Projeto de Doutorado_edital IdA UnB 1o 2011

882019 Projeto de Doutorado_edital IdA UnB 1o 2011

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UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

INSTITUTO DE ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES VISUAISPROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ARTE

EDITAL No 012010

SELECcedilAtildeO PARA O PROGRAMA DE POacuteS- GRADUACcedilAtildeO EM ARTE (PPG-ARTE)

CURSO DE DOUTORADO

Projeto de pesquisa

hackeamento eacutee diferenccedila

filosofia da arte da reprogramabilidade e da dissidecircncia tecnoloacutegica

Candidato Daniel de Souza Neves Hora

Linha de pesquisa Arte e Tecnologia

BRASIacuteLIA 2010



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Introduccedilatildeo

O projeto de pesquisa de doutorado que aqui se apresenta estaacute dedicado ao aprofundamento

de reflexotildees derivadas da dissertaccedilatildeo desenvolvida entre 2008 e 2010 ao longo do curso de

mestrado do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Arte do Instituto de Artes da UnB Dessa etapa inicial

de investigaccedilatildeo assumimos agora como ponto de partida as relaccedilotildees entre a arte e o hackeamento

com base no pensamento sobre a diferenccedila para realizar consecutivamente um estudo sobre as

implicaccedilotildees dessa associaccedilatildeo para a filosofia da arte

A partir dos resultados obtidos com a revisatildeo teoacuterica e as anaacutelises de casos realizadas no

mestrado propomos a ampliaccedilatildeo do conjunto dessas referecircncias para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese de

emergecircncia de uma arte da reprogramabilidade da diferenccedila e da dissidecircncia tecnoloacutegica Essa arte

se revelaria na produccedilatildeo que se situa como cadeia contiacutenua de atualizaccedilotildees de virtualidades

tecnoloacutegicas conforme a definiccedilatildeo de hackeamento dada por McKenzie Wark (2004)

Nesse sentido pretendemos considerar os efeitos das tensotildees entre modelos de controle

restritivo e de abertura libertaacuteria exercitados nas expressotildees e apropriaccedilotildees da diferenccedila agenciada

pela (e na) tecnologia Seratildeo portanto observados os conflitos que opotildeem linhas de propagaccedilatildeo do

hackeamento a barreiras de contenccedilatildeo de seus valores de autonomia natildeo-linearidade e

descentralizaccedilatildeo Desse modo examinaremos como a filosofia da arte pode se conjugar com os

arranjos de produccedilatildeo e fruiccedilatildeo da arte caracterizados pela disponibilidade para a reprogramaccedilatildeo

operacional e conceitual Tambeacutem abordaremos as relaccedilotildees no sentido exatamente inverso

Com esses propoacutesitos projetamos uma pesquisa atenta aos fatores antecedentes e correntes

para o quadro estudado tanto no que diz respeito ao pensamento quanto ao fazer artiacutestico Eacute de

nosso interesse o periacuteodo concomitante com a ascensatildeo da cultura hacker (ou do hackeamento)

deflagrada no final dos anos 60 Sobretudo seraacute alvo de maior atenccedilatildeo a produccedilatildeo artiacutestica das

deacutecadas mais recentes em que a disseminaccedilatildeo da chamada cultura livre (LESSIG 2004) absorve para as diversas categorias de obras intelectuais os ideais de abertura adaptabilidade e

compartilhamento semeados inicialmente no campo da programaccedilatildeo de softwares

Justificativa

Na sociedade global contemporacircnea a organizaccedilatildeo do desenvolvimento e do uso das

tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo se apresenta como um dos temas mais relevantes para a

investigaccedilatildeo das ciecircncias humanas O fato se justifica pela influecircncia que as disputas entre osinteresses coletivos e privados de apropriaccedilatildeo dessas tecnologias exercem nos arranjos de produccedilatildeo



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e distribuiccedilatildeo do conhecimento riquezas bem-estar afirmaccedilatildeo da subjetividade e poder

Nesse cenaacuterio a arte tecnoloacutegica e ciberneacutetica revela praacuteticas e ideias dissidentes e

subversivas em relaccedilatildeo a determinados usos e valores incutidos na telemaacutetica e biotecnologia entre

outras disciplinas recentes ou emergentes Ao transferir para o territoacuterio artiacutestico o debate eacutetico e

poliacutetico sobre o saber teacutecnico e os limites de sua utilizaccedilatildeo artistas designers programadores

teoacutericos cientistas engenheiros e outros agentes revisam o histoacuterico criacutetico das vanguardas

Inserem entatildeo os seus trabalhos no contexto de redes hiacutebridas que rearticulam os sentidos

tradicionais das noccedilotildees de centro e periferia local e global abundacircncia e precariedade inovaccedilatildeo e

obsolescecircncia

O hibridismo contemporacircneo entre arte ciecircncia tecnologia e comunicaccedilatildeo se apresenta

como desafio para o pensamento ligado a uma arte que cada vez mais reitera sua predileccedilatildeo pelo

tracircnsito sobre (e por entre) as margens Essa situaccedilatildeo intermediaacuteria e ambiacutegua de diluiccedilatildeo em

domiacutenios ateacute entatildeo alheios se coloca como problema haacute deacutecadas para os teoacutericos Eacute ela que suscita

a tese de fim da histoacuteria da arte defendida por Arthur Danto (2006a 2006b) e outros autores que

significaria o abandono das categorias tradicionais de afirmaccedilatildeo e narrativa artiacutestica propaladas

desde a modernidade ocidental

A questatildeo torna-se mais complexa quando sobre o saber fazer da representaccedilatildeo pictoacuterica satildeo

seguidamente adicionadas capacidades de mediaccedilatildeo que se projetam desde a reprodutibilidade pela

maacutequina e a induacutestria da fotografia e do cinema (BENJAMIN 1994) ateacute a simulaccedilatildeo e interaccedilatildeo

com imagens sintetizadas pela programabilidade das combinaccedilotildees numeacutericas (COUCHOT 2003)

Aleacutem disso se por um lado a codificaccedilatildeo dos signos impotildee um sistema ciberneacutetico de comunicaccedilatildeo

que conecta a sensorialidade e a expressatildeo humana com as operaccedilotildees de registro processamento e

expressatildeo das miacutedias digitais por outra parte a codificaccedilatildeo geneacutetica se estabelece como campo de

exploraccedilatildeo das bases da vida orgacircnica Nesse contexto de agenciamentos ciborgues importam mais as linhas de naturalizaccedilatildeo do

artefato e de artificializaccedilatildeo da natureza do que as oposiccedilotildees binaacuterias entre o natural e o artificial

Pois os estaacutegios tecnoloacutegicos da maacutequina da induacutestria e das redes informacionais e

comunicacionais conforme a classificaccedilatildeo de Andreacute Lemos (2004) se desdobram em produtos

sinteacuteticos e de bioengenharia que remetem constantemente a um processo de transformaccedilatildeo

contiacutenua acompanhado por dominaccedilatildeo e resistecircncia seus entusiastas e seus dissidentes

Nesse sentido o hackeamento nos proporciona uma via de compreensatildeo dos fenocircmenosencadeados de mudanccedila Conforme McKenzie Wark (2004) esse conceito abrange todos lances de



