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1 Proposta Teórico-Metodológica para o Estudo da Estratégia como Prática Social: Uma Abordagem Construcionista Autoria: Mozar José de Brito, Valéria da Glória Pereira Brito, Alex Fernando Borges, Lília Paula Andrade Resumo Em nosso artigo, apresentamos uma abordagem teórico-metodológica para o estudo da estratégia como prática social sob a perspectiva construcionista. Para tanto, recorremos aos postulados ontológicos e epistemológicos desta perspectiva e fundamentamos a nossa proposta em conceitos formulados por diversos autores que têm desenvolvido pesquisas sobre estratégia como prática. Neste artigo, sugerimos também um percurso metodológico que inclui a definição de algumas categorias de análise e prevê a triangulação de métodos e técnicas de pesquisa qualitativa. Por fim, apontamos nossas considerações finais e destacamos as contribuições ontológicas e epistemológicas da nossa proposta de análise para o campo de estudos sobre estratégia como prática social.

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Proposta Teórico-Metodológica para o Estudo da Estratégia como Prática Social: Uma Abordagem Construcionista

Autoria: Mozar José de Brito, Valéria da Glória Pereira Brito, Alex Fernando Borges, Lília Paula Andrade

Resumo Em nosso artigo, apresentamos uma abordagem teórico-metodológica para o estudo da estratégia como prática social sob a perspectiva construcionista. Para tanto, recorremos aos postulados ontológicos e epistemológicos desta perspectiva e fundamentamos a nossa proposta em conceitos formulados por diversos autores que têm desenvolvido pesquisas sobre estratégia como prática. Neste artigo, sugerimos também um percurso metodológico que inclui a definição de algumas categorias de análise e prevê a triangulação de métodos e técnicas de pesquisa qualitativa. Por fim, apontamos nossas considerações finais e destacamos as contribuições ontológicas e epistemológicas da nossa proposta de análise para o campo de estudos sobre estratégia como prática social.

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1. Introdução

Os estudos sobre estratégia como prática social no Brasil estão em estágio emergente. O estudo de Walter e Augusto (2011) evidenciou, além desta constatação, que os primeiros estudos realizados por pesquisadores brasileiros sobre esse tema surgiram na metade da década de 2000, mais precisamente no ano de 2004, oito anos após a publicação do primeiro artigo de Whittington (1996). O estágio embrionário da pesquisa sobre estratégia como prática também seria responsável por uma produção científica pulverizada em grupos de pesquisa localizados em diferentes universidades brasileiras. O trabalho dos autores revela que, apesar do crescimento do número de artigos publicados em periódicos e anais de congressos da área de administração sobre a temática, há espaço para o desenvolvimento de novas pesquisas sobre estratégia como prática em organizações brasileiras. Em outro estudo, Walter e Augusto (2012) localizaram 349 artigos publicados em todo o mundo que recorriam aos conceitos de estratégia como prática, sendo 35 escritos por pesquisadores brasileiros e 314 por estrangeiros. Portanto, pode-se observar que os pesquisadores brasileiros ainda não exploram devidamente muitos tópicos relativos à temática estratégia como prática.

Entre os tópicos explorados por pesquisadores brasileiros destacam-se: defesa da abordagem da estratégia como prática (CANHADA; RESE, 2009); perspectiva da estratégia como prática enquanto proposta de síntese paradigmática no campo dos estudos sobre estratégia (ALBINO et al., 2010); comunicação organizacional na abordagem da estratégia como prática social (RESE et al., 2011); representações sociais e estratégias e táticas cotidianas (SILVA et al., 2011); a institucionalização dos estudos sobre estratégia como prática nos estudos organizacionais brasileiros (WALTER; AUGUSTO, 2011); processo de estrategizar em uma rede interorganizacional de pequenas e médias empresas (TURETA; LIMA, 2011); papel da agência e co-determinação na estratégia como prática (SAUERBRONN; FARIA, 2011); o processo de estruturação de estratégias como prática em uma multinacional (TEIXEIRA; COSTA, 2012); recomendações teórico-metodológicas com o objetivo de orientar a realização de pesquisas sobre estratégia (CORAIOLA et al., 2012); apropriação epistemológica da teoria da atividade pela teoria da visão baseada na atividade (MARIETTO et al., 2012); integração entre a perspectiva institucional e a abordagem da estratégia como prática (WALTER et al., 2012); análise da virada da prática nos estudos sobre estratégia (MACIEL et al., 2013).

No âmbito internacional, Vaara e Whittington (2012) e Jarzabkowski e Spee (2009) traçaram um panorama da produção científica sobre estratégia como prática. Para esses autores, essa abordagem, por recorrer aos teóricos da prática, tem-se mostrado promissora, produzindo explicações acerca das ações, das práticas e intenções das pessoas no fazer estratégia. A partir dessa concepção inicial, os autores afirmam que a referida abordagem tem sido reorientada por uma nova concepção ontológica. O conceito de estratégia como prática social sugere um duplo sentido: por um lado, ela pode ser interpretada como algo que reconhece o papel ativo dos praticantes; por outro, ela pode ser vista como uma abordagem que abriga as teorias da prática social. Isto implica em reconhecer que o fazer estratégia fundamenta-se na práxis e nas práticas socialmente construídas que produzem efeitos tanto o processo quanto no resultado das organizações e das estratégias em si mesmas (VAARA; WHITTINGTON, 2012). Para esses autores, a abordagem estratégia como prática está interessada em explicar a relação entre a estrutura e ação, enfatizando a relevância das práticas na mediação dessa interdependência. Para tanto, segundo Whittington (2006) e Vaara e Whittington (2012) é necessário a realização de estudos que explicitem o processo de construção da estratégia, levando-se em consideração o processo de emergência e transformação da estratégia ao longo do tempo, a localização da agência em redes de práticas

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e a relevância do contexto institucional e dos aspectos não humanos materiais na construção das estratégias.

