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UFCD 3272 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO E FORMAS RELACIONAIS E PEDAGÓGICAS DA CRIANÇA Formadora: Bernardete Cambado Setembro 2013

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UFCD

3272 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO E FORMAS

RELACIONAIS E PEDAGÓGICAS DA CRIANÇA

Formadora: Bernardete Cambado

Setembro 2013

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Processo de comunicação e formas relacionais e pedagógicas da criança

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ÍNDICE

1.Processo de comunicação……………………………………………………………………2

1.1.Conceito……………………………………………………………………………………………………2

1.2.Elementos do processo de comunicação……………………………………………………….2

1.3.Feedback /Empatia…………………………………………………………………………………….5

1.4.Barreiras à comunicação………………………..…………………………………………………..6

2.Comportamentos comunicacionais………………………………………………………10

2.1.Atitudes ineficazes……………………………………………………………………………………10

2.2.Comunicação assertiva………………………………………………………………………………11

3.Relacionamento interpessoal…………………………………………………………….15

3.1.Complexidade e riqueza da personalidade………………………………………………….15

3.2.Dinâmica do relacionamento humano………………………………………………………..16

3.3.Importância das primeiras impressões no relacionamento interpessoal………18

3.4.Tensões do relacionamento humano………………………………………………………..19

4.Comunicação e relação pedagógica………………………………………………….…21

4.1.Regras como elemento estruturante da comunicação e relação pedagógica...21

4.2.Rotinas como elemento estruturante na organização espácio-temporal……..24

5.Relacionamento e educação na infância……………………………………………..26

5.1.Relação da criança com outras crianças……………………………………………………26

5.2.Relação da criança com adultos………………………………………………………………..27

5.3.Impacto das relações entre adultos, na criança…………………………………………29

6.Importância do envolvimento parental……………………………………………….32

6.1.Abordagem sistémica da família……………………………………………………………….32

6.2.Modelo ecológico do desenvolvimento humano (Bron Feubrenner)…………….35

6.3.Participação da família no projecto educativo e na vida da instituição

educativa………………………………………………………………………………………………………38

Bibliografia…………………………………………………………………….….……………..41

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Processo de comunicação e formas relacionais e pedagógicas da criança

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1.Processo de comunicação

1.1.Conceito

A palavra “comunicação” deriva do latim “communicare”, que significa pôr em comum,

associar, entrar em relação, estabelecer laços, tornar comum, partilhar. Troca de ideias,

opiniões e mensagens, sendo que contempla o intercâmbio de informação entre sujeitos ou

objectos.

É um fenómeno espontâneo e natural, que usamos sem darmos conta que esconde um

processo muito complexo, que envolve a troca de informações, e utiliza os sistemas

simbólicos como suporte para este fim. Estão envolvidos neste processo uma infinidade de

maneiras de se comunicar.

1.2.Elementos do processo de comunicação

Atendendo à definição mais usual de comunicação que refere ser o “processo pelo qual os

seres humanos trocam entre si informações”, surgem implicitamente os elementos

nucleares do acto comunicativo: o emissor, o receptor ("seres humanos") e a mensagem

("informações"), o código, o canal e o contexto.

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O emissor e o receptor representam as partes envolvidas na comunicação (quem emite e

quem recebe a mensagem). A mensagem e o meio - representam as principais

ferramentas de comunicação. A Codificação, descodificação, reposta e feedback são os

elementos que dizem respeito ao processo de comunicação em si. O último elemento –

ruído – corresponde a todos os factores que possam interferir na mensagem que se

pretende transmitir.

Para haver comunicação é necessária a intervenção de pelo menos dois indivíduos, um que

emita, outro que receba; algo tem que ser transmitido pelo emissor ao receptor; para que

o emissor e o receptor comuniquem é necessário que esteja disponível um canal de

comunicação; a informação a transmitir tem que estar "traduzida" num código conhecido,

quer pelo emissor, quer pelo receptor; finalmente todo o acto comunicativo se realiza num

determinado contexto e é determinado por esse contexto.

Resumidamente, podemos apresentar as seguintes etapas do processo de comunicação:

Emissor (ou fonte da mensagem da comunicação):

Representa quem pensa, codifica e envia a mensagem, ou seja, quem inicia o processo de

comunicação.

A mensagem pode ser transmitida sob a forma de palavras, símbolos, gestos, ou qualquer

outra forma, desde que compreensível para os intervenientes no processo.

Mensagem:

Informação, ideia ou pensamento que se pretende transmitir. Corresponde ao que vamos

dizer.

Código:

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Corresponde à forma como a mensagem é transmitida, sendo um sistema de significados

comuns aos membros que efectuam (ou pretendem efectuar) a comunicação.

A codificação da mensagem pode ser feita transformando o pensamento que se pretende

transmitir em palavras, gestos ou símbolos que sejam compreensíveis por quem a recebe.

Canal de transmissão da mensagem

Trata-se do meio físico pelo qual a mensagem é transmitida, ou seja, é o elemento que faz

a ligação entre o emissor e o receptor.

Contexto:

Situação específica onde se processa a transmissão da mensagem.

O contexto varia consoante o tipo de canal de transmissão utilizado e consoante as

características do emissor e do(s) recepto(es), consoante o local onde se processa a

situação, da escolha do canal de transmissão e do tipo de codificação

Receptor:

É quem recebe e descodifica a mensagem transmitida. Este pode ser uma pessoa

individual, ou um grupo de pessoas, pois podem existir numerosos receptores para a

mesma mensagem.

Depois do receptor receber e interpretar a mensagem transmitida, emite uma informação

de retorno à mensagem recebida, sendo esta acção designada por feedback.

A linguagem e a comunicação estão intimamente ligadas, pois é o meio que permite a

comunicação. Assim, a linguagem é um sistema (conjunto articulável) de signos que

combinados entre si, podem produzir uma multiplicidade infinita de significados.

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A linguagem pode ser agrupada em:

LINGUAGENS VERBAIS, que utilizam as palavras.

LINGUAGENS NÃO VERBAIS, que não usam palavras.

LINGUAGENS MISTAS, que utilizam simultaneamente a linguagem verbal e a não

verbal.

1.3.Feedback /Empatia

Formas de melhorar a comunicação interpessoal

A) HABILIDADES DE TRANSMISSÃO

1. Usar linguagem apropriada e directa (evitando o uso de jargão e termos eruditos

quando palavras simples forem suficientes).

2. Fornecer informações tão claras e completas quanto for possível.

3. Usar canais múltiplos para estimular vários sentidos do receptor (audição, visão

etc.).

4. Usar comunicação face a face sempre que for possível.

B) HABILIDADES AUDITIVAS

1. Escuta activa. A chave para essa escuta activa ou eficaz é a vontade e a

capacidade de escutar a mensagem inteira (verbal, simbólica e não-verbal), e

responder apropriadamente ao conteúdo e à intenção (sentimentos, emoções etc.)

da mensagem. Como administrador, é importante criar situações que ajudem as

pessoas a falarem o que realmente querem dizer.

