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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA PRÓ-REITORIA DE ENSINO COLÉGIO DE APLICAÇÃO COLUNI PRÁTICAS ESCOLARES: DESAFIOS DAS CIÊNCIAS HUMANAS BOLSISTA: Bárbara de Oliveira Barbosa ORIENTADOR: Allain Wilham Silva de Oliveira VIÇOSA MINAS GERAIS - BRASIL 2016

PRÁTICAS ESCOLARES: DESAFIOS DAS CIÊNCIAS … federal de viÇosa prÓ-reitoria de ensino colÉgio de aplicaÇÃo – coluni prÁticas escolares: desafios das ciÊncias humanas

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

PRÓ-REITORIA DE ENSINO

COLÉGIO DE APLICAÇÃO – COLUNI

PRÁTICAS ESCOLARES: DESAFIOS DAS CIÊNCIAS HUMANAS

BOLSISTA: Bárbara de Oliveira Barbosa

ORIENTADOR: Allain Wilham Silva de Oliveira

VIÇOSA

MINAS GERAIS - BRASIL

2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

PRÓ-REITORIA DE ENSINO

COLÉGIO DE APLICAÇÃO – COLUNI

PRÁTICAS ESCOLARES: DESAFIOS DAS CIÊNCIAS HUMANAS

BOLSISTA: Bárbara de Oliveira Barbosa

ORIENTADOR: Allain Wilham de Oliveira

Relatório Final apresentado à Universidade

Federal de Viçosa, como parte das exigências do

PIBIC-EM/CNPq/UFV, referente ao período de

agosto/2015 a julho/2016.

.

VIÇOSA

MINAS GERAIS - BRASIL

AGOSTO/2016

COLÉGIO DE APLICAÇÃO – COLUNI

RESUMO

A partir do ano do ano de 2008, com a introdução da filosofia e sociologia como

disciplinas obrigatórias no Ensino Médio brasileiro, estabeleceu-se um novo contexto na

área do ensino das ciências humanas. Dessa forma, qual seria o papel dessas novas

disciplinas na construção de saberes e de novas práticas em relação ao eixo das ciências

humanas? Como ensinar o espaço como uma construção social nesse novo contexto

escolar? A fim de responder a estes questionamentos, o presente trabalho buscou

realizar uma análise dos novos desafios a partir da introdução destas disciplinas na

grade de conteúdos do ensino no Colégio de Aplicação COLUNI (Viçosa, Minas

Gerais). Para isso, foi realizado um grupo focal, integrado por alunos da referida

instituição, direcionado à promoção de uma discussão sobre o tema. As discussões

elaboradas no grupo focal tiveram como eixo principal os seguintes questionamentos:

Ao longo de sua formação acadêmica e pessoal, o que as disciplinas de sociologia e

filosofia agregaram junto as disciplinas de geografia e história?; Qual a sua opinião a

cerca do projeto de interdisciplinaridade dos conteúdos? e; Você acha que a geografia se

aproxima mais da sociologia ou da filosofia? A partir dos dados obtidos, foi possível

concluir a grande importância da filosofia e sociologia na formação, tanto pessoal

quanto acadêmica, do estudante. Isso pode ser explicado pelo fato de que as mesmas,

em especial a sociologia – na forma como é apresentada nas escolas atualmente -, abrem

espaço para a realização de debates entre os alunos e o professor a fim de proporcionar

o surgimento de novas ideias a respeito de um determinado tema. Ademais, a partir do

trabalho com temas recorrentes no cotidiano, estas disciplinas contribuem para o

desenvolvimento de uma reflexão a cerca de aspectos presentes na realidade social na

qual os estudantes estão inseridos, de forma a possibilitar a formação de um senso

crítico e identidade pessoal e social nos mesmos. Portanto, foi possível observar que a

introdução das disciplinas de filosofia e sociologia no currículo escolar do Ensino

Médio se concretizou como um grande avanço nos estudos das Ciências Humanas, haja

vista que permitiu uma maior dinamização da mesma.

Data: ___/___/____

______________________________ ___________________________

Assinatura do Orientador(a) Assinatura do(a) Bolsista

Sumário 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................. 5

2. OBJETIVOS .............................................................................................. 6

2.1 Objetivo geral ...................................................................................... 6

2.2 Objetivos específicos ........................................................................... 6

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .............................................. 6

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................. 8

4.1 Dimensão conceitual ............................................................................ 8

4.2 Dimensão procedimental ................................................................... 12

4.3 Dimensão atitudinal ........................................................................... 13

4.4 Dimensão relativa ao docente ............................................................ 17

5. INÍCIO DE UM DEBATE ...................................................................... 22

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................... 24

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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A obrigatoriedade do ensino de filosofia e sociologia no ensino pela lei nº 11.684,

de 2 de Junho de 2008, traz uma interferência em toda estrutura escolar, em especial no

eixo das ciências humanas e suas tecnologias. Através da qual dá-se o acréscimo de uma

forma de interpretar a realidade social das disciplinas obrigatórias de Historia e Geografia,

que de uma forma reduzida trabalhavam conteúdos sociais pelo viés tempo-espaço.

Na vida cotidiana da realidade do Colégio de Aplicação (COLUNI), surge a

questão da pesquisa com a introdução das novas disciplinas sociologia e filosofia no ano de

2009. Assim, passou a ser indispensáveis para a escola enfrentar novos desafios e abrir-se a

novas possibilidades no eixo das ciências humanas e suas tecnologias. Dessa forma, qual

seria esse papel na construção de saberes e de novas práticas a respeito da disciplina

Geografia? Como ensinar o espaço como uma construção social nesse novo contexto

escolar?

Na prática escolar, assim, subjazem condicionantes sociopolíticos que configuram

diferentes concepções de homem e de sociedade e, consequentemente, diferentes

pressupostos sobre o papel da escola, aprendizagem, relações professor-aluno, técnicas

pedagógicas e etc.

Desse modo, a prática escolar deve ser alvo de uma reflexão sobre o processo

ensino-aprendizagem, abordando questões como: De que maneiras podem aprofundar o

estudo das humanidades para melhor formação do educando, com auxilio das

interpretações da realidade trazidas por novas disciplinas no eixo e, consequentemente,

apresentar uma reflexão pragmática acerca do planejamento escolar e da sua relação com

as estratégias pedagógicas utilizadas pelo professor no seu desempenho em sala de aula

para a formação eficiente de um aluno critico, capaz de interpretar o seu mundo ou espaço-

tempo?

