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PROPOSTA PRELIMINAR DE IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROCESSO DE SALES AND OPERATIONAL PLANNING NO SETOR DE AUPEÇAS Área temática: Gestão da Produção Luis Antonio Santa-Eulália [email protected] Antonio Carlos Moretti [email protected] Resumo: Este artigo apresenta uma análise crítica e propostas melhorias do planejamento e controle da produção de uma grande indústria do setor de autopeças situada na região de Campinas. A empresa defronta-se atualmente com diversos problemas na gestão da produção, incluindo a dilatação constante dos estoques, altos índices de cancelamento de pedidos e falta de espaço em warehouses. O propósito da pesquisa é observar, por meio de um estudo de caso, as falhas encontradas no processo e na gestão dos estoques da divisão de negócios em questão, bem como propor uma melhoria de grande impacto na empresa. A melhoria escolhida fora o processo de Sales and Operational Planning (S&OP), o qual consiste no alinhamento entre distintos departamentos que tradicionalmente vivem conflitos, especialmente vendas e produção. A literatura na área carece de discussões e estudos empíricos sobre o processo de S&OP no setor de autopeças, assim esse artgo contibui com a apresentação de uma análise de um caso em uma grande empresa do setor, evidenciando os problemas vividos pela empresa, bem como apresentando como esta vislumbra superá-los por meio de uma reestruração de processos. Palavras-chaves: ISSN 1984-9354

PROPOSTA PRELIMINAR DE IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROCESSO DE ... · ... por meio de um estudo de ... no departamento responsável pelo planejamento da produção em ... A integração

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PROPOSTA PRELIMINAR DE IMPLEMENTAÇÃO DE UM

PROCESSO DE SALES AND OPERATIONAL PLANNING NO SETOR DE AUPEÇAS

Área temática: Gestão da Produção

Luis Antonio Santa-Eulália

[email protected]

Antonio Carlos Moretti

[email protected]

Resumo: Este artigo apresenta uma análise crítica e propostas melhorias do planejamento e controle da produção de

uma grande indústria do setor de autopeças situada na região de Campinas. A empresa defronta-se atualmente com

diversos problemas na gestão da produção, incluindo a dilatação constante dos estoques, altos índices de cancelamento de

pedidos e falta de espaço em warehouses. O propósito da pesquisa é observar, por meio de um estudo de caso, as falhas

encontradas no processo e na gestão dos estoques da divisão de negócios em questão, bem como propor uma melhoria de

grande impacto na empresa. A melhoria escolhida fora o processo de Sales and Operational Planning (S&OP), o qual

consiste no alinhamento entre distintos departamentos que tradicionalmente vivem conflitos, especialmente vendas e

produção. A literatura na área carece de discussões e estudos empíricos sobre o processo de S&OP no setor de autopeças,

assim esse artgo contibui com a apresentação de uma análise de um caso em uma grande empresa do setor, evidenciando

os problemas vividos pela empresa, bem como apresentando como esta vislumbra superá-los por meio de uma

reestruração de processos.

Palavras-chaves:

ISSN 1984-9354

XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015

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INTRODUÇÃO

A Administração conta com a constante e íntima relação entre a teoria e a prática,

embasando-se em conhecimentos e teorias que são testadas e avaliadas em sua execução, fazendo o

uso de metodologias, ferramentas e teorias científicas (MOREIRA, 2000). Consciente do papel

desempenhado por essa ciência no ambiente acadêmico, o presente estudo busca realizar uma análise

no departamento responsável pelo planejamento da produção em uma grande indústria do setor de

autopeças localizada na região de Campinas. Utilizando a avaliação diária da área, aliada a estudos

acadêmicos e ao contato com distintas divisões de negócio da companhia, objetiva- se propor uma

ferramenta que auxilie os planejadores a controlar melhor suas previsões de demanda e

conseqüentemente, reduzir seus níveis de inventário.

A indústria de autopeças sofreu forte impacto com a crise global de 2008, levando a retração da

demanda, produção e empregos. Apesar das medidas de estímulo à demanda e à produção adotada pelo

Estado, o setor foi impactado negativamente pelo aumento das importações de autopeças (AMORIM,

2010). O cenário facilitou o avanço do poder de barganha das montadoras sobre seus

fornecedores e a produção sofre impactos visíveis dessa conjuntura.

Problemas como dilatação de estoques, altos índices de cancelamentos, falta de espaço para

armazenamento e amplas variações no volume a ser produzido, assim como a dificuldade no

entendimento de métodos utilizados, foram encontrados. A alternativa para o auxílio na resolução dos

obstáculos enfrentados foi a ferramenta de Sales and Operational Planning, adaptada à situação-

problema neste estudo. O processo consiste em reuniões mensais de alinhamento, principalmente entre

as áreas de Marketing, Logística, Vendas e Controladoria, das previsões de demanda e produção,

sedimentadas em divisões de negócios.

Tal processo é dividido em quatro distintas fases. A primeira, Previsão de Vendas e Validação

de Demanda, consiste no alinhamento das previsões de demanda entre os departamentos, elemento

fundamental para que ocorra a segunda fase, Previsão de Capacidade e Validação de Suprimentos.

Nesta, busca-se reduzir os impactos da falta de abastecimento, identificando retrições de capacidade. A

fase seguinte é o Alinhamento Operacional, na qual os principais pontos de ação são discutidos e os

valores acordados são revistos. A quarta e última etapa, a Reunião Executiva, é o alinhamento dos

valores entre os líderes das unidades de negócios, assim como a discussão dos tópicos pertinentes.