2. Empatia. A escuta activa exige uma certa sensibilidade às pessoas com quem

estamos tentando nos comunicar. Em sua essência, empatia significa colocar-se na

posição ou situação da outra pessoa, num esforço para entendê-la.

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3. Reflexão. Uma das formas de se aplicar a escuta activa é reformular sempre a

mensagem que tenha recebido. A chave é reflectir sobre o que foi dito sem incluir

um julgamento, apenas para testar o seu entendimento da mensagem.

4. Feedback. Como a comunicação eficaz é um processo de troca bidireccional, o

uso de feedback é mais uma maneira de se reduzir falhas de comunicação e

distorções.

C) HABILIDADES DE FEEDBACK

1. Assegurar-se de que quer ajudar (e não se mostrar superior).

2. No caso de feedback negativo, vá directo ao assunto; começar uma discussão

com questões periféricas e rodeios geralmente cria ansiedades ao invés de

minimizá-las.

3. Descreva a situação de modo claro, evitando juízos de valor.

4. Concentre-se no problema (evite sobrecarregar o receptor com excesso de

informações ou críticas).

5. Esteja preparado para receber feedback, visto que o seu comportamento pode

contribuir para o comportamento do receptor.

6. Ao encerrar o feedback, faça um resumo e reflicta sobre a sessão, para que tanto

você como o receptor tenham mesmo entendimento sobre o que foi decidido.

1.4.Barreiras à comunicação

As principais barreiras à comunicação situam-se a 3 níveis:

Ao nível pessoal;

Ao nível físico;

Ao nível semântico.

1. BARREIRAS PESSOAIS

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Pode acontecer durante os processos de codificação e descodificação da mensagem,

podendo assim situar-se:

Ao nível do emissor

Quando não assimilou os conteúdos que deve transmitir, devido à má

percepção das motivações do receptor.

Pelo seu egocentrismo, associado a uma incapacidade para se colocar no

lugar do seu receptor.

Pela utilização de um código inadequado, em que os factores conotativos da

mesma língua podem revelar-se significativos.

Deficiente elaboração mental da mensagem.

Deficiente escolha dos meios e/ou do local onde se estabelece a

comunicação.

Ao nível do receptor

Falta de interesse para captar a mensagem.

Antecipação da resposta, por não saber escutar activamente.

Competição entre interlocutores, que em casos extremos gera monólogos

colectivos.

Preconceitos em relação ao emissor, com hipóteses de valorização ou

desvalorização da imagem do emissor e da mensagem recebida.

Posição que ocupa na rede de comunicação.

Estado psicológico - emoções, situação actual, etc..

2. BARREIRAS FÍSICAS

Interferem ao nível do canal onde se desenvolve a comunicação.

Ruídos ou barulhos - no exterior, conversas de terceiros, etc.

Desproporção do volume de informação em relação aos meios de

comunicação.

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Avarias ou deficiências nos meios escolhidos para enviar a mensagem.

3. BARREIRAS SEMÂNTICAS

São constituídas pelas limitações presentes nos símbolos com que comunicamos, já que

estes podem possuir significados diferentes.

Não adequação da linguagem aos papéis sociais.

Conotações não entendidas à luz do grupo social de que o indivíduo faz

parte (ex: meio rural/meio citadino).

Não correspondência da linguagem verbal à linguagem não-verbal.

A importância da escuta activa

A escuta activa é uma atitude de disponibilidade para receber as mensagens dos outros e

tentar compreendê-las.

A escuta activa encoraja o receptor a explicitar as suas necessidades, ao mesmo tempo que

dá a quem atende a certeza de estar a compreender o que ele está a dizer. De facto,

temos a tendência para ouvir o que queremos ouvir e ver o que queremos ver.

Quando usamos a escuta activa, estamos a enviar um sinal ao receptor de que confiamos

nele, de que damos importância às suas palavras e de que o estamos a ouvir. Isto faz com

que em troca, o cliente se sinta mais confiante e tenha prazer em estar com quem o

atende.

Regras para uma escuta activa

Saber deixar falar;

Colocar-se em empatia com o outro;

Centrar-se no que é dito;

Manter os canais abertos;

Eliminar qualquer juízo imediato;

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Não interromper o outro;

Reformular;

Utilizar as capacidades cerebrais.

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2.Comportamentos comunicacionais

2.1.Atitudes ineficazes

A fim de minimizar choques comunicacionais, convencionaram-se ferramentas e meios de

múltiplas utilizações que passam a ser usados pelas pessoas na comunicação interpessoal.

Como exemplo de ferramenta podemos considerar a fala, a mímica, os computadores, a

escrita, a língua, os telefones e a rádio. A escolha dos meios de comunicação e a utilização

das ferramentas disponíveis deve ser observada de modo a facilitar todo o processo com o

menor índice de ruídos possível.

Os recursos usados para anular ruídos são:

a)Redundância: é todo o elemento da mensagem que não traz nenhuma

informação nova. É um recurso utilizado para chamar à atenção e eliminar possíveis

ruídos. Nesse sentido, deve-se repetir frases e informações julgadas essenciais à

compreensão do receptor;

b) Feedback: conjunto de sinais perceptíveis que permitem conhecer o resultado da

mensagem; é o processo de se dizer a uma pessoa como você se sente em função

do que ela fez ou disse. Para isso, fazer perguntas e obter as respostas, a fim de

verificar se a mensagem foi recebida ou não.

Uma vez transmitida a informação, o receptor processa-a e, segundo os seus objectivos

transforma-a em conhecimento.

O importante na comunicação interpessoal é o cuidado e a preocupação dos interlocutores

na transmissão dos dados ou das informações em questão para que se obtenha o sucesso

no processo desejado.

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Como o simples acto de receber a mensagem não garante que o receptor vá interpretá-la

correctamente (ou seja, como se pretendia), convém considerar:

1. Quem comunica a quem, em termos de papéis que essas pessoas desempenham

(por exemplo, administração e funcionários, gerente e subordinado).

2. A linguagem ou o(s) símbolo(s) usados para a comunicação, e a respectiva

capacidade de levar a informação e esta ser entendida por ambas as partes.

3. O canal de comunicação, ou o meio empregado e como as informações são

recebidas através dos diversos canais (tais como comunicação falada ou escrita).

4. O conteúdo da comunicação (boas ou más notícias, relevantes ou irrelevantes,

familiares ou estranhas)

5. As características interpessoais do transmissor e as relações interpessoais entre

transmissor e o receptor (em termos de confiança, influência etc.).

6. O contexto no qual o comunicação ocorre, em termos de estrutura organizacional

(por exemplo, dentre de ou entre departamentos, níveis e assim por diante).

Vejamos alguns comportamentos menos assertivos:

• Dificuldade em olhar os outros de frente (desviar ou baixar os olhos);

• Dificuldade em iniciar ou estabelecer uma comunicação com outrem (tom de voz

menos audível ou tom imperativo);

• Incapacidade para ver ou escutar alguém (fazer que não vê ou não ouve);

• Posicionamento duro, intransigente, altivo, rígido;

• Utilização de gestos agressivos (gritos, encenações);

• Incapacidade prática de comunicação gestual (rigidez muscular);

• Indisponibilidade para tomar a palavra em público…

2.2.Comunicação assertiva

Poderemos nós relacionar-nos com alguém de forma positiva? É disso que se trata quando

falamos de assertividade.

