Upload
revista-cca
View
215
Download
2
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Os problemas enfrentados pelas comunidades localizadas em áreas suscetíveis a deslizamentos e inundações são frequentes no cenário brasileiro. Esse quadro se agrava em decorrência das ações antrópicas que contribuem para a degradação ambiental.
Citation preview
14
Caderno Percebendo Riscos, Reduzindo Perdas
Protagonismo Juvenil: contribuindo para a prevenção de riscos de desastres
Rejane LucenaDamares Lopes de Albuquerque
Os problemas enfrentados pelas comunidades localizadas em áreas suscetíveis a
deslizamentos e inundações são frequentes no cenário brasileiro. Esse quadro se agrava
em decorrência das ações antrópicas que contribuem para a degradação ambiental.
Essa degradação ambiental, por sua vez, é resultante do processo de ocupação
desordenada, que influi na ocorrência de desastres no contexto local, e da escassez de
políticas públicas intersetorializadas que fortaleçam ações conjuntas para a minimização
dos efeitos danosos ao meio ambiente e contribuam para a organização social nos
assentamentos humanos.
Esse cenário tem gerado grande preocupação à gestão de defesa civil,
considerando a urgência de estabelecer novos paradigmas concernentes às mudanças de
hábitos no contexto local.
Assim, atuar no incentivo de práticas socioeducativas, principalmente com os
jovens, representa a possibilidade de criar espaços democráticos capazes de estimular a
participação de todos que fazem parte da comunidade. Neste sentido, caminharemos no
intuito de fortalecer a formação de cidadãos comprometidos com a preservação
ambiental e a redução de desastres nos assentamentos humanos precários.
Para construir atitudes eficazes em relação aos riscos e aos desastres que têm
influenciado nas condições de habitabilidade da comunidade, é fundamental fomentar
ações socioeducativas e estimar o desenvolvimento de cidadãos críticos e predispostos a
tornarem-se protagonistas de suas histórias, promovendo mudanças graduais e exitosas
no contexto socioambiental em que estão inseridos.
As mudanças comportamentais refletem nas atitudes corretas em relação ao meio
ambiente, à escolha do representante, ao simples gesto pessoal de convidar um vizinho a
14
participar de uma reunião do Nudec (Núcleo Comunitário de Defesa Civil) e a não tomar
atitudes que possam gerar riscos aos que lhe rodeiam e a si próprio.
Na tentativa de sensibilizar jovens para o compromisso coletivo com a comunidade
nos municípios da Região Metropolitana do Recife, tem sido desenvolvido o Projeto Nudec
Jovem1 nas escolas situadas em áreas de risco socioambiental, por meio de parcerias com
órgãos governamentais, como a Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de
Pernambuco (Condepe/Fidem), o governo do Estado de Pernambuco e os municípios da
Região Metropolitana do Recife, e não-governamentais, como o Save The Children.
O propósito é estimular o protagonismo juvenil e a reflexão do jovem para o
despertar da consciência de si e do seu papel contributivo para melhoria do contexto
socioambiental no qual está inserido, partindo do princípio da construção de significados
na realidade, enquanto sujeito individual e sujeito social.
Os jovens são mobilizados e se articulam para atuar em colaboração com a defesa
civil e a escola, a quem cabe apoiá-los no desenvolvimento de ações socioeducativas e
preventivas de riscos de desastres.
A partir de atividades didáticas, o jovem passa a observar, analisar e interagir no
seu espaço comunitário, contribuindo para a mitigação ou solução dos problemas
identificados no mapa de risco socioambiental da comunidade.
A partir da comunicação de risco, as ações educativas realizadas propiciam o
despertar para a comunidade, na perspectiva da apropriação do conhecimento de si e do
espaço físico e social que ocupa. Com isso, o interesse e a necessidade de coadunar
intenção e gesto para a multidisciplinaridade são fomentados, promovendo a cooperação
e a solidariedade e reunindo esforços para um trabalho integrado, atuante e efetivo na
mobilização de atores sociais críticos, propositivos e corresponsáveis pelo espaço em que
vivem.