Inicialmente, a presente pesquisa tinha como objetivo analisar os desafios

encontrados pela disciplina de geografia a partir da introdução da filosofia e sociologia na

grade curricular do Ensino Médio. Entretanto, no decorrer do trabalho, percebeu-se que o

referido contexto representa uma nova perspectiva não apenas para a área da geografia,

mas sim para o eixo das ciências humanas de forma geral, o que alterou a lógica inicial da

pesquisa.

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2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Investigar os desafios da área das ciências humanas a partir da introdução

obrigatória das disciplinas de filosofia e sociologia no Ensino Médio a partir de

uma pesquisa no Colégio de Aplicação (COLUNI).

2.2 Objetivos específicos

Promover uma discussão entre alunos do Ensino Médio em um grupo focal, acerca

da contribuição da filosofia e sociologia em suas respectivas formações: acadêmica,

pessoal e social;

Analisar e relacionar os dados obtidos no grupo focal ao contexto de ensino atual e

à realidade vivenciada pelos estudantes.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este trabalho é uma ação no chão da escola, ou seja, no local onde o trabalho

escolar é empreendido. Assim, a participação do aluno bolsista e educando de ensino

médio, teve uma importância precisa no estabelecimento de um diálogo entre os sujeitos do

processo de ensino-aprendizagem do conhecimento escolar nas disciplinas do eixo das

ciências humanas e suas tecnologias.

Inicialmente, foi realizado um preparo que se consistiu em leituras sobre o tema,

pesquisas sobre a aplicação das ciências humanas no Ensino Médio e sobre a metodologia

a ser trabalhada.

Nesse sentido, o seguinte trabalho foi embasado na análise das discussões

realizadas por um grupo focal composto por alunos do Ensino Médio do Colégio de

Aplicação (COLUNI), localizado na cidade de Viçosa-MG sobre o questionamento da

importância das disciplinas de filosofia e sociologia em suas determinadas formações

individuais, bem como a contribuição das mesmas no melhor entendimento das disciplinas

de geografia e história no contexto acadêmico e social.

O método de análise utilizado foi o grupo focal em decorrência do fato de que este

mecanismo permite uma maior interação, enunciação e interpretação das opiniões advindas

dos participantes sobre o tema proposto. Por meio dessa metodologia, os estudantes

inseridos no debate tiveram a oportunidade de expressar suas opiniões e interagir uns com

os outros de forma oportuna e com construção de conhecimentos. Portanto uma das etapas

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do trabalho foi pesquisar como realizar a atividade utilizando a técnica do grupo focal. Esta

etapa foi desenvolvida com a contribuição de estagiários do curso de geografia, juntamente

com o orientador, a fim de desenvolver um estudo do modo de comportamento do grupo

focal.

O grupo focal se constitui da escolha de membros integrantes da mesa de discussão

e de um mediador. Os membros devem ser escolhidos a partir de um critério que explore a

capacidade dos mesmos de interagir com o tema proposto e promover uma argumentação

que seja relevante aos objetivos da pesquisa. Dessa forma, foi realizada uma reunião entre

os membros do projeto em que foi escolhido o mediador do grupo focal e foram propostos

os tópicos principais a serem discutidos no mesmo:

a) Ao longo de sua formação acadêmica e pessoal, o que as disciplinas de

sociologia e filosofia agregaram junto as disciplinas de geografia e história?

b) Qual a sua opinião a cerca do projeto de interdisciplinaridade dos conteúdos?

c) Você acha que a geografia se aproxima mais da filosofia ou da sociologia?

Em seguida, foram escolhidos os participantes do grupo focal. Essa escolha foi

embasada ressaltando os objetivos da pesquisa de relacionar as opiniões de alunos do

Ensino Médio da rede de ensino pública, que se propunham a estabelecer um debate acerca

das questões propostas. Já em relação a seleção dos alunos integrantes do grupo, a escolha

passou por uma análise da professora de sociologia, por meio da qual selecionamos nove

alunos da terceira serie que contavam com bom rendimento global, ou seja, um bom

aproveitamento em todas as disciplinas.

A partir da seleção dos integrantes do grupo focal, o debate foi realizado, gravado

em áudio e posteriormente transcrito para as devidas análises. Vale ressaltar que na

aplicação do grupo focal houve a participação de estagiários da área de geografia.

A partir da obtenção dos dados do grupo focal, iniciou-se a etapa de análise dos

mesmos. O método de pesquisa utilizado nessa análise foi o qualitativo, que se refere à

avaliação e interpretação dos fenômenos observados. O objetivo principal dessa análise foi

observar as opiniões dos alunos mediante o questionamento proposto, bem como

interpretar as discussões e vivências pessoais dos estudantes.

Em seguida, as informações foram separadas em categorias de acordo com os

núcleos temáticos que deram suporte aos argumentos citados. Perante essa organização, foi

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possível uma análise mais profunda das bases de construções das argumentações propostas

ao longo do debate.

A fim de organizar as análises, serão ressaltadas ao longo do trabalho quatro

vertentes principais dos conteúdos:

I. Conceitual: que se refere ao que se deve saber, relacionada aos conceitos,

fatos e ideias compreendidas;

II. Procedimental: que se refere ao que se deve saber fazer, relacionada à

vivência e à execução de atividades;

III. Atitudinal: que se refere ao que se deve ser, relacionada às ações associadas

a um determinado contexto, à moral, ao juízo e aos ideais do indivíduo.

IV. Relativo ao docente: que se refere ao contexto dos professores, sua

metodologia de ensino e sua relação com os alunos, escola ou Estado.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Dimensão conceitual

A dimensão Conceitual está tradicionalmente relacionada aos conteúdos

apreendidos no contexto da sala de aula combinados ao conteúdo prévio adquirido pelo

aluno. A junção de todas essas formas de conhecimento, possibilitando um complexo de

novas informações associadas umas às outras, dá origem a uma rede de conceitos repleta

de significado.

