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MINISTÉRIO DA SAÚDE FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ
CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA
NÚCLEO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA- NESC
PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA: a informação em saúde como uma ferramenta de auxílio no planejamento de ações
(043.41) 11 2003 11
M528p
Ana Paula Melo Nadjanara Alves Vieira
Orientadora: Paulette Cavalcanti Albuquerque
Recife, 2003
~.
-~
Ana Paula Melo
Nadjanara Alves Vieira
PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA:
a informação em saúde como uma ferramenta de auxílio no planejamento de ações
T~abalho de conclusão apresentado como requisito
p~cial à obtenção do título de especialista no Curso
dd Pós-Graduação latu sensu em nível de
E~pecialização em Saúde Pública do Departamento i
d~ Saúde Coletiva NESC/CPqAM/FIOCRUZ/MS,
sop orientação da professora Paulette Cavalcanti de I
A~buquerque.
Recife, 2003.
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~,
MELO, Ana Paula, VIEIRA, Nadj{lnara Alves. Prpgrama de Saúde da Família: a informação
em saúde como qma ferramenta de auxí~io no planejamento de ações. Recife:
NESC/CPqAMIFIOCRUZ, 2003.
\ \
Introdução O Programa de Saúde da Família exigiu mudanças nas concepções de saúde-doença,
favorecendo identificar problemas e situações de risco. Utilizar indicadores sociais, demográficos
e epidemiológicos é fundamental para compreender a dinâmica da comunidade, facilitando uma
atuação de acordo as necessidades. Embora as teorias apontem para a importância da informação
em saúde, observa-se na formação dos profissionais a forte influência do modelo médico
hegemônico que parece contribuir para a precária utilização da informação em ssúde,
favorecendo ações baseadas nas demandas não programadas. Objetivo Conhecer e analisar
estratégias de uso da informação em saúde por Equipes de Saúde da Família no planejamento de
suas ações. Método Estudo exploratório de método qualitativo realizado com profissionais de
duas Equipes de Saúde da Família do Distrito Sanitário H em Recife através de entrevistas semi
estruturadas e análise de dados feita por categorização em eixos temáticos. Resultados A
informação em saúde é utilizada na rotina das equipes, embora este uso seja pontual e seu
conceito confundido. Há conhecimento dos instrumentos de preenchimento, registros e
alimentação dos Sistemas de Informação, porém o trabalho com indicadores é restrito a valores
absolutos da doença, sendo as vivências diárias o principal parâmetro para visualização de
mudanças e planejamento das ações.
r--, SUMÁRIO
Introdução ____________________ 1
Objetivos 4
Objetivo Geral 4
Objetivos Específicos 4
Método 5
Resultados 6
Discussão ____________________________________ 11
Conclusão _____________________ 12
Referências Bibliográficas ________________ 13
Juaexos 15
Juaexo 1: Pôster apresentado para defesa de monografia ____ 16
Juaexo 2: Roteiro de entrevista 17
\.
~,
1
INTRODUÇÃO
Os movimentos de Reforma Sanitária do Brasil que culminaram com a realização da Vllf Conferência Nacional de Saúde em 1986 e a introdução do capítulo sobre saúde na Constituição
Federal de 1988, trouxeram reflexões acerca do modelo de assistência adotado no país. Esses
movimentos foram a base para a criação e implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) que
dentre as mudanças propostas merece destaque a descentralização das ações de saúde e a
territorialização da atenção como estratégias para efetivação de um novo modelo assistencial.
A descentralização e a territorialização possibilitam a localização espacial de problemas
de saúde e a identificação de desigualdades, constituindo-se, assim, uma ferramenta importante
para a implementação de políticas de redução de iniqüidade, favorecendo a efetividade das ações
desenvolvidas pelos serviços de saúde (BRASIL, 2003).
Aproximadm;nente duas décadas após o início da Reforma Sanitária, uma das estratégias
que vêm sendo propostas e utilizadas para buscar por em prática os princípios de univ~rsalidade,
integralidade e equidade do SUS é a introdução no país de programas como o Programa de Saúde
da Família (PSF). O PSF possu~ território de atuação delimitado, número de famílias que devem
ser assistidas previamente estabelecido e ações dirigidas ao núcleo familiar e comunitário
(MACÁRIO, 1999).
