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05/06/2018
Número: 5001315-20.2018.4.03.6113
Classe: AÇÃO CIVIL PÚBLICA
Órgão julgador: 2ª Vara Federal de Franca
Última distribuição : 05/06/2018
Valor da causa: R$ 100.000,00
Assuntos: Moradia
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Justiça Federal da 3ª RegiãoPJe - Processo Judicial Eletrônico
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MINISTERIO PUBLICO FEDERAL (AUTOR)
MUNICIPIO DE FRANCA (RÉU)
CEF (RÉU)
Documentos
Id. Data daAssinatura
Documento Tipo
8586848
05/06/2018 13:47 ACP002 PMCMV Petição inicial - PDF
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM FRANCA/SP
AB.ACP002
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA __ VARA DA 13ª SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Inquérito Civil nº 1.34.005.000069/2016-25
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio da
procuradora da República signatária, no uso de suas atribuições constitucionais e
legais, com fundamento nos artigos 127 e 129, inciso III, da Constituição da
República; no art. 6º, inciso VII, alínea “d”, da Lei Complementar nº 75/93; bem como
nos artigos 1º, inciso IV, e 5º, inciso I, da Lei nº 7.347/1985, vem à presença de
Vossa Excelência propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA em desfavor de
MUNICÍPIO DE FRANCA, pessoa jurídica de direito público interno, CNPJ nº 47.970.769/0001-04, com endereço na Rua Frederico Moura, 1517, Cidade Nova, Franca-SP, representado em Juízo pelo Prefeito Gilson de Souza, e
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, empresa pública federal, CNPJ n.º 00.360.305/0001-04, representada pela Superintendência Regional e Gerência Executiva de Habitação de Ribeirão Preto-SP, com endereço na Av.
Rua Tiradentes, n° 1934, Centro, Franca/SP – CEP 14.400-550Tel. (16) 3706-9100 e-mail [email protected]
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Braz Olaia Costa, 1975, 4º andar, Jd. Nova Aliança, Ribeirão Preto-SP, CEP 14026-610,
pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos e pelos elementos constantes do
Inquérito Civil que a acompanha.
1. DO OBJETO
A presente ação civil pública destina-se a compelir os
demandados a efetivarem fiscalização in loco no Condomínio Residencial Bernardino Pucci, no Residencial Rubi e nos Residenciais Copacabana II e III, com o fim de verificar se os atuais moradores daqueles residenciais ainda são os
beneficiários iniciais do Programa Minha Casa, Minha Vida – PMCMV, assim como
apurar eventual ocorrência de irregularidades na ocupação dos imóveis, adotando as medidas corretivas necessárias , para que o mencionado Programa possa atingir o objetivo para qual foi criado .
2. DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA
O direito à moradia digna foi reconhecido no rol dos
direitos fundamentais e, como tal, integra os direitos sociais constitucionalmente
assegurados:
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Nesse diapasão, o Programa Minha Casa Minha Vida tem
por finalidade (art. 1º, Lei 11.997/09) criar mecanismos de incentivo à produção e
aquisição de novas unidades habitacionais ou requalificação de imóveis urbanos e
produção ou reforma de habitações rurais, para famílias com renda mensal de até
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R$ 5.000,00. Ele conta com subsídios do Governo Federal, nos termos do art. 2º da
Lei nº 11.997/09, alterada pela Lei nº 12.424/11.
Nas modalidades do PMCMV com verbas oriundas do
Fundo de Arrendamento Residencial – FAR, as contratações são feitas diretamente pela Caixa Econômica Federal – CEF com empresas de construção civil.
No PMCMV financiado com recursos do FAR (Lei
10.188/2001), a seleção dos beneficiários é realizada pelo Município, acatando-
se os critérios prioritários de escolha estabelecidos na lei federal.
Salienta-se que podem ainda existir critérios
complementares eventualmente fixados pelos Estados e Municípios, desde que
aprovados pelos conselhos locais de habitação e que se submetam às regras
estabelecidas pelo Executivo federal (art. 3º, §4º, Lei 11.977/2009).
As famílias selecionadas são cadastras no Cadastro
Único para Programas Sociais do Governo Federal – CadÚnico, antes de serem
indicadas para a CAIXA ou para as Instituições Financeiras ou Agentes Financeiros
do Sistema Financeiro de Habitação – SFH.