O jovem representa um elo com a escola e a comunidade. Ele é possuidor de um
importante potencial que deve ser valorizado e sinalizado para a perspectiva de melhoria
da condição de vida na comunidade, a partir de práticas do cotidiano voltadas à
preservação do meio ambiente e à prevenção e redução de riscos socioambientais.
14
A mudança de atitudes para uma relação menos agressiva com o meio ambiente é
importante e merece ser aprofundada a partir de iniciativas educativas, envolvendo e
sensibilizando a juventude para uma reflexão dos seus comportamentos e reconstrução
de atitudes que possibilitem a sustentabilidade planetária.
Estabelecer redes de relações entre os jovens e a comunidade abre uma
perspectiva bastante proveitosa em relação a outros cidadãos que necessitam ser
mobilizados, sensibilizados e envolvidos nessa relação processual de reconstrução da
realidade.
O projeto Nudec Jovem traz o diferencial social, pois está dentro da escola,
contribuindo para atuar de uma forma transversal, considerando os conhecimentos,
informações, conteúdos e saberes desenvolvidos na escola regular e propiciando a
interface com a vivência comunitária, adquirida pelo jovem na escola da vida.
Desta forma, entende-se que a partir dos temas transversais trabalhados na escola
seja possível atuar de maneira contextualizada com a possibilidade de redução de riscos e
de desastres nas áreas suscetíveis a deslizamentos e inundações. Por meio das relações
com a escola, que está no eixo da comunidade, será potencializada a participação efetiva
dos atores sociais na formação de novas posturas frente aos riscos existentes na paisagem
do lugar.
Estimular a participação juvenil significa promover atividades organizadas
favoráveis à expressão das suas potencialidades e vivências. Nesta perspectiva, o trabalho
envolvendo a escola aumenta as possibilidades de manutenção e continuidade das ações
preventivas.
A participação do segmento social em questão nos trabalhos realizados na escola,
nas atividades de campo e no diagnóstico realizado na comunidade suscita o
fortalecimento do protagonismo juvenil, no momento em que o jovem está no centro da
formulação de propostas para a construção de ações educativas voltadas à prevenção de
riscos no cenário local.
Nos trabalhos realizados em grupo, os jovens refletem e analisam o meio
ambiente local, interagindo para a construção de propostas contemplativas à realidade
14
em que vivem. Ao considerarem o olhar sobre essa realidade, despertam a compreensão
de que o processo de degradação ambiental é acirrado em decorrência de hábitos e
atitudes humanas negativas.
A partir dessas ações, os jovens percebem as mudanças significativas na relação
com a comunidade, sobretudo, quanto às mudanças de comportamento, principalmente
aquelas que provocam riscos e desastres que afetam direta e cotidianamente as suas
vidas.
A Experiência de Formação de Nudec Jovem na Região Metropolitana do Recife
O projeto de formação de cinco Núcleos Comunitários de Defesa Civil Jovem foi
desenvolvido a partir da mobilização e sensibilização de jovens de escolas municipais
localizadas em áreas de vulnerabilidade socioambiental.
A partir de dinâmicas de integração, trabalhos em grupo e atividades de campo,
foram trabalhados conteúdos pertinentes às temáticas de preservação socioambiental e
riscos de desastres na realidade local e global.
Nas oficinas, foram trabalhados o conceito e os seguintes objetivos do Nudec
Jovem: Direitos da criança e do adolescente em situação de normalidade e em situação de
emergência; Prevenção de riscos e de desastres; A problemática da degradação
ambiental; Fatores de risco; Percepção e comunicação de risco; Identificação, análise e
mapeamento de risco; Medidas de prevenção e controle de risco de escorregamentos ou
de enchentes.
Ao considerar o olhar sob o meio ambiente local, o jovem sentiu-se estimulado a
perceber e compreender o processo de degradação ambiental a partir dos hábitos e
atitudes desenvolvidas no cotidiano local. Nesse contexto, buscou-se estabelecer
interfaces, analisando como os seres humanos podem contribuir para os riscos e desastres
ocorridos no meio em vivem.
14
Com base nessas dimensões, foi realizada a sensibilização do jovem para alcançar o
seu despertar sobre a realidade local e a consciência ambiental, favorecendo o pensar, o
agir e a imaginação. Ao considerar essa contextualização, o jovem passou a levantar as
causas, a prever as consequências, a visualizar possíveis mudanças de comportamento e a
relacionar as questões da degradação ambiental e dos desastres com a perspectiva
individual e coletiva.
