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REVISTA ELETRÔNICA DÍKE Δίκη vol. 1, 1 (jan/jul 2011) A Propaganda Eleitoral Antecipada e suas Especificidades Fernando Maurício Pessoa Ramalho Vianna Analista Judiciário do Tribunal Superior Eleitoral - TSE Aluno do curso de Pós-Graduação em Direito e Processo Eleitoral da Escola Superior da Magistratura do Estado do Ceará – ESMEC [email protected] Sumário 1. Considerações Iniciais; 2. Espécies de Propaganda Política; 2.1. Propaganda Partidária; 2.2. Propaganda Intrapartidária; 2.3. Propaganda Eleitoral; 2.4. Propaganda Institucional; 3. Propaganda Eleitoral Antecipada; 3.1. Conceito; 3.2. Caracterização; 3.3. Classificação; 4. Representação; 5. Sanção; 6. Conclusão; 7. Referências. Resumo O presente artigo possui como fim precípuo a análise concisa e direta acerca dos diversos institutos que formam e constituem a denominada Propaganda Eleitoral Antecipada, perante a legislação vigente, perpassando pela definição de propaganda e as espécies de propaganda política para, em seguida, examinar os pontos mais significativos sobre propaganda eleitoral extemporânea. Serão abordados, por fim, os limites impostos por referida legislação e o meio adequado para coibir este tipo de propaganda prematura. Palavras-chave: Direito Eleitoral, Espécies de propaganda, Propaganda Antecipada, Sanções.

Propaganda Eleitoral Antecipada e Suas Especificidades

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  • REVISTA ELETRNICA DKE vol. 1, n 1 (jan/jul 2011)

    A Propaganda Eleitoral Antecipada e suas Especificidades

    Fernando Maurcio Pessoa Ramalho ViannaAnalista Judicirio do Tribunal Superior Eleitoral - TSE

    Aluno do curso de Ps-Graduao em Direito e Processo Eleitoral da Escola Superior da Magistratura do Estado do Cear ESMEC

    [email protected]

    Sumrio1. Consideraes Iniciais; 2. Espcies de Propaganda Poltica; 2.1. Propaganda Partidria; 2.2. Propaganda Intrapartidria; 2.3. Propaganda Eleitoral; 2.4. Propaganda Institucional; 3. Propaganda Eleitoral Antecipada; 3.1. Conceito; 3.2. Caracterizao; 3.3. Classificao; 4. Representao; 5. Sano; 6. Concluso; 7. Referncias.

    ResumoO presente artigo possui como fim precpuo a anlise concisa e direta acerca dos diversos institutos que formam e constituem a denominada Propaganda Eleitoral Antecipada, perante a legislao vigente, perpassando pela definio de propaganda e as espcies de propaganda poltica para, em seguida, examinar os pontos mais significativos sobre propaganda eleitoral extempornea. Sero abordados, por fim, os limites impostos por referida legislao e o meio adequado para coibir este tipo de propaganda prematura.Palavras-chave: Direito Eleitoral, Espcies de propaganda, Propaganda Antecipada, Sanes.

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    1. CONSIDERAES INICIAIS

    O termo propaganda, genericamente falando, define-se como um conglomerado de tcnicas de divulgao de idias, com carter informativo e persuasivo, cujo objetivo influenciar pessoas a tomar uma deciso.

    Por intermdio da propaganda, idias, informaes e crenas so difundidas, tendo como fito a adeso de destinatrios, fazendo com que os espectadores se tornem propensos ou inclinados aceitao de referida idia.

    Um dos princpios basilares do processo eleitoral o tratamento isonmico entre os candidatos aos cargos pblicos eletivos. Para tentar atender a esse princpio, fixou-se um momento nico para que cada candidato divulgue suas idias e projetos de governo.

    Ocorre que determinados candidatos procuram antecipar a propaganda eleitoral, quando ento passa a se caracterizar como extempornea e, portanto, ilcita, ao subverter o ideal de isonomia que deveria iluminar o processo eletivo.

    Com base nesse contexto, o propsito do presente trabalho , aps expor de forma clara e sucinta os princpios e espcies de propaganda, analisar a propaganda eleitoral antecipada, bem como investigar o mbito de aplicao das sanes decorrentes desse tipo de violao legal.

    2. ESPCIES DE PROPAGANDA POLTICA

    A propaganda poltica pode ser classificada, de acordo com Jos Jairo Gomes1, em: Propaganda Partidria; Propaganda Intrapartidria; Propaganda Eleitoral e Propaganda Institucional.

    2.1. Propaganda Partidria

    Esta propaganda tem por objetivo a divulgao das idias do partido poltico, bem como de seu programa para captao de novos filiados. utilizada, outrossim, para dar publicidade histria, aos valores, s metas e s posies dos partidos polticos. A propaganda partidria est regulamentada entre os arts. 45 e 49 da Lei Orgnica dos Partidos Polticos.

    Por este tipo de propaganda se situar em uma zona fronteiria entre a promoo de natureza pessoal e a divulgao poltica, a discusso que envolve os "temas poltico-comunitrios" e o direito de crtica impe apurada acuidade ao rgo julgador na verificao da ilegalidade diante do caso concreto.

    2.2. Propaganda Intrapartidria

    A propaganda intrapartidria diz respeito divulgao das idias dos candidatos que disputaro cargos eletivos para angariao de votos dos respectivos colegas na conveno partidria.

    1 GOMES, Jos Jairo. Propaganda Poltico-Eleitoral. Belo Horizonte: Del Rey, 2006.

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    S permitida a sua veiculao a partir de 15 dias da realizao da conveno, a ser realizada de 10 a 30 de junho do ano eleitoral, sendo vedada a utilizao de rdio, televiso, outdoor e internet.

    Insta lembrar que neste tipo de propaganda permitida a afixao de faixas e cartazes em local prprio da conveno, com mensagem aos convencionais.

    2.3. Propaganda Eleitoral

    A propaganda eleitoral consiste nas aes de natureza poltica e publicitria desenvolvidas pelos candidatos, de forma direta ou indireta, com apelos explcitos ou de modo disfarado, destinadas a influir sobre os eleitores, de modo a obter a sua adeso s candidaturas e, por conseguinte, a conquistar o seu voto.

    A sua veiculao permitida aps o dia 05 de julho do ano do pleito eleitoral, ou seja, a partir do dia 06 de julho (art. 36, caput, da Lei n. 9.504/97).