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A palavra assertividade vem de “assero”, afirmar. Diferente de acertar, afirmar não tem

relação com o certo ou errado e sim com a exposição positiva do que se deseja transmitir.

Uma pessoa assertiva é capaz de expressar o mais directamente possível o que pensa, o

que deseja, escolhendo um conjunto de atitudes adequadas para cada situação, de acordo

com o local e o momento.

A assertividade permite uma comunicação directa por meio de um comportamento que

habilita o indivíduo a agir no seu interesse, defender-se sem ansiedade excessiva,

expressar os seus sentimentos de forma honesta e adequada, fazendo valer os seus

direitos sem negar os dos outros.

Portanto, a assertividade pode ser entendida como uma forma comportamental de

comunicar que significa afirmar o que eu quero, sinto e penso, dando simultaneamente

espaço de afirmação ao outro.

A assertividade é um treino sistemático, em que o indivíduo tem de reaprender a

autenticidade através de uma prática gradual e regular. Ser verdadeiro não consiste em

"dizer tudo o que me vem à cabeça", mas sim em exprimir-me eficazmente, tendo como

objectivo a evolução satisfatória e realista da situação.

É necessário, então, saber que tipo de comportamento provoca esta reacção; evitar a

mímica e a entoação contrária às palavras; tentar descrever as próprias reacções, em vez

de avaliar as acções dos outros; exprimir-me de forma positiva em vez de desvalorizar,

julgar, criticar, ridicularizar ou fazer interpretações, facilitando a expressão dos sentimentos

dos outros.

O comportamento assertivo resulta na fusão de quatro factores:

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• Bom contacto visual

• Tom de voz neutro

• Atenção à linguagem, e

• Postura aberta.

As pessoas assertivas sabem ouvir os outros, admitem os seus pontos de vista e procuram

de forma construtiva cooperar com estes.

Um líder assertivo não pressiona, manipula ou culpabiliza os elementos da equipa, aceita

que estes possam ter reacções positivas ou negativas e sabe dar feedback construtivo,

porque tem autoconfiança em si próprio.

Um comportamento assertivo implica

O respeito do indivíduo por si próprio, ao exprimir os seus gostos, interesses,

desejos e direitos;

O respeito pelos outros, pelos seus gostos, ideias, necessidades e direitos.

É Assertivo quem:

Está à vontade na relação face a face;

É verdadeiro consigo mesmo e com os outros, não dissimula os seus sentimentos;

Coloca as coisas muito claramente às outras pessoas, negoceia na base de

objectivos precisos e claramente determinados;

Negoceia na base de interesses mútuos e não mediante ameaças;

Não deixa que o pisem;

Estabelece com os outros uma relação de confiança e não de dominação e de

calculismo;

Vantagens da Comunicação Assertiva

Está na base de relacionamentos honestos e saudáveis;

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É o comportamento requerido para resultados “ganhar-ganhar” numa negociação,

na resolução de conflitos, na vida profissional e familiar diária;

Produz a sensação de bem-estar no ambiente profissional e familiar;

Traduz-se em melhores resultados para o próprio e para o grupo;

Evita os conflitos e o desgaste nas relações.

Em cada dia deparamos com sinais de insegurança, que conduzem a expressões

desajustadas dos sentimentos. Aí surge a assertividade: um processo de auto-afirmação

construtiva que se vai aprendendo e mantendo progressivamente com os outros, no nosso

agir diário.

À medida que a assertividade se vai desenvolvendo, aumenta na pessoa a capacidade de

se afirmar como ser único e original: expõe mais os seus desejos íntimos, revela mais

claramente as suas intenções e preocupações, aumenta a sua percepção do real e de

análise/resolução dos preconceitos próprios. Numa palavra: adquire maior confiança para

fazer opções e maior abertura face aos outros a quem concede espaço e tempo de se

afirmarem, eles também.

É importante que o educador conduza os trabalhos no sentido da descoberta de formas

assertivas de relacionamento, estabelecendo com os participantes um clima de auto-

afirmação, que permita desenvolver:

• O sentido do humor, da simpatia e do acolhimento;

• A capacidade de observação das situações;

• Um relacionamento aberto e franco fundado na segurança da personalidade;

• A qualidade da informação/comunicação, ou de dar/receber feedback;

• A capacidade de escutar e apreciar os outros.

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3.Relacionamento interpessoal

3.1.Complexidade e riqueza da personalidade

Todos somos diferentes, isto é, temos traços de personalidade diferentes, e isso faz com

que as nossas reacções sejam diferentes, a forma como nos relacionamos e damos ao

outro vai sofrer variações de pessoa para pessoa.

O que é a personalidade?

Conjunto de características psicológicas que determinam a individualidade pessoal e

social.

Conjunto de padrões comportamentais, (incluindo pensamentos e emoções) que

caracterizam a maneira de cada individuo se adaptar às situações da sua vida.

Sobre a complexidade e riqueza da personalidade de cada um em relação com os outros,

Rogers enunciou uma teoria sobre o funcionamento óptimo da personalidade que é

importante aplicar à situação de aprendizagem. (ensinamentos da experiência)

Cada pessoa possui uma disposição inata a actualizar as potencialidades do seu

organismo.

Cada pessoa tem a aptidão de apresentar a sua experiência de maneira correcta e

de manter uma situação de acordo entre o self e a experiência.

A pessoa experimenta uma urgência de apreciação positiva, total de si mesma, por

si mesma e por parte de pessoas significativas.

Quando esta apreciação positiva total se revela ao sujeito no seio de uma ligação

onde se sente compreendido duma maneira empática, a pessoa funciona

integralmente.

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3.2.Dinâmica do relacionamento humano

Podemos definir relacionamento interpessoal com a Relação estabelecida entre dois ou

mais intervenientes num processo de comunicação.

Neste âmbito podemos distinguir duas formas de relação:

Relações convencionais

São mais ou menos prescritas por normas sociais hierárquicas. É o caso das relações

profissionais, onde a relação não é escolhida livremente.

Relações não convencionais

Têm uma dimensão mais pessoal. A relação traduz-se por uma escolha livre e uma grande

implicação pessoal.

O homem relaciona-se com os outras através de:

• Relações formais (a de um cidadão com uma repartição administrativa)

• Relações informais (grupo de amigos)

• Íntimas (relações familiares)

• Públicas (participação num concerto)

• Ocasionais (pedido de informação a um transeunte desconhecido)

• Sistemáticas (relações de trabalho e de vizinhança)

Factores que influenciam as relações interpessoais:

• Os contextos

• Os papéis

• O conteúdo da relação

• Os intervenientes

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Os contextos

• Relações com os pais e familiares

• Relações com amigos, colegas de trabalho e vizinhos, comunidade

• Relações amorosas

O contexto em que vivemos influencia os nossos comportamentos, a nossa qualidade de

vida e o modo como nos relacionamos com os outros

Papel desempenhado

Ao se relacionarem com os outros, as pessoas adquirem novos comportamentos, dividem

tarefas e adoptam diferentes papéis.

