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05/06/2018 Número: 5001315-20.2018.4.03.6113 Classe: AÇÃO CIVIL PÚBLICA Órgão julgador: 2ª Vara Federal de Franca Última distribuição : 05/06/2018 Valor da causa: R$ 100.000,00 Assuntos: Moradia Segredo de justiça? NÃO Justiça gratuita? SIM Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM Justiça Federal da 3ª Região PJe - Processo Judicial Eletrônico Partes Procurador/Terceiro vinculado MINISTERIO PUBLICO FEDERAL (AUTOR) MUNICIPIO DE FRANCA (RÉU) CEF (RÉU) Documentos Id. Data da Assinatura Documento Tipo 85868 48 05/06/2018 13:47 ACP002 PMCMV Petição inicial - PDF

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05/06/2018

Número: 5001315-20.2018.4.03.6113

Classe: AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Órgão julgador: 2ª Vara Federal de Franca

Última distribuição : 05/06/2018

Valor da causa: R$ 100.000,00

Assuntos: Moradia

Segredo de justiça? NÃO

Justiça gratuita? SIM

Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM

Justiça Federal da 3ª RegiãoPJe - Processo Judicial Eletrônico

Partes Procurador/Terceiro vinculado

MINISTERIO PUBLICO FEDERAL (AUTOR)

MUNICIPIO DE FRANCA (RÉU)

CEF (RÉU)

Documentos

Id. Data daAssinatura

Documento Tipo

8586848

05/06/2018 13:47 ACP002 PMCMV Petição inicial - PDF

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM FRANCA/SP

AB.ACP002

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA __ VARA DA 13ª SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Inquérito Civil nº 1.34.005.000069/2016-25

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio da

procuradora da República signatária, no uso de suas atribuições constitucionais e

legais, com fundamento nos artigos 127 e 129, inciso III, da Constituição da

República; no art. 6º, inciso VII, alínea “d”, da Lei Complementar nº 75/93; bem como

nos artigos 1º, inciso IV, e 5º, inciso I, da Lei nº 7.347/1985, vem à presença de

Vossa Excelência propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA em desfavor de

MUNICÍPIO DE FRANCA, pessoa jurídica de direito público interno, CNPJ nº 47.970.769/0001-04, com endereço na Rua Frederico Moura, 1517, Cidade Nova, Franca-SP, representado em Juízo pelo Prefeito Gilson de Souza, e

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, empresa pública federal, CNPJ n.º 00.360.305/0001-04, representada pela Superintendência Regional e Gerência Executiva de Habitação de Ribeirão Preto-SP, com endereço na Av.

Rua Tiradentes, n° 1934, Centro, Franca/SP – CEP 14.400-550Tel. (16) 3706-9100 e-mail [email protected]

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM FRANCA/SP

AB.ACP002

Braz Olaia Costa, 1975, 4º andar, Jd. Nova Aliança, Ribeirão Preto-SP, CEP 14026-610,

pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos e pelos elementos constantes do

Inquérito Civil que a acompanha.

1. DO OBJETO

A presente ação civil pública destina-se a compelir os

demandados a efetivarem fiscalização in loco no Condomínio Residencial Bernardino Pucci, no Residencial Rubi e nos Residenciais Copacabana II e III, com o fim de verificar se os atuais moradores daqueles residenciais ainda são os

beneficiários iniciais do Programa Minha Casa, Minha Vida – PMCMV, assim como

apurar eventual ocorrência de irregularidades na ocupação dos imóveis, adotando as medidas corretivas necessárias , para que o mencionado Programa possa atingir o objetivo para qual foi criado .

2. DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA

O direito à moradia digna foi reconhecido no rol dos

direitos fundamentais e, como tal, integra os direitos sociais constitucionalmente

assegurados:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Nesse diapasão, o Programa Minha Casa Minha Vida tem

por finalidade (art. 1º, Lei 11.997/09) criar mecanismos de incentivo à produção e

aquisição de novas unidades habitacionais ou requalificação de imóveis urbanos e

produção ou reforma de habitações rurais, para famílias com renda mensal de até

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM FRANCA/SP

AB.ACP002

R$ 5.000,00. Ele conta com subsídios do Governo Federal, nos termos do art. 2º da

Lei nº 11.997/09, alterada pela Lei nº 12.424/11.

Nas modalidades do PMCMV com verbas oriundas do

Fundo de Arrendamento Residencial – FAR, as contratações são feitas diretamente pela Caixa Econômica Federal – CEF com empresas de construção civil.

No PMCMV financiado com recursos do FAR (Lei

10.188/2001), a seleção dos beneficiários é realizada pelo Município, acatando-

se os critérios prioritários de escolha estabelecidos na lei federal.