Ao se inserir neste movimento de pesquisa, nosso artigo, além de incorporar alguns conceitos da teoria da prática, apresenta uma reflexão sobre a abordagem sócio construcionista, bem como aponta algumas alternativas teórico-metodológicas que podem ser aplicadas para o desenvolvimento de pesquisas sobre estratégica como pratica social. Argumentamos que a referida perspectiva poderá servir de referência para a compreensão da “criação, construção, translação, transformação do estrategizar” (GRAND et al., 2010, p. 71). Esta pressuposição nos estimulou a escrever este artigo cujo objetivo foi sistematizar uma proposta teórico-metodológica que enfatiza o processo de construção e transformação das estratégias socialmente construída por diferentes agentes organizacionais sob a ótica sócio construcionista.

2. Fundamentos epistemológicos da abordagem construcionista A origem da abordagem construcionista está vinculada aos questionamentos sobre as epistemologias universalistas de produção do conhecimento. Para Spink e Frezza (2004), esta abordagem interdisciplinar abriga reflexões produzidas por pesquisadores de diferentes disciplinas, especialmente filosofia do conhecimento, sociologia do conhecimento, ciência política e da história, Como defende as autoras, os termos construcionismo e construção social têm sido empregados em diferentes disciplinas para, respectivamente, qualificar teoricamente a referida abordagem e explicar a ação coletiva em diferentes contextos sociais.

Para efeitos desta proposta de pesquisa, procuramos esclarecer nesta seção os fundamentos e justificar a escolha da abordagem construcionista, como perspectiva de investigação, a partir das formulações de Gergen (1985), Spink (2004) e Hosking (2011). Em artigo seminal, Gergen (1985) apresenta os princípios que particularizam essa abordagem, destacando que os pesquisadores adeptos de seus pressupostos se ocupam de produzir explicações sobre os processos por meio do quais as pessoas descrevem, explicam e atribuem sentido à realidade. Para o autor, esses sentidos e os conhecimentos gerados a partir deles são socialmente construídos, estando, portanto, circunscritos pela cultura, pela história e pelo contexto social (HOSKING, 2011).

Sob esta linha de reflexão, Spink e Frezza (2004) afirmam que essa forma de conceber o conhecimento implica em abdicar da visão representacionista do conhecimento, reconhecer que tanto o objeto quanto o sujeito são construções sócio-históricas e problematizar a noção de realidade marcada simultaneamente pela objetividade e subjetividade. Para as autoras, a produção do conhecimento sob esta ótica tem levado os pesquisadores a acatarem:

“[...] uma dupla orientação, pautada por um lado, pelo realismo ontológico (ou seja, a postulação da existência da realidade) e por outro, pelo construcionismo epistemológico, ou seja, a postulação de que a realidade não existe independente do nosso modo de acessá-la. Isso significa que é o nosso acesso à realidade que institui os objetos que a constituem. Dito de outra forma, só apreendemos os objetos que nos apresentam a partir das nossas categorias, convenções, práticas, linguagem, enfim, de nossos processos de objetivação.” (SPINK; FREZZA 2004 p.28)

Na visão de Spink e Frezza (2004), a abordagem construcionista se opõe a retórica da

verdade absoluta, universal, historicamente descontextualizada e a noção de conhecimento e linguagem como representação. O conhecimento, por sua vez, não é visto como algo que

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representa uma realidade fixa e determinada, mas como uma produção cuja legitimação e reprodução dependem dos processos sociais que sustentam sua inteligibilidade.

O caráter relacional da dinâmica produção do conhecimento também está presente nas reflexões de Gergen (1985) e Gergen e Thatchenkery (2004) que defendem a conexão entre conhecimento e ação. Para os autores, na medida em que os agentes constroem o conhecimento a partir das suas realidades relacionais, interações e negociações de sentidos, eles estão construindo uma ação, uma determinada realidade. Na visão desses autores, a cada descrição e explicação do mundo se constitui uma ação social, que implica em construir e reconstruir a realidade. Essa concepção também é reforçada por Hosking (2011), que parte do pressuposto que a produção do conhecimento passa pela apreensão dos processos relacionais, os quais pressupõem interação e envolvem produção de sentidos, diferentes formas comunicação, entre outros elementos não humanos (tecnologias, artefatos, meios de produção) que podem ser observados e teorizados como parte da realidade em construção. O termo interação refere-se à prática ou performance que envolve a aproximação, construção e reconstrução das realidades relacionais. Essa prática seria a base da produção do conhecimento e da (re)construção da realidade, marcada pela ontologia e formas de vida do lugar. Para Hosking (2011), a adoção da abordagem construcionista implica em evitar os posicionamentos científicos dualistas que separam sujeito do objeto, a mente do corpo, a teoria da prática, a práxis da prática, o contexto micro do macrossocial. Ao assumirmos os pressupostos da abordagem construcionista, estamos admitindo, de modo reflexivo, que tanto a realidade como o conhecimento são socialmente construídos (GERGEN, 1985; SPINK, 2004; BERGER; LUCKMANN, 2005; HOSKING, 2011). Esse posicionamento implica em admitir a centralidade da linguagem nestes processos, concebendo-a como uma formação discursiva que não pode ser apreendida como entidade separada da prática e vida da social.

