realense está a promover a prática desportiva e de exercício

físico através das suas plataformas online, que podem ser feitas a partir de casa por quem está em isolamento social devido ao COVID-19.

Uma das iniciativas faz parte do projeto “Diabetes em Movimento”, destinada a pessoas entre os 65 e 80 anos, que são contactadas e acompanhadas por te-lefone e com recomendações para a prática de exercício físico através de vídeos disponibilizados em https://diabetesemmovimento.wordpress.com/videos/.

Perante a suspensão das sessões presenciais, o grupo de Marcha e Corrida de VRSA está a partilhar na sua página de Facebook, disponível em https://www.facebook.com/Centro-Municipal-de-Marcha-e-Corrida-de-Vila-Real-de-Santo-Antonio-1530149930586620/, vários vídeos direcionados a atletas nas modalidades de marcha, corrida e utentes com mais de 60 anos. As aulas online, com cerca de 3 minutos cada, são lecionadas pelos professores e in-cluem sugestões para a ativação muscular feita a partir de casa. Estão também previstas sessões de alimentação com os atletas deste projeto, através de uma plataforma de apoio a sessões em grupo.

A Junta de Freguesia de VRSA disponibiliza também o serviço “Junta em Movimento”, que promove e incentiva a prática de exercício físico neste período de isolamento através da plataforma “Ser ativo em casa”, do IPDJ.

Coração da Cidade oferece viseiras à Proteção CivilO Grupo Coração da Cidade, de Vila Real de Santo António, ofereceu 40 viseiras

à Proteção Civil Municipal de VRSA, as primeiras de um conjunto de 100 que o Gru-po planeia dar àquela entidade. As restantes 60 serão entregues no mês de maio.

“Achámos que, além de estarmos a fornecer refeições gratuitamente a pessoas com mais idade, podíamos dar outro tipo de contributo, para quem garante a nossa segurança. Fizemos um investimento numa impressora 3D e fizemos o topo dessas viseiras”, disse ao JA o dono do Grupo Coração da Cidade, Luís Camarada.

O topo do artefacto é complementado com a viseira propriamente dita, em acrílico, que o Grupo comprou à parte, também para oferecer.

O Grupo Coração da Cidade gere 12 estabelecimentos, entre restaurantes, cafés, pastelarias e takeaways, do grupo Coração da Cidade. Devido à pandemia, só estes últimos permanecem abertos.

Um grupo de 12 mini-empresas criadas por estudantes do ensino secundário de Vila Real de Santo António, Albufeira e Faro concorrem, na próxima semana, pela melhor ideia de negócio na Feira (I)limitada, em Faro. A ideia vencedora vai representar o Algarve na feira nacional e poderá vir a representar Portugal no estrangeiro. Este é um concurso que “pode abrir as portas a estágios em grandes empresas”.

o nome da mini-empresa, os car-gos dos elementos, uma breve descrição da mini-empresa, a sua missão, valores e objetivo, assim como uma descrição do produto ou serviço e do público-alvo”, explica o docente.

Os projetos estão enquadrados nas áreas do empreendedorismo criativo e social. Uma das equipas (‘Ajuda +’), por exemplo, criou um serviço de apoio aos idosos isola-dos dos concelhos de Vila Real de Santo António e Castro Marim, que consiste num botão, através do qual os idosos podem transmitir uma mensagem para pedir que lhes tra-gam medicamentos, comida ou até serviços médicos a casa.

O professor Luís Miguel Neves, que participa neste tipo de projetos há vários anos com os professores António Condessa e Paulo Silva,

dinamiza um “clube de empreende-dorismo na escola”, com o intuito de “incentivar os alunos a criarem uma ideia de negócio e assim poderem participar em concursos com essa ideia”.

Estas mini-empresas foram cria-das para ser apresentadas, numa primeira fase, em Faro. Depois, caso não houvesse pandemia, a melhor ideia de negócio iria estar presente na Feira Nacional, que este ano de-veria decorrer no Porto, sendo que a melhor ideia representaria Portugal na final internacional, que se deveria realizar em Lisboa.

“Neste concurso, não existem prémios monetários, mas, na fase final, poderão existir outros tipos de prémios, como, por exemplo, está-gios em grandes empresas”, salienta o professor da escola secundária de Vila Real de Santo António…

Hot Fit, uma das equipas candidatas à final algarvia

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O Algarve está numa situa-ção “cómoda” no combate à COVID-19, com uma taxa de recuperados superior à média nacional, disse a delegada de Saúde regional, numa altura em que a região se prepara para reabrir a economia.

Até ao fecho desta edição, a região algarvia regista 330 casos positivos de COVID-19 e 12 óbitos, distribuídos por 13 concelhos. Albufeira tem 69 casos, Loulé conta com 61, Faro com 60, Portimão com 35, Tavira com 30, Silves com 21, VRSA com 17, Olhão com 15, Lagoa com 9, Lagos com quatro, Castro Marim com três, S. B. de Alportel com dois e Monchique com um, enquanto que Vila do Bispo, Aljezur e Alcoutim continuam sem infeções registadas.

Além destes números, “há 21 pessoas internadas, quatro delas a necessitarem de cuida-dos intensivos”, revelou aos jor-nalistas Ana Cristina Guerreiro.

Na conferência de impren-

sa semanal da Comissão Distrital de Proteção Civil para fazer o balanço do combate à pandemia na região, aquela responsável realçou os "80 casos recuperados" destacan-do a "vigilância ativa de 345 pessoas e os 9.685 casos com resultado negativo".

No lar de idosos de Boli-queime onde no início de abril foram detetados 21 utentes positivos, no concelho de Lou-lé, foram realizados novos tes-tes, revelando "12 residentes positivos - nove no lar e três internados", existindo ainda "11 funcionários positivos", notou. A última vítima mortal registada na região, tratou-se de uma utente deste lar.

No plano de rastreio aos lares de idosos e instituições similares da região foram rea-lizados, ao todo, 4.062 testes a utentes e funcionários de 48 estabelecimentos, o que corresponde a cerca de 67% do total previsto.

A responsável indicou que

O presidente da Câmara de Castro Marim, Francisco Amaral, criticou esta semana a delegada regional de saúde do Algarve, Ana Guerreiro, por ter “desautorizado” uma decisão do delegado de saúde local que impedia alojar trabalhadores agrícolas estrangeiros em nove “quartos minúsculos”, o que põe em risco a sua saúde.

Em comunicado, a Câmara mostra a sua “profunda discordância” com a posição as-sumida pela delegada de saúde do Algarve, que contraria a que tinha sido adotada pelo delegado de saúde de Castro Marim, Mariano Ayala, tomada para “salvaguarda da população” do concelho.

Em causa está uma posição tomada pela delegada de saúde regional “ao desautorizar a decisão do delegado de saúde Local” de “não permitir que 38 trabalhadores tailandeses ficassem alojados em nove quartos minúscu-los na Azeda (Castro Marim)”, contextualizou o município.

Mariano Ayala considerou que, no referido local de alojamento, “não seriam observadas as mínimas condições higiénico-sanitárias normais” para albergar os trabalhadores, sobretudo quando o país se encontra em “situação de pandemia instalada” devido ao surto de covid-19, precisou esse município do distrito de Faro.

“Aconteceu um episódio idêntico há algumas semanas, em Monte Francisco (Castro Marim), tendo o delegado de saúde local e comandante

os testes aos lares "têm dado resultados negativos" com a exceção pontual de dois ca-sos: "uma utente internada no hospital de Faro, que não teve impacto da estrutura, e uma funcionária que foi retirada do local de trabalho também sem consequências".

Ana Cristina Guerreiro clas-sificou como "controlada" a propagação de COVID-19 nas comunidades de migrantes, na região, informando que em Tavira se encontra "um grupo maior de 20 positivos" que inclui "dois imigrantes resi-dentes em Silves e Albufeira".

Em Albufeira, há "um ci-dadão positivo alojado num hotel e oito migrantes num apartamento", todos em "iso-lamento profilático e vigiados pela unidade de saúde local".

Em Armação de Pêra, no concelho de Silves, a respon-sável informou que um dos casos suspeitos "já obteve dois testes negativos, deixan-do de estar isolado e vigiado",

mantendo-se uma vigilância ativa a um grupo com "cinco pessoas positivas alojadas em habitação própria".

O presidente da Adminis-tração Regional de Saúde (ARS) do Algarve revelou, por seu turno, a existência de "20 profissionais de saúde dados como positivos e quatro já recuperados".

Paulo Morgado indicou que a preparação da retoma "há-se ser gradual e com todos os cuidados" e que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) no Algarve está a "seguir os 50 doentes que tiveram alta precoce, já que a sua situação estava controlada".

"O futuro não vai ser igual ao passado, quer na sociedade, quer nos serviços de saúde", afirmou.

Em relação à retoma, as en-tidades referem que a reaber-tura da economia "será gradual e monitorada atentamente, para se perceber a evolução", referiu, na ocasião, o presi-dente da Comissão Distrital

de Proteção Civil, António Pina.De acordo com o também

presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), a abertura das fron-teiras terrestres e aéreas "será feita de forma gradual".

A região "tentará criar re-gras e boas práticas" em espaço público, praias, res-taurantes e hotéis e "manter a noção que o Algarve é seguro não só na segurança pública mas também em relação à

COVID-19", notou."Vamos passar para uma

nova fase e permitir à econo-mia recuperar, mas tal como na primeira, há a atenção para salvaguardar a saúde dos algar-vios e passar a mensagem de que é seguro vir passar férias para o Algarve, embora com condicionantes", defendeu.

O autarca concluiu afir-mando que "se algo começar a correr menos bem, pode-se sempre voltar a atrás".

CORONAVÍRUS: UM PLANALTO SEM FIM À VISTA

dor “à risca das indicações da Direção-Geral da Saúde, no sentido do confinamento e do distanciamento social” para travar a expansão da pandemia de covid-19, tenha sido agora “desautorizado pela sua superior hierárquica” do Algarve.

“Por não existirem as condições higiénico-sanitárias mínimas e de combate à covid-19 naquelas instalações e, neste momento, existirem no Algarve instalações condignas, dada a crise hoteleira, para receberem aqueles trabalhadores, este município responsabiliza a autoridade sanitária regional pelo que venha a

acontecer com aqueles trabalhadores e com a população local”, advertiu a autarquia desse concelho algarvio, que tem registo oficial de três casos de infeção pelo novo coronavírus.

A Câmara apelou ainda ao coordenador re-gional nomeado pelo Governo para acompanhar o combate à covid-19, o também secretário de Estado das Pescas, José Apolinário, para que tome “uma posição inequívoca e defensora da saúde dos munícipes de Castro Marim e dos algarvios”, que a decisão da delegada de saúde do Algarve não garante.

Os grupos de trabalhadores agrícolas es-trangeiros, na maioria de países asiáticos, têm estado na origem de alguns focos de contágio em concelhos algarvios, numa altura em que se iniciam muitas épocas de colheita de cul-turas existentes na região, como a de frutos vermelhos.

Tavira ou Faro são concelhos onde já se verificaram surtos entre integrantes de grupos de trabalhadores, que foram depois transferi-dos dos locais onde estão a residir, junto às explorações agrícolas, para áreas específicas criadas para assistir pessoas em isolamento ou tratamento à covid-19.

Portugal regista hoje 880 mortos associados à covid-19, mais 26 do que na sexta-feira, e 23.392 infetados (mais 595), indica o boletim epidemiológico divulgado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), que reporta também a exis-tência de um total de 320 casos e 11 mortos no Algarve.

da GNR de Castro Marim, antes da vinda dos 16 trabalhadores asiáticos, visitado as instala-ções e concluído que não teriam as condições mínimas para o seu alojamento”, sinalizou a autarquia.

Nessa ocasião, a “empresa responsável acabou por alojá-los noutro concelho, com condições habitacionais mais dignas”, e depois esses trabalhadores “desencadearam um foco de covid-19 entre eles”, realçou a mesma fonte.

O autarca lamentou que o delegado de saú-de local, que classificou como um profissional “muito competente, responsável” e respeita-

CÂMARA DE CASTRO MARIM ACUSA:

Delegada Regional põe em risco saúde de imigrantes

DELEGADA DE SAÚDE DIZ QUE A REGIÃO ESTÁ "CONFORTÁVEL"

Algarve tem número de recuperados superior à média nacional

Ana Cristina Guerreiro

AtuAlidAde [8] JORNAL do ALGARVE 30 I abril I 2020

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30 I abril I 2020www.jornaldoalgarve.ptLocaL [9] JORNAL do ALGARVE

Pela primeira vez em 20 anos, o Zoo de Lagos encerrou devido à pandemia de co-vid-19, mas continua a garantir o tratamento dos animais, apostando em conteúdos digi-tais e descontos para cativar os clientes quando reabrir.

“Em 20 anos esta é a pri-meira vez que o parque fechou, nem no Natal e ano novo. Foi a primeira vez”, afirma à Lusa o diretor do parque, que alberga cerca de 1.200 animais de quase 145 espécies.

Numa altura em que a data para a reabertura dos parques zoológicos anda é uma incerte-za, Paulo Figueiras manifesta a sua esperança que “em maio, mais tardar junho” possam voltar a abrir as portas, “ainda que com algumas restrições”.