Com a implantação do PSF, inaugurou-se uma nova orientação à prática dos profissionais
diferente do modelo biomédico tradicional centrado na doença. O programa, da forma como foi
estruturado, exige dos membros da equipe atribuições relativas a mudanças nas concepções de
saúde. Este tipo de estrutura promove a aproximação com a comunidade e as famílias permitindo
a criação de vínculos entre os profissionais e a população,
Desta maneira, torna-se possível conhecer melhor o processo saúde-doença de cada
território, identificando problemas de saúde e situações de risco aos quais estão expostos cada
comunidade na tentativa de prestar uma assistência integral com participação ativa de todos os
envolvidos no processo. A utilização de indicadores sociais, demográficos e epidemiológicos
para compreensão dessa dinâmica torna-se fundamental, pois permite visualizar o perfil da
comunidade, facilitando uma atuação planejada de acordo com as principais necessidades da
população.
,...........,\
2
A informação em saúde deve ser entendida como um instrumento de apoio para o
conhecimento da realidade sócio-econômica, demográfica e epidemiológica, para o planejamento
e gestão, organização e avaliação nos vários níveis que constitui o Sistema Único de Saúde e
toma-se a matéria-prima para a tomada de decisões. O conhecimento do perfil de morbidade e
mortalidade de comunidades e populações, os determinantes do processo de adoecimento e suas
necessidades podem gerar indicadores de saúde que ajudam os profissionais a possuir um
conhecimento mais real dos problemas buscando soluções de acordo com cada realidade
(CARVALHO & EDUARDO, 1998; MOTA & CARVALHO, 1999).
Alguns estudos têm ressaltado a necessidade do estabelecimento de novos processos de
disponibilização dos dados, criando mecanismos facilitadores do acesso aos técnicos, gestores e
população em geral, como forma de promover a apropriação do conhecimento em saúde. Outros
estudos recentes têm enfatizado a importância da descentralização do uso da informação nos
municípios acompanhando o processo de reestruturação no sistema de saúde que vem ocorrendo
desde a criação do SUS (BRANCO, 1996, 2001; ABRASCO, 2000).
Este estudo ressaltará a informação em saúde como aquela baseada em dados sobre a
situação de saúde ou doença de uma dada população, bem como informações relativas às
condições de vida que, a partir de seu manejo, possam servir de subsídios para o conhecimento da
realidade sanitária de uma comunidade e podendo ser usada como ferramenta para o
planejamento e avaliação de ações. (BRANCO 2001)
A crescente utilização das informações em saúde no planejamento e gestão das ações e
serviços não só possibilita um melhor conhecimento do contexto político e modelo assistencial
adotado, como também a forma como é utilizada toma-se conseqüência e reflexo desses fatores.
Por esta razão toma-se um instrumento catalisador de mudanças oferecendo subsídios para a
reestruturação dos serviços, planejamento e avaliação de ações nos diferentes níveis de atenção à
saúde (BRANCO, 1996),
Apesar dos diversos Sistemas de Informação em Saúde existentes e das discussões sobre a
importância do uso da informação pelos profissionais nos diversos níveis de atenção, percebe-se
que o volume de informações geradas pelo Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) não
tem sido priorizado nas apresentações de dados e informações, como por exemplo em boletins
epidemiológicos tais como o Informe Epidemiológico do SUS.
3
Embora as teorias apontem para a importância da informação em saúde para o
planejamento e gestão das ações e serviços, observa-se na formação dos profissionais de saúde a
forte influencia do modelo médico hegemônico centrado na doença. Este fato e a proximidade
que os profissionais responsáveis pelas intervenções na comunidade têm do fenômeno de
adoecimento e morte da população, parecem contribuir para uma precária utilização da
informação em saúde por estes profissionais, o que favorece a realização de ações assistenciais
baseadas em demandas imediatas não programadas.
