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Projeto livro Manfredini

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LUiZ Manfredini

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Xxxxxxxxx, xxxxxxxxC837p ProUni:oolhardosestudantesbeneficiários/FabianaCosta.SãoPaulo:Michelotto,2010. ISBN:978-85-61568-55-9 Incluibibliografia 1.EnsinoSuperior-Brasil.2.EducaçãoSuperior-Mudanças 3.ProUni-Estudantes.I.Título. CDD–378.81

Edição e Revisão: Xxxxxxxx

Capa e Diagramação: CláudioGonzalez

Impressão:Gráficaxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

EditoraAnitaGaribaldi-RuaAmaralGurgel,447-conjunto31-VilaBuarqueCEP01221-001-SãoPaulo/SP-Telefone/Fax:(11)3129.3438

http://www.anitagaribaldi.com.br/home/

1aEdiçãoS.Paulo,abril2012

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO

PREFÁCIO

INTRODUÇÃO

XXXXXXXXXXXXXXXXXX

CAPÍTULO I – XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

CAPÍTULO II – XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

CAPÍTULO III – XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx– Xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

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O jovem empertigado que cruzou, guiado por vistoso topete à James Dean, as ante-salas da Presidência da República, vestia um terno emprestado, curto nos ombros e na altura. A jovem que o seguia saltitava de quando em quando para acompanhar as passadas largas e rápidas do rapaz que não se deteve nem mesmo quando distinguiu a presença de três oficiais idosos – e, por suposto, graduados - à espera de que o Presidente os recebesse.

Estudante da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Ca-tólica do Rio de Janeiro, Aldo Silva Arantes contava com apenas 22 anos de idade e estava no Palácio do Planalto, naquele aziago mês de agosto de 1961, para comunicar ao Presidente da República sua posse, semanas antes, na Presidência da poderosa União Nacional dos Estu-dantes (UNE). Não era de se estranhar. Numa época em que não havia centrais sindicais (o Comando Geral dos Trabalhadores só seria criado no ano seguinte), a UNE liderava o movimento social brasileiro, sen-do seu presidente autoridade nacional com acesso irrestrito aos mais eminentes gabinetes do poder.

Não por menos o Presidente da UNE obteve precedência, na agen-da presidencial aos militares que observou apenas de soslaio, nada mais, nada menos que os ministros com os quais se defrontaria alguns dias depois, em defesa da legalidade: Marechal Odylo Denis, da Guerra (como então se chamava o já extinto Ministério do Exército); Briga-deiro Gabriel Grün Moss, da Aeronáutica, e o Almirante Sylvio Heck, da Marinha.

A autoridade e o topete do presidente da UNE

CAPÍTULO I

Aldo Silva Arantes contava com apenas 22 anos de idade e estava no Palácio do Planalto,

naquele aziago mês de agosto de 1961, para comunicar ao Presidente da República sua posse

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Já no interior do gabinete, parado, em pé, mãos cruzadas na frente do corpo, aguardou que o Presidente se desvencilhasse do enorme e barulhento aparelho de telex no fundo da sala, cujo teclado martelava ardorosamente.

Ao cabo e alguns minutos, Jânio Quadros voltou-se para o visitan-te, afastou a mecha de cabelo que pousava sobre os óculos de espesso aro preto e disse:

- Bom di-a, se-nhor Pre-si-den-te!Era assim que falava, escandindo as sílabas e acentuando as últi-

mas, misturando caretas e gestos.Aldo Arantes ainda varreu o gabinete com o olhar à procura do

presidente que Jânio saudara com desmedido entusiasmo. Não havia nenhum, o presidente era mesmo ele.

- Pre-si-den-te, quei-ra se as-sen-tar! – convidou o Presidente.Aldo estava acompanhado pela colega Liana Maria Aureliano, Pre-

sidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro). Sentaram-se ambos à mesa presidencial, onde repousavam um busto de Abraham Lincoln e um porta-retrato de Josip Broz Tito, Presidente da Iugoslá-via.

Como de hábito no expediente interno do Planalto, Jânio vestia o tradicional safári caqui copiado dos ingleses colonizadores da Índia, que o povo logo apelidou de pijânio.

- Presidente, acabei de ser eleito Presidente da UNE e trouxe para o senhor a comunicação da pose da nova diretoria...

- Se-nhor Pre-si-den-te – interrompeu Jânio, fixando o jovem com o olhar vesgo e penetrante - nos Estados Unidos, na França em todos os países do mundo trata-se o Presidente da República por excelência!

Aldo desculpou-se e logo passou à sua excelência o ofício comuni-cando a posse da recém eleita diretoria da UNE. Era um papel mimeo-grafado. Jânio não perdoou:

- Se-nhor Pre-si-den-te, os senhores necessitam de um chefe de ce-rimonial. Imagine, mandam para o Presidente da República um ofício mimeografado!

Aldo mais uma vez desculpou-se e a audiência propriamente dita começou, com menores teores de histrionismo e esquisitices. O jovem apresentou ao Presidente extensa pauta de reivindicações. Jânio, no ato, ligou ao Ministro Paulo de Tarso, da Educação e Cultura, pedindo que recebesse o Presidente da UNE e atendesse a todos os seus plei-

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tos, incluindo uma sede em Brasília e recursos para o Centro Popular de Cultura (CPC), pro-moção que a entidade realizava em todo o País.

A audiência longa e proveitosa deixou Aldo satisfeito. Iniciava sua gestão com pé direito. Deixou o Planalto e seguiu para Goiânia, onde morava a família.

Ano e meio antes de encontrar-se com o Presidente Jânio Quadros, Aldo Arantes ainda cursava o secundário no Liceu de Goiânia. Nas-cido em Anápolis em dezembro de 1938, chega-ra à capital com 12 anos de idade junto com os pais e os quatro irmãos, primos pobres de uma abastada família de proprietários rurais. Galileu Batista Arantes, o pai, modesto fiscal de rendas do Estado; Maria de Lourdes Silva Arantes, a mãe, iniciava tardia carreira universitária.

A vocação política no jovem Aldo logo o conduziu à Presidência do Grêmio Literário Fé-lix de Bulhões e à Juventude Estudantil Cató-lica (JEC), organização da Igreja para o meio secundarista. No ano seguinte, já cursando Di-reito no Rio de Janeiro, trocou a JEC pela Ju-ventude Estudantil Católica (JUC), voltada aos universitários. E foi com apoio da ala esquerda JUC, já predominando no movimento estudan-til, que Aldo cumpriu vertiginosa progressão: no espaço de ano e meio ingressou no diretório acadêmico, elegeu-se Presidente do DCE e, em julho de 1961, chegou à Presidência da UNE.

Na tarde morna de 25 de agosto de 1961, numa loja de confecções no centro de Goiânia, Aldo e o pai escolhiam um terno para substituir o que fora emprestado para a posse e a audi-ência, dois dias antes, com o Presidente Jânio Quadros. Foi quando soube da renúncia, pela estridente edição extraordinária de uma rádio

A vocação política no jovem Aldo logo o conduziu à Presidência do Grêmio literário Félix de Bulhões e à Juventude Estudantil Católica (JEC), organização da igreja para

o meio secundarista. No ano seguinte, já cursando direito no rio de Janeiro, trocou a JEC pela

Juventude Estudantil Católica (JuC), voltada aos universitários.