A partir da determinação da dimensão conceitual do conteúdo, as discussões

sucedidas no grupo focal puderam ser desmembradas, de forma a ressaltar o conceito

supracitado. Classificando, pois, os conteúdos das falas dos alunos, têm-se:

a) Importância da sociologia com o estudo das estruturas de poder:

O conceito de poder, de acordo com por Marx Weber (1991): Poder significa toda

probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra

resistências, seja qual for o fundamento dessa probabilidade. A partir dessa concepção,

pode-se afirmar que o poder se constitui como um fenômeno social e não individual, a

partir do momento em que sua característica principal é ser um componente da relação

social.

Estabelecendo uma relação entre estes parâmetros e a conjuntura social

contemporânea, o Estado Brasileiro atual se constitui como uma República Federativa

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Presidencialista, formada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, em que o

exercício do poder é atribuído aos órgãos distintos e independentes, submetidos a um

sistema de controle para garantir o cumprimento das Leis e da Constituição, isto é,

submetidos a um sistema de legitimidade. Nessas circunstâncias, a disciplina de sociologia

constrói junto aos alunos um conhecimento crítico a respeito da conjuntura política,

econômica e social a qual está sujeita o Brasil. A partir daí, torna-se uma via importante na

construção de conhecimento acerca de alguns conceitos estudados pela geografia política e

populacional.

b) Importância da sociologia na desconstrução da História dos fatos políticos:

A expressão “História dos fatos políticos” refere-se ao método de ensino de história

nas escolas do Brasil durante o século XX, principalmente, em que os livros didáticos

traziam conceitos extremamente positivistas dos acontecimentos históricos brasileiros, de

forma a exaltar os “grandes homens” e seus “grandes feitos”. Nesse sentido, os alunos

eram incentivados a decorar nomes e datas, ao invés de construírem a partir da discussão

dos conceitos da história, suas respectivas formações ideológicas e sociais.

A partir desse conceito, a disciplina de sociologia se constitui como uma forma

alternativa de analisar a história, uma vez que tem como característica a possibilidade da

apresentação de novas visões a respeito de um determinado tema. No Colégio de Aplicação

– COLUNI - isso se tornou possível devido ao formato dinâmico da qual as aulas de

sociologia se apresentam, formato este que permite a promoção de discussões entre os

alunos e o professor, de forma a incentivar o entendimento real (com espaço para a

apresentação de dúvidas e discussões sobre as mesmas) dos conteúdos apresentados, em

detrimento do formato tradicional das aulas.

c) Importância da sociologia na análise da formação do povo brasileiro e na criação

de senso de identidade pessoal:

A formação do povo brasileiro pode ser explicada por diferentes vertentes de

pensamentos sociológicos, dentre as quais se destacam Caio Prado Júnior (1907-1990),

Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), Florestan Fernandes (1920-1995) e José de

Souza.

De acordo com Caio Prado Júnior, em Formação do Brasil Contemporâneo (1942),

a história brasileira é contada do ponto de vista da produção, distribuição e consumo da

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riqueza. Para esse historiador, a formação do Brasil se deu de fora para dentro, tendo o país

se estruturado como fornecedor de produtos tropicais.

Já Sérgio Buarque de Holanda, autor da obra Raízes do Brasil (1936), adotava o

referencial weberiano para analisar o Brasil colonial e acreditava que a mestiçagem teve

papel central na construção da identidade nacional, além de enfatizar a necessidade da

transformação social, como meio de superação do passado de favorecimentos pessoais

originários das oligarquias rurais.

Em concordância com Caio Prado Júnior, Florestan Fernandes entendia o Brasil

colônia estruturado como uma economia exportadora de produtos que, mesmo após sua

emancipação, manteve-se dependente de uma metrópole. De mesmo modo, de acordo com

Florestan, a escravidão se projetou como um fenômeno social que tem ressonância na

organização social da sociedade brasileira até os dias atuais.

A partir do estudo da formação do povo brasileiro é possível entender algumas

práticas e ideologias que estão arraigadas na sociedade brasileira e, somente por meio

dessa observação é provável a criação de um senso de identidade que vai além do senso

comum. Analisando as bases sob as quais se consolidou o Brasil, é evidente a relação entre

conceitos importantes da geografia com quadros nacionais históricos estudados pela

sociologia, como a industrialização brasileira e a população e o crescimento populacional

do país.

O processo de industrialização do Brasil, tema que é estudado tanto pela área da

sociologia quanto pela geografia econômica, se deu em um período histórico em que o país

passava por grandes mudanças nos âmbitos sociais, econômicos e políticos. Dentre essas

mudanças, vale ressaltar a expansão do trabalho remunerado, a Abolição da Escravidão

(1888), a vinda de emigrantes europeus, a Proclamação da República (1889) e o declínio

da produção cafeeira. A partir dessa conjuntura, juntamente com o fato de o território ter

sido uma colônia de exploração, a industrialização no espaço brasileiro é considerada

tardia, haja vista que apresentou quase um século de atraso em relação aos países europeus.

Já o estudo do crescimento populacional, analisado tanto pela disciplina da

sociologia como pela geografia, se enquadra em uma área do conhecimento denominada

Fenômenos Sociais, explicada por Paulo Nunes (Economista pela Universidade Nova de

Lisboa, professor universitário nas áreas da economia e da gestão, gestor e consultor de

empresas):

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A expressão Fenômenos Sociais designa os fenômenos que decorrem da vida

social e do comportamento humano, tais como os fenômenos econômicos

(desemprego, crescimento econômico, inflação, riqueza e sua distribuição),

demográficos (crescimento populacional, emigração e imigração, distribuição

por faixas etárias), sociológicos, políticos, históricos, etc. Todos estes fenômenos

sociais constituem o objeto de estudo das Ciências Sociais que os estudam a

partir de diferentes perspectivas. (NUNES, 2016)

A partir daí, é possível associar o crescimento populacional do Brasil à etapas diretamente

relacionadas ao contexto político, econômico e social sob o qual vivia o país.

d) Importância da sociologia no entendimento de geopolítica e globalização:

Um dos principais temas estudados em Geopolítica na atualidade é a globalização,

que compreende um processo econômico e social, estabelecendo uma integração entre os

países e as pessoas do mundo todo. Esse processo torna possível a dispersão e o

conhecimento dos aspectos culturais de cada sociedade através da relação entre pessoas,

governos e empresas de diferentes partes do mundo.