Encerrado desde 15 de março é possível manter o seu funcionamento devido a “algum suporte financeiro”, mas apenas “durante algum tempo”, confessa. Por isso, estão a promover campanhas de venda ‘on-line’ com 50% de desconto, “para entrar

algum dinheiro em caixa” e vão procurar “dinamizar mais o zoo” explorando o cartão amigo “com valor anual fixo e visitas ilimitadas”, assim como o “apadrinhamento de animais e outras iniciativas”.

A gestão financeira, essen-cial nesta fase, obriga a uma poupança que se reflete nos trabalhos de renovação para assinalar o 20º aniversário do parque, mas não compromete o acompanhamento dos ha-bitantes do zoo. “Os animais continuam a ser tratados com antes”, afirma o curador do par-que, Agostinho Costa, que reve-la que a covid-19 não implicou “grandes cuidados de maior” nas rotinas de tratamento. Segundo aquele responsável, “já havia essa preocupação” com alguns primatas, agora um pouco mais acentuada “com os chimpanzés, que podem ser portadores das doenças humanas”, realça.

É com um espírito otimista que os dois responsáveis do parque continuam a tratar diariamente dos animais e do

A Câmara Municipal de Vila do Bispo e a Re-gião de Turismo do Algarve estão a promover uma sessão de videoconferência acerca da Linha de Apoio à Tesouraria, destinada a microempresas do setor do Turismo com até 9 trabalhadores, anunciou a autarquia.

Esta iniciativa será agendada em data e hora a acordar e a divulgar em breve, mas promete esclarecer todos os interessados nestes apoios destinados a um dos setores mais afetados pelas consequências da COVID-19.

Estes apoios estão disponíveis para empre-sas de alojamento, parques de campismo e de caravanismo, restaurantes, estabelecimentos de bebidas, aluguer de veículos automóveis, agên-cias de viagem, operadores turísticos, serviços de reservas, organização de feiras e eventos, par-ques de diversão e temáticos, portos de recreio,

LAGOS:

Zoo está fechado mas animais são tratados

atividades de animação e diversão, que estejam inscritas no Registo Nacional de Turismo.

Este apoio financeiro poderá ser de 750 euros mensais por posto de trabalho existente na empresa a 29 de fevereiro deste ano, mul-tiplicado pelo período de três meses, até ao montante máximo de 20 mil euros.

Para os sócios-gerentes receberem apoio, a sua função tem de ser remunerada e constar na declara-ção de Remunerações, entregue à Segurança Social.

Este financiamento é reembolsável, sem juros e será feito no prazo de três anos, com um período de carência de 12 meses.

Para mais informações, os interessados devem contactar o Gabinete de Turismo da Câmara Municipal de Vila do Bispo, através do e-mail [email protected] ou do número 910547861.

Vila do Bispo promove conferência sobre apoios a microempresas

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espaço, “mantendo os mes-mos horários de alimentação e limpeza”.

“Não temos visitantes, mas tudo o resto tem de manter a sua rotina”, refere Paulo Fi-gueiras, sublinhando que este ano “vão ser bem menos” as pessoas que visitam o parque, que recebia cerca de 70 mil

visitantes, por ano. Este ano, só das escolas receberam cance-lamentos de “6.000 alunos” A redução das visitas dos alunos levou também à “criação de cadernos escolares” que estão a ser “disponibilizados gratui-tamente ‘on-line’, para que as famílias as possam usar”, nota.

Situado à entrada do recin-

Namíbia até à África do Sul.“Ali está um casal que deve

ter posto ovos ontem ou hoje”, exclama Agostinho, apontando para um dos buracos delibe-radamente construído nas paredes do recinto, facilmente visível da paliçada de observa-ção ali construída.

Este é o animal escolhido para um dos conteúdos digitais que estão a ser produzidos e que, neste caso, conta a história de um pinguim que se perde no parque e é procurado por todos os animais do Zoo.

Percorrendo o parque, pa-rece que nada mudou, à me-dida que o carro da comida se aproxima, os animais revelam o total conhecimento do ritual. Lémures, saguins, macacos e os outros primatas do zoo aguardam pelo horário de alimentação.

A fruta e os legumes são ofertas de cadeias de super-mercados com quem têm “um acordo para a recolha do que já não podem vender aos clien-tes”. Já a ração e o feno “têm de ser comprados”.

CORONAVÍRUS: UM PLANALTO SEM FIM À VISTA

to, é junto à ‘Boulders Beach’ que os pinguins acorrem ao chamariz do tratador, habitua-dos que estão a esta rotina e ao cheiro do peixe que lhes é lançado para o tanque.

São pinguins-africanos tra-zidos em 2017 para ajudar à recuperação da espécie amea-ças no habitat local, do sul da

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CORONAVÍRUS: UM PLANALTO SEM FIM À VISTA

30 I abril I 2020www.jornaldoalgarve.ptAtuAlidAde [10] JORNAL do ALGARVE

> Gonçalo DouraDo

“Desde o início do surto de COVID-19, já recebemos 14 cachorros e duas cadelas e tivemos de recusar alguns animais pois não temos condi-ções para os receber”, confes-sou ao JA a diretora do Canil de São Francisco de Assis, em Loulé, São Silva, 46 anos. Este canil tem cerca de 360 cães, 100 gatos, quatro cavalos e um burro.

No caso de recusa de ani-mais por parte do canil, é pe-dido às pessoas "para falarem com familiares e amigos” para ficarem com eles e, em último caso, deslocarem-se aos vete-rinário municipal, uma vez que todas as associações estão lotadas".

Segundo a diretora do canil, “os donativos reduziram bastante”, o que levou a um pedido de ração através das redes sociais. O que salva e

O novo coronavírus não se transmite aos animais. Mas há alturas em que a ignorância e o medo falam mais alto. Em tempo de pandemia de COVID-19, os abandonos de animais de companhia aumentam, enquanto as doações e donativos diminuem, numa época de grande necessidade. Os canis, gatis e associações de animais do Algarve estão já a passar por sérias dificuldades, incluindo ações de despejo. O voluntariado e boa vontade dos amigos dos animais têm sido uma mais valia, para proporcionar o bem-estar da população animal, as vítimas silenciosa do vírus

ANIMAIS SOFREM EM TEMPO DE VÍRUS

Mais abandonos e menos doações

apoia todos estes animais é "a ajuda das pessoas, sem a qual era impossível continuar”, uma vez que “só em ração para cães", o valor ronda os 600 euros. Neste momento, uma das maiores necessida-des deste canil é a ração seca para cães e gatos.

Devido à pandemia de COVID-19, as recolhas de fim-de-semana estão suspensas e o canil implementou um Plano de Contingência. De portas fechadas a visitas e adoções, no local “só circula o staff e um número reduzido de voluntários até ser levantada a quarentena".

Se necessário, o canil está disponível para receber animais de companhia de pessoas infetadas pelo vírus, que não possam temporaria-mente tratar dos mesmos, “para evitar o abandono”, tal como fazem com outro tipo de pessoas com necessidades.

No entanto, a diretora con-sidera que “estar infetado não é justificação para abandono" e que se houvesse algum pedido para abrigar tempora-riamente um animal de uma pessoa doente, o mesmo “teria de ser analisado”. Esse apoio pode passar por “dar alimentação para o animal", uma vez que financeiramente "era muito difícil devido às despesas que o canil tem".

Os animais, segundo a diretora que já divulgou um parecer de veterinários nas re-des sociais, “não transmitem

a doença" nem as pessoas contagiam os animais. Esta tem sido uma dúvida constan-te da população, que tem sido esclarecida através de várias ações de sensibilização.

Infelizmente, a diretora confessa que “o COVID-19 foi um pretexto para abandonar animais”.

Despejo em tempo de pandemia

“Estamos a ser despeja-dos da ruína onde criámos um Bem Estar Animal, onde estamos há cinco anos. Agora

que criámos condições temos que sair", confessou ao JA a presidente da ADOTA, asso-ciação de Animais de Santa Luzia de Tavira, Alice Gil. Esta associação cuida de 70 cães e 80 gatos.

Para tentar resolver a si-tuação, a associação tem dado muitos animais para doção "e feito boxes em quin-tas de amigos" para abrigar cães e gatos.

Apesar de toda esta si-tuação e da pandemia de COVID-19, a ADOTA continua a receber animais, uma vez que

“existe muito mais abandono” nesta altura.

Por falta de rendimentos, muitas são as pessoas que têm contactado a associação a pedir ajuda, nomeadamente em relação à alimentação dos animais, segundo a presiden-te da ADOTA.

Em termos de doações e donativos, a associação lamenta o facto da Câmara Municipal de Tavira não ter atendido a um pedido de aju-da, feito há mais de 10 dias, apesar do protocolo assinado em que a autarquia apoia a ADOTA com 350 euros men-sais. “As Juntas de Freguesia também não nos ajudam", lamentou Alice ao JA.

Além dos voluntários que ajudam diariamente, a asso-ciação contou recentemente com o apoio do hipermercado Continente que doou muitos quilos de rações para cães. No entanto, ainda há falta de “medicamentos, alimen-to para gatos, produtos de higiene e dinheiro para levar os animais ao veterinário", alertou.

“Temos dívidas nos vete-rinários e não podemos levar animais sem pagar. Ainda na semana passada chegaram à associação cinco gatos bebés, deixados num contentor do lixo num estado miserável e a precisaram de apoio veteriná-rio", contou Alice Gil.

Todos os dias, a ADOTA conta com a ajuda de dois vo-luntários, que tomam “todos os cuidados de higiene” e pro-porcionam “largos passeios com os cães pela quinta".

São Silva, diretora do Canil de São Francisco de Assis, em Loulé

Gatos bebés resgatados do lixo pela ADOTAInstalações do Canil de São Francisco de Assis

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Todas estas atividades fazem parte da rotina da associação, que luta pelo bem estar ani-mal no Algarve.

Através das redes sociais, a associação alerta para os cuidados a ter com os animais em relação ao COVID-10, além de alertar com a divulgação de casos de abandono e maus tratos aos animais: “Recebe-mos muitas queixas de maus tratos em apartamentos”, confessou.

Cães de sem-abrigo infetado recolhidos pela autarquia de Albufeira

A Câmara Municipal de Albufeira assegurou o abrigo de dois cães de um sem-abri-go infetado por COVID-19, depois da Pata Ativa ter sido contactada para acolhê-los.

Os animais ficaram abri-gados noutra associação que tem espaço físico, ao contrário do que acontece com a Pata Ativa que apenas trata de animais de rua, como é o caso de 12 colónias de gatos, revelou ao JA a presidente da associação de Albufeira, Ana Castro, de 40 anos.

“A Pata Ativa não possui um espaço físico onde pos-sa acolher animais de rua. Trabalhamos com famílias de acolhimento temporário e a nosso cargo temos apenas dois cães adultos e algumas ninhadas de gatos que foram encontrados no lixo”, afirmou a presidente da associação. Esta associação trata de 12 colónias de gatos, que são ao todo cerca de 120 felinos, e mais dois cães.

Segundo Ana Castro, “o número de animais abando-nados aumentou bastante

desde o início da pandemia" e todos os dias tem recebido pedidos de ajuda para reco-lher animais, além de que os espaços com quem têm colaboração "estão comple-tamente lotados".

Devido à pandemia de COVID-19, a Pata Ativa alte-rou a sua rotina de trabalho, “começando por evitar idas desnecessárias às clínicas veterinárias, distribuindo de uma forma mais organizada o encaminhamento dos ani-mais às mesmas”, além de ter apenas uma voluntária a "dar assistência às colónias de rua, que neste momento se encon-tram desprotegidas devido ao encerramento de hotéis, escolas e restaurantes”.

“Temos recebido mensa-gens diariamente acerca das dúvidas de como interagir com os animais nesta fase de pan-demia, aconselhando a fazer uma boa higiene ao mesmo e sempre que venham da rua, após o passeio com o seu animal, desinfetar as patas", referiu Ana Castro ao JA.

Todos os dias, nas redes sociais, a associação divulga artigos e notícias para sensi-bilizar a população acerca do COVID-19 nos animais, “afim de combater todas as dúvidas".

Felizmente, no caso desta associação, “os donativos e oferta de produtos para os animais não diminuiu", em tempo de pandemia.

No entanto, a “maior ne-cessidade é a ração” para continuarem a “garantir a alimentação das inúmeras colónias distribuídas pelo concelho” de Albufeira, cuja autarquia aprovou um protoco-lo que prevê a disponibilização

de 10 mil euros anuais a três associações de animais do município.

Apesar da assinatura des-se protocolo, o valor ainda não foi entregue à associação, "devido a todas as burocracias inerentes a estes processos".

"Boom atípico" de adoções

O número de pedidos de ajuda para recolher animais, por parte do núcleo do Projeto de Apoio a Vítimas Indefesas de Faro (PRAVI), "tem aumen-tado consideravelmente”, se-gundo disse ao JA a presidente Maria da Conceição Valdágua. A PRAVI tem atualmente 14 gatos e 11 cães.