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abstraccedilatildeo que alteram a tecnologia e seu efeito na realidade Lances executados como movimentos

de experimentaccedilatildeo coletiva que ultrapassam ou desviam as regras restritivas da operacionalidade

programada dos dispositivos

O hackeamento eacute conforme o autor a atualizaccedilatildeo das virtualidades funcionais e pode se

manifestar em campos tatildeo diversos como a filosofia a arte e a biologia Trata-se ainda da produccedilatildeo

heterogeneacutetica da diferenccedila que se contrapotildee ao consumo domesticado dos pacotes de tecnologia

regulados por foacutermulas comerciais No entanto apesar da tendecircncia contra-hegemocircnica o

hackeamento se encontra tambeacutem sob risco frequente de submissatildeo a forccedilas que invertem seu

sentido de ruptura e absorvem-no no aprimoramento da eficiecircncia dos sistemas de controle

Nesse contexto em que o hackeamento se torna referecircncia praacutetica e conceitual extensiva da

operacionalidade telemaacutetica (loacutegica e teacutecnica) agraves micropoliacuteticas da cultura digital eacute de se esperar a

sua disseminaccedilatildeo em diversas reflexotildees Alguns estudos apresentados na revisatildeo de literatura a

seguir abordam direta e indiretamente a noccedilatildeo de hackeamento e valores da cultura hacker

sobretudo no campo dos estudos da comunicaccedilatildeo e das ciecircncias sociais Falta no entanto no

Brasil um aprofundamento desse conceito no campo da filosofia da arte no que diz respeito agraves

reiteradoras relaccedilotildees com a produccedilatildeo artiacutestica afeita agrave tecnologia

O trabalho de artistas e coletivos como Critical Art Ensemble jodi Electronic Disturbance

Theatre Lucas Bambozzi e Rede Metareciclagem satildeo exemplos dessa produccedilatildeo vinculaacutevel agrave ideia

de hackeamento A partir dessa lista pretendemos seguir com a identificaccedilatildeo e anaacutelise de casos que

nos ajudem a pensar emergecircncia de uma arte da reprogramabilidade da diferenccedila e da dissidecircncia

tecnoloacutegica Nosso intuito eacute verificar ainda de que modo o hackeamento contribui para a

reconfiguraccedilatildeo das dinacircmicas de reconhecimento e de valoraccedilatildeo daquilo que eacute admitido como arte

em um contexto em que a tecnologia pode tanto ser usada como mediaccedilatildeo da sociedade de controle

quanto pode habilitar intervalos de liberaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo autocircnoma e divergente

Objetivos

O objetivo geral da pesquisa eacute

1) verificar a hipoacutetese de emergecircncia de uma arte da reprogramabilidade da diferenccedila e da

dissidecircncia tecnoloacutegica

Os objetivos especiacuteficos da pesquisa satildeo

1) identificar as referecircncias teoacutericas e praacuteticas a partir das quais se torna possiacutevel pensar aemergecircncia dessa arte da reprogramabilidade 2)analisar detalhadamente casos



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criteriosamente selecionados entre essas referecircncias 3) considerar como os conceitos da

diferenccedila do dissenso e da reprogramabilidade tecnoloacutegica devidamente definidos

podem orientar o reconhecimento e a valoraccedilatildeo da produccedilatildeo artiacutestica no contexto global

contemporacircneo 4) contribuir com a produccedilatildeo do pensamento referente agrave arte com uma

metodologia de pesquisa pautada pelo compartilhamento a colaboraccedilatildeo e a abertura

Revisatildeo da Literatura

O hackeamento1 eacute um conceito difundido a partir da informaacutetica cujos sentidos diversos

inspiram apropriaccedilotildees poliacuteticas e disputas sobre a sua legitimidade Embora seja facilmente

identificado com a invasatildeo iliacutecita de computadores por meio de acesso remoto via rede o

hackeamento significa basicamente a exploraccedilatildeo dos limites daquilo que eacute previamente considerado

possiacutevel ou admissiacutevel (STALLMAN 2002 RAYMOND 2003) Para natildeo ser confundida

diretamente com o roubo ou corrupccedilatildeo de arquivos digitais essa forma de experimentaccedilatildeo costuma

ser distinguida dos atos criminosos denominados como cracking que envolvem o uso da tecnologia

mas nem sempre satildeo derivados de algum tipo de hackeamento

Essa desvinculaccedilatildeo do hackeamento com o cracking se fundamenta em uma eacutetica defendida

pela comunidade hacker Entre suas premissas estatildeo a apologia do compartilhamento e da

liberdade de informaccedilatildeo (RAYMOND 2003) que se aliam agrave aposta na descentralizaccedilatildeo do

controle agrave descrenccedila nas autoridades agrave confianccedila nas possibilidades de criaccedilatildeo e de aprimoramento

das condiccedilotildees de vida com ajuda da tecnologia e agrave disseminaccedilatildeo desse conjunto de ideias para

outras atividades culturais (LEVY S 2001)

Conforme Douglas Thomas (2002) o hackeamento natildeo abarca apenas a compreensatildeo e

exploraccedilatildeo do funcionamento dos aparelhos e das interaccedilotildees que com eles mantemos Tambeacutem

engloba as relaccedilotildees humanas amparadas em suas estruturas Para o autor o valor contracultural dohackeamento reflete primariamente sua interferecircncia em duas funccedilotildees sociais da telemaacutetica a de

guardar e a de desvelar os segredos Em face do poder tecnoloacutegico crescente das corporaccedilotildees

multinacionais e dos complexos militares e estatais em um mundo repleto de senhas a tecnologia eacute

apropriada pelo hackeamento como sala de jogos e meio de experimentaccedilatildeo dos caminhos culturais

de contestaccedilatildeo (ou de aderecircncia) agraves condiccedilotildees socioeconocircmicas dominantes

1 Os dicionaacuterios de liacutengua portuguesa registram apenas o termo hacker proveniente do inglecircs que designa oldquoentusiasta de computador aquele que eacute perito em programar e resolver problemas com o computador pessoa que

acessa sistemas computacionais ilegalmenterdquo (HOUAISS 2010) Na falta de aportuguesamento ou registro dederivaccedilotildees da palavra adotamos a expressatildeo hackeamento como traduccedilatildeo para os substantivos equivalentes agrave accedilatildeodos hackers (hacking ) e ao seu resultado (hack ) Traduzimos ainda a forma flexional to hack como hackear verboque teria conjugaccedilatildeo semelhante agrave de recensear



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Paul Taylor (1999) diagnostica a ambivalecircncia social do hackeamento Por um lado recai

sobre a contracultura hacker a figura de bode expiatoacuterio da sensaccedilatildeo generalizada de

vulnerabilidade incutida pela presenccedila difusa de tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

insuficientemente seguras no cotidiano Por outro eacute essa mesma capacidade de subversatildeo e rebeldia

que alivia o receio do advento de uma ditadura ciberneacutetica consumista O hackeamento representa

entatildeo uma praacutetica ao mesmo tempo temida e suportada Por sua natureza escorregadia seu

acolhimento se transforma conforme as circunstacircncias com as quais se relaciona

O hackeamento resiste portanto como conveniecircncia inconveniente Para Andreacute Lemos

(2004) apesar do risco de atitudes tecnoelitistas por parte de seus praticantes mais capacitados o

hackeamento responde pela produccedilatildeo de uma despesa eletrocircnica um excesso de dados que sustenta

uma possibilidade de resistecircncia contra a tecnocracia e a loacutegica utilitaacuteria da acumulaccedilatildeo econocircmica