A linguagem, sob a ótica construcionista, tem um caráter performático, sendo considerada uma prática social, servindo também elemento mediador do processo de construção da realidade e do conhecimento (SPINK, 2004; HOSKING, 2011) cuja origem está atrelada aos processos hermenêuticos e à produção de sentidos. O reconhecimento dessas especificidades da linguagem implica em compreender as interfaces entre os seus aspectos performáticos e as condições de produção, ou seja, as particularidades do contexto social e interacional (SPINK; MEDRADO, 2004). Estas interfaces podem ser observadas a partir das práticas discursivas (linguagem em ação), entendidas como os modos pelos quais as pessoas produzem sentidos e se posicionam política e simbolicamente em suas interações cotidianas. Os sentidos são definidos por Spink e Medrado (2004. p.41) como “uma construção coletiva e interativa, por meio do qual as pessoas – na dinâmica das relações sociais historicamente datadas e culturalmente localizadas – constroem os termos a partir dos quais compreendem, lidam com situações e fenômenos a sua volta”. Esse conceito remete à localização dos sentidos no tempo e no espaço. Assim, como lembra Hosking (2011), contextos e relações sociais diferentes geram sentidos e ações diferentes devido ao caráter histórico e cultural da produção desses sentidos. Portanto, devemos estar atentos à ontologia do lugar em que as realidades relacionais são construídas, centrando suas atenções sobre o modo como as pessoas constroem e organizam a realidade, incluindo as organizações, sua visão de mundo, as práticas sociais e discursivas acerca das suas estratégias de ação (GERGEN; THATCHENKERY, 2004; LAINE; VAARA, 2007).

Além disso, torna-se necessário o reconhecimento de que a aplicação dos fundamentos construcionistas requer a desfamiliarização das dicotomias entre sujeito e objeto, objetividade e subjetividade e o reconhecimento do pluralismo metodológico. De acordo com essa perspectiva, deve-se partir do pressuposto de que o conhecimento sobre a realidade não existe de modo independente dos processos ou modos de observação e explicação adotados pelos pesquisadores, cuja visão de mundo está circunscrita pelo contexto cultural e histórico

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(GERGEN, 1985; BURR, 1995; SPINK, 2004; HOSKING, 2011). Essas considerações remetem à relação dialógica entre a produção do conhecimento e a ação social discutida por Gergen (1985) e Burr (1985). Para esses autores, a ação social pode dar origem a diferentes formas de compreensão do mundo, sendo que diferentes formas de conhecimento podem produzir diferentes ações.

Ao fundamentarmos a nossa proposta nos pressupostos ontológicos e epistemológicos construcionistas, procuramos rejeitar, de um lado, o realismo ingênuo, o qual defende a existência de um mundo que precisa ser descoberto, revelado por meio de uma relação imediata e invariante entre o pesquisador (sujeito) e a realidade (objeto), e de outro, o subjetivismo extremo, que atribui a capacidade de conhecer exclusivamente às propriedades da mente individual, à subjetividade e aos determinantes psicodinâmicos (SPINK; FREZZA, 2004). Sendo assim, as especificidades da referida proposta serão foco das reflexões teórico-metodológicas que se seguem.

3. Estratégia como prática social: uma abordagem sócio construcionista

Para cumprir o objetivo proposto neste artigo, passamos a apresentar a sistematização teórica sobre a estratégica como pratica social. Em nossa revisão de literatura, procuramos elucidar a origem dos estudos da estratégia como prática social e abordar os fundamentos teóricos que servirão de referência para o desenvolvimento da nossa proposta teórico-metodológica.

3.1. Estratégia como prática social: conceitos e reflexões

O debate teórico acerca da estratégia como prática, iniciado a partir de 1996, provocou

alterações significativas no modo da produção do conhecimento sobre a estratégia como prática social (WHITTINGTON, 1996; WHITTINGTON, 2006; JARZABKOWSKI, 2003; JARZABKOWSKI, 2007; JARZABKOWSKI; SEIDL, 2008). Para Regnér (2008), a abordagem da estratégia como prática social emergiu a partir do momento em que os pesquisadores da área de estratégia intensificaram o diálogo com os teóricos da prática social, a exemplo de Bourdieu, Guidens, De Certau, Latour, Schatzi. Essa aproximação permitiu que os pesquisadores lançassem um novo olhar sobre o fazer estratégia, potencializando o poder analítico do referido enfoque teórico.

Para Golsorkhi et al. (2010), a emergência de diferentes abordagens da estratégia como prática social tem contribuído para a superação de concepções dualistas entre formulação-implantação, conteúdo-processo, concepção-execução, dentre outras, que marcaram a produção do conhecimento sobre estratégia até então. Desse modo, podemos afirmar que estamos experimentando uma espécie de “virada ontológica”, em que essa perspectiva de análise passou a ser abordada como algo que de fato as pessoas fazem ou realizam nas organizações, abandonando a concepção da estratégia como algo que elas possuem, ou seja, a estratégia como propriedade das organizações (JARZABKOWSKI, BALOGUN; SEIDL, 2007; JARZABKOWSKI; SEIDL, 2008). Os autores adeptos dessa postura ontológica tem procurado reformular a produção de conhecimento sobre estratégia, sem, contudo, negar as contribuições teóricas da abordagem processualista. Para Whittington (2002), essa perspectiva de análise serviu de ponto de partida para a construção de novas teorias que passaram a reconhecer os limites da produção acadêmica, que gerava modelos normativos e prescritivos sobre a formação e implantação de estratégia. O enfoque processualista modificou a concepção ontológica da estratégia, concebendo-a como um fenômeno socialmente construído em um dado contexto sócio histórico (CARRIERI; SARAIVA, 2007).

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Para desenvolver a nossa proposta teórico-metodológica, tomamos como ponto de partida as formulações de Jarzabkowski, Balogun e Seidl (2007), Whittington (2004), Whittington (2006), Vaara e Whittington (2012), e Jarzabkowski e Spee (2009). Esses autores propõem a abordagem da estratégia como prática social, levando-se em consideração três categorias centrais de análise: a práxis, prática e praticantes. Para Jarzabkowski, Balogun e Seidl (2007), a estratégia como prática social seria o conjunto de atividades realizadas com base na interação, negociação e ações articuladas pelos atores em organizações situadas em um contexto sócio histórico específico. Ao reconhecerem a fluidez desse conceito, esses autores propõem a demarcação do escopo do trabalho de campo e a definição do conjunto de atividades que se pretende observar, descobrir e explicar a partir da articulação entre práxis, prática e praticantes.