O sequente trabalho é iniciado com uma breve fundamentação teórica no tocante à

administração da produção, agregando os conceitos empregados no processo de gestão produtiva da

empresa, tanto quanto ao processo de Sales and Operational Planning. Seguidamente é apresentada a

metodologia do estudo, a situação inicial da problemática e a proposta para implementação ferramenta,

etapa a etapa. Por fim são apresentadas as considerações finais.

O estudo atesta a viabilidade da proposta, descrevendo os riscos encontrados para a sua

implantação, assim como as medidas que devem ser adotadas para sustentar o estabelecimento da

ferramenta. Através da análise do departamento, atinge-se melhor compreendimento de suas

limitações, sendo este artigo uma proposta de alternativa viável, auxiliando na tomada de decisão.

Fundamentação Teórica

Administração da Produção

O papel do planejamento e controle da produção é, basicamente, gerenciar as atividades da

produção de maneira que satisfaça a demanda dos clientes (SLACK,2009). Entretanto, o grande

desafio é prever a demanda e adequar os volumes de suprimento para atendê-la. Nesse contexto, o

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planejamento passa então a ser a formalização do que se pretende que aconteça no futuro, enquanto o

controle deve fazer os ajustes necessários para que a operação de planejamento atinja seus objetivos,

ainda que os pressupostos assumidos não ocorram.

Três classes de fluxos de produção são assumidas por HAX & CANDEA (1984): produção em

massa, produção unitária e produção intermitente. A primeira leva em consideração o fluxo referente a

um único produto a ser fabricado em larga escala, cujas operações e montante de materiais são bem

definidos (por exemplo, a linha de montagem de eletrodomésticos). Na segunda, a administração

da produção é tratada como a gerência de um projeto, uma vez que a produção é direcionada a um

único, ou poucos, produtos. Como exemplo, a indústria aeronáutica.

Finalmente, entre as classes apresentadas situa-se a produção intermitente, na qual diferentes

lotes de distintos produtos compartilham os mesmos recursos. Tal cenário demanda um sistema

flexível, que permita mudanças - sem que haja prejuízos na eficiência. Nesse contexto surgem

dificuldades com o seqüenciamento das ordens, com o controle de fluxos de materiais e com o

gerenciamento dos recursos (LAURINDO, 2000).

Até a década de 60 a resposta eram sistemas tradicionais, nos quais a programação era baseada

no diagrama de Pareto, nos conceitos de lotes econômicos e pontos de reposição. Entretanto, esses

sistemas assumiam demandas estáveis e constantes, realidade distinta da comumente encontrada em

empresas com produção intermitente. Foi nesse ambiente que, nos anos 70, Orliky, juntamente com

Plossl e Wight, apresentou o modelo MRP (Material Requirements Planning), o qual prometia calcular

as necessidades de suprimentos e, conseqüentemente, reduzir os estoques da organização

(LAURINDO, 2000).

Esse primeiro modelo baseava-se em três elementos: Programa Mestre da Produção (MPS –

Master Production Scheduling); Lista de Materiais (BOM – Bill of Material); e Quantidade em

Estoque. Com essas informações o MRP poderia calcular as necessidades de materiais para a

produção, através da consideração dos itens em estoque e lead times. Como resultado tinha-se a

quantidades e momentos em que a produção e a compra deveriam ocorrer. A primeira versão

possuía limitações, pois não considerava adequadamente as restrições de capacidade produtiva. Criou-

se então, a partir de uma modelagem mais detalhada da produção, a formulação de “centros de

produção”, com capacidades finitas desenvolvida através de estudos detalhados dos recursos

(LAURINDO, 2000).

Em 1981, Oliver Wight desenvolveu o conceito do MRPII, no qual, além de considerar

as restrições de capacidade descritas acima, também ponderou outros recursos da produção, entre eles

os recursos humanos e orçamentários. O MRPII passa a significar, então, Manufacturing Resource

Planning. A deficiência desse novo sistema é a falta de avaliação dos lead times, os quais são

estimados estatisticamente e utilizados como se fossem constantes. Essa característica pode levar ao

aumento dos estoques ou, por outro lado, a interrupção da produção.

Na década de 80 ganha espaço no mundo ocidental, então, um novo conceito na administração

da produção que veio a concorrer com o MRPII, o JIT (Just in Time)/Kanban. Essa nova abordagem,

segundo SLACK (2009), defende o atendimento imediato da demanda, garantindo qualidade perfeita e

mínimo desperdício, em busca de estoques baixos. O objetivo é promover impacto na habilidade da

operação, aprimorar a eficiência, economizando capital de giro.

Apesar das abordagens possuírem aspectos distintos com relação ao planejamento e controle,

diversas empresas costumam fazer uma combinação dos modelos MRPII e JIT. Através dessa

alternativa as operações da fábrica não precisam ser detalhadamente controladas pelo sistema MRPII,

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podendo este dedicar-se ao planejamento. A indústria de autopeças estudada no presente artigo é um

exemplo.

O gerente da produção, quando responsável pelo estoque, deve ser condicionado a observá-lo

com os olhos de diversos departamentos, ainda que o seu foco principal seja a produção. Por exemplo,

o departamento de vendas terá um enfoque de estoques elevados para o atendimento imediato de

clientes, enquanto o departamento financeiro buscará o oposto, uma vez que estoques reduzidos

diminuem o capital investido (pouca liquidez).

O sistema de administração de estoques, nesse cenário, deve estar preparado para remover

esses conflitos, atendendo as necessidades reais e efetivas da empresa. A administração dos estoques

deve preocupar-se não apenas com o fluxo de comprase vendas, mas também com a integração de cada

elemento desse processo, desenvolvendo a forma tradicional de atuar na gestão dos estoques.