No entanto, decorre um “boom atípico de procura de animais para adoção", um facto que "pode dever-se ao isolamento de muitas famí-lias que, por consequência, as famílias acharem ser o melhor momento para intro-

duzir no seio familiar um novo membro".

A responsável alerta que “o que as pessoas não estão a pensar, talvez, é no futuro: Com a crise esperada, com o abrandamento das medidas de confinamento em tempo de verão, como será com os animais? Devolvem-nos após já ter sido cumprida a sua missão de ‘entretenimento’? Deixam-nos numa varanda ou soltam os animais por aí?".

Os desaparecimentos de animais também têm au-mentado, e Maria Valdágua considera que isso deve-se “talvez porque as pessoas estão em casa e os animais”, a quem chama por vezes de vítimas silenciosas, “vão dar as ‘voltinhas’, não sabendo depois voltar para casa”.

Apesar de, até ao momen-to, não terem acolhido ani-mais de pessoas infetadas por COVID-19, o núcleo da PRAVI de Faro já fez essa oferta à

Câmara Municipal da capital algarvia.

Esta associação não tem abrigo mas funciona com famílias de acolhimento tem-porário e Maria, também deputada municipal de Faro, já solicitou um reforço às organizações zoófilas, devido às necessidades do dia-a-dia, uma vez que as doações e os donativos têm diminuído.

“As organizações subsis-tem por donativos pontuais de particulares, que neste momento não só estão a ser encaminhados para outras organizações humanitárias, como também os próprios particulares começam a sentir dificuldades e a retraírem-se. Também a maior parte da comida e material angariado era feito em campanhas nos supermercados ou na rua, ação que agora não podemos fazer”, confessou a responsá-vel ao JA.

Enquanto durar a pan-demia, os gatos presentes no gatil vão ser alimentados por duas pessoas, deixando de haver trabalho de volun-tariado.

Mais animais na ruaSegundo o presidente do

Movimento Pró Animal de Faro (MAP), João Gameiro Alves de 71 anos, neste momento “há realmente mais animais na rua, principalmente adultos e muitas pessoas reportam animais encontrados”, referiu ao JA.

Muitos destes animais estão a passar fome, “poia os seus cuidadores são normal-mente pessoas de risco” e es-tão agora em isolamento nas

suas casas. Para combater essa situação, o movimento, através do voluntariado, está a “assegurar a alimentação destes animais”.

Esta associação tem cerca de 40 animais, “sendo que 12 são cães recém-nascidos e 23 são gatos, 6 jovens e 22 recém-nascidos”.

Com a pandemia, diminuí-ram os donativos, as ofertas, mas “principalmente o nú-mero de voluntários”. Além disso, foram suspensas todas as campanhas de adoção e a associação apenas recolhe e trata animais “que necessitam de ajuda urgente”.

As clínicas veterinárias “reduziram bastante o atendi-mento”, o que fez com que as esterilizações, uma das ações deste movimento, estejam suspensas atualmente.

Dois projetos aprovados com a Câmara Municipal de Faro foram também interrom-pidos: a implementação de pombais contraceptivos nos arredores do concelho e os re-fúgios para animais silvestres.

Neste momento, o MAP está com uma grande ne-cessidade de “material para os bebés recém-nascidos”, principalmente de leite da Royal Canin ou Mixol, uma vez que estão a gastar “um balde de dois quilos em dois dias e esta necessidade vai aumentar à medida que os bebés vão crescendo”. A ração é outra das faltas notadas, “para encaminhas para cerca de 200 animais errantes e fa-mílias carenciadas dos quais cuidados diariamente”, referiu o presidente.

Ana Castro, presidente da Associação Pata AtivaJoão Gameiro Alves, presidente do Movimento Pró Animal de Faro

Ação de alimentação de colónias de rua, pela Pata Ativa Gato em acolhimento temporário na PRAVI de Faro

JORNAL do ALGARVE [11] AtuAlidAde

30 I abril I 2020www.jornaldoalgarve.pt

CORONAVÍRUS: UM PLANALTO SEM FIM À VISTA

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Imigrantes esclarecem-se nas ruas - A Câmara Municipal de Albufeira, através do Serviço Municipal de Proteção Civil, está a reforçar as ações de rua junto de populações estrangeiras residentes em Albufeira, adaptando a comunicação às mais diferentes línguas e comunidades, incluindo cidadãos oriundos de países como Reino Unido, Holanda e Ucrânia, mas também Índia, Nepal e Paquistão, anunciou o município. Em Albufeira, a população estrangeira com estatuto legal de residente representa cerca de 30% da população residente.

Lagos empresta portáteis - A Câmara Municipal de Lagos anunciou que irá prestar apoio aos alunos dos vários agrupa-mentos escolares, através da aquisição de 400 computadores portáteis e 100 tablets, num investimento superior a 150 mil euros, já no início do mês de maio. Os equipamentos serão disponibilizados aos agrupamentos escolares do concelho, que os farão chegar aos encarregados de educação, por empréstimo.

Clube doa alimentos - O Lusitano Futebol Clube está a or-ganizar uma angariação de bens alimentares e de artigos de higiene, que serão posteriormente entregues a famílias carenciadas e instituições, anunciou o clube de Vila Real de Santo António.Em comunicado, o Lusitano apela à população interessada em participar nesta causa, para se dirigir ao Campo Francisco Gomes Socorro na quarta e quinta-feira, entre as 14:00 e as 18:00 e na sexta-feira entre as 10:00 e as 12:00 para entregar as suas doações.

Cruz Vermelha recebe formação - A Escola de Tecnologias Navais (ETNA) está a dar formação a 15 profissionais da Cruz Vermelha de Faro-Loulé, Lagos, Portimão e Silves-Albufeira e a elementos dos Bombeiros de Albufeira, Faro e Portimão, sobre descontaminação, anunciou a Marinha.Esta não é a primeira formação dada pela ETNA, uma vez que já tinha sido lecionada a elementos do Corpo de Bombeiros Sapadores de Faro, do Corpo de Bombeiros de Portimão, dos bombeiros Voluntários de Albufeira e do Corpo de Bombeiros de Faro-Cruz Lusa.

Jazz no Facebook - A Orquestra de Jazz do Algarve vai dar inicio a um ciclo de atividades, que estavam anteriormente previstas para este ano, mas foram canceladas devido à pandemia de COVID-19, que vão estar disponíveis online e em direto no Facebook, anunciou o grupo.O ciclo começa a 30 de abril, Dia Internacional do Jazz, com uma transmissão em direto no Facebook, disponível em ht-tps://www.facebook.com/events/678691719608436/, com masterclasses e a participação de grandes nomes do jazz a partir das 18:30.

Testes serológicos - O Hospital de Loulé já está a disponi-bilizar aos seus utentes um teste serológico para pesquisa de anticorpos anti-SARS-CoV-2, permitindo identificar se um indivíduo foi infetado sem ter tido manifestações clínicas da doença provocada pelo novo coronavírus.A realização de testes serológicos permite conhecer a preva-lência da doença na população, identificando os indivíduos que desenvolveram anticorpos para combater a COVID-19.Os testes são realizados no Hospital de Loulé em parceria com a SYNLAB todos os dias entre as 10:00 e as 12:00, não care-cendo de prescrição médica. Ao utente é apenas requerido opreenchimento de um questionário epidemiológico.

Pesca local ao fim-de-semana - O Bloco de Esquerda revelou que perguntou ao Governo, na Assembleia da República, se está disposto a permitir a atividade da Pesca Local ao fim de semana e que defende essa permissão.A pesca local deve ser permitida “de forma a garantir a se-gurança dos profissionais da Pesca Local, mas também por motivos de justiça social e económica face às embarcações de maior dimensão e ao atual momento de pandemia”, justifica o Bloco, em comunicado.

Manter bolsas de estudo - A Câmara Municipal de Castro Marim anunciou esta semana que, no contexto pandémico atual, decidiu manter o pagamento das bolsas de estudo atribuídas aos alunos do ensino secundário (100€/mês) e superior (250€/mês).No total, é um investimento de cerca de 32.000 euros com os 32 alunos bolseiros do ensinosecundário e de cerca de 47.000 euros com os 21 alunos bolseiros do ensino superior.

O vírus em notícias breves

30 I abril I 2020www.jornaldoalgarve.ptATUALIDADE [12] JORNAL do ALGARVE

A Associação de Empresas de Rent-a-car do Algarve (ARA) apelou ao Governo para que tome medidas mais profundas de apoio orçamental e suspen-da o pagamento de impostos para as empresas, atualmente com 95% da frota parada.

“Já fizemos chegar ao Go-verno algumas medidas que consideramos essenciais para o setor, entre as quais o alarga-mento do ‘lay-off’, a suspensão do pagamento do Imposto Único de Circulação e das ta-xas aplicadas nos parques da ANA [Aeroportos e Navegação Aérea]”, disse à agência Lusa Armando Santana, presidente da ARA.

De acordo com o dirigente, as empresas do setor “estão a enfrentar uma crise sem prece-dentes na região”, motivada pela pandemia da covid-19, “com as frotas das cerca de 46 empresas regionais praticamente paradas há dois meses”.

“Atualmente, apenas 5% a 6% de seis por cento da frota está a funcionar, devido a con-tratos com empresas e entida-des”, frisou, acrescentando que ainda não é possível contabili-zar os prejuízos causados pela paragem, embora estime que os mesmos possam ascender a milhões de euros.

“Estávamos a sair de uma época baixa com boas perspe-tivas para a qual as empresas fizeram investimentos para aumentarem a frota, com a aquisição de novas viaturas, custos esses que terão de ser pagos consoante os modelos que as empresas contratuali-zaram”, referiu.

Perante as repercussões que o surto do novo coronavírus está a ter no turismo, setor do qual dependem os alugueres das viaturas, a ARA pediu ao Governo “o alargamento do ‘lay-off’ para mais meses, uma medida importante para que se possam manter os cerca de 1.500 postos de trabalho no setor”, na região.

“Existe um universo de 1.500 trabalhadores efetivos e também um número largo de centenas de trabalhadores sazonais, cujos postos de tra-balho podem ser assegurados com o alargamento do ‘lay-off’”, sublinhou Armando Santana.

Na opinião do dirigente, como não se perspetiva que o turismo retome a normalidade este ano, existem outras me-didas “essenciais para aliviar economicamente as empresas, como a suspensão do paga-mento do IUC [Imposto Único de Circulação]”.

“Não queremos a isenção, mas sim, a suspensão tempo-rária do pagamento do imposto ao Estado, suspensão essa

que pudesse vigorar até que as empresas transacionassem as viaturas para o mercado e aquando do averbamento do novo dono”, frisou.

Para Armando Santana, tra-ta-se apenas de “um adiamento da receita para o Estado, pois este nunca seria prejudicado, acabando sempre por receber o IUC referente a todas as viaturas”.

Para além da suspensão do pagamento do IUC, os em-presários querem também a suspensão dos pagamentos por conta e especial por conta,

uma vez que não se prevê que as empresas apresentem lucros este ano.

“Perante a realidade atual, é quase certo que as empresas apresentem prejuízos. Daí não fazerem sentido os pagamen-tos por conta”, argumentou aquele responsável.

Para aliviar os encargos financeiros, a ARA pediu tam-bém ao Governo que fossem suspensas as taxas aplicadas nos parques da ANA, para que as empresas ali pudessem parquear as viaturas.

“Como as frotas estão para-

das e as empresas têm parques com capacidade limitada e os milhares de viaturas não po-dem ficar estacionadas na via pública, sugerimos que fossem suspensas as taxas cobradas pela ANA nos parques de esta-cionamento junto ao aeroporto de Faro”, sublinhou.

Segundo Armando Santana, as medidas propostas pelos empresários das rent-a-car do Algarve, “são exequíveis e ajudavam a ultrapassar a crise no setor”.

No Algarve existem 46 em-presas regionais de rent-a-car, número que não inclui as em-presas multinacionais do setor que também operam na região.

Armando Santana disse que o setor das rent-a-car olha para o futuro com muita apreensão, face às dúvidas que existem quanto à recuperação do turis-mo no país, e em especial no Al-garve, setor do qual dependem.

“Acredito que este ano se possa recuperar alguma coisa no turismo, essencialmente ao nível do mercado nacional, e não do mercado estrangeiro, que são os nossos principais clientes”, concluiu.

Pedido de ajuda ao Governo

Rent-a-cars do Algarve têm 95% da frota parada

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coronavírus: um planalto sem fim à vista

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JORNAL do ALGARVE [13] AtuAlidAde

30 I abril I 2020www.jornaldoalgarve.pt

A Fundação Champalimaud e o Algarve Biodemical Center (ABC) vão fazer testes serológicos no âmbito da pandemia de COVID-10 a 1235 pessoas de serviços essenciais do concelho de Loulé, anunciou a fundação.

O objetivo deste estudo é “per-ceber o grau de imunidade da po-pulação testada para guiar medidas futuras na fase de recuperação da pandemia e da retoma da atividade económica”, explicou a Fundação Champalimaud em comunicado.

A fundação referiu que estes testes a “profissionais de saúde e de risco de Loulé“, realizam-se ao abrigo de um protocolo celebrado com o ABC e que vão contribuir para a “definição da seroprevalên-cia para SARS-CoV-2 no concelho algarvio”.