Salienta-se que podem ainda existir critérios

complementares eventualmente fixados pelos Estados e Municípios, desde que

aprovados pelos conselhos locais de habitação e que se submetam às regras

estabelecidas pelo Executivo federal (art. 3º, §4º, Lei 11.977/2009).

As famílias selecionadas são cadastras no Cadastro

Único para Programas Sociais do Governo Federal – CadÚnico, antes de serem

indicadas para a CAIXA ou para as Instituições Financeiras ou Agentes Financeiros

do Sistema Financeiro de Habitação – SFH.

Os critérios nacionais de priorização na participação no

programa, com recursos do FAR, na qualidade de beneficiário, foram disciplinados

pelo art. 3º da Lei nº 11.977/2009 (e Portaria MC nº 595/2013, item 4.1):

Art. 3º. Para a indicação dos beneficiários do PMCMV, deverão ser observados os seguintes requisitos:I - comprovação de que o interessado integra família com renda mensal de até R$ 4.650,00 (quatro mil, seiscentos e cinquenta reais);II - faixas de renda definidas pelo Poder Executivo federal para cada uma das modalidades de operações;

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AB.ACP002

III - prioridade de atendimento às famílias residentes em áreas de risco ou insalubres ou que tenham sido desabrigadas;IV - prioridade de atendimento às famílias com mulheres responsáveis pela unidade familiar; eV - prioridade de atendimento às famílias de que façam parte pessoas com deficiência.

Já o Decreto nº 7.499/2011 estabelece que as operações

realizadas com recursos do FAR beneficiarão famílias com renda mensal de até R$1.600,00 – Faixa 1 (art. 8º).

A Portaria MC nº 595/2013 estabelece ainda que,

excepcionalmente, pode haver a indicação de famílias beneficiárias, dispensado o

processo de seleção, em casos de famílias provenientes de um mesmo

assentamento irregular, em razão de estarem em área de risco, terem sido

desabrigadas por motivo de risco ou outros motivos justificados em projetos de

regularização fundiária e que tiverem que ser realocadas (3.3). Além disso, deverão

ser reservadas 3% das vagas a deficientes e 3% a idosos (5.2 e 5.3).

Os candidatos selecionados pelo ente municipal são

encaminhados à CEF, que realiza a contratação do financiamento. À CEF cabe a gestão operacional do PMCMV, nos termos dos artigos 9º e 10 da Lei nº

11.977/2009, e a representação do FAR, por ela criado, nos termos do art. 2º da Lei

nº 10.188/2001, ressaltando-se que os Municípios que aderirem ao programa são os responsáveis pela execução do trabalho técnico e social pós-ocupação, nos termos do art. 3º, §5º da mesma lei .

Os imóveis adquiridos pelo PMCMV, na modalidade FAR,

são inalienáveis antes da quitação do financiamento, tendo o legislador tomado o

cuidado de prever que a quitação antecipada do financiamento excluí a subvenção

financeira. Frise-se que as alienações, por qualquer meio, realizadas em

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM FRANCA/SP

AB.ACP002

desacordo com essas regras, a exemplo dos contratos de gaveta, são nulas de pleno direito (art. 6º-A, §, Lei 11.977/2009).

3 – DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL E DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

A presente ação objetiva, primordialmente, garantir a

higidez da prestação dos serviços públicos de assistência social afetos a programa

habitacional federal, além de combater a malversação e desvio de recursos públicos

federais (a ação tem inclusive caráter reipersecutório em relação a imóvel federal).

Nesse sentido, cabe ao Ministério Público a defesa dos

interesses sociais (CF, art. 127, caput), a tutela dos serviços de relevância pública

(CF, art. 129, II) e a proteção do patrimônio público e social (CF, art. 129, III). Esta

previsão está igualmente estampada no art. 1º da Lei nº 7.347/85 (LACP), e nos

artigos. 5º, II, III e IV, e 6º, VII, da Lei Complementar nº 75/93.

Ademais, conforme demonstra a Lei nº 11.977/2009, o

PMCMV pertence à esfera federal e é custeado com recursos do erário federal:

Art. 2º Para a implementação do PMCMV, a União, observada a disponibilidade orçamentária e financeira:II – participará do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), mediante integralização de cotas e transferirá recursos ao Fundo de Desenvolvimento Social (FDS) de que tratam, respectivamente, a Lei no 10.188, de 12 de fevereiro de 2001, e a Lei no 8.677, de 13 de julho de 1993;

Conforme restou pacificado na comunidade jurídica,

apesar de ser o ente municipal o incumbido por lei para a seleção de candidatos do

PMCMV, ainda assim, irregularidades ocorridas também nesta fase de execução

afetam o programa federal como um todo, o que caracteriza dano direto à União e

malversação de recursos federais. Fixa-se assim a competência das autoridades

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM FRANCA/SP

AB.ACP002

federais para conhecer e processar feitos dessa ordem. Dessa forma tem decidido o