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local. O Presidente que desprezara os partidos e o jogo político-parla-mentar e se afastara da ortodoxia conservadora que pavimentou seu caminho rumo à Presidência, deixara o cargo sob a alegação de que “forças terríveis” levantavam-se contra ele e o impediam de governar.

A bordo do terno novo, que lhe cabia melhor, Aldo voltou no mes-mo dia ao Rio, onde confirmou suas suspeitas: os ministros militares, aqueles aos quais precedera dias antes, na audiência com o Presiden-te, armavam o impedimento da posse do Vice-Presidente João Goulart, em viagem à China, sob a alegação de que estava ligado aos comunis-tas.

Entidade então com maior capacidade de mobilização no País, a UNE deveria reagir. E reagiu. Após decretar greve geral universitária, a diretoria espalhou-se pelas principais capitais do Brasil. Aldo, seguido por seu assessor Herbert José de Souza, o Betinho, seguiu para Porto Alegre, onde o Governador Leonel Brizola erguera resistência armada ao golpe.

A capital gaúcha era uma praça de guerra. O Palácio Piratini, onde Aldo e Betinho apresentaram ao Governador Leonel Brizola o apoio da UNE, estava cercado por sacos de areia, automóveis, jipes, bancos da Praça da Matriz, trincheira defendida por civis armados e milicianos da Brigada Militar. No topo, ninhos de metralhadoras. Para além das barricadas, o povo. Milhares de estudantes e trabalhadores aglomera-vam-se em torno do palácio. A atmosfera, em todo o Rio Grande do Sul, era mesmo de luta. No interior, os centros de tradições gaúchas, arregimentavam o povo e o armavam com revólveres, espingardas e mesmo lanças e facões. Muitos desses gaúchos, com suas botas, bom-bachas e lenços no pescoço afluíam para Porto Alegre, preparados para a luta. Comitês de mobilização formaram-se entre estudantes e trabalhadores, intelectuais e artistas. Irreconciliáveis nos campos de futebol, Grêmio e Internacional se uniram em favor da luta.

Um posto de recrutamento de populares para a resistência foi instalado na Avenida Borges de Medeiros, num prédio em formato de mata-borrão, por isso assim apelidado. Em apenas cinco dias, 45 mil pessoas se inscreveram no Mata-borrão e entraram em filas para rece-ber armas e treinamento. Um dos líderes dessa mobilização popular era João Amazonas, então dirigente principal do Partido Comunista do Brasil (na época ainda sob a PCB) no Estado. Mas as ruas do Brasil estavam com a resistência gaúcha, que era uma resistência brasileira. E isso encurralou os militares golpistas.

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O comandante do III Exército, General José Machado Lopes, ade-riu ao movimento legalista.

Aldo Arantes passava os dias no Piratini, articulado com o co-mando legalista. Dividia-se entre ajudar na mobilização dos estudan-tes gaúchos, dirigidos pela Federação dos Estudantes Universitários do Rio Grande do Sul (FEURG), e falar na Cadeia da Legalidade que transmitia dos porões do Palácio Piratini para o Brasil, uma cadeia de 14 emissoras de rádio que espalhou a resistência a todas as ruas do País. Brizola e Aldo Arantes eram a atração principal. Em nome da UNE, Aldo relatava aos estudantes brasileiros a evolução dos aconte-cimentos, apresentava diretivas de ação, conclamando à mobilização. Em várias capitais os estudantes eram convocados para ouvir, nas pra-ças públicas, a palavra do Presidente da UNE.

Aldo estava no Piratini quando Jango chegou, em 1o de setembro à noite, após um retorno intencionalmente demorado ao Brasil. Ele já havia aceitado, contra a opinião de Brizola, o acordo parlamentarista que transferia para o Congresso e o Presidente do Conselho de Mi-nistros boa parte das prerrogativas presidenciais. No dia cinco, dois Viscount da Varig decolaram de Porto Alegre. Num deles, Jango e sua comitiva; no outro, com o restante da comitiva oficial e Aldo e Betinho, que ficaram em Campinas.

João Goulart foi empossado como Presidente da República no dia sete.

Aldo Arantes e Leonel Brizola desenvolveram, na breve, porém in-tensa luta democrática de agosto de 1961, profundos laços de afeto. Findo o movimento e ao se despedir do Governador gaúcho, dele rece-beu um revólver Rossi 38 “como símbolo da resistência”. Do presente, ficou apenas a lembrança. A asrma, durante a ditadura militar, foi doa-da a um militante da luta armada”.

Dias depois da posse, Aldo Arantes receberia na sede da UNE, no Rio de Janeiro, uma visita inusitada: o Presidente João Goulart, acom-panhado por todo seu ministério, lá esteve para agradecer a participa-ção dos estudantes na luta por sua posse. Somente 40 anos depois ou-tro Presidente estaria por lá: Luiz Inácio Lula da Silva, eleito em 2002.

Logo após o batismo de fogo na Campanha da Legalidade, Aldo Arantes dedicou-se a construir a que até hoje é considerada das melho-res – senão a melhor – gestão da UNE.

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A UNE Volante, a expansão dos centros populares de cultura (CPCs) e uma vigorosa greve geral pela representação estudantil de 1/3 nos cole-giados universitários marcaram a gestão.

Durante meses aviões DC-3 da Varig conduziram (com passagens cedidas a pedido do Governador Leonel Brizola), caravanas de 20 a 25 estudantes, entre os quais diretores da UNE, para quase todas as ca-pitais brasileiras (menos São Paulo, Niterói e Cuiabá). Em estadas de três a cinco dias em cada cidade, a UNE difundia a luta pela reforma universitária (contra o modelo elitista, autoritário e desvinculado das aspirações nacionais que vigia até então). Foram, ao todo, cerca de 200 assembléias, das quais Aldo Arantes, que liderava esse processo, participou.

O CPC buscava novas formas e novos métodos de mobilização e conscientização da juventude, utilizando a cultura e a arte como elementos de comunicação e também propugnava por uma cultura mais voltada para a realidade brasileira e seus dilemas. O CPC incluiu nomes que, logo em seguida, ganhariam notoriedade, como Ferreira Gullar, Oduvaldo Viana Filho, Cecil Thiré, Carlos Vereza e Francisco Milani, no teatro; Leo Hirzman e Cacá Diegues, no cinema; Carlos Lyra, Sérgio Ricardo e Geraldo Vandré na música.

A gestão encerrou-se com a Greve do 1/3, resultado da UNE Vo-lante, em junho de 1962. Atingiu a maioria das 40 universidades bra-sileiras durante mais de três meses, a mais longa greve estudantil já ocorrida até então.