O mesmo indivíduo pode desempenhar o papel de pai em relação ao filho, de filho em

relação aos pais, de chefe em relação aos subordinados, etc.

As relações interpessoais envolvem interacções, percepções partilhadas, laços afectivos e

interdependência de papéis. Os papéis podem ir evoluindo em função da interacção.

Conteúdo da relação

A relação pode ter como conteúdo um assunto estritamente pessoal, uma matéria de

estudo ou um problema profissional.

As trocas entre os indivíduos variam de acordo com o conteúdo ou a matéria da relação.

Com a família e os amigos, os conteúdos serão, sem dúvida, mais informais.

Os interlocutores

Os outros nunca são neutros para nós, eles transportam consigo significados e é em função

desses significados que nos comportamos.

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Não só contribuímos para as relações em que estamos envolvidos como somos mudados

por elas.

Uma das exigências fundamentais para que a comunicação e as relações interpessoais se

tornem progressivamente mais ricas, produtivas e maduras, é a necessidade de

compreensão de si próprio e dos outros.

Associamo-nos aos outros para alcançarmos certos objectivos e satisfazer necessidades

que, sozinhos, não conseguiríamos realizar. Os outros alimentam a nossa auto-estima,

fazem-nos sentir bem, importantes, responsáveis pelo bem-estar deles, fazem-nos

companhia, divertem-nos.

3.3.Importância das primeiras impressões no relacionamento

interpessoal

Todo o adulto conhece e sente aquela ponta de ansiedade inicial de quem começa um

trabalho com pessoas com as quais ainda não teve contacto.

Podemos causar ou boa ou má imagem de nós próprios nos outros. Os nossos actos,

atitudes e comportamentos vão ficar gravados na memória daqueles com quem nos

relacionamos pela primeira vez.

Devemos criar um espaço de à-vontade e entendimento para se vencerem aqueles

momentos de incomunicação, para se “partir o gelo” do desconhecido e ultrapassar a

ansiedade do começo. Por isso, vá com um sorriso nos lábios, seja simpática, acessível e

calorosa.

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Apresente-se com simplicidade dizendo quem é, o que faz. Introduza uma ou outra

brincadeira, um poema, uma cantilena, uma música, uma conversa, de modo a “partir o

gelo” e a incentivar resposta por parte dos seus interlocutores – as crianças e/ou adultos.

Promova, também, o grupo e ao fazê-lo vá-se inserindo nele e ganhando a sua própria

naturalização como membro desse grupo. Quando se ganha esta aposta inicial, as pessoas

predispõem-se a ouvi-la, a comunicar, o grupo começa a ser uma realidade e o adulto é

aceite como seu animador.

Para que cause uma primeira impressão positiva apoie-se nos comportamentos assertivos,

nas atitudes, estratégias e gestos corporais positivos a ter com a criança, falados

anteriormente. Para evitar uma má impressão evite todos os maus comportamentos,

atitudes e estratégias desadequados à promoção de um bom relacionamento interpessoal.

3.4.Tensões do relacionamento humano

As estratégias de negociação interpessoal são muito importantes para as crianças, elas são

o mecanismo que mais influência tem no progresso do desenvolvimento interpessoal.

É importante que os adultos que lidam com crianças conheçam os diversos níveis de

estratégias de negociação interpessoal, que saibam identificar em que nível ou níveis se

situam as crianças do seu grupo de trabalho, para poderem intervir no sentido de promover

o seu desenvolvimento a este nível.

Nível 0 – impulsiva

A criança utiliza estratégias físicas para atingir os seus objectivos, age impulsivamente.

Tem dificuldade em diferenciar a sua perspectiva da do outro, bem como em distinguir

entre acções e sentimentos. Não colabora com os outros, em vez disso foge ou usa a força.

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Nível 1 – unilateral

A criança utiliza estratégias unilaterais para obter controlo ou satisfazer a sua pessoa. Não

considera as perspectivas em separado. Verificam-se ordens e alegações de sentido único

ou simples acomodação passiva às necessidades do outro. A sua perspectiva é relevante, é

a que prevalece.

Nível 2 – recíproca

As estratégias deste nível envolvem esforços no sentido de satisfazer ambos os

participantes, de forma recíproca. Envolve formas de negociação, trocas e contratos,

estratégias de persuasão (tentar convencer o outro). Não há compromissos. A criança

diferencia as perspectivas subjectivas considerando-as em simultâneo. Ela resolve,

geralmente com autonomia problemas com outras crianças (como esperar pela sua vez,

partilhar materiais, etc.).

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4.Comunicação e relação pedagógica

4.1.Regras como elemento estruturante da comunicação e relação

pedagógica

Definir, estabelecer e fazer cumprir regras é absolutamente necessário para a educação

das crianças. Regras são comportamentos que os pais esperam que as crianças tenham em

determinadas situações.

As regras são uma base de segurança e de tranquilidade para as crianças, sem elas

sentem-se ansiosas e confusas.

Primeiro que tudo, para que a criança seja capaz de compreender e cumprir as regras, é

necessário que:

• Sejam muito claras e explícitas;

• A criança saiba sempre quais são as consequências da infracção e do

cumprimento dessas regras;

• A aplicação das regras seja coerente, isto é, sejam aplicadas sempre, e não numas

situações sim e noutras não, e entre todas as pessoas que educam a criança, para

que a criança as possa compreender.

É muito importante que os pais estejam de acordo em relação à educação dos filhos e que

estes possam contar com a ajuda de outros adultos próximos à criança (os avós, amigos

íntimos, etc.).

Estratégias educativas antagónicas e inadequadas podem impedir a criança de manifestar

comportamentos adequados à sua idade e competências.

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É importante que os pais e outros adultos sejam claros em relação ao comportamento que

é aceitável e ao comportamento indesejado. As regras devem ser baseadas em

expectativas razoáveis para o nível de desenvolvimento das crianças.

As crianças confundem-se com facilidade se as regras mudam de dia para dia ou de adulto

para adulto. As crianças testam limites e, por isso, a consistência é essencial. Os pais

devem ser consistentes no cumprimento das regras e ser previsíveis nas suas reacções.

Desta forma, a criança aprende o que é esperado e pode escolher obedecer ou não

obedecer, estando consciente das consequências.

Tente orientar as crianças de uma forma positiva, referindo o que a criança deve fazer em

vez do que a criança não deve fazer. Justifique as regras dando uma explicação que apele

ao orgulho da criança, ao seu desejo de ser crescida e à sua preocupação em relação aos

outros.

Os limites devem ser flexíveis e mudar à medida que a criança cresce, com o objectivo de a

ajudar a aprender os comportamentos sociais e emocionais adequados para viver em

sociedade. Não se trata de negociar com sentimentos ou dar amor condicional apenas

quando a criança se comporta de forma adequada.