Supremo Tribunal Federal, verbis:

CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E ESTADUAL. PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA DIRIMIR O CONFLITO. ATRIBUIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. O parecer do Procurador-Geral da República na ACO 2.289/BA foi assim fundamentado[...]: 23. Entende-se, assim que qualquer irregularidade ocorrida, ainda que em etapa de responsabilidade do Município, trará prejuízo direto à União, porque a seleção de pessoa ou família que não atenda aos critérios estabelecidos - no âmbito federal -, em detrimento do direito daquelas que os atendem, revela malversação de verbas federais, como notado pelo suscitante. Verificado que o cadastro equivocado beneficiará terceiro não enquadrado nos requisitos legais, o que há, em última análise, é desvio de verbas federais (STF, Rel. Min. Carmén Lúcia, ACO 2.498/MT, J. 16/09/2014).

AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÕES. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. SUPOSTAS IRREGULARIDADES NO CADASTRAMENTO E DISTRIBUIÇÃO DE CASAS NO PROGRAMA HABITACIONAL "MINHA CASA, MINHA VIDA". PROGRAMA INSTITUÍDO PELO GOVERNO FEDERAL E SUBSIDIADO POR RECURSOS FINANCEIROS FEDERAIS. INEGÁVEL INTERESSE DA UNIÃO CONFIGURADO. PRECEDETENS. CONFLITO CONHECIDO PARA DECLARAR A ATRIBUIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (STF, Rel. Min. Luiz Fux, ACO 2.166/MT, J. 10/02/2015).

Portanto, demonstrada está a competência das

autoridades federais para conhecer dos fatos, nos termos do art. 109, I, da

Constituição Federal, como também a legitimidade no Ministério Público Federal

para a tutela desses direitos.

3 – DOS FATOS

Em 30 de agosto de 2013, o Município de Franca firmou o

termo de adesão com a União Federal para atendimento dos dispositivos legais do

Programa Minha Casa, Minha Vida (fls. 34-37).

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM FRANCA/SP

AB.ACP002

O objetivo do programa federal é minimizar o grande

deficit habitacional existente em todo o país. Especificamente em Franca-SP, foram

implantados os seguintes empreendimentos residenciais destinados à população

carente, com renda familiar de até R$ 1.600,00 (PMCMV – Faixa 1): (1) Condomínio

Residencial Bernardino Pucci; (2) Residencial Rubi; e (3) Residenciais Copacabana

II e III (fls. 39-40).

Dada a essencialidade do direito social à moradia (CF, art.

6º) e considerando-se haver indícios de locação e venda irregular de imóveis do

PMCMV, houve a indignação de relevante parcela da sociedade local, tanto

daqueles diretamente interessados na obtenção de moradia, que estavam sendo

preteridos pela fraude, como também daqueles que, apesar de não integrar o perfil

de beneficiário do programa, viram-se lesados com o desvio de recursos públicos

em prol daqueles que não faziam jus ao benefício assistencial (vide notícias juntadas

a fls. 4-7).

Nesse contexto, tanto o Ministério Público Federal quanto

o Município de Franca e a Caixa Econômica Federal passaram a receber inúmeras

representações apontando casos suspeitos de locação e venda irregular de imóveis

do PMCMV – Faixa 1.

No intento de aferir se os entes públicos estavam

adotando medidas para inibir as mencionadas práticas ilícitas, foram expedidas

inúmeras requisições para que o Município e a Caixa atuassem e cumprissem com o

seu dever (fls. 12-14, 86, 110-115, 146-149, 184-186).

No entanto, em relação ao Município de Franca, todas as

requisições foram respondidas da mesma forma, tendo a municipalidade

manifestado desinteresse na execução do trabalho de gestão condominial e

patrimonial dos empreendimentos residenciais implantados a partir do PMCMV -

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM FRANCA/SP

AB.ACP002

Faixa 1, alegando não ter o dever de fiscalizar a venda e locação irregular dos

referidos imóveis (fls. 22-23, 87, 119, 150).

Quanto à Caixa, apesar de informar que estava envidando

esforços para sanear as irregularidades, não adotou medidas que pudessem

resolver efetivamente o problema. Além disso, noticiou que o Município não realiza

diligências nos empreendimentos (fls. 62-63, 190-194 e 203).

Com o intuito de constatar se de fato estavam ocorrendo

venda e uso irregular das moradias, os agentes de segurança institucional do

Ministério Público Federal, sr. Milton João de Castro e sr. Pedro Revelino de Oliveira,

realizaram diligência in loco e verificaram possíveis irregularidades em pelo menos

58 moradias localizadas no Conjunto Habitacional Bernardino Pucci (vendas,

locações e imóvel desocupados – fls. 180-183).