O jovem Aldo Silva Arantes estava dando apenas o primeiro passo de uma longe e tortuosa vida política que, cinquenta anos depois, no início da segunda década do século XXI, ainda não havia terminado.

dias depois da posse, Aldo Arantes receberia na sede da uNE, no rio de Janeiro, uma visita inusitada: o Presidente João Goulart, acompanhado por todo seu ministério, lá esteve para agradecer a participação dos estudantes na luta por sua posse.

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Ainda sem títuloUm ano antes de Aldo Arantes assumir a Presidência da UNE, ou-

tro jovem, Dynéas Fernandes de Aguiar, aos 28 anos de idade, chegava a Brasília Como havia atuado no Conselho Sindical do Estado de São Paulo (criado e dirigido pelo Partido) como seu Secretário Executivo, recebera a missão de ajudar na estruturação do Sindicato da Constru-ção Civil de Brasília, também criado Partido, mas reunindo trabalha-dores nordestinos que nunca tinham ouvido falar em sindicato.

Dynéas deixou São Paulo no final de 1960, logo após as eleições de outubro que deram estrondosa vitória a Jânio Quadros sobre o can-didato apoiado pelos comunistas, o nacionalista Marechal Henrique Teixeira Lott. Após uma viagem de 24 horas, desembarcou em Brasília entre a lama e o pó da cidade que se espalhava, ainda em construção, sobre a planura verde amarronzada do Cerrado.

Dois meses antes, na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, o Partido havia realizado seu rumoroso V Congresso. A luta interna que se desenvolvia desde 1956 fizera dos quatro meses anteriores palco de debates acirrados. Dynéas, apesar de jovem, tomara posição no confronto. E não estava com a maioria prestista. Corajoso, ao chegar em Brasília, antes mesmo de assumir a Secretaria-Executiva do Sindicato, apresentou-se ao Partido levan-do consigo a incisiva intervenção por escrito feita na conferência es-tadual de São Paulo, preparatória ao congresso. Décadas mais tarde, nas vésperas de completar 80 anos, Dynéas lembraria com humor: “O pessoal disse que ali não tinha problema, podia ser contra ou a favor, tanto fazia”.

Meses depois seria incorporado ao Comitê Regional.

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Paulistano do bairro de Água Branca, onde nasceu em janeiro de 1932, um dos três filhos do segundo casamento de Antô-nio Aguiar, com Esmylla Gonçalves Aguiar, Dynéas só conheceria a política e o Partido Comunista aos 18 anos, quando se meteu numa pancadaria no Colégio Caetano de Campos, em protesto contra a visita eleito-ral de Lucas Nogueira Garcez, que concorria ao governo paulista. A bandinha que acom-panhava o candidato – pequena, mas estri-dente - perturbou a turma de Dynéas, que fazia provas. Perturbou a tal ponto que os alunos, em protesto, enfrentaram a comiti-va eleitoral com palavrões, giz, apagadores, cadernos e livros. A repressão da polícia fer-mentou o movimento, que se espalhou pela Praça da República.

Na greve que se seguiu, contra a tentati-va da diretoria da escola de fechar o grêmio, Dynéas se aproximou das colegas Horieta e Florita. Eram as filhas da militante comunis-ta Elisa Branco, notabilizada, à época, por desfraldar, diante do palanque oficial do des-file de Sete de Setembro, no Vale do Anhan-gabaú, a atrevida faixa: Os soldados nossos filhos não irão para a Coréia. Eram os úl-timos meses de 1950. Pouco depois Dynéas já ingressava na União da Juventude Comu-nista, onde permaneceria até 1957, quando a organização foi extinta pelo Partido. Nesse meio tempo, mergulhou no movimento estu-dantil secundarista: foi Secretário-Geral e em seguida Presidente da União Paulista dos Es-tudantes Secundaristas (UPES) e Presidente da União Brasileira dos Estudantes Secun-daristas (UBES), em duas gestões (1953/54 e 1954/55). Nessa trajetória de breves anos, uma fértil escola de política.

Eram os últimos meses de 1950. Pouco depois dynéas já ingressava na união da Juventude Comunista,

onde permaneceria até 1957, quando a organização foi extinta pelo Partido. Nesse meio tempo,

mergulhou no movimento estudantil secundarista: foi

Secretário-Geral e em seguida Presidente da união Paulista dos Estudantes Secundaristas (uPES)

e Presidente da união Brasileira dos Estudantes Secundaristas

(uBES), em duas gestões (1953/54 e 1954/55). Nessa trajetória de

breves anos, uma fértil escola de política.

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Nas eleições de outubro de 1950, Getúlio Vargas obteve vitória ar-rasadora em seu retorno – “nos braços n o povo”, como previra – à Presidência da República. A festa popular que se seguiu pelo País afo-ra de certo modo mitigou a dor nacional pela derrota da seleção brasi-leira de futebol para a esquadra uruguaia, em pleno Maracanã, na final da Copa do Mundo. Mas o PCB não participou da euforia, opondo-se desde o início ao novo governo com a mesma contundência com que se opusera ao anterior, do General Eurico Gaspar Dutra, conservador, americanófilo e anticomunista. Para o Partido, ambos eram “governos de traição nacional, instrumentos servis nas mãos do imperialismo norte-americano”. Reconheceria a estreiteza dessa posição em seu Quarto Congresso, realizado em novembro de 1954, três meses após o suicídio de Vargas. O trágico fim do Presidente espalhou pelo Brasil uma onda de revolta popular que não poupou nem mesmo a imprensa comunista que tanto o denunciara.

“Tropa de choque do Partido”, como então se definia, a UJC comba-tia cotidianamente nas ruas. Fez história em São Paulo a manifestação promovida no amplo saguão da sede dos Diários Associados, na Rua Sete de Abril. O velho Assis Chateaubriand, chefão dos Diários, que in-cluía a nascente televisão brasileira e uma extensa cadeia de rádios e jornais, criara um voluntariado para a Guerra da Coreia. A campanha de alistamento começou a repercutir, jovens se inscreviam, tinham suas fotos publicadas em meio a elogios. Então a UJC decidiu agir. Um contingente de jovens comunistas invadiu o saguão, Dynéas discursou sobre um banquinho, diante de porteiros e funcionários atônitos e de populares curiosos que já se aglomeravam. Tudo muito rápido. Antes de saírem, os manifestantes lançaram mão de suas armas mais letais: lâm-padas domésticas cheias de piche que, lançadas nas paredes, borravam-nas com a resina escura e pegajosa. E correram em direção à Praça da República. Resultado: Chateaubriand desistiu do voluntariado.

O Brasil já havia assinado com os Estados Unidos um acordo mi-litar quando navios de uma esquadra norte-americana atracaram no porto de Santos. Novamente a “tropa de choque do Partido” entrou em ação. Os marinheiros, em suas folgas, costumavam subir para São Paulo. Os rapagões de pele rosada e cabelo de palha divertiam-se em bares, estádios de futebol, principalmente em boates. Nas saídas, os esperavam grupos da UJC. Recebiam alguns tapas e empurrões, mas o que os jovens comunistas queriam mesmo, para marcar sua posição e desmoralizar os ianques, era furtar-lhes os gorros. E os classificavam

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em pontos: gorro de sargento valia mais que de simples marinheiro. E concorriam entre si na insólita coleção de gorros.