    O Tribunal Superior Eleitoral vem interpretando o significado do termo propaganda eleitoral como uma manifestao levada a conhecimento geral (manifestao publicitria) que tenha a pretenso de revelar ao eleitorado, simultaneamente: o cargo poltico cobiado pelo candidato; suas propostas de ao para o cargo; e a aptido do candidato ao exerccio da funo pblica.

    Vejamos alguns dos julgados do Colendo Tribunal2 nesse sentido:

    Agravo regimental. Agravo de instrumento. Provimento. Recurso especial. Provimento parcial. Multa nos embargos de declarao afastada. Propaganda partidria. Propaganda antecipada subliminar. [...]. 1. Constitui ato de propaganda eleitoral aquele que leva ao conhecimento geral, ainda que de forma dissimulada, a candidatura, a ao poltica ou as razes que induzam a concluir que o beneficirio seja o mais apto para a funo pblica. Precedentes. [...]. (Ac. de 24.6.2010 no AgR-AI n 9.936. Rel. Min. Marcelo Ribeiro).

    [...]. Representao. Propaganda eleitoral extempornea. Distribuio. Tabela. Copa do mundo. Deciso regional. Configurao. Infrao. Art. 36, 3, da Lei n 9.504/97. [...]. 1. Configura-se propaganda eleitoral extempornea quando se evidencia a inteno de revelar ao eleitorado, mesmo que de forma dissimulada, o cargo poltico almejado, ao poltica pretendida, alm dos mritos habilitantes do candidato para o exerccio da funo. [...].(Ac. de 28.11.2006 no ARESPE n 26.173. Rel. Min. Caputo Bastos) .

    2 RIBEIRO, Marcelo. TSE. Acrdo de 24.06.2010 no AgR-AI n. 9.936, Rel. Min. Marcelo Ribeiro. Disponvel em: http://temasselecionados.tse.gov.br/temas/propaganda-eleitoral/definicao-de-propaganda-eleitoral. Acesso em: 11 de janeiro de 2011.

    BASTOS, Caputo. TSE. Acrdo de 28.11.2006 no ARESPE n. 26.173, Rel. Caputo Bastos. Disponvel em: http://temasselecionados.tse.gov.br/temas/propaganda-eleitoral/definicao-de-propaganda-eleitoral. Acesso em: 11 de janeiro de 2011.

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    No entanto, h quem defenda ser suficiente para configurar a propaganda eleitoral to-somente a mensagem que manifeste a inteno da disputa eleitoral de modo a influir na vontade do eleitor, cujo exame deve ser feito no caso concreto, o que prejudicaria o princpio da igualdade entre os candidatos. Nesse sentido3, vejamos:

    RECURSO ELEITORAL. ELEIES 2008. IMPRENSA ESCRITA. JORNAL DE GRANDE CIRCULAO. ELEIO DO MELHOR PREFEITO DO CEAR. QUALIDADES. EXALTAO. AES DESENVOLVIDAS. DIVULGAO. PROPAGANDA ELEITORAL ANTECIPADA. CARACTERIZAO. ART. 36, DA LEI N 9.504/97. VIOLAO. SENTENA MANTIDA. IMPROVIMENTO DO RECURSO.1 - No caracteriza propaganda eleitoral a divulgao de opinio favorvel a candidato, a partidopoltico ou a coligao pela imprensa escrita, desde que no seja matria paga, de acordo com o disposto no at. 20, 3, da Resoluo-TSE n 22.718/2008. 2 - Em ano eleitoral, a propaganda de atos Administrativos no est proibida, conquanto sejam respeitados os limites e vedaes estabelecidas na legislao eleitoral, cujo objetivo impedir a utilizao da mquina administrativa em benefcio particular ou de interesse prprio, como seria o caso de pretenso reeleio de quem j exerce o poder. 3 - A inteno de divulgar possvel candidatura de pr-candidato resta evidenciada a partir da demonstrao de pagamento para veiculao das notcias apuradas, constituindo-se em matria paga na imprensa escrita. 4 - A notcia de jornal devidamente paga com referncia pessoa do Administrador pblico, prcandidato,e exaltao de suas qualidades como bom gestor de recursos pblicos, honestidade e efetiva realizao de projetos e aes governamentais, divulgada antes do dia 06 de julho do ano eleitoral configura propaganda eleitoral antecipada. 5 - Caso em que nota jornalstica apresentou exaltaes ao desempenho de Prefeito, prcandidato a reeleio, com revelao das aes e programas realizados no Municpio de forma extempornea. 6 - Sentena mantida. 7 - Recurso improvido. (grifo nosso)(TRE-CE, Recurso Eleitoral n. 14.505, de 3.11.2008, Rel. Juiz Anastcio Jorge Matos de Sousa Marinho)

    2.4. Propaganda Institucional

    Podemos conceituar a propaganda institucional como sendo aquela feita pelo Poder Pblico, com verba pblica, devidamente destinada para este fim, para prestao de conta de suas atividades perante a populao de forma transparente, proba e fiel. Tendo como fim precpuo divulgar as realizaes da Administrao e orientar os cidados sobre assuntos de seu interesse.

    Consoante entendimento esposado pelo professor Djalma Pinto4:

    3 MARINHO, Anastcio Jorge Matos de Sousa. TRE-CE. Recurso Eleitoral n. 14.505, de 3.11.2008, Rel. Juiz Anastcio Jorge Matos de Sousa Marinho. Disponvel em: http://www.tre-ce.gov.br/arquivos/Internet/Sejud/Ementarios/Tematicos/Propaganda_eleitoral_antecipada.pdf. Acesso em: 01 de janeiro de 2011

    4 PINTO, Djalma. Direito Eleitoral. So Paulo: Atlas, 2003.

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    A publicidade dos atos, programas, obras, servios e campanhas dos rgos pblicos dever ter carter educativo, informativo ou de orientao social, dela no podendo constar nomes, smbolos ou imagens que caracterizem promoo pessoal de autoridades ou servidores pblicos.

    O desvio de finalidade que descaracteriza a propaganda institucional se d exatamente no momento em que o agente pblico utiliza-se da verba estatal destinada propaganda, com objetivo de autopromoo, vinculando a sua imagem s obras realizadas na sua gesto enquanto Chefe do Executivo.

    Nesse sentido, a propaganda perde o seu cunho informativo, educativo ou de orientao, descaracterizando, assim, a propaganda institucional e conseqentemente, violando os dispositivos legais, mxime o artigo 74 da Lei 9.504/97 e os princpios da moralidade e da impessoalidade que devem estar sempre presentes na Administrao Pblica (Art. 37 da CF/88).