As falhas no controle de estoques podem ser observadas ao notar insatisfação nos seguintes

tópicos (DIAS, 2010):

Freqüência de expansões dos prazos de entrega para os produtos acabados e dos tempos de

reposição para matéria-prima;

Aumento do estoque, mesmo com produção ou vendas constantes;

Alto índice de cancelamentos de pedidos/ devoluções de produtos acabados;

Variação excessiva da quantidade a ser produzida;

Parada de linha freqüente por falta de material;

Falta de armazenamento;

Baixa rotação dos estoques, alto índice de obsoletismo.

É possível notar na empresa estudada problemas principalmente com a dilatação dos estoques

(ainda que a produção e venda se mantenham), altos índices de cancelamento de pedidos e variação

excessiva da quantidade a ser produzida. Contudo, na época desta pesquisa o foco encontrava-se,

principalmente, na falta de espaço para armazenamento de material.

A administração de estoques deve definir alguns objetivos que servirão de guia para os

programadores e controladores. É essencial que metas quanto a tempo de entrega dos produtos

aos clientes sejam definidas, assim como o número de depósitos e almoxarifados (e lista dos materiais

estocados neles).

Ao se montar um sistema de controle, três são os aspectos que devem ser levados em

consideração. O primeiro deles diz respeito aos diferentes tipos de estoque encontrados em uma

organização. O segundo refere-se aos critérios utilizados pela empresa quanto ao nível adequado de

estoque que deve ser mantido. Por fim, o último aspecto é a relação entre o nível do estoque e o capital

necessário envolvido.

Sales and Operational Planning

O processo de Sales and Operational Planning objetiva desenvolver, na alta administração, a

competência da visão estratégica a longo prazo através da obtenção de vantagem competitiva de

forma contínua. A integração dos planos de marketing com a gestão da cadeia de suprimentos,

alinhando demanda e suprimento a nível estratégico e operacional, foi introduzida na década de 80,

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após o desenvolvimento do MRP por Oliver Wight. A primeira menção ao tema foi feita por Linf e

Goddard, embora Oliver Wight e David W. Buker já estivessem vendendo a ideia (SILVA et al, 2001).

Em artigo para o Simpósio de Administração da Produção, Logística e Operações

Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, o processo é destacado como facilitador nas seguintes

áreas de decisão envolvidas na estratégias de manufatura e estruturadas por Hayes (1984): Integração

Vertical, Organização, Força de Trabalho e Capacidade (SILVA et al.). A Integração Vertical ocorre

desde que haja, a longo prazo, garantia do efetivo cumprimento das decisões emitidas a nível

estratégico pelos demais níveis impactados. Na prática, verifica-se tal impacto através da união das

reuniões de planejamento estratégico e das decisões operacionais conseqüentes. Em relação a

Organização, o S&OP integra horizontalmente as decisões, orientando as funções relacionadas, como

Marketing, Manufatura e Finanças, a seguir na mesma direção.

O processo influencia ainda na visão adquirida pelo time de vendas devido ao constante

contato com o cliente, que pode ser utilizada para realização de previsões mais realistas, impactando a

área de Força de Trabalho. Finalmente, a restrição da flexibilidade dos preços exercida pelos gerentes

operacionais é destacada como execução da estratégia da manufatura a nível de Capacidade (SILVA et

al.). A implementação do S&OP deve seguir basicamente seis etapas (SILVA, et al.):

Revisão do Gerenciamento do Produto: revisão do plano do produto a partir das estratégias

organizacionais estabelecidas, disponibilizando melhoria da eficiência na elaboração dos planos de

marketing e vendas, assim como no estabelecimento de políticas de lançamento e eliminação de

produtos.

Revisão da Demanda: mapeamento dos riscos e oportunidades resultantes da previsão de

demanda estabelecida por marketing e vendas. Definição do horizonte de planejamento de acordo com

as estratégias da companhia, a sazonalidade do produto e seu respectivo lead time.

Revisão do Fornecimento: identificação da capacidade de resposta da cadeia de suprimentos e

da produção interna pela função operação. A estimativa pode ser realizada através da utilização de

sistemas de MRP, cuja função é calcular a necessidade de recursos em situação futuras.

Reunião de Reconciliação: realizada pelas áreas envolvidas nas etapas anteriores, a reunião

visa efetuar planos para período seguinte e resolver adversidades ocorridas anteriormente.

Liderada pela função financeira, também tem o objetivo de realizar o plano financeiro a partir dos

planos de demanda e fornecimento.

Revisão Executiva: avaliação e aprovação dos planos operacional e financeiro pela alta

gerência, a partir das variáveis mais pertinentes. Nesta etapa ocorre o alinhamento das estratégias do

negócio e dos planos e decisões geradas.

Análise dos Resultados Obtidos: mensurar os resultados obtidos é essencial para que a melhoria

contínua seja possível. Os indicadores variam de acordo com o setor e as características do negócio,

podendo ser quanto ao nível dos estoques, a precisão no cálculo das previsões, a eficiência no serviço

ao cliente, lançamento de produtos, níveis de estoque, entre outros.

De forma geral, o processo de S&OP ocorre mensalmente. Primeiramente a revisão da

demanda realiza a coleta de informações referente ao mercado consumidor, a nível regional e global. A

segunda e terceira semanas, por sua vez, visa completar três metas principais, sendo o planejamento

de lançamento e eliminação de produtos, a revisão da capacidade de fornecimento e finalmente, o

balaceamento entre a demanda e os suprimentos. A semana quatro, as estratégias adotadas e o

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planejamento financeiro baseado nas previsões anteriores são efetuadas a partir de e pré-reuniões

executivas (SILVA, et al.).