Essa capacidade contra-hegemocircnica se exercita pelo micropoder das apropriaccedilotildees prosaicas obtidas

frequentemente pelo truque e o contrabando de signos de linguagens e de conexotildees Essas vias de

consumo produtivo esvaziam o totalitarismo da submissatildeo aos programas dos dispositivos e

estabelecem relaccedilotildees dialoacutegicas entre finalidades funcionais e formas poliacuteticas e psicoloacutegicas

No aspecto poliacutetico ressaltamos as mudanccedilas socioeconocircmicas impulsionadas pelo

hackeamento Em primeiro lugar encontramos a observaccedilatildeo de Pekka Himanen (2001) sobre a

substituiccedilatildeo da eacutetica protestante do trabalho de Max Weber pela ideologia comunitaacuteria do

hackeamento Nessa nova situaccedilatildeo o trabalho deixa de ser um dever executado em turnos

preestabelecidos e passa a ser orientado pela consagraccedilatildeo da criatividade pela partilha de

habilidades e do conhecimento por uma atitude apaixonada pelas atividades laborais (mescladas

com as luacutedicas) e pela doaccedilatildeo de produtos para o uso e adaptaccedilatildeo coletiva

Das constataccedilotildees de Himanen passamos entatildeo a questotildees conflitivas dos arranjos

produtivos do hackeamento Nesse sentido Richard Barbrook (2006) eacute contraacuterio agrave inclusatildeo doshackers entre as novas classes criativas intermediaacuterias (nem dominantes nem trabalhadoras) no

entanto destinadas a um papel de lideranccedila econocircmica por conta de sua educaccedilatildeo energia

empreendedora e disponibilidade para autogerir sua inserccedilatildeo no capitalismo cognitivo poacutes-fordista

Conforme o autor trata-se de uma interpretaccedilatildeo reducionista e natildeo emancipadora pois natildeo leva em

conta a perspectiva de transiccedilatildeo do capitalismo para aleacutem de sua natureza existente O equiacutevoco de

restringir a criatividade a um grupo seleto torna-se flagrante quando se nota que as multidotildees satildeo

capazes de produzir conteuacutedos culturais e intercambiaacute-los livremente e gratuitamente como daacutedivaPor sua vez McKenzie Wark (2004) argumenta que os hackers terminam por se constituir



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como classe produtora natildeo por opccedilatildeo exclusiva mas em virtude da apropriaccedilatildeo de seus feitos e

restriccedilatildeo do acesso aos meios de produccedilatildeo pelas classes vetoriais Estas satildeo formadas por aqueles

que controlam os vetores de telestesia ou seja as linhas sem posiccedilatildeo fixa dos modos e meios atuais

e virtuais de percepccedilatildeo agrave distacircncia de objetivaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo da informaccedilatildeo Para o autor a

consciecircncia dessa disputa eacute necessaacuteria para que os hackers hackeiem sua proacutepria condiccedilatildeo de classe

a partir do hackeamento da noccedilatildeo de propriedade Aleacutem disso Wark declara que o hackeamento

deve ser entendido como praacutetica irrestrita que independe da accedilatildeo dos hackers e envolve toda

ruptura seja dos coacutedigos da telemaacutetica seja das barreiras ao fluxo interterritorial

Essa extensatildeo do conceito de hackeamento a atividades que natildeo satildeo diretamente ligadas agrave

computaccedilatildeo e agrave telecomunicaccedilatildeo se apresenta dentro dos contornos mais amplos da concepccedilatildeo da

tecnologia no acircmbito da arte e do pensamento filosoacutefico que abarcam a accedilatildeo e o interesse social

aleacutem da parafernaacutelia dos circuitos eletrocircnicos e dos coacutedigos Hackear significa explorar o ldquodomiacutenio

inexauriacutevelrdquo daquilo que natildeo eacute mas pode vir a ser Isso se daacute natildeo apenas na informaacutetica e telemaacutetica

e praacuteticas sociais correlatas como quer Tim Jordan (2008) Eacute efetuado tanto na biologia quanto na

poliacutetica na computaccedilatildeo na arte ou na filosofia (WARK 2004)

O hacker hackeia o mundo e a si mesmo de uma vez pois ao alterar a tecnologia expressa e

absorve as singularidades de sua relaccedilatildeo com o tecido de diferenccedilas de que consiste todo coacutedigo ou

sistema de referecircncia conforme Jaques Derrida (1972) Em consequecircncia dessa reciprocidade entre

quem hackeia e o que eacute hackeado o hackeamento natildeo eacute funccedilatildeo do hacker assim como a linguagem

natildeo eacute funccedilatildeo do sujeito falante Se este se inscreve na linguagem de modo anaacutelogo o hacker se

define pelo coacutedigo que hackeia pelo desvio que reprograma a abstraccedilatildeo da natureza Torna-se

assim um agente de abstraccedilatildeo permutador de diferenccedilas que segue e impulsiona a diferensa2

O hack eamento age sobre e atraveacutes do mundo codificado e consolida opccedilotildees de remarcaccedilatildeo

e tracircnsito por suas bordas Essa noccedilatildeo de diferensa nas fronteiras eacute atribuiacuteda agrave teacutecnica por BernardStiegler (2001) pois modos de performance satildeo modos de expressatildeo (e vice-versa) que suspendem

as leis habituais do ambiente Ficcionam o real por meio de ferramentas simples aparatos

avanccedilados de informaccedilatildeo ou engenharia geneacutetica

O hackeamento pode ainda ser comparado com o que Gilles Deleuze e Feacutelix Guattari (2000)2 No original em francecircs Derrida (1972) substitui a vogal ldquoerdquo de diffeacuterence pela vogal ldquoardquo de diffeacuterance criando uma

nova grafia que manteacutem no entanto inalterado o valor foneacutetico Com isso o autor tenta compensar o desperdiacutecio damultiplicidade semacircntica do verbo diffeacuterer derivado do latim Corriqueiramente identificado com o ato de sedestacar de ser desigual o vocaacutebulo remete ainda agrave accedilatildeo de dilatar adiar prorrogar aguardar reservar e por fim a

de polemizar dissentir A segunda acepccedilatildeo eacute associada agrave protelaccedilatildeo agrave espera de ocasiatildeo mais propiacutecia e agravecontemporizaccedilatildeo ao desvio suspensivo que anula ou tempera o efeito de atendimento ou de realizaccedilatildeo de umdesejo Empregamos em portuguecircs a substituiccedilatildeo da ldquoccedilrdquo de diferenccedila pelo ldquosrdquo de diferensa conforme a sugestatildeo de Niacutecia Adan Bonatti tradutora de Derrida



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denominam como maacutequina de guerra Esse conceito engloba conexotildees que se datildeo na exterioridade

da soberania do aparelho de Estado e satildeo dirigidas contra o fenocircmeno estatal e urbano de controle

A maacutequina de guerra se constitui como resistecircncia agrave conjunccedilatildeo de aparelhos de captura que visam agrave

apropriaccedilatildeo de suas virtualidades para o objetivo exclusivo da guerra que lhe diz respeito apenas

como relaccedilatildeo suplementaacuteria ou sinteacutetica em reaccedilatildeo agrave apropriaccedilatildeo