    Insta salientar, outrossim, que esta espcie de propaganda carece de autorizao por parte do Administrador, bem como deve ser necessariamente custeada pelo Poder Pblico. Caso haja subveno privada, resta descaracterizada a natureza institucional da propaganda.

    Aps essa breve abordagem acerca das espcies de propaganda, cabe-nos analisar alguns aspectos especficos da propaganda eleitoral antecipada.

    3. PROPAGANDA ELEITORAL ANTECIPADA

    3.1. Conceito

    A propaganda eleitoral vem sendo desvirtuada por vrios candidatos que se sentem livres para adotar prticas que se configuram campanha eleitoral antes do prazo estabelecido pela legislao. A principal razo reside no fato de que a multa pecuniria atualmente fixada pela legislao se revela irrisria frente aos elevados recursos disponibilizados pelos candidatos, notadamente no que tange s eleies presidenciais.

    Esse tipo de propaganda antecipada, tambm denominada propaganda fora de poca ou extempornea, tem seus limites regulamentados pelo caput do artigo 36 da Lei n. 9.504/97, que versa, ipsis litteris:

    Art. 36. A propaganda eleitoral somente permitida aps o dia 5 de julho do ano da eleio.

    Nesses termos, a propaganda eleitoral considerada extempornea quando ela veiculada antes do dia 6 de julho do ano em que ocorre o pleito eleitoral.

    Podemos afirmar que, nesse aspecto, doutrina e jurisprudncia coadunam em um mesmo sentido. Adriano Soares da Costa5 apregoa que:

    5 COSTA, Adriano Soares da. Instituies de Direito Eleitoral. 6. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2006.

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    Ao permitir a propaganda eleitoral apenas aps o dia 05 de julho, a contrario sensu, o preceito proibiu a realizao de propaganda eleitoral antes dessa data, cuja realizao seria ilcita e passvel de sano legal.

    Da mesma forma, podemos observar o posicionamento dos Tribunais6. A respeito, colacionamos:

    Consulta. Delegado nacional. Partido Progressista Brasileiro (PPB). Respondido negativamente, quanto aos primeiro e segundo itens. Quanto ao terceiro, no h marco inicial de proibio. O que a lei estabelece um marco inicial de sua permisso (art. 36, caput, da Lei n. 9.504/97). (Res. N. 20.507-TSE, de 18.11.99. Rel. Min. Costa Porto).

    Faz-se mister salientar que a vedao da propaganda eleitoral fora do interstcio legalmente admitido, no interfere na liberdade de expresso constitucionalmente consagrada. Isto porque a isonomia entre os candidatos e a busca do equilbrio no pleito, tambm so princpios com fincas em nossa Carta Magna, e, em se tratando de tema eleitoral, sobrepem-se liberdade de expresso.

    3.2. Caracterizao

    Devemos observar, nesse momento, que no toda espcie de propaganda realizada antes do perodo permitido legalmente que pode ser considerada propaganda antecipada. No raras vezes, a linha entre a propaganda institucional ou partidria e a eleitoral deveras tnue. Nesse sentido, por vezes, o julgador pode ser levado a situaes esdrxulas: de um lado, censura de uma propaganda lcita, ou, de outro, complacncia diante de um ilcito.

    Portanto, para a configurao da propaganda fora de poca deve haver uma mensagem, expressa ou subentendida, dirigida ao pleito vindouro, pelo que se estabelece a teoria do gancho, segundo a qual, de acordo com Coneglian7, h a necessidade de que a propaganda seja vinculada eleio para que se configure efetivamente como propaganda eleitoral.

    Nesse sentido, faz-se necessrio que o contedo da propaganda traga uma meno, explcita ou implcita, eleio vindoura. Dada a pertinncia do assunto, traz-se novamente colao excertos do entendimento esposado pelo TSE8:

    6 PORTO, Costa. TSE. Res. N. 20.507-TSE, de 18.11.1999, Rel. Costa Porto. Disponvel em: http://temasselecionados.tse.gov.br/temas/propaganda-eleitoral/periodo/generalidades. Acesso em: 05 de janeiro de 2011.

    7 CONEGLIAN, Olivar. Propaganda Eleitoral. 8. ed. Curitiba: Juru, 2006.

    8 VERSIANI, Arnaldo. TSE. Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral n 28.378/BA, Rel. Min. Arnaldo Versiani, em 25.8.2010, Informativo n 26/2010. Disponvel em: http://www.tre-se.gov.br/servicos_judiciarios/jurisprudencia_tematica/tse/propaganda_eleitoral/subliminar.pdf. Acesso em: 05.01.2011.

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    1. A propaganda eleitoral antecipada pode ficar configurada no apenas em face de eventual pedido de votos ou de exposio de plataforma ou aptido poltica, mas tambm ser inferida por meio de circunstncias subliminares, aferveis em cada caso concreto, afigurando correta a deciso regional que, diante do fato alusivo distribuio de calendrios, com fotografia e mensagem de apoio, concluiu evidenciada a propaganda extempornea.2. A jurisprudncia desta Corte, firmada nas eleies de 2006, de que mensagens de felicitao veiculadas por meio de outdoor configuram mero ato de promoo pessoal se no h referncia a eleies vindouras, plataforma poltica ou outras circunstncias que permitam concluir pela configurao de propaganda eleitoral antecipada, ainda que de forma subliminar.Agravos regimentais desprovidos.(AgR-REspe 28378, de 25.8.2010. Rel. Min. Arnaldo Versiani).

    (...) Propaganda eleitoral extempornea. Jornal. Mensagem em homenagem ao Dia das Mes com fotografia do pr-candidato. Meno ao pleito futuro. Indicao do partido e da ao poltica a ser desenvolvida. Caracterizao. Art. 36, 3 da Lei n. 9.504/97. (...). (Ac. N. 5.703, de 27.9.2005. Rel. Min. Gilmar Mendes).

    Interessante perceber que, caso um pretenso candidato veicule propaganda com teor negativo acerca de outro, com referncias diretas ou mesmo indiretas ao pleito seguinte, resta caracterizada a propaganda antecipada. Esse , tambm, o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral9, seno vejamos:

    Propaganda eleitoral. Princpio da indivisibilidade da ao. [...]. 2. A leitura do material juntado aos autos demonstra claramente que h ntido intuito de beneficiar um dos candidatos Presidncia da Repblica e de prejudicar outro, configurando, neste caso, propaganda eleitoral negativa, o que vedado de modo inequvoco pela legislao eleitoral em vigor (fls. 17, 18, 20, 21, 22). Releve-se, ainda, a configurao de propaganda eleitoral em perodo vedado. [...].(Ac. de 8.8.2006 no ARP n 953, rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito.)