A partir desses conceitos, pode-se traçar um elo entre Geopolítica e Sociologia, já

que esta está diretamente relacionada ao estudo do meio social de uma determinada

comunidade e as características da sociedade que compõe determinado Estado.

e) Importância da sociologia com o estudo de democracia e corrupção:

De acordo com a sociologia, o conceito de democracia tem sua base na origem

(grega) da palavra: ”demo” + “kratos” = “povo” + “governo”, o que imprime a

participação do povo, independentemente de suas condições sociais, econômicas ou

étnicas, nas decisões da comunidade.

Em relação à participação do povo na comunidade, a democracia divide-se em dois

tipos:

1. Democracia Direta: em que os cidadãos têm o livre direito de expressão e

discussão de suas ideias em assembleias ou reuniões, sem a intervenção de intermediários.

Esse tipo de democracia costuma ser aplicável somente em territórios pequenos.

2. Democracia Indireta ou Representativa: em que os cidadãos escolhem, por meio

de eleições, representantes que irão tomar as decisões públicas pela comunidade,

entretanto, existem referendos e plebiscitos em que os cidadãos podem votar contra ou a

favor de temas de interesse público. Esse tipo de democracia é vigente na maioria dos

governos democráticos.

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A palavra corrupção, de origem latina (“corruptos”, que significa “quebrar em

pedaços”, isto é, decompor ou deteriorar algo) pode ser determinada como o ato de

corromper algo ou alguém visando à obtenção de lucros ou vantagens em determinadas

situações.

O entendimento dos conceitos ressaltados de democracia e corrupção torna-se

importante no momento em que os mesmos são realidades vivenciadas e discutidas pela

sociedade brasileira, que, por outro lado, é regida por um governo democrático. A partir

dessa ideia, é possível estabelecer uma relação entre os conceitos de democracia e

corrupção com a formação do espaço geográfico, definido pela professora Simone Aguiar

como:

O espaço geográfico é aquele que foi modificado pelo homem ao longo da

história. Que contém um passado histórico e foi transformado pela organização

social, técnica e econômica daqueles que habitaram ou habitam os diferentes

lugares ('o espaço geográfico é o palco das realizações humanas). (AGUIAR,

2013)

A partir do momento em que um dos papeis da geografia é o estudo do espaço

geográfico construído em um território e, no caso deste trabalho, no território brasileiro,

observa-se a contribuição da disciplina de sociologia no desenvolvimento de conceitos

importantes à geografia social e política.

4.2 Dimensão procedimental

A dimensão procedimental está relacionada a procedimentos, hábitos, técnicas e

métodos vivenciados e apreendidos pelo indivíduo, de forma que o mesmo se torne capaz

de reconhecer e aplicar as etapas de determinado projeto a fim de alcançar certo objetivo.

Com base na determinação do conceito da dimensão procedimental, é possível

associá-la a alguns conteúdos das falas dos alunos no contexto do grupo focal. Têm-se,

pois:

a) Importância da filosofia, que deu origem às outras disciplinas:

Toda grande descoberta científica é ao mesmo tempo um passo em frente no

desenvolvimento filosófico da visão de mundo e da metodologia. Afirmações

filosóficas baseiam-se em conjuntos de fatos estudados pelas ciências e também

no sistema de proposições, princípios, conceitos e leis. As conquistas das

ciências especializadas são resumidas em afirmações filosóficas. Geometrias

euclidianas, a mecânica de Galileu e Newton, que influenciaram as mentes dos

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homens ao longo dos séculos, foram grandes conquistas da razão humana, que

desempenhou um papel significativo na formação de visões de mundo e de

metodologia. Uma revolução intelectual foi produzida pelo sistema heliocêntrico

de Copérnico, que mudou toda a concepção da estrutura do universo, ou a teoria

da evolução de Darwin, que teve um impacto profundo em ciências biológicas

em geral e toda a nossa concepção do lugar do homem na natureza. O brilhante

sistema de Mendeleiev de elementos químicos aprofundou a nossa compreensão

da estrutura da matéria. A Teoria da relatividade de Einstein mudou a nossa

noção da relação entre matéria, movimento, espaço e tempo. A mecânica

quântica revelou até então o desconhecido mundo das micropartículas da

matéria. A teoria da atividade nervosa superior evoluiu por Sechenov e Pavlov

aprofundou a nossa compreensão das bases materiais da atividade mental, da

consciência. A cibernética revelou novos horizontes para a compreensão dos

fenômenos de interações de informação, os princípios de controle em sistemas

vivos, em dispositivos tecnológicos e na sociedade, bem como os princípios de

feedback, o sistema homem-máquina, e assim por diante. (MARIANI, 2013)

A partir de um conhecimento histórico a cerca das origens da filosofia, é possível

afirmar que, somente a partir dos conceitos definidos pelos filósofos antigos, foi possível a

construção das demais áreas do conhecimento. Dentre estas áreas se encontra a geografia,

que tem seu nome originado na Grécia (“geo” = terra + “graphos”= escrever, ou seja, uma

ciência que descreve o Planeta e os fenômenos que nele ocorrem), pelo filósofo

Erastóstenes, por volta de 300 a.C.

b) Auxílio da filosofia na interpretação de textos densos (carregados, de difícil

interpretação):

O estudo dos conteúdos destinados à disciplina de filosofia exige uma maior

concentração do aluno, bem como disposição do professor, uma vez que é necessária a

leitura de obras grandes, densas (de muito conteúdo) e compostas de um vocabulário

diferenciado, associado a escritos de origem antiga e com termos específicos da ciência.

Portanto, por meio da leitura constante de textos de filosofia, a capacidade de concentração

e interpretação do aluno é melhorada, o que implica em benefícios diversos à vida

acadêmica do indivíduo. Isso pode ser explicado pelo fato de que todas as áreas do

conhecimento, o que inclui a geografia e história, têm como pré-requisito a capacidade de

compreensão e interpretação de textos, sejam estes nas diversas formas as quais podem se

apresentar.

4.3 Dimensão atitudinal

A Dimensão Atitudinal pode ser definida como um conjunto de ideais captados

pelo indivíduo de modo a fazê-lo analisar, refletir e reagir de determinadas maneiras

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perante determinadas situações. Essa dimensão pode também ser definida como uma série

de normas, valores ou juízos adquiridos pelo indivíduo durante a sua formação.

