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JULHO DE 2016 – N º 26 Equipes especializadas garantem assistência completa em Cardiologia boas mãos Em Neurologia destaca-se no estudo de síndrome rara Iniciativa leva literatura e música a pacientes IMAGEM: KJPARGETER/FREEPIK.COM

PUCRS Saúde nº 26 – Julho de 2016

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Revista do Hospital São Lucas da PUCRS - Porto Alegre/RS

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J U L H O D E 2 0 1 6 – N º 2 6

Equipes especializadas garantem assistência completa em Cardiologia

boas mãosEm

Neurologia destaca-se no estudo de síndrome rara

Iniciativa leva literatura e música a pacientes

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E D I T O R I A L

Situações limites entre a vida e a morte requerem agilidade e ca-pacidade técnica para oferecer

o tratamento mais resolutivo. As emer-gências cardiológicas representam um desses casos e, para atendê-las de for-ma mais eficiente, o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) empreendeu diversas iniciativas. São ações que envolvem estruturação de equipes, capacitação e investimento tecnológico para que cada minuto, essencial à recuperação do pa-ciente, seja adequadamente aproveitado para proporcionar o melhor desfecho.

Preparados para agir

Reitor: Joaquim Clotet Vice-Reitor: Evilázio Teixeira

Hospital São Lucas da PUCRS Diretor-geral e administrativo: Leomar BammannDiretor administrativo-adjunto: Lauri Heck Diretor técnico e clínico: Plínio Vicente Medaglia FilhoDiretor acadêmico: Marlow KwitkoDiretor financeiro: Ricardo Minotto

PUCRS SaúdeEditora: Angela VencatoRepórter: Jeniffer CaetanoEstagiário: Rafael Macedo RamosFotógrafos: Bruno Todeschini e Camila CunhaRevisão: Lucas TcacencoArquivo fotográfico: Camila Paes Keppler e Márcia SartoriConselho editorial: Fábio Etges, Lauri Heck, Magda Achutti, Marlow Kwitko, Plínio Vicente Medaglia Filho, Raquel Martins e Ricardo MinottoImpressão: Epecê-GráficaEditoração eletrônica: PenseDesignColaborou nesta edição: Cássia Marques Martins

A revista PUCRS Saúde é editada pelo núcleo de Imprensa do Hospital São Lucas da PUCRS – Avenida Ipiranga, 6.690 – 2º andar – CEP: 90.610-000 – Porto Alegre (RS) – Fone: (51) 3320-3445 – Fax: (51) 3320-3401

[email protected]

www.hospitalsaolucas.pucrs.br

SUMÁRIO

3 Palavra da Direção 4 Acontece Tecnologia avançada contra o câncer 5 Acontece Nova fase para a Oncologia 6 Acontece Reconhecimento às boas práticas 7 Acontece Marca de 1,5 mil transplantes

renais é alcançada 8 Capa Coração bem-cuidado 14 Segurança Agilidade no atendimento cardiológico 15 Especialidade Alto poder resolutivo é diferencial 16 Entrevista Gustavo Turecki – Epidemia silenciosa 18 Pesquisa Luta contra o cigarro 19 Pesquisa Modelo a copiar 20 Diagnóstico Diabetes: controle

ajuda a reduzir danos 22 Investimento Mudanças miram segurança

e assistência qualificada 23 Investimento Exames de ponta em nova estrutura 24 Integra Arte que faz bem à saúde 26 Viva melhor Descanso reparador 27 Bastidores Assistência humanizada 28 Curtas 30 Trajetória Domingos D’Avila – História de

integração a serviço da saúde 31 Crônica Ivan Antonello – Viver, sempre.

Elaborar, quando possível!

Esses são os aspectos abor-dados na reportagem de capa desta edição. Nela está detalhado o que a Cardiologia do HSL ofere-ce em suas distintas dimensões, desde as que são voltadas a ca-sos urgentes àquelas destinadas ao acompanhamento clínico. A particularidade dessa assistência está representada em unidades de tratamento intensivo especia-lizadas, como a coronariana e a de pós-operatório de cirurgia cardíaca.

A publicação apresenta ainda novida-des em outras áreas da Instituição, como as de transplantes renais, neurologia, ra-dioterapia, pneumologia e dermatologia. Isso porque são múltiplas as habilidades inerentes a um hospital geral, como o HSL, que oferece atendimento em pra-ticamente todas as especialidades, sem deixar de aprimorar cada uma delas. Conheça também como é o trabalho de quem atua 24h ao dia, em todos os dias do ano, para prover alimentação a pacientes e funcionários.

Boa leitura!

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A gestão médica nos processos assistenciais dos hospitais é imprescindível, com mais peso

nos universitários, onde interagem pro-fissionais, professores e graduandos de vários cursos da área da saúde, como é o caso do nosso Hospital. É in-questionável a importância dos demais profissionais que atuam junto aos pa-cientes, sendo o médico que demanda as ações diagnósticas e terapêuticas, apoiado por enfermeiros, fisiotera-peutas, farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos, profissionais da área do serviço social, entre outros. Todos são importantes e é essencial o caráter interdisciplinar da assistência, para que toda a equipe atinja seu objetivo maior, que é a recuperação do paciente.

O Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) possui 51 serviços médicos, incluindo todas as especialidades e áreas de diagnóstico e tratamento complementares, com chefias direta-mente vinculadas à direção técnica. Com a preocupação de manter esses profissionais alinhados ao plano estra-tégico e com canal ágil para trazerem suas demandas operacionais, a di-reção executiva realiza, sistematica-

O papel e o desafiodo médico na gestão hospitalar

PA L A V R A D A D I R E Ç Ã O

especial à Jaqueline e Camila, que, juntamente com o Dr. Gadonski, muito nos auxiliaram em proporcionar ao nosso querido René que ficasse mais tempo conosco. Essas pessoas fazem do Hospital um centro de exce-lência na prestação dos serviços médicos.

Ana Luísa Johann Leal, Eloi, Luciana e Marcelo Johann

Gostaria de agradecer a estadia no HSL, com os melhores profissionais em atendimento, o ambiente, as informações prestadas. São profissionais muito dedicados, que me cuidaram com todo o carinho e atenção. Estão todos de parabéns e eu, muito orgulho-sa pela escolha que fiz ao vir colocar ao mundo o meu bem mais precioso, a Annie.

Jacqueline Machado

Familiares do paciente René Luiz Johann expressam seu agradecimento por todo o apoio recebido durante os períodos de internação. Aos excelentes médicos Ricardo Piantá, Luiz Francisco Zimmer Neto, Giovani Gadonski, Milton Oliveira e Fernando Buratto, que sempre nos atenderam com muita competência e carinho. Às equipes de enfermagem, auxiliares e técnicos; nutrição, limpeza, laboratório de aná-lises clínicas e internação do 9º andar, que não pouparam esforços para que nos sentíssemos em casa. Nosso muito obrigado à Ir. Iolanda Schneider e sua equipe pelo suporte espiritual. Agradecemos a atenção e o pronto atendimento quando chegávamos à Emergência, bem como às equipes médicas e de enfermagem que nos acolheram nos últi-mos momentos junto à UTI. Agradecemos imensamente o carinho e a dedicação da equipe da Diálise Peritoneal, em

A G R A D E C I M E N T O S

podendo surgir crí-ticas propositivas para melhorias e aperfei çoa mentos, bem como reco-nhecimento pelo trabalho executado.

Essas estratégias visam, além de reforçar a participação médica, for-talecer seu esforço no alcance dos resultados esperados, de modo a garantir a sustentabilidade da Institui-ção. A presença desse profissional, exercendo gestão nas estratégias operacionais do Hospital, é de vital importância para assegurar que a Ins-tituição cumpra sua missão de prestar assistência, formar profissionais e construir conhecimento.

FOTO: BRUNO TODESCHINI

mente, reuniões com integrantes dos serviços. São momentos de revisitar o planejamento estratégico e os resul-tados obtidos; reforçar as metas pro-postas e proporcionar oportunidade para que questões relativas às ativida-des sejam trazidas para debate, bus-cando aperfeiçoamentos, inovações e soluções a entraves operacionais.

Esse espaço de diálogo é consi-derado estratégico para aproximar os médicos da direção, demonstrando a relevância que os profissionais têm para o HSL e para o bom atendi-mento dos pacientes. A experiência tem trazido avanços significativos, fidelizando-os aos processos assis-tenciais e gerenciais e incluindo-os como participantes nas decisões e nos planejamentos propostos.

Paralelamente, é exercitada pela Instituição, sob coordenação de seu Escritório da Qualidade, a visita se-manal a duas unidades assistenciais ou de apoio, da qual participam dire-tores e representantes das equipes médica, de enfermagem e admi-nistrativa envolvidas com as ações locais. É analisada a evolução do gerenciamento da rotina da unidade,

Plinio Vicente Medaglia Filho, diretor técnico e clínico

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A C O N T E C E

Tecnologia avançada

contra o câncer

PERSPECTIVASSlotman está envolvido atualmente em

estudos para entender porque, em alguns tratamentos, a alta dose de radioterapia apresenta efeito no sistema imune, esti-mulando-o e gerando um efeito positivo em todo o corpo. Ao tratar uma lesão, por exemplo, outra também diminui. “Sabe-mos que acontece, mas a forma como isso funciona é completamente desco-nhecida. É uma das razões pelas quais a SBRT é tão efetiva.”

Para o futuro, o que se busca é como obter imagens do tumor durante a irra-diação e, a partir disso, fazer um novo planejamento do tratamento a cada ses-são. Atualmente, o plano é feito antes de iniciar e é mantido em toda a sua duração. “Estamos trabalhando nisso, mas é caro e leva tempo. Provavelmente levará de cinco a dez anos para estar amplamente disponível, tornando o tratamento mais efetivo e para mais indicações”, afirma o especialista.

R E F E R Ê N C I A E M R A D I O C I R U R G I A , M É D I C O H O L A N D Ê S A P R E S E N T O U N O V I D A D E S E C O N H E C E U E S T R U T U R A D O H S L

da coluna vertebral, destacando as-pectos técnicos e indicações clínicas. O avanço tecnológico atual permite a aplicação de uma dose muito alta de radiação com ótima precisão, preservando tecidos normais e re-duzindo a toxicidade. “Pessoas que, no passado, acreditava-se que não havia muito o que fazer, podem agora ser tratadas”, explica. Na avaliação do chefe do Serviço de Radioterapia, o radioterapeuta Aroldo Braga Filho, “é a diferença entre a cura e o tratamento paliativo. Temos, no HSL, as técnicas, as facilidades e os equipamentos; num país como o Brasil, precisamos ter esse tipo de abordagem, porque a diferença no controle da doença é muito grande, quando comparada à radioterapia convencional”.

Além disso, o valor do proce-dimento, dependendo do país, é menor que o da cirurgia, pois não requer internação. Em relação à sobrevida, o resultado depende do tipo de tumor. “Para câncer de pul-mão operável em estágios iniciais, temos pacientes que não poderiam ser operados com 65% deles vivos depois de cinco anos do tratamento com radiocirurgia. É um excelente resultado”, afirma Slotman. Desta-cam-se ainda, como vantagens, a manutenção da qualidade de vida e os poucos efeitos colaterais. É importante alternativa em câncer de próstata, além de ser indicado a pacientes com até três metástases pulmonares. Braga acrescenta que a radiocirurgia é usada em tumores cerebrais desde 2013 no HSL.

Substituir com eficácia um lon-go tratamento de radioterapia, com mais de 30 sessões, por

até oito aplicações de doses eleva-das de radiação. Ou ainda oferecer a possibilidade de cura a pacientes com câncer que não podem ser submetidos à cirurgia. Esses são alguns dos benefícios da radiocirur-gia, técnica usada desde 2010 na Europa para tratar tumores e que, há alguns anos, passou a ser emprega-da no Brasil. Os avanços na área são crescentes e foram apresentados pelo médico holandês Ben Slotman no Simpósio Radioterapia Estereo-táxica Ablativa – Radiocirurgia Extra-craniana, promovido pelo Serviço de Radioterapia em janeiro de 2016.

Professor e chefe do Departamen-to de Oncologia Radioterápica da Vrije Universiteit Medical Center, de Amsterdã (Holanda), Slotman é reco-nhecido por suas pesquisas. É autor e coautor de mais de 250 artigos em revistas científicas e participa de pro-tocolos internacionais que estudam como aplicar a radiocirurgia. No HSL, conheceu a nova estrutura da Ra-dioterapia, que passou a dispor, em 2015, de mais um acelerador linear de última geração. “A instalação do Trilogy é realmente um passo à fren-te. O serviço começou a tratar muito mais casos com SBRT (radiocirurgia estereotáxica extracraniana), a curar mais pacientes e a ser uma alternati-va à cirurgia”, avalia Slotman.

