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12º ANO Grupo I 1. As grandes alterações que se operaram no mapa político da Europa, em 1918, foram provocadas pela queda dos grandes impérios. Assim, o velho Império Russo, em consequência de um complexo processo revolucionário interno, deu lugar a uma nova unidade geopolítica republicana de partido único, a URSS, com consideráveis prejuízos territoriais. Perdeu territórios para a nova Polónia e para a Ucrânia, abandonou o seu interesse geoestratégico sobre a Finlândia e assistiu à emancipação dos Estados bálticos da Estónia, Letónia e Lituânia. O Império Alemão foi obrigado a abandonar territórios que passaram a integrar a Polónia e perdeu definitivamente as regiões da Alsácia e da Lorena, que regressaram à soberania francesa. Outros territórios contribuíram para o alargamento das fronteiras da Bélgica, da Dinamarca e da Checoslováquia. Sobre os escombros do Império Austro-Húngaro, nasceram os novos estados da Áustria, Hungria e Checoslováquia. Outros territórios foram integrados nas fronteiras da Itália, da Roménia, da Jugoslávia, que se constituía como novo país independente, e da Polónia, geograficamente reconstituída. 2. O primeiro-ministro inglês receia que a dureza das condições impostas à Alemanha crie condições para a expansão do comunismo triunfante na Rússia, que inviabilize as suas capacidades de pagar as indemnizações de guerra ou que dê origem a um sentimento de revolta que possa conduzir a um novo conflito armado. Estas reflexões de Lloyd George sobre o Tratado de Versalhes são muito pertinentes e o futuro encarregou-se de confirmar essa pertinência. De facto, as dificuldades económicas por que a Alemanha passou estiveram na origem, logo em 1919, da intensificação da agitação socialista. Inspirados no modelo soviético, movimentos da esquerda social-democrata organizaram conselhos de operários, de soldados e de marinheiros e chegaram a proclamar uma república socialista em Berlim. São os tempos do Komintern que dominou a III Internacional e que provocará grandes sobressaltos ao capitalismo alemão até meados da década. Foi contra a intensificação desta agitação socialista e contra a humilhação imposta à nação alemã pelas duras condições do Tratado de Versalhes que cresceu a reacção nacionalista e conservadora, não só entre as classes mais abastadas, mas também entre as classes médias, desejosas de um governo forte que restaurasse a paz social e a dignidade da Alemanha. O orgulho ferido, habilmente manipulado pela propaganda nazi, acabou por conduzir à aclamação de Hitler como libertador e reconstrutor da grande Alemanha. Levando à prática o seu nacionalismo militarista, Hitler lançou a Europa e o mundo num novo conflito armado, em 1939, confirmando o carácter premonitório das palavras de Lloyd George.

Proposta de correcção 12º ano

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Page 1: Proposta de correcção 12º ano

12º ANO

Grupo I

1. As grandes alterações que se operaram no mapa político da Europa, em 1918, foram

provocadas pela queda dos grandes impérios.

Assim, o velho Império Russo, em consequência de um complexo processo revolucionário

interno, deu lugar a uma nova unidade geopolítica republicana de partido único, a URSS, com

consideráveis prejuízos territoriais. Perdeu territórios para a nova Polónia e para a Ucrânia,

abandonou o seu interesse geoestratégico sobre a Finlândia e assistiu à emancipação dos

Estados bálticos da Estónia, Letónia e Lituânia.

O Império Alemão foi obrigado a abandonar territórios que passaram a integrar a Polónia e

perdeu definitivamente as regiões da Alsácia e da Lorena, que regressaram à soberania

francesa. Outros territórios contribuíram para o alargamento das fronteiras da Bélgica, da

Dinamarca e da Checoslováquia.

Sobre os escombros do Império Austro-Húngaro, nasceram os novos estados da Áustria,

Hungria e Checoslováquia. Outros territórios foram integrados nas fronteiras da Itália, da

Roménia, da Jugoslávia, que se constituía como novo país independente, e da Polónia,

geograficamente reconstituída.

2. O primeiro-ministro inglês receia que a dureza das condições impostas à Alemanha crie

condições para a expansão do comunismo triunfante na Rússia, que inviabilize as suas

capacidades de pagar as indemnizações de guerra ou que dê origem a um sentimento de

revolta que possa conduzir a um novo conflito armado.