    Em outras palavras, percebe-se que, existindo uma relao entre a propaganda e o pleito, resta configurada a propaganda extempornea. No entanto, caso o perodo da veiculao e o objetivo invocado sejam outros, fica descaracterizada a extemporaneidade da propaganda. Nesse vis, a publicidade da imagem ou do nome de algum que pretenda ser candidato, por exemplo, no configura propaganda eleitoral, ainda que possa ser considerada mera promoo pessoal e, em havendo excesso, abuso de poder.

    Deve-se lembrar, ainda, que a partir das Eleies 2010 ficou permitido aos candidatos realizarem suas campanhas eleitorais na Internet, no somente em MENDES, Gilmar. TSE. Acrdo n 5.703, Rel. Min. Gilmar Mendes, em 27.9.2005. Disponvel em: http://temasselecionados.tse.gov.br/temas/propaganda-eleitoral/mensagens-homenagens-2013-divulgacao-de-nome-foto/homenagem-as-maes-e-ao-dia-internacional-da-mulher. Acesso em: 05.01.2011.9 DIREITO, Carlos Alberto Menezes. TSE. Ac. no ARP n 953, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, em 8.8.2006. Disponvel em: http://temasselecionados.tse.gov.br/temas/propaganda-eleitoral/propaganda-negativa. Acesso em: 07.01.2011.

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    pginas pessoais, mas atravs dos stios de relacionamento, como orkut, blogs, facebook, youtube e twitter, ressalvando o direito de resposta e a proibio do anonimato nas reportagens. Esta nova possibilidade de propaganda eleitoral surgiu com a Lei n. 12.034/09, conhecida como Mini Reforma Eleitoral.

    Para que haja esse tipo de propaganda, faz-se necessrio que o endereo da internet seja comunicado Justia Eleitoral e hospedado, direta ou indiretamente, em provedores estabelecidos no Brasil.

    Pelas novas regras, a propaganda gratuita pela rede mundial de computadores foi permitida tanto nas pginas como em blogs e em outros meios eletrnicos de comunicao nas 48 (quarenta e oito) horas que antecedem as eleies ou nas 24 (vinte e quatro) horas posteriores. Ficou decidido tambm que o prazo para o provedor da internet retirar propaganda considerada irregular por deciso da Justia Eleitoral ser determinado pela prpria Justia.

    Mais uma inovao que referida legislao trouxe foi o acrscimo do art. 36-A Lei no 9.504, de 30 de setembro de 1997, ao destacar os seguintes casos em que no se consideram propaganda eleitoral antecipada:

    Art. 36-A. No ser considerada propaganda eleitoral antecipada:

    I - a participao de filiados a partidos polticos ou de pr-candidatos em entrevistas, programas, encontros ou debates no rdio, na televiso e na internet, inclusive com a exposio de plataformas e projetos polticos, desde que no haja pedido de votos, observado pelas emissoras de rdio e de televiso o dever de conferir tratamento isonmico;

    II - a realizao de encontros, seminrios ou congressos, em ambiente fechado e a expensas dos partidos polticos, para tratar da organizao dos processos eleitorais, planos de governos ou alianas partidrias visando s eleies;

    III - a realizao de prvias partidrias e sua divulgao pelos instrumentos de comunicao intrapartidria; ou

    IV - a divulgao de atos de parlamentares e debates legislativos, desde que no se mencione a possvel candidatura, ou se faa pedido de votos ou de apoio eleitoral.

    Insta ressaltar que a divulgao de candidatura em stios de relacionamento em data anterior a permitida pela legislao de regncia tambm configura a propaganda eleitoral extempornea.

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    Diversos foram os julgados do TSE10 referentes s Eleies 2010 envolvendo esse tema to atual, como podemos observar:

    ELEIES 2010. PROPAGANDA ELEITORAL ANTECIPADA. INTERNET. BLOG. AO CAUTELAR. ANONIMATO. PSEUDNIMO. SUSPENSO LIMINAR. PROVEDOR. RESPONSABILIDADE. LIVRE MANIFESTAO DO PENSAMENTO.1. As representaes eleitorais que apontem irregularidades na utilizao da internet como meio de divulgao de propaganda eleitoral podem ser propostas: (i) - contra a pessoa diretamente responsvel pela divulgao tida como irregular, seja por autoria prpria, seja pela seleo prvia do contedo divulgado; e (ii) - contra o provedor de contedo ou hospedagem quando demonstrado que este, em relao ao material includo por terceiros, foi previamente notificado da irregularidade apontada ou, por outro meio, possvel verificar o seu prvio conhecimento. (iii) Desta ltima hiptese, excetua-se o armazenamento da propaganda realizada diretamente por candidatos, partidos e coligaes, quando o provedor somente poder retirar a propaganda aps prvia apreciao judicial da irregularidade apontada, sendo ele responsvel apenas no caso de descumprimento da deciso judicial.2. Diante de comprovada irregularidade eleitoral, a Justia Eleitoral pode, por meio de deciso fundamentada, determinar a suspenso de contedo veiculado na internet, em representao que identifique o responsvel pelo contedo ou em ao cautelar que busque identific-lo. 3. A identificao do responsvel direto pela divulgao no elemento essencial para determinar a suspenso e no prejudica: (i) a apurao da responsabilidade para permitir a discusso sobre eventual aplicao de sano a ser tratada em processo prprio que assegure a defesa; ou (ii) que o prprio responsvel venha ao processo e se identifique, pleiteando manter a divulgao.(...)(Ac. de 29.6.2010 no AgR-AC n 138443 DF, rel. Min. Henrique Neves.)

    INTERNET STIO DE CANDIDATO DIVULGAO FUTURA CANDIDATURA PROPAGANDA INTRAPARTIDRIA CARACTERIZAO.Propaganda intrapartidria. Internet. Propaganda eleitoral antecipada. Descaracterizao.O Tribunal, por maioria, entendeu que a divulgao em stio de partido poltico na Internet da inteno de lanar candidatura prpria, ainda a ser

    10 NEVES, Henrique. TSE. Agravo Regimental na AC n 138443/DF, Rel. Min. Henrique Neves, em 29.6.2010. Disponvel em: http://www.tre-se.gov.br/servicos_judiciarios/jurisprudencia_tematica/tse/propaganda_eleitoral/internet.pdf. Acesso em: 03.02.2011. AURLIO, Marco. TSE. Rec. Na RP n 1321-18/DF, Rel. Min. Marco Aurlio, em 10.8.2010, Informativo n. 24/2010. Disponvel em: http://www.tre-se.gov.br/servicos_judiciarios/jurisprudencia_tematica/tse/propaganda_eleitoral/internet.pdf. Acesso em: 03.02.2011. VERSIANI, Arnaldo. TSE. AgR no AI n 10104/SP, Rel. Min. Arnaldo Versiani, em 19.8.2010. Disponvel em: http://www.tre-se.gov.br/servicos_judiciarios/jurisprudencia_tematica/tse/propaganda_eleitoral/internet.pdf. Acesso em: 03.02.2011.