Na ocasião, o especialista falou sobre o emprego da SBRT em casos de tumores pulmonares, hepáticos e

Ben Slotman proferiu palestra em simpósio do HSL

FOTO: BRUNO TODESCHINI

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A C O N T E C E

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IMAGEM: DIVULGAÇÃO

OncologiaNova fase para a

S I S T E M A I N T E G R A D O D E T R A T A M E N T O D O C Â N C E R I N A U G U R A Á R E A P A R A A T E N D E R P A C I E N T E S E M Q U I M I O T E R A P I A

O Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) inaugura, em julho, o Centro de On-

cologia Clínica, que abrigará a Unidade de Quimioterapia. Com 273 metros quadrados, o novo ambiente trará mais conforto aos 800 pacientes recebidos mensal-mente e seus acompanhantes. No local são dispensados todos os tratamentos oncológicos, que abrangem quimioterápicos, drogas biológicas e de administração oral. Serão 14 poltronas e quatro leitos, para realização de quimioterapias de infusão prolongada. A nova estrutura viabilizará acréscimo de 20% nos atendimentos.

“Tecnicamente já temos um padrão muito bom, mas ambien-talmente, agora, entraremos no padrão ouro”, ressalta o chefe do Serviço de Oncologia e da Quimio-terapia do HSL, Sérgio Lago. Outro benefício para os usuários será a efetivação de uma escala de so-breaviso entre os oncologistas do Hospital, para assistência veloz em casos de intercorrência no setor.

A iniciativa completa o sistema integrado de tratamento do câncer na Instituição, composto ainda por métodos diagnósticos por ima-gem, como ressonância magné-tica, tomografia computadorizada e PET-CT, sendo este realizado pelo Instituto do Cérebro, compo-nente de distinção nesta linha de cuidado; Serviço de Radioterapia; Centro de Pesquisa Clínica e Ins-tituto de Pesquisas Biomédicas, além da assistência ambulatorial aos pacientes.

O câncer é a segunda causa de morte em nossa sociedade e, segundo a Or-ganização Mundial da Saúde, espera-se aumento de 70% no número de casos nas próximas duas décadas. O Centro de Oncologia Clínica é mais uma etapa do processo de qualificação dos servi-ços nessa área no HSL. Além do am-bulatório da especialidade, que atende, em média, 1.300 pacientes por mês, a Instituição possui completa e atualizada tecnologia, tanto na área diagnóstica como na de tratamento do câncer.

Exemplo disso é a Radioterapia, que, nos últimos anos, passou por reformas no espaço físico e somou dois novos equipamentos de última geração, os aceleradores lineares Clinac iX e Trilogy. Entre outras funcionalidades, ambos permitem a execução de radiocirurgia; Radioterapia com Intensidade Modu-lada (IMRT), que regula a intensidade da radiação, protegendo órgãos ou estruturas próximas ao tumor que não toleram doses elevadas de irradiação; e Radioterapia Guiada por Imagem (IGRT),

que trata e realiza tomografia computa-dorizada em tempo real, com imagens tridimensionais de alta definição e preci-são milimétrica.

Na área da pesquisa clínica em on-cologia, o Hospital também se destaca. Seu Centro de Pesquisa Clínica é líder nacional no setor e, no momento, realiza mais de 200 ensaios, predominando, dentre eles, as testagens de novas drogas oncológicas em parceria com a indústria farmacêutica. O Centro conta com estrutura de 750 metros quadra-dos e integra a Rede Nacional de Pes-quisa Clínica.

Segundo Lago, a modalidade dos ensaios clínicos foi responsável por uma revolução nos últimos anos, trazendo uma mudança substancial no tratamen-to da doença e melhorando o bem-estar dos pacientes. “Para os participantes, a pesquisa é ótima. Durante a realização dela, esses produtos extremamente caros, exclusivos e de ponta são dispo-nibilizados gratuitamente. Um benefício incrível”, destaca.

Ilustração demonstra como ficará o Centro de Oncologia, instalado no

2º andar do HSL

ATENÇÃO INTEGRAL

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FOTO: BRUNO TODESCHINI

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TRABALHO CONTÍNUO

Divulgar e verificar a aplicação das metas de segurança do Minis-tério da Saúde são prioridades do Núcleo de Segurança do Paciente. Para tanto, são realizadas campa-nhas internas, abordando os seguin-tes tópicos: higienização das mãos; prevenção de quedas e de úlcera por pressão; identificação correta do paciente; comunicação e registro seguros; e cirurgia segura.

A C O N T E C E

OHospi ta l São Lucas da PUCRS (HSL) recebeu, em 2015, a certificação de Acre-

ditado Pleno pela Organização Na-cional de Acreditação (ONA). Desde 2011, a Instituição era Acreditada por atender aos critérios de segurança do paciente em todas as áreas da ativi-dade. Além desse aspecto, a nova categoria conquistada considera a gestão integrada. Algumas iniciativas contribuíram para o avanço. Entre elas estão o estabelecimento das seis metas de segurança do paciente, preconizadas pelo Ministério da Saú-de; o gerenciamento do protocolo de sepse; e os rounds multidisciplinares realizados nas unidades de interna-ção, sob coordenação da médica Fernanda Longhi, assessora da Dire-ção Técnica e Clínica.

O foco dos rounds é reduzir a mé-dia de permanência de quem está in-ternado. Para tanto, é analisado caso a caso, verificando o motivo da inter-nação e a previsão do tratamento. A partir disso, avalia-se o que é preciso para que a alta hospitalar ocorra com segurança e as necessidades são agilizadas junto às unidades compe-tentes. Segundo Fernanda, a prática já resultou em melhora nos processos e na segurança. A iniciativa envolve médicos, enfermeiros, nutricionis-tas, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas e funcionários admi-nistrativos. A multidisciplinaridade da equipe é um ponto positivo na opinião da médica.

Outros aspectos reforçados junto aos colaboradores e que contribuíram para a melhora na acreditação são as

Reconhecimentoàs boas práticasN O V A C L A S S I F I C A Ç Ã O E M A C R E D I T A Ç Ã O H O S P I T A L A R D E M O N S T R A M E L H O R A N A S A Ç Õ E S D E S E G U R A N Ç A D O P A C I E N T E E N A G E S T Ã O I N T E G R A D A

metas de segurança do paciente, os protocolos institucionais e as no-tificações de eventos adversos. Esses te-mas são abordados em treinamentos mensais, promovidos pelo Nú-cleo de Segurança do Paciente, e na integra-ção de novos colabora-dores. De 2015 a maio de 2016, foram capa-citados 1.083 funcio-nários novos e 420 do quadro da Instituição. A aplicação prática das orientações é acompanhada por meio de auditorias e de indicadores de segurança assis-tencial. A enfermeira Fernanda Boaz, do Núcleo, diz que o objetivo é ga-rantir a melhora constante nas ações, tanto para manter o nível de acredi-tação alcançado como para buscar o próximo. A recertificação ocorre a cada dois anos e, em 2016, o Hos-pital receberá a visita de manutenção.

O protocolo de sepse e seu ge-renciamento também são exemplos positivos. Para garantir a dissemina-ção e aplicação das diretrizes, elas são trabalhadas junto às unidades por meio de treinamentos. Além disso, iniciativas são realizadas para aprimorar a sua utilização, como a organização de um fluxo de pedido e liberação de exames e medicamentos com prioridade para esses casos. O processo envolve diferentes setores e contribui para o atendimento ágil, fundamental para evitar o agravamen-to do quadro. As informações são or-

ganizadas em um banco de dados, permitindo ava-liar o que precisa ser melhorado no processo. Essa prática, coordenada pelo Serviço de Controle de Infecção, envolve as áreas de farmácia, de enfermagem, laboratorial e médica no gerenciamento do protocolo.

Fernanda Longhi (D) coordena round realizado na internação do 9º andar

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é alcançada

Marca de 1,5 mil

transplantes renais

EM DETALHESOs transplantes tiveram início no HSL

em 1978, com o nefrologista Domin-gos d’Avila. A trajetória do serviço e o perfil dos pacientes foram pesquisados pelo nefrologista Leonardo Kroth, que coordenou a Organização de Procura de Órgãos do HSL (OPO2) até 2015. O resultado apontou a diminuição das complicações no pós-operatório e das taxas de infecção, apesar de os pa-cientes, atualmente, serem mais enfer-mos e graves, exigindo procedimentos com maior grau de complexidade. Ou-tra característica é o aumento da idade dos pacientes nos últimos anos.

A OPO2 atua desde 2011 e incre-mentou o número de transplantes não apenas no Hospital, mas em todo o Es-tado, junto a outras unidades. “Temos resultados muito bons se comparados a outros centros do país e, até mesmo, internacionais”, ressalta Kroth. O Brasil é o segundo País em transplantes e o RS

destaca-se como o estado que mais realiza transplantes renais por milhão de habitantes. Apesar dos resultados favo-ráveis, em maio de 2016, 878 pessoas aguardavam por um rim no Estado e a taxa de recusa familiar fica em torno de 50%, conforme dados da Central de Transplantes do Rio Grande do Sul.

I N S T I T U I Ç Ã O É A Ú N I C A N O E S T A D O A R E A L I Z A R O P R O C E D I M E N T O P O R V I D E O L A P A R O S C O P I A E N T R E P E S S O A S V I V A S

Os chefes dos serviços de Nefrolo-gia, Carlos Eduardo Poli de Figueiredo, e de Cirurgia do Transplante, Marcelo Hartmann, comemoram o resultado. “É com imensa alegria e satisfação que celebramos essa marca tão sig-nificativa, sentimento que compartilho com todos os profissionais; com os pacientes, que tanto necessitam do transplante; e com os familiares dos doadores, que, em um momento de dor profunda, têm um ato de bondade e amor ao próximo”, diz Hartmann.

OHosp i t a l São Lucas da PUCRS (HSL) celebrou uma marca histórica: o transplante

renal de número 1.500. Esse tipo de cirurgia mantém-se em gradativo cres-cimento na Instituição, com média anu-al de 100 intervenções, evidenciando o trabalho de referência dos Serviços de Cirurgia do Transplante e de Nefrologia. Desde 2002, o HSL é o único hospital no RS a realizar o procedimento inter-vivos com retirada do rim por meio de videolaparoscopia. A técnica oferece benefícios ao doador, como melhora da qualidade de vida em relação a ou-tras técnicas, cicatriz menor, redução da dor no pós-operatório e possibilida-de de alta precoce. Em mais de 150 casos foi utilizado o método.

O procedimento em destaque ocor-reu em 2 de dezembro de 2015 a partir da doação do órgão pela irmã do pa-ciente. Há sete anos, Lodejane Zanoni, 42, foi diagnosticado com perda da função renal e tratava-se com controle de dieta, sem realizar hemodiálise. O agricultor é acompanhado pelo nefrolo-gista Moacir Traesel, que o avisou sobre a possibilidade de realizar a cirurgia. Zanoni pertence a uma família de seis irmãos e, entre eles, Nadirce, 48, foi quem apresentou as melhores condi-ções de saúde e compatibilidade para a doação. “Foi difícil e doloroso, mas é algo muito gratificante saber que ele está vivo por minha causa”, declara. Ele manifesta gratidão e comemora: “Saber que posso levar uma vida quase normal é o mais importante. Não tem como não ficar contente. É uma nova vida”.

Zanoni junto à esposa, Vanessa Marini Zanoni, durante a recuperação do transplante

FOTO: ANGELA VENCATO

A C O N T E C E

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PERFIL DOS PACIENTES

• Receptores (idade média): 45 anos; desde 2010, 5% tinham mais de 70 anos;• Doadores (idade média): 42 anos; • Índice de rejeição: inferior a 20%;• Sobrevida: 95% para recepto-res de doador vivo e 80% para doador falecido (em cinco anos de acompanhamento).

Fonte: Nefrologista Leonardo Kroth

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C A PA

Para oferecer atendimento in-tegral em Cardiologia, desde situações graves e de urgência

até casos eletivos, o Hospital São Lu-cas da PUCRS (HSL) possui estrutura completa que se aprimora constante-mente. Fazem parte desse processo uma Emergência dinâmica; um Centro de Diagnóstico e Tratamento Interven-cionista (CDTI) com profissionais qua-lificados e equipamentos modernos; equipes de cirurgia e de intensivismo especialistas na área cardiovascular; e ainda leitos para internação, consul-tórios para atendimento ambulatorial e uma unidade para realização de exa-mes não invasivos, o CardioPUC. O quadro clínico do paciente ao chegar à Instituição é o que define como e onde este será atendido.