Os critérios nacionais de priorização na participação no
programa, com recursos do FAR, na qualidade de beneficiário, foram disciplinados
pelo art. 3º da Lei nº 11.977/2009 (e Portaria MC nº 595/2013, item 4.1):
Art. 3º. Para a indicação dos beneficiários do PMCMV, deverão ser observados os seguintes requisitos:I - comprovação de que o interessado integra família com renda mensal de até R$ 4.650,00 (quatro mil, seiscentos e cinquenta reais);II - faixas de renda definidas pelo Poder Executivo federal para cada uma das modalidades de operações;
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III - prioridade de atendimento às famílias residentes em áreas de risco ou insalubres ou que tenham sido desabrigadas;IV - prioridade de atendimento às famílias com mulheres responsáveis pela unidade familiar; eV - prioridade de atendimento às famílias de que façam parte pessoas com deficiência.
Já o Decreto nº 7.499/2011 estabelece que as operações
realizadas com recursos do FAR beneficiarão famílias com renda mensal de até R$1.600,00 – Faixa 1 (art. 8º).
A Portaria MC nº 595/2013 estabelece ainda que,
excepcionalmente, pode haver a indicação de famílias beneficiárias, dispensado o
processo de seleção, em casos de famílias provenientes de um mesmo
assentamento irregular, em razão de estarem em área de risco, terem sido
desabrigadas por motivo de risco ou outros motivos justificados em projetos de
regularização fundiária e que tiverem que ser realocadas (3.3). Além disso, deverão
ser reservadas 3% das vagas a deficientes e 3% a idosos (5.2 e 5.3).
Os candidatos selecionados pelo ente municipal são
encaminhados à CEF, que realiza a contratação do financiamento. À CEF cabe a gestão operacional do PMCMV, nos termos dos artigos 9º e 10 da Lei nº
11.977/2009, e a representação do FAR, por ela criado, nos termos do art. 2º da Lei
nº 10.188/2001, ressaltando-se que os Municípios que aderirem ao programa são os responsáveis pela execução do trabalho técnico e social pós-ocupação, nos termos do art. 3º, §5º da mesma lei .
Os imóveis adquiridos pelo PMCMV, na modalidade FAR,
são inalienáveis antes da quitação do financiamento, tendo o legislador tomado o
cuidado de prever que a quitação antecipada do financiamento excluí a subvenção
financeira. Frise-se que as alienações, por qualquer meio, realizadas em
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desacordo com essas regras, a exemplo dos contratos de gaveta, são nulas de pleno direito (art. 6º-A, §, Lei 11.977/2009).
3 – DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL E DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
A presente ação objetiva, primordialmente, garantir a
higidez da prestação dos serviços públicos de assistência social afetos a programa
habitacional federal, além de combater a malversação e desvio de recursos públicos
federais (a ação tem inclusive caráter reipersecutório em relação a imóvel federal).
Nesse sentido, cabe ao Ministério Público a defesa dos
interesses sociais (CF, art. 127, caput), a tutela dos serviços de relevância pública
(CF, art. 129, II) e a proteção do patrimônio público e social (CF, art. 129, III). Esta
previsão está igualmente estampada no art. 1º da Lei nº 7.347/85 (LACP), e nos
artigos. 5º, II, III e IV, e 6º, VII, da Lei Complementar nº 75/93.
Ademais, conforme demonstra a Lei nº 11.977/2009, o
PMCMV pertence à esfera federal e é custeado com recursos do erário federal:
Art. 2º Para a implementação do PMCMV, a União, observada a disponibilidade orçamentária e financeira:II – participará do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), mediante integralização de cotas e transferirá recursos ao Fundo de Desenvolvimento Social (FDS) de que tratam, respectivamente, a Lei no 10.188, de 12 de fevereiro de 2001, e a Lei no 8.677, de 13 de julho de 1993;
Conforme restou pacificado na comunidade jurídica,
apesar de ser o ente municipal o incumbido por lei para a seleção de candidatos do
PMCMV, ainda assim, irregularidades ocorridas também nesta fase de execução
afetam o programa federal como um todo, o que caracteriza dano direto à União e
malversação de recursos federais. Fixa-se assim a competência das autoridades
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federais para conhecer e processar feitos dessa ordem. Dessa forma tem decidido o
Supremo Tribunal Federal, verbis:
CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E ESTADUAL. PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA. COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA DIRIMIR O CONFLITO. ATRIBUIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. O parecer do Procurador-Geral da República na ACO 2.289/BA foi assim fundamentado[...]: 23. Entende-se, assim que qualquer irregularidade ocorrida, ainda que em etapa de responsabilidade do Município, trará prejuízo direto à União, porque a seleção de pessoa ou família que não atenda aos critérios estabelecidos - no âmbito federal -, em detrimento do direito daquelas que os atendem, revela malversação de verbas federais, como notado pelo suscitante. Verificado que o cadastro equivocado beneficiará terceiro não enquadrado nos requisitos legais, o que há, em última análise, é desvio de verbas federais (STF, Rel. Min. Carmén Lúcia, ACO 2.498/MT, J. 16/09/2014).
AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA. CONFLITO NEGATIVO DE ATRIBUIÇÕES. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. SUPOSTAS IRREGULARIDADES NO CADASTRAMENTO E DISTRIBUIÇÃO DE CASAS NO PROGRAMA HABITACIONAL "MINHA CASA, MINHA VIDA". PROGRAMA INSTITUÍDO PELO GOVERNO FEDERAL E SUBSIDIADO POR RECURSOS FINANCEIROS FEDERAIS. INEGÁVEL INTERESSE DA UNIÃO CONFIGURADO. PRECEDETENS. CONFLITO CONHECIDO PARA DECLARAR A ATRIBUIÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (STF, Rel. Min. Luiz Fux, ACO 2.166/MT, J. 10/02/2015).
Portanto, demonstrada está a competência das
autoridades federais para conhecer dos fatos, nos termos do art. 109, I, da
Constituição Federal, como também a legitimidade no Ministério Público Federal
para a tutela desses direitos.
3 – DOS FATOS
Em 30 de agosto de 2013, o Município de Franca firmou o
termo de adesão com a União Federal para atendimento dos dispositivos legais do
Programa Minha Casa, Minha Vida (fls. 34-37).
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O objetivo do programa federal é minimizar o grande
deficit habitacional existente em todo o país. Especificamente em Franca-SP, foram
implantados os seguintes empreendimentos residenciais destinados à população
carente, com renda familiar de até R$ 1.600,00 (PMCMV – Faixa 1): (1) Condomínio
Residencial Bernardino Pucci; (2) Residencial Rubi; e (3) Residenciais Copacabana
II e III (fls. 39-40).
Dada a essencialidade do direito social à moradia (CF, art.
6º) e considerando-se haver indícios de locação e venda irregular de imóveis do
PMCMV, houve a indignação de relevante parcela da sociedade local, tanto
daqueles diretamente interessados na obtenção de moradia, que estavam sendo
preteridos pela fraude, como também daqueles que, apesar de não integrar o perfil
de beneficiário do programa, viram-se lesados com o desvio de recursos públicos
em prol daqueles que não faziam jus ao benefício assistencial (vide notícias juntadas
a fls. 4-7).
Nesse contexto, tanto o Ministério Público Federal quanto
o Município de Franca e a Caixa Econômica Federal passaram a receber inúmeras
representações apontando casos suspeitos de locação e venda irregular de imóveis
do PMCMV – Faixa 1.
No intento de aferir se os entes públicos estavam
adotando medidas para inibir as mencionadas práticas ilícitas, foram expedidas
inúmeras requisições para que o Município e a Caixa atuassem e cumprissem com o
seu dever (fls. 12-14, 86, 110-115, 146-149, 184-186).
No entanto, em relação ao Município de Franca, todas as
requisições foram respondidas da mesma forma, tendo a municipalidade
manifestado desinteresse na execução do trabalho de gestão condominial e
patrimonial dos empreendimentos residenciais implantados a partir do PMCMV -
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Faixa 1, alegando não ter o dever de fiscalizar a venda e locação irregular dos
referidos imóveis (fls. 22-23, 87, 119, 150).
Quanto à Caixa, apesar de informar que estava envidando
esforços para sanear as irregularidades, não adotou medidas que pudessem
resolver efetivamente o problema. Além disso, noticiou que o Município não realiza
diligências nos empreendimentos (fls. 62-63, 190-194 e 203).
Com o intuito de constatar se de fato estavam ocorrendo
venda e uso irregular das moradias, os agentes de segurança institucional do
Ministério Público Federal, sr. Milton João de Castro e sr. Pedro Revelino de Oliveira,
realizaram diligência in loco e verificaram possíveis irregularidades em pelo menos
58 moradias localizadas no Conjunto Habitacional Bernardino Pucci (vendas,
locações e imóvel desocupados – fls. 180-183).
Baseando-se nestas constatações, uma nova requisição
foi dirigida ao Município de Franca e à Caixa para que adotassem as providências
pertinentes (fls. 184-186).
Entretanto, o Município novamente permaneceu inerte,
mesmo de posse das informações sobre as irregularidades (fls. 197).
Por sua vez, a Caixa limitou-se a informar que o Município
não realiza diligências nos empreendimentos imobiliários, e que expediu cartas aos
beneficiários para que eles mesmos resolvessem as irregularidades apontadas (fls.
190-194)
Como derradeira tentativa de solucionar os problemas,
foram expedidas recomendações aos requeridos, para que adotassem medidas
saneadoras das ilicitudes constatadas (fls. 204-211).