Desse modo, o eixo do processo pedagógico partiu do cotidiano, trazendo para o
desenvolvimento das atividades educativas a percepção que favorece a emotividade, as
experiências, os sentimentos e pensamentos criativos como forma de contextualizar a
significação da realidade.
Desenvolvimento dos Trabalhos
As atividades previstas na Programação das Aulas2 foram desenvolvidas por meio
de aulas teóricas expositivas e apoiadas em material didático. Assim, estimulou-se a
discussão e os exercícios práticos sobre as temáticas exploradas com os participantes
organizados em grupo, que percorreram as áreas munidos de cartografia do local, de
mapa geológico, roteiro, ficha de campo e de quadros auxiliares para aplicação dos
conceitos e descrição das situações de risco. Como resultado, foi apresentado um Plano
de Ação Preventivo a ser aplicado na comunidade pelos jovens das escolas.
Construindo o exercício da prevenção
Possibilidades para o desenvolvimento do protagonismo juvenil
Integração
14
No primeiro momento, o objetivo foi favorecer o processo de conhecimento e
integração do grupo, dando aos participantes a oportunidade de verbalizar as suas
características pessoais, anseios e expectativas em relação ao curso.
Os participantes foram convidados a formar um círculo. Com o material em mãos,
os jovens, individualmente, puderam expor, por meio de símbolos ou desenhos, um
autorretrato. Em seguida, pediu-se aos jovens que explicitassem, por meio de frases,
quais as expectativas em relação a sua inclusão no projeto e o que estavam esperando
da capacitação.
No momento seguinte, cada jovem pôde expressar suas produções, expondo ao
grupo o que colocaram no papel. E para fechar, foi trabalhado o conhecimento prévio
que possuíam acerca do que seria necessário para um grupo ter um bom
relacionamento durante o período estabelecido para o término das atividades. Os
participantes, voluntariamente, expuseram os seus conceitos e opiniões para a
constituição do acordo de convivência.
O grupo foi disposto em círculo, com o objetivo de suscitar nos presentes a
integração e o sentimento de acolhimento muito importante num contato inicial entre
pessoas que estão começando a formar um grupo. A perspectiva era facilitar o
envolvimento e a participação voluntária nas atividades a serem propostas, pois um
elo de confiabilidade começou a se formar entre os jovens.
Geralmente, o autorretrato é uma vivência que permite ao indivíduo refletir um
pouco sobre suas qualidades e, com isso, falar um pouco de si ao grupo. Essa vivência
fez com que cada jovem pudesse perceber não só em si, mas também nos colegas,
qualidades que foram valorizadas, com o intuito de fazê-los refletir sobre a
importância de cada um na formação do grupo.
Nesse momento, evidenciou-se que cada um dos jovens presentes tem qualidades
fundamentais para a construção do Nudec Jovem. Nessa perspectiva, fortaleceu-se a
possibilidade de manter as ações do projeto Nudec Jovem na escola e na comunidade.
14
Oficinas Temáticas sobre Participação, Solidariedade, Cooperação,
Responsabilidade e Transformação Social – O sentido do voluntariado
As oficinas foram desenvolvidas com o objetivo de estimular o grupo a refletir
sobre a importância da participação social na construção de uma consciência cidadã.
Procurou-se contextualizar os conteúdos sobre cooperação, solidariedade,
responsabilidade e transformação social a partir de exemplos da realidade local.
O tema foi trabalhado por meio de atividades práticas, nas quais solicitou-se aos
jovens a construção de painéis ilustrativos, representando o sentimento do grupo em
relação à temática em debate. Foram utilizados os textos do manual do aluno e cenas
do filme Procurando Nemo, como exemplo de solidariedade.
Após a construção dos painéis nos subgrupos, foram realizadas exposições nas
quais cada equipe apresentou os trabalhos produzidos, apontando horizontes
possíveis de serem realizados, considerando o fortalecimento da ação solidária e da
amizade.
Estimulou-se a interação entre os subgrupos, proporcionando o debate acerca do
que havia sido percebido de positivo por todos em relação à cooperação, à
solidariedade, à participação e à necessidade do jovem de agir para o processo de
transformação social.