A maioria dos casos da especiali-dade originam-se na Emergência e, para aprimorar a assistência, foi im-plantado o Protocolo de Dor Torácica. Ele classifica os casos graves e deter-mina os exames e cuidados necessá-rios. “A iniciativa diferencia o Hospital com uma linha de atendimento de

Coração bem-cuidado

Nova área com oito leitos é voltada a atender pacientes graves de convênio e particular

urgência muito consistente, em que o tempo é crucial. A intenção é que o paciente seja prontamente atendido, que em 10min se tenha o eletrocar-diograma feito, as enzimas dosadas e que toda a assistência a partir daí ocorra no menor tempo possível”, afirma Plinio Vicente Medaglia Filho, diretor técnico e clínico do HSL. Além de médicos emergencistas, a unida-de conta com médico residente e seu preceptor do Serviço de Cardiologia, além do cardiologista de plantão no Hospital, responsáveis por avaliar e discutir a terapêutica mais indicada para os pacientes.

Conforme a decisão, o caso pode ser encaminhado ao CDTI, para reali-zação de diagnóstico mais detalhado ou tratamento hemodinâmico. Outra

FOTOS: BRUNO TODESCHINI

C O M E Q U I P E S E U N I D A D E S E S P E C I A L I Z A D A S N A A S S I S T Ê N C I A C A R D I O L Ó G I C A , H O S P I T A L C O N T A C O M E S T R U T U R A C O M P L E T A P A R A D I A G N Ó S T I C O E T R A T A M E N T O

P O R A N G E L A V E N C A T OE J E N I F F E R C A E T A N O

possibilidade é ser direcionado à unidade de tratamento in-tensivo (UTI) coronariana ou à cirurgia cardíaca. A recuperação final ocorre nas unidades de internação. “A ideia é termos um atendimento adequado, rápido e integrado entre as áreas da Cardiologia, desde o acolhimento na Emergência, passando por CDTI, UTI, indo para o andar e utilizando-se de todos os métodos diagnósticos inva-sivos e não invasivos que o serviço dispõe”, destaca Mario Wiehe, coor-denador da área Cardiológica.

Uma nova ala com oito leitos moni-torados foi construída na Emergência para atendimento de pacientes graves de convênios e particulares. O chefe

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Coração bem-cuidado

Mario Wiehe discute os casos da Emergência com a residente Gabriela Tortato

da Emergência, Saulo Bornhorst, destaca que a Cardiologia tem papel muito importante nessa estrutura, pois as doenças cardíacas respondem por 19% dos atendimentos. “Somos um dos poucos hospitais em Porto Alegre com UTI dedicada ao atendi-mento cardiovascular. Temos como atender o paciente de convênio de forma adequada, mas precisávamos de uma Emergência mais estruturada, que passamos a ter com a nova sala laranja”, frisa. Foi contratada mais uma equipe de médicos emergencistas para atender a nova área; com isso, são dois especialistas na assistência a casos graves à disposição. Além disso, há o suporte da residência médica, com três especialidades atu-ando no local: Cardiologia, Medicina

Interna e, a mais recente, Medicina de Emergência, criada em 2016. O objetivo, segundo Bornhorst, é apro-ximar as três áreas com a realização de rounds da Cardiologia conjuntos, com a preceptoria de Wiehe.

O acompanhamento clínico de pessoas com problemas cardíacos ocorre no ambulatório e é dividido por subespecialidades: cardiopatia isquêmica; pós-operatório de cirurgia cardíaca; valvulopatias; hipertensão e síndrome metabólica; arritmias e insuficiência cardíaca. Os pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), encaminhados pelos postos de saú-de, são atendidos pelos residentes da especialidade com o acompa-nhamento constante de preceptores especial istas em cada uma das

áreas. Além disso, cresceu a oferta de consu l tas a clientes de convê-nios, com oito médicos à disposição. A marcação é feita pela Central de Agendamento.

Para completar o diagnóstico, o CardioPUC oferece teste ergométrico de esforço, monitorização da pressão arterial por 24h (Mapa), monitoriza-ção da frequência cardíaca por 24h (Holter), ecocardiograma e eletro-cardiograma. “Buscamos oferecer à nossa comunidade um serviço com agilidade diagnóstica, que acolha bem o paciente, e com resolubilidade terapêutica. Queremos que o Hospital seja referência no tratamento de pato-logias cardíacas”, destaca Medaglia.

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C A PA

O paciente que chega com infarto ao Hospital necessita que a artéria coronária afetada seja desobstruída o mais rápido possível. O tratamento é feito através de um cateter, num procedimento pouco invasivo para a colocação de stent – tubo expansí-vel implantado para manter a artéria aberta. Esse atendimento ocorre no Centro de Diagnóstico e Tratamen-to Intervencionista (CDTI), chefiado pelo cardiologista Paulo Caramori. O médico diz que cerca de 70% dos procedimentos feitos são em caráter de urgência e emergência. Enqua-dram-se nessa classificação aqueles que precisam ser realizados imediata-mente ou em até 72h.

“Quando o infarto acontece, o tempo é contado em minutos e o paciente vem muito rapidamente para a sala de hemodinâmica. É o equi-valente a apagar um incêndio. Fora essas situações, temos as demandas eletivas, que não são urgentes e se beneficiam do esforço feito para nos estruturarmos para atender casos mais complexos, com real risco de vida, e que lutamos para garantir o sucesso no final”, diz Caramori. O serviço conta com três salas de hemodinâmica e equipe médica pre-sente ou de sobreaviso em tempo integral. Além da cardiologia interven-cionista, que responde por 70% dos atendimentos, o CDTI é utilizado pelas áreas neurovascular, de eletrofisiolo-gia, cirurgia endovascular e radiologia intervencionista. Até maio de 2016, foram realizados, em média, 400 pro-cedimentos ao mês.

O chefe do Centro ressalta que o Hospital realiza investimentos conti-nuados para manter o serviço com os melhores equipamentos disponíveis e com as equipes (médica, de enferma-gem e administrativa) treinadas. Para tornar o atendimento mais ágil, o CDTI apoiou a implantação do Protocolo de Dor Torácica na Emergência, com ca-pacitação do grupo de profissionais. Dessa forma, definiram-se as diversas etapas do procedimento e de quem é

MINIMAMENTE INVASIVO

a responsabilidade de executá-las em tempo hábil. “Cada minuto ganho no atendimento reduz os dias de inter-nação. Em sistemas organizados, o estabelecimento do protocolo de dor torácica reduz em 30% os recursos gastos e em 30% as complicações ou a mortalidade associada ao infar-to”, explica Caramori.

Nesse sentido, é realizado um tra-

balho junto a outros hospitais que encaminham pacientes ao CDTI para melhorar o relacionamento e capacitar profissionais, in loco, no protocolo. O objetivo é estender a essas instituições o sistema de atendimento, para que o paciente chegue melhor preparado para realizar o procedimento, em tem-po menor, e possa retornar mais pre-cocemente à sua instituição de origem.

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A equipe de cardiologia interven-cionista do CDTI tem se dedicado à realização de pesquisas e utilização de novas tecnologias. São exemplos disso os novos stents bioabsorvíveis que, meses após serem implantados

EM ESTUDO

Cardiologistas Ricardo Lasevitch e Paulo Caramori (D) realizam procedimento hemodinâmico

FOTO: BRUNO TODESCHINI

para desobstruir o vaso sanguíneo, são absorvidos pelo organismo. Os materiais convencionais são de aço e, uma vez implantados, permane-cem para sempre. “A novidade surgiu como um grande avanço, mas ainda

há dúvidas de como pode ser melhor aplicada”, afirma Paulo Caramori. Por esse motivo, o cardiologista Vítor Go-mes, do Centro, está desenvolvendo um registro de implante do material bioabsorvível, comparando-o aos stents farmacológicos. Essa análise permitirá verificar quando a nova tecnologia é potencialmente mais benéfica ao paciente. Atualmente, é aplicada em torno de 15% a 20% dos casos em que o stent é necessário.

Outra pesquisa em andamento está relacionada ao tratamento percutâneo da estenose aórtica, doença que causa a calcificação da válvula aórtica e dificulta a circulação sanguínea. Como um percentual dos pacientes submetidos ao procedimento ne-cessita de marcapasso, foi realizada análise dos 819 casos que compõem o registro brasileiro desse tratamento e estabelecido o escore preditivo de necessidade do dispositivo. O risco pode variar de 4% a 60%, de acordo com as características clínicas do pa-ciente e da válvula utilizada.

“Identificar um paciente com mais alto risco nos permite estudar al-ternativas para reduzir esse índice no procedimento, otimizar o uso de recursos e, consequentemente, dimi-nuir o tempo de internação e garantir melhor recuperação da função do co-ração”, explica Caramori, que realizou a pesquisa junto ao eletrofisiologista do CDTI Andres Di Leoni Ferrari. O estudo foi submetido à publicação internacional e foi apresentado no congresso europeu de cardiologia intervencionista (EuroPCR), em Paris (França); e no congresso mundial de eletrofisiologia cardíaca (Cardiostim), em Nice (França).

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C A PA

A reorganização das unidades de tratamento intensivo (UTI) voltadas à Cardiologia teve início em 2015 e deve ser finalizada em 2016. Entre as medidas estão o agrupamento delas no terceiro andar e o acréscimo de seis leitos. Ao fim do processo, serão 30 leitos divididos igualmente em três unidades. A Coronariana é voltada a casos de síndromes coronaria-nas agudas, como infarto e angina instável. Junto a ela foi instalado o Pós-Operatório de Cirurgia Cardía-ca (POCC), para atender pacientes submetidos a procedimentos de colocação de ponte de safena (revas-cularização do miocárdio) e troca de válvulas cardíacas.

“Mesmo sendo um hospital geral, o HSL sempre se caracterizou por ter área específica na UTI para cardiolo-gia, que fica separada da UTI Geral, diferentemente de outras instituições. Contamos com profissionais especia-lizados nessas áreas”, destaca Mario Wiehe, coordenador da área Cardio-lógica. A reestruturação ficará com-pleta quando for instalada a unidade neurocardiovascular, que poderá ser

CUIDADO INTENSIVOApós reestruturação, Unidade Coronariana e POCC passaram a dividir área no terceiro andar

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usada por pacientes da Neurologia e da Cardiologia.

Chefiado pelo cardiologista João Carlos Guaragna, o POCC possui banco de dados específico de todos os pacientes operados. Em 20 anos de análise, somam-se mais de 5,5 mil registros de características pré e pós-operatórias, desfecho e variáveis do caso, propiciando a geração de conhecimento. Muitas pesquisas originam-se dessas informações e são apresentadas em congressos na-cionais e internacionais anualmente. Como fruto desse trabalho e do dou-torado do médico, foi criado o escore de risco para quem vai se submeter à cirurgia de troca de válvula cardíaca e à ponte de safena. Acima de 30% de risco, o procedimento é contrain-dicado.

Além de ser usado no HSL, o es-core foi validado externamente e pode ser adotado em outras instituições. Guaragna explica que há muitos escores disponíveis para uso, mas são internacionais e baseados em populações com outras característi-cas. “A nossa população é diferente

da europeia. Por exemplo, eles não fizeram um escore específico de válvulas e quem vai operar válvula é diferente daquele que vai fazer ponte de safena. O ético é cada hospital ter o seu escore ou validar o de fora na sua instituição”, explica Guaragna.

Embora muitos problemas cardía-cos sejam tratados por métodos in-tervencionistas, o volume de cirurgias cardíacas tem aumentado nos últimos anos pelo avanço da longevidade. “A aterosclerose coronariana é uma doen ça de pessoas idosas ou de meia idade. Como aumenta a idade da população, cresce a demanda, assim como os casos de calcificação das válvulas, a estenose aórtica”, aponta João Batista Petracco, chefe da Cirurgia Cardíaca. São realizadas, em média, dez cirurgias por semana e a maioria delas origina-se de pacien-tes da Emergência. O procedimento mais realizado é o de revascularização miocárdica. “Os casos estão cada vez mais graves e a recuperação de-manda muito tempo de UTI”, afirma o cirurgião, que comanda a área desde 1983.

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A residência médica ocupa espaço de vital importância no funcionamento de todas as áreas ligadas à Cardiolo-gia: clínica, cirúrgica, hemodinâmica, eletrofisiologia e ecocardiografia. São formados especialistas por meio do programa formal de residência médi-ca e dos cursos de especialização, consagrados e reconhecidos por sua excelência e confirmados pela alta taxa de aprovação nas provas de títulos nacionais. Em 2016, o curso de especialização em Ecocardiografia completa 25 anos, capacitando pro-fissionais para realizar esse que é o exame não invasivo mais importante para o diagnóstico cardiológico. Ele é fundamental tanto na investigação como no acompanhamento dos ca-sos.