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4
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL:
Conhecer e analisar as estratégias de acesso e uso das informações em saúde por Equipes
de Saúde da Família do Distrito Sanitário H do Recife no planejamento de suas ações.
OBJETNOS ESPECÍFICOS:
1. Conhecer os instrumentos de registro de dados e informações mais utilizados pelos
profissionais de uma equipe de saúde da família;
2. Verificar o conhecimento destes profissionais com relação às formas de acesso, variedade e
manuseio das informações em saúde;
3. Conhecer em que situações as equipes de saúde da família têm utilizado a informação em
saúde;
~,
5
MÉTODO
Este estudo teve a característica de um estudo exploratório baseado em metodologia
qualitativa onde a saturação do discurso toma-se um elemento importante para apreender ou
intuir sobre a semelhança dos fatos ou fenômenos investigados.
Foram realizadas sete entrevistas semi-estruturadas com profissionais de duas Equipes de
Saúde da Família do Distrito Sanitário Il do Recife, representantes das seguintes categorias: l
médico, 2 enfermeiros, 2 auxiliares de enfermagem e 2 agentes de saúde. A motivação para a
escolha desse Distrito Sanitário ocorreu a partir do vínculo profissional com esta instituição que
possuía uma das pesquisadoras, facilitando o acesso e o contato com as profissionais
participantes.
Houve recusa em participar da entrevista por um profissional da categoria médico de uma
das equipes contactadas que optou por responder as perguntas do roteiro por escrito, as respostas
foram coletadas, porém não estão sendo consideradas neste estudo por diferir da metodologia
adotada com os outros profissionais participantes,
Nas entrevistas foram abordados temas como estruturação e funcionamento da Unidade e
Equipes de Saúde da Família, conhecimento e manuseio da informação em saúde, análise de
dados de saúde, fluxo de informações na unidade de saúde, planejamento e avaliação das ações.
Elaborou-se um roteiro de entrevista que serviu de subsídio para a realização de todas as
entrevistas podendo haver modificações no decorrer da entrevista para melhor exploração e
desenvolvimento dos temas.
Para o registro e análise dos dados, as entrevistas foram gravadas e transcritas realizando
se posteriormente leituras e categorização dos dados coletados em eixos temáticos, elencando-os
com base nos objetivos do estudo. Além disso, foram realizadas observações diretas nas duas
Unidades de Saúde onde atuam os profissionais registrando, a partir de anotações, as informações
relevantes para o estudo.
.~.
6
RESULTADOS
Em relação ao conhecimento da situação de saúde a partir dos números que descrevem a
área, de um modo geral houve referência às famílias cobertas, hipertensos, diabéticos, gestantes e
crianças menores de dois anos.
"'ACS1: Eu tô agora com umas seis gestantes, 45 hipertensos com a rua que vai entrar tem mais três. Estou com 11 crianças menores de dois anos, uma recém nascida de dias, duas mulheres de três meses, 17 diabéticos."
Alguns profissionais não souberam informar de imediato ou não tinham muita segurança
dos números, tendo que recorrer ao relatório mensal da equipe para informar mais seguramente.
"E: Assim, por exemplo, você sabe quantas pessoas têm na sua área? No total?
ACS1: Eu creio que tem mais de 1000. Será que eu tenho mais de 1000? Eu fiZ uma estatística dessa um dia desses. Eu tenho até que fazer outra né? Todo ano a gente tem que fazer esse levantamento." (O número médio de pessoas por microárea é de 575)
~'ENF1: Abaixo de um ano nós temos .... porque fica mais fácil... eu não posso filar pelo relatório não, não é?"
No que se refere ao entendimento dos profissionais sobre o conceito de informação em
saúde, foi possível perceber que o mesmo é fortemente vinculado a orientações e recomendações
sobre cuidados com a saúde.
"ENF2: Informação em saúde é o que a gente vai passar, o que a gente passa com relação à prevenção, as orientações que a gente dá para que eles entendam o que é saúde em geraL •. "
"ENF1: Eu costumo sempre dizer que tudo na vida é informação •.• ,,
"'ACS2: Informação em saúde é a gente levar informação para pessoas carentes •.. "
"AE2: É muita coisa informação em saúde. (. •. ) Pra mim informação é o camarada tá bem como diz a história deixar de ser ignorante.,,
Apenas em uma das entrevistas houve referencia à informação em saúde na perspetiva do
trabalho com dados sobre a situação de saúde ou doença da população.