Para Jarzabkowski, Balogun e Seidl (2007), a práxis implica em junção de teoria e prática em um mesmo “nexus” que orienta a ação humana no âmbito das organizações. Essa noção abriga as práticas (o que tem sido realizado pelos praticantes) e as explicações e justificativas para a sua realização. Para elucidar e aprofundar a compreensão desse conceito recorreu-se à filosofia da práxis proposta por Vazquez (2007), para o qual o conceito de práxis foi formulado para explicar o processo de auto-reprodução de ações, diferindo-se da concepção behaviorista de comportamento externamente controlado. Essa concepção opõe-se à simplificação, redução da ação ou da mera aplicação teórica. A práxis é dialeticamente informada por reflexões teóricas que visam a transformação e a mudança de práticas.

Essa concepção de ação reflexiva tem uma relevância particular para a compreensão da práxis e da prática enquanto categorias de análise das estratégias construídas nas organizações. Ao contrário da visão existente que toma a estratégia como algo informado pela ideologia gerencial, a noção de estratégia como práxis procura considerar a prática de modo reflexivo. Nesse caso, a teoria é aplicada de modo a servir de referência para criticar e, até mesmo, de negar as concepções existentes. Ela também deve nortear a descoberta e a análise de contradições existentes nas organizações e na sociedade.

A estratégia como práxis envolve, assim, a integração reflexiva entre teoria e prática. Ressalte-se que essa integração não pressupõe que a concepção de práxis seja equivalente à de prática. Na teoria social, a práxis refere-se à atividade autônoma, criativa e autocriativa por meio do qual as pessoas criam, realizam produzem e transformam (conformam) a sua realidade e a si mesmos. Por sua vez, a prática, enquanto um momento da práxis, tem sido abordada como um conjunto de atividades de caráter utilitário-pragmático que visa atender às aspirações, interesses, objetivos mais imediatos dos agentes ou pessoas em um determinado espaço social. Para o filósofo da práxis Vazquez, (2007, p. 10), “a consciência comum pensa os atos práticos, mas não faz da práxis – como atividade social transformadora – seu objeto; não produz – nem pode produzir, como veremos, uma teoria da práxis”. Na visão do autor, “toda práxis é atividade, mas nem toda atividade é práxis”, sendo essa última uma atividade conscientemente orientada que articula dialogicamente as dimensões objetiva e subjetiva da atividade. Portanto, o conceito de práxis não se resume à construção e à transformação da natureza (criação de objetos, organizações, tecnologias, inovações, metodologias, procedimentos), mas também estabelece relações com as atividades que transformam as pessoas, considerados pela abordagem construcionista como sendo seres ativos que atuam na sua própria construção e transformação da realidade.

Para Vazquez (2007), se por um lado a prática não pode ser vista por si só como uma práxis, por outro a teoria por si só também não pode ser tomada como práxis. Na visão do autor, “a atividade teórica proporciona o conhecimento indispensável para transformar a realidade” (VAZQUEZ, 2007, p. 203). Para tanto, ela deve ser compartilhada e assimilada pelos agentes da mudança que pretendem transformar a si e o mundo. Essa reflexão nos permite destacar que as práxis estratégicas nas organizações não podem ser reduzidas ao mero

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praticismo e tão pouco ao teoricismo. Ela deve ser observada como ação transformadora, marcada pela indissociabilidade entre teoria e prática. Ao considerar a estratégia como práxis transformadora da realidade organizacional e dos próprios praticantes, admite-se que a sua construção se sustenta a partir de um conjunto de atividades práticas reflexivas orientadas por um saber socialmente construído e compartilhado. Em uma organização, podemos encontrar diferentes modalidades de práxis, cuja origem pode estar atrelada à consciência e competência criativa dos estrategistas no curso da sua prática. Para observar essas modalidades de práxis empiricamente tomar-se-ão emprestadas as noções de práxis criadora, reiterativa ou imitativa, reflexiva e a espontânea, formuladas por Vazquez (2007).

A práxis criadora pressupõe uma estreita relação entre as dimensões subjetivas e objetivas – entre aquilo que planejamos e realizamos. Criar, na concepção de Vazquez (2007), é idealizar e realizar aquilo que foi pensado como algo indissociável e simultâneo, pois assim sendo não se pode conhecer antecipadamente os caminhos e resultados da práxis criadora. Acredita-se que essa noção de práxis criadora seja relevante para se compreender que a prática da estratégia tem um caráter emergente, indicando a possibilidade de alteração, modificação ou de reconstrução reflexiva ao longo do curso de ação. Ao contrário da práxis criadora, a práxis reiterativa ou imitativa limita a ação dos agentes a reprodução acrítica e repetição das práticas. Nesse caso, ação tem a sua gênese em prescrições, modelos previamente construídos, em outras circunstâncias diversas daquela que lhe deram origem. Há também a separação entre planejamento e execução, tornando a ação mecanicista, automatizada e não reflexiva (VAZQUEZ, 2007).

Ainda segundo Vazquez (2007), toda e qualquer práxis pressupõe a tomada de consciência e utilização da reflexividade em graus diferentes. A práxis criadora requer grau de consciência mais aguçado, implicando em exigência de maior competência para a construção do diálogo, problematização e intervenção no curso de ação seja ele individual ou coletivo. Por sua vez, na práxis reiterativa, a reflexividade e consciência podem ser reduzidas e até mesmo desprezadas pelos praticantes, especialmente quando as atividades tornam-se automatizadas ou mecanicamente mediadas. Vazquez (2007) definiu, a partir deste grau de consciência reflexiva, outras práxis que foram por ele denominadas de práxis espontânea e práxis reflexiva. A práxis espontânea não possui caráter transformador, dada a naturalização e atomização das práticas. Por sua vez, a práxis reflexiva, produz efeitos sobre as próprias práticas, apresentando as possibilidades de transformação da realidade e dos próprios praticantes.