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    deliberada em prvias ou conveno, no extrapola os limites da propaganda intrapartidria, no se revelando, portanto, propaganda eleitoral antecipada.Nesse entendimento, o Tribunal, por unanimidade, julgou prejudicado o recurso do Ministrio Pblico Eleitoral e, por maioria, proveu o recurso do PMDB municipal.(Rec. na RP n 1.321-18/DF, redator designado. Min. Marco Aurlio, em 10.8.2010, Informativo n 24/2010)

    Propaganda eleitoral antecipada. Orkut.As circunstncias de que o stio de relacionamentos teria acesso restrito e se limitaria a integrantes e usurios previamente cadastrados no afastam a caracterizao da propaganda eleitoral antecipada, uma vez que as redes sociais na Internet constituem meios amplamente utilizados para divulgao de ideias e informaes.Caso assim no se entenda, as redes sociais na Internet sero meio de divulgao de candidaturas antes do perodo admitido em lei, o que no pode ser admitido, sob pena de burla norma legal que veda a antecipao da campanha.Nesse entendimento, o Tribunal, por unanimidade, desproveu o agravo regimental.(Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n 10.104/SP, rel. Min. Arnaldo Versiani, em 19.8.2010, Informativo n 25/2010)

    3.3. Classificao

    A propaganda eleitoral extempornea pode surgir no meio social de duasformas: direta, que pode ser informal ou elaborada; e indireta.

    A propaganda eleitoral direta aquela que se utiliza do nome do candidato, apelido, foto, ou algo que o identifique face aos eleitores, alm de conter o cargo a que concorre, o ano da eleio ou qualquer circunstncia que indique a eleio e o cargo eletivo pretendido pelo candidato. Esta propaganda eleitoral vem de forma expressa, sem dissimulaes ou rodeios, estando sob a forma denotativa, vez que a mensagem clara a respeito da eleio.

    A propaganda direta pode ser informal, e ocorre quando no se sabe de quem a sua autoria, sendo realizada de forma amadora, como por meio de pichaes em bens de uso comum, ou particulares sem autorizao inobstante sua ilegalidade, de difcil enquadramento; ou de forma elaborada, quando realizada atravs de cartazes, panfletos, adesivos, outdoors, entrevistas, placas, stios da internet, ou seja, realizada de forma mais precisa, sendo mais fcil encontrar o seu autor.

    A propaganda eleitoral indireta, ou disfarada, ou ainda sugerida, aquela que vem de modo implcito, escondido, onde h utilizao de meios dissimulados para burlar a lei, em que o apelo eleitoral est sempre disfarado.

    Como o reclame eleitoral est amide dissimulado, a utilizao da teoria do gancho - j mencionada anteriormente indispensvel para a verificao de ofensa lei, tendo em vista que somente assim pode-se identificar se a veiculao de mera promoo pessoal ou se consiste efetivamente em propaganda eleitoral.

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    O que corriqueiramente ocorre so peas publicitrias com duplo sentido, um expresso e outro implcito (eleitoral), como, por exemplo, no caso de agradecimentos feitos a futuros candidatos em outdoors por alguma obra ou feitos realizados, ou ainda quando o candidato tem outra atividade e associa seu nome profissional a uma propaganda de cunho eleitoral disfarado.

    4. REPRESENTAO

    A ao de Representao eleitoral um dos procedimentos utilizados para a apurao de fatos que possam infringir artigos das leis eleitorais, tendentes a desequilibrar o pleito.

    , portanto, o instrumento judicial hbil para atacar a propaganda extempornea e seu procedimento est disciplinado no art. 96 da Lei n. 9.504/97.

    Inobstante a nomenclatura legal disponha Representao ou Reclamao, trata-se realmente de verdadeira ao, sendo necessrio encontrarem-se presentes todas as condies que lhe so inerentes.

    A legitimidade ativa para ajuizar a Representao est restrita aos partidos polticos, coligaes, candidatos e Ministrio Pblico Eleitoral. Ao cidado, resta to-somente denunciar a propaganda irregular ao Ministrio Pblico. Insta salientar evidentemente que, no caso de propaganda antecipada, tal legitimidade se restringe ao Ministrio Pblico e aos partidos polticos.

    Ademais, deve-se observar a capacidade postulatria, ou seja, para se ajuizar esse tipo de ao, a legislao exige a presena de advogado ou, naturalmente, do Ministrio Pblico Eleitoral.

    Com relao ao momento adequado para o seu ajuizamento, o entendimento inicial do Egrgio Tribunal Superior Eleitoral se inclinava pela inexistncia de prazo para ajuizar a Representao por propaganda eleitoral extempornea, vez que a Lei n 9.504/97 no determinou nenhum perodo especfico, salvo nos casos de condutas vedadas estabelecidas no art. 73, da lei mencionada, cujo prazo at a data da eleio, sob pena de se configurar carncia da ao pela falta de interesse processual do representante que tenha tomado conhecimento do fato antes do pleito.

    No entanto, o rgo mximo da Justia Eleitoral firmou o entendimento de que o prazo para a propositura de Representao por propaganda eleitoral extempornea realmente at a data da eleio. Essa posio est consubstanciada em diversos julgados recentes do TSE11, dentre os quais destacamos:

    11 VERSIANI, Arnaldo. TSE. AI n 10.568-AP, Rel. Min. Arnaldo Versiani, em 20.04.2010. Disponvel em: http://www.tre-se.gov.br/servicos_judiciarios/jurisprudencia_tematica/tse/propaganda_eleitoral/prazos.pdf . Acesso em: 07.01.2011. VERSIANI, Arnaldo. TSE. AG-RE no AI n 10.568, Rel. Min. Arnaldo Versiani, em 23.06.2010. Disponvel em: http://www.tre-pa.gov.br/servicos/informativo/arquivos/Informativo_TRE_PA_6.rtf. Acesso em: 07.01.2011.