Os pais devem cumprir o que dizem e ser capazes de manter uma política firme e

consistente de disciplina, de modo a que a criança possa esperar que cumpram o que

disseram. Se um pai ocasionalmente muda de ideias, não faz mal nenhum dizer à criança

que mudou de opinião, explicando as suas razões. Mas, em geral, a vida é muito mais

simples para a criança se ela souber que pode esperar que os pais cumprem o que dizem.

Apesar de haver muitas excepções, é muito comum os pais e mães terem ideias um pouco

diferentes acerca da disciplina. Em geral os pais são mais rígidos e as mães têm mais

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tendência para pensar que a criança está a passar por uma fase e que é melhor ceder um

pouco. É importante que a criança sinta a consistência da disciplina de cada pai. Assim, ela

começa a saber o que pode esperar de cada um.

Independentemente das diferenças entre pais e mães, é muito importante discuti-las em

privado e apresentar uma frente unida perante a criança, apoiando as ordens e decisões do

outro. A disciplina falha quase inevitavelmente quando um dos pais não apoia o outro, ou

pior ainda, quando critica a conduta do outro à frente da criança.

É importante recompensar o bom comportamento. Pode ser através de uma demonstração

física de afecto, um abraço, um beijo ou uma festinha, ou pode ser um elogio. As

afirmações precisas são particularmente úteis porque ensinam claramente à criança o que

os pais querem. Os elogios devem ser dados imediatamente, num tom de voz agradável.

As crianças aprendem auto controlo quando os adultos as tratam com dignidade e usam

técnicas de disciplina, tais como:

• Orientar as crianças através de limites claros, consistentes e justos em relação ao

comportamento na sala, ou no caso de crianças mais velhas, ajudando-as a

estabelecer os seus próprios limites;

• Valorizar os erros como oportunidades da aprendizagem;

• Reorientaras crianças para comportamentos ou actividades mais aceitáveis;

• Escutar as crianças quando falam sobre os seus sentimentos e frustrações;

• Guiar as crianças para que elas resolvam conflitos, modelando competências que

ajudem as crianças a resolver os seus próprios problemas;

• Lembrar pacientemente às crianças, quando tal seja necessário, as regras e as

razões para essas mesmas regras.

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4.2.Rotinas como elemento estruturante na organização espácio-

temporal

Uma rotina coerente é uma estrutura. Liberta igualmente crianças e adultos da

preocupação de terem de decidir o que vem a seguir e permite-lhes usar as suas energias

criativas nas tarefas que têm entre mãos.

Uma vez estabelecida e nela integradas as crianças, a rotina torna-se mais flexível. Por

exemplo, um bom tempo de trabalho ou brincadeira pode, por vezes, ser prolongado ou a

rotina alterada para se adaptar a uma saída ao exterior.

A rotina diária tem como fim três objectivos importantes:

Primeiro, proporcionar uma sequência que proporcione à criança um processo de a

ajudar a explorar, planear e executar brincadeiras e projectos e a tomar decisões

sobre a aprendizagem.

Segundo, dar azo a muitos tipos de interacção – trabalho de grande/pequeno

grupo, de adulto/criança, de criança/criança e de adultos em equipa – e a tempos

em que as actividades são de iniciativa da criança e de iniciativa do adulto.

Terceiro, proporcionar tempo para trabalhar numa grande variedade de ambientes –

dentro de casa, ao ar livre, em excursões ao campo, em diferentes áreas de

trabalho. Quando a rotina diária é bem utilizada, pode proporcionar uma estrutura

multifacetada que permite a actividade e a criatividade de crianças e adultos.

A existência de diversidade nos períodos de aprendizagem possibilita às crianças um leque

de experiências e de interacções. Estes momentos integram o planear-fazer-recordar,

tempo em grande grupo e em pequenos grupos, e tempo ao ar livre.

Os períodos de aprendizagem activa têm lugar numa sequência razoável e previsível, que

vai ao encontro das necessidades particulares do contexto. As experiências têm lugar num

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contexto físico apropriado. Cada período envolve as crianças em experiências de

aprendizagem activa, dentro de um clima de apoio. A rotina diária implica a passagem

discreta e suave entre experiências atractivas.

O papel desempenhado pelas rotinas:

Marco de referência: Uma vez apreendido pela criança, proporciona uma grande

liberdade de actuação, tanto às crianças como ao educador.

Segurança: Ao saberem com antecedência o que vão fazer a seguir sentem-se

mais seguras e donas do seu tempo.

Captação do tempo: A criança aprende a existência de fases, o seu nome e a sua

sequência: o que acontece antes, o que acontece depois, o que se faz no início, o

que se faz em todos os momentos da sessão.

Captação cognitiva: A percepção sensorial dos momentos completa-se nas

rotinas com uma captação cognitiva da estrutura das actividades.

Virtualidades cognitivas e afectivas: Através da rotina a criança terá a

oportunidade de: explorar, auto organizar-se, conhecer a realidade, usar

funcionalmente os recursos, autonomizar-se, codificar experiências e tomar

decisões.

Actividades: À medida que as crianças se vão apoderando das actividades irão

modificando o modo como as realizam.

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5.Relacionamento e educação na infância

5.1.Relação da criança com outras crianças

As crianças fazem amigos tal como os adultos. Se são eficientes, aproximam-se dos

estranhos com toda a abertura; as que são menos hábeis rondam a brincadeira até que

alguém vá ao seu encontro.

Na fase em que se formam grupos de crianças em torno de uma actividade, a entrada num

grupo é relativamente simples. Se as crianças estão a construir torres, aquela que está à

espera pega nos seus próprios blocos e começa a construir também.

Pode haver uma troca verbal para comunicar ou comentar qualquer coisa e oferecer ajuda.

Mesmo quando as crianças entre os 2 e os 3 anos participam em brincadeiras imaginativas,

é relativamente fácil para a outra criança juntar-se ao grupo e fazer o mesmo que as

outras estão a fazer.

Mais tarde, isto torna-se muito mais fácil. Quando todos estão envolvidos em determinadas

actividades, um corpo estranho perturba.

Quando as crianças desempenham vários papéis, qualquer outra que entre no jogo tem de

conseguir um papel que seja aceitável para as outras.

Estudos realizados neste domínio permitem concluir que as crianças populares são:

• Amigáveis. As crianças gostam daquelas que as arrastam para uma brincadeira.

• Extrovertidas. As crianças sociáveis são mais populares do que as tímidas; as

crianças que falam sempre e que nunca ouvem não são populares.

• Brilhantes. A inteligência ajuda a criança a compreender rapidamente qualquer

coisa e explicar os pormenores às outras.

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• Hábeis. Os talentos específicos são sempre admirados.

• Atraentes. Quanto mais imponente é o físico de uma criança, mais ela é admirada

pelos seus pares.

Outros factores que importam são:

• A situação familiar. As crianças mais novas são mais populares do que as que

nasceram primeiro.

