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8/9 SuperEsportes • Brasília,domingo,19dejunhode2011 • CORREIO BRAZILIENSE Cop a de 195 0 Essa é uma das maiores amareladas da história. Em 16 de julho de 1950, um Maracanã lotado, construído especialmente para o evento, viu a Seleção canarinho sucumbir diante dos vizinhos uruguaios. Até então, o Brasil tinha feito uma excelente campanha. Goleadas contra Suécia e Espanha aumentaram a confiança dos jogadores. Cartazes espalhados nas ruas consagravam os anfitriões como campeões. Mas a decisão foi inesperada: Uruguai 2 x 1 Brasil. Messi Na última Copa do Mundo, na África do Sul, a Argentina tinha o time dos sonhos, comandado por Messi. Se no Barcelona o argentino fazia milagres, com a camisa azul e branca ele decepcionou nossos vizinhos e maiores rivais. Não conseguiu levar a equipe às semifinais. Isso custou a Messi a antipatia de seus conterrâneos. Embora seja elogiado e ganhe prêmios mundo afora, é muito contestado na sua própria terra natal. Amarel adas histór icas COMPORTAMENTO Correio conversacomespecialistasemostrao quesepassanacabeçadosatletasnosmomentos mais crí tic os.Saiba a razão dos desempen hos dece pciona ntes justam ente nas dispu tas decis ivas  P o rq u e e l es amarelam  nahoraH » V AGNER VA RGAS » MARIAN A DE PAUL A ESPE CIA L PARAPARAO C OR RE IO C omo os próprios atletas costumam dizer — ou  justificar —, o esporte é imprevisível e ninguém está livre de falhas. Quem com- pete sabe disso, mas para o tor- cedor a história é diferente. Vai explicar que aquele lance não era tão fácil quanto parecia na televisão e que haverá novas chances de conquistar o título. Nada disso. Diante do fracasso esportivo, especialmente em casos de amplo favoritismo, o rótulo para quem errou e per- deu é um só: amarelão. No dicionário, amarelar signi- fica perder a coragem diante de uma situação difícil. No mundo esportivo, é ser derrotado por aquele time muito mais fraco ou ter um desempenho abaixo do esperado no momento mais im- portante de uma competição. O amarelão é aquele cara que, no treino, é um monstro, faz tudo certinho, não erra nada, mas quando chega na hora de ser campeão, desaparece. Esse fenômeno tem tanto raí- zes psicológicas como físicas. Marcelo Boia, coordenador do curso de educação física do Uni- Ceub,expl icaque,duran tea parti- da, os atletas estão em um ritmo frenét ico,em que produze m gran- de quantidade de ácido láctico. “Quando os treinadores pedem temp o, vemo s os joga dore s deita- remou sen tar em,o quedificu ltaa constância do pH (potencial hi- drog eniôn ico) nos músculose faz com que, ao retornarem, percam o ritmo ”, analisa.  A principal razão das amarela- das, no entanto, está ligada ao psicológico de cada atleta, à difi- culdade de lidar com os obstácu- los.“Apressãoéumasituaçãoob-  jetiva. O que muda é como cada um a percebe. Para alguns, isso representaumaameaça,quegera pensamentos negativos, também chamadade ansi edad e cognit iva. Esse quadro de alta ansiedade, para o atleta que não consegue manejá-la, afeta o desempenho”, observa o psicólogo do esporte, Luciano Lopes. Den tro dofator psic ólog ico es- tão aind a dive rsasvariáve is como os patrocina dores,os adversários, a torcida e a vida pessoal. “Às ve- zes,o atl etaestá enf rent and o pro- blemasemsuafamíliaeissopode afetá-lo. Daí vem a importância da concentração antes das gran- des competições”, afirma Ronal- do Pacheco, professor de educa- çãofísicadaUnBemestreempsi- colog ia do espo rte.Fabío la Gomi - de, professora de psicologia da Universidade Católica de Brasília e técnica de handebol, acrescen- ta:“É cla ro queos gra ndes esp or- tistas estãoacostuma dos com tu- doisso,mas sem pretem al go que assusta mais. Um exemplo é um clássico Brasilx Argentina .  Além disso, é preciso ressaltar a questão da qualidade dos trei- nos. Um atleta bem preparado prov avel ment e não fica inse gu- ro na hora da competição. “Nos próprios treinos ele pode traba- lhar essa questão do estresse. É important e que ele chegue às grandes competições sabendo o que o esper a ”, diz Gomide. Individualxcoletivo Nãoérarovermosgrandesequi- pesou exc epci ona is atletasnãose saírem bem em disputas impor- tante s.“Atribui-s e a culpaaos atle- tas , masdificil menteé. T em uma equipeportrásdeleefatoresexter- nos que afetamseu rendi mento ”, destaca o professor Ronaldo Pa- checo.Elecitacomoexemplooca- so de LeBron James, jogador de bas que te do Mia mi He at,que tev e desempen ho decepciona nte nas fin aisda NBA . As outras equi pes marcammaisele.Tambémtema ques tão doscompanh eirosde gru- po,quepodiamnãoestartãobem.”  A psicóloga Fabíola Gomide conc ord a que o tal entoindivi dual até conta, mas, para ela, não é a chave para o sucesso. “Temos di- verso s talen tos indiv idua is na Se- leç ão Brasile ira de fute bol,mas os  jog ado resnão sãobons em grup o. Is sofez comquenãotivessemsu- ces so na s últ ima s Cop as,por isso amarelaram.”  Aquestãodapressãonoespor- te individual ou coletivo é outra quepodeafetarosatletas.Opsicó- logo Luciano Lopes ressalta que, enquanto no primeiro o peso de um erro recai sobre apenas uma pessoa,nosegundoébemdiferen- te .“Oerrode umpodegera r pr e-  ju ízopara os demais .”Já Gomi de defende o outro lado da moeda. “N o esp ortecoleti vo , a pre ssã o es- divid ida entre diver sas pessoa s que se apoiam. No individual, é uma pessoa aguentando tudo, tenta ndo super ar seu limit e. O ideal, então, segundo os es- pecialistas entrevistados pelo Correio, é analisar os casos indi- vidualmente e oferecer às equi- pes esportivas acompanhame nto psicológico diário.“Não adianta querer resolver os problemas pouco antes das competições. É ao longo de toda a preparação que se descobre porque cada um amarela ”, frisa Pacheco. Conheça casos clássicos de atletas e equipes que eram favoritos mas não conseguiram suportar a pressão. Apósficarcom o vic e-camp eona tona fin al da NBA , LeB ronJamesviu a fama de amarelão fic ar gru dadaà suaimagem A pr es são é um a situação objetiva. Oquemudaécomo ca da um a percebe. P ara algu ns, iss o repres enta uma amea ça. Esse quad ro de al ta an sie dad e af eta o desempenho” Lucian o Lope s, psicólogo do esporte Arquivo/CB Ronal d Martinez /AFP- 12/6/11