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    REPRESENTAO. PROPAGANDA EXTEMPORNEA. PRAZO. JUIZAMENTO. DATA DAS ELEIES. SEGUNDO TURNO. OCORRNCIA. IRRELEVNCIA. (...)Com efeito, a jurisprudncia deste Tribunal j se firmou no sentido de que as representaes, por propagada eleitoral extempornea, devem ser ajuizadas at a data das eleies, sob pena de reconhecimento de perda do interesse de agir.A esse respeito, colho o seguinte precedente da jurisprudncia deste Tribunal:AGRAVOS REGIMENTAIS. RECURSO ESPECIAL. NEGATIVA DE SEGUIMENTO. PROPAGANDA ANTECIPADA SUBLIMINAR. MBITO. PROPAGANDA PARTIDRIA. DIVULGAO. MENSAGEM. CANDIDATO. DESTAQUE. REALIZAES. FUTURAS. MULTA. ALEGAO. OMISSO. DECISO. TSE. DIVERGNCIA JURISPRUDENCIAL. INEXISTNCIA. FUNDAMENTOS NO IMPUGNADOS. DESPROVIDOS.(...)- O prazo para ajuizamento de representao por propaganda eleitoral extempornea at a data da eleio (Ac. n 25.893/AL, rel. Min. Gerardo Grossi, DJ de 14.9.2007).- Agravos regimentais a que se negam provimento.(Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral n 26.833, rel. Min. Marcelo Ribeiro, de 5.8.2008).(...)Em que pese o entendimento da Corte de origem de que, caso haja segundo turno da eleio, se deve levar em considerao a data do segundo escrutnio, tenho que esse entendimento no se afigura como a melhor soluo para a questo.De fato, tendo em vista a impossibilidade de se prever a realizao do segundo turno, se deve estabelecer sempre a data do primeiro como termo final para a propositura de representao por propaganda eleitoral antecipada ou irregular, sob pena de se criar critrios diferenciados para as eleies majoritria e proporcional, em pleitos de municpios e estados diversos, ou at mesmo em face da eleio presidencial.Diante disso, dou provimento ao agravo de instrumento e, desde logo, ao recurso especial, com fundamento no art. 36, 7, do Regimento Interno doTribunal Superior Eleitoral, a fim de julgar a representao extinta, sem julgamento de mrito.(AI n 10.568-AP, de 20.04.2010. Rel. Min. Arnaldo Versiani)

    REPRESENTAO. PROPAGANDA ELEITORAL EXTEMPORNEA. FALTA DE INTERESSE DE AGIR.1. A jurisprudncia firmou-se no sentido de que o prazo final para ajuizamento de representao, por propaganda eleitoral extempornea ou irregular, a data da eleio, sob pena de reconhecimento de perda do interesse de agir.2. Ainda que haja segundo turno em eleio majoritria, tal circunstncia no prorroga o termo fixado na primeira votao, sob pena de se criar critrios diferenciados para as eleies majoritrias e proporcionais, considerados, ainda, os pleitos simultaneamente sucedidos em circunscries diversas.(AG-RE no AI n 10.568, de 23.6.2010. Rel. Min. Arnaldo Versiani).

    No que tange propaganda eleitoral realizada antecipadamente no horrio destinado aos programas partidrios, ficou regulamentado que o prazo para

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    o ajuizamento da Representao, pelos partidos polticos, at o ltimo dia do semestre em que for veiculado o programa impugnado, ou se este tiver sido transmitido nos ltimos 30 (trinta) dias desse perodo, at o 15 (dcimo quinto) dia do semestre seguinte ao da veiculao do programa impugnado, nos termos do 4, art. 45 da Lei n 9.096/95.

    A competncia para o julgamento da Representao definida sob o parmetro da circunscrio a que se refere o pleito. Na Eleio Municipal, por exemplo, a competncia original do Juiz Eleitoral. J nas Eleies Gerais (federais, estaduais ou distritais), a competncia do respectivo Tribunal Regional Eleitoral. Nesse ltimo caso, 3 (trs) juzes auxiliares so designados para conhecer e julgar as Representaes. Insta destacar que, nas Eleies Gerais, cabe ao Tribunal Superior Eleitoral o processamento e julgamento das Representaes que envolvam os candidatos Presidncia da Repblica.

    Por fim, deve-se enfatizar outra peculiaridade desse tipo de ao que o carter clere do seu rito, que procede da seguinte maneira: uma vez apresentada e autuada a inicial, o representado notificado para, dentro de 48 (quarenta e oito) horas, defender-se. Decorrido esse prazo, os autos so encaminhados ao Ministrio Pblico Eleitoral para que este se manifeste em 24 (vinte e quatro) horas. Em seguida, os autos so conclusos ao Juiz Eleitoral que profere a sentena, devendo esta ser publicada, em mural, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas. Em se tratando de deciso do Juiz Eleitoral, cabe recurso nas 24 (vinte e quatro) horas seguintes publicao, ao respectivo Tribunal Regional Eleitoral. Por outro lado, se a deciso da prpria Corte Regional, cabe Recurso Especial no prazo de 3 (trs) dias ao TSE.

    5. SANES

    A principal sano imposta propaganda eleitoral extempornea a multa regulamentada no 3, art. 36 da Lei n 9.504/97, que estabelece o valor de 20.000 (vinte mil) a 50.000 (cinqenta mil) UFIR, ou o equivalente ao custo da propaganda, caso este seja maior.

    A multa aludida no pargrafo supramencionado aplicada ao responsvel por sua divulgao bem como ao beneficirio, caso seja comprovado o seu prvio conhecimento. Lembrando que, em qualquer situao, deve ser precedido o respectivo processo judicial, para que se reverenciem os princpios do contraditrio e da ampla defesa.

    Com relao cincia prvia do beneficirio, a jurisprudncia no tem acolhido a mera presuno do conhecimento do candidato para caracteriz-la de fato. Essa a razo de se recomendar a efetiva notificao para que o candidato tome providncias no sentido de sustar a ilegalidade, como forma de comprovao eficaz do prvio conhecimento.