O programa habilita os participan-tes a realizarem qualquer tipo de ecocardiografia, desde a transtoráci-ca normal, que é o exame conven-cional feito em adultos e crianças;

FORMAÇÃO DE ESPECIALISTASFlavio Velho (sentado) realiza exame junto aos residentes Lucia Hiromi Hiwatashi e Tulio Ruaro Reichert

a transesofágica, na qual a sonda é inserida no esôfago e estômago, permitindo melhor observação das estruturas posteriores do coração (átrio esquerdo, valva mitral, septo in-teratrial e aorta); até a ecocardiografia de estresse, bastante empregada na investigação e no acompanhamento da doença coronariana e das valvu-lopatias. Cardiologistas de todas as regiões do Rio Grande do Sul e de outros estados já foram treinados no HSL. Anualmente, são formados dois especialistas.

O curso trabalha com uma linha de ensino teórico-prática. Além das aulas, que abordam os principais tópi-cos sobre o diagnóstico, o estudante realiza exames supervisionados por um aluno veterano e um professor. O método auxilia na passagem de informações e aumenta a qualida-de do procedimento, beneficiando tanto o paciente quanto quem está em treinamento. “Os procedimentos

são realizados, na verdade, por ‘seis mãos’, do iniciante, do veterano e do supervisor. Então, a qualidade é muito alta. Além disso, essa troca de co-nhecimentos é muito adequada e boa para qualquer instituição”, avalia Flavio Velho, chefe do CardioPUC.

O projeto surgiu para suprir uma lacuna na formação desses profissio-nais no Estado. Hoje, já formou mais de 30 ecocardiografistas e possui al-tíssimo índice de aprovação na prova da Sociedade Brasileira de Cardio-logia. Com tanto sucesso, a equipe organizadora planeja novidades. “Es-tamos programando um curso para formação voltada à ecocardiografia fetal. Ela visa detectar, ainda no úte-ro, doenças congênitas do coração, arritmias, entre outras alterações. Pro-picia que, antes do parto, os bebês já possuam um mapa terapêutico es-tabelecido, com data de nascimento planejada e estratégias adequadas definidas”, explica Velho.

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P R O T O C O L O D E D O R T O R Á C I C A F O I I N S T I T U Í D O P A R A T O R N A R M A I S E F I C I E N T E O C U I D A D O C O M O S P A C I E N T E S

Numa emergência cardíaca, a agilidade é um dos principais requisitos. Por isso, em 2015,

o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) passou a contar com o novo protocolo de dor torácica, que indica como deve ser o atendimento dos pacientes para garantir rapidez e resolutividade. O instrumento tem o objetivo de proporcionar uma respos-ta mais precisa, com uso adequado de recursos e menor tempo de inter-nação, garantindo o melhor resultado clínico e preservando a segurança. Para tanto, foi estabelecido o caminho exato que aquele que chega à Emer-gência com essa característica deve seguir dentro da Instituição.

A expectativa é de que haja melho-ra geral de 30% em aspectos como redução na mortalidade, aumento na alta precoce e adequação no uso de recursos. O ponto inicial é a correta categorização da dor torácica. Entram nessa definição todas as dores desde a área epigástrica, na parte alta do abdômen, até o queixo, passando pelos braços. Quem possuir esse tipo de queixa tem de fazer um eletrocar-diograma em até dez minutos. Com o resultado interpretado dentro desse tempo e a avaliação do estado clínico, será possível estabelecer a gravidade do caso. Nesse momento, o paciente segue um de três caminhos.

atendimento cardiológico

Agilidade no

Procedimentos por cateterismo desobstruem as artérias coronárias

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Caso o exame identifique infarto/ataque cardíaco, em até 60 minutos, o paciente precisa realizar cateteris-mo cardíaco e ter sua artéria desobs-truída no Centro de Diagnóstico e Tratamento Intervencionista (CDTI). Em uma ação, todo o sistema de atendimento ao infarto, que implica em ativação da equipe de hemodi-nâmica, envolvimento da cardiologia e administração de medicações adequadas ao tratamento, é ativado. “Quem é atendido tardiamente em um ataque cardíaco, mesmo com pequenos retardos, tem internação prolongada, dificuldade de voltar às suas atividades normais e prognós-ticos, naquela internação e em longo prazo, piorados”, avalia o cardiologis-ta Paulo Caramori, coordenador de urgências cardiovasculares do HSL e chefe do CDTI.

O segundo caminho é percorrido por quem possui um caso conside-rado de alto risco. Essa situação, apesar de não ser de urgência, de-manda avaliação, tratamento e, pro-vavelmente, realização de cateterismo entre 24h e 72h. Por fim, estão as si-tuações mais leves, que representam 30% dos casos e são referentes às dores torácicas de origem não cardía-ca. Após a realização e interpretação do eletrocardiograma, inicia-se uma sequência de procedimentos, como

a medida de uma enzima cardíaca, chamada troponina.

Após 6h de observação, caso fique comprovado o baixo risco, o paciente é liberado com orientação de reava-liação ambulatorial em 72h. “Nessa situação, o benefício que uma interna-ção pode trazer é muito pequeno; na realidade, os potenciais riscos supe-ram os benefícios. Portanto, é melhor que seja reavaliado em circunstâncias ambulatoriais. Caso já tenha um cardiologista, deve ser avaliado por ele. Se o paciente não possuir, será recebido por um dos profissionais do HSL”, explica Caramori.

Todos os serviços que participam diretamente do processo receberam treinamentos, conforme a neces-sidade, promovidos pelo setor de Desenvolvimento de Pessoas. “Esse protocolo exige que as áreas funcio-nem em sintonia, e elas têm se mos-trado muito receptivas a isso. Hoje, todos entendem a necessidade de funcionar em associação e a sua res-ponsabilidade frente ao atendimento. Todo o Hospital está ativamente envolvido para entregar ao paciente o que é melhor para ele”, ressalta o cardiologista.

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S E G U R A N Ç A

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S ão inúmeras as complicações que podem acometer o maior órgão do corpo humano, e a

dermatologia é a especialidade fo-cada em diagnosticar e tratar todas as doenças da pele, com alto poder resolutivo nos procedimentos. São atendidas desde demandas estéticas até cirurgias complexas, para a retira-da de grandes tumores.

A especialidade é, essencialmente, ambulatorial; mas parte significativa dos casos recebidos pelo Serviço de Dermatologia são de câncer de pele. Para atendê-los, há dez anos foi cria-do o Centro de Dermato-Oncologia (Cedo), ligado ao Serviço de Der-matologia, tornando o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) o primeiro do Estado a contar com uma unidade multidisciplinar para o tratamento do tumor de maior incidência no mundo. Dermatologistas, cirurgiões onco-lógicos e oncologistas compõem a equipe.

Os números da doença são alar-mantes. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil registra 180 mil novos diagnósticos por ano; 30 mil casos são na Região Sul; 15 mil apenas no Rio Grande do Sul e, destes, mais de mil são em Porto Alegre. O cirurgião Jeferson Krawcyk de Oliveira, coordenador cirúrgico do Cedo, explica as possíveis razões para o Estado apresentar um dos índi-ces mais elevados de câncer de pele

do País. “O Rio Grande do Sul tem colonização europeia e uma taxa de miscigenação menor que no resto do Brasil, além da incidência solar muito alta. Estamos quase no mesmo para-lelo de Brisbane, na Austrália, que é a cidade que tem o maior índice de melanoma e câncer de pele em geral no mundo.”

O cirurgião revela que a iniciativa surgiu após a identificação de que muitos pacientes tinham a doença em estágio avançado e a incidência de óbito era elevada, devido à ausência de serviços especializados para o tratamento. Dez anos depois, os re-sultados são ostensivos: enquanto a mortalidade por melanoma no Brasil é de 31% e, no Rio Grande do Sul, de 25%, no HSL, o índice de letalidade é de 17%. Na área de dermato-oncolo-gia são atendidos, em média, sete no-vos casos por semana e a demanda interna, incluindo revisões, é de cerca de 60 pacientes semanais. “Hoje so-mos referência no Estado para câncer de pele”, destaca Oliveira.

A doença manifesta-se como carcinoma basocelular, represen-tando 70% dos casos e a menor letalidade; carcinoma epidermoide ou espinocelular, mais agressivo, com possibilidade de migração a outras áreas e identificado em cerca de 25% dos casos; e melanoma, que apesar da menor incidência (5%), é o mais perigoso, com o pior prognóstico e

o mais alto índice de mortalidade.

A dermato log ia geral também recebe significativo número de casos diariamente nos ambulatórios, representando o maior número de atendimentos da medici-na interna. Em 2015, foram realizadas 6.417 consultas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O Serviço é che-fiado pelo dermatologista Luis Carlos Elejalde Campos e conta com nove médicos especialistas, além dos in-gressos na residência médica, criada há três anos. “Temos um serviço for-mador de profissionais, abrangendo todas as áreas da dermatologia em suas subespecialidades”, diz Cam-pos.

Os profissionais realizam procedi-mentos das áreas de dermatologia pediátrica, oncológica, cirúrgica e estética, como pequenas biópsias, cauterizações, uso de laser e preen-chedores, peeling e crioterapia com nitrogênio líquido, entre outros. O Ser-viço engaja-se em ações preventivas, como a Campanha Nacional de Pre-venção ao Câncer de Pele, promovida anualmente pela Sociedade Brasileira de Dermatologia. Nesse período, são oferecidas consultas gratuitas à po-pulação. As campanhas reforçam a necessidade de cuidar da pele, com o uso diário de protetor solar; proteger os olhos e evitar a exposição ao sol entre 10h e 16h.

Alto poder resolutivo é diferencial

D E R M A T O L O G I A C O N T A C O M C E N T R O M U LT I D I S C I P L I N A R V O LT A D O A O T R A T A M E N T O D E C Â N C E R D E P E L E

Campos (ao centro) junto a membros do Serviço

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S E G U R A N Ç A

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E N T R E V I S TA – G U S TA V O T U R E C K I

O suicídio é uma das maiores causas de morte em todo o mundo e, anualmente, qua-

se um milhão de pessoas cometem o ato. Autor de pesquisas na área e ganhador de diversos prêmios, o psiquiatra e professor canadense

U M D O S M A I O R E S E S P E C I A L I S T A S M U N D I A I S E M S U I C Í D I O E D E P R E S S Ã O F A L A S O B R E P E S Q U I S A N A Á R E A E P R E V E N Ç Ã O

Epidemiasilenciosa

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P O R J E N I F F E R C A E T A N O

Gustavo Turecki é considerado um dos grandes especialistas mundiais em suicídio e depressão. Ele é diretor do Grupo para Estudos de Suicídio da McGill University (Canadá) e chefe do Programa de Transtornos Depressivos. O foco do seu trabalho é entender por

que algumas pessoas com depressão se suicidam e outras, com o mesmo problema, não. Turecki esteve no Hos-pital São Lucas da PUCRS (HSL) para participar da 20ª edição do evento Temas de Psiquiatria e concedeu en-trevista à revista PUCRS Saúde.

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Gustavo Turecki palestrou em evento no HSL

Em 2014, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou dados impressionantes sobre o suicídio. Foi informado, por exemplo, que ocorre um suicídio a cada 40 se-gundos. Qual o panorama mundial atual?

O suicídio é conhecido como uma epidemia tranquila, no sentido de que as pessoas não estão conscientes da dimensão social dele e de seu impac-to na população. Morrem mais pes-soas por suicídio no mundo do que por guerras ou violência, por exemplo. Então, é um problema importante. Existem várias maneiras de enfrentá--lo. Uma das coisas que é bem cla-ra é que as vítimas estão com algum transtorno mental. Uma das manei-ras para prevenir é facilitar o acesso ao tratamento de saúde mental. Algo bastante importante que nem sempre ocorre. Existe um estigma relacionado à doença mental, então as pessoas nem sempre vão procurar essa aju-da.

As dimensões de prevenção do suicídio são: acesso ao tratamento, capacitação das pessoas que forne-cem tratamento de reconhecimento dos sinais de depressão e diminuição da estigmatização, além da redução do acesso aos métodos de suicídio. Muitas vezes as pessoas têm a ideia de se suicidar, mas os pensamen-tos vêm em períodos de flashes e vão embora. Se pudermos diminuir o acesso aos métodos mais letais, teremos um impacto nas taxas. Por exemplo, reduzindo o acesso a armas de fogo e protegendo locais, como pontes.

Existe um estigma sobre o tema e se fala muito pouco sobre ele. Como mudar essa situação, já que a informação é algo tão importan-te? Quais as estratégias para falar de suicídio de forma adequada?

Existem orientações para a co-municação de suicídio na mídia, por exemplo. O problema de falar sobre isso não é expor o tema na mídia, mas romantizar o ato. Por exemplo, quando aconteceu a morte do ator Robin Williams, houve um esforço da mídia de não mostrar isso como algo romântico, mas de apresentar a doença e o sofrimento associado a isso, sensibilizando as pessoas.