Conforme Deleuze e Guattari nocircmades e movimentos artiacutesticos cientiacuteficos e ideoloacutegicos

satildeo potenciais maacutequinas de guerra na medida em que traccedilam um espaccedilo liso de deslocamento -

vetorial projetivo ou topoloacutegico ocupado sem mediccedilatildeo em oposiccedilatildeo ao espaccedilo estriado meacutetrico

que eacute medido para ser ocupado Natildeo eacute o nocircmade poreacutem que define essa circunstacircncia Ao

contraacuterio ele eacute quem eacute definido pelo espaccedilo liso Como na inscriccedilatildeo do sujeito na fala o

hackeamento natildeo eacute funccedilatildeo do hacker mas pelo contraacuterio eacute esse ato de desvio que o afirma

Outro aspecto de analogia entre o hackeamento e a maacutequina de guerra de Deleuze e Guattari

(2000) reside na projeccedilatildeo desta uacuteltima em uma modalidade de saber distinta daquela que o aparelho

de Estado promove Trata-se de uma ciecircncia nocircmade desenvolvida natildeo apenas como simples

teacutecnica ou praacutetica mas como campo cientiacutefico em que os problemas de relaccedilatildeo entre teoria e

aplicaccedilatildeo se equacionam de modo alternativo Como apontam Deleuze e Guattari (2000) a ciecircncia

nocircmade eacute constantemente inibida proibida ou caracterizada como instacircncia preacute sub ou

paracientiacutefica por conta das exigecircncias e condiccedilotildees impostas pelo poder dominante e o primado

legislativo e constituiacutedo da ciecircncia reacutegia

Para escapar dessa armadilha eacute preciso considerar a diferensa na ciecircncia nocircmade em

contrapartida agrave ciecircncia reacutegia os valores diferidos de uma em relaccedilatildeo agrave outra Pois conforme Sherry

Turkle (1997) embora seja percebida como um saber indisciplinado feminino e fraacutegil pela cultura

de caacutelculo modernista a ciecircncia nocircmade ou mole como prefere eacute apreciada pela cultura de

simulaccedilatildeo contemporacircnea devido agrave sua flexibilidade natildeo-hieraacuterquica que viabiliza umrelacionamento cognitivo estreito e virtuoso com cada objeto de estudo Nesse sentido a abstraccedilatildeo

efetuada pelo hackeamento pode ser alienada para o reforccedilo das sociedades de controle

O hackeamento no entanto eacute uma excentricidade um transbordamento Opera em termos

de marginalidade no sentido de que sua posiccedilatildeo do lado de fora ajuda a delimitar os contornos do

poder vetorial (WARK 2004) Para Deleuze e Guattari (2000) na regiatildeo de limite o que conta eacute a

fronteira moacutevel entre ciecircncia reacutegia e ciecircncia nocircmade os fenocircmenos de borda pelos quais a uacuteltima

pressiona a primeira e esta se apropria e transforma os dados daquelaEm contrapartida agrave captura pelo poder a expansatildeo da maacutequina de guerra tambeacutem oferece



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riscos Deleuze e Guattari (2000) ponderam que na histoacuteria recente esse processo se revira no

enfraquecimento dos Estados e na reconstruccedilatildeo de uma maacutequina mundial da qual esses se tornam

apenas meios ou partes oponiacuteveis A partir daiacute deriva as ameaccedilas do fascismo da guerra ilimitada e

do poacutes-fascismo da maacutequina que adota a paz como meta terriacutefica sem respiro para a divergecircncia 3

Apesar disso surgem possibilidades de revides inusitados que orientam maacutequinas mutantes

minoritaacuterias populares e revolucionaacuterias

Eacute a disseminaccedilatildeo na arte dessas maacutequinas mutantes colaborativas improvisadas com

aplicaccedilotildees anaacuterquicas programas inconvencionais e algoritmos abertos que nos permite a

associaccedilatildeo com o hackeamento seja em taacuteticas de desvio amplas seja interferecircncia em circuitos de

comunicaccedilatildeo As adaptaccedilotildees e subversotildees da tecnologia alcanccedilam uma abrangecircncia maleaacutevel que

concerne tanto agraves aplicaccedilotildees corriqueiras dos mecanismos e das loacutegicas quanto aos experimentos

que alargam as fronteiras da ciecircncia da induacutestria e da arte

Alguns autores consideram que o percurso da arte tecnoloacutegica eacute caracterizado justamente

pela subversatildeo ou ultrapassagem da operacionalidade tecnoloacutegica vigente com que se associa

(RUSH 2006) Desse modo podemos assumir que a diferensa a produccedilatildeo da diferenccedila tecnoloacutegica

pelo hackeamento transcorre desde as experiecircncias das primeiras vanguardas artiacutesticas que

experimentaram com a representaccedilatildeo simultacircnea da multidimensionalidade o emprego de

processos industriais e maquiacutenicos e a assemblage de materiais e de referecircncias cotidianas em lugar

dos suportes e repertoacuterios tradicionais No territoacuterio da fotografia e do cinema experimentais o

hackeamento sucederia portanto nas montagens fusotildees colagens e intervenccedilotildees diretas sobre a

peliacutecula feitas por Raoul Hausmann Laacuteszloacute Moholy-Nagy e Stan Brakhage entre outros

As trilhas do hackeamento seguiriam ainda nas subversotildees do sistema de transmissatildeo pelo

feixe de eleacutetrons nos formatos de viacutedeo da televisatildeo Nam June Paik (GOETHE-INSTITUT ZKM

et al 2010) por exemplo converte um televisor no objeto Magnet TV em 1965 usando a forccedilaatratora de um imatilde depositado do lado de fora do monitor que forccedila para cima o fluxo de raios

catoacutedicos na superfiacutecie da tela

Em seguida encontramos a produccedilatildeo multimiacutedia que se expande desde os anos 60 Entre os

exemplos estatildeo as seacuteries de apresentaccedilotildees Variations V e VII realizadas por John Cage (GOETHE-

INSTITUT ZKM et al 2010 RUSH 2006) e colaboradores de diferentes aacutereas artiacutesticas e teacutecnicas

3 No francecircs conforme Derrida (1972) o diferente e o divergente tambeacutem encontram nas palavras diffeacuterent ediffeacuterend duas grafias distintas com sonoridade idecircntica Ambos os sentidos se apoiam na produccedilatildeo de um intervalo

uma distacircncia topoloacutegica e cronoloacutegica que separa o que eacute do que natildeo eacute de maneira que aquilo que eacute seja de fato oque eacute Essa constituiccedilatildeo do presente como siacutentese complexa ldquonatildeo-originaacuteria de marcas de traccedilos de retenccedilatildeo e protensatildeordquo (p 14) eacute o que Derrida denomina arquiescritura ou diferensa ndash que ao mesmo tempo eacute espaccedilamento etemporizaccedilatildeo



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em 1965 e 1966 A primeira resulta de improvisaccedilotildees que combinam instrumentos acuacutesticos com

uma parafernaacutelia de aparelhos de raacutedio e de tocadores de discos e de fitas acionada pelos

movimentos de danccedilarinos captados por fotoceacutelulas e antenas O trabalho inclui ainda sistemas de

projeccedilatildeo de filmes e manipulaccedilatildeo de imagens em viacutedeo Jaacute a segunda seacuterie Variations VII envolve

a manipulaccedilatildeo de sons captados ao vivo desde locais remotos pela rede de telefonia aleacutem do uso

de osciladores geradores de pulso transmissotildees em frequecircncias especiacuteficas de raacutedio e televisatildeo e

microfones ligados a liquidificadores espremedores de suco ventiladores e torradeiras