“Neste estudo serão testados

profissionais de saúde, agentes de segurança e de proteção civil, fun-cionários de lares e instituições si-milares, funcionários das empresas de serviços da administração central ou local e jornalistas, num total de 1235 testes”, precisou a fundação.

Vão ser realizados testes seroló-gicos “por imunoensaio enzimático (ELISA)” e os resultados vão permitir ter “uma determinação quantitativa de anticorpos humanos da classe de imunoglobulinas IgG contra uma pro-teína de superfície de SARS-CoV-2”, o vírus que provoca a COVID-19.

“Este teste permite detetar se um indivíduo tem, ou não, anticorpos contra o vírus no seu sangue, ou seja, se esteve ou não em contacto com o novo coronavírus”, esclare-ceu.

A Fundação Champalimaud acrescentou que, “pontualmente,

poderão ser usados testes seroló-gicos rápidos (POCT) para deteção de IgM e IgG” e que os “indivíduos detetados com testes serológicos positivos serão adicionalmente tes-tados por RTqPCR para aferição de potencial carga viral ativa”.

O Algarve Biomedical Center vai fazer a “recolha de amostras sanguí-neas, recolha de soro, logística de transporte e possíveis testes virais (RT-qPCR)”, sublinhou a fundação científica.

A instituição revelou ainda que o custo deste trabalho será “intei-ramente assumido pela Fundação Champalimaud”.

Os testes serológicos, que con-sistem na recolha de uma amostra de sangue, permitem atestar a imunidade à COVID-19 em pessoas sem sintomas, ao pesquisarem an-ticorpos contra o novo coronavírus.

Testes em lar de Aljezur deram negativo

Os testes de diagnóstico à COVID-19 realizados a utentes e funcionários do lar Nossa Senhora D’Alva, em Aljezur, deram todos resultados negativos, anunciou a autarquia.

A despistagem foi feita no âmbito de uma campanha realizada pelo Algarve Biomedical Center (ABC) e direcionada para todos os lares da região, e per-mitiu testar 113 pessoas, 59 utentes e 54 funcionários, todos com resultado negativo, revelou a Câmara Municipal em comunicado.

Para realizar os testes, foi montada uma “complexa operação” com “a colaboração dos Bombeiros Voluntários de Aljezur, que tiveram a seu cargo os transportes das equipas profissionais do ABC, de Faro para Aljezur, assim como o seu regresso”, com “todas as medidas excecionais de higienização e prote-ção” para garantir a “segurança de todos os envolvidos”, referiu o município.

“Assim, dos testes realizados, deram todos negativos, razão pela qual deixa uma forte esperança de motivação pelo trabalho desenvolvido na proteção dos utentes deste lar, onde os profissionais que aí trabalham e toda a direção da Santa Casa estão de parabéns pelo seu empenho e determinação na proteção deste grupo de idosos, onde o risco é elevado”, congratulou-se a autarquia.

A mesma fonte considerou ainda que os resultados negativos “confirmam o bom trabalho desenvolvido”, mas sublinhou que este deve “obrigatoriamente continuar” porque é “necessário que sejam tomadas todas as medidas e ações” para a “salvaguarda do bem-estar destes utentes e dos funcionários desta instituição”.

Linha solidária recebeu cerca de mil pedidos num mês

A Linha Loulé Solidário que entrou em funcio-namento há cerca de um mês, já recebeu perto de mil pedidos de ajuda por parte de pessoas que precisam de apoio em várias situações devido ao COVID-19, anunciou a autarquia.

Foram atendidos 950 pedidos de apoio direto de vários tipos no último mês, sendo que 43% das chamadas destinam-se a ajuda alimentar, forneci-do através dos serviços da autarquia, da proteção civil, da GNR e das instituições particulares de solidariedade social do concelho.

Por trás desta linha está uma equipa técnica da Câmara Municipal de Loulé, que ao longo do último mês tem prestado apoio, atendimento e acompanhamento social e psicológico, responden-do a situações de emergência alimentar.

As refeições têm lugar no refeitório municipal aberto na Escola São Pedro do Mar, em Quarteira, tendo já sido servidas cerca de 4405 e entregues em casa perto de 785, num total de 5190.

O pedido de aquisição de medicamentos tem sido outro dos serviços prestados mais solicitado através da linha de apoio.

Esta linha de apoio social e psicológico está disponível gratuitamente através do número 800 289 600, entre as 09:00 e as 20:00.

Segundo o município, 40% dos utentes da linha e do refeitório são pessoas que se viram em situação de desemprego devido ao estado de emergência, 20% são desempregados de longa duração, 26% são reformados e 14% são pessoas no ativo.

“A Linha de Apoio Loulé Solidário tem dado resposta às necessidades das pessoas que se encontram em situação mais vulnerável e irá continuar a estar ao dispor da população, como forma de aliviar o impacto social desta terrível pandemia no concelho de Loulé”, referiu a autar-quia em comunicado.

LouLé

Fundação Champalimaud faz 1235 testes de imunidade

Albufeira abre centro de triagem para o vírus

O concelho de Albufeira já dispõe de uma Área Dedicada à COVID-19, um centro de triagem onde também possível fazer testes de despistagem da doença, feitos no Aqualab, anunciou a autarquia.

A Área Dedicada está localizada junto ao Centro de Saúde, de onde foram retirados todos os materiais lá existentes e feita a limpeza e desinfeção do espaço.

Posteriormente, a Câmara Municipal de Albufeira equipou o espaço com acrílicos de proteção, fez arranjos exteriores como a aplicação de relva sin-tética, tratamento do jardim e irá ainda colocar um tapete antiderrapante.

Nesse local, existe três contentores alugados pela autarquia, um deles com um chuveiro de apoio ao Serviço de Urgências do Centro de Saúde de Albufeira, tal como uma máquina de lavar e secar roupa.

“Desde sempre estivemos em articulação com forças de segurança e Saúde do nosso concelho. Assim que a pandemia despoletou mostramos toda a nossa disponibilidade para apoiar no que fosse necessário”, referiu o presidente da Câmara Municipal de Albufeira, José Carlos Rolo.

O autarca frisa ainda em comunicado que não há “limites para apoiar na área da Saúde, da mesma forma que temos atuado em várias frentes”.

A Área Dedicada à COVID-19 está aberta nos dias úteis entre os 08:00 e as 20:00 e ao fim de semana, entre as 09:00 e as 18:00.

coronavírus: um planalto sem fim à vista

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O Município de Albufeira in-formou hoje que está a tentar terminar nos prazos previstos um conjunto de obras que têm vindo a ser reclamadas pela população, nas ruas 5 de Outubro, Cândido Guerreiro, Av. 25 de Abril, ruas Sacadura Cabral, Telheiros e Travessa dos Telheiros, obras que se traduzem num investimento de cerca de meio milhão de euros.

“Não obstante um contexto de contenção social, é preten-são do Município de Albufeira terminar algumas das obras que há muito têm vindo a ser reclamadas pela população”, anunciou o município.

“O facto de não haver trânsito nem pessoas nas ruas tem permitido que as obras decorram sem grandes perturbações para os muní-cipes”, avança o Presidente da Câmara, José Carlos Rolo, garantindo que os trabalhado-res “respeitam as regras suge-ridas pela DGS e esperamos que seja uma boa surpresa para os munícipes, quando voltarem a sair à rua, verem todas as obras já feitas ou quase a terminar”.

Assim, as obras que decor-rem na Rua Cândido dos Reis é uma intervenção que está inserida na empreitada de execução da Estação Elevató-ria dos Pescadores, e deverão estar concluídas antes do final do próximo mês de maio.

Quanto à 2ª fase da remo-delação da Rua 5 de Outubro,

iniciada a 6 de janeiro deste ano, deverá estar terminada nos primeiros dias de junho. Esta empreitada contempla a repavimentação de toda a rua, captação e encaminhamento de águas residuais pluviais, regularização de taludes, in-cluindo execução de muros de pedra, remodelação dos passeios e ampliação da rede de telecomunicações. O preço de adjudicação foi de 236 mil euros.

Segundo a autarquia, uma boa parte destas obras está feita, sendo ainda necessário, quanto à rede de águas resi-duais pluviais, o fornecimento e instalação de sumidouros, caleiras e ligação às caixas de visita e execução de um canal de drenagem no tardoz do muro de lajes de pedra. Na via, serão ainda aplicados lancis, camada sub-base, camada base e outras, e será feito o estacionamento em calçada grada.

Quanto a arranjos exterio-res, na Rua 5 de Outubro falta ainda a execução de passeios em calçada miúda, a aplica-ção de guardas de segurança e ainda o reforço da rede de telecomunicações. Até ao momento, foram demolidos os passeios existentes, foi feito o reperfilamento de taludes, um muro em lajes de pedra e aplicado o coletor DN315 para rede de águas residuais pluviais.

Nas ar térias das ruas Sacadura Cabral, Telheiros

JORNAL do ALGARVE [15] AtuAlidAde

30 I abril I 2020www.jornaldoalgarve.pt

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e Travessa dos Telheiros, o Município encontra-se a efe-tuar obras de requalificação, contemplando trabalhos de remodelação da rede de abas-tecimento de águas, redes de drenagem de águas residuais e domésticas, bem como a melhoria dos arruamentos.

Com conclusão prevista

ALBUFEIRA:

Obras de meio milhão de euros prosseguem apesar da pandemia

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Insegurança, falta de auto-estima, ansiedade, depressão, fobias, problemas relacionais,

conflitos, dificuldade de realização de projetos, desmotivação e auto-conhecimento

Membro do Centro Português de Psicanálise - Escola Lacaniana Internacional

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SUSANA TRAVASSOS - PSICANALISTA

LISBOA/FARO/VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO TEL. 911034469

CORONAVÍRUS: UM PLANALTO SEM FIM À VISTA

para maio, decorrem também as obras de remodelação das lajetas da Av. 25 de Abril, sendo que aquelas que se en-contravam danificadas estão a ser substituídas por pavê. As caleiras danificadas estão igualmente a serem substituí-das por novas.

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JORNAL do ALGARVE [15] OpiniãO

30 I abril I 2020www.jornaldoalgarve.pt

Escrevo sobre o tempo que passa. Não o tempo que passou, e que retorna, nem o tempo que advém e tarda em chegar. Mas no súbito intervalo, causado pela atual experiência do confinamento por que passamos, neste estado de emergência.

Este tempo que agora passa, começou antes desse intervalo de uma vida suspensa e confinada, do medo da exposição ao contágio do outro, do estranho. A vida, como a escrita e a leitura desta crónica perdurará para além da Emergência.

São boas e más notícias, que não cessam de não se escrever. O que se inscreve, apaga esse passar indelével do tempo. Por vezes, apenas os números se registam, numa espécie de contagem mórbida, onde só contam os números grandes ou díspares. Números de mortos, número de novos infetados, número de recuperados.

São esparsos os sinais, que nos indicam uma saída, uma direção. Um impasse, implica uma perceção, um vislumbre. Mas não há ainda luz ao fundo do túnel, sem que a marcha inexorável do tempo, o comboio do tempo nos ameace trucidar de um lado ou do outro da via única ou da passagem estreita. A paragem desse trem, não é possível, nem que dure para sempre. Sabemos que uma paragem por demasiado tempo, poderia ser igualmente perigosa, numa espécie de paralisia mortal ou de suspensão indefinida dos sinais vitais.

A dificuldade em lidar com situações catastróficas resulta num primeiro momento do impacto do evento intempestivo que desencadeia uma certa estupefação, que nos leva a duvidar daquilo que está a acontecer, por que aparentemente não devia acontecer e depois tal como as crianças pensamos: e porque

ninguém nos avisou disto?As notícias do vírus potencialmente mortal

começaram a chegar de longe, mas pensamos primeiramente, isto deveria ser coisa que afetaria só asiáticos, ou quanto muito aqueles que têm hábitos alimentares estranhos. Depois soube-se que alguns viajantes poderiam ter transportado o vírus para outras paragens, e que alguns turistas endinheirados estavam retidos em cruzeiros. Coisa que não dizia respeito em quem não embarca nessas viagens luxuosas por zonas exóticas.

O estigma que as doenças contagiosas transportam de infetado para suscetível, foi passando de grupo étnico, transmitindo o vírus do medo para outras regiões e comunidades, progressivamente mais próximas, reativando fronteiras e zonas de exclusão e confinamento. Quando demos conta, dentro das nossas fronteiras aparentemente seguras da fortaleza Europa, os sistemas de saúde de países como a Itália e a Espanha, ameaçavam colapsar. Quando os nossos próximos começaram a correr o risco de contágio, sentimos que o perigo era real. Não apenas o perigo da doença, mas o risco social e político que estava subjacente.

Ao nível do discurso, o que imperou numa primeira fase foi a declaração de guerra ao vírus. Como se este fosse um inimigo identificável e que pudesse unir a comunidade humana. Mas como a guerra dividiria em dois campos os partidários de diferentes causas, esta retórica foi abandonada, em favor de um estabelecer de um estado das coisas, global, caracterizado pelo tempo da exceção.