Essas orientações in-centivam que se fale a respeito, mas ape-nas dos fatos e das possíveis medidas de auxílio aos que sofrem do transtorno.

Qual o foco da sua pesquisa?

A minha pesquisa é focada em entender o que acontece em nível molecular no cérebro das pessoas que es-tão deprimidas e que pensam em se suici-

dar. Queremos saber o que muda no cérebro delas. Se todas as nossas emoções são processadas no cé-rebro, queremos entender como um estado depressivo é codificado nele, o que muda nesses processos mole-culares, em que parte do cérebro isso acontece, entre outros.

Quais as descobertas já trazidas por essa pesquisa?

Uma parte importante foi compre-ender o impacto das experiências no começo da vida no funcionamento cerebral. Entendemos que essas experiências modificam processos

“Morrem mais pessoas por suicídio no mundo do que por guerras ou violência”

cerebrais. A gente também vem tra-balhando muito com processos asso-ciados ao tratamento. O que muda no cérebro dessa pessoa em relação à resposta ao tratamento.

Identificar fatores genéticos e pro-cessos cerebrais pode ajudar a prevenir o suicídio?

O cérebro é um órgão extrema-mente complexo. A gente identifica e trabalha com tratamentos eficazes, mas ainda entendemos muito pouco a respeito dos fenômenos de base, o que realmente acontece no cérebro de alguém que está deprimido e não consegue sair desse estado. É pre-ciso primeiro compreender as bases patológicas – o que, onde e como acontece –, para depois poder en-tender e tratar de uma maneira eficaz.

Quais são os principais sintomas e sinais de alguém em risco de suicídio?

Essencialmente, o suicídio é uma consequência do estado depressivo. Não só, mas essencialmente é. Por isso, a gente tem que estar conscien-te dos sintomas da depressão e fazer uma sensibilização para identificar as pessoas com risco.

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sível. Por isso, o papel do nosso País é importante, pois conseguimos atingir um nível de diminuição bem significati-vo”, ressalta o pneumologista. Em novo encontro em Lima (Peru), em dezembro, foram traçadas as metas para 2016.

PANORAMA BRASILEIRO

Dois terços dos usuários de tabaco do mundo concentram-se em 14 paí-ses e o Brasil é um deles. Percentu-almente, os números nacionais estão abaixo da média latino-americana, graças a um intenso e ordenado tra-balho realizado por diversos setores da sociedade. Entre as medidas adotadas estão aumento de 113% na carga de impostos sobre o produto entre 2006 e 2013; decretos, leis e resoluções contra o fumo; campanhas de conscientização e exposição dos malefícios do cigarro.

Ações como proibições de marketing no setor, de patrocínios e da existência de “fumódromos” produziram resultados bastante claros. Outro ponto relevante foi o crescimento dos processos movi-dos pela população contra produtores de cigarros; até o momento, 37 aqui em comparação com apenas três na Argentina e dois no Uruguai e Paraguai.

É essencial também oferecer ampla assistência médica para quem deseja largar o vício. Nesse ponto, encontra-se o grande desafio do País. Mesmo com salto de 198 para 1.308 unidades de saúde que oferecem esse atendimento entre 2005 e 2013, ainda é necessário aumentar a velocidade com que os pa-cientes chegam ao tratamento. “Quem quer parar tem que ser atendido ime-diatamente; se demora quatro ou cinco meses para conseguir uma consulta, a

Luta contra o cigarroC H E F E D O S E R V I Ç O D E P N E U M O L O G I A P A R T I C I P A D E P R O J E T O I N T E R N A C I O N A L S O B R E T A B A G I S M O

Oconsumo de tabaco é um problema de saúde pública mundial, que provoca diversas

doenças em seus usuários. Com-preender como funciona o vício em diferentes países e compartilhar es-tratégias bem-sucedidas de combate são alternativas para diminuir esses efeitos. Com esse objetivo, investiga-dores da América Latina, Espanha e Portugal reuniram-se em um projeto da European Respiratory Society (ERS). O chefe do Serviço de Pneumologia, José Miguel Chatkin, representa o Bra-sil na iniciativa.

Em torno de 17% da população brasileira maior de 15 anos é fumante. O índice é maior nos demais inte-grantes da região, como Chile (40%), Argentina (27%), Uruguai (26,5%) e Paraguai (21%); e em Portugal e Es-panha. As diferenças demonstram a heterogeneidade entre os participan-tes e o tamanho do desafio. Com os dados coletados espera-se formular um documento com orientações para controle do tabagismo nas áreas en-volvidas no projeto.

Os primeiros dados obtidos na região do Cone Sul foram apresenta-dos por Chatkin no ERS International Congress, em outubro de 2015, em Amsterdã (Holanda). Em novembro, em Madrid (Espanha), as estratégias brasileiras foram expostas como proposta de modelo em face dos resultados positivos alcançados, como redução de 30% no número de fumantes nos últimos dez anos. As informações causaram impacto entre os especialistas.

“Isso teve muita repercussão e várias pessoas vieram conversar comigo para saber como tínhamos certeza de que esses números estavam certos, pois muitos não acreditavam que seria pos-

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pessoa acaba desistindo. Temos um longo caminho a ser percorrido, mas já está melhor”, explica.

Para Chatkin, o trabalho deve se-guir com a mesma intensidade para aumentar a efetividade em áreas que precisam de maior atenção. É o caso de Porto Alegre, que tem a maior taxa de fumantes do País. Segundo ele, as consequências do trabalho serão vistas na saúde da população nos pró-ximos anos. “Os malefícios costumam aparecer depois de 20 ou 30 anos de uso. Essa diminuição importante, que aconteceu agora, vai ter efeito lá adian-te. A gente já vê, por exemplo, redu-ção do câncer de pulmão em homens que deixam de fumar ou começam a fumar menos. Mas, no sexo feminino, ainda está subindo”, enfatiza.

AUXÍLIO PARA PARAR

O Hospital conta com ambu-latório de auxílio à cessação do tabagismo. Encaminhamentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são feitos pela Secretaria Municipal de Saúde. Para pa-cientes de convênios ou parti-culares, o agendamento é pelo telefone (51) 3320-3222.

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P E S Q U I S A

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I nvestigações desenvolvidas no Ser-viço de Neurologia posicionam o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL)

entre as principais instituições do mundo na área da Síndrome da En-cefalopatia Posterior Reversível (Pres). A doença rara foi objeto de pesquisa no mestrado e no doutorado do neu-rologista Luiz Carlos Porcello Marrone, sob orientação do diretor do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer), Jaderson Costa da Costa. O trabalho analisou 61 casos ocorridos no Hospital, cujos pacientes seguem em acompanhamento. O número ex-pressivo posiciona o banco de dados como o quarto maior do mundo.

Essas informações, somadas ao tra-balho desenvolvido no Centro de Pes-quisa Pré-Clínica do InsCer, permitiram a criação do primeiro modelo experimental que permitirá testar, em laboratório, me-dicamentos específicos para a doença. “Não existe ainda um tratamento efetivo para a Pres, só sabemos como contro-lar a pressão arterial desses pacientes. Se quero testar um medicamento, não posso dar diretamente a uma pessoa com a síndrome. Preciso treinar em um modelo experimental e o único existente é o nosso. Quem quiser pesquisar trata-mentos específicos, vai usá-lo”, explica Marrone. Os estudos renderam, até o momento, a publicação de 12 artigos em revistas internacionais; dois deles estão no Journal of Stroke and Cerebro-vascular Diseases, dos Estados Unidos. O feito posiciona a Instituição entre as que mais publicaram sobre o tema.

A Pres caracteriza-se pelo aumento súbito da pressão arterial em quem não é hipertenso, podendo gerar qua-tro sintomas: dor de cabeça, alteração visual, crises convulsivas e coma. O quadro clínico costuma ser revertido em duas semanas. Nos casos analisa-

FOTO: DIVULGAÇÃO

dos no HSL, mais da metade ocorreu em gestantes, principalmente nas que apresentaram eclâmpsia e pré-e-clâmpsia. Identificaram-se diferenças entre pacientes não gestantes e ges-tantes e entre aqueles com acometi-mento somente na parte posterior do cérebro e outros em que a parte frontal também foi afetada. Este último grupo demonstrou maior gravidade.

A síndrome, pouco conhecida, é diagnosticada com a análise de ca-racterísticas clínicas e radiológicas. Segundo Marrone, a equipe do Hos-pital está treinada para reconhecer o problema. “Quando se diagnostica um paciente com Pres, modifica-se o tratamento de acordo com o fator desencadeador do problema. É feito um controle mais agressivo da pres-são arterial, proporcionando melhora nos sintomas”, ressalta. O trabalho contou com a parceria dos serviços de Nefrologia, Obstetrícia, Reumatolo-gia, Cardiologia, Pediatria, Oncologia e Radiologia.

O modelo desenvolvido baseou-se em outro de eclâmpsia e pré-eclâmp-sia usado pelos nefrologistas Giovani Gadonski e Carlos Eduardo Poli de Figueiredo e pela professora Bartira Ercília Pinheiro da Costa, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Biomédicas da PUCRS. O projeto foi realizado na Pós-Graduação em Medicina e Ciên-cias da Saúde e insere-se no Programa Neurovascular do Serviço de Neurolo-gia. A partir dele, outros estudos podem ser realizados nessa linha de pesquisa. A tese foi defendida em março de 2016 com a presença do neurologista Ayrton Massaro, do Hospital Sírio Libanês (São Paulo), um dos maiores especialistas da área neurovascular do País, que está iniciando uma parceria científica com o grupo do InsCer.

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O QUE O BANCO DE DADOS REVELA SOBRE A PRES

• Afeta quatro mulheres para cada homem;• 25 anos é a média de idade;• Dor de cabeça é o sintoma mais comum, seguido de altera-ção visual; • Pacientes apresentam nível de pressão arterial acima de 180mmHg/110mmHg;• Gestante com alteração de pressão arterial; pessoas com lú-pus ou em uso de agente quimio-terápico representam a maior par-te dos casos atendidos no HSL.

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P E S Q U I S A

Maioria dos casos registrados no HSL ocorreu em gestantes

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controle ajuda a reduzir danosE N F E R M I D A D E N Ã O T E M C U R A , M A S N O V A S D I R E T R I Z E S A P O N T A M M U D A N Ç A S N O T R A T A M E N T O P A R A O T I P O 2

Diabetes:

D I A G N Ó S T I C O

Doença que afeta uma em cada 11 pessoas no mundo, o dia-betes recebe 12% dos gastos

globais com saúde, de acordo com o Diabetes Atlas 2015, da International Diabetes Federation (IDF). A enfermi-dade é uma síndrome metabólica que se manifesta pela deficiência da ação da insulina, hormônio produzido pelo pâncreas que faz com que a glicose produzida nas refeições ou pelo fí-gado seja aproveitada pela célula. O resultado da falta ou insuficiência da substância gera o aumento da glicose no sangue e, consequentemente, o diabetes.

A manifestação ocorre de duas for-mas, denominadas de tipo 1 e tipo 2. Embora o nome e os sintomas sejam semelhantes, tratam-se de diferentes patologias. No tipo 1, o pâncreas não

produz insulina em nenhuma quanti-dade e acomete, em geral, pessoas muito jovens. Os sintomas são agudos e aparecem em curto prazo; os mais frequentes são fome excessiva, perda de peso, vontade de urinar com muita frequência, prostração e, nas mulhe-res, prurido vulvar.

O diabetes tipo 2 é o mais frequen-te, respondendo por 80% dos casos. De origem genética, costuma ocorrer após os 40 anos. Paradoxalmente, na fase inicial, há excesso de produção de insulina, pois como as células são resistentes à ação do hormônio, o pâncreas o produz em maior quan-tidade. “Chega ao ponto em que o pâncreas esgota e o indivíduo passa a ter diabetes”, explica o endocrino-logista Giuseppe Repetto, chefe do Serviço de Endocrinologia. Os sinto-

mas são sorrateiros e podem levar até dez anos para que se manifestem. Os principais fatores de risco são a gené-tica, a obesidade e, nas mulheres, a gestação.

Em ambos os tipos de diabetes há uma segunda fase na qual os sinto-mas são crônicos e a enfermidade pode levar à morte. As complicações crônicas mais comuns, principalmente no tipo 2, são doenças cardiovascula-res, insuficiência renal, lesões na retina e amputações, pois a doença deterio-ra as artérias terminais, encontradas nos olhos, nas pernas e nos rins.