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Em claro desrespeito aos regramentos do PMCMV –
Faixa 1 e, agindo com descaso frente a situação de famílias que residem em locais
precários/insalubres e aguardam a oportunidade de serem contempladas com uma
moradia digna, o Município recusou-se a acatar a recomendação, afirmando que não
tem o dever de fiscalizar a destinação das referidas moradias (fls. 217-219).
Já a Caixa Econômica Federal, apesar de ter informado
que acataria a recomendação, não apresentou informações concretas no sentido de
que estava adotando providências para solucionar os problemas (fls. 227-230)
Em síntese, os requeridos têm pleno conhecimento de
atos ilegais que afetam diretamente uma política pública por eles promovida, que
visa minimizar o deficit habitacional, mediante a destinação de imóveis subsidiados à
população carente local.
Contudo, tudo leva a crer que não adotam medidas
efetivas para frear as vendas, locações e usos irregulares das moradias do
programa, mesmo sabendo que esta postura irresponsável afeta diretamente
dezenas de famílias vulneráveis, que vivem em situações degradantes, pois não
conseguem o acesso à moradia digna.
Assim, frente à inércia dos requeridos, não resta outro
meio para a correção das irregularidades que não a competente judicialização da
demanda.
4 – DO DIREITO
O Ministério Público é instituição permanente, essencial à
função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
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democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127, CF/88). É
seu dever zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de
relevância pública aos direitos assegurados na Constituição, promovendo as
medidas necessárias a sua garantia (art. 129, II, CF/88); além de promover o
inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social,
do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (art. 129, III, CF/88).
O art. 37, caput, da Constituição Federal, por sua vez,
estabelece que a Administração Pública direta e indireta, em todas as esferas da
federação, está subordinada, em todos os campos de sua atuação, aos princípios da
legalidade, impessoalidade, publicidade, moralidade e eficiência, cabendo ao
Ministério Público Federal zelar por sua estrita observância, em especial quando se
tratar de serviços de relevância pública (art. 5º, IV e V, “b”, LC 75/93).
Ademais, é competência comum da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios promover programas de construção de
moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico (art.
23, IX, CF/88), contribuindo, desta forma, para assegurar a observância do
fundamento da República consubstanciado na dignidade da pessoa humana (art. 1º,
III, CF/88), e para a construção de uma sociedade mais justa e democrática (art. 3º,
I, CF/88).
Não se pode olvidar que cumpre ao Poder Público, por
meio de execução de políticas públicas habitacionais, garantir a promoção e
proteção desse direito protegido tanto na ordem jurídica nacional (art. 6º, CF/88),
quanto na esfera internacional, conforme se observa dos instrumentos do qual o
Estado Brasileiro é signatário (art. 25 da Declaração Universal de Direitos Humanos
de 1948; art. 11 do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
de 1966; e, art. 29 da Convenção sobre os Direitos da Criança de 1989).
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Assim, o Programa Minha Casa Minha Vida, criado pela
Lei nº 11.977/2009, tem como meta a construção de expressivo número de
moradias, objetivando o atendimento das necessidades de habitação da população
de baixa renda, garantindo, desse modo, o acesso à moradia digna, com padrões
mínimos de sustentabilidade, segurança e habitação.
As moradias construídas com recursos do PMCMV
deverão atender, prioritariamente, famílias residentes em área de risco ou residentes em áreas insalubres, famílias em que mulheres são responsáveis pela unidade familiar e famílias com pessoas com deficiência (art. 3º, III, IV e V,
Lei 11.977/2009), não podendo os interessados em acessar tal Programa integrar
família com renda superior a R$ 5.000,00 (art. 1º, Decreto 7.499/2011).
Constatando-se que houve desvio de finalidade, dentre
os quais, a venda, locação e desocupação do imóvel, o Município e a Caixa
deveriam adotar os procedimentos legais para cancelar o contrato e repassar a
unidade para outra família que estivesse inscrita e selecionada pelo governo, de
acordo com as regras do programa.
Pois bem, como retratado anteriormente, as inúmeras
denúncias recebidas pelo Ministério Público Federal e levadas ao conhecimento da
Caixa e do Município de Franca, demonstraram cabalmente a profunda angústia e
sofrimento pelo qual passaram – e ainda passam – as famílias carentes do
Município que, mesmo tendo a possibilidade de adquirir uma residência para sua
família, viram esse seu direito fundamental ser usurpado por oportunistas, que se
valeram dessa chance para fraudar o programa social e com isso lucrar.