No nosso país, como em grande parte do mundo foi declarado o estado de emergência, que na prática representa uma forma moderada de Estado de Exceção em que alguns direitos

constitucionais estão restringidos. No entanto como foi assinalado na altura, muitas das medidas que decorreram do estado de exceção, tinham já sido adotadas antes de tal imposição. A expectativa de que dentro de alguns dias seja levantado o estado de emergência, não significa que a crise sanitária tenha terminado. Significará apenas que formalmente essa figura constitucional da exceção já não se considera necessária, porque de algum modo já tornou a norma.

Vivemos tempos excecionais, pelo que se torna plausível a ocorrência de fenómenos estranhos. A aceleração que a vida contemporânea impunha como norma, está agora sujeita a uma travagem brusca de ritmo e alguma reflexão se torna imperiosa, no tempo que passa: o que queremos e para onde queremos ir enquanto sujeitos e comunidades?

Descobriremos, aqui e agora uma comunidade humana com um certo grau de maturidade que desconhecíamos?

Precisamos, no entanto, de estar alerta, não apenas para os riscos para saúde individual e coletiva que o vírus veio por a nu, como também para o modo como gerimos as nossas vidas, quer na dimensão da subjetividade humana, quer no quotidiano das decisões e opções com implicações globais. O confinamento, veio trazer a possibilidade de um tempo interior, e da abertura para uma ecologia de espírito, no relacionamento connosco próprios e os outros. O vírus, veio trazer-nos uma aguda perceção da precaridade da vida e da necessidade de cuidar, dela. Da vida de cada um e de todos, que é preciosa.

A vida é um tempo que passa, e agora sabemos que a notícia do fim do tempo chega sempre antes do fim•

> Jorge GravanitaPsicólogo e Psicanalista

É invariável: sempre que se chega ao final de Abril e das suas águas mil, recordo-me de uma música da banda norueguesa A-Ha, “Soft Rains of April”. Não creio, porém, que o tema fale sobre a pluviosidade intensa do mês, aqui ou na Noruega – e, de qualquer modo, com as recentes alterações climáticas, sabemos que tal nem sempre corresponde à verdade...

A música em questão, que encerra o álbum Scoundrel Days, apresenta a atmosfera negra de muitos dos temas que o compõem. O verso que insistentemente se repete (“The soft rains of April are over”) sugere que o ameno tempo passado se encontra, no presente, distante. Face à impossibilidade em se o recuperar (e as imagens, na letra, da chamada telefónica e das cartas escritas sem resposta, das viagens de ferry ora encerradas, acentuam-no), nada mais se pode fazer senão aceitar o momento desolador de agora.

O que não sabia – e descobri

recentemente, em pesquisa – é que a poetisa Sara Teasdale escreveu em 1918 o poema “There will come soft rains”, e que poderá, ou não, ter de algum modo influenciado a música atrás referida, até pela semelhança imagética das chuvas mansas descritas. No poema, porém, elas surgem depois do período sombrio – como que a limpar e renovar o espaço. Um pouco na linha do dito “Depois da tempestade, vem a bonança”.

Num e noutro caso, encontramos um ponto comum: a ideia de renovação, de mudança. Como a deveremos encarar e aceitar.

...E agora que aproveitei meia página para falar de uma das minhas músicas preferidas, eis-me no momento em que tenho de justificar a sua inclusão na nossa crónica semanal...

É certo que nos encontramos, como é sabido, numa fase de mudança. Na restauração e em tudo o mais. Mas por muito inquietante que esta ideia nos

possa parecer agora, é importante notar que, em boa verdade, esta necessidade de renovação é parte integrante de qualquer restaurante – e aliás de qualquer actividade humana. “Todo o mundo é composto de mudança”, como nos recorda o célebre soneto de Luís de Camões. E toda a inquietação que dela resulta faz parte do processo.

Usemos, pois, este factor em nosso benefício. Consideremos o que tem de mudar, o que queremos mudar e façamo-lo em articulação do produto que queremos apresentar. Nenhuma mudança perturba o conceito de um espaço, pois o mesmo é, por definição, mutável e depende de vários agentes, desde a própria equipa (cozinheiros, pessoal da sala, etc.), passando pelas várias pessoas e entidades cooperantes (fornecedores, serviços, etc.) e pelos próprios clientes, que acabam por modelar e determinar diferenças de restaurante para restaurante.

De resto, de outro modo não poderia ser. Quantas vezes tivemos de mudar um prato por não funcionar? Quantas alterações fazemos numa receita até que a mesma se torne única? Quantas vezes reajustamos uma ideia ou um conceito até que seja eficaz e se traduza naquilo que queremos comunicar? O nosso dia-a-dia encontra-se, na verdade, imerso em diferença e dependente da mudança. Os dias que se seguirão após Abril serão, ainda que com outra dimensão e com diferenças significativas, apenas uma extensão deste raciocínio.

Ninguém diz, porém, que as alterações que se avizinham irão ser fáceis. Mas recuperemos, a este propósito e com todo o alento possível, o refrão que José Mário Branco acrescentou ao citado poema de Camões: “E se todo o mundo é composto de mudança, / Troquemos-lhes as voltas que ‘inda o dia é uma criança”•

> Vasco Barbosa PrudêncioChef de Cozinha “A Venda”

Soft Rains of April

Crónica do tempo que passa,aquém e além da Emergência Covid19

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Neto Gomes

muito pouco, pois num repente chegou a pandemia e nunca mais lhe toquei, a apalpei, a beijei, a apertei no meu peito para ao mesmo tempo acontecer o tilintar do meu e do seu coração.

Por isso cantei Grândola e comemo-rei o 25 de Abril de 1974, confinado e dentro dos meus silêncios, profundos para não escutar algumas vozes reacio-nários, que mesmo com o coronavírus à cabeçada com o pessoal, andam por aí e esgrimir estratégias como se o Algarve e o País estivessem abando-nados, gente distraída, tão distraídas, como o meu querido e saudoso amigo Prof. António Rosa (um homem de es-querda) que também era o proprietário do Externado Nacional, em Vila Real de Santo António, meu professor de matemáticas, que às vezes fumava com o giz e escrevia uma regra de três simples com o cigarro, mas não foi por isso, que ainda hoje não encontrei o valor de (x). Eu depois explico.

Estava muito descansadinho em casa, diga-se a, a ler as mensagens que me chegaram, e segundos antes a libertar-me de uma terrível discus-são com o meu sofá - que, diga-se de passagem, já não me consegue ver, e tem razão, - quando o telefone tocou.

Nem atendi à primeira, pois ainda tinha uma espinha encravada na gar-ganta que tinha que dizer ó meu Sofá.

- É pá… vê lá se te acalmas, que aqui em casa o senhorio sou eu. Tu és o inquilino. Calma. É que se falas muito, aliás, tu já nem falas, gritas, nem vou gastar contigo a energia do elevador…vais a pé do segundo andar até à rua. Ele ficou tão encolhido, que agora só cabemos cinco pessoas no sofá…

Bem. Lá atendi o telefone cansado de ouvir: trin trin trin trin… trin trin trin trin – Malvado telefone, disse para os meus fechos, porque eu não uso botões

É que não estava muito a propósito de falar fosse com quem fosse. Para dizerem que canto mal, já me chagava o que tinha lido, e ainda por cima a dis-cussão com o meu sofá. Bem, lá atendi, pois até poderia ser a Santa Casa a dizer que eu tinha ganho a raspadinha. Nunca se sabe.

Era a minha tia Amélia, que Deus ainda não tem, a gritar-me aos ouvidos:

- Manulito. Ho Manulito, és tu? Ia perguntar-te se tu sabes quem é aquele senhor de cabelos muito brancos que anda sempre atrás do presidente da América.

- Anda atras de quem tia? Eu bem ti-nha percebido, mas o que é que se teria passado com a minha tia para trazer à cena o homem de cabelo branco, que

No sábado passado, que coincidiu com o dia 25 de Abril, foi um dia muito bonito, tão bonito, que até comemora-mos à janela, esta maravilhosa efeméri-de, cantando Grândola Vila Morena, de Zeca Afonso, o maior cantor da nossa liberdade.

Mas logo aqui, e ao contrário de alguns fingidores, que fingem que são uma coisa e depois são outra, que dizem que isto vai mudar depois do coronavírus, sem se aperceberem que essas vozes adivinhadoras, são vozes em contramão e de puro engano.

Reparem que ontem e hoje, mesmo agora, neste instante, em que traço esta meia dúzia de linhas, voltamos a discutir uns com os outros, até eu acabei por ser vítima desta espécie de duplo ostracismo, aquele que nos é determinado pelo coronavírus, e o outro que a sociedade vai arquitectan-do, e senão, reparem neste pequenino exemplo.

Ontem fui um dos muitos portugue-ses e dois espanhóis, que às três da tarde cantámos Grândola Vila Morena. E eu digo dois espanhóis, pois no sé-timo andar do meu prédio. Sim meu, porque há muitos anos que o paguei ao Montepio, ainda o Montepio era generoso e confiante para todos, agora é apenas generoso para o Presidente, que sabe que sendo um pássaro, sem-pre a saltitar, também sente que um dia vão entrar na gaiola…

Como ia dizendo, tenho dois vizi-nhos espanhóis, que também cantaram Grândola. Adiante…

Então não é que depois de cantar, recebi uma mão cheia de mensagens, que mostram bem o tal ostracismo, em contraste com a minha curtição em lembrar com alma e pulmões o movimento dos capitães!

Primeira mensagem foi do meu filho a dizer-me que tinha cantado muito bem e que já me tinha inscrito para o próximo festival da canção.

Outra do meu amigo Manuel José, que me enviou uma mensagem de Espinho a dizer-me «Amigo estás em forma, é o Neto Gomes de sempre. Obrigado amigo.» Aliás, o Manuel José, tem um amigo, de nome Rui Rocha, ex. andebolista internacional, quer também representou o F. C. do Porto, que escreve maravilhosamente, e que no outro dia a propósito da telescola es-crevia: «De manhã começa a telescola e as vídeo-aulas. Os miúdos pela casa, uns num lado, outos noutros, computa-dores, televisões, modems, professores que não atinam, alunos que demoram, enfim, o normal quando tudo é novo. Preocupa-me o que os professores po-dem fazer quando os alunos se portam mal. Já agora como portal mal em aulas online? Enviar um vírus? Uma emoji? E como mandar bilhetinhos às miúdas giras da turma, como chatear o colega da frente? Como é que o professor atira o apagador à cabeça dos espertinhos? Vai haver cyber-bullyng e net-kissing.»

Mais adiante explica algumas van-tagens que o coronavírus trouxe, escre-vendo: […] A filas nos estabelecimentos e hospitais tornaram-se ordeiras, com as pessoas a guardarem espaço entre elas. Acabaram aqueles toques irritan-tes de quem está atrás de nós, o mau hálito, o bafo no pescoço, os enganos a passar à frente. Enfim, o calor humano no seu pior.

Por falar em mau hálito, as másca-

ras sempre têm vantagem, já posso comer alho às refeições, não preciso de fazer a barba todos os dias e há até quem fique melhor de máscara do que se ela – meu caso -, ao mesmo tempo que nos traz um pouco daquele mistério oriental nas mulheres com olhos boni-tos – todos os olhos são bonitos porque todos têm luz. Ou seja, os feitos menos feios e os hálitos suportáveis […]»

Este texto é uma maravilha, escrito com enormíssima qualidade, e urge acrescentar, que Rui Rocha é ortope-dia e tem algumas obras publicadas, sobretudo poesia, e também sabemos que ele não levará a mal, de lhe roubar estas breves linhas, para adocicar, o meu Remate Certeiro, não tão certeiro como os dele, com uma canhota incrí-vel, mas…

Voltemos, entretanto, aos telefo-nemas que recebi, depois da minha cantoria, lembrando, que também me telefonou uma outra uma amiga, dizendo que eu tinha desafinado muito.

Então se cantei sozinho como é que desafinei? Mas mesmo que tenha de-safinado, Cantei GRÂNDOLA ou cantei ALCÁCER DOS SAL!

Outro amigo, a dizer-me, que tinha estado muito bem, mas ao mesmo tempo muito mal.

Outra ainda, que mais valia que não tivesse cantado.

Mas a grande mensagem que recebi veio do meu neto Manel – numa altura em que ainda ressonavam estrondosa-mente milhares de aplausos, que até parecia que a TAP já tinha começado a levantar outra vez – para me dizer: AVÔ QUEM CANTA ASSIM NÃO É GAGO.

Todas estas mensagens foram lidas com muito entusiasmo pela minha esposa, que normalmente nunca lê nada daquilo que eu escrevo. Ficou tão cansada das cartas que lhe es-crevia quando nos conhecemos, que certamente teria rezado num fortíssimo finca-pé: - Nunca mais vou ler nada que ele escreva.

Mas no sábado, creio que ficou tão emocionada com o ruido à volta dos meus sentimentos cantantes sobre o 25 de Abril, que acabou por sentir, que o que eu sentia, não era a voz do fingidor…

25 de Abril uma data que será sem-pre para mim um tempo de liberdade e de magia, mas que muitos em bara-funda com eles próprios, distinguem os verdadeiros portugueses e antifascis-tas, só naqueles que foram libertados das prisões. E os outros e as outras:

E os operários e camponeses, que tinham que roubar, nas empresas onde trabalhavam para dar de comer aos seus filhos

E os que viviam com três dia de trabalho por semana?