• O tamanho. Ser das mais altas é popular; ser muito alto não é. As crianças gordas

são menos populares.

• O nome. Um nome apreciado é importante, sobretudo para os rapazes.

Características que intimidam os amigos:

• O autoritarismo. As crianças agressivas, fanfarronas, más e dominadoras são

impopulares, tal como as rancorosas.

• A imprevisibilidade. Mau humor e manipulação ao são apreciados; as crianças

gostam se saber o que as espera.

5.2.Relação da criança com adultos

O modo como o adulto se comporta perante a criança e impõe ordem e respeito, advém da

sua experiência anterior e pode ser definido em três estilos:

• Autoritário e Rígido: o adulto impõe regras sem considerar as circunstâncias e o

ponto de vista da criança. A vontade do adulto tem de ser cumprida.

• Democrático ou Flexível: é um estilo que permite às crianças construir regras.

Estas não são impostas arbitrariamente pelo adulto. As regras são estabelecidas

pelos participantes de comum acordo.

• Livre ou Inconsistente: Não há regras claras e estabelecidas. As regras são

confusas e as crianças podem interpretá-las à sua maneira.

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Uma boa regra é bem definida, razoável, forte e necessária. Deve ser usada de forma

consistente, deve ser revista e verificada por todas as crianças, deve também ignorar

condutas irrelevantes e dever ser modelada aos comportamentos estabelecidos.

O adulto reage de maneira diferente aos comportamentos e atitudes adoptadas pela

criança:

• Não preocupado: as necessidades a actividades das crianças são ignoradas pelo

adulto. O adulto não se vê responsável pelas crianças.

• Culpado: o adulto sente-se responsável pelas atitudes e conduta da criança.

• Preconceito: o adulto tem preconceitos acerca das atitudes da criança.

• Super protector: o adulto preocupa-se demasiado com as crianças,

resolve tudo pela criança. O adulto limita as experiências das

crianças e não lhe permite correr qualquer risco.

• Excesso de explicações: para parecer menos autoritário o adulto tenta convencer

a criança falando demais e dando explicações em excesso.

• Rígido: o adulto apresenta um modelo que não permite qualquer mudança. Não

há alternativas, as regras são impostas e não se tem em conta o ponto de vista da

criança. Não há flexibilidade, o adulto é uma pessoa rígida.

• Hipercrítico: o adulto procura a perfeição, apenas se concentra nos erros e nos

aspectos negativos.

• Arbitrário: o adulto não sabe como expressar os seus sentimentos. Não estabelece

regras e não actua de acordo com as regras já existentes.

Há certas estratégias, comportamentos e atitudes que sendo levadas a cabo pelos adultos,

usadas com paciência e de forma persistente permite às crianças desenvolver uma

capacidade de controlo interno e aprender a resolver os seus conflitos com os outros,

utilizando formas de interacção adequadas.

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Ao nível das estratégias são:

• Organização do ambiente físico, do espaço e materiais;

• Estruturação de uma rotina diária consistente;

• Adopção por parte do adulto de um papel de apoio (nem permissivo, nem

autoritário.

Ao nível dos comportamentos e atitudes são:

• Intervir imediatamente para parar um comportamento que seja destrutivo ou que

ponha em perigo a segurança da criança; Usar a linguagem verbal para identificar

os sentimentos e as preocupações das crianças;

• Pedir às crianças que exprimam por palavras os seus desejos e sentimentos;

• Levar as crianças a apresentar as suas próprias soluções para a resolução de

problemas;

• Dar às crianças escolha para a resolução de um problema, apenas quando elas se

apresentem como opções possíveis de concretizar;

• Evitar o uso de linguagem punitiva ou que expresse julgamento;

• Quando se depara um comportamento que é inaceitável, deve-se explicar as

razões às crianças;

• Antes de aparecer uma situação de conflito, verificar se as crianças conseguem

resolvê-la sem o apoio do adulto.

5.3.Impacto das relações entre adultos, na criança

Nem só de palavras vivem as pessoas. Vivem também, e muito, daquilo que lhes é

transmitido através de sensações, sentimentos, emoções, e estados de alma. Os pais,

dentro das suas casas, longe dos olhares indiscretos do mundo, comportam-se, falam e

sentem como realmente são, sem disfarces. Os filhos observam e aprendem.

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Os filhos imitam os pais para lhes agradar, para que os aceitem, para que não os rejeitem.

O olhar das crianças é total, abrangente e cristalino. Muito do que aprendem é resultado de

imitação, de absorção directa da essência do pai e da mãe. É por isso que, mesmo sem

troca de palavras, uma criança percebe quando o pai falta à verdade em presença de

estranhos, ou adopta determinada atitude em determinada situação.

As crianças estão permanentemente atentas aos comportamentos dos adultos, aprendem

com eles e reproduzem-nos na primeira oportunidade.

O peso do exemplo na aprendizagem de comportamentos permite ainda aos pais

influenciar o comportamento da criança de uma forma indirecta, isto é, elogiando ou

criticando o comportamento de outras pessoas. Por exemplo, é provável que a criança

aprenda quais as consequências associadas à infracção de uma norma quando observa o

castigo que o irmão recebe ao transgredi-la.

"Olha para o que eu digo! Não olhes para o que eu faço!" é uma atitude que não se revela

eficaz na educação de uma criança ou adolescente. Os pais devem estar conscientes do

poder do exemplo e considerar os seus actos, palavras e emoções como lições que as suas

crianças aprendem diariamente.

Isto aplica-se ao cumprimento das regras estabelecidas, comportamentos de generosidade,

educação e delicadeza, comportamentos de risco (consumo de tabaco, álcool, drogas,

etc.), linguagem, motivação para a leitura, optimismo, etc.

Por exemplo, no que diz respeito à linguagem, é importante que os pais forneçam bons

exemplos ao longo do dia, falando devagar, pronunciando claramente as palavras, dando

instruções claras, usando palavras exactas nas descrições e nas conversas, etc. Mais eficaz

que dizer a uma criança “fala mais devagar” ou “pensa no que estás a dizer”, é responder à

criança de uma forma lenta, deliberada e significativa.

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Também o optimismo é uma atitude ou maneira de ser que se aprende de pequenino (mais

uma vez, através do exemplo). Filhos de pais optimistas terão mais probabilidade de ser

crianças optimistas. E ser optimista é vantajoso: uma pessoa pessimista fica paralisada,

agarrada à negatividade em vez de agir.

Ser um bom exemplo implica não lançar as mãos à cabeça, desesperado, à mínima

contrariedade, não maldizer a vida sempre que surgem problemas nem se autoproclamar a

pessoa mais infeliz do mundo se as coisas não correm como desejava.

Em vez de exprimir pensamentos negativos, é importante habituar-se a ver o mundo de

uma forma positiva. Quase sempre há várias hipóteses de resolver um problema. Os

adultos devem analisá-las com calma e actuar em conformidade, em vez de desmoralizar à

primeira. A criança comportar-se-á da mesma forma quando for a sua vez de enfrentar um

obstáculo.