Baseando-se nestas constatações, uma nova requisição

foi dirigida ao Município de Franca e à Caixa para que adotassem as providências

pertinentes (fls. 184-186).

Entretanto, o Município novamente permaneceu inerte,

mesmo de posse das informações sobre as irregularidades (fls. 197).

Por sua vez, a Caixa limitou-se a informar que o Município

não realiza diligências nos empreendimentos imobiliários, e que expediu cartas aos

beneficiários para que eles mesmos resolvessem as irregularidades apontadas (fls.

190-194)

Como derradeira tentativa de solucionar os problemas,

foram expedidas recomendações aos requeridos, para que adotassem medidas

saneadoras das ilicitudes constatadas (fls. 204-211).

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM FRANCA/SP

AB.ACP002

Em claro desrespeito aos regramentos do PMCMV –

Faixa 1 e, agindo com descaso frente a situação de famílias que residem em locais

precários/insalubres e aguardam a oportunidade de serem contempladas com uma

moradia digna, o Município recusou-se a acatar a recomendação, afirmando que não

tem o dever de fiscalizar a destinação das referidas moradias (fls. 217-219).

Já a Caixa Econômica Federal, apesar de ter informado

que acataria a recomendação, não apresentou informações concretas no sentido de

que estava adotando providências para solucionar os problemas (fls. 227-230)

Em síntese, os requeridos têm pleno conhecimento de

atos ilegais que afetam diretamente uma política pública por eles promovida, que

visa minimizar o deficit habitacional, mediante a destinação de imóveis subsidiados à

população carente local.

Contudo, tudo leva a crer que não adotam medidas

efetivas para frear as vendas, locações e usos irregulares das moradias do

programa, mesmo sabendo que esta postura irresponsável afeta diretamente

dezenas de famílias vulneráveis, que vivem em situações degradantes, pois não

conseguem o acesso à moradia digna.

Assim, frente à inércia dos requeridos, não resta outro

meio para a correção das irregularidades que não a competente judicialização da

demanda.

4 – DO DIREITO

O Ministério Público é instituição permanente, essencial à

função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime

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democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127, CF/88). É

seu dever zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de

relevância pública aos direitos assegurados na Constituição, promovendo as

medidas necessárias a sua garantia (art. 129, II, CF/88); além de promover o

inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social,

do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (art. 129, III, CF/88).

O art. 37, caput, da Constituição Federal, por sua vez,

estabelece que a Administração Pública direta e indireta, em todas as esferas da

federação, está subordinada, em todos os campos de sua atuação, aos princípios da

legalidade, impessoalidade, publicidade, moralidade e eficiência, cabendo ao

Ministério Público Federal zelar por sua estrita observância, em especial quando se

tratar de serviços de relevância pública (art. 5º, IV e V, “b”, LC 75/93).

Ademais, é competência comum da União, dos Estados,

do Distrito Federal e dos Municípios promover programas de construção de

moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico (art.

23, IX, CF/88), contribuindo, desta forma, para assegurar a observância do

fundamento da República consubstanciado na dignidade da pessoa humana (art. 1º,

III, CF/88), e para a construção de uma sociedade mais justa e democrática (art. 3º,

I, CF/88).

Não se pode olvidar que cumpre ao Poder Público, por

meio de execução de políticas públicas habitacionais, garantir a promoção e

proteção desse direito protegido tanto na ordem jurídica nacional (art. 6º, CF/88),

quanto na esfera internacional, conforme se observa dos instrumentos do qual o

Estado Brasileiro é signatário (art. 25 da Declaração Universal de Direitos Humanos

de 1948; art. 11 do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais

de 1966; e, art. 29 da Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989).

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Assim, o Programa Minha Casa Minha Vida, criado pela

Lei nº 11.977/2009, tem como meta a construção de expressivo número de

moradias, objetivando o atendimento das necessidades de habitação da população

de baixa renda, garantindo, desse modo, o acesso à moradia digna, com padrões

mínimos de sustentabilidade, segurança e habitação.

As moradias construídas com recursos do PMCMV

deverão atender, prioritariamente, famílias residentes em área de risco ou residentes em áreas insalubres, famílias em que mulheres são responsáveis pela unidade familiar e famílias com pessoas com deficiência (art. 3º, III, IV e V,

Lei 11.977/2009), não podendo os interessados em acessar tal Programa integrar

família com renda superior a R$ 5.000,00 (art. 1º, Decreto 7.499/2011).

Constatando-se que houve desvio de finalidade, dentre

os quais, a venda, locação e desocupação do imóvel, o Município e a Caixa

deveriam adotar os procedimentos legais para cancelar o contrato e repassar a

unidade para outra família que estivesse inscrita e selecionada pelo governo, de

acordo com as regras do programa.