E os que recebiam três latas de conserva como subsidio de Natal?

Eu queria ver o Salgado, o Jardim, o Oliveira e Costa, que Deus já chamou e por exemplo os primos Sócrates, Cavaco e Vara, a viverem com três latas de conserva – muito menos que a ração de combate no meu tempo - e estes também foram medalhadas como enormíssimos portugueses.

Existem pessoas que mesmo em tempo de pandemia, de curtas liberda-des, eu por exemplo, que vivi sempre no mundo todo, e que me vi sempre rodea-do de centenas e centenas de pessoas, e alguns nem gostavam, tinha que levar

30 I abril I 2020www.jornaldoalgarve.ptOpiniãO [18] JORNAL do ALGARVE

com a minha voz grossa, mas sempre a roçar a emoção, sem ser aquilo que o Pessoa, chama de «fingidor…», agora estou numa roulotte, onde às vezes encalho na minha própria sobra.

E como é que existem Pessoas, e es-tou a referir-me a PESSOAS, que levam a vida inteira entregues a um estranho mutismo, uma espécie de curtição, e sentem-se felizes, neste acorrentar a coisa nenhuma, alimentando um ego, que já está fora de prazo.

Cantei Abril. E o que me choca, é que cantei ABRIL PELA PRIMEIRA VEZ SEM ESTAR EM LIBERDADE, encarcera-do nas várias paredes da minha casa, mas de cravo ao peito, com a lágrima ao canto do olho, pois além de Grândola, a canção mais marcante que ficou da-quela época e ontem voltei a ouvi-la, foi a tal que fala de crianças, de papoilas e de gaivotas. Sim da Gaivota que voava, e que depois se tornou num símbolo, para adormecer os meus filhos e agora os meus netos. Mas eu mostro a letra aos saltinhos: […]

Uma gaivota voava, voava, assas de vento,coração de mar. Como ela, somos livres,somos livres de voar.

Uma papoila crescia, crescia,grito vermelhonum campo qualquerComo ela somos livres,somos livres de crescer.

Uma criança dizia, dizia“quando for grandenão vou combater”.Como ela, somos livres,somos livres de dizer. […]

O meu Pedro nasceu em 1974, e a canção só parou, quando ele, já não precisava de adormecer nos meus braços. Depois, desde esse momento distante, só voltei a recordar esta can-ção, em 2007, quando nasceu o meu neto Guilherme, pois muitas vezes adormeceu no meu colo, quando eu cantava:

Uma gaivota voava, voava,assas de vento,coração de marComo ela, somos livres,somos livres de voar.

Depois esta canção, renasceu para adormecer a Maria, mais tarde o Manel… Agora a Sofia, mas para a Sofia, tem agora 17 meses, ainda cantei

anda sempre atrás do Trump!- Sim Manulito. Do Trump, ou lá

como é que o homem se chama e que mada lá na América!

Eu tinha muitas dificuldades em perceber a minha tia e perguntei.

- Repita lá tia?- Quem aquele homem de cabelos

brancos que ainda sempre atrás do trumpe ou da trampa, ou lá como o homem se chama?

- Oh tia. Se estou a perceber bem, é vice-presidente. É o senhor Mike Pence

- Pence… se é o «pence», porque é que o outro só diz disparates…

- Mas oh tia eu não disse pense, disse Pence. Oh filho desculpa lá, então o homens é pense duas vezes.

- Não tia é o Senhor Pence. Pence com o (C), não pense com o (S)…

- Manulito, tu não bates bem filho. Atão as pessoas umas vezes pensam com o (S) e outras com o (C)?

A conversa ficou depois tão dura ao telefone, que para a acalmar a minha tia, tive que lhe gritar:

- Oh tia este senhor de cabelo branco, que anda sempre atrás do Pre-sidente da América, é o sogro. É o sogro dele, tia…! - Bem me parecia – gritou a minha tia – soltando uma grande gargalhada… - Bem me parecia - repetiu ela, dizendo ainda: - Tinha que ser o sogro, Manulito, Parece uma múmia e não diz nada. Entra mudo e sai calado e ainda apor cima tu dizes que ele se chama Pence…

Depois deixei de ouvir a voz da minha tia… Mas como medo quer os protestos continuassem, ou que a mi-nha tia me voltasse a ligar por causa do sogro do Trump, desliguei o telefone e voltei ao meu calvário, de estar fechado em casa.

Hoje vou voltar a mexer nos meus papéis. Coisas que ando a fazer há dois ou três anos e que a pandemia não me pode impedir. Felizmente que agora proibiram de falar, o inventor da nova cerveja americana a partir da lixivia, e que vai ficar muita chateada é a minha Tia Amélia, que Deus ainda não tem, por não poder ver o sogro do Senhor Trump…

Então, até para a semana e FIQUEM EM CASA. BOM DIA DA MÃE, QUE JÁ VAI SER NO DOMINGO. QUEM TIVER QUE A POUPE. DA MINHA GUARDO TUDO NO CORAÇÃO.

FIQUEM EM CASA, QUE ENTRE A ESTA OU OUTRA ONDA, COM MAIOR OU MENOS CURVA, COM MAIOR OU MENOR ACHATAMENTO, ISTO É MUITO SÉRIO. TÃO SÉRIO, COMO ESTRANHO E GRAVE.

REMATE CERTEIRO (30)

Fechado em casa a comemorar o 25 de Abril o sogro de Trump

“O sogro” de TrumpZeca Afonso, o cantor da Liberdade

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JORNAL do ALGARVE [19] Publicidade

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CRESC Algarve tem 5 milhões para combate ao vírus

O Programa Operacional CRESC ALGARVE 2020 reser-vou um montante indicativo de 5 milhões de euros destinados a apoiar projetos em todas as áreas de atividade associadas ao COVID-19, para dar resposta às necessidades imediatas e a médio prazo do Serviço Nacional de Saúde, anunciou a Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve.

O financiamento terá efei-tos retroativos – pois servirá para apoiar despesas desde 1 de fevereiro apresentadas por empresas e instituições com atividades já em curso; ao mesmo tempo deverá in-centivar outras entidades a dedicarem-se a estas novas atividades económicas de base tecnológica, prevendo-se ainda um acréscimo de 25% das ver-

bas atribuídas para despesas gerais (overhead).

Incluídas numa estratégia nacional, foi também lançada uma linha de apoio para o financiamento das empresas que redirecionem a sua ativida-de para a produção de produtos

essenciais nesta crise pandé-mica (medicamentos e trata-mentos relevantes – incluindo vacinas, seus produtos intermé-dios, princípios farmacêuticos ativos e matérias-primas; dispo-sitivos médicos e equipamento médico e hospitalar – incluindo

A Câmara Municipal de Lagos abriu um concurso externo de ingresso para admitir 24 estagiários na carreira de Polícia Municipal, na categoria de Agente Municipal de segunda classe, anunciou a autarquia.

O concurso está aberto pelo prazo de 10 dias úteis a contar do dia da publicação em Diário da República e a modalidade de contrato de trabalho em funções públicas é por tempo indeterminado.

Este cargo compete as funções de polícia administrativa na área da jurisdição do município, de acordo com ordens supe-

A Câmara Municipal de Faro abriu as candidaturas para o Apoio Municipal de Emergência ao Arrendamento (AMEA), destinado a pessoas que se encontrem em dificuldades devido à pandemia de COVID-19, anunciou a autarquia.

Os candidatos têm de residir no concelho, ininterruptamente, há mais de três anos, ser maior de idade, encontrarem-se numa situação socioeconómica desfavorecida, apresentarem uma taxa de esforço do agregado igual ou superior a 40% ou não serem beneficiários de outros apoios que tenham o mesmo objetivo.

Os pedidos podem ser feitos através de um formulário, cujas condições gerais de acesso e dúvidas podem ser esclarecidas na Divisão de Intervenção Social e Políticas Participativas (DISPP) da au-tarquia através do número 289 870 869 ou do e-mail [email protected].

A candidatura pode ser entregue no Balcão Único do Municí-pio, situado na Loja do Cidadão, no Mercado Municipal de Faro, por carta registada com aviso de receção para o endereço da DISPP ou através do e-mail [email protected].

As normas para a concessão deste apoio municipal de emer-gência estão em vigor até dia 30 de junho deste ano.

Esta medida está incluída no pacote de iniciativas imple-mentadas pelo município para combater as consequências da pandemia de COVID-19 nas famílias, empresas e associações.

Autarquia de Faro lança apoio de emergência ao arrendamento

Autarquia de Lagos lança concurso para 24 postos na Polícia Municipal

ventiladores, vestuário e equi-pamento de proteção, bem como instrumentos de diag-nóstico, e as matérias-primas necessárias; desinfetantes e seus produtos intermédios e substâncias químicas básicas necessárias para a sua produ-ção e ferramentas de recolha e processamento de dados), sendo igualmente apoiadas empresas que já estão foca-das nestes produtos e que demonstrem um aumento da capacidade produtiva.

No total, a nível nacional, estas duas linhas de apoio re-presentam 69 milhões de euros a fundo perdido (com compar-ticipações entre 80 e 100%), incluindo verbas do COMPETE e dos programas operacionais regionais e as candidaturas deverão ter resposta no prazo máximo de 10 dias.

Um grupo de homens e mulheres de nacionalidade romena está retido na vila de Castro Marim depois de ter sido impedido de entrar em Espanha pelas fronteiras do Caia (Elvas) e Ponte do Guadiana, Castro Marim, onde queriam entrar para trabalhar na apanha de fruta, próximo de Sevilha, disse ao JA fonte da Câmara de Castro Marim.

Os romenos chegaram no domingo ao aeroporto da Portela provenientes de Bucareste e, na segunda-feira, dirigiram-se, em vários táxis, à fronteira do Caia, mas as autoridades espa-nholas não os deixaram passar, apesar de estarem na posse de contratos de trabalho, adiantou Filomena Sintra, vereadora da Câmara de Castro Marim.

Os migrantes acabariam por pernoitar em Elvas de segunda para terça-feira, graças aos bons préstimos do município local, de acordo com a mesma fonte.

Já na terça-feira, os romenos dirigiram-se, também em táxis, à fronteira do Guadiana, quase 300 quilómetros para sul, mas também aí foram barrados, ao princípio da tarde de terça-feira.

Devido a razões ainda por apurar, os romenos acabariam por fazer a pé o percurso entre a fronteira e a vila de Castro Marim.

“Tomei conhecimento desta situação às 16:15 da tarde de segunda-feira. Avisámos a Segurança Social, que disse não ter meios para os abrigar. Por razões humanitárias, abrigámo-los num ginásio escolar, contíguo ao pavilhão que se encontra afeto à receção de infetados pelo vírus”, explicou ao JA Filomena Sintra.

As refeições estão a ser providenciadas no refeitório escolar pela Santa Casa da Misericórdia local.

A vereadora, que segue de perto a situação, aguarda agora que as autoridades consulares de Portugal e Espanha se entendam sobre o destino dos migrantes, que estão a ser enquadrados por uma patrulha da GNR e assistidos pela Câmara de Castro Marim.

riores e nos termos do regulamento, que deve ser consultado.As candidaturas estão abertas a todos os indivíduos, in-

dependentemente de estarem ou não vinculados a serviços da administração central, regional ou local.

Os métodos de seleção passam por uma Prova Escrita de Conhecimentos, Exame de Avaliação Psicológica, Exame Médico de Seleção e Entrevista Profissional de Seleção, com valores de avaliação entre os 0 e os 20.

Para mais informações sobre as candidaturas, deve con-sultar o website da Câmara Municipal de Lagos.

COVID-19SE PUDER

FIQUE EM CASALEIA PARA SE INFORMAR

IMPEDIDOS DE ENTRAR EM ESPANHA

Trabalhadores romenos retidos em Castro MarimAterraram na Portela e vinham, com contrato de trabalho, para a apanha da fruta no sul do país vizinho

As ruas de Olhão estão agora mais prote-gidas com os oito novos agentes da Polícia Municipal, que terminaram recentemente a formação teórica de seis meses, anunciou a autarquia.

Estes agentes adquiriram competências nas áreas de direito, defesa pessoas, legisla-ção, trânsito e tiro, juntando-se agora o estágio prático, em fase de transição até 31 de agosto.

Os agentes da Polícia Municipal de Olhão encontram-se no terreno a realizar as suas atividades, com destaque para a fiscalização do cumprimento das posturas municipais, trânsito, urbanismo, contraordenações, fiscali-zação rodoviária, policiamento de proximidade e prevenção da criminalidade.

Quando estiver completo o processo de aquisição de armamento, viaturas, equipa-mentos de controle de velocidade e alcoolí-metros, o Corpo da Polícia Municipal de Olhão ficará em plena operacionalidade no concelho.