    No caso de propaganda antecipada difundida no horrio gratuito da propaganda partidria, a sano imposta a cassao do direito de transmisso a que faria jus o partido, no semestre seguinte veiculao da propaganda, conforme

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    consigna o art. 45, 2, da Lei n 9.096/95, alm da multa estabelecida no 3 da Lei das Eleies, entendimento j consagrado na jurisprudncia do TSE12, como observado nas seguintes decises:

    [...] Representao. Propaganda eleitoral gratuita. Televiso. Inseres. Eleies proporcionais estaduais. Invaso de horrio (art. 53-A da lei n 9.504/97). Ilegitimidade passiva. Beneficirio. Propaganda. Rejeio. [...] Propaganda eleitoral negativa. Invaso de horrio. Configurao. Configura invaso de horrio tipificada no artigo 53-A da Lei n 9.504/97 a veiculao de propaganda eleitoral negativa a adversrio poltico em eleies majoritrias, devidamente identificado, no espao destinado a candidatos a eleies proporcionais. Perda do tempo. Critrios. Horrio. Candidato. Beneficiado. Nmero de inseres. Bloco de audincia. Princpio da proporcionalidade. Aplicao. Restrio ao mbito estadual. Excluses ou substituies. Tempo mnimo de 15 segundos e Respectivos mltiplos. Resoluo-TSE n 23.193/2009, artigo 39. Ressalva de entendimento. A incurso na vedao contida no artigo 53-A, da Lei n 9.504/97 sujeita o partido poltico ou coligao perda de tempo equivalente no horrio reservado propaganda da eleio disputada pelo candidato beneficiado. Em se tratando de inseres, o que deve ser levado em conta na perda do tempo no a durao da exibio em cada uma das emissoras, mas sim o nmero de inseres a que o partido ou coligao teria direito de veicular em determinado bloco de audincia. Precedentes. Aplicao do princpio da proporcionalidade que justifica a perda do tempo restrita propaganda do candidato beneficiado veiculada no Estado em que ocorrida a invaso de horrio. Nos termos do artigo 39 da Resoluo-TSE n 23.193/2009, as excluses ou substituies nas inseres observaro o tempo mnimo de 15 segundos e os respectivos mltiplos. Ressalva de entendimento.(Ac. de 2.9.2010 na RP n 247049. Rel. Min. Joelson Dias.) Representao. Art. 36, 3, da Lei n 9.504/97. Propaganda eleitoral extempornea. Propaganda partidria. Deciso regional. Procedncia. Agravo de instrumento. Deciso monocrtica. Negativa de seguimento. Agravo regimental. Fundamentos no impugnados. Possibilidade. Aplicao. Sano pecuniria. Ausncia. Prequestionamento. Pretenso. Reexame. Fatos e provas. Impossibilidade. Dissenso jurisprudencial. No configurao.1. O agravo regimental no pode constituir mera reiterao das razes do recurso denegado, devendo atacar especificamente os fundamentos da deciso agravada.2. possvel a aplicao de multa, com base no 3 do art. 36 da Lei n 9.504/97, em sede de representao, ainda que a propaganda eleitoral antecipada tenha ocorrido na propaganda partidria.3. A ausncia de prequestionamento de determinada matria impede o seu conhecimento na instncia especial, incidindo as Smulas nos 282 e 356 doSupremo Tribunal Federal.

    12 DIAS, Joelson. TSE. Ac. na RP n 247049, Rel. Min. Joelson Dias, em 2.9.2010. Disponvel em: http://temasselecionados.tse.gov.br/temas/propaganda-eleitoral/radio-e-tv. Acesso em: 09.01.2011.

    BASTOS, Caputo. TSE. AG n 7634, Rel. Min. Caputo Bastos, em 4.9.2007. Disponvel em: http://www.tse.gov.br/sadJudSjur/pesquisa/actionBRSSearch.do?configName=SJUT&toc=false&sectionServer=TSE&sectionNameString=avancado&livre=@DOCN=000035055. Acesso em: 09.01.2011.

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    4. Para afastar a concluso da Corte Regional Eleitoral que, no caso concreto, entendeu configurada a propaganda eleitoral antecipada ocorrida na propaganda partidria, seria necessrio o reexame de fatos e provas, o que no possvel em sede de recurso especial, por bice da Smula n 279 do Supremo Tribunal Federal.5. A mera transcrio de ementas no suficiente para a configurao dodissenso jurisprudencial.Agravo regimental desprovido. (AG n 7634, de 04/09/2007. Rel. Min. Caputo Bastos)

    Oportuno destacar, ainda, que, no que tange s sanes impostas pela legislao eleitoral na ocorrncia de propaganda antecipada, tambm se aplica s emissoras de rdio e televiso a sano contida no art. 56, da Lei n 9.504/97, que se refere suspenso, por 24 (vinte e quatro) horas, da programao normal de emissora que deixar de cumprir as disposies desta Lei sobre propaganda. Esse posicionamento est contido no decisum do TSE13, que se segue:

    Reclamao. Propaganda eleitoral. Horrio gratuito. Alegao de descumprimento de ordem judicial (RP n. 603). Emissora de televiso. Pedido de suspenso de programao por 24 horas. Efetivo descumprimento, pela emissora, de ordem do TSE de no veicular insero. Relevante a explicao trazida pela reclamada de que em primeira hora recebeu a notificao verbal, depois a recebeu por escrito , tendo causado confuso nos procedimentos. Aplicada pena alternativa emissora: dever de veicular, s suas expensas, duas vezes, a resposta que o TSE concedeu ao partido (RP n. 603, 607 e 608), por inseres de 15 segundos, proporcional ao dano causado, por desobedincia ordem judicial; e dever de veicular, nove vezes, a propaganda institucional do TSE em prol da campanha do comparecimento de jovens s eleies do dia 27.10.2002. Reclamao procedente.(Ac. n. 197, de 24.10.2002, Rel. Min. Gerardo Grossi)

    Salientamos, outrossim, que na propaganda antecipada que envolva veculos de comunicao, a responsabilidade por sua veiculao pode, em determinados casos, recair sobre o apresentador ou quele que responda pela emissora. Isto ocorre, por exemplo, quando resta notrio o direcionamento dado na entrevista para se obter respostas eleitoreiras. o que podemos depreender a seguir14:

    AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. ELEIES2006. PROPAGANDA EXTEMPORNEA. EMISSORA. MULTA. DISCRICIONARIEDADE.1. Condenao imposta Fundao Educacional e Cultural do Sudoeste Mineiro, ora agravada, por propaganda eleitoral extempornea, na forma de entrevista e de divulgao de pesquisa e de vinhetas a favor de Carlos Carmo Andrade Melles, ora agravado, referentes ao pleito eleitoral de 2006.

    13 GROSSI, Gerardo. TSE. Ac. n 197, Rel. Min. Gerardo Grossi, em 24.10.2002. Disponvel em: http://temasselecionados.tse.gov.br/temas/propaganda-eleitoral/radio-e-tv/transmissao. Acesso em: 10.01.2011.14 DELGADO, Jos. TSE. RESPE n 28.147, Rel. Min. Jos Delgado, em 28.08.2007. Disponvel em: http://temasselecionados.tse.gov.br/temas/propaganda-eleitoral/penalidade. Acesso em: 10.01.2011.

