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PROTOCOLO DE LEITURA DO TEXTO “A QUESTÃO DO ERRO NO PORTUGUÊS ORAL NO BRASIL E A MUDANÇA LINGUÍSTICA” A primeira questão no presente texto foi a mudança sob o aspecto da evolução da língua. Evolução não no sentido de melhoramento, mas no tocante à mudança que o tempo e a sociedade impõem a todas as línguas. Cumpre notar que o texto foi todo construído sob o aspecto da abordagem variacionista, na qual se considera que a língua sofre modificações ao longo do tempo e de diversos fatores, como classe social, idade dos falantes, região, escolaridade; sendo as discussões do texto baseadas na pesquisa com amostras de uma mesma língua em diferentes momentos da história, com o cuidado de observar se a escrita dos documentos evidenciam as marcas da fala. Trata-se de uma discussão muito relevante, especialmente para quem leciona língua portuguesa, pois o texto mostra o constante confronto entre o padrão ensinado e repetidamente exercitado na escola, que quase sempre desconsidera as variantes do estudante e o considera erro. Em contrapartida, como bem explicitado por Marcos Bagno, esse que hoje é considerado erro, posteriormente há grande possibilidade de ser a língua do futuro. Sendo a língua do futuro, deixará de ser considerado erro e fará, então, parte do que hoje seria o padrão “culto”. Contudo, essa dicotomia fala versus escrita, bem como esse dilema padrão e não-padrão sempre permearam as aulas de português, pois se por um lado a escrita é menos espontânea, e portanto menos afeita a variações, a fala é dinâmica e reflete o momento do falante, porém as variações presentes na fala nem sempre estão de acordo com o padrão ensinado na escola. Além disso, como considerar na escola a variante não-padrão se o estudante o tempo todo é preparado e confrontado com as rígidas regras do padrão normativo da língua? Essa ainda é uma pergunta sem resposta, mas arrisco dizer que só haverá mudança de perspectiva de fato quando a sociedade pensar em termos de variação e não na língua una, como se só existisse uma única variante na língua portuguesa, que embora tenha mais prestígio socialmente não é a única existente, enfim, uma língua em que o “conservadorismo” e o “inovadorismo” coexistam pacificamente.

Protocolo de Leitura Do Texto Corrigido

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Resumo de texto acerca de letramento.

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PROTOCOLO DE LEITURA DO TEXTO “A QUESTÃO DO ERRO NO PORTUGUÊS ORAL NO BRASIL E A MUDANÇA LINGUÍSTICA”

A primeira questão no presente texto foi a mudança sob o aspecto da evolução da língua. Evolução não no sentido de melhoramento, mas no tocante à mudança que o tempo e a sociedade impõem a todas as línguas.

Cumpre notar que o texto foi todo construído sob o aspecto da abordagem variacionista, na qual se considera que a língua sofre modificações ao longo do tempo e de diversos fatores, como classe social, idade dos falantes, região, escolaridade; sendo as discussões do texto baseadas na pesquisa com amostras de uma mesma língua em diferentes momentos da história, com o cuidado de observar se a escrita dos documentos evidenciam as marcas da fala.

Trata-se de uma discussão muito relevante, especialmente para quem leciona língua portuguesa, pois o texto mostra o constante confronto entre o padrão ensinado e repetidamente exercitado na escola, que quase sempre desconsidera as variantes do estudante e o considera erro. Em contrapartida, como bem explicitado por Marcos Bagno, esse que hoje é considerado erro, posteriormente há grande possibilidade de ser a língua do futuro. Sendo a língua do futuro, deixará de ser considerado erro e fará, então, parte do que hoje seria o padrão “culto”.