Metodologia

A presente pesquisa possui caráter aplicado, qualitativo e exploratório, assumindo a forma de

estudo de caso aliado à pesquisa bibliográfica. O objetivo geral é formular uma proposta para

implantação de um processo de Sales and Operational Planning, utilizando como estudo de caso o

departamento responsável pelo Planejamento e Controle da Produção (PCP) de uma indústria de

autopeças na região de Campinas, Brasil. Através do desenvolvimento de uma análise de seus

processos logísticos, aliado ao estudo acadêmico da Administração da Produção, propõe-se uma

solução viável para o cenário em questão, utilizando-se de uma ferramenta específica. Posteriormente,

o modelo poderá ser utilizado em outras empresas e setores, guardadas as devidas adaptações.

O trabalho contou com o trabalho diário na empresa estudada. Durante os meses de análise, foi

possível colher dados suficientes, conhecendo as impressões dos colaboradores e vivenciando no

trabalho diário as dificuldades encontradas na gestão dos estoques. Aliando a essa realidade estudos

acadêmicos na área foi possível compreender a profundidade e impacto de pequenas ações

operacionais diárias no planejamento da produção e, conseqüentemente, nos níveis de estoque da

empresa.

Posteriormente foi possível entrar em contato com esferas estratégicas do planejamento da

produção, em uma nova divisão de negócios, no mercado de bens de consumo. Assim, foi possível

desenvolver o conhecimento das diferentes ferramentas empregadas a nível estratégico, agregando

conhecimento ao trabalhar com a implantação da ferramenta de Sales and Operational Alignment, ou

S&OP.

Para tanto, diversas entrevistas no ambiente organizacional foram realizadas, assim como a

observação participante. Foram entrevistados formalmente onze colaboradores da empresa, sendo sete

envolvidos com o planejamento de matérias-primas e produção, um líder e um gerente da equipe de

PCP. O três restantes foram colaboradores do mercado de bens de consumo, a nível top-management.

A utilização deste método de alinhamento operacional poderá corroborar na solução de

significativa parte dos problemas com os quais o departamento defronta-se diariamente. Para que o

sucesso seja atingido será necessário o compromisso e disposição não apenas dos colaboradores do

departamento de PCP como também de Marketing, Vendas e Controladoria, a níveis estratégico, tático

e operacional.

Situação Inical

O departamento responsável pelo planejamento e controle da produção em questão é dividido

em três diferentes áreas: Suprimentos Nacionais, Suprimentos Importados e Atendimento ao

Cliente.

Os processos os quais tais áreas executam estão, no entanto, interligados. Analistas do

Atendimento ao Cliente possuem o contato direto com montadoras, com o After Market da

organização (revenda de peças para lojas) ou ainda com importadores. Os pedidos lançados por eles

são captados por um sistema computadorizado conhecido como MRP (Material Requirement

Planning), através do qual os materiais necessários para a produção são automaticamente projetados e

recebidos pelos analistas das demais áreas. O MRP assegura que os suprimentos sejam providenciados

no tempo correto, de modo que os processos de produção possam ser executados, utilizando

parâmetros fundamentais (como políticas de dimensão de lotes, estoque de segurança e lead time).

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Assim que os materiais necessários para a produção são calculados, os

planejadores de suprimentos (nacionais e importados) executam a análise de viabilidade. Fornecedores

e materiais possuem suas próprias particularidades, cabendo ao planejador ponderá-las e tomar as

decisões necessárias para a gestão dos estoques e da produção.

O departamento de PCP da divisão possui noventa fornecedores nacionais e duzentos e

quarenta e oito internacionais (sendo 68% deles na Europa). As vendas operadas pela equipe são mais

expressivas para o mercado interno, contando com vinte e seis clientes nacionais, enquanto as

exportações são resultado de dezessete clientes internacionais.

Segundo o Sindipeças, entidade representativa dos fabricantes de autopeças, o ano de 2012 foi

marcado por investimentos na ordem de 1,89 bilhão de dólares neste setor em nosso país. Tais

investimentos devem gerar exigências cada vez maiores pela atualização e especialização dos

colaboradores. Além disso, a pressão exercida pelas montadoras é refletida diretamente nos

colaboradores do departamento de PCP, uma vez que o Atendimento ao Cliente é o contato direto da

logística de estoques. Exercida essa pressão sob a produção, ela é diretamente transferida para os

analistas de Suprimentos Nacional e Importado – os fornecedores internos.

Durante o desenvolvimento do projeto foi possível perceber certa deficiência na divulgação de

métodos, ferramentas e processos utilizados na tomada de decisão no departamento. A dificuldade na

comunicação entre os diversos departamentos cujos indicadores estão relacionados prejudica a

continuidade de processos dependentes entre si.

A análise da gestão dos estoques é atualmente feita a partir de relatórios retirados

principalmente do sistema ERP (Enterprise Resources Planning) adotado pela empresa. Entretanto,

diversas análises são concebidas a partir dos dados computados no sistema e os indicadores produzidos

pelos departamentos não são alinhados entre si. Por exemplo, o departamento de Vendas utiliza-se da

antiga classificação dos materiais adotada pela empresa, enquanto Logística utiliza a classificação

atualizada. Assim, a comunicação entre as áreas é problemática e as ferramentas tornam-se obsoletas

em um curto espaço de tempo.

Propostas de melhorias: A ferramenta de Sales and Operational Alignment e suas implicações

Em pesquisa feita pela Aberdeen Group (2010), executivos de grandes empresas foram

questionados quais seriam as motivações mais significativas que levam companhias a adotarem o

S&OP. Os entrevistados mencionaram o aumento dos custos da cadeia de suprimentos (incluindo

transporte e movimentação de materiais), a preocupação em atender as expectativas dos clientes e a

alta volatilidade do mercado - levando a demanda incerta - como fatores de estímulo.