Pois bem, como retratado anteriormente, as inúmeras

denúncias recebidas pelo Ministério Público Federal e levadas ao conhecimento da

Caixa e do Município de Franca, demonstraram cabalmente a profunda angústia e

sofrimento pelo qual passaram – e ainda passam – as famílias carentes do

Município que, mesmo tendo a possibilidade de adquirir uma residência para sua

família, viram esse seu direito fundamental ser usurpado por oportunistas, que se

valeram dessa chance para fraudar o programa social e com isso lucrar.

E não é só. Pode-se também concretamente sentir o dano

moral ainda mais amplo, sofrido pela parcela da população que sequer é elegível ao

programa, mas que se viu lesada com o desvio de recursos públicos em prol

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daqueles que não faziam jus ao benefício assistencial e em detrimento daquelas

famílias efetivamente vulneráveis.

Essa situação inaceitável só ocorre por que os requeridos,

entes responsáveis por implementar a política pública, recusam-se a realizar a

fiscalização cabível.

Em situações como essa, o ordenamento jurídico permite

ao Ministério Público atuar em duas frentes: 1) combater a omissão dos entes

públicos; e, 2) defender o interesse da coletividade lesada em razão da inércia do

poder público.

Em outras palavras, o Ministério Público Federal promove

por um lado a tutela de interesses difusos, consistentes na higidez da prestação dos

serviços públicos de assistência social afetos a programa habitacional federal, além

de combater a malversação e desvio de recursos públicos federais e, da mesma

forma, atua em substituição processual aos titulares dos interesses lesados (famílias

preteridas e o próprio FAR, titular imediato do patrimônio público lesado).

A CEF é gestora operacional do PMCMV, nos termos dos

art. 9º da Lei nº 11.977/2009, como também é representante do FAR, por ela criado,

nos termos do art. 2º da Lei nº 10.188/2001. Ou seja,é a longa manus da União no

que diz respeito à observância e ao cumprimento das normas, fiscalização e controle

dos meios, objetivos e resultados, preservação do patrimônio e defesa do interesse

público, relativamente ao programa em comento.

Enfim, é inquestionável que cabe precipuamente à Caixa

velar pelo efetivo cumprimento das normas que regulamentam o programa, bem

como pelo próprio cumprimento do contrato, que expressamente veda a

possibilidade de o devedor fiduciante ceder, transferir a terceiros, vender ou

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prometer à venda o imóvel alienado, sem prévio e expresso consentimento da

Caixa.

No tocante à responsabilidade do Município, convém

fazer alguns esclarecimentos. Vejamos.

Ao Município de Franca, por expressa disposição

constitucional, é imposto: a) o dever promover programas de construção de

moradias e a melhoria das condições habitacionais (art. 6º e art. 23, IX, CF/88); b)

assegurar a observância do fundamento da República consubstanciado na

dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF/88); c) colaborar para a construção de

uma sociedade mais justa e solidária (art. 3º, I, CF/88); d) apurar as irregularidades

nos serviços e políticas públicas municipais, em razão dos princípios que regem a

administração pública (art. 37, CF/88).

O PMCMV foi criado pela Lei nº 11.977/2009. Nos termos

do art. 3º, III, IV e V da referida lei, as moradias construídas com recursos do

programa deverão atender, prioritariamente, famílias residentes em área de risco ou residentes em áreas insalubres, famílias em que mulheres são responsáveis pela unidade familiar e famílias com pessoas com deficiência (art. 3º, III, IV e V, Lei 11.977/2009).

Já o art. 8º do Decreto nº 7.499/2011 estabelece que as

operações realizadas com recursos do FAR beneficiarão famílias com renda mensal de até R$1.600,00.

O Município de Franca aderiu expressamente as diretrizes

do PMCMV, conforme termo de adesão de fls. 34-37, razão pela qual passou a

funcionar como uma espécie de longa manus da União, viabilizando a implantação e

a efetividade do programa.

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Além disso, o ente federativo assumiu como sendo sua a

política habitacional proposta pelo programa. Prova disso é o fato de ter editado

diversas leis para regulamentar o tema. Podemos citar a Lei Complementar nº

145/2009 (fls. 24-25), que estabelece, dentre outras coisas, que: a) em todos os

empreendimentos implantados nos termos da referida LC, obrigatoriamente 50%

das unidades habitacionais a serem construídas serão destinadas a famílias com

renda mensal de até 3 salários-mínimos (art. 1º, § 2º); b) os Empreendimentos

Habitacionais de Interesse Social de que trata a LC ficam isentos de tributos (IPTU,

ISS) e preços públicos.