Como a UJC de São Paulo e Rio costumavam disputar em audácia, os paulistas resolveram homenagear Joseph Stálin com algo arrojado que marcasse a memória da cidade, fazendo a competição pender ine-lutavelmente a seu favor. Então montaram o nome do líder soviético com enormes pedaços de bambu, atados com arames na beirada do viaduto de Santa Efigênia. Aplicaram sorte as letras os ingredientes das buchas de balões: estopa, breu e querosene. Era um final de tarde e a ação dos jovens foi relâmpago. Quando atearam fogo no bambu, o flamejante nome de Stálin pendeu do viaduto, balançando sobre a mul-tidão que, na hora crepuscular, amontoava-se nos terminais de ônibus da antiga Praça do Correio. E ali pontificou por mais de duas horas, até que os bombeiros, após um labor insano, conseguissem removê-lo.

Mas nem com tamanho arrojo a UJC paulista conseguiu superar a carioca que, dois anos antes, havia atingido marca insuperável. Na an-tiga Capital da República, pelas mãos da jovem militante (e alpinista) Elza Monerat, que décadas depois se notabilizaria como guerrilheira no Araguaia, o nome de Stálin foi pichado com letras garrafais nas pe-dras do morro Dois Irmãos, na Gávea, cartão-postal do Rio de Janeiro. E ali, ostensivamente à vista, permaneceu até que o tempo o apagasse, muito tempo depois.

A tropa de choque juvenil também auxiliava em ações do Partido, como quando um grupo madrugou na Vila Prudente em manifestação diante de uma metalúrgica, Sobre uma Kombi, na calçada diante da fá-brica, militantes discursavam defendendo o pagamento do 13o salário, então chamado de bônus de Natal. E os operários sorriam e acenavam com as mãos. E os jovens ali, paus para toda a obra. Quando, enfim, os trabalhadores entraram na fábrica e as portas foram fechadas, che-gou a polícia, um batalhão furioso correndo contra os manifestantes. Estes, jovens e fortes, resistiram. Longe da platéia de operários, na solidão da rua deserta, a pancadaria correu solta.

Até sua extinção, em 1957, a UJC, sempre como a “tropa de cho-que do Partido”, sempre atenta e audaciosa, participou das principais lutas que agitaram o Brasil. Duas delas foram emblemáticas da época: o grande movimento pela paz mundial, liderado pela União Soviética e pelos partidos comunistas, e a campanha O petróleo é nosso, que resultou no monopólio estatal do petróleo e na criação da Petrobrás em julho de 1953.

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TíTulo do livro 19

Breves, porém intensos anos de militância, o suficiente para que o jovem Dynéas Aguiar abandonasse de vez o sonho de se tornar enge-nheiro, substituindo-o pelo de revolucioinário em tempo integral.

E foi assim desde então. E nas quase quatro décadas seguintes gal-garia os mais elevados postos no Partido a bordo do carinhoso apelido que lhe valeu a calvície prematura: Careca

Ainda estava na UJC quando, em fevereiro de 1956, Nikita Krus-

chov apresentou ao XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), um “relatório secreto” atacando duramente J. Stá-lin, morto três anos antes, e denunciando o culto à sua personalidade. O documento foi publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo e logo desacreditado pelo PCB como intriga patrocinada pela CIA. Mas, em agosto, a confirmação de sua autenticidade desabaria sobre o Partido com a força de incalculáveis megatons.

Dynéas recebeu o “relatório Kruschov” surpreso, mas não abalado em suas convicções. Afinal, como diria mais tarde, ao refletir sobre o papel de Stálin na construção do socialismo na URSS, “nunca aceitei aquela história de paizinho, herança do czarismo”. Para ele, a própria letra da Internacional era inconfundível: nem deuses, nem chefes su-premos.

A rigor, as críticas ao “autoritarismo stalinista” que, a partir do “relatório Kruschov, passaram a alimentar as controvérsias entre os comunistas, apenas encobriam o verdadeiro conflito subitamente re-acendido, um conflito que acompanhara o Partido, ora mais exposto, ora menos, desde sua criação, em 1922, e que opunha com crescente contundência, duas linhas políticas distintas - a reformista e a revolu-cionária. Luiz Carlos Prestes, então Secretário-Geral, adotou a linha reformista, tendo como opositor um grupo minoritário – mas aguer-rido - liderado, entre outros, por João Amazonas, Maurício Grabois e Pedro Pomar.

Dynéas Aguiar, embora jovem – apenas 24 anos em 1956 - tomou partido dos que defendiam o caminho revolucionário. Ou seja, mar-chou contra a corrente. Já em 1957 lutou, sem sucesso, para evitar a extinção da União da Juventude Comunista (UJC), à qual pertencia e que o partido, sob nova orientação, tratava-se de extinguir, junto com as demais frentes de massa que havia criado.

Indisposto com a maioria prestista na conferência de São Paulo,

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preparatória ao V Congresso (razão pela qual não foi eleito delegado), Dynéas aceitou mu-dar-se para Brasília, onde logo foi integrado ao Comitê Regional.

Depois de ajudar na estruturação do Sin-dicato da Construção Civil de Brasília, como seu Secretário-Executivo, em março de 1962 Dynéas ocupava, a convite do Prefeito Sette Câmara, a direção do serviço de geografia e estatística do Distrito Federal e dava assis-tência a uma base do Partido da qual partici-pava o arquiteto Oscar Niemeyer e parte de sua equipe.

Naquele março em que Brasília já refres-cava na antevéspera do outono – embora a temperatura política caminhasse para a fer-vura - quando Dynéas viu surgir em sua sala um cinquentão alto, entroncado e calvo, que falava e sorria ao mesmo tempo. Não o co-nhecia. O estranho apresentou-se como Lin-coln Oest. Era – Dynéas viria a saber depois - um veterano dirigente comunista, remanes-cente da insurreição de 1935 e deputado es-tadual no Rio de Janeiro eleito em 1946 e cas-sado no ano seguinte, quando o PCB e seus parlamentares foram mandados de volta à clandestinidade.

Estava ali, disse Lincoln, para comunicar a realização da conferência extraordinária de reorganização do Partido realizada em São Paulo, no mês anterior. Nenhum espanto para quem, como Dynéas, acompanhara as controvérsias internas que vinham cindin-do o Partido desde o “relatório Kruschov”. Controvérsias que já transitavam da luta de idéias para ação. Em meados do ano ante-rior, Dynéas havia impedido a circulação, em

o estranho apresentou-se como lincoln oest. Era – dynéas

viria a saber depois - um veterano dirigente comunista,

remanescente da insurreição de 1935 e deputado estadual no

rio de Janeiro eleito em 1946 e cassado no ano seguinte, quando

o PCB e seus parlamentares foram mandados de volta à

clandestinidade.

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Brasília, da edição do jornal Novos Rumos que trazia a notícia esta-pafúrdia: a mudança do nome de Partido Comunista do Brasil para Partido Comunista Brasileiro, com novo programa e novos estatutos, tudo à margem de um congresso.