E não é só. Pode-se também concretamente sentir o dano
moral ainda mais amplo, sofrido pela parcela da população que sequer é elegível ao
programa, mas que se viu lesada com o desvio de recursos públicos em prol
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daqueles que não faziam jus ao benefício assistencial e em detrimento daquelas
famílias efetivamente vulneráveis.
Essa situação inaceitável só ocorre por que os requeridos,
entes responsáveis por implementar a política pública, recusam-se a realizar a
fiscalização cabível.
Em situações como essa, o ordenamento jurídico permite
ao Ministério Público atuar em duas frentes: 1) combater a omissão dos entes
públicos; e, 2) defender o interesse da coletividade lesada em razão da inércia do
poder público.
Em outras palavras, o Ministério Público Federal promove
por um lado a tutela de interesses difusos, consistentes na higidez da prestação dos
serviços públicos de assistência social afetos a programa habitacional federal, além
de combater a malversação e desvio de recursos públicos federais e, da mesma
forma, atua em substituição processual aos titulares dos interesses lesados (famílias
preteridas e o próprio FAR, titular imediato do patrimônio público lesado).
A CEF é gestora operacional do PMCMV, nos termos dos
art. 9º da Lei nº 11.977/2009, como também é representante do FAR, por ela criado,
nos termos do art. 2º da Lei nº 10.188/2001. Ou seja,é a longa manus da União no
que diz respeito à observância e ao cumprimento das normas, fiscalização e controle
dos meios, objetivos e resultados, preservação do patrimônio e defesa do interesse
público, relativamente ao programa em comento.
Enfim, é inquestionável que cabe precipuamente à Caixa
velar pelo efetivo cumprimento das normas que regulamentam o programa, bem
como pelo próprio cumprimento do contrato, que expressamente veda a
possibilidade de o devedor fiduciante ceder, transferir a terceiros, vender ou
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prometer à venda o imóvel alienado, sem prévio e expresso consentimento da
Caixa.
No tocante à responsabilidade do Município, convém
fazer alguns esclarecimentos. Vejamos.
Ao Município de Franca, por expressa disposição
constitucional, é imposto: a) o dever promover programas de construção de
moradias e a melhoria das condições habitacionais (art. 6º e art. 23, IX, CF/88); b)
assegurar a observância do fundamento da República consubstanciado na
dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF/88); c) colaborar para a construção de
uma sociedade mais justa e solidária (art. 3º, I, CF/88); d) apurar as irregularidades
nos serviços e políticas públicas municipais, em razão dos princípios que regem a
administração pública (art. 37, CF/88).
O PMCMV foi criado pela Lei nº 11.977/2009. Nos termos
do art. 3º, III, IV e V da referida lei, as moradias construídas com recursos do
programa deverão atender, prioritariamente, famílias residentes em área de risco ou residentes em áreas insalubres, famílias em que mulheres são responsáveis pela unidade familiar e famílias com pessoas com deficiência (art. 3º, III, IV e V, Lei 11.977/2009).
Já o art. 8º do Decreto nº 7.499/2011 estabelece que as
operações realizadas com recursos do FAR beneficiarão famílias com renda mensal de até R$1.600,00.
O Município de Franca aderiu expressamente as diretrizes
do PMCMV, conforme termo de adesão de fls. 34-37, razão pela qual passou a
funcionar como uma espécie de longa manus da União, viabilizando a implantação e
a efetividade do programa.
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Além disso, o ente federativo assumiu como sendo sua a
política habitacional proposta pelo programa. Prova disso é o fato de ter editado
diversas leis para regulamentar o tema. Podemos citar a Lei Complementar nº
145/2009 (fls. 24-25), que estabelece, dentre outras coisas, que: a) em todos os
empreendimentos implantados nos termos da referida LC, obrigatoriamente 50%
das unidades habitacionais a serem construídas serão destinadas a famílias com
renda mensal de até 3 salários-mínimos (art. 1º, § 2º); b) os Empreendimentos
Habitacionais de Interesse Social de que trata a LC ficam isentos de tributos (IPTU,
ISS) e preços públicos.
Ainda com o objetivo de regulamentar o programa, o
Município editou a Lei Complementar nº 214/2013 (fls. 27-33) que estabelece o
seguinte: a) os empreendimentos regulados pela LC são aqueles abrangidos pelo
PMCMV, de que trata a Lei Federal nº 11.977/2009 e alterações posteriores, ou outro
programa habitacional de natureza governamental, que venha a beneficiar a
população com renda familiar mensal inferior ou igual a R$ 1.600,00 (art. 2º, § 1º);
b) a seleção dos beneficiários será feita utilizando-se do cadastro realizado pela PROHAB – Habitação Popular de Franca S/A que respeitará o disposto no art. 3º e seus parágrafos da Lei Federal nº 11.977/2009 e alterações posteriores
(art. 2º, § 3º).