Os pais devem usar e abusar do humor, relativizar as contrariedades e aproveitar o que

existe de positivo em todas as situações negativas. Os filhos seguir-lhes-ão o exemplo.

Os pais podem funcionar como modelos em praticamente todos os aspectos da vida. A

própria relação do casal assume uma grande importância: se os pais tiverem um

relacionamento feliz, harmonioso, caracterizado pela partilha de tarefas e pelo respeito

mútuo, é mais provável que os seus filhos também consigam construir uma relação

harmoniosa, quando chegar a vez deles.

Além da importância de uma relação conjugal equilibrada enquanto modelo a seguir (e

forma indirecta de ensinar estratégias de relacionamento entre o casal), permite ainda que

as crianças cresçam felizes, sem assistir a discussões infinitas que as sobrecarrega com

problemas com os quais ainda não conseguem lidar e que podem afectar o seu

desenvolvimento a vários níveis.

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6.Importância do envolvimento parental

6.1.Abordagem sistémica da família

A criança convive, cresce e comunica com a família; a ela cabe, em primeiro lugar, a

função educativa (um direito e um dever). A família é um elemento activo que desempenha

funções e tem responsabilidades distintas das que competem às instituições educativas.

Os juízos e os actos que têm lugar no seio da família não devem criar diferenças

significativas nem demarcar-se excessivamente em relação aos parâmetros sociais

vigentes; gerar-se-ia uma duplicidade e controvérsia prejudiciais nos critérios educacionais

básicos.

A influência exercida pelo núcleo familiar condiciona, facilita e pode mesmo alterar o

desenvolvimento da criança. No seio da família verifica-se a primeira aprendizagem dos

valores essenciais e travam-se relações afectivas indispensáveis no amadurecimento global

do indivíduo.

Os pais são as pessoas mais importantes na vida de uma criança pequena e aqueles cuja

aprovação significa mais do que qualquer outra coisa no mundo. “Lendo” as respostas

emocionais dos pais ao seu comportamento, as crianças continuamente absorvem

informação acerca de qual a conduta que os pais aprovam.

À medida que a criança processa, armazena e utiliza essa informação, o seu forte desejo de

agradar os pais leva-a a fazer como ela sabe que os pais querem que ela faça, quer os pais

estejam ou não ali para ver. Este crescimento na auto-regulação é paralelo ao

desenvolvimento de emoções tais como empatia, vergonha e culpa. Exige flexibilidade e

capacidade de adiar a gratificação.

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Contudo, quando as crianças pequenas querem muito fazer uma coisa, elas rapidamente se

esquecem das regras sociais; são capazes de atravessar a rua a correr atrás de uma bola,

ou comer uma guloseima proibida. Na maioria das crianças o completo desenvolvimento da

auto-regulação demora pelo menos 3 anos.

Algumas crianças internalizam as regras sociais mais rapidamente do que outras. O modo

como os pais vivem o seu trabalho, conjuntamente com o temperamento da criança e a

qualidade da relação entre a figura parental e a criança podem ajudar a predizer o quão

difícil ou fácil será socializar a criança.

Factores relevantes no sucesso da socialização podem incluir a segurança da vinculação

(ligação emocional recíproca e duradoura entre o bebé e a figura parental, em que cada

um contribui para a qualidade da relação), a aprendizagem por observação do

comportamento dos pais e responsabilidade mútua entre a figura parental e a criança.

Todos estes factores, assim como factores de natureza socioeconómica e culturais podem

ter um papel importante na motivação para a obediência.

Um estudo revelou que o estilo parental seguido pelos pais influencia o modo como a

criança responde às regras sociais e forma a sua personalidade.

Pais Autoritários

Valorizam o controlo e a obediência inquestionável.

Tenta fazer com que as crianças se conformem com um determinado padrão de

conduta e punem-nas violentamente pela sua violação.

Eles são mais desligados e menos calorosos do que os outros pais.

Crianças de Pais Autoritários:

São crianças tímidas e pouco tenazes.

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Actuam influenciados pelo Prémio ou castigo.

Têm uma baixa auto-estima.

Tendem a ser pouco alegres, infelizes, irritáveis e vulneráveis às tensões.

Pais Permissivos:

Valorizam a auto-expressão e a auto-regulação.

Consideram-se recursos e não modelos.

Fazem poucas exigências às crianças e permitem-lhes monitorizar as suas próprias

actividades tanto quanto possível.

Quando têm de estabelecer regras, explicam as razões para tal.

Consultam as crianças acerca das decisões a tomar e raramente punem.

São calorosos, não controladores e não exigentes.

Crianças de Pais Permissivos:

Têm problemas para controlar os seus impulsos.

Têm dificuldade em assumir responsabilidades.

São imaturos.

Têm baixa auto-estima.

Contudo, são crianças mais alegres e vitais.

Pais Democráticos:

Respeitam a individualidade da criança mas também enfatizam os valores sociais.

Têm confiança na sua capacidade para orientar as crianças, mas também respeitam

as decisões, interesses, opiniões e personalidade destas.

São afectuosos, consistentes, exigentes, firmes na afirmação dos padrões e

dispostos a aplicar uma punição limitada e sensata – mesmo o bater moderado e

ocasional – quando necessário, dentro do contexto de uma relação calorosa e

apoiante.

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Explicam qual é o raciocínio que esta subjacente aos seus padrões e encorajam as

trocas de opiniões verbais.

Crianças de Pais Democráticos:

Têm níveis altos de auto controlo e auto-estima.

São capazes de enfrentar situações novas com confiança e iniciativa.

São persistentes no que iniciam.

São independentes, carinhosas e de fácil relacionamento com outras.

Possuem critérios pessoais acerca de questões morais.

O ser humano transforma-se num ser social após um longo e gradual processo, articulado

com o próprio desenvolvimento biológico e intelectual. Assim a família juntamente com a

instituição educativa e outros elementos traz progressivamente um conjunto de conteúdos

e cria ao mesmo tempo critérios que permitem questionar os padrões e modelos sociais

vigentes.

6.2.Modelo ecológico do desenvolvimento humano (Bron Feubrenner)

O comportamento humano não pode ser interpretado à margem do contesto em que

surge. A interacção entre pessoa e ambiente constitui o foco principal de atenção da

psicologia da educação baseado no conceito interaccionista.

A perspectiva ecológica exige a análise dos contextos e das relações estabelecidas entre

eles. Só assim é possível chegar a uma compreensão do funcionamento e desenvolvimento

dos seres humanos.

Bronfenbrenner é o representante mais reconhecido da psicologia ecológica e, segundo ele,

o contexto no qual as pessoas se desenvolvem é constituído por uma série de sistemas

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funcionais ou estruturas concêntricas e encaixadas umas nas outras. Com base na

perspectiva ecológica, o conceito de contexto transcende a sua descrição.