O beneficio chave em desenvolver um novo processo de planejamento de demanda e

suprimentos é a integração e melhora da comunicação através do S&OP. A implementação do

processo é a formalização da tomada de decisão conjunta, facilitada por uma série de reuniões

colaborativas com todas as funções do negócio.

Após análise do departamento estudado, os seguintes problemas foram encontrados:

A divulgação e documentação de métodos, ferramentas e processos utilizados na tomada

de decisão do departamento é carente de metodologia e regulação;

Distintas análises são concebidas pelas áreas e as ferramentas tornam-se obsoletas com o passar

do tempo;

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Dilatação de estoques e falta de espaço para armazenamento nos warehouses,

direcionando a altos custos de manutenção;

Elevados índices de estoques também devido à dificuldade na gestão de Lançamento e

Eliminação de bens;

Altos índices de cancelamento de pedidos, ampliando custos logísticos por falhas de

planejamento;

Mercado inconstante, levando a alta variação da quantidade a ser produzida;

A utilização da ferramenta de Sales and Operational Planning convenceu ser uma alternativa

adequada para a solução de tais obstáculos ao controle dos estoques. A ferramenta será um processo

mensal e colaborativo entre os departamentos cujas funções serão impactadas, bem como estratificado

entre as distintas unidades de negócio da divisão. Tais unidades serão responsabilizadas pela análise de

suprimento e demanda de um horizonte de seis meses, projetando as mudanças de mercado de forma

consistente e mensurável. Desta forma, espera-se maximizar a visibilidade das flutuações de

demanda e expor as limitações de capacidade de fornecimento relacionadas, sendo então possível

analisá-las. A colaboração entre as distintas unidades de negócio e entre os diferentes departamentos

envolvidos é essencial para mitigar riscos e aperfeiçoar as vendas, o serviço ao cliente, o investimento

e a gestão de custos.

Plantas, unidades de negócio e departamentos irão trabalhar juntos de maneira eficiente a fim

de colocar em prática os elementos necessários para o sucesso do S&OP: Validação de Demanda,

Validação de Suprimentos, Alinhamento Operacional e Liderança das Unidades de Negócio. A

preparação e a participação nas reuniões são mandatórias e as atividades sustentadas incluem

acordar com calendários, agendas, atas de reuniões e padrões de medições pelos quais a eficiência, o

progresso e a qualidade do processo podem ser avaliados. Departamentos envolvidos: PCP

(Planejamento e Controle da Produção), Marketing, Controladoria, Vendas e Produção.

Premissas para implantação do S&OP

As seguintes premissas devem ser levadas em consideração antes de definir o processo a partir

da leitura de BARBEIRO (2005):

Medidas financeiras: o processo assume que todas as medidas financeiramente razoáveis serão

tomadas para atender os planos de demanda e suprimento.

Comunicação: a troca de informações entre vendas, marketing, logística e operações deve

ser eficiente e bem documentada em todas as reuniões, através das atas. O entendimento das razões

associadas às significativas flutuações da previsão prepara os membros da equipe a reagir

sabiamente e, finalmente, melhorar o serviço ao cliente na validação da demanda e dos suprimentos

e no processo de alinhamento operacional.

Execução operacional: Outliers não-resolvidos nas fases de validação de demanda e/ou

validação de suprimentos são escalados para o alinhamento operacional. A racionalização e

simplificação de problemas não resolvidos para os principais tomadores de decisão são essenciais para

a eficiência das reuniões de alinhamento operacional e de liderança das unidades de negócios.

Maximizar a visibilidade às flutuações da demanda e expor as limitações de capacidade de

fornecimento relacionadas fortalece a capacidade da empresa para competir em um mercado centrado

no cliente.

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Previsões sem restrições: Previsões de vendas deverão atender às necessidades do mercado,

refletindo as vendas esperadas e sem restrições relativas à oferta, capacidade, produção, entrega, ou

outros métodos de gerenciamento de inventário. Exceção: quando é conhecido que a restrição

exige o continuo avanço das previsões e que não há solução previsível, a demanda deve ser

removida para uma data posterior, quando a disponibilidade de produtos e compromissos com os

clientes são re-confirmados.

Lead-time: É assumido um padrão de lead-time de 90 dias corridos para fornecedores no

exterior e não-acelerados. Isto significa que se o mês atual é janeiro, então as previsões em abril

estão impulsionando a próxima rodada de compras. Prazos dentro dos 90 dias corridos são

considerados dentro do lead-time e mudanças no plano de demanda resultariam em custos adicionais.

Planejamento e Snapshot: Todas as previsões inseridas até as 17:00 da última sexta-feira do

mês serão salvas no snapshot de demanda. Todas as demandas confirmadas no SAP no dia do snapshot

devem refletir em um plano de demanda preciso, determinando os requisitos para o planejamento de

compra de materiais e comunicando as expectativas de produção para os fornecedores relevantes.

Mudanças significativas após a reunião de Validação de Demanda devem ser comunicadas

proativamente pelo marketing ou por vendas para os líderes das unidades de negócio, sendo então

incorporadas à reunião de Validação de Suprimento.

Como base em tais premissas, a seguir apresenta-se o processo de S&OP proposto, o qual foi

organizado em quatro etapas para o caso proposto.