Enfim, o Município de Franca aderiu ao programa e, em
decorrência disso, assumiu o encargo de implementar e fiscalizar a referida política
habitacional.
Ao aceitar que famílias carentes tenham seu direito
fundamental à moradia usurpado por oportunistas, que fraudam um programa social
com o fim de obter lucro, a municipalidade permite que haja burla às normas do
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PMCMV, frustrando as legítimas expectativas dos selecionados e causando
prejuízos ao erário.
Conforme visto, para seleção e definição dos beneficiários
do PMCMV - Faixa 1, a lei oferece diversos critérios que vinculam o administrador
público (renda mensal familiar de até R$ 1.600,00, e prioridade para famílias
residentes em área de risco etc).
Ao se omitir no dever de fiscalizar diretrizes próprias do
PMCMV, o Município desconsiderou esses critérios que deveriam ser por ele
obedecidos quando da seleção dos beneficiários.
Agiu de forma contrária à lei, desprezou a lista dos nomes
já submetidos ao referido procedimento legal e autorizou que pessoas oportunistas,
não selecionadas pelos critérios estabelecidos pela lei e por regramentos próprios
do Município, adentrassem nos imóveis, burlando as normas do programa e
frustrando a legítima expectativa dos selecionados, além de causar prejuízos ao
erário.
Cabe ao gestor municipal dar cumprimento aos termos da política pública habitacional e não frustrar-lhe a aplicabilidade. A
destinação de imóveis financiados com recursos do FAR a famílias que não fazem
parte da seleção realizada pelo próprio Município, e que não preenchem os critérios
da renda familiar mensal inferior ou igual a R$ 1.600,00, representa uma forma de
subverter as diretrizes do programa e de prejudicar, de forma direta, a política
pública habitacional.
De acordo com a Constituição Federal, é dever dos
gestores municipais a adoção de medidas para tirar as pessoas de moradias
precárias e indignas e colocá-las em um local adequado. A atribuição de indicar a
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família que deve ser beneficiada pelo programa é uma prerrogativa exclusiva do
Município. A venda/locação do imóvel é uma burla, que permite que famílias que não
foram selecionadas se beneficiem do subsídio concedido pelo Governo Federal em
detrimento de pessoas que vivem em condições indignas.
Por outro lado, o Município também é beneficiário do
programa e aderiu aos seus termos, por isso tem o dever implícito de zelar pelo seu
regular funcionamento. Esta é a conduta esperada do ente federativo. Isto fica claro
no esclarecimento prestado pela Caixa fls. 203-v, verbis:
[…] “considerando a atribuição do Ente Público Municipal na seleção dos beneficiários, a sua responsabilidade nas questões sociais que envolvem o território e o interesse público dos órgãos governamentais na comunhão de esforços para implementação dos empreendimentos de habitação de interesse social, mesmo não havendo obrigação explicita de ações fiscalizatórias por parte do município, trata-se de uma das ações esperadas dentro da parceira estabelecida entre Governo Federal e Municipal que possibilitou a implantação do referido projeto do Programa Minha Casa, Minha Vida em Franca/SP.”
Enfim, o ente público, ao implementar uma política social,
tem o dever de não só executar as ações necessárias a sua concretização, mas
também a incumbência de fiscalizá-la. O Município comete um grave equívoco ao se
recusar a fiscalizar uma política pública que por ele foi implementada. Comete um
erro primário ao confundir o poder-dever de fiscalizar com questões ligadas à gestão
condominial dos residenciais criados a partir do PMCMV.
O ente municipal pode não ter atribuição de executar a
gestão condominial e patrimonial dos empreendimentos do programa. Contudo, tem o dever de fiscalizar os programas sociais por ele implementado e adotar medidas para sanear as irregularidades encontradas. O atendimento ao
interesse social é inerente ao objeto do termo de adesão firmado pelo Município com
a União. Dessa maneira, a verificação do cumprimento da destinação social do
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imóvel, que não se confunde com a gestão condominial e patrimonial, é dever ínsito
às obrigações contratuais e legais assumidas pelo Município de Franca.
Por fim, há que ressaltar que o caráter público do
PMCMV, reforçado por seu declarado compromisso com a redução do deficit
habitacional e a promoção da dignidade humana das pessoas vulneráveis, exige que
o Município observe e respeite os objetivos do programa, não permitindo a
ocorrência de desvios de finalidade, que desvirtuam as diretrizes desse importante
programa social de cunho federal.
5 – DOS REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DA LIMINAR EM TUTELA DE URGÊNCIA
A Lei nº 7.347/1985 autoriza a concessão de medida
liminar em sede de ação civil pública, desde que presentes dois requisitos, quais
sejam, o fumus boni iuris e o periculum in mora.