Oficina sobre os Processos de Degradação Ambiental - Escorregamentos, erosões
e inundações
A oficina foi trabalhada com o propósito de proporcionar aos jovens a
compreensão dos processos que degradam o meio ambiente e de discutir sobre as
más ações que contribuem para essa degradação e as suas consequências à
comunidade.
14
Inicialmente, foram apresentados os três principais processos de degradação
ambiental nas encostas urbanas (deslizamento e erosão) e na planície (inundações).
Por meio da troca de informações com os participantes, levantou-se os fatores que
contribuem para os escorregamentos de encostas, como o descarte de lixo, o plantio
de árvores de grande porte e os cortes irregulares da barreira. Após essa
compreensão, as causas de deslizamentos, erosões e inundações foram introduzidas à
turma com mais facilidade. A aula expositiva, por meio de textos e ilustrações
(fotografias e desenhos), possibilitou a interação durante as discussões.
Nessa etapa, percebeu-se que os participantes já possuíam noções sobre os fatores
que contribuem para o deslizamento ou para a erosão de encostas. Muitos falaram da
questão do lixo e da plantação de bananeiras. Com essa atividade, houve a
possibilidade de esclarecer os motivos de se evitar certas práticas inadequadas nas
áreas de morros e alagados. Por meio da atividade prática de campo, percebeu-se que
essa oficina foi bem absorvida pelos participantes.
Conceitos básicos de risco, processos de identificação, análise e mapeamento de
risco
Transmitiu-se aos jovens a problemática dos riscos de deslizamento e erosão, para
que soubessem identificar uma situação de perigo.
Essa atividade foi desenvolvida por meio de aula expositiva, na qual apresentou-se
situações para identificação e análise do risco, e de aula prática de campo, para
realização de um mapeamento de área piloto. Na atividade em sala de aula, foram
exibidas fotografias de situações reais e figuras com casos hipotéticos, de modo que os
participantes pudessem perceber o risco a partir de práticas observadas na
comunidade.
Na atividade de campo, os participantes foram divididos em grupos e
acompanhados por agentes da Defesa Civil. Cada grupo preencheu uma ficha de
avaliação de risco de uma área piloto, na qual puderam assinalar os fatores que
14
contribuem para a situação de risco. Ao considerarem o mapa da área, os jovens
puderam traçar setores com situações de riscos diferenciados (baixo e alto, por
exemplo). Essa etapa foi importante para que eles pudessem perceber como priorizar
áreas que necessitam de intervenção do poder público para redução de riscos.
No trabalho em sala de aula e no campo, percebeu-se que os jovens conseguiram
identificar situações de risco por meio de fotografias dos casos hipotéticos
apresentados e da atividade prática de campo.
No trabalho de campo, percebeu-se que as situações de risco, como barreiras
cortadas na vertical e com altura superior a da casa, concentração de bananeiras,
árvores inclinadas e vazamentos de tubulações de água, fatores que agravam a
probabilidade de um desastre, chamaram a atenção dos jovens.
Medidas de Prevenção e Controle de Risco de Escorregamentos e de Enchentes
Nesse momento, buscou-se possibilitar o conhecimento de algumas medidas
preventivas para situações de risco: medidas estruturais (engenharia) e não estruturais
(ação da Defesa Civil, Nudec Jovem).
Foram utilizadas apresentações em slides sobre os tipos de obras de engenharia e
sobre como a defesa civil, juntamente com o Nudec Jovem e a comunidade, pode
fazer para que a obra tenha uma boa durabilidade e a comunidade possa se apropriar
do seu espaço de maneira a cuidar e conservar as benfeitorias realizadas no seu
ambiente local.
Essa oficina representa o fechamento das etapas anteriores, destacando-se que
prevenir e controlar os riscos depende das ações da comunidade e dos costumes
praticados no ambiente individual e coletivo. Percebeu-se que houve a compreensão
dos participantes acerca da importância de se mudar os hábitos para evitar os riscos e
os desastres.
14
Para a redução dos riscos, observou-se que os jovens juntos com a defesa civil
podem fazer um trabalho de orientação da população, contribuindo com a melhoria
do ambiente local.