Primeira Etapa: Previsão de Vendas - Validação de Demanda

O primeiro elemento do processo de S&OP proposto neste trabalho é chamado de “Validação

de Demanda”. Consiste na revisão de previsão feita mensalmente pelos responsáveis e especialistas

de vendas, logística, marketing e planejamento de fábrica a fim de mitigar a incerteza e gerir os

riscos de desvios em aspectos determinantes, tais como: atualização de previsão estatística, entrada de

pedidos, avaliação e gestão de entradas e saídas, lançamento de novos produtos, entre outros. O

objetivo dessa fase do S&OP é identificar ameaças potenciais dentro e fora do lead-time avaliado,

resultando no ajuste da cadeia de suprimentos.

A abordagem está dividida em duas frentes, i.e. reunião de Validação da Pré- demanda e

reunião de Validação da Demanda Final. Reuniões de Validação da Pré- demanda são realizadas

durante todo o mês, antes que a reunião de Validação da Demanda Final aconteça. Temas

apresentados na reunião de Validação da Demanda Final devem ser exceções, identificados como

outliers para a demanda normal.

Os líderes das unidades de negócios devem identificar os canais mais relevantes, assim como

seus itens mais importantes na previsão da demanda. A escolha dos pontos principais a serem

levantados nas reuniões finais de Validação da Demanda pode ser aprimorada com a criação de um

processo padrão para auxiliar os especialistas na análise da demanda.

Três são os recursos necessários, em primeira análise, para esta fase:

Painel de Validação da Demanda: Ferramenta de Excel utilizada para auxiliar os planejadores

de PCP a identificar outliers dentro do plano inicial. É uma ferramenta especifica para cada unidade de

negócios, apresentando dados a nível detalhado para cada diferente material e produto, com um

horizonte de 12 meses.

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Planilha de Rastreamento de Eventos: utilizada para eventos excepcionais, como aumentos ou

diminuições na distribuição ou qualquer outros que impactem nas vendas. Lançamentos de novos

produtos não entram nessa classificação.

Planilha de Lançamentos: documenta informações chave para o sucesso na entrega de um

novo produto para o mercado e serve como ferramenta para identificar mudanças potenciais

dentro do plano de demanda a ser apresentado na reunião de validação da demanda.

Segunda Etapa: Previsão de Capacidade - Validação de Fornecimento

A proposta do segundo elemento do S&OP é identificar as restrições de capacidade conhecidas,

a fim de reduzir as implicações financeiras resultantes da dificuldade no abastecimento de produtos,

cujas projeções de demanda mensal foram retiradas do SAP através do snapshot. A “Validação de

Suprimentos” conta com três fases:

Comunicação do plano de suprimento através de ordens de compra como acordado na reunião

de validação da demanda.

Identificar proativamente as restrições de capacidade que poderão causar problemas futuros na

capacidade de abastecimento dentro do lead-time acordado. Quando cabível, os fornecedores podem

propor alternativas e soluções.

Determinar um plano de ação para lidar com as restrições atuais.

Os líderes das unidades de negócio submetem aos fornecedores, até a primeira semana do mês,

a visualização das requisições, com horizonte mínimo de seis meses. Prioridades e o escopo das

discussões precisam ser predeterminados pelos líderes e as divergências no abastecimento devem ser

discutidas. Os fornecedores revisam as informações e providenciam feedback antes da reunião de

validação de suprimentos.

Para avaliar a disponibilidade dos recursos nessa fase do processo é necessário que a empresa

possua uma capacidade de planejamento pré-determinada e calculada. Os responsáveis de vendas

de cada unidade de negócios devem submeter no mínimo uma vez por ano tal informação, sendo

que o fornecedor também deve ser comunicado. Os planos de capacidade são detalhados em

fornecedor, planta, máquina, linha de produção e item.

Para uma gestão dos suprimentos eficiente, os riscos aliados a cadeia de suprimentos devem

ser bem determinados. Para isso, é necessária uma monitoração da capacidade e

comunicação transparente com fornecedores. Os riscos inerentes a essa fase do processo e que

devem ser discutidos, incluem: quebra de máquinas, falta de mão-de-obra, falta de matéria-prima,

fechamento de fábricas (programado ou não programado), desempenho do fornecedor, priorização de

produção, entre outros.

Terceira Etapa: Reunião de Conciliação – Alinhamento Operacional

O objetivo desta etapa é a revisão dos outliers significativos com a equipe de marketing,

logística e controladoria, atenuando implicações graves nos indicadores de qualidade de serviço ao

cliente. Essa fase do processo também visa reduzir os impactos associados a valores discrepantes das

previsões e avaliar as restrições de fornecimento ainda existentes. Finalmente, é esperada uma

reação eficaz para limitar as conseqüências associadas com a questão de nível de serviço e perda de

receita.

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O alinhamento operacional visa um acordo com um plano de demanda restrita e realista, a ser

analisada pelos altos líderes na última etapa do processo, conciliando os planos de demanda e

suprimento e propondo soluções que preencham as lacunas encontradas.

A preparação para a reunião de alinhamento operacional consiste em agregar todas as restrições

de fornecimento relevantes dentro de um único modelo, separando cada uma das unidades de

negócios. Os pontos de discussão, as possíveis soluções de gargalos e os cálculos de custos

financeiros precisam estar preparados ao final desse encontro.

Quarta Etapa: Reunião Executiva - Liderança das Unidades de Negócio

O último elemento do processo de S&OP consiste no escalonamento dos principais tópicos aos

líderes das unidades de negócios, comunicando as propostas preparadas por marketing,

logística e controladoria para reagir eficazmente às limitações de procura e oferta encontradas nas

análises anteriores. Nesse encontro são discutidos os ajustes mais significativos para o cumprimento

das previsões e para a diminuição dos impactos, buscando barrar o aumento dos níveis de estoque e a

ineficiência no abastecimento. Os indicadores de desempenho relevantes devem estar atualizados para

essa reunião, na qual as restrições encontradas durante os demais encontros devem ser solucionados. O

escopo dessa etapa é providenciar feedback para as propostas e aprovar planos de demanda e

suprimento restritos e realistas, evitando excessivos outliers.