Para Shirivastava (1986), a noção de práxis estratégica pode auxiliar os pesquisadores a explicar a sua concepção ontológica de estratégia compartilhada no âmbito da organização e do seu contexto. Para o autor, a estratégia envolve ações informadas teoricamente e pensamentos que orientam o fluxo de transformação das organizações e de seus membros. Neste sentido, ela fornece os princípios do organizar, tornando-se fundamentais para a definição de objetivos, domínios de produto-mercado, estruturas internas e mecanismos de gestão. Portanto, a práxis está incorporada à vida organizacional, sendo que a sua interpretação poderá ocorrer em deferentes níveis de análise, ou seja, do nível macro ao micro social (JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL 2007; WHITTINGTON, 2006; VAARA; WHITTINGTON, 2012; JARZABKOWSKI; SPEE, 2009). Nesse sentido, elas podem ser abordadas como elemento mediador da relação entre estruturas e a agência.

Por seu turno, a prática tem sido estudada sobre múltiplas perspectivas de análise. Para tanto, essas atividades humanas são apreendidas como algo socialmente organizado, sendo constituídas por diferentes ações que se localizam no tempo e espaço históricos. Para Srour (2012 p.90), “a noção de prática social deve ser vista como uma categoria conceitual relevante para a apreensão da organização, incluindo as suas estratégias”. Para o autor, as práticas sociais seriam produtos e produtoras das relações sociais articuladas entre os agentes coletivos

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que atuam em uma organização. Essas relações organizadas são marcadas por relações de haver (produção), de poder e de saber (SROUR, 2012).

As considerações apontadas acima remetem à compreensão das práticas sociais e organizacionais como um conjunto de atividades humanas, compostas por várias ações situadas no espaço e no tempo. Elas envolvem saberes, valores, crenças, elementos políticos e simbólicos que servem de referência para a produção de sentidos socialmente compartilhados e incorporam entendimentos, saberes e fazeres práticos (RECKWITZ, 2002). Para Schatzki (2005) e Schatzki et al. (2001), as práticas podem ser observadas como um conjunto amplo de atividades organizadas que articulam ações que estão interconectadas. Nessa concepção, o termo atividades organizadas remete à noção de arranjo estruturado de ações que são realizadas pelas pessoas que se encontram localizadas no tempo e no espaço. Para o autor, as práticas seriam produto da interligação entre pessoas que compartilham de uma mesma identidade social ou coletiva e atuam sob a égide de uma estrutura de governança marcada entendimentos, regras, e estruturas teleoafetivas (SCHATZKI et al., 2001). Para Schatzki (2005), a compreensão das práticas implica em abordá-las a partir da ontologia do lugar e dos sentidos socialmente construídos em torno das realidades material e imaterial. Essa preocupação de situar e localizar as práticas no tempo e no espaço também tem sido compartilhada pelos teóricos da estratégia como prática social (GRAND et al., 2010).

Para os teóricos de estratégia, a prática está intrinsecamente conectada ao fazer, fornecendo os recursos físicos, discursivos, instrumentais, cognitivos e comportamentais que dão sustentação à construção social das interações que permitem a realização coletiva das atividades cotidianas nas organizações (JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007; JARZABKOWSKI, 2007; WHITTINGTON; VAARA, 2012). Esses autores consideram a prática como uma unidade de análise essencial para compreender, sob a ótica de múltiplos atores, porque e como as estratégias são construídas em contextos (micro e macro) sociais pluralistas e dinâmicos marcados por uma práxis compartilhada por praticantes em diferentes dimensões organizacionais. A terceira categoria de análise introduzida pela abordagem da estratégia como prática foi a noção de praticantes. A introdução dessa noção implicou no reconhecimento do papel ativo do sujeito na construção da estratégia ou do fazer estratégia. Os praticantes são tomados como agentes coletivos que estão imersos em dois tipos de relações: as estruturais e as de mercado. Assim, o entendimento das organizações (incluindo as estratégias socialmente construídas) passa pela compreensão do processo por meio do qual as pessoas personificam agentes coletivos (SROUR, 2012). Nesse sentido, os praticantes são tomados como agentes coletivos que participam ativamente construção social da realidade organizacional, incluindo as estratégias. Para tanto, eles mobilizam regras, recursos, estruturas teleoafetivas, entre outros elementos para construir entendimentos ou consensos em ambiente marcado pela pluralidade e diversidade humana (JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007; WHITTINGTON, 2006; VAARA; WHITTINGTON, 2012; JARZABKOWSKI; SPEE, 2009). Para esses autores, o estudo da estratégia como prática social passa pela investigação das interconexões entre a práxis, práticas e praticantes. Essa concepção implica em reconhecer que as experiências, conhecimentos e identidade social estrategistas marcam a construção da estratégia cujas especificidades guardam coerência com as orientações de tempo e espaço constitutivos da ontologia do lugar e da visão de mundo dos agentes coletivos que participam do fazer estratégia (MANTERE; VAARA, 2008; BALOGUN; JOHNSON, 2005). 3.2. Estratégia como prática: uma proposição teórica

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Tendo esclarecido os pressupostos ontológicos e epistemológicos da abordagem construcionista, os fundamentos e conceitos centrais acerca da estratégia como prática, passamos a apresentar o nossa proposta teórico-metodológica (Figura 1) cujos fundamentos ancoram-se em: i) pressupostos ontológicos e epistemológicos da abordagem construcionista; ii) reflexões de Whittington (2006), Jarzabkowski, Balogun e Seidl, (2007), Jarzabkowski e Spee, (2009), Fenton e Langley (2011) e Vaara e Whittington (2012), acima discutidas; iii) triangulação de métodos de pesquisa qualitativa.

Diante do quadro teórico apresentado anteriormente, julga-se relevante esclarecer como esta proposta de análise servirá de ponto de partida para a apreensão e compreensão do fazer estratégia em organizações. A proposta abriga os conceitos de repertórios interpretativos, práticas discursivas, práticas organizacionais, práxis social estratégica, história das organizações e contexto sócio histórico (FIGURA 1).