Perante a definição do conceito geral da Dimensão Atitudinal, os discursos dos

alunos no contexto do grupo focal puderam ser determinados e organizados, de forma a

extrair suas principais ideias, tais quais:

a) Importância da sociologia no auxílio do entendimento de algumas questões, no

questionamento das mesmas e na construção e desconstrução de pensamentos:

A grade de conteúdos da disciplina de sociologia prevê o estudo de questões que

colaboram com a aproximação, investigação e reflexão a cerca das teorias das Ciências

Sociais no cotidiano dos alunos, como instrumento de reflexão crítica sobre alguns pontos

a sociedade. Alguns dos principais autores que contribuem para esse tipo de re-flexão são

Émile Durkheim, com o estudo do fato social; Max Weber, com suas ideias a cerca da ação

social; e Karl Marx, com suas análises a cerca do trabalho e classes sociais.

De acordo com Émile Durkheim, a sociedade condiciona a vida dos indivíduos de

forma a criar condutas que devem ser seguidas por todos. Nesse sentido, o meio social é

desenvolvido por normas sociais denominadas por Durkheim como fatos sociais que, por

sua vez, têm como características principais serem exteriores, isto é, são formados

independentemente da vontade do indivíduo; e coercitivo o que significa que devem ser

seguidos por todos os indivíduos da sociedade e, muitas vezes, é seguido

inconscientemente.

Já no caso de Max Weber, o indivíduo é o foco principal do estudo, haja vista que

as ações do mesmo determinariam os rumos do processo de mudança social. Em suas

análises, Weber criou o conceito de “ação social”, que é explicado por ele como “qualquer

ação realizada por um sujeito em um meio social que possua um sentido determinado por

seu autor”. Para que a ação social seja possível, é necessário que o autor estabeleça uma

comunicação com seu interlocutor a fim de obter a resposta esperada.

Para Karl Marx, as transformações sociais são explicadas por meio da relação entre

forças sociais, isto é, entre classes distintas. No estudo de Marx, as classes fundamentais da

sociedade capitalista são a burguesia e o proletariado, a partir das quais as transformações

históricas e sociais ocorreriam, haja vista que se encontram sempre em lados opostos e

defendendo interesses distintos na sociedade.

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Tendo como exemplo os autores acima especificados, a sociologia se preocupa com

a análise de teorias a respeito das transformações ocorridas no meio social. Dessa forma, é

possível observar a importância da apresentação dessa disciplina no Ensino Médio e a

contribuição da mesma nos estudos direcionados à geografia humana de um modo geral.

b) Importância da sociologia na análise de questões como a escravidão:

Apesar de o termo “escravidão” ser tradicionalmente remetido a um contexto

remoto, existe, na atualidade brasileira, situações análogas a escravidão que são, muitas

vezes, despercebidas e marginalizadas pela população. De acordo com a primeira edição

do ranking lançado pela Walk Free Foundation (ONG internacional que se coloca a missão

de identificar países e empresas responsáveis pela escravidão moderna), o Brasil se

encontra na 94ª posição em um índice dos 162 países com os piores indicadores de

trabalho escravo do mundo. Além disso, de acordo com o índice, 29 milhões de pessoas

vivem em condição análoga à escravidão no mundo (vítimas de trabalho forçado, tráfico

humano, trabalho servil derivado de casamento ou dívida, exploração sexual e exploração

infantil). Apesar da posição que o Brasil ocupa nesse ranking, tendo, de acordo com

pesquisas, um número estimado de 200 mil pessoas em situações análogas à escravidão, o

país é considerado um exemplo no que se refere às iniciativas com finalidade de erradicar

o trabalho escravo moderno.

Com o intuito de entender melhor essas questões, o trabalho da sociologia torna-se

bastante importante na formação, tanto acadêmica, quando pessoal dos alunos, haja vista

que a disciplina tem como um de seus principais focos realizarem discussões a cerca da

conjuntura social na qual se encontra o país.

A partir da análise de um mapa divulgado pelo MTE (Movimento do trabalho e

emprego), IBGE, a maior concentração de trabalhadores escravizados resgatados no Brasil

é encontrada nas áreas de expansão da fronteira agrícola nacional, atingindo, em especial,

partes das regiões Norte, Centro Oeste e Nordeste. Logo, vale ressaltar que a questão da

'escravidão moderna' está diretamente relacionada à situação econômica nacional

direcionada à exploração da mão de obra e obtenção de lucro, tema que é também

discutido na área da geografia econômica e social.

c) Diálogos e discussões proporcionados pelo estudo da filosofia e sociologia:

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De acordo com o programa de conteúdos de sociologia apresentado pelo professor

César Augusto Venâncio da Silva para a Escola Estadual de ensino médio e fundamental

Michelson Nobre da Silva, as vertentes principais da disciplina são:

Representação e comunicação, que se refere à capacidade do aluno de identificar,

analisar e comparar os diferentes discursos sobre a realidade: as explicações das

Ciências Sociais, amparadas nos vários paradigmas teóricos, e as do senso comum.

Produzir novos discursos sobre as diferentes realidades sociais, a partir das

observações e reflexões realizadas;

Investigação e compreensão, que se refere à capacidade do aluno de construir

instrumentos para uma melhor compreensão da vida cotidiana, ampliando a “visão

de mundo” e o “horizonte de expectativas”, nas relações interpessoais com os

vários grupos sociais. Construir uma visão mais crítica da indústria cultural e dos

meios de comunicação de massa;

Contextualização sociocultural, que se refere à capacidade do aluno de

compreender e valorizar as diferentes manifestações culturais de etnias e segmentos

sociais, agindo de modo a preservar o direito à diversidade, enquanto princípio

estético, político e ético que supera conflitos e tensões do mundo atual.

Compreender as transformações no mundo do trabalho e o novo perfil de

qualificação exigida, gerados por mudanças na ordem econômica. Construir a

identidade social e política, de modo a viabilizar o exercício da cidadania plena, no

contexto do Estado de Direito, atuando para que haja, efetivamente, uma

reciprocidade de direitos e deveres entre o poder público e o cidadão e também

entre os diferentes grupos.

A partir dessas vertentes, é possível elaborar uma proposta geral no que diz respeito

ao ensino da sociologia nas escolas de ensino médio. O ponto principal dessa proposta

seria promover a discussão entre alunos e professores a cerca de temas do cotidiano e

temas da realidade atual, que, muitas vezes, não são discutidos em ambientes não

acadêmicos.