Através do S&OP é possível administrar a produção e estruturar uma visão mais completa dos

próximos eventos. Fomentando o desenvolvimento da colaboração inter-funcional entre os diversos

atores influenciados pela previsão da demanda, e conseqüentemente, dos recursos necessários para

atendê-la, esse processo permite a criação de uma estratégia a longo prazo de previsão da produção

(BARBEIRO, 2005).

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Tabela 01. Etapas do S&OP para o departamento de PCP.

Preparação - Revisão de Planejamento

Definição Planejamento dos eventos futuros, desde pedidos específicos

de clientes até lançamento, eliminação, canibalização de produtos.

Feito essencialmente através de ferramentas de Excel e/ou MRP.

Responsáveis Key Account Manager; Gerente Unidade de Negócio,

Gerente de Operações, Gerente de Marketing.

Ciclo tempo Etapa contínua, planejamento e alimentação de indicadores

devem estar atualizados na primeira semana do mês.

Documentos Ferramentas de Excel contendo informações de eventos

futuros, Lançamento, Eliminação, Promoções e eventos específicos.

Indicadores referentes à satisfação do cliente, qualidade na precisão

das previsões, níveis de estoque, entre outros.

Etapa 1 – Previsão de Vendas e Validação da Demanda

Definição Reunião para discussão de indicadores passados, tais como

previsão x vendas reais e níveis de estoque. O objetivo é alinhar as

expectativas de previsão de vendas entre marketing e logística,

além do desenvolver a compreensão do histórico do desempenho

passada.

Responsáveis Gerente de Logística, Gerente da Unidade de Negócio,

Gerente de Marketing.

Ciclo tempo Segunda semana do mês.

Documentos Input: Análises centrais de previsão e desempenho.

Output: Arquivo de Validação da Demanda, ata da reunião.

Etapa 2 – Previsão de Capacidade e Validação do Fornecimento

Definição Revisão de performance e mapeamento do desenvolvimento

das unidades de negócio. Comparação das previsões com o

Business Plan e verificação da viabilidade das previsões efetuadas

na etapa anterior, identificando gargalos na produção de acordo

com a capacidade das linhas. Objetivo é checar a viabilidade da

previsão e entender potenciais restrições da cadeia de suprimentos

com antecedência.

Responsáveis Líderes de Logística e de Operações.

Ciclo tempo Final da segunda semana e começo da terceira.

Documentos Input: Análises centrais de previsão e desempenho.

Output: Arquivo de Validação do Fornecimento, ata da

reunião.

Etapa 3 – Reunião de Conciliação – Alinhamento Operacional

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Definição Marketing e logística alinham as previsões por unidade de

negócio, lidam com gargalos da produção e discutem outliers e

questões escalonadas. Análises de previsão, discussão e solução de

temas críticos, apresentação de temas específicos.

Responsáveis Líderes de Logística e Marketing.

Ciclo tempo Fim da terceira semana do mês.

Documentos Input: Análises centrais e atas das reuniões anteriores.

Output: Arquivo de Alinhamento Operacional (pontos

principais de discussão, com responsáveis, prazos e medidas a

serem adotadas), ata da reunião.

Etapa 4 – Reunião Executiva - Liderança das Unidades de Negócio

Definição Alta gerencia recebe a visão global dos principais

indicadores, avalia e compromete-se com a previsão acordada.

Discussão de pontos relevantes da etapa anterior e avaliação das

conseqüências da previsão para a companhia.

Responsáveis Alta gerência da companhia, líderes de Marketing e

Logística.

Ciclo tempo Última semana do mês ou início da primeira semana do mês

seguinte.

Documentos Input: Resumo das análises centrais e atas das reuniões

anteriores.

Output: Decisões finais, aprovação dos planos de demanda e

fornecimento, previsão de resultados futuros, restrições a médio e

longo prazos.

Considerações Finais

A dicotomia Ciência-Prática é, certamente, uma referência na construção do raciocínio em

Administração de Empresas. As várias áreas do conhecimento que a abrangem desencadeiam questões

de pura ciência, de um lado, e de prática, de outro. Sendo assim, as pesquisas podem movimentar-se,

estando mais ligadas a cada um dos opostos (MOREIRA, 2000).

Através da aplicação da ferramenta de Sales and Operational Planning na empresa estudada

espera-se atingir, a médio e longo prazos, medidas que facilitem a diminuição dos níveis de inventário,

a partir da melhor visualização dos eventos futuros. Assim, a medida possui o objetivo de auxiliar na

tomada de decisão não apenas no departamento de PCP, como também em distintos outros

departamentos a níveis organizacionais. A partir do estudo de WALLACE (2004) e da análise anterior,

espera-se atingir os seguintes resultados com a implantação da ferramenta:

Por se tratar de uma empresa “Make-to-Order”, o processo de S&OP melhora os índices

de atendimento ao cliente, diminuindo a quantidade de ordens e, conseqüentemente, os backlogs e

lead-times.

Níveis de produção mais estáveis e diminuição de horas-extras, otimizando a produção.

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Melhor visibilidade dos futuros problemas de capacidade.

Aprimoramento do trabalho entre a equipe de executivos responsável pelo processo.

Desenvolvimento, na medida do possível, do equilíbrio entre a demanda e a oferta de

suprimentos na cadeia.

Atualização mensal dos dados do Business Plan, possibilitando a visão de longo alcance e a

diminuição de imprevistos.