"MED2: Através da informação, dos dados que a gente tem, das fichas que a gente preenche mês a mês, isso dá uma base muito boa para a gente poder ter uma noção do que tem na área~ de como a gente vai programar as ações, de como a gente vai trabalhar. Eu acho que a
.·~
7
informação, os dados são extremamente importantes para o planejamento mesmo das ações na Unidade."
As mudanças na situação de saúde da área foram descritas como sendo percebidas a partir,
principalmente, de experiências de trabalho da cada uma delas na vivência diária, observações
das famílias e evolução dos usuários do serviço.
"ACSJ: Eu nunca cheguei a comparar não, mas a gente analisando a gente sabe, olhando a gente sabe."
"MED2: (. •• ) no final das semanas eu sempre pergunto sobre as doenças que eles mais viram na área, por exemplo. Agora mesmo a gente está num surto de escabiose que é uma coisa de louco. Hoje mesmo eu peguei uns oito casos de escabiose, quase todo mundo que procurou a consulta foi com escabiose e assim a gente pega isso e começa a trabalhar, naquela área tem muitos casos de escabiose então vamos lá fazer uma ação, começar a ir de casa em casa, ver e catar os casos."
Da mesma maneira, o planejamento e avaliação pelas equipes tem ocorrido a partir dessas
experiências não havendo programação de ações de acordo com o perfil epidemiológico da
população. O planejamento é relacionado freqüentemente nas falas como preparação de
atividades de prevenção, organização da rotina do serviço ou resolução de casos específicos; e
avaliação entendida, em alguns casos, como acompanhamento de casos específicos ou análise
realizada externamente à Unidade de saúde.
~'ACS2: A gente usa assim palestras. Na reunião administrativa a gente programa palestra sobre tuberculose. E: Além dessas palestras vocês chegam a planejar outras ações? ACS2:Assim, com hipertenso, idoso, a gente planeja caminhada, passeio.''
"ENFJ: A gente quinzenalmente senta, pega aqueles casos que a gente discute na semana, os que precisam de uma atenção a mais, mais urgente, mais próxima e contínua."
"MED2: É, a gente dá uma avaliada assim, depois a gente volta, vê como é que está, como é que está se comportando aquele tipo de problema naquela comunidade, mais uma avaliação qualitativa. Não, quantitativa a gente vê se tem novos casos e taL Não tem nada muito registrado, é mais uma percepção da equipe mesmo.'~
"lE: Vocês chegam a avaliar as ações que vocês desempenham? De que forma? ENF2: Como a gente vê o desempenho do que a gente está passando.(. .. ) Com os idosos a gente vê retorno, a gente sente como é que está, se a dieta mudou. Quando a gente senta para avaliar a gente vê se realmente foi válido ou não."
8
uENF2: A gente é sempre avaliado. De vez em quando tem uns questionários aqui sendo aplicados."
Não foi referido o uso de parâmetros de comparação que descrevessem ou indicassem as
mudanças na saúde coletiva da área de atuação, sendo importante destacar que o trabalho com
números ou indicadores de saúde é realizado com base em valores absolutos da doença ou agravo
naquela população ou comunidade, não sendo realizados cálculos ou estimativas para a
compreensão da distribuição da doença na população.
"'E: E informação em saúde em termos de números, de estatísticas de saúde, você usa no seu trabalho? AE2: Não, no momento não. E: Em momento algum você chega a usar? AE2: Não. O que a gente usa assim em termos de números é no final do mês eu sei te dizer quantos curativos, quantas injeções nos meus procedimentos.,,
Os instrumentos para registro de informações referidos foram: Boletim Diário de
Atendimento (BDA), Ficha A de cadastro de famílias no SIAB, Ficha B do SJAB para
acompanhamento de hipertensos, diabéticos e gestantes, casos de Tuberculose e Hanseníase,
Ficha de acompanhamento do Projeto Cidadão Recife 1 e 2, Relatório de Produção e de
Marcadores para Avaliação 2 (PMA2), Relatório de Atividades do ACS, Terminal de
Atendimento do SUS (TAS) e Livro de Registro Diário das Atividades do ACS.
uAEJ: Todo mês a gente manda um relatório com os procedimentos que a gente faz, uma parte fica no TAS.''