Figura 1. Representação gráfica da proposta teórico-metodológica Fonte: Elaborado pelos autores

No nível micro de análise, toma-se emprestado a noção de repertório interpretativo formulado por Wetherell (1998) e elucidado por Spink e Frezza (2004), para quem os repertórios interpretativos são o conjunto de termos, descrições, expressões e gêneros discursivos empregados pelas pessoas em suas construções discursivas que tomam como referência um dado contexto local e sócio histórico. Jorgensen e Phillips (2002) concebem os repertórios interpretativos como referências sociais que as pessoas recorrem para atribuir sentido à realidade, construir explicações e fazer mudanças na realidade. Eles são dispositivos ou recursos linguísticos que as pessoas recorrem para construir sua visão de mundo, ações, eventos e outras formas humanas e não humanas em suas interações cotidianas. Acredita-se que a noção de repertório interpretativo seja relevante e fundamental para compreender o fazer estratégia nas organizações estudadas sob a ótica de seus praticantes.

A noção de repertórios interpretativos é fundamental para a apreensão de regularidades, contradições, variabilidades e polissemia das práticas discursivas, entendidas por Spink (2004) como sendo os momentos de produção de sentidos e de ressignificações e de

Práxis estratégica

Repertórios Interpretativos

Práticas discursivas

Práticas organizacionais

História organizacional

Contexto sócio histórico

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rupturas correspondentes aos momentos do uso da linguagem ou, seja, a linguagem em ação. As práticas discursivas, segundo a autora, referem-se às maneiras a partir das quais as pessoas (consideradas aqui como os praticantes da estratégia) produzem sentidos e se posicionam nas interações ou relações sociais vivenciados nas organizações. Em uma organização, as práticas discursivas são constituídas pelos enunciados – textos escritos, falados, imagens, figuras de linguagem, metáforas, logomarcas de produtos, declarações, planos estratégicos e outros documentos que expressam os sentidos da realidade organizacional e do fazer estratégia, as formas (gêneros discursivos) – e outros conteúdos linguísticos que perpassam as práticas organizacionais que dão sustentação ao fazer estratégia. Portanto, as práticas discursivas podem ser apreendidas, conjuntamente com a práxis e práticas organizacionais, como sendo elementos constitutivos do fazer estratégia (LAINE; VAARA, 2007; VAARA, 2010; WHITTINGTON, 2006; JARZABKOWSKI; BALOGUN; SEIDL, 2007; JARZABKOWSKI; SPEE, 2009; FENTON; LANGLEY, 2011; VAARA; WHITTINGTON, 2012).

A observação e apreensão desses elementos constitutivos do fazer estratégia passa necessariamente, segundo os referidos autores, pela interpretação dos contextos micro e macrossociais. A contextualização do fazer estratégia poderá ser realizada a partir da reconstrução da história das organizações pesquisadas e do contexto sócio histórico e cultural em que elas estão inseridas.

Por fim, ressaltamos que a nossa proposta deve ser vista como um ponto de partida, podendo portanto ser modificada a partir da interação dos pesquisadores com as realidades em foco. A escolha da imagem da espiral e da localização das categorias de análise refletem a flexibilidade e a abertura, pois se acredita que a imersão no campo poderá informar outros conceitos e proposições teóricas que poderão ser incorporadas para fins de apreensão e análise da realidade organizacional. Para Godoi (2006), as suposições teóricas assumidas inicialmente pelos pesquisadores devem ser vistas como versões preliminares das possíveis explicações da realidade, podendo sofrer reformulações, ajustes e até mesmo substituições. Como lembra a autora, desde a formulação inicial do problema até a interpretação dos resultados, existe uma constante interação entre os dados e a teoria que poderá ser repensada ou reconstruída pelo pesquisador. Essa postura não implica em falta de rigor, mas trata-se de uma flexibilidade metodológica própria da postura reflexiva necessária ao desenvolvimento de pesquisas qualitativas orientadas pela epistemologia e ontologia construcionista (SPINK, 2004). Assim, para investigar e compreender o processo de construção e reconstrução das estratégias organizacionais como prática, levando-se em consideração as categorias teóricas (repertório interpretativo dos praticantes, as práticas discursivas, as práticas organizacionais e práxis estratégica), a história e o contexto macrossocial propomos a triangulação de diversos métodos de pesquisa.

3.3. Estratégia como Prática: uma proposição metodológica

Nesta seção, apresentamos uma abordagem metodológica que pressupõe a aplicação de diferentes métodos e técnicas de pesquisa (CRESWELL; CLARK, 2007). Mais especificamente, abordaremos as explicações e justificativas para a escolha de métodos e técnicas de pesquisa que, do nosso ponto de vista, podem ser empregados de forma complementar em estudos sobre estratégia como prática referenciados na proposta que delineamos neste artigo.

A escolha da abordagem construcionista e as concepções ontológicas associadas à noção da estratégia como prática por si só, justificariam a opção pela triangulação de diferentes métodos de pesquisa de natureza qualitativa. Contudo, julga-se necessário apresentar outras considerações justificando as nossas sugestões acerca do percurso metodológico que poderá ser trilhado pelos pesquisadores interessados em investigar essa

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temática. Acreditamos que a triangulação de diferentes métodos de pesquisa poderá contribuir para: i) o aprofundamento de conceitos, a observação e a análise de práticas ou atividades cotidianas realizadas por agentes no âmbito das organizações; ii) a contextualização do fenômeno estudado sob uma perspectiva histórica, considerando as orientações de tempo e espaço, o elo entre o passado, o presente e o futuro do fazer estratégias nas organizações; iii) o emprego de diferentes procedimentos e técnicas de coleta e análise de dados, contribuindo para que o pesquisador tenha uma visão mais aprofundada do processo de construção social da estratégia e dos sentidos atribuídos pelos agentes organizacionais a esse processo; iv) a descrição densa e apropriada das práticas e entre outros eventos organizacionais, levando-se em consideração a memória e o conhecimento socialmente construídos ou reconstruídos no momento da pesquisa de campo; vi) a produção de novos conhecimentos, fundamentada em análises que permitem algumas generalizações ou proposições teóricas.