As comunicações, precárias na época, impediram Dynéas de com-parecer à conferência que reuniu pouco mais de 80 comunistas no bairro paulista do Ipiranga. Mas ele concordou com Lincoln: os pres-tistas haviam criado um outro partido, indispensável reorganizar o an-tigo, o nascido em 1922. Surpresa mesmo foi saber de sua eleição para membro suplente do novo Comitê Central.

Nos dez anos seguintes Dynéas conviveria com aquele sorriso lar-go e espírito brincalhão nas reuniões do Comitê Central, aprenden-do muito com sua larga experiência revolucionária. Logo no início de 1973, já cumprindo longa missão no exterior, Dynéas receberia a notí-cia: em 20 de dezembro do ano anterior, ou seja, menos de um mês an-tes, Lincoln Cordeiro Oest havia sido preso e, dias depois, assassinado sob torturas no DOI-CODI do Rio de Janeiro.

Nos pouco mais de três em que permaneceu em Brasília, Dynéas dividiu-se entre a militância no PCB – foi membro do Comitê Regional, de 1960 a 1962 – e, em seguida, no partido reorganizado, agora com a sigla PCdoB, para o qual conseguiu a adesão da maioria das bases operárias e estudantis da capital. Além de membro suplente do Comitê Central, Dynéas tornou-se o dirigente principal do partido em Brasília.

Nem bem esquentara a cadeira de Secretário-Executivo do Sindi-cato da Construção Civil, nas últimas semanas do governo Juscelino Kubitschek, e lá estava ele dirigindo um grande movimento que pra-ticamente dobrou o salário dos candangos, os operários construtores de Brasília.

Nos últimos dias de agosto do ano seguinte, consumada a renúncia do Presidente Jânio Quadros, os tanques do Exército faziam Brasília trepidar na preparação do golpe que tentava impedir a posse do Vi-ce-Presidente João Goulart. O partido ligou-se ao Governador Mauro Borges, de Goiás, que resistia aos militares ao lado do gaúcho Leonel Brizola. A resistência incluía transferir de Brasília para Goiás os parla-mentares que, certamente, seriam presos pelos golpistas. Como as sa-ídas de Brasília estavam tomadas por tropas, coube à Dynéas, à frente de camaradas do partido, sobretudo dos camponeses que conheciam a

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região como a palma da mão, esquadrinhar caminhos alternativos pelo Cerrado. E por aquelas veredas que só os da terra conheciam viajaram diversos parlamentares. Um deles, Almino Afonso, Deputado Federal pelo PTB de São Paulo, seria Ministro do Trabalho e Previdência So-cial do Governo João Goulart e, em abril de 1964, cassado pelos milita-res e exilado por 12 anos.

No período de dois anos e meio que antecedeu o golpe militar de 1964, ou seja, durante o Governo João Goulart, o Brasil ferveu sob um movimento de massas que só fazia crescer.

A burguesia nacional brasileira estava com a faca e o queijo na mão para levar adiante seu projeto de desenvolvimento autônomo do Brasil. Detinha os principais postos do Estado e liderava poderosa frente de classes. Mas lhe faltava coragem. Ou talvez suas limitações históricas não lhe permitissem avançar além do que avançou.

O movimento social, no entanto, crescia acelerado em busca da maior participação econômica, social e política das amplas maiorias até então apartadas. Quando o governo curvou-se ao FMI, lançando a conta do combate à inflação nas costas dos trabalhadores, estes reagi-ram, entre 1961 e 1963, com um número de greves superior ao ocorri-do em toda a década anterior. O movimento estudantil, desde sempre ativo, agia em torno de lutas específicas, mas também em apoio às reivindicações dos trabalhadores. No campo, proliferaram ligas cam-ponesas e o sindicalismo rural. A luta pela reforma agrária “na lei ou na marra”, espalhava-se feito um rastilho de pólvora.

Efervescentes também os quartéis. O ponto de fervura chegou na madrugada do dia 12 de setembro de 1963, em Brasília, quando cabos, sargentos e suboficiais da Aeronáutica, seguidos por colegas fuzileiros navais, rebelaram-se contra a decisão recém tomada pelo Supremo Tribunal Federal de reafirmar a inelegibilidade das praças para os ór-gãos do Poder Legislativo. Da revolta – desde sua preparação – parti-cipou ativamente o partido, a começar por seu dirigente principal em Brasília, Dynéas Aguiar, a postos na Base Aérea (chegando, inclusive, a sair com a tropa para tentar render um quartel do Exército).

O movimento durou pouco. Mas radicalizou. Cerca de 600 homens das duas forças tomaram as instalações do Departamento Federal de Segurança Pública (futura Polícia Federal), do Ministério da Marinha, da Rádio Nacional, da Estação Central de Rádio-Patrulha e do Depar-

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tamento de Telefones Urbanos e Interurbanos. Toda a comunicação de Brasília com o resto do Brasil foi cortada. Oficiais foram levados à força para as bases aéreas de Brasília, onde ficou retido também o então ministro do Superior Tribunal Federal, Vitor Nunes Leal.

Mas 12 horas depois tropas do Exército sufocaram a rebelião. Lí-deres foram indiciados num inquérito policial-militar e, cinco meses depois, condenados a quatro anos de prisão. Embora derrotado, o mo-vimento sinalizou a que ponto as turbulências políticas construíam ce-nários de enfrentamento.

O clima de exacerbação ideológica avizinhava-se do paroxismo, permeando a sociedade brasileira de alto a baixo. À esquerda e à di-reita, armava-se o confronto. Partidárias das reformas, entidades do movimento popular (UNE, CGT, Pato de Unidade e Ação, ligas cam-ponesas, entre outras), encaravam a hostilidade crescente de repre-sentações da direita, como o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), o Coman-do de Caça aos Comunistas (CCC), a Campanha da Mulher pela De-mocracia, entre outras. No Rio de Janeiro, o famigerado Movimento Anticomunista (MAC), pichava muros com a indagação: “Já matou seu comunista hoje?”. E, em seguida, indicava os “comunistas” a serem mortos: “Brizola, Arraes e Aldo Arantes”. Já o CCC encarregou-se de metralhar a sede da UNE.

Em janeiro de 1963 um plebiscito ressuscitou o presidencialismo. Jango viu restaurados seus poderes e começou a governar de fato. E,

No rio de Janeiro, o famigerado Movimento Anticomunista (MAC), pichava muros com a indagação: “Já matou seu comunista hoje?”. E, em seguida, indicava os “comunistas” a serem mortos: “Brizola, Arraes e Aldo Arantes”. Já o CCC encarregou-se de metralhar a sede da uNE.

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meses depois, enviou ao Congresso seu projeto das reformas de base (agrária, tributária, bancária, administrativa e educacional) avalizado pela Frente Parlamentar Nacionalista, que reunia deputados progres-sistas.