Olhão tem novos polícias municipais nas ruas

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MAGAZINEPARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO N.º 3292 DE 30 DE ABRIL DE 2020

DO JORNAL DO ALGARVE E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE

Bibliotecasonline e take away

Bibliotecasonline e take away

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O programa 365 Algarve alargou ex-cecionalmente a sua temporada até 15 de novembro, para poderem ser

JORNAL DO ALGARVE MAGAZINE - ABRIL/2020

reagendados os eventos cancelados pelas me-didas aplicadas no âmbito do estado de emer-gência de combate à pandemia da covid-19.

“Solicitámos aos promotores o reagenda-mento das ações que não tinham sido reali-zadas e que poderão ainda acontecer entre 15 julho e 15 de novembro. Entretanto foram pagas todas as ações executadas”, afirmou à agência Lusa a comissária do Programa Cultural 365 Algarve.

Anabela Afonso revelou que, das quatro dezenas de eventos programados, “pouco mais de uma centena ainda não tinha aconte-cido”, entre eles o Festival Ventania, o Festival Internacional de Cinema e Literatura de Olhão, o Festival do Contrabando e os Encontros do Devir, que podem agora ser reagendados.

O programa 365 Algarve promove uma oferta cultural em todo o Algarve, entre ou-tubro e maio, com o objetivo de combater a sazonalidade e mostrar que a oferta cultural também pode ser um elemento de atração para quem visita o Algarve fora da época alta.

Parte da programação da 4.ª edição ainda não tinha acontecido, quando entraram em vigor as primeiras restrições, seguidas do estado de emergência, em vigor desde 19 de março, no âmbito do combate à pandemia.

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Monchique promove Prémio

Artístico e Literárioara galardoar trabalhos de reconhecida qualidade, a Câmara Muni-cipal de Monchique está a promover o Prémio Artístico e Literário de Monchique, que vai distinguir obras de prosa, poesia, escultura, P

fotografia e pintura.Esta iniciativa pretende oferecer mais um passatempo a realizar em casa,

enquanto a população se encontra em isolamento social devido à pandemia de COVID-19, estimulando a criatividade e contribuindo para a saúde mental e bem-estar.

A temática deste concurso é a “Liberdade”, no mês em que se comemorou mais um aniversário do 25 de abril de 1974, e os prémios monetários serão entregues aos três melhores de cada área.

No website da autarquia estão disponíveis todas as informações, bem como as candidaturas.

Devido à pandemia

Programa 365 Algarve vai ser estendido até 15 de novembro

Por isso, este ano foi criada uma extensão extraordinária ao festival.

O financiamento dos agentes culturais foi uma preocupação revelada pela entidade ges-tora, revelando que os contratos estabelecidos dentro do programa “permitem o adiantamen-to de 30% da verba para fazer face a algumas despesas”, e a comissária realçou que está a ser feito “o levantamento das despesas de cancelamento já assumidas pelas estruturas,

para que não fiquem com esse ónus”.A reabertura das atividades é ainda uma

incerteza e as indicações das autoridades de saúde “irão ditar 'o quando' e a forma como as atividades culturais irão funcionar” quando forem levantadas as restrições, no entanto “muitas das atividades do 365 Algarve são realizadas ao ar livre, o que pode vir a facilitar”, adiantou.

No final do mês de fevereiro, a associação

DeVIR, sediada em Faro, lançou um abaixo-assinado na defesa do apoio financeiro do Governo aos programas culturais no Algarve, temendo que o 365 Algarve terminasse este ano. Destacavam, entre outras, o facto de a abertura para as candidaturas a uma nova temporada ainda não ter acontecido, algo que costumava ocorrer logo no início do ano.

Questionada pela Lusa, Anabela Afonso afirmou que “não há ainda qualquer indicação” sobre a existência ou não de uma próxima edição deste programa.

Portugal cumpre o terceiro período de 15 dias de estado de emergência, iniciado em 19 de março, e o decreto presidencial que prolongou a medida até 02 de maio prevê a possibilidade de uma "abertura gradual, faseada ou alternada de serviços, empresas ou estabelecimentos comerciais".

A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou cerca de 178 mil mortos e infetou mais de 2,5 milhões de pessoas em 193 países e territórios.

Portugal, segundo o boletim hoje divulga-do pela Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia, regista 785 mortos associados à covid-19 em 21.982 casos confirmados de infeção. Relativamente ao dia anterior, há mais 23 mortos (+3%) e mais 603 casos de infeção (+2,8%).

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JORNAL DO ALGARVE MAGAZINE - abril/2020

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Rede de Bibliotecas do Algarve (BIBAL) está a adaptar-se à pandemia de CO-VID-19 ao encontrar novas formas de

manter os bons hábitos de leitura, anunciou a Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL).

Uma vez que as bibliotecas algarvias estão encerradas ao público devido à pandemia, os seus serviços continuam disponíveis on-line, como as horas do conto, sugestões de leitura, formação e divulgação de conteúdos informativos fidedignos.

A BIBAL tem como objetivo desenvolver a região do Algarve relativamente a servi-ços de biblioteca e foi formalizada através da assinatura de um Acordo de Cooperação pelas autarquias representadas na AMAL, com uma parceria com a Biblioteca da

A Universidade do Algarve e a DGLAB.A rede integra 25 bibliotecas municipais,

três bibliotecas itinerantes e três bibliotecas universitárias e assenta na cooperação entre diferentes entidades e tem como finalidade o desenvolvimento de serviços em rede.

Biblioteca de VRSA aproxima-se dos leitores através das redes sociais

A Biblioteca Municipal Vicente Campinas de Vila Real de Santo António vai continuar a estar ao lado dos leitores e das famílias, através das plataformas digitais.

Na tentativa de reinventar novos formatos de comunicação, a biblioteca reorganizou as suas atividades culturais, adaptando-as às plataformas digitais, utilizando para isso as

Estiveram todas encerradas devido ao COVID-19. Mas, como um grande urso adormecido, as bibliotecas do Algarve começam aos poucos a despertar para a vida. Adaptam agora as suas atividades direcionadas para as redes sociais

e outras plataformas online. Algumas aceitam a requisições de livros, que podem ser entregues, em regime de take-away, no conforto das casas dos leitores

Plataformas online incentivam a leitura em isolamento

Bibliotecas adaptam-se à pandemia com online e take away

suas redes sociais, nomeadamente o Face-book e o blog.

Neste contexto, foram já criadas duas atividades regulares: #LeiturasOn, em que a biblioteca leva a literatura à comunidade, ao público infantil e adulto, e a Partilha de Sa-beres para pais e filhos, onde se apresentam algumas propostas na área das manualidades, dirigidas às famílias, num período em que pais e filhos passam mais tempo juntos, estando outras mais a ser equacionadas.

Com estas estratégias, pretende-se dar continuidade a algumas iniciativas que a biblioteca dinamizava regularmente, e que agora realiza a partir de casa, mantendo o contacto com os leitores e conquistando novos públicos.

Todas as atividades estão disponíveis nos

seguintes endereços: www.facebook.com/bibliotecamunicipalvicentecampinas e www.bmvrsa.blogspot.com.

Em Loulé, biblioteca funciona em take-away

A Biblioteca Municipal Sophia de Mello Breyner Andresen retomou o serviço de empréstimo, que funciona na sua sede, em Loulé, entre segunda e sexta-feira, das 11:00 às 17:00.

Para aceder a este serviço, os interessados deverão consultar o catálogo da Biblioteca no endereço https://tinyurl.com/bibliota-keaway e escolher as suas preferências de leitura. Depois é necessário telefonar para o número 289 400 850 ou enviar um email para [email protected] e indicar os livros

Biblioteca Municipal Sophia de Mello Breyner Andresen, em LouléBiblioteca Municipal Vicente Campinas, em Vila Real de Santo António

Biblioteca Municipal Lídia Jorge, em Albufeira Biblioteca Municipal de Castro Marim

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JORNAL DO ALGARVE MAGAZINE - abril/2020

que pretende requisitar (títulos e autores), o número de Leitor da Biblioteca Municipal e nome completo.

Por fim, será agendada data e horário para levantamento da encomenda na Biblioteca Municipal.

Biblioteca de Albufeira retoma entrega de livros e lança desafios online

A Biblioteca Municipal Lídia Jorge retomou o serviço de empréstimo de livros na segunda-feira, que vai funcionar às segundas, quartas e sextas-feiras, entre as 09:00 e as 15:00, anunciou a autarquia.

Na página de Facebook da biblioteca, dis-ponível em www.facebook.com/albufeira.pt, é feito o apelo para os amantes da literatura de acompanharem a “Hora do Conto”, além das sugestões de leitura e dos desafios e passatempos propostos.

“Um livro é sempre uma excelente com-panhia. É através dos livros que adquirimos novos conhecimentos, mas é também o prazer da leitura que nos permite conhecer figuras e factos importantes da atualidade e da história da nossa civilização, bem como viajar por lugares incríveis sem sair de casa”, sublinha a vereadora do pelouro da Cultura de Albufeira, Ana Pífaro, em comunicado.

Para requisitar um livro, basta consultar o catálogo online disponível em https://bibliote-ca.cm-albufeira.pt, escolher a obra e ligar para

o número 289 599 507 ou enviar um e-mail para [email protected].

Nessa comunicação, deve ser fornecido o nome do livro (título e autor), número de leitor e nome completo, seguindo-se do agendamento da data e horário para levantar presencialmente o livro na biblioteca.

“Por isso, nesta fase de confinamento a que todos estamos obrigados, por força da pandemia da COVID 19, consideramos que o acesso ao livro e à leitura é ainda mais impor-tante e apesar de a Biblioteca Municipal estar encerrada ao público, decidimos retomar o serviço de empréstimo de livros”, concluiu a vereadora.

Prazo de entrega alargado em Castro Marim

A Biblioteca Municipal de Castro Marim adequou os seus serviços ao facilitar a requi-sição de livros, que agora têm um prazo de entrega alargado.

Para fazer a requisição, basta ligar atra-vés do número 281 510 747 ou do e-mail [email protected], onde deve indicar os livros que pretende (títulos e autores), o número de leitor e nome com-pleto, para depois ser agendada a data e horário para efetuar o levantamento na biblioteca.

Se os leitores residirem numa área distan-te, a autarquia compromete-se a entregar os livros ao domicílio através do serviço “Castro Marim ainda + Solidário”.

Biblioteca António Ramos Rosa de Faro reprograma atividades

Em Faro, a Biblioteca Municipal António Ramos Rosa está a reprogramar as atividades que estavam suspensas devido ao COVID-19, mas desta vez vão decorrer online, na página de Facebook, disponível em https://www.facebook.com/bibliotecamunicipaldefaro.

Para incentivar a leitura e o isolamento social, a biblioteca criou novas rubricas como “O saber não ocupa o lugar”, “Sugestão de Leitura”, “Livros, leitores e pinturas” e os “Desafios de Escrita”.

As habituais atividades como as horas do conto e outros desafios diários da biblioteca continuarão a ser disponibilizados na página de Facebook, através de vídeos publicados diariamente.

Este mês, a biblioteca anuncia duas novi-dades: “Canta com as Histórias” e “Histórias de Origami”, além da habitual rubrica “Quinta dos Autores”.

Programa “Lagoa a Ler” em formato online

O Programa Municipal do Livro e da Leitura “Lagoa a Ler” vai disponibilizar na página de Facebook do município, disponível em https://www.facebook.com/municipio.lagoa, várias histórias, metodologias e estratégias com o objetigo de apoiar crianças, famílias, educa-dores de infância e professores de 1º ciclo na promoção da literacia e linguagem.

Na mesma rede social, vão ser apresentadas várias propostas de livros, com dicas e estraté-gias de leituras. Semanalmente, as sessões dos projetos “Brincar com as palavras” e “Crescer a Ler”, vão ser enviadas aos educadores de infância e docentes dos estabelecimentos de ensino do concelho inscritos.

Biblioteca de Lagos dá sugestões de leitura

A Biblioteca Municipal de Lagos está a partilhar várias sugestões de leitura neste período de confinamento através da rúbrica “Lagos em casa com... leitura” através de vídeos publicados na página de Facebook da autarquia, disponível em https://www.face-book.com/camaramunicipaldelagos.

Foi também publicado na internet uma se-leção dos melhores poemas de vários autores portugueses acerca do 25 de abril, que está disponível em https://bit.ly/3byKODw.

Empréstimo de livros regressa em maio

a São Brás de AlportelA Biblioteca Municipal de São Brás de

Alportel vai retomar o seu serviço de emprés-timo domiciliário em maio, na modalidade de Biblioexpresso, segundo a administração.

Os interessados podem enviar os seus pe-didos de livros, cujo catálogo está disponível em www.biblioteca.cm-sbras.pt, através do e-mail [email protected] ou do número 289 840 360.

Biblioteca Municipal António Ramos Rosa, em Faro Biblioteca Municipal de Lagoa

Biblioteca Municipal de Lagos Biblioteca Municipal de São Brás de Alportel

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Cozinhar em tempo de quarentena!