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    2. O permissivo legal aplicvel espcie se refere, estritamente, sano pecuniria a ser imposta emissora, sem mencionar penalidades a serem aplicadas ao beneficirio. Nesse sentido: REspe n 15802, Rel. Min. Edson Vidigal, DJ de 1.10.1999. Por esta razo, desinfluente a suposta confisso ficta do segundo agravado.3. A concluso da Corte de Origem se adequou jurisprudncia do TSE, que consagra a discricionariedade do julgador na aplicao da sano pecuniria eleitoral (Rp n 953/DF, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, publicado na Sesso de 8.8.2006)4. Agravo regimental no provido. (RESPE n 28.147, de 28/08/2007. Rel.Min. Jos Delgado).

    6. CONCLUSO

    O Direito Eleitoral, na medida de sua dinamicidade, mais especificamente no que tange s posies do Tribunal Superior Eleitoral, exige do operador do direito uma ateno mais acautelada com relao aos novos entendimentos dos tribunais e nova legislao inserida em nosso ordenamento jurdico.

    Visando a manuteno da unidade e da coerncia no processo eleitoral, durante o exerccio do vis interpretativo das normas, faz-se necessrio que os princpios que lhe servem de fundamento de validade sejam devidamente observados e respeitados.

    Isso porque, quando nos referimos a Direitos Polticos, o objeto do direito se distancia da esfera particularizada do indivduo para, expandindo seu campo de incidncia, refletir-se na coletividade.

    Ainda a guisa de concluso, cabe-nos expor que o exame dos aspectos doutrinrios e jurisprudenciais acerca da propaganda eleitoral antecipada, discutida no presente trabalho, foi de fundamental importncia para o conhecimento de suas principais caractersticas e das hipteses em que a mesma resta configurada, ensejando os meios adequados para sua reprimenda, bem como as sanes estipuladas pela legislao eleitoral.

    7. REFERNCIAS

    BRASIL. Constituio (1988). Constituio da Repblica Federativa do Brasil. Braslia, DF, Senado, 2010.______________. Lei n 9.504, de 30 de setembro de 1997. Estabelece normas para as eleies. Braslia, DF, Dirio Oficial, 1 de out. de 1997.______________. Lei Complementar 64, de 18 de maio de 1990. Manual de Legislao Eleitoral e Partidria: Atualizado e Anotado/ Tribunal Regional do Cear. 7 ed. Fortaleza: TRE-CE, 2008.______________. Lei 4.737, de 15 de julho de 1965. Cdigo Eleitoral. Manual de Legislao Eleitoral e Partidria: Atualizado e Anotado/ Tribunal Regional do Cear. 7 ed. Fortaleza: TRE-CE, 2008.

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    ______________. TSE. Acrdo de 24.06.2010 no AgR-AI n. 9.936, Rel. Min. Marcelo Ribeiro. Disponvel em: http://temasselecionados.tse.gov.br/temas/propaganda-eleitoral/definicao-de-propaganda-eleitoral. Acesso em: 11 de janeiro de 2011.______________. TSE. Acrdo de 28.11.2006 no ARESPE n. 26.173, Rel. Caputo Bastos. Disponvel em: http://temasselecionados.tse.gov.br/temas/propaganda-eleitoral/definicao-de-propaganda-eleitoral. Acesso em: 11 de janeiro de 2011.______________. TSE. RESPE n 28.147, Rel. Min. Jos Delgado, em 28.08.2007. Disponvel em: http://temasselecionados.tse.gov.br/temas/propaganda-eleitoral/penalidade. Acesso em: 10 de janeiro de 2011.______________. TSE. Ac. n 197, Rel. Min. Gerardo Grossi, em 24.10.2002. Disponvel em: http://temasselecionados.tse.gov.br/temas/propaganda-eleitoral/radio-e-tv/transmissao. Acesso em: 10 de janeiro de 2011.______________. TSE. Ac. na RP n 247049, Rel. Min. Joelson Dias, em 2.9.2010. Disponvel em: http://temasselecionados.tse.gov.br/temas/propaganda-eleitoral/radio-e-tv. Acesso em: 09 de janeiro de 2011. ______________. TSE. AG n 7634, Rel. Min. Caputo Bastos, em 4.9.2007. Disponvel em: http://www.tse.gov.br/sadJudSjur/pesquisa/actionBRSSearch.do?configName=SJUT&toc=false&sectionServer=TSE&sectionNameString=avancado&livre=@DOCN=000035055. Acesso em: 09 de janeiro de 2011.______________. TSE. AI n 10.568-AP, Rel. Min. Arnaldo Versiani, em 20.04.2010. Disponvel em: http://www.tre-se.gov.br/servicos_judiciarios/jurisprudencia_tematica/tse/propaganda_eleitoral/prazos.pdf. Acesso em: 07 de janeiro de 2011.______________. TSE. AG-RE no AI n 10.568, Rel. Min. Arnaldo Versiani, em 23.06.2010. Disponvel em: http://www.tre-pa.gov.br/servicos/informativo/arquivos/Informativo_TRE_PA_6.rtf. Acesso em: 07 de janeiro de 2011.______________. TSE. Ac. no ARP n 953, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, em 8.8.2006. Disponvel em: http://temasselecionados.tse.gov.br/temas/propaganda-eleitoral/propaganda-negativa. Acesso em: 07 de janeiro de 2011._______________. TSE. Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral n 28.378/BA, Rel. Min. Arnaldo Versiani, em 25.8.2010, Informativo n 26/2010. Disponvel em: http://www.tre-se.gov.br/servicos_judiciarios/jurisprudencia_tematica/tse/propaganda_eleitoral/subliminar.pdf. Acesso em: 05 de janeiro de 2011._______________. TSE. Acrdo n 5.703, Rel. Min. Gilmar Mendes, em 27.9.2005. Disponvel em: http://temasselecionados.tse.gov.br/temas/propaganda-eleitoral/mensagens-homenagens-2013-divulgacao-de-nome-foto/homenagem-as-maes-e-ao-dia-internacional-da-mulher. Acesso em: 05 de janeiro de 2011._______________. TSE. Acrdo no AgR-AC n 138443 DF, Rel. Min. Henrique Neves, em 29.6.2010. Disponvel em: http://www.tre-se.gov.br/servicos_judiciarios/jurisprudencia_tematica/tse/propaganda_eleitoral/internet.pdf. Acesso em: 03 de fevereiro de 2011.

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