O novo Código de Processo Civil, nessa linha, passou a
tratar da questão sob a terminologia de tutela de urgência, pondo em segundo plano
a dicotomia entre tutela antecipada e medida cautelar.
O fumus boni iuris está plenamente caracterizado a
partir da argumentação desenvolvida acima, na qual se demonstrou a submissão
dos demandados à Lei nº 11.977/2009, aos Decretos nº 7.499/2011 e nº
16.979/2016 e à Portaria MC nº 595/2013, e, consequentemente, à obrigatoriedade
de ambos adotarem as medidas ora pleiteadas, em consonância com toda a
legislação mencionada.
Com efeito, os elementos que evidenciam a probabilidade
do direito afiguram-se nítidos a partir da farta comprovação de que o Município de
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Franca e a Caixa vêm descumprindo frontalmente a necessidade de efetivar vistoria
nos imóveis do PMCMV irregularmente ocupados.
O periculum in mora, por sua vez, reside no fato de que,
conforme relatório de diligência de fls. 179-183, ao menos 58 imóveis que fazem
parte do PMCMV – Faixa 1 são ocupados irregularmente. Isto significa dizer que no
Município de Franca existem 58 famílias carentes morando em condições precárias
e indignas, pois tiveram seu direito fundamental à moradia usurpado por 58
oportunistas, que fraudam o programa social com o fim de obter lucro.
Vale lembrar que os beneficiários do PMCMV – Faixa 1
não podem comercializar ou alugar as residências antes de terminar o prazo do
financiamento. Ocorrendo venda ou locação, o beneficiário poderá ser retirado do
imóvel. Neste caso, a posse do imóvel é devolvida à Caixa, representante do FAR. O
imóvel deve então ser reintegrado ao PMCMV, sendo oportunamente transferido
para família habilitada, segundo os critérios de seleção e classificação de cada um
dos projetos.
A adoção dessa medida é de rigor. Primeiro, porque a
anulação dos títulos translativos reconduz as partes à situação inicial, na qual o
imóvel pertence ao programa social e deve ser destinado à família habilitada mais
bem classificada. Segundo, porque a medida está expressamente prevista na Lei nº
11.977/2009 e no contrato firmado com a parte até mesmo para casos de retomada
do imóvel em razão de mero inadimplemento do financiamento (art. 6º-A, Lei
11.977/2009).
Por outro lado, há de se destacar que a tutela antecipada
é uma técnica de distribuição do ônus “tempo processual” entre as partes. Se a tese
levantada pelo autor, junto com os elementos de fato demonstrados, levam a crer na
maior probabilidade de êxito da demanda, injustificável negar a tutela antecipada e
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fazer-lhe aguardar o tempo do processo. O tempo do processo há que ser suportado
pela parte que apresenta menos chances de vitória.
Neste sentido, é a percepção de Luiz Guilherme Marinoni,
definindo a tutela antecipada como “técnica de distribuição do tempo do processo”:
Como se vê, diante da evidência de que o tempo do processo sempre prejudica o autor que tem razão, não há outra alternativa, quando se deseja iluminar o processo comum com a luz do princípio da isonomia, do que se pensar em técnicas que permitam uma distribuição igualitária do tempo do processo entre as partes. Lembre-se que a tutela antecipatória nada mais é do que uma técnica de distribuição do ônus do tempo do processo, já que não há sentido em ver o autor que evidencia ao seu direito ser prejudicado pelo tempo necessário à definição do litígio. (in Novas Linhas do Processo Civil. 3ªed. São Paulo:Malheiros, p. 158)
Então, não é necessária a demonstração de uma situação
gravíssima a exigir o provimento antecipado. Basta demonstrar que há fundamento
jurídico idôneo e forte a justificar a antecipação.
No caso, procura-se evitar que famílias carentes
continuem morando em condições precárias e indignas, pois tiveram seu direito
fundamental à moradia usurpado por pessoas que fraudam programa social.
Por estas razões, a tomada de providências aqui
requeridas encontra amparo legal, bem como faz-se necessária, uma vez que a
omissão do Município de Franca e da Caixa Econômica Federal em fiscalizar a
destinação dos imóveis do PMCMV contraria as normas legais e princípios
constitucionais que asseguram o direito à moradia e o fundamento da República,
consubstanciado na dignidade da pessoa humana.
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Presentes, portanto, os requisitos autorizadores, o
Ministério Público Federal requer a concessão da tutela de urgência antecipada,
conforme previsto no art. 300 e seguintes do CPC.