Contudo, essa dicotomia fala versus escrita, bem como esse dilema padrão e não-padrão sempre permearam as aulas de português, pois se por um lado a escrita é menos espontânea, e portanto menos afeita a variações, a fala é dinâmica e reflete o momento do falante, porém as variações presentes na fala nem sempre estão de acordo com o padrão ensinado na escola. Além disso, como considerar na escola a variante não-padrão se o estudante o tempo todo é preparado e confrontado com as rígidas regras do padrão normativo da língua? Essa ainda é uma pergunta sem resposta, mas arrisco dizer que só haverá mudança de perspectiva de fato quando a sociedade pensar em termos de variação e não na língua una, como se só existisse uma única variante na língua portuguesa, que embora tenha mais prestígio socialmente não é a única existente, enfim, uma língua em que o “conservadorismo” e o “inovadorismo” coexistam pacificamente.

Um ponto interessante a ser observar também, é que historicamente a língua portuguesa originada do latim não desenvolveu-se a partir do latim culto e sim do latim vulgar, pois por ser falado pelos soldados e pelo povo era mais utilizado, e é desse latim que o português evoluiu. Seguindo essa linha de raciocínio, é interessante fazer o estudante em sala de aula perceber que o que hoje se considera “erro”, pois é falado por camadas menos prestigiadas socialmente, um dia pode compor o português padrão, pois a língua se consolida no uso e não por normas e decretos de uma pequena parcela da população.

No momento em que o texto trata das transformações fonéticas, houve uma grande dificuldade de entendimento, especialmente no tocante ao quadro expositivo da amostra estudada, pois alguns conceitos como metátese e prótese fazem parte de um longínquo estudo feito na universidade, na disciplina filologia românica, que tratava detalhadamente desses fenômenos e com os quais há tempos não tenho contato. Desse modo, ao analisar os

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dados não foi imediata a identificação dos referido fenômenos na amostra devido à falta de repertório de seus conceitos. Felizmente ainda guardava uma apostila antiga de filologia românica, que foi o grande socorro em relação ao entendimento do quadro em questão.

Com relação aos autores citados no texto, senti como uma amiga antiga que visita amigos que há tempos não via, pois todos eles eu conhecia dos tempos de faculdade e nunca mais os tinha revisitado, nem para aprimorar minhas visões em relação às minhas aulas nem para refletir sobre o meu fazer pedagógico, e quão grata foi a minha surpresa ao revê-los no presente texto. Voltei aos meus dezenove anos, quando ingressei na Universidade de Brasília, e senti a mesma empolgação de estar lendo algo que na época era extremamente inovador para mim, pois nunca havia pensado a língua sob uma perspectiva diferente da tradicional. Mais uma vez senti a venda sendo tirada de meus olhos e essa “velha-nova” visão de mundo tomou conta dos meus pensamentos e já voltou a fazer parte do meu fazer pedagógico, pois estou ministrando um curso de redação para o PAS e a visão de língua em preparatórios para exames é muito conservadora, e essa discussão sobre variação já tomou corpo nas minhas aulas, especialmente as de texto.

Sem dúvida o texto é um terreno profícuo para a reflexão de língua como organismo vivo e variável conforme o momento que os falantes a utilizam e mais ainda, em como essa visão de língua pode influenciar minhas aulas de língua portuguesa, especialmente se eu for pensar na crítica que o texto faz a respeito do ensino da língua “exótica”, aquela que ninguém fala, e que se reflete diretamente nas avaliações, pois o estudante é sobrecarregado com conteúdos e informações para ele inúteis e testado sobre esse conteúdo. Além disso, precisa mostrar-se competente em uma língua que ele fala, na qual ele é nativo, mas com a qual ele não se comunica, que não está presente em seu cotidiano. Por outro lado, essa mesma língua “inútil” ensinada na escola é justamente a cobrada pela sociedade, considerada de prestígio e massivamente decretada pelos meios de comunicação de massa como a que o indivíduo deve saber se quiser ascender socialmente e ser aceito por essa sociedade que sabe das variações existentes dentro de qualquer língua, mas elege uma como superior às outras.