Já a filosofia estimula os alunos a uma frequente discussão acerca das divergentes

opiniões de filósofos que formularam teorias sobre questões como a racionalidade, a

experiência, o ser e a essência do homem. Estes temas se configuram como questões de

grande valor na sociedade, haja vista que um dos principais objetivos do homem, com a

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elaboração constante de novas teorias científicas a respeito da vida, é desvendar os

mistérios de sua existência, o que ganha novas proporções com a disciplina de filosofia.

Portanto, as discussões em sala de aula proporcionadas pelas disciplinas sociologia

e filosofia se configuram como um meio de possibilitar uma maior interação dos alunos

com os acontecimentos recorrentes na sociedade, bem como dar base ao surgimento de

novas opiniões e visões críticas que confirmem (ou entrem em conflito) com as teorias

formuladas por estudiosos das áreas. Entretanto, essas discussões não se limitam somente

aos territórios da filosofia e sociologia, mas se abrangem por todas as outras áreas do

conhecimento em um ambiente acadêmico no qual os estudantes estão inseridos.

d) Opiniões adversas que compõem o COLUNI, ciências políticas (estudo da

estrutura, das mudanças de estrutura e dos processos de governo) e compreensão da

situação política atual nacional e global:

É impossível negar a importância das disciplinas de filosofia e sociologia na

formulação de discursos que são construídos a partir de diferentes bases das ciências

sociais e, dessa forma, possuem características diferenciadas. A partir de uma análise das

ideologias defendidas pelos alunos do Colégio de Aplicação - COLUNI é possível perceber

os diferentes embasamentos sociais citados, de forma a ressaltar a importância da

promoção de discussões sobre variados assuntos nos colégios. A partir dessas discussões, o

entendimento da situação social, econômica e política pela qual o Brasil está passando se

tornam mais dinâmica, de forma a dar espaço as variadas opiniões tanto dos alunos quanto

dos professores. A partir dessa ideia, com o objetivo de formar cidadãos mais conscientes,

informados e críticos, é imprescindível a apresentação de conteúdos relacionados á

sociologia e à geografia humana e, dessa forma, proporcionar uma base no conhecimento

para que os alunos tenham a possibilidade de desenvolver suas próprias opiniões a partir de

argumentos com embasamentos válidos.

4.4 Dimensão relativa ao docente

A Dimensão do conteúdo relativa ao docente engloba todas as questões que

envolvem o professor, suas ideologias e seus métodos de ensino, além da organização da

disciplina e a relação da instituição (escola) com o docente ou com o Estado.

18

Por meio da determinação da dimensão relativa ao docente, é possível realizar um

levantamento dos assuntos discutidos no grupo focal que estão relacionados a esse

conceito. São estes:

a) Complexidade na exposição dos conteúdos de filosofia (prós e contras):

Durante a discussão dos alunos desenvolvida no grupo focal, podem-se perceber as

opiniões divergentes em relação à introdução da filosofia na grade curricular do ensino

básico associado ao grau de complexidade dos conteúdos da disciplina. A partir dessa

ideia, as opiniões divergiram no sentido que de alguns estavam em concordância com a

ideia de que o ensino de filosofia deve ser estruturado de forma gradual, de modo que a

introdução da disciplina para crianças seria apropriada, enquanto outros acreditavam que a

introdução da disciplina somente no ensino médio, como ocorre na maioria das escolas

brasileiras, seria compensado pela maturidade já adquirida pelo aluno nessa etapa da vida,

de forma que o mesmo teria uma maior facilidade no desenvolvimento da matéria.

De acordo com os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), um dos objetivos da

escola é a formação de indivíduos pensadores críticos autônomos, isto é, com plena

capacidade de pensar, questionar e refletir a cerca do conhecimento que está sendo

apreendido, de forma a construir ideias próprias em relação a diversos temas, e não

somente absorvê-los de forma passiva.

Em associação a essa ideia, encontra-se o pensador norte-americano Matthew

Lipman, que propõe a iniciação do estudo de filosofia para crianças sob o argumento de

que o ensino básico oferece um espaço diferenciado bastante propício ao desenvolvimento

do “pensar bem”, um pensar reflexivo, criativo e autônomo. Lipman desenvolveu uma

série de projetos relacionados ao ensino de filosofia para crianças, dentre os quais se

destaca “Filosofia para Crianças - Educação para o Pensar” e a criação da IUPC (sigla, em

inglês, que significa Instituto para o Desenvolvimento da Filosofia para Crianças), uma

entidade que auxiliou na divulgação e implantação do projeto em diversos países.

Podemos esperar que filosofia para crianças dê frutos numa sala de aula

heterogênea, onde estudantes falem sobre uma variedade de experiências e

estilos de vida, onde se explicitem diferentes crenças na importância das coisas, e

onde uma pluralidade de maneiras de pensar, em vez de serem depreciadas,

sejam consideradas inteiramente valiosas. Na aula de filosofia para crianças

aceitam-se os argumentos procedentes do pensador meticuloso com o mesmo

respeito dispensado aos que apresentam seu ponto de vista de modo rápido e

articulado. (LIPMAN, 2001)

19

b) Suposta grade de conteúdos iniciais do estudo de filosofia para crianças

Um problema recorrente nas escolas brasileiras tradicionais é a falta de interesse dos

alunos no aprendizado dos conteúdos gerais. Isso ocorre devido a pouca participação dos

mesmos durante as aulas, acarretando em um aprendizado descontextualizado e entediante.

Nesse sentido, a base filosófica inicial, para alunos do ensino fundamental, seria construída

com o objetivo de provocar discussões e fazer as crianças questionarem, analisarem

criticamente e divergirem (quando for o caso) das opiniões e conceitos pré-estabelecidos.

c) Ensino precário e falta de preparação dos professores de filosofia e sociologia em

escolas públicas:

Um dos argumentos utilizados para defender o ensino transversal da filosofia (que

trata de temas que expressam conceitos e valores básicos à democracia e à cidadania e

obedecem a questões importantes e urgentes para a sociedade contemporânea) nas escolas,

em detrimento ao ensino disciplinar (que trata de disciplinas reconhecidas pela instituição)

refere-se à estruturação precária na formação dos professores, bem como a educação

deficiente das escolas (falta de material, professores, infraestrutura inadequada ao ensino,

etc.).