Em nenhum caso a cura é possí-vel. “Se há um grupo de células que produz a insulina, fazendo com que a glicose seja absorvida, e elas são des-truídas, a única cura para os dois tipos seria repor as células”, explica Repet-

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Diabetes:CIRURGIA É OPÇÃO

Alternativa de tratamento para pa-cientes com diabetes tipo 2 é a cirurgia bariátrica, visto que a obesidade é o fator de risco preponderante nesses casos. Quando o Índice de Massa Corporal (IMC) é superior a 35, a indicação cirúr-gica já é usual, por se tratar de casos de obesidade com doença associada. Até então, não havia diretrizes para casos de IMC entre 30 e 35, mas um consenso internacional favoreceu a indicação da cirurgia do diabetes – que passa a ser chamada de cirurgia metabólica – para pacientes desse grupo.

As terapias intervencionistas e as diretrizes para a cirurgia bariátrica em pacientes com diabetes tipo 2 foram revisadas no 3º Congresso Mundial de Terapia Intervencionista para o Diabetes Tipo 2 e 2º Consenso de Cirurgia para Diabetes Tipo 2, que ocorreu em setem-bro de 2015, em Londres (Inglaterra). O cirurgião bariátrico e diretor do Centro da Obesidade e Síndrome Metabólica do HSL (COM), Cláudio Mottin, participou da resolução, que reuniu 800 especia-listas de todo o mundo, entre cirurgiões, endocrinologistas e clínicos. “Foi um desafio aos paradigmas convencionais de tratamento de diabetes e obesidade. A decisão comum foi muito forte”, revela.

O procedimento cirúrgico consiste na redução do estômago, e o principal objetivo é a melhora da hiperglicemia e de outros parâmetros metabólicos. Esse tratamento proporciona melhora e remis-são do paciente, com ou sem remédio, em longo prazo. No entanto, não é correto falar em cura. “Para ser conside-rada cura, seria necessário acompanhar o indivíduo por sua vida inteira e não encontrar alterações; isso ainda não é possível, apesar de termos pacientes remissos há 20 anos.” Mottin destaca que a operação não reflete apenas no tratamento do diabetes, mas atua no controle da hipertensão e de alterações de colesterol e triglicerídeos.

Os critérios para realização envolvem mais do que o IMC, que é o método tradicional, pois não indica a gordura e não é apurado para definir obesidade ou doenças. “Um indivíduo com 34 de

IMC pode ser magro, pois tem muito músculo e percentual de gordura bom, de 10% a 15%. Também pode ter um com 25 de IMC e ser gordo, com até 40% de gordura no corpo, embora seja leve.” Por essa razão, é utilizado o critério de antropometria, que consiste em me-dir o percentual de gordura no corpo, a massa magra e as relações que existem entre essas medidas. O cirurgião revela que o COM não trabalha com balança há vários anos, o que também é uma quebra de paradigmas.

Os cuidados clínicos associados à cirurgia são considerados fundamentais, como a mudança dos hábitos alimen-tares e de estilo de vida e a prática de exercícios físicos. “Esse é um modelo de tratamento, que inclui a cirurgia. A cirurgia, sem esse modelo, não funcio-na”, declara. O envolvimento familiar também é fundamental no processo. Há contraindicação para pacientes que não se disponham a fazer o tratamento e o acompanhamento pós-operatório; em casos de risco de vida para a operação; para quem bebe ou fuma; ou em pa-cientes com algum distúrbio emocional ou psicológico, até que seja controlado. A faixa etária com recomendação é entre 16 e 65 anos; fora esses, os outros são considerados casos excepcionais.

É a única terapia intervencionista para o tratamento do diabetes tipo 2. As demais opções são clínicas e medi-camentosas. A discussão envolvendo a indicação cirúrgica para diabetes é recente. Nos últimos 15 anos, houve pesquisas e evidências que permitiram chegar a esse nível de consenso. “A mensagem é esta: temos tratamento além do remédio”, afirma Mottin. A cada dez cirurgias realizadas pelo COM, duas são em diabéticos.

Além das diretrizes aprovadas inter-nacionalmente, está sendo criado um consenso no Brasil, que deve ser apro-vado pelo Conselho Federal de Medicina e pelo Ministério da Saúde. Mas centros considerados de excelência e com crité-rios definidos e aprovados por conselhos de ética e bioética, como o COM, são autorizados a realizar o procedimento.

to. Há tentativas de implantes de células, mas os resultados não são favoráveis. O tratamento para o diabetes tipo 1 é sempre com insulina; no tipo 2, quando a causa for a obesidade, a perda de peso é o tratamento.

O endocrinologista acrescen-ta que os diabéticos não devem comer em grandes quantidades, principalmente carboidratos, presentes em alimentos como pão e batata, pois exigem vo-lume maior de insulina para a metabolização. Há 40 anos, o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) conta com ambulatório para atendimento desses pa-cientes, principalmente oriundos do Sistema Único de Saúde (SUS).

FOTO: OSKAR ANNERMARKEN VIA VISUALHUNT

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FOTO: BRUNO TODESCHINI

PROTOCOLO DE CIRURGIA SEGURA

O Protocolo de Cirurgia Segura é um dos mecanismos de barreira preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre seus objetivos está garantir a avaliação pré-operatória; a lateralidade do pro-cedimento, assegurando o local e o lado do corpo corretos; a identifica-ção de comorbidades importantes e alergias; a presença de profissionais e materiais corretos em sala; e o tipo de cirurgia e de anestesia corretos. Para isso, foi elaborado um check list eletrônico, que deve ser conferido pela equipe. O Núcleo de Segurança do Paciente é responsável por co-mandar esse projeto.

Obloco cirúrgico é uma peça chave para o bom funcio-namento de um hospital.

Um trabalho fluido e alinhado reflete nos demais setores, trazendo mais qualidade na assistência e garantin-do a sustentabilidade da instituição. Ciente dessa relevância, o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) realizou alterações na estrutura e na gestão da área. O objetivo é melhorar os fluxos e processos desenvolvidos, aumen-tando a produtividade e excelência do atendimento.

Estruturalmente, a maior movimen-tação ocorreu nas salas de recupe-ração, para onde os pacientes são levados logo após a realização dos procedimentos. A Unidade de Trata-mento Intensivo (UTI) Cirúrgica trocou de área, passando de oito para dez lei-tos. A recuperação pediátrica também foi transferida, abrindo espaço para a construção de uma sala destinada ao treinamento dos alunos da Faculdade de Medicina da PUCRS (Famed).

Por fim, o setor destinado à recupe-ração pós-cirurgia cardíaca foi alocado junto à Unidade Coronariana, localiza-da em outro andar. “Temos mais leitos de intensivismo e de recuperação pediátrica, além de oferecermos um lugar mais confortável às crianças e aos pais. Além disso, recentemente, promovemos uma atualização do nosso instrumental, melhorando as condições de trabalho. Ficamos com um bom desenho, aliando qualidade e segurança”, explica o diretor técnico

B L O C O C I R Ú R G I C O M O D I F I C A E S T R U T U R A E G E S T Ã O P A R A G A R A N T I R M A I O R P R O D U T I V I D A D E E E X C E L Ê N C I A N O A T E N D I M E N T O

e clínico do HSL, Plinio Vicente Medaglia Filho.

Para comandar esse processo, foi apresen-tado o novo gestor para o bloco. Um dos cirur-giões mais experientes da Instituição, Jarcedy Alves assumiu o cargo em março de 2016 e passou a traba-lhar na melhoria dos processos, em parceria com a coordenadora de enfermagem, Alessandra Padilha, e o encarregado administrativo Daniel Dornsbach Marques. Cuidado com materiais, horários, escalas, turnos de trabalho e pessoal são temas aborda-dos por eles.

Entre as estratégias utilizadas por Al-ves nessa etapa está o encontro com as equipes cirúrgicas para apresenta-ção do novo projeto e das alterações no funcionamento do local. Com 17 salas, divididas entre profissionais de diferentes áreas, regras são essenciais para manter a organização e otimizar o uso. “Fizemos reuniões solicitando a colaboração para que cada sala siga uma regra relacionada ao tipo de es-pecialidade. Um bom número dos gru-pos já se ajustou à filosofia do Hospital, principalmente, no que se refere ao protocolo de cirurgia segura”, destaca.

As ações têm o apoio de todos os envolvidos no dia a dia do setor, passando por médicos, enfermeiros, funcionários administrativos e da higie-nização. O objetivo desses movimen-tos é diminuir o tempo de permanência na UTI e na recuperação, aumentar a

produção e a segu-rança assistencial, aliando os protoco-los com uma ges-tão mais eficiente dos materiais. “O bloco é o coração do Hospital e, por isso, tem que andar como um equipamento bem calibrado. Não pode ter erro”, enfatiza Alves.

Sala de recuperação pediátrica passou por reestruturação física

qualificada

Mudanças miramsegurança e assistência

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I N V E S T I M E N T O

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Exames de pontaI N V E S T I M E N T O

para avaliar as reações e a existência ou não de padrões de normalidade. Esses casos são encaminhados por ortope-distas, traumatologistas, neurologistas, reumatologistas, médicos do trabalho e fisiatras, áreas que atuam em lesões traumáticas e decorrentes de esforço repetitivo. A média é de 500 procedi-mentos mensais.

A polissonografia é o padrão ouro para diagnosticar distúrbios do sono, como problemas respiratórios, insônia, movimentos involuntários, entre outros. É um método não invasivo, que exige muita técnica e profissionais capacitados para a coleta das informações, já que a duração do exame é de 8h, em média. Também é indispensável um especialista em neurologia ou medicina do sono para ler os resultados, que são diferentes nas variadas faixas etárias. Em crianças maiores e em adultos, o procedimento é noturno, sendo necessário que se passe a noite no Hospital; para recém--nascidos e crianças de até dois anos, a sesta é uma possibilidade, com duração de cerca de 2h.

“Recebemos muitas crianças que vêm fazer investigação de problemas do sono e, junto, têm problemas neu-rológicos, como autismo, epilepsia e atrasos no desenvolvimento, o que torna o exame ainda mais complexo”, explica a neurologista Magda Nunes, responsável pelo diagnóstico. O eletro-encefalograma é utilizado para medir as atividades e o ritmo cerebral, em casos de doenças como a epilepsia. São realizados cerca de 350 procedimentos dessa natureza por mês. “Os três seg-mentos estão interagindo e melhorando em conjunto”, destaca Nora. A expec-tativa é de que, com a reestruturação, a demanda aumente em 30% a 40%.

em nova estruturaL A B O R A T Ó R I O D E N E U R O F I S I O L O G I A P A S S O U P O R R E F O R M A F Í S I C A P A R A A T E N D E R P A C I E N T E S C O M M A I S C O N F O R T O

Visando a aprimorar a qualidade dos serviços, o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) realizou

investimentos no Laboratório de Neuro-fisiologia Clínica, que é referência nacio-nal para procedimentos relacionados ao sistema nervoso periférico, eletroence-falograma e polissonografia. A unidade foi a primeira no Brasil a realizar este exame em recém-nascidos, em 1980. Atualmente, o HSL é o único hospital que oferece a polissonografia completa para crianças.

Aliada ao diferencial técnico da equi-pe médica, formada por especialistas em Neurologia, a estrutura física foi reformulada para melhor atender aos pacientes. O laboratório conta com três salas para a realização de eletroencefa-lograma, uma para eletroneuromiografia, uma de polissonografia, local para in-terpretação de exames, recepção, sala de espera e dois banheiros dentro da unidade, além dos equipamentos de ponta. “É a prática aliada à estrutura, que agora está muito boa. Foi uma mu-dança radical”, comemora o responsá-vel pelo Laboratório, neurologista Daniel Bocchese Nora. Os exames são feitos mediante a demanda de outras áreas e possibilitam o diagnóstico de diferentes patologias.

A eletroneuromiografia é capaz de identificar neuropatias e miopatias – do-enças que levam à fraqueza, dormência e formigamento das mãos, como a Sín-drome do Túnel de Carpo. Também é usada na detecção da miastenia grave, através da eletroneuromiografia de fibra única, outro diferencial oferecido pelo Laboratório. Nora explica que o procedi-mento consiste em estimular os nervos, através de pequenos impulsos elétricos; e os músculos, com o uso de agulhas,

FOTOS: BRUNO TODESCHINI

Técnicas acompanham exame realizado em outra sala

Nora (ao centro) chefia o laboratório

SAIBA MAIS

Os procedimentos são reali-zados por convênio e por modo particular. Exames de eletro-encefalograma e eletroneuro-miografia também são feitos via Sistema Único de Saúde (SUS), mediante encaminhamento. Telefones: (51) 3320-3268 e 3320-3000, ramal 2579.

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encontra-se para conversar sobre as demandas e experi-ências vividas, falan-do sobre as dificuldades encontradas e os possíveis encaminhamentos ne-cessários. São feitos ainda exercícios de leitura e encenação. Eles contam também com as orientações literárias do professor Ricardo Barberena.