Para fins da aplicação da nossa proposta teórico-metodológica, sugerimos que os pesquisadores realizem uma investigação profunda e detalhada que tome como unidade de análise uma ou mais organizações. Para tanto, recomendamos que os dados sejam coletados durante certo período de tempo, visando uma análise de contexto e de processos constitutivos do fazer estratégias em organizações. Sugerimos também que seja enfatizada a história das organizações estudadas, o contexto sócio histórico em que elas estão inseridas e o processo de construção e reconstrução das estratégias enquanto práticas sociais construídas ao longo do tempo. Para tanto, sugerimos a triangulação dos métodos da observação participante e da história oral.

Ao recorrer aos recursos metodológicos da história oral, os pesquisadores devem apreender, a partir das práticas discursivas dos praticantes, os relatos acerca da trajetória histórica das organizações. Nesse processo, sugere-se o enfoque sobre os momentos de fundação da organização, os eventos e episódios estratégicos que marcaram a sua história. Nessa reconstituição da memória e do conhecimento organizacional os pesquisadores não poderão abrir mão de enfatizarem os aspectos contextuais (políticos, econômicos, mercadológicos, culturais e sociais) que marcaram e continuam marcando o fazer estratégias construído e reconstruído ao longo do tempo (MEIHY; RIBEIRO, 2011). Para tanto, ao reconstruir as narrativas a partir da memória de diferentes praticantes da estratégia e testemunhas chaves, evitando-se imputar às organizações e à construção de estratégias vidas próprias evitando-se, enfim, a reificação. Nesse processo, sugerimos que os pesquisadores optem por relatar as histórias das organizações em um duplo movimento, “de fora para dentro” (visão que envolve a inscrição das organizações estudadas no contexto sócio histórico) e “de dentro para fora” (olhar que enfatiza como o fazer estratégia está conectado ao conjunto de atividades presentes no microcosmo organizacional). Nesse processo, a análise documental, realização de entrevistas com testemunhas-chaves da história, lideranças e antigos empregados serão determinantes para a reconstituição da história organizacional.

Para a apreensão da práxis e práticas organizacionais, sugerimos que os pesquisadores recorram ao método etnográfico (ANDION; SERVA, 2006). Para esses autores, o trabalho etnográfico deve ser compreendido como a experiência e exploração em primeira mão da vida cotidiana de uma configuração social ou organizacional. Como nos lembra Oliveira e Cavedon (2013), todo trabalho de natureza etnográfico deve estar ancorado ou fundamentado pela observação participante, podendo os pesquisadores se valerem do uso de técnicas de conversação, entrevistas em profundidade, dentre outras. Sugerimos que os pesquisadores adotem a postura antropológica e realizem uma imersão na vida organizacional, procurando desvendar os sentidos e outros elementos simbólicos constitutivos do fazer estratégia no cotidiano. As entrevistas, como parte desse processo de imersão, devem ser tomadas pelos pesquisadores como práticas discursivas portadoras de repertórios interpretativos acerca do fazer estratégia nas organizações estudadas. Portanto, será por meio delas que serão acessados

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os sentidos atribuídos ao fazer estratégia como pratica social, incluindo as interpretações dos praticantes acerca das práxis e práticas organizacionais.

Além da realização de entrevistas, os pesquisadores poderão adotar uma postura dialógica, construindo conversações com os praticantes durante a permanência no campo organizacional. Recomendamos que a conversação seja marcada pela interação dialógica, contrapondo-se a qualquer ato de fala de caráter monológico (MENEGON, 2004). Essa técnica de coleta e análise de dados será útil para o entendimento das estruturas de reflexão-ação que marcam as práxis e práticas constitutivas do fazer estratégia construída nas organizações estudadas. Lembramos também que a observação participante pressupõe a adoção da lógica indutiva de pesquisa, exigindo a permanência no campo por tempo suficiente para que os pesquisadores apreendam os aspectos centrais do fazer estratégia. Para tanto, a adoção de uma postura de observador atento e reflexivo será fundamental, assim como o estabelecimento de roteiro de observações e registros em diários de campo. Para complementar estes registros muitas destas práticas organizacionais poderão também ser fotografadas e filmadas (GODOI, 2006).

Acreditamos que a triangulação deste conjunto técnicas poderá contribuir para garantir o rigor, a visibilidade e a fidedignidade necessárias para o trabalho de campo orientado pela proposta aqui apresentada. Ressaltamos que esse processo de triangulação de métodos e técnicas de pesquisa deve ser marcado pela flexibilidade de percurso metodológico, admitindo-se que algumas alterações no decurso da pesquisa serão sempre possíveis.

A análise de dados obtidos a partir da triangulação de múltiplas técnicas de coleta de dados e fontes exige esforços analíticos que devem convergir para a construção de uma possível hermenêutica da estratégia como prática social. Para tanto, sugerimos que os pesquisadores recorram às recomendações de Meihy e Ribeiro (2011) e Ichikawa e Santos (2006), acerca da análise e interpretação e a reconstrução da história organizacional. A história oral mostra-se como sendo fundamental para a reconstrução das narrativas sobre as histórias das organizações. Mas elas não serão suficientes para reconstruir as narrativas sobre o contexto sócio histórico e cultural em que as organizações estão circunscritas. Para suprir essa, insuficiência sugerimos que os pesquisadores realizem também a análise documental, a releitura de textos e outros referenciais bibliográficos. Na reconstrução das narrativas sobre o contexto sócio histórico, deverão ser levados em conta a temporalidade e conteúdo dos textos e sua pertinência em relação aos objetivos dos pesquisadores.