A partir dessa situação surgem opiniões contrárias à introdução da disciplina de

filosofia no ensino básico, uma vez que a mesma seria ineficaz em decorrência do fato de

que os professores não estariam preparados o suficiente para lidar com as questões

relacionadas à inserção das crianças no mundo da filosofia.

d) Falta de incentivo do Estado à programas de capacitação de professores, planos

de carreira, melhores salários:

De acordo com uma reportagem veiculada no site Uol, no dia 03/10/2013, o Brasil

se encontra na 21ª posição no ranking lançado pela Varkey GEMS sobre o Índice Global

de Status de Professores, o que comprova a ideia de que a profissão é bastante

desvalorizada no Brasil. Essa desvalorização, entretanto, não se deu de forma repentina,

haja vista que o histórico do país em relação a esse tratamento da profissão é antigo. Foi

somente no século XX que o Brasil consolidou o ensino fundamental nas escolas e abriu

espaço para estudantes advindos de diversas realidades socioeconômicas. Nesse contexto,

foi necessária uma maior demanda de docentes para preencher os novos cargos de trabalho,

o que acarretou na contratação de professores com baixos níveis de formação e

especialização, o que contribuiu para desvalorizar ainda mais a profissão. Isso explica a

20

atual realidade brasileira, em que o aumento gradativo do salário do professor está

associado ao nível do ensino (básico, fundamental, médio ou superior) no qual o mesmo

exerce seu cargo.

Além disso, um ponto que favoreceu a diminuição da procura por cargos

relacionados à docência está relacionado aos baixos salários associados a esse tipo de

profissão. De acordo com uma reportagem publicada no site época, no dia 15/02/2016, que

relaciona o salário médio inicial do profissional brasileiro com a sua determinada

profissão, os professores de filosofia e sociologia do Ensino Médio no estado de Minas

Gerais têm como salário médio inicial, respectivamente, cerca de R$1256,00 e R$1133,00,

enquanto no mesmo estado um engenheiro agrônomo, por exemplo, tem como salário

médio inicial cerca de R$ 4280,00.

A junção da falta de preocupação do Estado com iniciativas que possibilitem uma

maior capacitação dos professores aos baixos salários correspondentes à área faz com que

a profissão seja ainda mais desvalorizada. Nesse sentido, algumas disciplinas são deixadas

em segundo plano, como filosofia e sociologia, de forma a tornar ainda mais difícil o

acesso dos estudantes às mesmas.

e) Estudo da filosofia e sociologia com ênfase nas questões ideológicas que estão

sendo passadas pelo professor, e as que estão sendo formadas pelo aluno:

Os sujeitos da enunciação são como bem o lembra Orlandi (1983), não apenas

seres individuais, com pensamento e capacidade próprios, mas também e

sobretudo seres sociais que, como tal, partilham com outros sujeitos da

comunidade à qual pertencem (no caso, comunidade científica) pontos de vista,

atitudes e comportamentos que passam a funcionar como convenções. Enquanto

agentes, os sujeitos impregnam com seu 'eu' as atividades que constroem;

enquanto participantes de um grupo social, aderem aos princípios que os unem e

aceitam (na maioria das vezes de forma inconsciente) as convenções que os

caracterizam. Tal subjetividade, pois, não prescinde do social, antes o pressupõe

como parte integrante do próprio sujeito: as comunidades interpretativas

determinam a produção do discurso (enunciação-1) e suas formas de expressão,

bem como os modos de reação aos estratagemas usados no momento de criação

do sentido pela compreensão (enunciação 2, 3 etc.). (Um fazer persuasivo: o

discurso subjetivo da ciência). (CORACINI, 1991, p. 191).

É possível afirmar que todo discurso, por mais científico que seja, é subjetivo. Isso

se dá pelo fato de que o enunciante é um sujeito social, isto é, está inserido em uma

comunidade que tem como base ideias e conceitos comuns aos seus membros, o que

acarreta no fato de que todos os discursos enunciados por um indivíduo estará carregado de

21

uma forte influência derivada do seu convívio social. Essa influência pode se estabelecer

no sentido de confirmação do senso comum ou no sentido de negação do mesmo, de forma

a construir as ideias pessoais do indivíduo.

A partir dessa análise é possível perceber que, durante as aulas, o professor

exprime, até mesmo de forma não proposital, suas ideias pessoais. Esse fato deve se

constituir como causa de grande preocupação, haja vista que, em um contexto de Ensino

Médio, em que os alunos estão em uma fase crucial para a formação identitária como

sujeitos sociais críticos, é imprescindível valorização do professor como um meio de

transmissão dos conteúdos e de promoção de debates, no sentido de incentivar a

formulação pessoal de opiniões entre os alunos e elucidar as dúvidas advindas desse

processo.

Durante as discussões entre alunos do Ensino Médio do Colégio de Aplicação -

COLUNI, no grupo focal, foram notáveis os ressalves realizados a cerca da influência da

metodologia utilizada pelo docente no crescimento dos alunos ao longo do ano junto à

disciplina. Em relação a disciplina de filosofia, principalmente, o educador que constrói os

conceitos junto aos alunos de forma gradual e utilizando como base das aulas discussões

relacionadas ao tema para, por fim, realizar uma conclusão geral do assunto, é melhor

conceituado na visão dos educandos do que o educador que meramente emite sentenças

sem concatenação e não promove discussões com os alunos. Isso pode ser explicado pelo

fato de que o primeiro modelo de professor apresenta o conteúdo de uma forma mais

didática e convida os alunos a uma maior interação durante as aulas, de modo a chamar a

atenção dos mesmos para promover a organização do aprendizado de forma conexa. Já o

segundo modelo de professor não tem como maior preocupação a elaboração gradual e

coletiva do aprendizado, mas sim a exposição dos conteúdos, o que faz com que as aulas se

tornem excessivamente conceituais, de modo a não chamar tanto a atenção dos jovens

alunos.

f) A questão da interdisciplinaridade entre os conteúdos de sociologia, geografia,

filosofia e história:

Nos parâmetros do ensino atual, um método muito utilizado pelos docentes é o de

abandonar a ideia do aluno como mero receptor da informação e introduzir o mesmo como

um participante ativo do processo de aprendizagem. Dessa forma, com o objetivo de

construir um elo entre conteúdos pertencentes a diferentes disciplinas, mas que possuem

22

uma base em comum torna-se importante a questão da interdisciplinaridade. A ideia da

interdisciplinaridade dos conteúdos no ambiente escolar é muito importante tendo vista

que, na maioria das vezes, a educação tradicional restringe o estudo de determinados temas

às disciplinas específicas, apesar de muitos dos mesmos terem ocorrido em momentos

históricos, econômicos e sociais bastante parecidos. Portanto, a interdisciplinaridade se

concretiza como uma forma de associar temas estudados por diferentes matérias, de forma

a possibilitar um melhor aprendizado ao aluno. Essa ideia é construída por meio do diálogo

entre os docentes de modo a tornar o aprendizado mais didático, sem a sobreposição de

conteúdos.