Ainda com o objetivo de regulamentar o programa, o

Município editou a Lei Complementar nº 214/2013 (fls. 27-33) que estabelece o

seguinte: a) os empreendimentos regulados pela LC são aqueles abrangidos pelo

PMCMV, de que trata a Lei Federal nº 11.977/2009 e alterações posteriores, ou outro

programa habitacional de natureza governamental, que venha a beneficiar a

população com renda familiar mensal inferior ou igual a R$ 1.600,00 (art. 2º, § 1º);

b) a seleção dos beneficiários será feita utilizando-se do cadastro realizado pela PROHAB – Habitação Popular de Franca S/A que respeitará o disposto no art. 3º e seus parágrafos da Lei Federal nº 11.977/2009 e alterações posteriores

(art. 2º, § 3º).

Enfim, o Município de Franca aderiu ao programa e, em

decorrência disso, assumiu o encargo de implementar e fiscalizar a referida política

habitacional.

Ao aceitar que famílias carentes tenham seu direito

fundamental à moradia usurpado por oportunistas, que fraudam um programa social

com o fim de obter lucro, a municipalidade permite que haja burla às normas do

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PMCMV, frustrando as legítimas expectativas dos selecionados e causando

prejuízos ao erário.

Conforme visto, para seleção e definição dos beneficiários

do PMCMV - Faixa 1, a lei oferece diversos critérios que vinculam o administrador

público (renda mensal familiar de até R$ 1.600,00, e prioridade para famílias

residentes em área de risco etc).

Ao se omitir no dever de fiscalizar diretrizes próprias do

PMCMV, o Município desconsiderou esses critérios que deveriam ser por ele

obedecidos quando da seleção dos beneficiários.

Agiu de forma contrária à lei, desprezou a lista dos nomes

já submetidos ao referido procedimento legal e autorizou que pessoas oportunistas,

não selecionadas pelos critérios estabelecidos pela lei e por regramentos próprios

do Município, adentrassem nos imóveis, burlando as normas do programa e

frustrando a legítima expectativa dos selecionados, além de causar prejuízos ao

erário.

Cabe ao gestor municipal dar cumprimento aos termos da política pública habitacional e não frustrar-lhe a aplicabilidade. A

destinação de imóveis financiados com recursos do FAR a famílias que não fazem

parte da seleção realizada pelo próprio Município, e que não preenchem os critérios

da renda familiar mensal inferior ou igual a R$ 1.600,00, representa uma forma de

subverter as diretrizes do programa e de prejudicar, de forma direta, a política

pública habitacional.

De acordo com a Constituição Federal, é dever dos

gestores municipais a adoção de medidas para tirar as pessoas de moradias

precárias e indignas e colocá-las em um local adequado. A atribuição de indicar a

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família que deve ser beneficiada pelo programa é uma prerrogativa exclusiva do

Município. A venda/locação do imóvel é uma burla, que permite que famílias que não

foram selecionadas se beneficiem do subsídio concedido pelo Governo Federal em

detrimento de pessoas que vivem em condições indignas.

Por outro lado, o Município também é beneficiário do

programa e aderiu aos seus termos, por isso tem o dever implícito de zelar pelo seu

regular funcionamento. Esta é a conduta esperada do ente federativo. Isto fica claro

no esclarecimento prestado pela Caixa fls. 203-v, verbis:

[…] “considerando a atribuição do Ente Público Municipal na seleção dos beneficiários, a sua responsabilidade nas questões sociais que envolvem o território e o interesse público dos órgãos governamentais na comunhão de esforços para implementação dos empreendimentos de habitação de interesse social, mesmo não havendo obrigação explicita de ações fiscalizatórias por parte do município, trata-se de uma das ações esperadas dentro da parceira estabelecida entre Governo Federal e Municipal que possibilitou a implantação do referido projeto do Programa Minha Casa, Minha Vida em Franca/SP.”

Enfim, o ente público, ao implementar uma política social,

tem o dever de não só executar as ações necessárias a sua concretização, mas

também a incumbência de fiscalizá-la. O Município comete um grave equívoco ao se

recusar a fiscalizar uma política pública que por ele foi implementada. Comete um

erro primário ao confundir o poder-dever de fiscalizar com questões ligadas à gestão

condominial dos residenciais criados a partir do PMCMV.

O ente municipal pode não ter atribuição de executar a

gestão condominial e patrimonial dos empreendimentos do programa. Contudo, tem o dever de fiscalizar os programas sociais por ele implementado e adotar medidas para sanear as irregularidades encontradas. O atendimento ao

interesse social é inerente ao objeto do termo de adesão firmado pelo Município com

a União. Dessa maneira, a verificação do cumprimento da destinação social do

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imóvel, que não se confunde com a gestão condominial e patrimonial, é dever ínsito

às obrigações contratuais e legais assumidas pelo Município de Franca.

Por fim, há que ressaltar que o caráter público do

PMCMV, reforçado por seu declarado compromisso com a redução do deficit

habitacional e a promoção da dignidade humana das pessoas vulneráveis, exige que

o Município observe e respeite os objetivos do programa, não permitindo a

ocorrência de desvios de finalidade, que desvirtuam as diretrizes desse importante

programa social de cunho federal.