A relação com a equipe do Hos-pital é outra razão para os retornos positivos. Uma vez por semana um

Um caminho para auxiliar a recu-peração de pacientes interna-dos é a arte com eixo na leitura.

Esse é o mote do projeto Integrando literatura e saúde, das Faculdades de Letras e Medicina da PUCRS, desen-volvido no Hospital São Lucas (HSL). Existente há 18 anos na Instituição, anteriormente estava voltado apenas à Pediatria. Considerando os resultados positivos alcançados, desde 2014 as atividades foram ampliadas para os adultos na Unidade de Internação Psiquiátrica. Parte do Programa de Integração Ensino-Serviço (Integra), comandado pela professora Valéria Corbellini, a ação é desenvolvida na ala diariamente no período da tarde, não interferindo na rotina da assistên-cia. É resultado de um trabalho que envolve bolsistas de iniciação científica e pós-graduandos, além de médicos do HSL, professores e pesquisadores.

Segundo a coordenadora do pro-jeto, professora Vera Wannmacher Pereira, da Letras, o grande objetivo é usar a arte, especialmente a literatura, como geradoras de prazer. O grupo realiza leituras e encenações para os pacientes, além de disponibilizar livros aos internados. Outra atividade desenvolvida são os saraus mensais, que aliam a literatura à música, com interpretações individuais e em coro e declamação de textos com a partici-pação dos pacientes. “O atendimento voltado para os adultos da Psiquiatria

Paciente participa de apresentação durante sarau mensal

exige, ao mesmo tempo, coragem e cautela. A verdade é que a adesão foi muito rápida. Segundo os médicos, isso colabora para o tratamento. Nosso próximo passo é organizar uma biblio-teca interna para o local. Já colocamos ali um número razoável de livros, apro-vados pela área médica”, informa Vera.

Para desenvolver um trabalho como esse, em uma situação de grande vulnerabilidade dos participantes, é importante estar bem preparado. Por isso, semanalmente, o grupo

L E T R A S E M E D I C I N A D A P U C R S L E V A M L E I T U R A E M Ú S I C A P A R A P A C I E N T E S P S I Q U I Á T R I C O S D O H S L

I N T E G R A

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Arte que faz bem à

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Declamação de textos é uma das atividades desenvolvidas junto com os internados

FOTOS: CAMILA CUNHA

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saúdeque faz bem à

dos integrantes do grupo participa de reunião com os profissionais da Psiquiatria na qual é discutida a situa-ção dos internados, permitindo que a abordagem seja adaptada a cada caso. Além disso, o projeto conta com uma coordenação médica, a cargo do nefrologista Ivan Carlos Antonello, que dá orientações sobre a condução do trabalho sob a ótica da assistência. “Vejo a aproximação da Faculdade de Letras como um despertar da saúde através da arte. É emocionante ver o

entusiasmo dos alunos ao percebe-rem que acordaram os sentimentos e conhecimentos poéticos e literários de pessoas que chegaram aqui em situação de sofrimento e suposta-mente empobrecidos para possibili-dades de criação”, ressalta o médico.

Mais do que criar novos leitores, as ações ajudam a construir pontes de afeto e conforto entre os en-volvidos. “O segredo é como nós nos relacionamos com cada um – o quanto eles sentem que gostamos

deles, que vamos lá para ajudá-los e que estamos com-prometidos. Quanto mais conseguimos evidenciar isso, melhor o resultado”, explica Vera. Segundo ela, o desejo é qualificar e intensificar esse trabalho e ampliar a iniciativa para outros setores do Hospital. Para tanto, é necessário aumentar a equipe, com voluntários que podem vir de todos os cursos da Universidade.

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V I V A M E L H O R

AOrganização Mundial de Saú-de (OMS) estima que 40% da população brasileira sofra de

algum tipo de distúrbio do sono, sen-do o ronco, a apneia obstrutiva e a in-sônia, os mais comuns. Interferências externas e estímulos, como uso de aparelhos eletrônicos ou consumo de alimentos e bebidas estimulantes antes de dormir, são fatores que podem comprometer a qualidade do descanso. O pneumologista Leandro Fritscher, do Serviço de Pneumolo-gia, explica que os distúrbios estão associados a outros problemas de saúde. A apneia obstrutiva do sono – colapso nas vias aéreas que ocorre quando o indivíduo está dormindo e ocasiona pausas na respiração – está relacionada a um índice aumen-tado de infarto, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral e arritmias.

A insônia pode estar l igada a problemas de cognição e memória e, geralmente, é causada por um componente comportamental. O diagnóstico é clínico, mediante con-versa com o médico e exame físico. Quando há suspeita de outro distúr-bio, a polissonografia é indicada para diagnosticar transtornos, como ap-neia do sono e síndrome das pernas inquietas. O sonambulismo e o terror noturno são comuns em crianças, mas como estão relacionados à ma-turidade cerebral, tendem a melhorar com o desenvolvimento. Além disso, dormir mal pode favorecer a hiper-tensão.

D I S T Ú R B I O S D O S O N O P O D E M E S T A R R E L A C I O N A D O S A O U T R A S D O E N Ç A S

Descansoreparador

Mecanismos ex-ternos prejudicam o descanso e alguns fatores devem ser observados. Recomenda-se que o quarto seja usado exclusivamente para dormir, com ambiente tranquilo, de temperatura agradável, sem televi-são e barulho em excesso, pois esses estímulos fazem o cérebro se manter alerta, afetando o relaxamento. “Pes-soas que dormem bem podem, por exemplo, assistir televisão na cama ou usar telefones e tablets; mas, para aquelas com queixa de insônia, isso é um problema e deve ser evitado no quarto”, aconselha Fritscher. Ati-vidades que requerem concentração também dificultam o descanso e a indução normal ao sono. A meditação é uma boa alternativa.

Interferências orgânicas, como a reação do organismo a determina-dos alimentos, afetam a capacidade de dormir. O maior exemplo é a cafeína, que não é recomendada em nenhuma quantidade para quem sofre de insônia. Chimarrão e alguns chás também possuem substâncias psicoativas que devem ser evitadas. As refeições à noite devem ser leves e, de preferência, feitas 2h antes de dormir. Evitar cigarro e álcool e realizar exercícios físicos regularmente contri-buem para o repouso.

FOTO: PLANETCHOPSTICK VIA VISUAL HUNT

O consumo de medicamentos para dormir deve ser evitado de forma consistente. O melhor remédio é a mudança de hábitos, através do es-tabelecimento de horários para dormir e acordar e evitando cochilos de mais de 30 minutos. Há pessoas que pos-suem o ciclo de sono-vigília retardado, resultando na necessidade de dormir e acordar mais tarde. Se for fisiológi-co, não apresenta complicações. O problema é forçar artificialmente para atividades como trabalho e estudos.

O especialista aconselha que pro-fissionais que retornam de plantões durmam algumas horas, para des-cansar, e busquem se alimentar em horários usuais com a família, para que não tenham a vida social preju-dicada. Não há tempo mínimo para completar o ciclo do sono, apesar de a média ser de 7h a 8h. “Cada um tem seu relógio biológico, que deve ser respeitado,” ressalta. O tempo necessário é o que permite à pessoa se sentir despertada e sem sono du-rante o dia. O Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) conta com o Ambulató-rio de Distúrbios Respiratórios do Sono que atende a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), mediante en-caminhamento.

FIQUE ATENTO

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Assistência humanizada

S U P E R V I S Ã O D E N U T R I Ç Ã O E D I E T É T I C A R E C E B E I N V E S T I M E N T O S E S E D E S T A C A P O R I N I C I A T I V A S Q U E V A L O R I Z A M P A C I E N T E S E C O L A B O R A D O R E S

especial e fazer parcerias em campanhas”, diz Luciane. Des-de 2014, ocorre o Momento Estrela, para homenagear os funcionários e as unidades que recebem elogios por meio do Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) ou diretamente dos clientes. O aniversário da equipe e dos pacientes tam-bém não passa em branco. Todos recebem um cartão e um bolo, mesmo quando a dieta é restrita, no caso dos internados. As crianças hospitalizadas também são contempladas, recebendo lanches especiais em datas comemorativas.

As perspectivas da Supervisão são promissoras para o segundo semestre de 2016, quando deve ser inaugurado o lactário. O setor proporcionará maior segurança e ambiente adequado à produção de mamadeiras e adminis-tração da nutrição enteral infantil. A coordenadora clínica, Elaine Adorne, aponta que as novas áreas de vestiá-rio, recepção de produtos, preparo e higienização de materiais contemplam todas as exigências da legislação. “É uma melhora em termos de estrutura, processo e linha de trabalho”, ressalta. O resultado será parte de um momen-to ímpar para a área materno-infantil do Hospital, que já conta com recursos, como Unidade de Tratamento Intensi-vo (UTI) Pediátrica, UTI Neonatal, sala de coleta de leite humano e área desti-nada ao Método Canguru.

Para qualificar a distribuição, está em andamento a implantação de novos utensílios, com benefícios no atendimento e na redução de resídu-

Com função essencial no con-texto hospitalar, a Supervisão de Nutrição e Dietética atua

24h por dia, prestando atendimento a pacientes, acompanhantes e colabo-radores, em todas as áreas da Insti-tuição. É composta por três unidades: Distribuição, Nutrição Clínica e Produ-ção, com a supervisão da nutricionista Karen Freitas Bittencourt. Ao ingressar no Hospital, o paciente é acolhido por nutricionistas clínicas, que realizam a triagem, conforme a idade, para indi-car os níveis de assistência. A etapa seguinte é a prescrição de nutrição, em equilíbrio com as recomendações médicas.

Os dados do atendimento são ca-dastrados e gerados rótulos indicando diretrizes à produção e distribuição do alimento. Nesse momento, são apon-tadas possíveis restrições, intolerância a alimentos e até mesmo o gosto pes-soal. “Já ocorreu de fazermos o cardá-pio só para um paciente, devido a múl-tiplas alergias. Se possui intolerância ou não gosta de determinado alimento, sempre temos outra opção”, ressalta a coordenadora de Distribuição, Luciane Carvalho. O pedido é encaminhado à Produção e a unidade de Distribuição finaliza o processo, conferindo se os alimentos entregues condizem com a dieta indicada. O acompanhamento é contínuo durante todo o período de internação e, muitas vezes, a orienta-ção nutricional se estende ao pós-alta.

A unidade destaca-se por iniciati-vas de valorização dos colaborado-res e pacientes atendidos. “A gente também cuida de quem cuida. Sem-pre buscamos oferecer um almoço

os. A Nutri-ção Cl ínica c e l e b r a a c r iação do inovador am-bulatório de diabetes com contagem de carboidratos, além da ampliação dos existentes. São 20 ambulatórios com atendimento via Sistema Único de Saúde (SUS), convênios e semi-privativo. Os profissionais participam de pesquisas e capacitações cons-tantes, visando aprimorar ainda mais a qualidade da assistência.

EQUIPE

A Supervisão conta com 148 profissionais: uma supervi-sora, duas coordenadoras, 20 nutricionistas, 19 técnicos de nutrição, um chefe de cozinha, oito cozinheiros, 90 atendentes de nutrição, uma encarregada administrativa e seis auxiliares administrativos.

B A S T I D O R E S

Parte dos integrantes da Supervisão de Nutrição, setor que atende funcionários e pacientes 24h por dia

FOTO: BRUNO TODESCHINI

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C U R TA S

Coordenador-geral do Centro de Pesquisa Clínica, o nefrologista Domingos Otávio Lorenzoni D’Avila recebeu o Prêmio Destaque Unitv 2015. A homenagem é um reconhecimento por sua expressiva con-tribuição à Nefrologia no Brasil. Na cerimônia de entrega, o Reitor da PUCRS, Ir. Joaquim Clotet, expressou suas considerações ao espe-cialista: “A Medicina tem os seus modelos e o senhor é um deles. Em nome da PUCRS, dos irmãos Maristas e da história da Medicina de nefrologia, muito obrigado”. D’Avila liderou o primeiro grupo a trabalhar com diálise crônica no Estado e organizou o Serviço de Nefrologia do HSL, que é destaque em pesquisa, assistência, ensino e transplantes renais. Presidiu as sociedades gaúcha e brasileira da especialidade.

DESTAQUE UNITV

O Porto Alegre Health Care (PAHC), grupo sem fins lucrativos idea lizado pela Secretaria do Tu-rismo do município e do qual par-ticipam os hospitais São Lucas da PUCRS (HSL), Mãe de Deus, Moi-nhos de Vento e Santa Casa de Mi-sericórdia, passou a integrar duas novas iniciativas ligadas aos go-vernos estadual e municipal. Elas buscam utilizar a saúde como fator de desenvolvimento econômico. A primeira ação criada foi o Cluster de Tecnologias para Saúde do RS. Ele faz parte do plano de inter-nacionalização do Medical Valley, organização sediada na Alemanha que reúne indústrias e instalações científicas altamente especializadas da área de engenharia médica, que escolheu o Estado como sede bra-sileira da empreitada.