'~CS2: A gente usa a ficha do Projeto Cidadão 1 e 2, gestante(. •. ) a gente tem também a ficha de hipertensão e diabetes."
"ENF2: A gente tem os BDAs que é diário e a gente coloca tudo que a gente fez, visita, consulta, visita de criança, visita de pré-natal, prevenção e tem o relatório mensal.,"
'"MED2: a gente utiliza o relatório mensal, o consolidado mensal que é o que a gente faz, utiliza aquelas fichas, ficha B, ficha de gestante, ficha de hipertenso, diabético, basicamente esses a gente interpreta mais."
Há um conhecimento restrito dos Sistemas de Informação em Saúde e o SIAB foi o mais
citado quando o assunto foi abordado. Contudo o conhecimento acerca do mesmo pareceu estar
restrito ao preenchimento das fichas de alimentação do sistema.
E: Você já ouviu falar no SIAB?
ACSJ: Eu já ouvi falar, mas o que é mesmo assim mastigadinho eu não sei não.
E: Você conhece o SIAB que é o sistema de Informação da Atenção Básica? ENF2: Não, a gente só preenche a ficha né?
ENFJ: Normalmente o que a gente mais usa é o SIAB mesmo. E: Você chega a mexer nele?
9
ENF: Não, usualmente não. Só uma vez que a gente foi fazer uma pesquisa que precisou, mas fora isso... Quando as cobranças vêm, que a gente tem que fazer alguma coisa ... mas usualmente não.
O fluxo das informações segue a seguinte ordem, de acordo com as descrições e
observações realizadas: o distrito Sanitário envia os impressos e as fichas dos Programas para as
Unidades de Saúde da Família onde os profissionais preenchem e encaminham de volta para
serem digitados e enviados a Secretaria de Saúde. As profissionais relataram que a
retroalimentação desse fluxo não tem ocorrido de forma sistemática, acontecendo apenas em
momentos específicos, como por exemplo na epidemia de dengue de 2002 e em uma discussão
sobre a mortalidade infantil no município em 2003.
E: O Distrito chega a mandar algum tipo de informação pra vocês de como está a área? ENF2: Mandava como é que estava mesmo. No caso sempre vinha sobre os projetos, crianças desnutridas na área, quantas? As notificações que a gente manda no finaL .• Não é sempre. Não mandam sempre não, mas de vez em quando a gente recebe como é que anda. No caso, teve dengue naquela época aí eles mandavam como é que foi na área, quantos ali pelas notificações.
Não foi observado em exposição nas Unidades de Saúde visitadas instrumentos como
mapas, gráficos ou outros que demonstrassem dados da situação de saúde-doença das áreas,
embora os profissionais das duas equipes tenham referido e demonstrado a existência e confecção
de mapas da comunidade.
E: Vocês têm mapa da área aqui na Unidade? ACSJ: Tem um mapa que a gente fez da área todinha. Eu tenho o meu só, mas F. fez um como se fosse tudinho, com CEP e tudo. E: Fica aí exposto na Unidade? ACSJ: Tava lá na sala que ela atende.
ENF: A gente tem um mapa aqui, que por sinal eu até tirei da parede. .•
Foi apresentado por ambas as equipes um Diagnóstico de Área construído no ano de
2001, os quais continham informações sobre historia da comunidade, localização geográfica,
10
distribuição populacional por faixa etária e sexo, condições sócio-ambientais, distribuição de
casos de hipertensão, diabetes, aleitamento exclusivo, vacinação e adolescentes grávidas com
alguns gráficos, tabelas e algumas distribuições percentuais.