Oficina Temática sobre Núcleo Comunitário de Defesa Civil - objetivos e
atribuições
Nesse momento, trabalhou-se o entendimento da formação do Núcleo
Comunitário de Defesa Civil Jovem, fazendo um elo com o trabalho desenvolvido pela
Defesa Civil.
Deu-se destaque às quatro frentes de ação da Defesa Civil, prevenção, preparação,
resposta e reconstrução, ressaltando que a sua atuação não se dá apenas nas
situações de emergência.
Nesse momento, reforçou-se que o jovem pode estar inserido nas ações que
envolvem prevenção contra os riscos, desenvolvendo, principalmente, o sentimento
de ajuda mútua e humanitária na comunidade.
Após explicações, com apresentação de imagens sobre o funcionamento da Defesa
Civil e como o jovem pode estar envolvido para contribuir com a melhoria das
condições de vida da comunidade, foi solicitado ao grupo a sua subdivisão, momento
em que cada equipe ficou com a tarefa de representar, por meio de uma encenação,
as quatro fases da administração de desastres.
Cada subgrupo apresentou uma encenação com base nas vivências e observações
presentes no cotidiano da comunidade.
Após as encenações, alguns jovens relataram já terem vivido situações de
desastres: desabamento de casa, deslizamento de barreiras ou inundações,
destacando o quanto essas situações causam trauma na vida de cada pessoa.
14
Formando um Nudec Jovem
Essa etapa representou o momento de fortalecimento do grupo, construindo a
partir do que foi vivenciado durante o curso o perfil que o Nudec Jovem deve ter e
como ele deve atuar.
Durante os trabalhos em equipe, os jovens debateram e tomaram decisões quanto
à importância de se formar um grupo sintonizado com a ideia de transformar a
comunidade em um ambiente mais seguro e melhor para se viver.
Além disso, os jovens perceberam com as explicações e o debate a importância de
estabelecer acordos de convivência significativos para a continuidade do projeto e a
permanência do grupo.
Os resultados foram expostos em painéis, ressaltando sempre a importância da
ação solidária e da responsabilidade de cada cidadão em contribuir para a melhoria
das condições de habitabilidade na comunidade.
Direitos humanos em situação de emergência
Essa etapa do trabalho foi desenvolvida com o propósito de proporcionar aos
jovens a compreensão do processo histórico vivenciado pela humanidade, que
culminou com o registro documental que garantiu a consolidação dos direitos
humanos e dos benefícios que possibilitaram o seu desenvolvimento.
Inicialmente, por meio de conversas motivacionais com a turma, foi estimulada e
apurada a sua compreensão acerca da noção de direitos humanos. Com base no que
se levantou, houve interação a partir da realidade e da história. Desse modo,
trabalhou-se a aplicação, classificação e vivência prática dos direitos humanos na
realidade global, nacional e local.
Essa temática foi trabalhada em consonância com as noções de deveres para o
exercício pleno da cidadania.
14
Na atividade em grupo, consolidou-se os conhecimentos prévios sobre Direitos
Humanos. As atividades para o desenvolvimento da temática foram realizadas por
meio de textos, colagens, desenhos e elaboração de frases de efeito. Os trabalhos
foram confeccionados em um cartaz que, transformado em uma dobradura,
previamente orientada aos jovens, deu origem à bandeira do Brasil.
Concluída essa primeira etapa dos trabalhos em grupo, que suscitou nos jovens um
desempenho reflexivo e lúdico, cada grupo apresentou sua produção com noções de
direitos e deveres, objetivando o papel do cidadão no processo da construção de uma
sociedade mais justa e menos excludente.
Planejamento de ações do Nudec Jovem
Na etapa de planejamento das ações do Nudec Jovem, trabalhou-se a orientação
dos jovens para construir o planejamento do NUDEC a partir da observação da
realidade, dos problemas diagnosticados no exercício de mapeamento de risco, inter-
relacionando-os com os conteúdos trabalhados nas aulas expositivas e trabalhos de
grupo.
A partir da exposição de um vídeo, foi debatida com os jovens a importância do
planejamento para a construção de um projeto social. Com enfoque no planejamento
do Nudec Jovem, o facilitador das atividades parte do princípio de qual caminho o
grupo quer tomar para obter o desejado, ou seja, conseguir chegar aos objetivos
traçados.