Na área da geografia há uma grande abertura à entrada desse método de ensino,

uma vez que a mesma se relaciona diretamente com a sociologia por meio do estudo de

temas como ética e análise de mercado, por exemplo, além do estudo do espaço social e

geográfico.

Durante as discussões no grupo focal, foi destacada pelos alunos a ideia de que, na

maioria das vezes, o aprendizado de filosofia nas escolas tradicionais é restrito, isto é,

recoberto pelo estudo de temas muito definidos e sem a abertura para uma discussão mais

profunda. Já com a disciplina de sociologia, os alunos relataram a apresentação dos

conteúdos de forma mais palpável e com a abertura de espaço para análises e discussões a

cerca dos temas.

5. INÍCIO DE UM DEBATE

Em decorrência da introdução da filosofia e sociologia como disciplinas

obrigatórias da grade curricular do Ensino Médio brasileiro, no ano de 2008, percebeu-se o

surgimento de novas possibilidades à área das ciências humanas. Neste contexto, o

presente trabalho buscou realizar uma análise dos novos desafios do eixo das ciências

humanas a partir da incorporação das citadas disciplinas. Em uma ideia inicial, o trabalho

tinha como fim analisar a perspectiva da introdução da filosofia e sociologia no ensino

médio na visão da geografia, porém, no decorrer do projeto, se tornou perceptível que o

referido contexto não apresentou novos desafios somente à geografia, mas a toda a área das

ciências humanas.

A pesquisa foi desenvolvida no Colégio de Aplicação - COLUNI por meio da

realização de um grupo focal direcionado à promoção de uma discussão sobre o tema entre

23

alunos no Ensino Médio da referida instituição de ensino. Os dados obtidos nesta discussão

serviram de base para a elaboração do trabalho.

Em um balanço das informações obtidas no grupo focal, foi possível perceber que

as disciplinas de sociologia e filosofia são de grande importância na formação, tanto

pessoal quanto acadêmica, do estudante. Isso pode ser explicado pelo fato de que as

mesmas, em especial a sociologia – na forma como é apresentada nas escolas atualmente -,

abrem espaço para a realização de debates entre os alunos e o professor a fim de

proporcionar o surgimento de novas ideias a respeito de um determinado tema. Além disso,

as mesmas contribuem para a formação de um senso crítico e identidade pessoal e social

nos estudantes, haja vista que estes se encontram em um ambiente e faixa etária propícios a

isso.

Dessa forma, o objetivo geral do trabalho foi alcançado e a pesquisa é relevante no

sentido de que dá espaço para a realização de outros trabalhos na área. Isto porque a

mesma abre portas para projetos de modificação do sistema de ensino das Ciências

Humanas (no Ensino Médio) com o propósito de dar fim ao estilo tradicional e

ultrapassado das aulas que a educação brasileira está acostumada, e ampliar a inserção de

propostas que tenham como base a dinamização das aulas.

No contexto do COLUNI, que é uma instituição de Ensino Médio da rede pública

federal, esta pesquisa é relevante uma vez que o colégio recebe estudantes na faixa etária

de 14 a 18 anos de toda a região que, em sua maioria, começam a morar sozinhos e,

portanto, dão inicio a vida adulta precocemente. Dessa forma, os alunos têm a necessidade

da criação de um senso de responsabilidade e independência, além de um pensamento

crítico e identidade pessoal. Portanto, a conexão das disciplinas relacionadas às ciências

sociais tem uma grande importância no contexto no qual o colégio e os estudantes estão

inseridos, o que torna a presente pesquisa pertinente.

Em relação às dificuldades verificadas na realização do trabalho, destacam-se a

complexidade na análise das opiniões apresentadas no grupo focal e dificuldade na

organização do projeto em si. A primeira está relacionada com a questão da análise dos

dados de forma objetiva, o que exigiu bastante esforço, uma vez que também sou uma

estudante da instituição na qual a pesquisa foi realizada e, dessa forma, tive o obstáculo de

me manter imparcial na interpretação das informações. Além disso, a realização do

24

trabalho exigiu bastante pesquisa a respeito dos temas tratados no grupo focal, o que se

constituiu como um obstáculo a ser superado ao longo do desenvolvimento do projeto.

Já a segunda dificuldade se relaciona com os problemas na organização e

sequenciamento das ideias a serem trabalhadas no decorrer do projeto. Este problema

poderia ser resolvido com um planejamento e exposição de todos os passos a serem

trabalhados durante a pesquisa no início do projeto, de forma que eu pudesse estar mais

situada sobre as etapas da mesma e, dessa forma, pudesse me organizar melhor.

Vale ainda ressaltar que o COLUNI, escola que propõe a ideia de um colégio de

aplicação cujos objetivos devem incluir projetos de pesquisa, administração e formação

profissional, deveria desenvolver um pensamento de forma a reorganizar sua matriz

curricular a fim de ampliar, diversificar e flexibilizar, seu quadro de disciplinas. Para isto

seria indispensável relacionar os ganhos advindos por meio da introdução da filosofia e

sociologia na escola.

Por fim, a conclusão deste trabalho se constitui apenas como um “início de debate”,

haja vista que o mesmo se apresenta como uma contribuição para futuras pesquisas, ou

mesmo material para elaboração de detalhamentos intelectuais mais profundos do fato

estudado. Portanto, a presente pesquisa abre caminhos para a elaboração de outros projetos

que busquem a construção de um ensino médio mais dinâmico e inclusivo.

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