Frente à histeria da direita, Jango radicaliza o discurso nacionalis-ta. Em 13 de março de 1964, reúne mais de 250 mil pessoas no Comício das Reformas, ao lado da Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Ao mes-mo tempo, na zona sul carioca, as janelas da classe média expunham as velas acessas do medo. Em São Paulo, na semana seguinte, milhares realizam a Marcha da Família, com Deus pela Liberdade gritando, com o terço nas mãos, bordões anticomunistas. No dia 30, Jango discursa na festa do Clube dos Sargentos, no Automóvel Clube. O cenário está pronto para o enfrentamento.

Era para durar dois ou três dias, aproveitando o feriado de Finados de 1963. Durou dez, ao cabo dos quais Dynéas Aguiar voltou à Brasília com alguns ossos da mão direita quebrados e um IPM nas costas.

Logo após a revolta dos sargentos, um grupo de militantes das Li-gas Camponesas seguiu para o Norte goiano para estabelecer um foco guerrilheiro. Com a imediata repressão do Exército – teriam sido dela-tados por um desertor -, seis deles se esconderam na região do Vão dos Anjicos e, por intrincada rede de contatos, fizeram chegar à Dynéas, a quem já conheciam, a vontade de se colocar à disposição do PCdoB. Sem poder sair da região, caçados que estavam, Dynéas e mais dois companheiros decidiram ir até eles.

Viagem tormentosa. De jipe até Mato Seco, pelo areal do Cerrado. Dali, quase um dia a cavalo até as margens do rio Maranhão e mais um tanto de barco a remo e ainda a subida de um morro em cujo topo escondiam-se os insurgentes. Era noite alta. O cansaço, extremo. A conversa ficaria para o dia seguinte. Mas não houve conversa, pois o Exército trocou de madrugada. No tiroteio, um guerrilheiro foi ferido na cabeça, de raspão, enquanto um soldado levou um tiro no estôma-go. Na correria sob o breu da noite, Dynéas despencou morro abaixo, quebrou alguns ossos da mão direita e colecionou escoriações. Com um ferido, o Exército resolveu retirar-se, do que se aproveitaram os guerrilheiros para se dispersar. Dynéas e um companheiro (o que leva-ra um tiro de raspão na cabeça) iniciaram marcha de três dias a pé até Mato Seco, boa parte dela aproveitando as margens do rio Maranhão.

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Depois, de carona chegaram à Brasília, onde Dynéas retornou à chefia do serviço de geografia e estatística da Prefeitura, não sem antes pedir que lhe descontassem os dias de ausência.

O IPM que lhe valeu a jornada ao Vão dos Angicos somou-se ao que já respondia por sua participação na revolta dos sargentos. Por essa época - meados de dezembro de 1963 – Dynéas leu no jornal No-vos Rumos, do PCB, que havia sido expulso do Partido Comunista Bra-sileiro ao qual, no fim das contas, jamais pertencera.

O Cardeal foi educado, mas a conversa, dura. E os jovens se

afastam da hierarquia católica.O sexagenário cardeal do Rio de Janeiro, Dom Jayme de Barros

Câmara, foi educado. Houve quem percebesse até mesmo suavidade no modo como recebeu, rodeado por um séquito de auxiliares, aquele grupo de 15 ou 20, estudantes liderado pelo Presidente da UNE e aluno da PUC Aldo Arantes. Educada, mas dura aquela conversa no arcebis-pado. Afinal, o hierarca católico comunicava que, por determinação do Vaticano, seria obrigado – contra sua vontade, é claro, como subli-nhou - a afastar Aldo da JUC. Por comedimento, não usou a palavra “expulsão”. Mas era disso que se tratava. Motivo: o reconhecimento, pela UNE, em seu recém-realizado XXIV Congresso, da União Interna-cional dos Estudantes (UIE).

Ninguém perdeu a civilidade, mas Aldo foi contundente diante do cardeal. Em resumo garantiu que, com aquele ato discricionário, a Igreja Católica cometia grave erro, afastando-se ainda mais da juven-tude. Esta foi a gota d’água que azedou de vez as já deterioradas rela-ções já entre o setor mais à esquerda da JUC e a hierarquia católica. E a semente que dali em diante prosperou: a da criar uma organização independente que viria a ser, dois anos depois, a Ação Popular (AP).

Vinha de tempos o contencioso entre a chamada esquerda da JUC e a hierarquia católica. O pensamento católico progressista – estimu-lado, sobretudo, pelo papado renovador de João XXIII – e o impacto

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da Revolução Cubana em todo o continente, despertaram um setor da JUC para o papel dos cristãos naquilo que eles próprios denomi-naram de “revolução brasileira”. No congresso que comemorou seu décimo aniversário, em 1960, no Rio de Janeiro, a JUC definiu o con-teúdo dessa revolução: um ainda nebuloso “socialismo democrático”. A partir daí vai se fortalecendo um setor à esquerda que, já em 1960, surge como força política estruturada no XXIII Congresso da UNE, em aliança com o PCB, ainda forte entre os estudantes, embora dominado pela corrente reformista. A JUC tornou-se particularmente atuante no Rio de Janeiro, sob a liderança de Aldo Arantes; em Minas Gerais, com Herbert José de Souza, o Betinho; e na Bahia, onde emergia a liderança de um jovem estudante de engenharia elétrica na Escola Politécnica e de nome algo pomposo: Haroldo Borges Rodrigues Lima.

A esquerda da JUC seguia, de fato, caminhos inaceitáveis para a conservadora hierarquia católica do Brasil. Aliava-se preferencialmen-te com os comunistas, defendia a Revolução Cubana, forçava amplo debate político em instituições até então dominadas pela férrea hege-monia católica e, talvez o pior dos delitos, defendia a escola pública. O desgaste acumulado convergiu para a tensa audiência mantida com o Cardeal Jayme Barros Câmara. Tensa e definitiva. Aldo Arantes deixou a conversa convencido de que a experiência da JUC havia se esgotado e agora tocava criar uma organização à margem da Igreja. Começava a nascer a Ação Popular.

E foi, de fato, o que ocorreu. E no último semestre de 1961, os jovens articuladores da nova organização aproveitaram as caravanas da UNE Volante, que percorreram todo o Brasil, para criar núcleos embrionários da AP. Dessa articulação resultaram em três grandes en-contros: em São Paulo, Minas Gerais e Bahia.

Em fevereiro de 1963, encerrados na Escola de Veterinária da Universidade Federal da Bahia, no bairro de Ondina, alheios aos trios elétricos que trepidavam as ruas da velha Salvador e ao povo que os seguia na monumental festa do carnaval baiano, algumas dezenas de jovens estudantes realizaram o congresso de fundação da AP.

No “Documento Base” aprovado, a nova organização definia-se por um impreciso “socialismo como humanismo”, mas ainda distan-te da teoria – o marxismo-leninismo – capaz de lhe conferir nature-za científica e efetividade histórica. Era organização revolucionária democrático-reformista. A trajetória – em vários aspectos conflituosa – em direção a essa teoria marcaria os dez primeiros anos da principal

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organização revolucionária do Brasil na década de 60. Ao encontrá-la, perdeu razão de ser, pois já havia no País um partido marxista-leninis-ta, o Partido Comunista do Brasil, ao qual se incorporou entre 1972 e 1973.