5 – DOS REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DA LIMINAR EM TUTELA DE URGÊNCIA

A Lei nº 7.347/1985 autoriza a concessão de medida

liminar em sede de ação civil pública, desde que presentes dois requisitos, quais

sejam, o fumus boni iuris e o periculum in mora.

O novo Código de Processo Civil, nessa linha, passou a

tratar da questão sob a terminologia de tutela de urgência, pondo em segundo plano

a dicotomia entre tutela antecipada e medida cautelar.

O fumus boni iuris está plenamente caracterizado a

partir da argumentação desenvolvida acima, na qual se demonstrou a submissão

dos demandados à Lei nº 11.977/2009, aos Decretos nº 7.499/2011 e nº

16.979/2016 e à Portaria MC nº 595/2013, e, consequentemente, à obrigatoriedade

de ambos adotarem as medidas ora pleiteadas, em consonância com toda a

legislação mencionada.

Com efeito, os elementos que evidenciam a probabilidade

do direito afiguram-se nítidos a partir da farta comprovação de que o Município de

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Franca e a Caixa vêm descumprindo frontalmente a necessidade de efetivar vistoria

nos imóveis do PMCMV irregularmente ocupados.

O periculum in mora, por sua vez, reside no fato de que,

conforme relatório de diligência de fls. 179-183, ao menos 58 imóveis que fazem

parte do PMCMV – Faixa 1 são ocupados irregularmente. Isto significa dizer que no

Município de Franca existem 58 famílias carentes morando em condições precárias

e indignas, pois tiveram seu direito fundamental à moradia usurpado por 58

oportunistas, que fraudam o programa social com o fim de obter lucro.

Vale lembrar que os beneficiários do PMCMV – Faixa 1

não podem comercializar ou alugar as residências antes de terminar o prazo do

financiamento. Ocorrendo venda ou locação, o beneficiário poderá ser retirado do

imóvel. Neste caso, a posse do imóvel é devolvida à Caixa, representante do FAR. O

imóvel deve então ser reintegrado ao PMCMV, sendo oportunamente transferido

para família habilitada, segundo os critérios de seleção e classificação de cada um

dos projetos.

A adoção dessa medida é de rigor. Primeiro, porque a

anulação dos títulos translativos reconduz as partes à situação inicial, na qual o

imóvel pertence ao programa social e deve ser destinado à família habilitada mais

bem classificada. Segundo, porque a medida está expressamente prevista na Lei nº

11.977/2009 e no contrato firmado com a parte até mesmo para casos de retomada

do imóvel em razão de mero inadimplemento do financiamento (art. 6º-A, Lei

11.977/2009).

Por outro lado, há de se destacar que a tutela antecipada

é uma técnica de distribuição do ônus “tempo processual” entre as partes. Se a tese

levantada pelo autor, junto com os elementos de fato demonstrados, levam a crer na

maior probabilidade de êxito da demanda, injustificável negar a tutela antecipada e

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fazer-lhe aguardar o tempo do processo. O tempo do processo há que ser suportado

pela parte que apresenta menos chances de vitória.

Neste sentido, é a percepção de Luiz Guilherme Marinoni,

definindo a tutela antecipada como “técnica de distribuição do tempo do processo”:

Como se vê, diante da evidência de que o tempo do processo sempre prejudica o autor que tem razão, não há outra alternativa, quando se deseja iluminar o processo comum com a luz do princípio da isonomia, do que se pensar em técnicas que permitam uma distribuição igualitária do tempo do processo entre as partes. Lembre-se que a tutela antecipatória nada mais é do que uma técnica de distribuição do ônus do tempo do processo, já que não há sentido em ver o autor que evidencia ao seu direito ser prejudicado pelo tempo necessário à definição do litígio. (in Novas Linhas do Processo Civil. 3ªed. São Paulo:Malheiros, p. 158)

Então, não é necessária a demonstração de uma situação

gravíssima a exigir o provimento antecipado. Basta demonstrar que há fundamento

jurídico idôneo e forte a justificar a antecipação.

No caso, procura-se evitar que famílias carentes

continuem morando em condições precárias e indignas, pois tiveram seu direito

fundamental à moradia usurpado por pessoas que fraudam programa social.

Por estas razões, a tomada de providências aqui

requeridas encontra amparo legal, bem como faz-se necessária, uma vez que a

omissão do Município de Franca e da Caixa Econômica Federal em fiscalizar a

destinação dos imóveis do PMCMV contraria as normas legais e princípios

constitucionais que asseguram o direito à moradia e o fundamento da República,

consubstanciado na dignidade da pessoa humana.