6 – DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS FINAIS
Em face do exposto, o Ministério Público Federal requer:
a) a designação de audiência de conciliação, nos termos
dos artigos 303, § 1º, II, e 334 do CPC, observando-se a
urgência que a demanda exige e esclarecendo desde já aos
demandados o interesse ministerial em firmar acordo judicial,
no intuito de resolver os problemas narrados nesta inicial de
forma consensual e rápida;
b) o deferimento da tutela de urgência antecipada liminarmente
(CPC, art. 300, §2º), na hipótese de infrutífera a audiência de
conciliação, para que se imponha ao Município de Franca e à Caixa Econômica Federal, as obrigações de:
b.1) apresentar, em até 30 dias, cronograma detalhado
com prazos para efetuar a fiscalização indicada no
subitem seguinte (b.2);
b.2) proceder à fiscalização in loco no Condomínio Residencial Bernardino Pucci, no Residencial Rubi e nos Residenciais Copacabana II e III, com o escopo de
averiguar se seus atuais moradores ainda são os mesmos
beneficiários iniciais, e verificar eventual ocorrência de
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irregularidades na ocupação (venda, aluguel, comodato,
abandono, entre outras), adotando as medidas corretivas
necessárias. A fiscalização deve iniciar-se pelas moradias
indicadas no Relatório de Diligência de fls. 179-183. Ao
final, deverá ser elaborado relatório conclusivo sobre as
irregularidades encontradas (imóveis desocupados,
vendas e locações em desconformidade com os contratos
etc) e quais as providências foram adotadas para cada
irregularidade;
b.3) criar e manter uma Ouvidoria permanente e
específica, com disponibilização de linha telefônica e sítio
virtual, para colher e apurar denúncias de irregularidades
no uso das moradias de interesse social destinadas ao
Programa Minha Casa Minha Vida, tais como manutenção
de imóveis desocupados, vendas e locações irregulares,
dentre outras;
b.4) encaminhar a todas as famílias selecionadas nos
programas de habitação de interesse social informativo
sobre a existência da referida ouvidoria (item b.3) e sobre
a forma de denunciar eventuais irregularidades;
b.5) providenciar a mais ampla publicidade aos mutuários,
com fixação de cartazes na região dos imóveis e
publicação em jornais da região, a respeito da proibição
de vender, alugar ou manter os imóveis desocupados e
quais as consequências em caso de desobediência;
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b.6) constatadas irregularidades quanto ao desvio de
finalidade dos imóveis adquiridos pelo programa
(descumprimento contratual), a Caixa deve empreender,
no prazo de 30 dias, a imediata rescisão dos contratos,
determinando o vencimento antecipado das dívidas, bem
como adotar as medidas pertinentes para a retomada dos
imóveis, a fim de que outras pessoas possam ser
beneficiadas pela correta destinação dos recursos
federais;
b.7) após adotar as providências indicadas no item
anterior (b.6), comunicar à Polícia Federal os casos em
que for constatado o desvio de finalidade, por meio de
relatório detalhado, instruído com a devida documentação
comprobatória das medidas adotadas pela Caixa.
b.8) manter os nomes das pessoas que alugaram ou
comercializaram os imóveis do PMCMV no cadastro dos
contemplados do programa, para impedir que essas
pessoas, que agiram de má-fé, recebam novamente
benefícios assistenciais de natureza habitacional (art. 6º-
A, § 8º, Lei 11.977/2009);
c) a título cominatório, a imposição de multa diária em valor
não inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais), por obrigação
descumprida (itens b.1, b.2, b.3, b.4, b.5, b.6, b.7 e b.8), sem
prejuízo, e cumulativamente, da adoção de todas as medidas
necessárias à efetivação do provimento específico ou de seu
resultado prático equivalente, nos moldes do que preconiza o
art. 536 do CPC;
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d) a citação do Município de Franca-SP e da Caixa Econômica Federal para, querendo, oferecerem resposta;
e) ao final, após regular processamento do feito, sejam
julgados procedentes os pedidos desta Ação Civil Pública,
confirmando-se a antecipação da tutela, para condenar os
demandados a promoverem, em caráter definitivo, as condutas
descritas no item “b”;
f) a destinação dos valores decorrentes de eventual aplicação
das multas para o fundo a que se refere o art. 13 da Lei n°
7.347/85;
g) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros
encargos, conforme o art. 18 da Lei nº 7.347/1985; e
h) a condenação dos requeridos ao pagamento das custas,
eventuais honorários periciais e demais despesas processuais.
i) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos,
especialmente a juntada posterior de novos documentos;
Dá-se à causa o valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).
Franca, 05 de junho de 2018.
HELEN RIBEIRO ABREUProcuradora da República
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