11
DISCUSSÃO
A implantação de um modelo de assistência a saúde que busca romper com algumas
concepções de sujeito, saúde e doença hegemônicas na sociedade exige dos técnicos, gestores e
população esforços que extrapolam a implantação de uma estratégia como o Programa de Saúde
da Família e o desejo da efetivação da mudança. Os resultados apresentados trazem a tona
reflexões acerca da força com que tais concepções continuam a influenciar na prática dos
profissionais de saúde, especificamente profissionais de Equipes de Saúde da Família cuja
estruturação do programa e normatizações das ações buscam a efetivação de um modelo de
atenção voltado para ações de promoção a saúde orientadas pelas necessidades sociais e
epidemiológicas das comunidades atendidas.
O conceito de informação em saúde é entendido de forma limitada e as concepções de
orientação utilizadas para descrevê-lo parecem estar ancoradas nas práticas higienistas e
intensidade com que o saber médico é colocado para a população.
A percepção dos problemas através das experiências vivenciais toma-se um fator
fundamental para atuação das equipes do PSF e podem refletir o grau de vinculo estabelecido
entre profissionais e comunidade. O a proximidade com da população favorece a visualização de
novas situações a partir das quais podem ser buscadas estratégias de ação e controle. Porém a
importância deste fator não diminui a necessidade de realizações periódicas de planejamento e
avaliação de ações a partir de indicadores sociais, demográficos e epidemiológicos da área, pois
este tipo de manuseio da informação em saúde favorece uma visão ampliada dos problemas
permitindo comparar situações e efetivar mudanças na saúde coletiva.
Salienta-se a importância do retomo da informação dos níveis gerenciais para os serviços
incentivando a discussão e utilização da mesma para comparação e localização da situação da
área de atuação dentro do Distrito Sanitário, Município ou outras localidades e, principalmente,
para o planejamento e gestão das ações na Unidade de Saúde da Família.
É válido destacar ainda a importância da apresentação sistemática e atualizada dos
produtos do manuseio dos dados de saúde da área, tais como mapas e gráficos, na própria
Unidade de Saúde ou pontos estratégicos da comunidade de forma que seja facilitada a
visualização e conhecimento por parte da população ampliando assim a responsabilidade sanitária
e favorecendo as estratégias de controle social.
12
CONCLUSÃO
As profissionais entrevistadas têm utilizado a informação em saúde na rotina de suas
ações, conhecendo os instrumentos de registro de dados, preenchimento e alimentação dos
Sistemas de Informação. As informações são utilizadas de forma pontual e extremamente
localizadas por microáreas, havendo dificuldade para realização de análises sistemáticas de
dados, planejamento e avaliação de ações baseadas em indicadores de saúde.
A lógica da assistencial privilegiada na formação do profissional de saúde têm sido um
obstáculo nas tentativas de mudanças no modelo de atenção. O Desafio colocado tem sido a
inovação das ações extrapolando a simples aplicação de técnicas e normas, rompendo com a
lógica hegemônica e incorporando a noção de vigilância a saúde baseada na coleta sistemática,
consolidação e análise dos dados e disseminação da informação de forma a inaugurar
efetivamente as práticas de promoção a saúde (FREITAS, 2003).
Assim, há que se considerar a importância do uso das informações em saúde pelos
profissionais como uma maneira de auxiliar na mudança do modelo de atenção e cumprimento
dos princípios do SUS, pois apenas com o conhecimento da realidade sanitária de cada território
é possível planejar ações preventivas, de controle e de promoção social de forma coerente com as
necessidades.
A análise qualitativa realizada através desse estudo pretendeu gerar discussões e trazer
indícios sobre a utilização da informação em saúde na prática dos profissionais das Equipes de
saúde da família, porém é importante destacar a impossibilidade de generalização dos resultados
obtidos já que os mesmos foram baseados numa análise de situação específica que favoreceu o
levantamento das questões aqui apontadas.