Essa rica, intensa e contraditória experiência seria examinada vin-te anos mais tarde por Aldo Arantes e Haroldo Lima no livro Histó-ria da Ação Popular – da JUC ao PCdoB, escrito na penitenciária do Barro Branco, em São Paulo, onde cumpriam pena, e contrabandeado para fora dentro de um vaso de flores.

O congresso de Salvador, onde estavam presentes, entre outros, Aldo Arantes. Haroldo Lima, Duarte Pereira, Péricles Souza e Betinho, surgiu a primeira coordenação nacional da AP, liderada por Betinho e com a participação de Aldo Arantes, Duarte Pereira e Haroldo Lima.

“Vou botar essa farda e enquadrar muita gente lá pelo interior”.

Seguiu a pequena, porém resoluta comitiva rumo a Feira de San-tana. Pouco mais de 100 quilômetros, a partir de Salvador, na modesta frota de um jipe, uma Kombi e um ou dois carros. Ao todo, não mais que 20 jovens dispostos a fazer de Feira de Santana um elo na resistên-cia ao golpe militar que, nas últimas horas, lançara os tanques nas ruas para depor o Presidente João Goulart.

O engenheiro eletricista Haroldo Lima recebeu a notícia no início da noite de 31 de março, ao chegar numa assembléia da Federação dos Trabalhadores na Indústria da Bahia, nas proximidades da Praça da Sé. “O golpe está em curso”, disse-lhe o Vice-Presidente da UNE, Duarte Pereira, que estivera em contato com o Rio de Janeiro. Não houve tempo para muitos discursos. Avisado da aproximação de tro-pas do Exército, que já percorriam a Rua Chile, fechando as portas do comércio e prendendo suspeitos, Haroldo saltou para o velho jipe emprestado pelo pai, e com ele uma pequena multidão. Como o jipe recusou partida, foi necessário fazê-lo pegar no tranco. Já se ouvia o rugir dos pesados caminhões militares.

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Na casa de Jorge Leal Gonçalves articularam a resistência: retirar-se para Feira de Santana, onde o progressista Prefeito Chico Pinto estaria certamente contra o golpe, e ali preparar uma frente de resis-tência complementar às que ocorreriam no Rio Grande do Sul, com a liderança do ex-Governador e então Deputado Federal Leonel Brizola, e em Pernambuco, sob o comando do Governador Miguel Arraes.

Na bagagem feita às pressas, algumas cargas de dinamite e meia dúvida de fardas daqueles que haviam recém cursado o Centro de Pre-paração de Oficiais da Reserva (CPOR), do Exército. Haroldo Lima, à frente do grupo, pensou: “Vou botar essa farda e enquadras muita gente lá pelo interior”.

Em Feira de Santana os jovens resistentes encontram um Chico Pinto disposto à luta. Reuniram-se na casa do Prefeito, discursaram e fizeram planos.

Haroldo Lima costuma dizer, não sem orgulho, que tem um pé fin-cado na Inconfidência Mineira e outro no movimento abolicionista. E é fato. Perseguido após a derrota da conjuração, da qual participou, seu ancestral Domingos Gomes de Azevedo deixou com a família a localidade de Tijuco, em Minas Gera, em direção ao Norte. O clima ameno e a água boa e farta de Caetité, no vale do São Francisco, Su-doeste baiano, atraíram os Gomes de Azevedo, que ali fincaram raízes. Na pequena vila, meio século depois, nasceria José Antônio Gomes Neto, futuro Barão de Caetité. Estudante de Direito em Recife, torna-se abolicionista. A despeito do título que lhe concedeu o Império, Go-mes Neto fez-se republicano.

Trineto do barão, Haroldo Lima nasceu em outubro de 1939 na casa da família, que ainda hoje existe em Caetité. Dos Rodrigues Lima do lado materno, Haroldo também descende de personalidades. Seu bisavô, Joaquim Manoel Rodrigues Lima, foi o primeiro governador eleito da Bahia, logo após a Proclamação da República.

Apesar da larga tradição das famílias, Haroldo passou ao largo da política durante seus estudos secundários em Bru-mado (vizinha de Caetité), Jequié e Salvador, onde cursou o científico como interno no Colégio Marista. Somente ao ingressar no curso de engenharia elétrica, na Escola Politécnica da UFBA, em 1959, é que a política o capturou. E já no dia do trote. Ainda pintado e esbaforido pela algazarra, foi chamado por um veterano para uma conversa no dia

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seguinte. O veterano era Jorge Leão Gonçal-ves Ferreira, a quem Haroldo fora recomen-dado como um jovem inteligente e vivaz. Da conversa à JUC a passagem foi instantânea. E assim o trineto do Barão de Caetité, rapaz de fato curioso e perspicaz, mergulhou no movimento estudantil e na política, de onde nunca mais saiu. Logo estava na diretoria do centro acadêmico e, em seguida na da União dos Estudantes da Bahia (UEB). Na JUC, em pouco tempo participava da coordenação estadual, onde pontificava a estudante de TAL CURSO Solange Silvano, com quem Ha-roldo viria a se casar em TAL ANO.

Em 1961 Haroldo já consolidara sua li-derança na universidade. No fatídico agosto daquele ano, quando Jânio Quadros deixou a Presidência, Haroldo atuou fortemente na resistência ao golpe tentado pelos ministros militares contra a posse do Vice-Presidente João Goulart. Diariamente convocava os estudantes e o povo baiano para o Terreiro de Jesus, no centro de Salvador, onde alto-falantes ecoavam, sempre às cinco da tarde, a Cadeia da Legalidade, com a palavra de resistência e luta do governador gaúcho Le-onel Brizola e do Presidente da UNE, Aldo Arantes.

Seguia a pequena, porém resoluta co-mitiva no caminho de Feira de Santana. Na hora e meia de viagem, ouvidos pregados no rádio portátil de Péricles de Souza. Nenhuma notícia de resistência no Rio Grande do Sul, tampouco em Pernambuco. O golpe, ao que parecia, marchava célere e, aparentemente, sem obstáculos. A tropa do General Olympio Mourão Filho já havia deixado Juiz de Fora,

Em 1961 Haroldo já consolidara sua liderança na universidade. No fatídico agosto daquele ano, quando Jânio Quadros deixou a Presidência, Haroldo atuou fortemente na resistência ao golpe tentado pelos ministros militares contra a posse do vice-Presidente João Goulart.

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marchava em direção ao Rio de Janeiro. Mas a comitiva não recuou, embora tenha desistido da primeira ação, prevista ainda para a estra-da: sabotar o sistema elétrico mediante um curto circuito que deixaria Salvador e Feira de Santana às escuras.

Na casa do Prefeito Chico Pinto o encontro que reuniu os resis-tentes de Salvador com dezenas de outros de Feira de Santana, come-çou com discursos inflamados contra o golpe militar. Mas durou pou-co mais de uma hora. O Exército já havia tomado o quartel da Polícia Militar, de modo que as fardas do CPOR revelaram-se inócuas para a luta. O espaço da resistência reduzia-se dramaticamente. E as armas? Reuniram ali a artilharia disponível: uma espingarda de caça de Chico Pinto, um revólver calibre 22 de Péricles de Souza e um calibre 32 do motorista da Kombi. Com tão magro poder de fogo, sem notícias da re-ação gaúcha e pernambucana e percebendo o golpe avançar a passos largos, a comitiva resolveu bater em retirada. Ainda assim, tentou a derradeira cartada: encarregou Péricles de Souza de tentar a resistên-cia através de assembleias sindicais na região.