Estabelecimento de uma única previsão, levando os distintos departamentos a

operarem sobre um mesmo plano de demanda.

Visão mais palpável dos cenários futuros e em conjunto com o restante da companhia,

favorecendo a facilidade e rapidez em resolver questões urgentes.

Criação de uma “Janela para o futuro”: grande aumento da carga de trabalho meses

antes, o lançamento em breve de um novo produto que exigirá consumo substancial da capacidade da

planta, uma queda da demanda prevista nos próximos meses.

S&OP desenvolve a tomada de decisão pró-ativa.

É comum a contratação de consultorias para a implementação do processo de S&OP, assim

como a criação de uma equipe de projetos responsável. Por conta da complexidade do caso

apresentado, sugere-se que uma equipe de projetos seja estruturada, entretanto a contratação de

consultoria externa é dispensável. Basta ter disciplina em seguir o processo à risca para atingir os

resultados esperados com excelência.

Executivos experientes na utilização do S&OP declaram que os benefícios do seu uso são

iguais, ou ainda superiores, aos referentes à implementação de um sistema de ERP (WALLACE,

2004). O processo pressionará os times a fazer uma melhor previsão de sua demanda, o que exige a

utilização de eficientes softwares, adaptáveis às distintas realidades da empresa. Em um primeiro

momento, entretanto, planilhas de Excel podem auxiliar na estruturação do melhor modelo para a

ferramenta futura.

Após a implementação do processo são necessárias medidas para sustentar a mudança

através da estrutura de ações para manutenção já exercida na companhia. É necessário, basicamente,

manter o melhoramento contínuo, o qual pode ser guiado por especialistas, cuja função é checar

periodicamente a vitalidade das medidas adotadas.

O melhoramento contínuo, neste caso, é sustentado em três pilares básicos: Convencer,

Aprender e Monitorar. O primeiro diz respeito ao estabelecimento das responsabilidades de cada

departamento e colaborador específicos conforme organograma e o comprometimento dos usuários

com as novas medidas. O segundo, por sua vez, consiste na coleta de informações dos stakeholders,

compreendendo o cenário através dos seus olhos, além do treinamento regular dos colaboradores, do

desenvolvimento do conhecimento adquirido e da documentação de boas práticas. Por fim,

Monitorar diz respeito à definição de metas e ao acompanhamento dos indicadores e

relatórios, auditando com freqüência a aderência do processo (dados fornecidos pela empresa).

O estudo científico é a ferramenta utilizada para auxiliar a compreensão da inter-relação entre

os diversos elementos relevantes em campos específicos, no caso o Planejamento e Controle da

Produção. Sendo assim, atesta-se finalmente a viabilidade da ferramenta proposta para a solução das

questões encontradas no cenário deste artigo.

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O estudo de caso apresentado neste documento aspira ter contribuído para o campo da

Administração da Produção enquanto pesquisa aplicada, principalmente no campo de Sales and

Operational Planning, área pouco explorada na literatura nacional. As limitações impostas pela prática

podem ser compreendidas de forma mais profunda quando analisadas minuciosamente e sendo assim o

prelimiar estudo apresentado neste documento é factível de futuro aprofundamento detalhado.

Efetuar acões em conjunto torna-se complexo na medida que a proporção dos impactos

aumenta. Investigar e propor medidas para eficiência obstáculos com eficiência na cadeia de

suprimentos da companhia contribuiu ao expandir tal compreensão. O trabalho em equipe, orientado a

objetivos comuns é essencial para o sucesso da medida proposta.

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Referências

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BARBEIRO F. M. Metodologia de implementação de planejamento de vendas e operações:

estudo de caso em manufatura de produção para estoque. 2005. Dissertação (mestrado profissional)

– Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Engenharia Mecânica, Campinas. 2005.

CORRÊA, L. H. et al. Planejamento, Programação e Controle da Produção MRPII/ERP.

Conceitos, Uso e Implantação. Base para SAP, Oracle Applications e outros softwares Integrados de

Gestão. 5ª ed. São Paulo. Editora Atlas, 2010.

DIAS, M. A. P. Administração de Materiais. Uma abordagem logística. 5ª ed. São Paulo: Atlas,

2010.

LAURINDO, F. J. B. MESQUITA, M. A. Material Requirements Planning: 25 anos de história

– Uma revisão do passado e prospecção do futuro. Artigo – Engenharia de Produção da Escola

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MOREIRA, D. A. Natureza e fontes do conhecimento em Administração. Administração

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PASSOS, P. L. B. et al, Veículos e autopeças: o dinamismo do mercado interno e as

importações. Agosto 2011.

SART, F. et al, Relatório de acompanhamento setorial. Autopeças. Campinas. Setembro 2009.

Volume II.

SILVA A. L.,; ESTEVES F. M.; PEDROSO C. B. Processo de Sales and Operational

Planning (S&OP) em uma indústria do segmento de eletro-eletrônico: Um estudo de caso. XVII

SIMPOI. Fundação Getúlio Vargas. 2012. Disponível em:

http://www.simpoi.fgvsp.br/arquivo/2012/artigos/E2012_T00224_ PCN21137.pdf. Acesso em 8 de

Novembro de 2013.

SLACK, N. et al. Administração da Produção. 3ª ed. São Paulo. Editora Atlas, 2009.

VALLONE, G. Imposto maior para autopeças pode aumentar importação de veículos. Folha

de São Paulo. São Paulo. Maio 2010. Disponível em

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WALLACE T. F. Sales and Operational Planning. The How-To Handbook. 2ª ed. Estados

Unidos da América, T. F. Wallace & Company. 2004.