Psicologia do esporte reportagem CB1_19.06 Primeira parte

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8/9 • SuperEsportes • Brasília,domingo,19dejunhode2011 • CORREIOBRAZILIENSE

Copade1950Essa é uma das maiores amareladas dahistória. Em 16 de julho de 1950, umMaracanã lotado, construídoespecialmente para o evento, viu aSeleção canarinho sucumbir diante dos

vizinhos uruguaios. Até então, o Brasiltinha feito uma excelente campanha.Goleadas contra Suécia e Espanhaaumentaram a confiança dos jogadores.Cartazes espalhados nas ruasconsagravam os anfitriões comocampeões. Mas a decisão foi inesperada:Uruguai 2 x 1 Brasil.

MessiNa última Copa do Mundo, na Áfricado Sul, a Argentina tinha o time dossonhos, comandado por Messi. Se noBarcelona o argentino fazia milagres,com a camisa azul e branca ele

decepcionou nossos vizinhos emaiores rivais. Não conseguiu levar aequipe às semifinais. Isso custou aMessi a antipatia de seusconterrâneos. Embora seja elogiado eganhe prêmios mundo afora,é muito contestado nasua própria terra natal.

Amareladashistóricas

COMPORTAMENTO

Correio conversacomespecialistasemostraoquesepassanacabeçadosatletasnosmomentosmais críticos.Saibaa razãodosdesempenhosdecepcionantes justamentenasdisputasdecisivas

Porqueelesamarelam

nahoraH» VAGNERVARGAS» MARIANA DE PAULA

ESPECIAL PARAPARAO CORREIO

Como os próprios atletascostumam dizer — ou justificar —, o esporte éimprevisível e ninguém

está livre de falhas. Quem com-pete sabe disso, mas para o tor-cedor a história é diferente. Vaiexplicar que aquele lance não

era tão fácil quanto parecia natelevisão e que haverá novaschances de conquistar o título.Nada disso. Diante do fracassoesportivo, especialmente emcasos de amplo favoritismo, orótulo para quem errou e per-deu é um só: amarelão.

No dicionário, amarelar signi-fica perder a coragem diante deuma situação difícil. No mundoesportivo, é ser derrotado poraquele time muito mais fraco outer um desempenho abaixo doesperado no momento mais im-portante de uma competição. Oamarelão é aquele cara que, notreino, é um monstro, faz tudocertinho, não erra nada, masquando chega na hora de sercampeão, desaparece.