Assim, foi explicado que sendo o diagnóstico o momento em que se conhece a
realidade, em que são levantados os problemas, é preciso estar com as informações
referentes à realidade para planejarmos juntos as atividades e ações do Nudec Jovem.
14
Utilizou-se um painel contendo um quadro com os passos para a elaboração do
planejamento, no qual o grupo foi levantando os pontos imprescindíveis que deveriam
constar no planejamento do Nudec Jovem.
A partir disso, cada grupo construiu seu planejamento com base nas
especificidades diagnosticadas em cada comunidade.
O registro fotográfico, feito com máquina digital, durante a visita in loco, foi
também um recurso utilizado para os jovens defenderem as intervenções com ações
estruturadoras e não estruturadoras nas áreas visitadas.
O exercício prático vivenciado pelos participantes culminou em elementos para
maior propriedade na elaboração do planejamento das ações do Nudec.
Com base nos problemas levantados e hierarquizados pelos jovens, conforme
gravidade e prejuízo coletivo à qualidade de vida na comunidade, foram planejadas
atividades que poderiam mitigá-los ou dirimi-los.
A partir das etapas vivenciadas, sendo o eixo do projeto o envolvimento e a
sensibilização do jovem para a problemática dos riscos socioambientais, considerou-se
também a redução da violência na realidade local. É importante ressaltar que o resultado
das avaliações realizadas pelos jovens das seis escolas envolvidas transmitiu um
sentimento muito verdadeiro acerca da aceitabilidade e da percepção do grau de
relevância dos conteúdos abordados em relação ao cotidiano e a vida.
No desenvolvimento do projeto, percebeu-se a curiosidade dos jovens em conhecer a
proposta e poder relacionar as questões abordadas com as suas vivências e histórias de
vida.
O diferencial, nesse sentido, é que o jovem com a continuidade do projeto torna-se o
protagonista no processo de transformação da sua própria realidade, sentindo-se
responsável pela sua história e pela história da sua comunidade a partir das reflexões
provocadas pelos trabalhos realizados durante o curso.
14
Por meio da continuidade do projeto, outros resultados serão observados, cabendo
aos atores envolvidos, Defesa Civil, Secretaria de Educação, Secretaria de Meio Ambiente,
seguir as diretrizes criadas com esse trabalho, como também criar outros instrumentos
que fortaleçam o desenvolvimento de atividades relevantes à integração e à motivação do
grupo.
Os grupos de cada escola têm capacidades que necessitam ser estimuladas por meio
do processo de descoberta, de criatividade, de conhecimentos e de experiências que
favoreçam o crescimento individual e coletivo, estimulando a construção do saber e
favorecendo a troca de experiências que permitirá a sintonia do grupo em favor da
melhoria das condições de vida da comunidade.
Notas
1. O Núcleo Comunitário de Defesa Civil tem como princípio o envolvimento da comunidade para atuar na ação conjunta, visando à redução dos desastres no âmbito local.
2. Programação de AulasAbertura do Curso - apresentação do conteúdo programático e dos objetivosA degradação ambiental, fatores relacionados ao risco socioambiental, identificação e análise de risco; relações entre aspectos e condições sociais e físico-naturais e as ações antrópicas (formas de uso e ocupação do solo e práticas que contribuem para a degradação ambiental) em encostas urbanas.Processos e metodologia para mapeamento de risco em encostas urbanasMedidas de prevenção e controle do riscoParticipação, solidariedade, cooperação, responsabilidade e transformação social – o sentido de desenvolvimento comunitário e do voluntariadoDireitos humanos da criança e dos jovens em situação de emergênciaConceituação, objetivos e atribuições do Núcleo Comunitário de Defesa Civil/ NUDEC JOVEMConstruindo o perfil e formando NUDECs JOVENS*NUDECs JOVENS – Oficina de Planejamento de Ações Exercício prático de campo (simulados) - visita à áreaAvaliação, discussões finais e fechamento do curso
Sobre as autoras
Rejane Lucena é mestre em Gestão de Políticas PúblicasDamares Lopes de Albuquerque é Assistente Social e especialista em Políticas Públicas