Estas reflexões de Lloyd George sobre o Tratado de Versalhes são muito pertinentes e o futuro

encarregou-se de confirmar essa pertinência. De facto, as dificuldades económicas por que a

Alemanha passou estiveram na origem, logo em 1919, da intensificação da agitação socialista.

Inspirados no modelo soviético, movimentos da esquerda social-democrata organizaram

conselhos de operários, de soldados e de marinheiros e chegaram a proclamar uma república

socialista em Berlim. São os tempos do Komintern que dominou a III Internacional e que

provocará grandes sobressaltos ao capitalismo alemão até meados da década.

Foi contra a intensificação desta agitação socialista e contra a humilhação imposta à nação

alemã pelas duras condições do Tratado de Versalhes que cresceu a reacção nacionalista e

conservadora, não só entre as classes mais abastadas, mas também entre as classes médias,

desejosas de um governo forte que restaurasse a paz social e a dignidade da Alemanha.

O orgulho ferido, habilmente manipulado pela propaganda nazi, acabou por conduzir à

aclamação de Hitler como libertador e reconstrutor da grande Alemanha. Levando à prática o

seu nacionalismo militarista, Hitler lançou a Europa e o mundo num novo conflito armado, em

1939, confirmando o carácter premonitório das palavras de Lloyd George.

Page 2: Proposta de correcção 12º ano

Grupo II

1. A organização da III Internacional, em cujo contexto Lenine discursa, ocorreu imediatamente

a seguir ao fim da Primeira Guerra Mundial, numa altura em que a revolução socialista

estava ameaçada pela reacção das forças contra-revolucionárias apoiadas pelo capitalismo

ocidental. A III Internacional, também designada por Internacional Comunista (Komintern),

foi uma organização tutelada pelo Partido Comunista russo com o objectivo de levar a

revolução socialista a todo o mundo, em particular à Europa Ocidental, de forma a fragilizar

os apoios externos à contra-revolução e a reactivar a máxima marxista do internacionalismo

proletário, aproveitando o ambiente catastrófico do pós-guerra.

Portanto, a organização da III Internacional insere-se no processo revolucionário que se

iniciou na Rússia em Fevereiro de 1917, quando ocorrem em Sampetersburgo grandes

manifestações populares, greves e motins em que se exige o fim do czarismo. O czar é

obrigado a abdicar e a entregar o poder a um governo provisório onde predominam os

liberais e socialistas reformistas. O Governo adopta o modelo democrático parlamentar e

prepara-se para iniciar o processo eleitoral e a elaboração de uma Constituição – era a

revolução burguesa.

Contudo, se as ideias socialistas já iam tendo uma grande aceitação em tempos de

repressão czarista, a revolução de Fevereiro proporcionou ao movimento socialista russo a

liberdade para intensificar a sua acção de propaganda, que passou também a ter como

objectivo o derrube do poder burguês.

Nesta conjuntura, após os acontecimentos de Fevereiro, os sovietes reorganizam-se e

constituem-se como poder alternativo. Estes bolcheviques dificultavam sistematicamente a

actividade do Governo e defendiam a continuação da revolução operária, aproveitando a

fragilidade política do momento para impor a ditadura do proletariado e, desta forma,

esmagar, “pela violência”, “a resistência oferecida pelos exploradores”, como defende

Lenine no seu discurso de 1919. Desenvolvem uma intensa propaganda contra a presença

da Rússia na Guerra, que acusam de ser uma guerra capitalista, e contra a inoperância do

governo que nada consegue fazer contra o caos económico e social em que o país se

encontrava. Organizam uma insurreição armada sob a direcção ideológica de Lenine e

militar de Trotsky e tomam o poder em Outubro, dando início à revolução socialista.

O poder passou a ser exercido por um Conselho de Comissários do Povo, constituído a

partir dos sovietes e liderado por Lenine. O primeiro acto político do novo governo foi

negociar a retirada da Rússia da guerra (imprescindível para continuar a revolução) e

publicar os primeiros decretos revolucionários.

No âmbito destes decretos, Lenine adopta para a União Soviética um modelo que ficou

conhecido por centralismo democrático e deu início ao processo de construção da

sociedade socialista, mediante a nacionalização progressiva e sem qualquer indemnização

das grandes propriedades rurais e de todos os sectores básicos da economia. Foi em

Page 3: Proposta de correcção 12º ano

consequência destas primeiras medidas revolucionárias que eclodiu a guerra civil, em que

as forças revolucionárias, o Exército Vermelho, se confrontaram com as forças

conservadoras, o Exército Branco.