13
REFERENCIAS BffiLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SAÚDE COLETIVA. Grupo Técnico de Informação em
Saúde e População. Sistemas de Informação, captura da diversidade dos problemas de saúde e
contribuição dos diferentes campos de informação e conhecimento para o planejamento, gestão,
cuidado e proteção à saúde. Conferência Nacional de Saúde, 11 a, Brasília, 2000. Termos de
Referência para desenvolvimento dos subtemas. Disponível em
http://www.grupogices.hpg.ig.corn.br/SubteCNSSISinforma.html. Acesso em 9 out. 2003.
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Disponível em http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci arttext&pid=SO 102-
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Discussão da Situação atual. Informe Epidemiológico do SUS. Brasília, v. 4, out./dez., p. 27-33
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\
14
MACÁRIO, Eduardo. O Programa de Saúde da Família Como lndutor de Mudanças no
Modelo de Atenção à Saúde: a experiência do Cabo de Santo Agostinho. Recife:
NESC/CPqAM/FIOCRUZ, 1999.
MOTA, E, CARVALHO, Dia Mara. Sistema de Informação em Saúde. IN: ROYQUAROL,
Zélia, ALMEIDA FILHO, Naomar. Epidemiologia e Saúde. Rio de Janeiro: MEDSI, 1999.
Conbeclmento da situação de saúde da área:
"ACS1: Eu ttJ agora com umas seis gestantes, 45 hipeitensos com a 1UQ que vai entrar tem mais três. Estou com 11 crianças
~is anos, uma recém nascida de dias, duas muDzeres de trls meses, 17 diabéticos. "
"ACS1: Eu creio que tem mais de 1000. Será que eu tenho mais de 1000?''
~aixo de um ano nós temos .... porque fica mais fácil .. eu niJo posso filar pelo relatório nllo, nllo é?"
C.-.ceito de informaçã.o em saúde confundido com a orientação sobre cuidados de saúde:
"ACSJ: Eu mmca cheguei a comparar nflo; mas-a genté ana/i~ p gente sabe, ·ofhando.a geirte,sabe:"
"ENFJ: A gente quinzçna/mente senta, pegaaque/eso~ que.ii'Kenf~.d(.~ ~-.~~:fu:.~~J,_recis{lm. di: f1111q0t~ -~·.·: ·-·.<-' .·: ":·'_ ~': .. ·.•. . ,.·.. ;
a mais, mais urgente, mais próxima e continua "
"MED2: É, a gente dá uma (IVQ/iada assim: depois a gente volta, vê como é que ~s/6, comO· .é r/ú'e e~4 se comport~
aquele tipo de problema naquela comunitkde, mais uma avaliaçllo qualitativa. Nilo, qtiQnlitativa a geitte vi. se tem no~
casos e tal Não tem nada muito registrado, é mais uma percepçikJ da equipe mesmo."
do que a gente está passando.(. . .) Com os idosos a gente vê retomo, a gente sente
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Roteiro de Entrevista:
I. Como você poderia descrever a sua área em números? (qual o perfil da sua área, das
doenças, do ambiente?)
2. Qual o número de gestantes e crianças menores de um ano da sua área?
3. A informação em saúde tem sido utilizada nas reuniões de Equipe de Saúde da Família?
De que forma?
4. Quais são os indicadores de saúde mais utilizados pela Equipe de Saúde da Família? ·
5. Quais são os instrumentos que você (s) utilizam para visualizar informações? (mapas,
gráficos, SIS etc)
6. Quais os Sistemas da Informação em Saúde que você conhece?
7. Você usa algum Sistema de Informação em Saúde? Qual? Quando? Com que objetivo?
8. Como é o seu acesso aos Sistemas de Informação em Saúde? Quais são as dificuldades
e fapilidades de acesso?
9. Como é realizado o planej!iffiento das ações na Equipe de Saúde da Família? - ..
10. Como são realizadas as avaliações das ações nas Equipes de Saúde da Família?
11. Você já viu e/ou utilizou um relatório do SIAB?
.12. Em que momentos a informação em saúde é utilizada em seu trabalho? Que
importância você ~tribuiria a este uso?
I~. Conio é ,feita a apresentação das informações trabalhada para a população?-·
.· ~ -_ .. ,. .....~_ .....
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