Dos agenciamentos da performance multimiacutedia em espaccedilos fechados passamos para o tecido

urbano e os territoacuterios das miacutedias em rede A colonizaccedilatildeo dos dispositivos comerciais nas

ldquoteleintervenccedilotildeesrdquo de Giselle Beiguelman (2009) tem como exemplo a obra Leste o Leste Did you

Read the East realizada em 2002 durante a quarta ediccedilatildeo do projeto ArteCidade Seu propoacutesito eacute

a transformaccedilatildeo do usuaacuterio da internet em coeditor das imagens geradas pela artista para exibiccedilatildeo

em paineacuteis eletrocircnicos de publicidade situados em uma avenida de intensa circulaccedilatildeo em Satildeo Paulo

No ciberespaccedilo o projeto de net arte _readme Own Be Owned or Remain Invisible

realizado em 1998 por Heath Bunting (GOETHE-INSTITUT ZKM et al 2010) consiste em uma

paacutegina em formato HTML com trechos de um artigo de jornal sobre o artista Cada palavra eacute

vinculada a um endereccedilo fictiacutecio composto pela junccedilatildeo da mesma com o sufixo COM Quando

lanccedilado na internet a maioria dos links direcionam para paacuteginas inexistentes No entanto ao passar

dos anos mesmo as expressotildees mais absurdas e banais satildeo adotadas como domiacutenios de empresas

Outro caso eacute o uso do viacuterus computacional pelos artistas como um tipo de hackeamento

executado tanto pela codificaccedilatildeo do programa quanto pelo deslocamento dos valores habituais de

conveniecircncias e inconveniecircncias Entre outros projetos podemos citar biennalepy dos coletivos

epidemiC (2009) e 0100101110101101org (2006) Lanccedilado na abertura da Bienal de Veneza de

2001 o trabalho eacute um programa escrito para testar os limites de propagaccedilatildeo da rede Constituisegundo os coletivos uma taacutetica de contrapoder de resistecircncia ante as forccedilas de dominaccedilatildeo

Quando essas experiecircncias de hackeamento se combinam de modo declarado com a poliacutetica

nos deparamos com o chamado hacktivismo Um episoacutedio ceacutelebre de suas iniciativas eacute o protesto-

performance em rede TOYWARcom articulado pelo coletivo etoy (1999) para evitar a perda de sua

ldquomarcardquo e domiacutenio usado na internet requerida em accedilatildeo judicial aberta pela loja online de

brinquedos eToys Inc Considerado pelo grupo como ldquoa performance mais cara da histoacuteria da arterdquo

o trabalho gerou 45 bilhotildees de doacutelares de perdas no valor acionaacuterio da companhia em resultado daampla campanha de difamaccedilatildeo pela internet e uma sequecircncia de ataques eletrocircnicos que impediram





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engenharia bioloacutegica

Dentro do campo da artemiacutedia haacute o foco especiacutefico da arte em miacutedias digitais subconjunto

que abrange expressotildees baseadas na eletrocircnica e informaacutetica que disponibilizam interfaces visuais

motoras sonoras e taacuteteis para a produccedilatildeo poeacutetica ldquoseja no campo das artes baseadas em rede (on-

line e wireless) seja na aplicaccedilatildeo de recursos de hardware e software para a geraccedilatildeo de propostas

esteacuteticas off-linerdquo (ARANTES 2005 p 24-25) Esta produccedilatildeo se apresentaria ainda como uma

caixa-preta devassada pois os artistas jaacute natildeo se limitariam a meros operadores para o teste e

aprimoramento de rotinas predeterminadas assim como o fotoacutegrafo ante as funcionalidades

previstas na cacircmera conforme Vileacutem Flusser (2002)

Fora do esquema de balanccedilo entre a subjetividade criacutetica e a operacionalidade determinista

a endoesteacutetica de Claudia Giannetti (2006) toma de empreacutestimo da endofiacutesica o princiacutepio da

existecircncia constitutiva e determinante do observador dentro da realidade observada A codistorccedilatildeo e

covariacircncia consequecircncias derivadas da mudanccedila de pontos de vista e das transformaccedilotildees de quem

observa fazem com que a descriccedilatildeo da objetividade seja apenas factiacutevel a partir de fora com o

recurso de um modelo de mundo como a realidade virtual Conforme Giannetti a endoesteacutetica

indica que o interator desempenha funccedilatildeo fundamental dentro do trabalho de arte

De acordo com o grau de envolvimento e identificaccedilatildeo com o sistema haveria interatividade

ou simulaccedilatildeo deacutebil (consciecircncia de natildeo-veracidade) ou ainda ficccedilatildeo inconsciente ou simulaccedilatildeo

forte (indiferenciaccedilatildeo entre realidade e ficccedilatildeo) A arte tecnoloacutegica evidenciaria a tentativa de

simular no interior da realidade rotas de evasatildeo com base em virtualidade variabilidade

contingecircncia mutabilidade e simulaccedilatildeo Na endoesteacutetica de Giannetti os trabalhos de arte seriam

sistemas complexos flexiacuteveis circunstanciais hipermidiais e multidisciplinares que tecircm por objeto

especiacutefico o processo comunicativo em seus diversos niacuteveis (puacuteblico e sistema sistema e interator

interatores no sistema ambiente e sistema etc)Priscila Arantes (2005) por sua vez propotildee o conceito de interesteacutetica para ressaltar o valor

da interface e do hibridismo aqueacutem e aleacutem das fronteiras riacutegidas entre elementos da objetividade e

subjetividade A interface eacute entendida por ela como fluxo de informaccedilotildees entre domiacutenios com

limites compartilhados em um sentido mais amplo do que o meramente teacutecnico Para a autora as

artes digitais operam pela interpoieacutesis a geraccedilatildeo de processos criativos a partir de trocas de

informaccedilotildees no exerciacutecio das capacidades comunicativas

O meio digital segundo Bairon (1995 p 66) eacute o habitat de reciclagem das ruiacutenas damodernidade ao mesmo tempo em que as tecnologias de comunicaccedilatildeo satildeo reinventadas no



12

cotidiano No entanto ao contraacuterio do que argumenta o autor o ciberespaccedilo natildeo eacute ldquolugar segurordquo

sem a garantia de que a interatividade reserve condiccedilotildees de construccedilatildeo colaborativa das

consequecircncias causadas pelos dispositivos Ou seja natildeo basta que ldquomais opccedilotildees (em qualidade e

quantidade)rdquo sejam oferecidas ldquoao usuaacuteriordquo eacute necessaacuterio romper as restriccedilotildees de acesso e

transformaccedilatildeo autocircnoma dos coacutedigos da aparelhagem multimiacutedia e tornaacute-la uma hipermiacutedia

Se Benjamin (1994) diagnostica como fruto da reprodutibilidade teacutecnica a ascendecircncia do

valor expositivo da arte que se dispersa no cotidiano com a consequente emancipaccedilatildeo de sua

ldquoexistecircncia parasitaacuteriardquo e de seu valor de culto a reprogramabilidade tecnoloacutegica alarga a funccedilatildeo

poliacutetica da produccedilatildeo artiacutestica na experiecircncia coletiva no jogo no desejo na simulaccedilatildeo O nuacutecleo da

questatildeo se transfere do valor miacutetico e idealista para o valor de recriaccedilatildeo (PLAZA TAVARES