O que interessa é o contexto compreendido: a forma como o indivíduo compreende o

contexto em que actua. Assim, podem distinguir-se as seguintes estruturas:

Microssistema: padrão de actividades, papéis e relações que a pessoa em desenvolvimento

experimenta num determinado meio, com características físicas, materiais e particulares

(ex.: a escola);

Mesossistema: compreende as inter-relações de dois ou mais meios nos quais a pessoa em

desenvolvimento participa activamente (ex.: para uma criança são as relações entre a

família, a escola e os amigos do bairro; para um adulto, seriam as relações entre a família,

o trabalho e a vida social);

Exossistema: refere-se a um ou mais meios que não incluem a pessoa em desenvolvimento

como participante activo, mas nos quais se produzem acontecimentos que afectam o que

acontece à sua volta (ex.: o sistema económico e político relativamente à escola);

Macrossistema: refere-se às correspondências em forma e conteúdo dos sistemas de

ordem menor que existam ou poderiam existir, ao nível da subcultura ou da cultura na sua

totalidade, juntamente com qualquer sistema de crenças ou ideologia que sustente estas

correspondências.

Da mesma forma, existem mudanças que se produzem nas pessoas como consequência de

qualquer tipo de educação, a partir das quais é possível estabelecer três categorias:

Educação formal ou educação regulamentada ou escolarização;

Educação não formal é constituída por processos educativos específicos e

diferenciados com uma finalidade clara e objectiva, mas situa-se “à margem” do

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sistema educativo (educação de adultos, formação ocupacional não

regulamentada…);

Educação informal é baseada em processos educativos indiferenciados,

subordinados a outros objectivos e processos sociais, nos quais a função educativa

não é a dominante (ex.: mass media).

Do ponto de vista educativo, o indivíduo, ao longo do ciclo vital, pode passar por uma série

de contextos educativos: família, escolarização formal em todos os seus níveis, formação

profissional e formação continuada, etc.

Assim, analisar um contexto significa fixar-se nas actividades, nos papéis e nas relações em

que uma pessoa intervém.

Os “padrões de actividade” no sistema educativo incluem o comportamento verbal e não

verbal dos professores e dos alunos. As actividades escolares são planificadas, intencionais

e são direccionadas para provocar mudanças no comportamento dos alunos.

Podem variar quanto aos objectivos, complexidade estrutural, adequação às características,

etc. segundo o modelo ecológico, a aquisição de novas capacidades depende,

principalmente, do significado ou intenção que tenham para o sujeito as actividades nas

quais está implicado, assim como a variedade e a complexidade estrutural de tais

actividades.

No que diz respeito aos papéis, são vistos como expectativas de comportamento associadas

à posição que uma pessoa ocupa. Isto implica certas previsões de comportamento.

A sociedade tem distribuído os comportamentos esperados do papel de aluno, de

educador, de pai, etc. Uma mesma pessoa pode desempenhar diferentes papéis: pai,

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profissional, irmão, filho. O conceito de desempenho de papel implica que cada pessoa tem

uma forma especial de o desempenhar.

As relações interpessoais são um ingrediente especial de qualquer microsssistema. No

sistema educativo destacam-se três relações básicas: a interacção educador-aluno, a

relação entre colegas e as relações família-escola.

6.3.Participação da família no projecto educativo e na vida da instituição

educativa

O objectivo comum da família e da instituição educativa é conseguir a formação integral e

harmoniosa da criança. Ao longo das diferentes fases do processo educativo, estas duas

formas de intervir trouxeram referências coerentes e suficiente mente abertas à integração

na cultura e na sociedade. Ambas devem orientar-se na mesma direcção, de forma a

garantir a estabilidade e o equilíbrio, factores indispensáveis a uma formação correcta.

Como consequência, pode afirmar-se que a educação compete ao mesmo tempo a pais e

educadores. Há, portanto, necessidade de uma estreita colaboração, que se reflicta em

acções conjuntas e coordenadas.

Cabem múltiplas funções à família como membro activo da comunidade educativa e social.

Para além da função biológica de reprodução e de transformação cultural, convém salientar

a sua função de agente socializador. O processo de socialização do ser humano pressupõe

determinados elementos ambientais, mediante os quais se accionam os mecanismos

necessários para o seu desenvolvimento.

Numa época não muito recuada, os pais costumavam levar os filhos mais pequenos a um

tipo de instituições que “tomavam conta deles”, enquanto eles trabalhavam. Mais tarde

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passavam para outro centro onde a aquisição de conhecimentos se processava de forma

rápida, a leitura, a escrita, a aritmética, com vista a ficarem preparados para o ensino

obrigatório.

Em ambos os casos se esquecia que o processo de desenvolvimento físico e

neuropsicológico das primeiras idades não é totalmente autónomo, mas encontra-se

estreitamente vinculado ao processo de aquisição dos conhecimentos básicos. Em caso

algum a criança amadurece primeiro e, numa segunda fase, aprende; vai amadurecendo à

medida que se forma e é educado.

Como consequência, a finalidade educativa deve estimular os processos internos do

desenvolvimento integral do indivíduo.

As propostas específicas da escola infantil apresentam formas de integrar a criança. É

indubitável que a escola prepara o homem e a mulher para a sociedade, por isso a sua

tarefa é especificamente social, sem esquecer que não é o único factor responsável dentro

da comunidade educativa.

Os acontecimentos do dia-a-dia marcam os seres humanos; portanto, na preparação para a

vida, deve agir-se mediante experiências directas e indirectas. Na escola as crianças

observam, actuam, investigam; e podem alcançar-se resultados positivos desde que as

propostas docentes tenham relação com as situações e as realidades existentes.

A actuação da escola infantil tem de respeitar as necessidades fundamentais das crianças,

sem alterar a realidade quando procura formas de progredir na aquisição de

conhecimentos. Deve exercitar-se a opinião das crianças com actividades colectivas e ao

mesmo tempo desencadeando situações em que cada indivíduo tenha de agir por si.

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Nas diferentes fases de desenvolvimento verificam-se várias aquisições simultâneas do

ponto de vista orgânico, psicomotores, linguístico, conceptual, afectivo de maneira a que

cada pessoa, de acordo com o seu próprio meio, vai progredindo como indivíduo e membro

da sociedade.

Um programa adequado em termos de desenvolvimento implica interacções positivas entre

os adultos e as crianças. As interacções adequadas em termos de desenvolvimento são

baseadas no conhecimento que o adulto tem das crianças; nas expectativas do

comportamento adequado à idade; na consciência que os adultos devem ter da existência

de diferenças individuais entre as crianças.

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Bibliografia

AA VV., Enciclopédia da psicologia infantil e juvenil, Ed. Lusodidacta, 1995

AA VV., Orientações curriculares para a educação pré-escolar, Ministério de Educação:

Departamento de Educação Básica, 1997

AA VV., Pensar formação – Formação de pessoal não-docente (animadores e auxiliares/

assistentes de acção educativa), Ministério de Educação: Departamento de Educação

Básica, 2003

Dias, J.M., A Comunicação Pedagógica, 3ª ed., Colecção Formar Pedagogicamente, Lisboa,

I.E.F.P, 1993

Fachada, Maria Odete, Psicologia das relações interpessoais, Edições Sílabo, 2010