Esse fenômeno tem tanto raí-zes psicológicas como físicas.Marcelo Boia, coordenador docurso de educação física do Uni-Ceub,explicaque,durantea parti-da, os atletas estão em um ritmofrenético,em que produzem gran-de quantidade de ácido láctico.“Quando os treinadores pedemtempo, vemos os jogadores deita-remou sentarem,o quedificultaaconstância do pH (potencial hi-drogeniônico)nos músculose fazcom que, ao retornarem, percam

o ritmo”, analisa. A principal razão das amarela-

das, no entanto, está ligada aopsicológico de cada atleta, à difi-culdade de lidar com os obstácu-los.“Apressãoéumasituaçãoob- jetiva. O que muda é como cadaum a percebe. Para alguns, issorepresentaumaameaça,quegerapensamentos negativos, também

chamada de ansiedade cognitiva.Esse quadro de alta ansiedade,para o atleta que não conseguemanejá-la, afeta o desempenho”,observa o psicólogo do esporte,Luciano Lopes.

Dentro do fator psicólogico es-tão ainda diversasvariáveis comoos patrocinadores,os adversários,a torcida e a vida pessoal. “Às ve-zes,o atletaestá enfrentando pro-blemasemsuafamíliaeissopodeafetá-lo. Daí vem a importânciada concentração antes das gran-des competições”, afirma Ronal-do Pacheco, professor de educa-çãofísicadaUnBemestreempsi-cologia do esporte.Fabíola Gomi-de, professora de psicologia daUniversidade Católica de Brasíliae técnica de handebol, acrescen-ta:“É claro queos grandes espor-tistas estãoacostumados com tu-do isso,mas sempretem algo que

assusta mais. Um exemplo é umclássicoBrasilx Argentina”.

 Além disso, é preciso ressaltara questão da qualidade dos trei-nos. Um atleta bem preparadoprovavelmente nãoficará insegu-ro na hora da competição. “Nospróprios treinos ele pode traba-lhar essa questão do estresse. Éimportant e que ele chegue às

grandes competições sabendo oque o espera”, diz Gomide.

Individualxcoletivo

Nãoérarovermosgrandesequi-pesou excepcionais atletasnão sesaírem bem em disputas impor-tantes.“Atribui-se a culpaaos atle-tas, masdificilmente é. Tem umaequipeportrásdeleefatoresexter-nos que afetamseu rendimento”,

destaca o professor Ronaldo Pa-checo.Elecitacomoexemplooca-so de LeBron James, jogador debasquete do Miami Heat,que tevedesempenho decepcionante nasfinaisda NBA. “As outras equipesmarcammaisele.Tambémtemaquestãodoscompanheirosde gru-po,quepodiamnãoestartãobem.”

 A psicóloga Fabíola Gomideconcorda que o talentoindividualaté conta, mas, para ela, não é achave para o sucesso.“Temos di-versos talentos individuais na Se-leção Brasileira de futebol,mas os jogadoresnão sãobons em grupo.Issofez comquenão tivessemsu-cesso nas últimas Copas,por issoamarelaram.”

 Aquestãodapressãonoespor-te individual ou coletivo é outraquepodeafetarosatletas.Opsicó-logo Luciano Lopes ressalta que,enquanto no primeiro o peso deum erro recai sobre apenas umapessoa,nosegundoébemdiferen-te. “Oerrode umpodegerar pre- juízopara os demais.”Já Gomidedefende o outro lado da moeda.“No esportecoletivo, a pressão es-tá dividida entre diversas pessoasque se apoiam. No individual, éuma pessoa aguentando tudo,tentandosuperarseulimite.”

O ideal, então, segundo os es-

pecialistas entrevistados peloCorreio, é analisar os casos indi-vidualmente e oferecer às equi-pes esportivas acompanhamentopsicológico diário.“Não adiantaquerer resolver os problemaspouco antes das competições. Éao longo de toda a preparaçãoque se descobre porque cada umamarela”, frisa Pacheco.

Conheça casos clássicos de atletas e equipes que eramfavoritos mas não conseguiram suportar a pressão.

Apósficarcomo vice-campeonatona finaldaNBA, LeBronJamesviu a famadeamarelão

ficargrudadaà suaimagem

A pressão é umasituação objetiva.Oquemudaécomocada um a percebe.Paraalguns, issorepresenta umaameaça. Esse quadrode alta ansiedadeafeta o desempenho”

Luciano Lopes,psicólogo do esporte

Arquivo/CB

Ronald Martinez/AFP- 12/6/11