Recomendamos também que as entrevistas em profundidade sejam tomadas como práticas discursivas (PINHEIRO, 2004) e analisadas com base nas sugestões metodológica sugeridas por Spink e Lima (2004) que oferecem os caminhos da interpretação e dor rigor sob a ótica construcionista. O rigor sob esta perspectiva pode ser concebido como a possibilidade de explicitar os passos da análise e da interpretação de modo propiciar um diálogo imerso aos processos históricos e sociais e vicissitudes dos relacionamentos humanos. O conceito de objetividade precisa, assim, ser revisto e (re)situado como processo intersubjetivo (SPINK; LIMA, 2004, p.102). Para essas autoras, o processo de interpretação deve ser concebido como um processo de produção de sentido. A interpretação está presente em todo o percurso da pesquisa, sendo que os sentidos resultantes desse processo serão explicitados por meio de análises de práticas discursivas que reconheçam a centralidade dos repertórios interpretativos dos praticantes da estratégia enquanto agentes coletivos.

Para interpretar as práticas discursivas dos praticantes (consideradas em nossa proposta de análise um momento da práxis e da prática organizacionais) acerca do fazer estratégia e compreender os sentidos inerentes a esta construção, sugerimos, com base em Spink e Lima (2002): i) a realização da interpretação tomando como referência os repertórios interpretativos dos diferentes praticantes envolvidos no fazer estratégia no âmbito das organizações estudadas; ii) a centralização da atenção nos formas de expressão, conversações

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e outras formas de linguagem, pois, acredita-se, que será por meio delas que se obterá acesso aos sentidos produzidos pelos diferentes praticantes entrevistados; iii) a interação com os informantes da pesquisa, procurando apreender a sua lógica de interpretação e os sentidos por eles produzidos em torno do fazer estratégia; iv) a ruptura e abandono da lógica de pesquisa dedutiva, evitando-se, a priori, a formulação de qualquer hipótese; e, v) a aplicação de mapas de associação de ideias, permitindo com que os pesquisadores sistematizem o processo de análise das práticas discursivas, evidenciando as construções linguísticas, os repertórios interpretativos utilizados pelos praticantes para a produção dos sentidos acerca do fazer estratégia. Para Spink e Lima (2004), “os mapas constituem instrumentos de visualização que tem duplo objetivo: dar subsídios ao processo de interpretação e facilitar a comunicação dos passos subjacentes ao processo interpretativo” (p. 107). Para construir os mapas sugerimos que os pesquisadores organizem os conteúdos em torno das categorias de análise (práxis estratégicas, práticas organizacionais e praticantes), desvelem os repertórios interpretativos, e finalmente, interpretem os sentidos atribuídos pelos praticantes em torno da fazer estratégia. Esperamos que esta esquematização, fortemente inspirada em Spink e Lima (2004), sirva de referência para a interpretação das práticas discursivas socialmente produzidas pelos participantes para se descobrir, desvelar os sentidos atribuídos ao fazer estratégia.

Para examinar as práticas discursivas sugerimos que os analistas da realidade organizacional considerem quatro figuras metodológicas preconizadas pelos formuladores da análise do discurso do sujeito coletivo: i) ancoragem: compreende a articulação entre as práticas discursivas e os fundamentos epistemológicos do construcionismo conjugado com a fundamentação teórica do fazer estratégia; ii) ideias centrais: referem-se à descrição de uma ou mais afirmações sobre aquilo que representa o essencial do conteúdo discursivo explícito pelos sujeitos da pesquisa ou seja, os praticantes da estratégia em seus depoimentos acerca do fazer estratégias; iii) expressões chaves: dizem respeito à extração de trechos literais dos depoimentos (faladas ou escritas) dos referidos sujeitos; iv) análise das práticas discursivas dos sujeitos coletivos: formação discursiva que incorpora os conteúdos essenciais relacionados que dão sentidos atribuídos pelos praticantes sobre o fazer estratégia. Trata-se da agregação e análise dos conteúdos essenciais dos discursos individuais, dando origem a uma formação discursiva de natureza coletiva (LEFÈVRE, 2003).

Por fim, ressaltamos que esta sugestão de percurso analítico deve ser vista como ponto de partida para a interpretação e explicação do processo de construção, manutenção e reconstrução do fazer estratégia em diferentes modalidades de organização. Contudo, destacamos que os outros percursos metodológicos poderão ser “desenhados” a critério dos pesquisadores e a luz de suas experiências de pesquisa. 4. Considerações finais

O objetivo deste artigo consistiu em apresentar uma proposta de abordagem teórico-metodológica para a análise de estratégias como prática social sob a perspectiva construcionista. Para tanto, recorremos aos postulados ontológicos e epistemológicos desta perspectiva, bem como fundamentamos a proposta em diferentes conceitos formulados por diversos autores que têm contribuído para o desenvolvimento da abordagem da estratégia como prática. Neste artigo, sugerimos também um percurso metodológico fundamentado em um processo de triangulação de métodos e técnicas de pesquisa qualitativa. Destacamos que o percurso teórico-metodológico e analítico deve ser visto como ponto de partida para a interpretação e explicação do processo de construção, manutenção e reconstrução do fazer estratégia em diferentes modalidades de organização. Finalmente, acreditamos que as reflexões contidas em nosso artigo sirvam de referência ontológica e epistemológica para: i) elucidar conceitos sobre estratégia como prática, permitindo que a compreensão deste

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fenômeno organizacional como construção sócio histórica; ii) resgatar conceitos e pressuposições teóricas que expliquem a emergência, construção e reconstrução de estratégias em organizações produtiva e não produtivas localizadas em diferentes espaços geográficos e setores da economia; iii) situar a pesquisa em estratégia como prática social, levando-se em consideração a centralidade da linguagem e do sujeito na construção da realidade e do conhecimento; iv) colocar em evidência a criatividade e o conhecimento produzido pelos praticantes da estratégia a partir das experiências vivenciadas no âmbito das organizações; v) permitir a superação da visão dualista entre sujeito e objeto do conhecimento; vi) enfatizar o processo de pesquisa como uma descoberta de novas categorias de análise e formulação de novos conceitos sobre as estratégias como pratica social e discursiva; vii) evidencia a relevância da apreensão e interpretação dos contextos (macro e microsocial) que circunda o fazer estratégia nas organizações sob olhar sócio construcionista.

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