1998) ou melhor de colaboratividade regulado pelas permissotildees e licenccedilas para o (re)uso da arte

Para Lev Manovich (2001) a transcodificaccedilatildeo eacute o princiacutepio mais relevante da miacutedia digital

ao lado da linguagem numeacuterica organizaccedilatildeo modular automaccedilatildeo e variabilidade Por um lado

afirma o autor a computaccedilatildeo impotildee uma estrutura particular caracterizada por listas arquivos

vetores variaacuteveis e algoritmos separados de bancos de dados Mas por outro preserva as condiccedilotildees

necessaacuterias para que seja entendida e apropriada Uma imagem visualizada pela maacutequina se insere

ao mesmo tempo no repertoacuterio de imagens e signos culturais e no sistema binaacuterio do pixel

Essa situaccedilatildeo intermediaacuteria segundo Manovich faz com que a loacutegica computacional modele

a ordem cultural das convenccedilotildees presentes nos modos de interaccedilatildeo e de operaccedilatildeo de cada aplicativo

agrave semacircntica dos conteuacutedos tratados e suas formas de comunicaccedilatildeo e classificaccedilatildeo Em

contrapartida as experiecircncias com a miacutedia digital alteram as condiccedilotildees de hardware e software

influenciando sobretudo a transformaccedilatildeo das interfaces dos dispositivos tecnoloacutegicos atuais de

acordo com a tendecircncia de aproximaccedilatildeo aos modelos dos aparatos anteriores

Manovich avalia ainda que a siacutentese dessa reciprocidade resulta em uma culturacomputacional que articula modos tradicionais de modelagem social do mundo com processos

algoriacutetmicos Assim categorias e conceitos atuais satildeo intercambiados com novas abstraccedilotildees

derivadas da computaccedilatildeo em um ciclo de transferecircncias conceituais Apesar disso discordamos da

precedecircncia absoluta dada pelo autor agraves investigaccedilotildees e ao desenvolvimento da informaacutetica sobre o

poder de reelaboraccedilatildeo da cultura de um modo mais geral Em vez disso seguimos o ponto de vista

da efetiva fundamentaccedilatildeo cultural (e talvez bioloacutegica) da programabilidade ideia mencionada por

Manovich como aspecto diferencial da miacutedia numeacuterica em comparaccedilatildeo com todas as anterioresCom isso temos a afirmaccedilatildeo de uma cultura ciacutebrida (BEIGUELMAN 2005 p 2) que



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recicla os meios de leitura e expressatildeo apontando para novas maneiras de significar ver e

memorizar amparadas na interface corporal com a tecnologia articuladora da ldquointerpenetraccedilatildeo de

redes on-line e off-linerdquo ndash ou seja da realidade tangiacutevel com a virtualidade imaterial

A bricolagem recombinante eacute a taacutetica da arte_ hackeamento poreacutem esta adota e reprograma

natildeo soacute mensagem como tambeacutem o proacuteprio meio Ampara-nos aqui a ideia de ready-media sugerida

por Giselle Beiguelman (2010) como os procedimentos que correspondem agrave transformaccedilatildeo do

objeto em obra de arte pelo circuito que substitui a funccedilatildeo do contexto em relaccedilatildeo aos ready-

mades Em segundo lugar a assinatura do acesso torna-se meio de validaccedilatildeo em lugar da assinatura

do artista O procedimento artiacutestico por sua vez assume caraacuteter taacutetico e natildeo mais apenas

conceitual Por fim haacute a inversatildeo do jogo entre usabilidade e esteacutetica pela desprogramaccedilatildeo que

substitui a desfuncionalizaccedilatildeo do objeto pela esteacutetica na produccedilatildeo duchampiana

Em lugar da reprodutibilidade teacutecnica de uma arte predeterminada para a coacutepia ou emissatildeo

centralizada (BENJAMIN 1994) como no cinema ou na televisatildeo a ldquoproduzibilidade eletrocircnicardquo

apresentada por Mario Costa (1995) apresenta duas faces fundamentais do atual modo de produccedilatildeo

da imagem a mutabilidade programada pretendida e o recurso a aparatos de armazenagem e

acionamento dos elementos e rotinas envolvidos nessa mutaccedilatildeo Nesse sentido natildeo soacute a capacidade

de interaccedilatildeo como tambeacutem a de intervenccedilatildeo sobre as maacutequinas da arte ascendem como temas

inescapaacuteveis na reavaliaccedilatildeo das questotildees suscitadas desde o fotograma

A exploraccedilatildeo do defeito eacute outra forma de desvio dos padrotildees tecnoloacutegicos Segundo Stiegler

(2007) a resistecircncia agrave dominaccedilatildeo na cultura contemporacircnea se viabiliza pela hiperdiacronizaccedilatildeo ou

seja pela dilataccedilatildeo das capacidades do sensiacutevel e intensificaccedilatildeo da vivecircncia da singularidade

incalculaacutevel e consistente da diversidade O autor argumenta que essa experiecircncia eacute possibilitada

pelo imprevisto o defeito e a lacuna que agem como antiacutedotos contra a hipersincronizaccedilatildeo das

condutas humanas forccedila exercida pelo capitalismo cultural e hiperindustrial por meio da excessivaoferta de produtos que promovem o esgotamento do desejo e o consumismo

Ricardo Rosas (2006) por sua vez considera que artistas e coletivos como Paulo Nenflidio

Lucas Bambozzi Moacir Lago Bijari e Chelpa Ferro satildeo praticantes de uma arte tecnoloacutegica de

caraacuteter recombinante que conjuga indistintamente tecnologias de ponta e tradicionais o high tech e

o low tech e as suas correspondentes estruturas perceptivas Trata-se da ldquovinganccedila low-techrdquo contra

ldquoa elite tecno-fetichista high-tech e auto-indulgente dos web-artistasrdquo apontada por Rosas estaria

confirmada na valorizaccedilatildeo da gambiarra e do hackeamento como indicam exposiccedilotildees e festivaiscomo Open Source Art Hack (2009) Make Art (2010) e Piksel (2010)



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Consideramos ainda o conceito de digitofagia proposto por Ricardo Rosas e Giselli

Vasconcelos (2006 2009) como termo associativo dos procedimentos de reinterpretaccedilatildeo de

referecircncias culturais pela antropofagia modernista com a apropriaccedilatildeo e reprogramaccedilatildeo tecnoloacutegica

Ao ressaltar o valor das praacuteticas espontacircneas da gambiarra do sampling e da remixagem a

concepccedilatildeo da digitofagia reitera os deslocamentos e traduccedilotildees das praacuteticas e teorias do

hackeamento em seu fluxo entre os domiacutenios do conceitualismo artiacutestico contemporacircneo e das

adaptaccedilotildees infligidas agraves tecnologias no cotidiano das cidades e das redes sociais da internet

Conforme Miguel Caetano (2006) essas reprogramaccedilotildees satildeo feitas pelo prazer do jogo e

pela urgecircncia de atendimento a demandas essenciais Atualizam portanto a noccedilatildeo de astuacutecia de

usos sugerida por Certeau como estratagema de esquiva da cultura popular frente aos protocolos

impostos pelo poder dominante Aleacutem disso avanccedilam no agenciamento de um contrapoder baseado

na burla das improbabilidades ou de acordo com David Garcia (2004) no ldquopossibilismordquo da

extraccedilatildeo de alternativas exequiacuteveis a partir das inviabilidades das periferias do capitalismo