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AB.ACP002

Presentes, portanto, os requisitos autorizadores, o

Ministério Público Federal requer a concessão da tutela de urgência antecipada,

conforme previsto no art. 300 e seguintes do CPC.

6 – DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS FINAIS

Em face do exposto, o Ministério Público Federal requer:

a) a designação de audiência de conciliação, nos termos

dos artigos 303, § 1º, II, e 334 do CPC, observando-se a

urgência que a demanda exige e esclarecendo desde já aos

demandados o interesse ministerial em firmar acordo judicial,

no intuito de resolver os problemas narrados nesta inicial de

forma consensual e rápida;

b) o deferimento da tutela de urgência antecipada liminarmente

(CPC, art. 300, §2º), na hipótese de infrutífera a audiência de

conciliação, para que se imponha ao Município de Franca e à Caixa Econômica Federal, as obrigações de:

b.1) apresentar, em até 30 dias, cronograma detalhado

com prazos para efetuar a fiscalização indicada no

subitem seguinte (b.2);

b.2) proceder à fiscalização in loco no Condomínio Residencial Bernardino Pucci, no Residencial Rubi e nos Residenciais Copacabana II e III, com o escopo de

averiguar se seus atuais moradores ainda são os mesmos

beneficiários iniciais, e verificar eventual ocorrência de

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irregularidades na ocupação (venda, aluguel, comodato,

abandono, entre outras), adotando as medidas corretivas

necessárias. A fiscalização deve iniciar-se pelas moradias

indicadas no Relatório de Diligência de fls. 179-183. Ao

final, deverá ser elaborado relatório conclusivo sobre as

irregularidades encontradas (imóveis desocupados,

vendas e locações em desconformidade com os contratos

etc) e quais as providências foram adotadas para cada

irregularidade;

b.3) criar e manter uma Ouvidoria permanente e

específica, com disponibilização de linha telefônica e sítio

virtual, para colher e apurar denúncias de irregularidades

no uso das moradias de interesse social destinadas ao

Programa Minha Casa Minha Vida, tais como manutenção

de imóveis desocupados, vendas e locações irregulares,

dentre outras;

b.4) encaminhar a todas as famílias selecionadas nos

programas de habitação de interesse social informativo

sobre a existência da referida ouvidoria (item b.3) e sobre

a forma de denunciar eventuais irregularidades;

b.5) providenciar a mais ampla publicidade aos mutuários,

com fixação de cartazes na região dos imóveis e

publicação em jornais da região, a respeito da proibição

de vender, alugar ou manter os imóveis desocupados e

quais as consequências em caso de desobediência;

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b.6) constatadas irregularidades quanto ao desvio de

finalidade dos imóveis adquiridos pelo programa

(descumprimento contratual), a Caixa deve empreender,

no prazo de 30 dias, a imediata rescisão dos contratos,

determinando o vencimento antecipado das dívidas, bem

como adotar as medidas pertinentes para a retomada dos

imóveis, a fim de que outras pessoas possam ser

beneficiadas pela correta destinação dos recursos

federais;

b.7) após adotar as providências indicadas no item

anterior (b.6), comunicar à Polícia Federal os casos em

que for constatado o desvio de finalidade, por meio de

relatório detalhado, instruído com a devida documentação

comprobatória das medidas adotadas pela Caixa.

b.8) manter os nomes das pessoas que alugaram ou

comercializaram os imóveis do PMCMV no cadastro dos

contemplados do programa, para impedir que essas

pessoas, que agiram de má-fé, recebam novamente

benefícios assistenciais de natureza habitacional (art. 6º-

A, § 8º, Lei 11.977/2009);

c) a título cominatório, a imposição de multa diária em valor

não inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais), por obrigação

descumprida (itens b.1, b.2, b.3, b.4, b.5, b.6, b.7 e b.8), sem

prejuízo, e cumulativamente, da adoção de todas as medidas

necessárias à efetivação do provimento específico ou de seu

resultado prático equivalente, nos moldes do que preconiza o

art. 536 do CPC;

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d) a citação do Município de Franca-SP e da Caixa Econômica Federal para, querendo, oferecerem resposta;

e) ao final, após regular processamento do feito, sejam

julgados procedentes os pedidos desta Ação Civil Pública,

confirmando-se a antecipação da tutela, para condenar os

demandados a promoverem, em caráter definitivo, as condutas

descritas no item “b”;

f) a destinação dos valores decorrentes de eventual aplicação

das multas para o fundo a que se refere o art. 13 da Lei n°

7.347/85;

g) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros

encargos, conforme o art. 18 da Lei nº 7.347/1985; e

h) a condenação dos requeridos ao pagamento das custas,

eventuais honorários periciais e demais despesas processuais.

i) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos,

especialmente a juntada posterior de novos documentos;

Dá-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

Franca, 05 de junho de 2018.

HELEN RIBEIRO ABREUProcuradora da República

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