Na Kombi que havia sido expropriada do Movimento de Educa-ção de Base (MEB), onde Péricles atuava, embarcaram quatro dos úl-timos resistentes em direção a Cachoeira, município a 100 quilômetros de Feira de Santana. Dormiram as poucas horas que restavam da noite num hotel e, na manhã seguinte, 1o de Abril, partiram para a ação. Nos sindicatos rurais, intensamente criados nos quase três anos do gover-no João Goulart, estariam as derradeiras esperanças de resistência.

o Exército já havia tomado o quartel da Polícia Militar, de modo que as fardas do CPor revelaram-se inócuas para a luta. o espaço da resistência reduzia-se dramaticamente.

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Na manhã de 24 de agosto de 1954, uma professora entrou na sala da Escola Getúlio Vargas, em Salvador, onde Péricles cursava o tercei-ro ano do primário, e pediu que os alunos voltassem para casa. Estava em lágrimas. Em casa, o menino Péricles, então com 11 anos de idade, encontrou o pai colado ao rádio. Também em lágrimas, o comerciante Agenor de Souza contou ao filho que o Presidente Getúlio Vargas havia se suicidado.

A partir dessa fatídica manhã de sua infância, sob o impacto de um suicídio presidencial que levara o País às lágrimas e às ruas, Péricles pas-sou a se interessar pela política. Três anos mais tarde já a praticava no mo-vimento estudantil. E nunca mais a abandonou, tornando-a preocupação e atividade centrais de sua vida, levadas à extrema radicalidade.

Nascido em Vitória da Conquista em fevereiro de 1943, o segundo dos sete filhos de Agenor e Fulana Santos de Souza, Péricles chegou em Salvador, com a família, aos seis anos de idade. Foi no Ginásio Baiano de Ensino, em 1957, que se iniciou na política prática. Partici-pou da fundação do grêmio e foi eleito seu primeiro presidente. Nesse mesmo ano estava entre os jovens que fundaram a JEC na Bahia, da qual logo se tornou um dos dirigentes. Mas quando iniciou o científico no Colégio Central, o gosto pela política o fez se aproximar da JUC e, em seguida, da AP, criada em pleno carnaval baiano de 1963. Na or-ganização passou a ser o dirigente do setor secundarista e, como tal, membro da coordenação estadual.

Péricles contava com apenas 19 anos e cursava o terceiro ano do científico. Mas não prestou vestibular. Seus horizontes já ultrapassa-vam as lutas meramente estudantis. Pensava agora em transforma-ções mais radicais da sociedade e pertencia a uma organização que avançava nesse sentido. Assim, transferiu-se para o trabalho de orga-nização dos trabalhadores rurais, o que lhe exigiu dedicação integral. Ingressou no Movimento de Educação de Base (MEB), iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em convênio com o então Ministério da Educação e Cultura (MEC). O MEB visava, pri-mordialmente, a alfabetização de adultos. Mas como a Igreja Católi-ca pretendia disputar com os comunistas a hegemonia no movimento camponês, atuou fortemente na criação de sindicatos rurais, algo que se tornou fácil sob o Governo João Goulart.

A AP valeu-se do MEB. Péricles tornou-se o responsável pela cha-mada Coordenação do Sindicalismo Rural. Numerosos sindicatos e federações foram criados.

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Péricles já estava no MEB quando ali chegou um estudante que conhecera na JUC e com o qual selaria uma unidade política que ultra-passaria as cinco décadas seguintes: Ronald Cavalcanti Freitas.

Em sua peregrinação de quase uma semana pela região de Fei-

ra de Santana, em busca da resistência dos sindicatos rurais ao golpe em marcha, Péricles e seus três companheiros só foram colhendo de-silusões. O clima era mesmo de derrota. Uma parte dos sindicalistas já estava presa, outra parte havia fugido e havia ainda os que, amedron-tados, não concordavam sequer em conversar sobre o assunto. No município de Amargosa, o bispo local, antigo aliado dos resistentes, recebeu-os trêmulo, rogando que fossem logo embora, pois as forças militares já estavam próximas. Ofereceu-lhes algum dinheiro para agi-lizar a saída. Cruzaram a rodovia Rio-Bahia, logo após deixar Amargo-sa e já avistaram tropas em marcha. Então o movimento de resistência foi se tornando uma viagem de fuga que terminou em duas fazendas da região, nos municípios de Itaberaba e Rui Barbosa. Ali os valentes per-maneceram alguns dias, observando a evolução dos acontecimentos. Em seguida voltaram para Salvador.

A dispersão dos que permaneceram em Feira de Santana foi mais rápida. No final da noite de 31 de março Haroldo Lima e seus companheiros concluíram que, sem a reação legalista do Rio Grande do Sul e de Pernambuco, não haveria como abrir um elo de resistência na Bahia. Então a decisão dramática foi pelo recuo. Alguns retornaram para Salvador. Haroldo refugiou-se numa fazenda de conhecidos nas proximidades de Feira de Santana. Dias depois também ele voltava para a capital, carregando no velho jipe a farda de 2o Tenente da reser-va do Exército, com a qual imaginou enquadrar os reacionários golpis-tas no interior da Bahia.

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O jovem empertigado que cruzou, guiado por vistoso topete à James Dean, as ante-salas da Presidência da República, vestia um terno emprestado, curto nos ombros e na altura. A jovem que o seguia saltitava de quando em quando para acompanhar as passadas largas e rápidas do rapaz que não se deteve nem mesmo quando distinguiu a presença de três oficiais idosos – e, por suposto, graduados - à espera de que o Presidente os recebesse.

Estudante da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Ca-tólica do Rio de Janeiro, Aldo Silva Arantes contava com apenas 22 anos de idade e estava no Palácio do Planalto, naquele aziago mês de agosto de 1961, para comunicar ao Presidente da República sua posse, semanas antes, na Presidência da poderosa União Nacional dos Estu-dantes (UNE). Não era de se estranhar. Numa época em que não havia centrais sindicais (o Comando Geral dos Trabalhadores só seria criado no ano seguinte), a UNE liderava o movimento social brasileiro, sen-do seu presidente autoridade nacional com acesso irrestrito aos mais eminentes gabinetes do poder.

Não por menos o Presidente da UNE obteve precedência, na agen-da presidencial aos militares que observou apenas de soslaio, nada mais, nada menos que os ministros com os quais se defrontaria alguns dias depois, em defesa da legalidade: Marechal Odylo Denis, da Guerra (como então se chamava o já extinto Ministério do Exército); Briga-deiro Gabriel Grün Moss, da Aeronáutica, e o Almirante Sylvio Heck, da Marinha.

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CAPÍTULO II

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