Para Karla Brunet (2005) a forccedila das iniciativas baseadas nessa cultura de subversatildeo das

improbabilidades eacute ao mesmo tempo proveniente de uma realidade em que falta educaccedilatildeo e

inclusatildeo digital e de uma visatildeo de que tudo pode ser resolvido pela colaboraccedilatildeo Vale observar no

entanto que essa capacidade de abstraccedilatildeo das virtualidades do atual (WARK 2004) se espalha de

modo ambivalente ndash tanto nos mutirotildees de construccedilatildeo quanto na escavaccedilatildeo de tuacuteneis para fuga de

presiacutedios tanto nas traquitanas de peccedilas eletrocircnicas recombinadas (VEIGA MONTEIRO 2009a

2009b) quanto nos explosivos caseiros usados pela criminalidade

Metodologia

Este projeto de pesquisa efetuaraacute a identificaccedilatildeo e seleccedilatildeo de obras que fornecem referecircncias

para a problematizaccedilatildeo das praacuteticas de arte conjugadas com a tecnologia As fontes principais destelevantamento seratildeo publicaccedilotildees e discussotildees pela internet (websites blogs listas redes etc)

cataacutelogos perioacutedicos documentaccedilatildeo de projetos registros audiovisuais e fotograacuteficos textos de

criacutetica e de curadoria e publicaccedilotildees especializadas

Seratildeo utilizadas particularmente referecircncias da filosofia sobretudo as obras da chamada

filosofia da diferenccedila escritas por autores como Deleuze e Guattari Derrida Foucault e seus

seguidores Tambeacutem seratildeo aproveitadas referecircncias de campos correlatos ao tema em estudo como

as ciecircncias sociais e da comunicaccedilatildeo entre outros Como procedimento de apoio recorreremos aentrevistas a artistas teoacutericos curadores e outros envolvidos na produccedilatildeo e difusatildeo da arte



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Todo o material textual adotado seraacute submetido a uma metodologia hermenecircutica de anaacutelise

em que o contexto cultural seraacute base para verificaccedilatildeo dos sentidos de cada escrito Essa avaliaccedilatildeo

seraacute voltada agrave dupla ruptura epistemoloacutegica sugerida por Boaventura de Sousa Santos (2000)

procedimento que aleacutem de promover o afastamento do senso comum permite a insurgecircncia contra o

cientificismo exacerbado que aparta o pensamento das implicaccedilotildees cotidianas e poliacuteticas

Como procedimento de abertura da pesquisa para a revisatildeo e colaboraccedilatildeo trataremos nosso

discurso como um trabalho aberto e em rede Para este fim utilizaremos um blog para publicaccedilatildeo

de resultados parciais e a atuaccedilatildeo em grupos de discussatildeo wikis e redes de ativistas e pesquisadores

a exemplo das redes Metareciclagem e Cultura Digital BR do wiki Descentro e do grupo

Tecnopoliacuteticas

Com isso propomos por fim um exerciacutecio de ciecircncia 20 (WALDROP 2008) que se

desenvolveraacute pela conversaccedilatildeo com outros pesquisadores e compartilhamento de dados

Pretendemos assim experimentar o desenvolvimento de uma tese reprogramaacutevel Desse modo

aproximaremos a filosofia da arte da programaccedilatildeo de um software livre e em coacutedigo aberto

Plano de Trabalho

1) creacuteditos de disciplinas deveratildeo ser concluiacutedos em trecircs periacuteodos letivos

2) pesquisa de referecircncias teoacutericas e da produccedilatildeo de arte seraacute realizada ateacute o sexto periacuteodo

3) revisatildeo de literatura ocorreraacute do primeiro ao sexto periacuteodo letivo

4) anaacutelise e redaccedilatildeo para qualificaccedilatildeo o exame de casos praacuteticos selecionados teraacute iniacutecio no

terceiro periacuteodo de estudo e sua sistematizaccedilatildeo seraacute direcionada ao texto para o exame de

qualificaccedilatildeo no quinto periacuteodo

5) anaacutelise e redaccedilatildeo para defesa a etapa conclusiva para a preparaccedilatildeo da defesa de tese

ocorreraacute do quinto ao oitavo periacuteodo letivo

Cronograma

lt ATIVIDADES gt2011 2012 2013 2014

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1- creacuteditos de disciplinas x x x

2- referecircncias teoacutericas e praacuteticas x x x x x x

3- revisatildeo de literatura x x x x x x

4- anaacutelise e redaccedilatildeo para qualificaccedilatildeo x x Q

5- anaacutelise e redaccedilatildeo para defesa x x x D



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Referecircncias

0100101110101101ORG biennalepy Last update 21st September 2006 Available atlthttp0100101110101101orghomebiennale_pyindexhtmlgt Retrieved on May 14th 2009

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BARBROOK Richard The Class of the New London Openmute 2006

BEIGUELMAN Giselle Desvirtual less is more 2009 Disponiacutevel emlthttpwwwdesvirtualcompublic-art-sp-2002gt Acesso em 10 de julho de 2009

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teacutecnica arte e poliacutetica Satildeo Paulo Brasiliense 1994 p 165-196

BOURRIAUD Nicolas Postproduccioacuten la cultura como escenario - modos en que el artereprograma el mundo contemporaacuteneo Buenos Aires Adriana Hidalgo 2007

CAETANO Miguel Afonso Tecnologias de Resistecircncia Transgressatildeo e Solidariedade nos MediaTaacutecticos 2006 Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Comunicaccedilatildeo Cultura e Tecnologias da Informaccedilatildeo) ndash Depto de Sociologia Instituto Superior de Ciecircncias do Trabalho e da Empresa Lisboa 2006

CHAOS Computer Club Project Blinkenlights 2009 Available atlthttpwwwblinkenlightsnetgt Retrieved on 2nd July 2009

COSTA Mario O Sublime Tecnoloacutegico Satildeo Paulo Experimento 1995

COUCHOT Edmond Tecnologia na Arte da fotografia agrave realidade virtual Porto Alegre UFRGS2003

CRITICAL Art Ensemble Website Available at httpwwwcritical-artnet Retrieved on 2ndMay 2009

DANTO Arthur Apoacutes o fim da arte a arte contemporacircnea e os limites da histoacuteria Satildeo PauloOdysseus Editora 2006a

DANTO Arthur Transfiguraccedilatildeo do lugar comum Satildeo Paulo Cosacnaify 2006b

DELEUZE Gilles GUATTARI Feacutelix Mil platocircs capitalismo e esquizofrenia Satildeo Paulo Editora34 2000 5 v

DERRIDA Jacques Marges de la philosophie Paris Les Eacuteditions du Minuit 1972

EPIDEMIC biennalepy 2009 Available at lthttpepidemicwsbiannualhtmlgt Retrieved onMay 14th 2009

ETOY TOYWARcom Zurich Switzerland 1999 Available at lthttphistoryetoycomgtRetrieved on May 14th 2009

FLUSSER Vileacutem Filosofia da Caixa-Preta ensaios para uma futura filosofia da fotografia Rio



17

de Janeiro Relume-Dumaraacute 2002

FOUCAULT Michel A ordem do discurso aula inaugural no Collegravege de France pronunciada em2 de dezembro de 1970 6ordf ed Satildeo Paulo SP Loyola 2000