Nesta conjuntura de guerra, o poder revolucionário implanta uma política de feroz ditadura,

conhecida como comunismo de guerra. Foram os tempos do terror vermelho, em que todos

os recursos económicos foram canalizados para o esforço de guerra contra os inimigos da

revolução, mediante a severa vigilância de um sistema policial persecutório e repressivo

sobre quem manifestasse o mais pequeno sinal contra-revolucionário.

Os bolcheviques venceram militarmente a contra-revolução branca, mas as consequências

não podiam ser mais negativas para o processo revolucionário. Em 1920, a Rússia era um

país economicamente arruinado. O sistema produtivo apresentava níveis inferiores aos de

1913, numa conjuntura política que mantinha o país isolado do ocidente capitalista. A

miséria e a fome começavam a pôr em perigo a Revolução.

Para contrariar a situação, Lenine pôs em prática um programa económico, através do qual

visava repor os níveis de produtividade que garantissem à população os bens essenciais à

sua subsistência e ao Estado a independência económica. Tratou-se da Nova Política

Económica.

Com a NEP, o governo socialista recuava no processo das nacionalizações e aceitava a

iniciativa privada em sectores secundários mas essenciais da produção, mantendo

nacionalizados os sectores fundamentais da economia. Assim, e, durante algum tempo, a

cedência ao capitalismo, sob controlo do Estado, poderia ajudar à consolidação da

Revolução.

E assim foi. Em 1927, a pequena e média burguesia dos negócios (os nepmen) e pequenos

proprietários rurais (os kulaks), resultantes da adopção de algumas medidas de tipo

capitalista, tinham reposto e até ultrapassado os níveis de produtividade anteriores à

Guerra.

Grupo III

1. O começo do século XX é marcado por descobertas que, juntamente com o choque da

guerra, abalaram profundamente a confiança antes depositada na ciência e na técnica,

abrindo novas perspectivas sobre o conhecimento do mundo físico, social e humano.

Nesta conjuntura intelectual, a crença de que o ser humano conseguiria desvendar, com

uma certeza absoluta, todas as leis que regem o universo e aplicar essas leis a todas as

áreas do conhecimento é profundamente abalada com a formulação de teorias que

defendem a existência de áreas de conhecimento em que a certeza é impossível, não se

podendo ir além das probalidades e da intuição. Gradualmente, o conhecimento

abandona o culto do racionalismo positivista, a ciência é “mortalmente atingida” (Doc. 1)

e adopta, como pressuposto intelectual, a incerteza e o relativismo.

Page 4: Proposta de correcção 12º ano

No conjunto destes avanços deste conhecimento, destacou-se Freud com a criação da

psicanálise, ao mostrar a importância do inconsciente no comportamento humano (Doc.

2). Foi uma revolução nas concepções que definiam o ser humano como um ser

exclusivamente obediente à razão.

As concepções psicanalíticas de Freud acabaram por condicionar a produção cultural. O

inconsciente freudiano proporcionou aos artistas e escritores novas fontes de inspiração

que desenvolveram no ambiente de liberdade e subjectividade intelectual característico

dos novos tempos. Pulsões e conflitos inconscientes, mensagens oníricas com forte

carga erótica, neuroses e reflexões profundas, forneceram temas cultivados pelos

movimentos vanguardistas, onde se insere o movimento surrealista, revolucionando a

criação literária e artística.

Este é um movimento de ruptura com o passado conservador, libertador de tensões e

angústias vividas pelo ser humano. É um exercício de catarse freudiana, proporcionando

a criação de um Homem novo e de uma nova sociedade, na medida em que repudia os

modelos fornecidos pela realidade exterior e vai buscar motivações à interioridade do

criador.

Em “A Persistência da Memória”, apesar de Salvador Dalí evidenciar algumas

preocupações figurativas, notamos uma fluência de motivos deformados, livremente

reproduzidos, sem a mínima preocupação com um sentido lógico da obra. Esta é a

expressão da interioridade dos níveis mais recônditos do inconsciente, o verdadeiro

conhecimento de uma realidade suprema, em que reside, afinal a grande novidade da

mensagem surrealista.