O dia da mãe

Paula Coelho*

JORNAL DO ALGARVE MAGAZINE - ABRIL/2020

Gastronomia

Novos tempos, novos hábitos, outros métodos de fazer o que já fazíamos será certamente o desafio que nos é proposto nos próximos tempos.Cozinhar é das nossas tarefas diárias, no entanto talvez tenha sido das tarefas que teve mais impacto diário na nossa vida, agora que a vemos condicionada entre a nossa casa e o supermercado.Aqueles que continuam trabalhando, também estes veem as coisas totalmente diferentes com o fecho dos restaurantes, espaços públicos e cafés. É sem dúvida algo novo e nunca antes vivido, o que com algu-ma razão nos pode deixar um pouco apreensivos.Todos nós andamos a pensar em alternativas, a economia não pode parar, não podemos ficar em confinamento para sempre!É o maior desafio de todos os tempos o que estamos atravessar, o convite que faço é para nos ajudarmos. Desafio a cultivar o que é nosso, a comprar nos nossos mercados os nossos produtos.Deixo-vos uma sugestão, aproxima-se o dia da mãe, e temos a oportunidade de fazermos dentro da nossa casa algo diferente para apresentar à nossa família neste dia especial.Devemos ser constantes, persistentes, firmes, e pacientes para

que este desafio seja vencido...Os êxitos irão nos animar e as dificuldades vão sendo su-peradas.Quero realçar quanto ao tema do dia da mãe, que numa casa onde todos riem felizes e confraternizam no amor, tenha a certeza ali mora uma mulher esquecida de si mesma, dedicada a cultivar o amor, a paz, a harmonia e a felicidade.Essa mulher que de si é capaz de esquecer para não esquecer os que dela dependem, essa mulher que só se alimenta quando todos já estão bem alimentados, esta que não dorme, enquanto alguém está acordado, só pode ser uma mãe!Feliz dia da mãe,que MARIA abençoe o povo português e o mundo inteiro, para que juntos possamos ultrapassar todas as dificuldades.

Cozinhem muito e com amor.

Um bem haja e até ao próximo encontro!

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Biblioteca de Tavira em contacto com a comunidade

Em período de isolamento social, a Biblioteca Municipal Álva-ro de Campos, em Tavira, está em contacto com os seus leitores e comunidade através de propostas e sugestões de leitura.

A iniciativa é feita no website http://bibliotecas.cm-tavira.pt/, onde são divulgadas atividades, renovação de empréstimos de li-vros e os interessados podem ainda elaborar a sua lista de leitura.

Para renovar, devolver ou pedir novos empréstimos de obras, os leitores devem agendar este serviços através do email [email protected] ou do telefone 281 320 585, de segunda a sexta-feira, entre as 10h00 e as 13h00.

Gonçalo Dourado

- 4 lombos de bacalhau fresco- 8 fatias de bacon fatiado- 400 grs de caiota- 2 pêras rocha- 100 grs de batata doce- 1 cebola pequena - 2 c. sopa de manteiga- sal - pimenta branca - noz moscada- sumo limão - azeite- rebentos de tomilho

Fácil de preparar:Comece por preparar o bacalhau, acerte os lombos todos pelo mesmo tamanho, tempere com o sal, um fio de azeite, a pimenta, o sumo de limão e deixe por momentos a marinar.Num tacho com água temperada de sal leve a cozer as caiotas e a batata doce cortada em cubos.Quando macias, passe pelo liquidificador escorrendo toda a água, na falta do liquidificador, use a varinha, também funciona.Entretanto, sobre cada duas fatias de bacon coloque cada lombo e enrole, repita até ter todos prontos, envolva agora um fio em volta para segurar o bacon ao lombo, leve ao forno, para que não ganhe cor, o bacon tampe, cozinhando por cerca de oito minutos e retire.Faça agora a pêra, corte-as em cubos assim como a cebola, salteie num sauté com um fio de azeite, tempere com a noz mos-cada a pimenta, o sal e rectifique os temperos, aconselho a passar o puré por uma peneira para que fique bem fino, reserve!Prepare os pratos onde vai servir, termine o puré adicionando a manteiga.Coloque uma colherada em cada prato.Logo de seguida leve os lombos que deve passar por um sauté quente para que agora o bacon ganhe alguma cor adicio-nando no final um pouco de manteiga.Disponha cada lombo no meio do puré, decore com rebentos de tomilho, sementes de abóbora tostadas e um pouco de pesto da vossa preferência.

Bom apetite! * Sub-Chefe de Pastelaria no Hotel Tivoli

Lombo de bacalhau com puré de caiota e pêra rochaA natureza ultrajada

num só impulso se ergueu;e gritou, indignada,aqui, quem manda sou eu.

Não mais serei humilhadana minha nobre missão;acorda mal humorada,e os mais ousados dirão.

Foi assim que a naturezaexpressou o seu sentir;às fúrias de sua altezaé inútil resistir.

Logo o peso da desgraça sobre a terra se abateu;o inferno entra na praça vestiu-se a noite de breu.

Senhora do seu narizos sabichões põe à nora;e segue o rumo que quis,com suas garras fora.

Não precisa passaportenem reconhece fronteira,Mas semeia horrores e morte,na humanidade inteira.

Hoje, o medo é uma constanteao ver tão perto a desgraça,ceifou vidas num instantequando à sua beira passa.

Tem todo o mundo na mão:a terra, os céus e o mar;e, com tão frágil travão,longe, longe, irá parar!

Manuel PalmaMarço 2020 – Junqueira

E agora quem nos acode?

Biblioteca Municipal Álvaro de Campos, em Tavira

Page 27: Prioritário O SEMANÁRIO DE MAIOR EXPANSÃO DO ALGARVE · Rua Jornal do Algarve, 46 8900 Vila Real Santo António Depósito Legal n.º 9578-85 ISSN 0870-6433 Tiragem média semanal

LITERATURA INCLUSANúmero de Abril de 2020

O gosto e a memória

1. Sou professor de Geografia, no nono ano, ensinamos (designação agora, politicamente pouco correcta), no grupo das “atividades económicas” (escrevem-no sem cê, antes do tê; ninguém é perfeito) o papel do “Turismo”. No meio de causas, consequências, tipos e sub-tipos falamos no turismo no Algarve, dos seus prós (mui-tos, muitos…) e contras como se diz na televisão. Que a região continua a carregar aos ombros o tal binómio sol – praia, que esse problema já foi percebido há muito e que infelizmente apesar dos esforços que os autarcas e outra população vão fazendo, pouco se andou noutro sentido. Salvo raras e honrosas excepções os anos oitenta e noventa foram usados por muitos, com o beneplácito de outros tantos, para partir o que não era para partir e construir o que não se devia. Em nome do progresso, as nossas cidades e vilas quase deixaram de se reconhecer, tal o âmbito da destruição. O Algarve passou a ser – quase – uma região igual a tantas outras, por isso dispensável no circuito dos turistas medianamente instruídos que, para verem uma pequena ci-dade, igual aos subúrbios mais infectos que conheciam, tinham que se deslocar ao sul de Portugal. Vamos andando melhor, mas o grande mal está feito. Daí o sol e a praia.

2. A questão que vos proponho agora, é perceber o que se pode fazer quando o tal binómio sol – praia é parte interessada na quase tragédia que se abateu (não gosto destas imagens, mas de momento não tenho outra) sobre a região. Durante anos e anos deu o que deu e, apesar deste meu texto parecer daqueles em que todos temos

Fernando Proença

JORNAL DO ALGARVE MAGAZINE - ABRIL/2020

"Num mundo artificial, num tempo indefinido, O Mundo do Arame centra-se na persona-gem do Dr. Fred Stiller, um engenheiro informático que desvenda uma conspiração global, pondo em causa a realidade que tinha como certa e envolvendo-se numa trama labiríntica e surreal adaptada do romance de ficção científica de Daniel Galounge "Simulacron 3": O Mundo no Arame não se passa aqui nem em qualquer outro lugar, não se passa no presente, nem no passado ou no futuro. O Mundo no Arame tem lugar num mundo e tempo artificiais - é uma ficção, uma hipótese, um plano para uma discussão mais aprofundada, não mais.

E não menos. As astutas reflexões de Fassbinder sobre a realidade e a sua percepção para serem descobertas pela primeira vez numa versão restaurada"

Um mestre do cinema no seu melhor. Edição em DVD.

Realização: Rainer Werner Fassbinder.Com: Klaus Lowitsch, Barbara Valentin, Mascha Rabbeu, entre outros.Distribuição: Clap Filmes.

Vítor Cardoso

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Apontamento de Vídeo

opinião e certezas depois das coisas terem acontecido, não matámos (ainda) a galinha dos ovos de ouro, mas, afinal tínhamos a faca preparada: também o referi nas tais aulas de Geografia. A reboque disso, tudo o que cheirasse a indústria ou outro tipo de activi-dade económica, mesmo a pouco intrusiva ou pouco poluente, era para jogar ao lixo. Ficámos com os serviços e alguma agricultura e agora penamos com um desemprego ab-solutamente louco e de longa duração, que isto não ficará bem sem primeiro ter arruinado Quarteira, Albufeira, e isso é só o peixe que vem na traineira, ainda falta o da enviada, como se diz em Olhão.

3. Com a música, não sei o que lhes diga. Sou habitualmente crítico com os concertos de solidariedade, mas agora não me ape-tece brincar com a malta que ganha o seu dinheiro, cantando (existem os outros que ganham dançando, filmando, pintando e assim sucessivamente, mas esse não é o meu departamento) e não sabe o que vai fazer à vida. O caso está sério, sem concertos de Verão ou com concertos de Outono em que o número de entradas permitidas não dará para pagar a segurança. Ninguém compra um CD e mesmo o vinil é, e continuará a ser, um nicho de mercado (vinte e tal euros e mais, por um exemplar não é coisa pouca, verdade seja dita). Tudo se resolveria se não existisse pirataria informática, mas neste reino do “se está à mão é meu” muito português, parece-me que não estão com sorte. Aliás nem Rui Pinto é considerado hoje um pirata informático, quanto mais um corsário, e um dia destes ainda será entronado como rei da pirataria de Portugal e dos algarves. Com os tugas que têm, como bom princípio, não pa-gar por mais nada que não seja estritamente obrigatório, não vão longe: por isso toca a fazerem-se à estrada (dentro de casa, ob-viamente. Escrevo em pleno confinamento), compondo, cantando na sala (com ou sem livros na estante) na dispensa, casa de banho

(há sempre adeptos para temas de natureza mais escatológica) temas próprios e alheios, passando-os na Net. Não sei se a pirataria alguma vez poderá levar um empurrão para o lado, mas sonhar não custa.

4. Anda tudo maluco: irrita-me profunda-mente a tendência actual que diz ser, afinal, uma benesse, quase sobrenatural, estarmos a passar por tudo o que passamos à conta do Coronavírus. Ouvimos os basbaques na televisão dizer que o ar está muito menos poluído, que se voltou a ouvir o som dos passarinhos, a poluição atmosférica anda pela metade e que agora é que teremos que dar o devido valor à solidariedade, mais o capitalismo reinventado ou fechado para balanço. Palavra que, com tanto moralismo de pacotilha e se a Greta Thunberg fosse uma grande aluna a físico – química ou biologia, ainda pensava duas vezes sobre origem do vírus ser, afinal de contas, o laboratório. Todos sabemos que menos poluição seria o ideal, que temos que fazer algo pelo ambiente e pelo planeta, mas o neomalthusianismo da treta de se pensar que uma certa ordem nat-ural (ou divina) virá para repor os equilíbrios que o Homem destruiu é, na minha opinião, parva e reacionária. Nada vale mais que as vidas que se têm perdido à conta do vírus, mesmo que no outro lado da balança estejam as melhores das intenções.

O disco – Peter Gabriel, primeiro álbum, CD Virgin, 1977

Isto é batota. Já escrevi há muitos anos sobre este disco, mas de ano a ano (como as migrações dos animais ou coisa assim), volto a ouvi-lo três ou quatro vezes para saber como se encontra. Está ouvido, perdeu muito pouco viço; guarde-se ou relembre-se. No mundo da pop andamos todos (todos, todos, não) eternamente à procura do novo e no meio do ruído, esquecemos quem já fez mais do que precisa para – quase – se eternizar, indepen-

O Mundo no Arame

dentemente da forma actual. Falo de Peter Gabriel, mas podia escrever, por exemplo, Paul Simon ou José Cid, que a noção de escala também é dada na telescola. Gosto de discos e músicos, porque me lembram outros, me fazem pensar. Discos, que lem-bram o papel de um tipo de som. Músicas (uma dos Parquet Court que me devolveu ao papel da bateria como eixo da música) e até capas. Talvez tenha sido a capa que aqui, primeiro me prendeu a atenção, mas eu conhecia a personagem desde os Genesis. É talvez dos disco mais didácticos que já ouvi: com algumas variações, o que se ouve, ao longo dos seus nove temas começando em “Moribund the Burguemeister” e “Solsbury Hill” até à majestosa “Here Comes the Floor”, é um tratado de afastamento dos Genesis (de quem se tinha separado), ainda muito ligado a um certo rock sinfónico, até à produção dos últimos anos do músico, mui-to-David Byrne-e-músicas-do-mundo-para-quem-foi-o-mentor-dos-Genesis. Não é um disco excepcionalmente artístico, mas antes um feliz emergir, completamente classicista, de um passado que se esboroava. Biko, só viria depois, mas nada apaga a excelência, que ainda hoje se comprova do início da vida artística em solitário, de Peter Gabriel.

Música I Cinema

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