FOUCAULT Michel Preface In ______ The Order of Things An Archaeology of the HumanSciences New York Vintage Books 1970 p XV-XXIV

FOUCAULT Michel What is an author In ______ RABINOW Paul (ed) The FoucaultReader New York Pantheon Books 1984 p 101-120

GALLOWAY Alexander Protocol How Control Exists After Decentralization Cambridge MAMIT 2004

GAMBIOLOGIA Disponiacutevel em lthttpwwwgambiologianetgt Acesso em 1 de maio de2010

GIANNETTI Claudia Esteacutetica Digital sintopia da arte a ciecircncia e a tecnologia Belo HorizonteCArte 2006

GOETHE-INSTITUT ZKM et al Media Art Net Online database 2010 Available atlthttpwwwmediaartnetorgmediaartnetgt Retrieved on 20th Feb 2010

GRAU Oliver (ed) MediaArtHistories Cambridge MA MIT Press 2007

GRIFFITHS Dave Daves page of art and programming 2010 Available atlthttpwwwpawfalorgdavegt Retrieved on 20th Feb 2010

HIMANEN Pekka Eacutetica dos hackers e o espiacuterito da era da informaccedilatildeo A diferenccedila entre o bom e o mau hacker Rio de Janeiro Campus 2001

IRATIONALORG _readme own be owned or remain invisible Bristol UK 1998 Available atlthttpwwwirationalorgheath_readmehtmlgt Retrieved on 20th Feb 2010

JORDAN Tim TAYLOR Paul Hacktivism and Cyberwars Rebels with a Cause LondonRoutledge 2004

JORDAN Tim Hacking Digital Media and Technological Determinism Cambridge UK Polity2008

LEMOS Andreacute Cibercultura tecnologia e vida social na cultura contemporacircnea 2ordf ed PortoAlegre Sulina 2004

LEVY Steven Hackers Heroes of Computer Revolution New York Penguin USA 2001

MANOVICH Lev The Language of the new media Cambridge MA MIT Press 2001

MEDEIROS Maria Beatriz de Aisthesis esteacutetica educaccedilatildeo e comunidades Chapecoacute Argos2005

PLAZA Julio TAVARES Monica Processos criativos com os meios eletrocircnicos poeacuteticas



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digitais Satildeo Paulo Hucitec 1998

RAYMOND Eric S Jargon File Version 447 29 Dec 2003 Available atlthttpwwcatborg~esrjargongt Retrieved on 6th April 2008

RAYMOND Eric S The cathedral and the bazaar musings on Linux and Open Source by anaccidental revolutionary Beijing Cambridge MA OrsquoReilly 2001

ROSAS Ricardo VASCONCELOS Giseli (org) Net_Cultura 10 Digitofagia Satildeo PauloRadical Livros 2006

RUSH Michael Novas Miacutedias na Arte Contemporacircnea Satildeo Paulo Martins Fontes 2006

SANTOS Boaventura de Sousa Introduccedilatildeo a uma ciecircncia poacutes-moderna Rio de JaneiroGraal 2000

STALLMAN Richard Free Software Free Society Selected Essays of Richard M StallmanBoston MA GNU Press 2002

STERLING Bruce The Hacker Crackdown Law and disorder on the electronic frontier PDFversion 01 by E-Scribe 1994

STIEGLER Bernard Bernard Stiegler reflexotildees (natildeo) contemporacircneas Trad e org MariaBeatriz de Medeiros Chapecoacute Argos 2007

STIEGLER Bernard Quando fazer eacute dizer Da teacutecnica como diferensa de toda fronteiraReVISta n 3 Brasiacutelia UnB 2001

TAYLOR Paul A Hackers Crime in the Digital Sublime London New York Routledge 1999

THOMAS Douglas Hacker Culture Minneapolis MN USA University of Minnesota 2002

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WALDROP M Mitchell Science 20 Great New Tool or Great Risk Scientific AmericanJanuary 9 2008

WARK McKenzie A Hacker Manifesto Cambridge MA Harvard University Press 2004

ZIELINSKY Mocircnica (org) Fronteiras Arte criacutetica e outros ensaios Porto Alegre UFRGS2003



1

Introduccedilatildeo

O projeto de pesquisa de doutorado que aqui se apresenta estaacute dedicado ao aprofundamento

de reflexotildees derivadas da dissertaccedilatildeo desenvolvida entre 2008 e 2010 ao longo do curso de

mestrado do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Arte do Instituto de Artes da UnB Dessa etapa inicial

de investigaccedilatildeo assumimos agora como ponto de partida as relaccedilotildees entre a arte e o hackeamento

com base no pensamento sobre a diferenccedila para realizar consecutivamente um estudo sobre as

implicaccedilotildees dessa associaccedilatildeo para a filosofia da arte

A partir dos resultados obtidos com a revisatildeo teoacuterica e as anaacutelises de casos realizadas no

mestrado propomos a ampliaccedilatildeo do conjunto dessas referecircncias para a verificaccedilatildeo da hipoacutetese de

emergecircncia de uma arte da reprogramabilidade da diferenccedila e da dissidecircncia tecnoloacutegica Essa arte

se revelaria na produccedilatildeo que se situa como cadeia contiacutenua de atualizaccedilotildees de virtualidades

tecnoloacutegicas conforme a definiccedilatildeo de hackeamento dada por McKenzie Wark (2004)

Nesse sentido pretendemos considerar os efeitos das tensotildees entre modelos de controle

restritivo e de abertura libertaacuteria exercitados nas expressotildees e apropriaccedilotildees da diferenccedila agenciada

pela (e na) tecnologia Seratildeo portanto observados os conflitos que opotildeem linhas de propagaccedilatildeo do

hackeamento a barreiras de contenccedilatildeo de seus valores de autonomia natildeo-linearidade e

descentralizaccedilatildeo Desse modo examinaremos como a filosofia da arte pode se conjugar com os

arranjos de produccedilatildeo e fruiccedilatildeo da arte caracterizados pela disponibilidade para a reprogramaccedilatildeo

operacional e conceitual Tambeacutem abordaremos as relaccedilotildees no sentido exatamente inverso

Com esses propoacutesitos projetamos uma pesquisa atenta aos fatores antecedentes e correntes

para o quadro estudado tanto no que diz respeito ao pensamento quanto ao fazer artiacutestico Eacute de

nosso interesse o periacuteodo concomitante com a ascensatildeo da cultura hacker (ou do hackeamento)

deflagrada no final dos anos 60 Sobretudo seraacute alvo de maior atenccedilatildeo a produccedilatildeo artiacutestica das

deacutecadas mais recentes em que a disseminaccedilatildeo da chamada cultura livre (LESSIG 2004) absorve para as diversas categorias de obras intelectuais os ideais de abertura adaptabilidade e

compartilhamento semeados inicialmente no campo da programaccedilatildeo de softwares

Justificativa

Na sociedade global contemporacircnea a organizaccedilatildeo do desenvolvimento e do uso das

tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo se apresenta como um dos temas mais relevantes para a

investigaccedilatildeo das ciecircncias humanas O fato se justifica pela influecircncia que as disputas entre osinteresses coletivos e privados de apropriaccedilatildeo dessas tecnologias exercem nos arranjos de produccedilatildeo



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Projeto de Doutorado_edital IdA UnB 1o 2011