A meta é trazer melhorias na saú-de nas próximas décadas, alavan-

cando a pesquisa e a indústria no setor em prol da sustentabilidade. Foram estabelecidos três grupos de trabalho e durante o ano ocor-rerá o primeiro summit do projeto, espécie de congresso que reúne participantes da pesquisa, do en-sino e da assistência com o intuito de gerar propostas para as futuras empresas que se instalarão no RS.

Nesse sentido, Porto Alegre tam-bém se posiciona como uma capi-tal preparada para fornecer servi-ços no setor e criou a marca Health Hub. Durante o ano, integrantes da iniciativa – governo, hospitais, em-presas e parques tecnológicos – irão apresentar suas contribuições. A partir dos dados, serão formados grupos de trabalho para elaborar um plano que reforce a imagem do local como referência. Em 2015, o PAHC apresentou aumento de 10% nos atendimentos realizados.

PAHC ALIA-SE A NOVOS PROJETOSO HSL instituiu a Coor-

denação de Pastoral e So-lidariedade. Sob liderança da Ir. Liane Terezinha Berres, a unidade reúne ações da Pastoral da Saúde, do Volun-tariado e da Humanização. A reestruturação atende a uma demanda da Instituição para ter maior integração e siner-gia com outros empreen-dimentos da Rede Marista. O voluntariado na área da saúde tem como objetivo a humanização e a melhoria na qualidade de vida e na autoestima de pessoas hos-pitalizadas, seus familiares e profissionais hospitalares.

Para ampliar a captação de recursos e manter o tra-balho nessa área, composto por 12 projetos, foi criada uma conta corrente para a Central do Voluntariado. Os valores arrecadados são revertidos, principalmente, aos acompanhantes dos pacientes de outros municí-pios, por meio do repasse de materiais de higiene e ali-mentação; e aos moradores de Porto Alegre em acompa-nhamento na Radioterapia, que não têm isenção nas passagens municipais. As doações podem ser feitas no Banco do Brasil, agên-cia 3168-2, conta corrente 5446-1.

VOLUNTARIADO

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Reitor da PUCRS, Ir.

Joaquim Clotet (E), entrega a D’Avila a

homenagem

FOTO: BRUNO TODESCHINI

Maria Jozefa Costella, filha da pacien-te Auda Ferraz, entregou à enfermeira Elin Fabiana Vasquez (foto) um banner de agradecimento à equipe da interna-ção do 7º andar Norte pelo atendimento prestado à mãe dela durante sua hospi-talização. A iniciativa é uma homenagem aos médicos, enfermeiros, técnicos, fi-sioterapeutas e nutricionista da unidade.

BANNER HOMENAGEIA EQUIPE

FOTO: ANGELA VENCATO

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Desde março de 2016, o Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) passou a contar com a nova residência médica em Medicina de Emergência. A especialidade foi reconhecida em setembro de 2015 pelo Conselho Federal de Medicina, pela Comissão Nacional de Re-sidência Médica e Associação Brasileira de Educação Médica. Com duração de três anos, o novo programa de residência permitirá o ingresso de quatro profissionais

ao ano no HSL, que atuarão na Emergência Adulta, nas unidades de tratamento intensivo, na Pediatria, no Cen-tro Obstétrico e na Internação Hospitalar. A formação contempla ainda estágios no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), no Hospital Cristo Redentor e em uma terceira instituição a escolher, como Estágio Opcional. Neste primeiro ano de funcionamento, todas as vagas do programa foram preenchidas.

RESIDÊNCIA EM EMERGÊNCIA

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Entrou no ar, em 6 de junho, o novo site do HSL. Com visual renovado, ficou moderno, dinâmico e com mais conteúdo. As seções foram ampliadas, detalhando dados como serviços oferecidos e especialidades atendidas. Nos resultados de exa-mes, podem ser consultados laudos do Laboratório de Patologia Clínica, da Ecografia e da Endoscopia, trazendo mais comodidade aos pacientes. A refor-mulação do site permitiu também mais facilidade para acessá-lo por dispositivos móveis. Os ende-reços são www.hospitalsaolucas.pucrs.br e www.hsl.pucrs.br. O projeto foi desenvolvido em parceria entre os setores de Informática e de Comunicação.

HSL TEM NOVO SITEO Centro da Obesidade e Síndrome Metabólica

(COM) renovou a certificação de Centro de Exce-lência Internacional em Tratamento da Obesidade Grave. A distinção é concedida pela Surgical Review Corporation e foi obtida após visita para reavaliação da infraestrutura de cuidados hospita-lares especializada e dos dados do Centro, como número de cirurgias, baixo índice de complicações e mortalidade e banco de dados completo dos pacientes operados. O COM conquistou o título pela primeira vez em 2012 e, atualmente, é o único centro no país capacitado a treinar outras instituições.

COM RENOVA CERTIFICAÇÃO

A Rede Marista promoveu, em dezembro de 2015, o Capítulo Provincial, principal assembleia da instituição. O evento foi marcado pela fundação da Província Marista Brasil Sul-Amazônia e pela posse do Conselho Provincial para o triênio 2016-2018. Com a unificação, além das 17 cidades do Rio Grande do Sul e de Brasília (DF), a Rede passa a abranger Boa Vista (RR); Manaus, Tabatinga e Lábrea (AM); Porto Velho (RR); e Cruzeiro do Sul (AC). A atividade contou com a participação do superior-geral do Instituto Marista, Ir. Emili Turú. O presidente da Rede Marista, Ir. Inácio Etges, e o vice-presidente, Ir. Deivis Fisher, foram reconduzidos aos cargos à frente da mantenedo-ra e permanecem como provincial e vice-provincial, respectivamente.

PROVÍNCIA SUL-AMAZÔNIA

O que a Universidade tem de melhor em investigação científica e tecnológica está presente no Catálogo de Pesquisas PUCRS 2016 (www.pucrs.br/catalogode-pesquisas). A publicação eletrônica bilíngue (português/inglês), coordenada pela Pró-Reitoria de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento (Propesq) e executada pela Assessoria de Comunicação e Marketing (As-com), apresenta vídeos, áudios e textos com base em entrevistas com mais de 100 pesquisadores. O material, disponível também em versão impressa, inclui

a lista com todas as es-truturas de pesquisa da PUCRS. O conteúdo está distribuído em oito eixos temáticos: Biolo-gia e Saúde; Cultura e Educação; Energia e Recursos Naturais; Humanidade e Ética; Meio Ambiente e Biodiversidade; Materiais, Processos e Dispositivos; Sociedade e Desenvolvi-mento; Tecnologia da Informação e Comunicação.

CATÁLOGO DE PESQUISAS

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FOTO: FABRÍCIO BASSO/REDE MARISTA

Imagem do Sagrado Coração de Jesus é entregue por Turú a Etges (E), simbolizando a fundação da Província

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História de integraçãoa serviço da saúde

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T R A J E T Ó R I A

Aunião entre assistência, ensino e pesquisa não é parte apenas da missão do Hospital São

Lucas da PUCRS (HSL), mas também a marca da carreira do nefrologista Domingos d’Avila. O médico escreveu grande parte da sua história na Facul-dade de Medicina da Universidade, no Serviço de Nefrologia e no Centro de Pesquisa Clínica (CPC) do HSL. Sua trajetória demonstra a importância de integrar o conhecimento das áreas e dividir experiências, aumentando a eficiência dos resultados alcançados.

Nascido em Pelotas (RS), D’Avila vive em Porto Alegre desde os dois anos e, na cidade, construiu sua carreira. Formou-se em Medicina na turma de 1963 da Universidade Fede-ral do Rio Grande do Sul (UFRGS) e exerce a profissão há 52 anos. Após a conclusão do curso, realizou resi-dência em Medicina Interna na mesma Universidade e, ao final do período, foi estudar nefrologia na Universidade da Carolina do Norte (Estados Unidos). Para ele, o tempo no exterior, passado em um prestigioso serviço e ao lado de importantes profissionais, acres-centou muito em sua formação.

Além da prática médica, o ensino sempre esteve em seu caminho. Entre as experiências na área estiveram insti-tuições como a Faculdade Católica de Medicina, atual Fundação Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre; a UFRGS e a PUCRS, onde trabalha há 40 anos. Nesse período, Domingos viu o HSL desenvolver-se e transformar-se em referência de qualidade no atendi-mento. Uma dessas áreas de excelên-

D’Avila dedica-se há 40 anos às aulas na PUCRS e à assistência e pesquisa no HSL

FOTO: CAMILA CUNHA

C O M M A I S 5 0 D E A N O S D E E X P E R I Ê N C I A , N E F R O L O G I S T A D O M I N G O S D ’ A V I L A R E Ú N E F E I T O S E M D I V E R S A S Á R E A S D A M E D I C I N A

cia da Instituição é o CPC, atualmente coordenado por ele. Criado em 2008, o se-tor conta com mais de 30 investigadores em 17 áreas distintas e é um dos líderes na realização de estudos clínicos no País.

Além do CPC, a Hemodiá-lise é outra área de atuação do médico. O trabalho no setor proporciona forte liga-ção com o paciente, criando um ambiente extremamente afetivo. “Quem está em he-modiálise, está em perma-nente contato com toda a equipe, não apenas com o médico. Essa relação torna--se quase familiar, pois existe uma interdependência muito grande. É uma interação muito profunda que temos e isso se estende depois para o paciente transplanta-do, que passa a fazer parte da nossa vida”, afirma.

O carinho com o Hospital é acom-panhado da compreensão e do apoio da família fora dele. Pai de duas filhas e avô de duas netas, é casado com Maria Araci há 50 anos. D’Avila ressalta o suporte recebido da parceira durante sua caminhada. “Fora daqui, tenho uma esposa que compreende a minha vida”, ressalta.

Os planos e perspectivas para o futuro ainda estão em aberto. Para ele, a incerteza é parte essencial e inevitável da vida. “Eu sempre dizia aos meus colegas que a gente tem que ter

a percepção de quando se tor-na perigoso ou mais perigoso. Sempre digo que médico é muito perigoso. Quando nos tornamos mais do que o usual, é hora de parar. Ninguém quer realmente pa-rar, a menos que esteja incapacitado. Talvez eu comece a mudar o foco da atividade. Não tenho uma ideia clara, mas acho muito difícil programar deci-sões. A vida é extremamente surpre-endente. Nada é exatamente como a gente planejou e o futuro é sempre uma incógnita”, avalia.

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C R Ô N I C A

Viver, sempre.

“Era um velho que pesca-va sozinho num esquife na corrente do Golfo, e saíra

havia já por oitenta e quatro dias sem apanhar um peixe.” Assim começa a história de O velho e o mar, de Ernest Hemingway. A luta do homem contra a natureza, tentando sobreviver e po-dendo morrer a qualquer momento. “Sentia-se dormente, dolorido, e as feridas e as partes mais esforçadas do corpo doíam-lhe com o frio da noite.” Poderia morrer por conta dos riscos, das feridas, e porque era velho. Não haveria miséria nenhuma nesta morte.

E quando não se é velho, não há riscos ou feridas, morre-se por quê?

Lembrei-me disso pensando nas mortes da professora Beatriz Mene-gotto e dos alunos Leonardo Mazzo-chi e Fernando Furlan. Jovens, não iniciaram o ano de 2015 pensando enfrentar o mar. Não precisariam, tinham tempo para sonhar. Imagina-ram, fizeram planos, e se alegraram. Teriam um bom ano, como é regra para os bons na Universidade ou fora dela. Nem sempre regras nos fazem felizes, mas sofremos mais por via das exceções.

Minha memória é um trem em movimento, com muitas janelas. Al-gumas se abrem para os corredores do Hospital São Lucas e as alamedas da Universidade. Associações livres são inevitáveis. Em uma tarde de quinta-feira, anos atrás, atendi a uma menina de 19 anos. Encaminhada por seu pediatra, que recomendou que passasse a consultar comigo. Afinal, havia crescido e era hora de

buscar um médico que atendesse adultos. Ao término, conversávamos como velhos conhecidos.

- Estou me sentindo melhor, gostei da consulta. Acho que o senhor será meu médico pelo resto da minha vida.

- É bem provável que não. Talvez seja teu médico pelo resto da minha vida.

Vi uma tênue sombra no olhar, que acompanhou o esboço de sorriso triste. Minha frase havia sido só uma tentativa de humor. Qualquer um saberia que “o resto da minha vida” estaria mais próximo que “o resto da vida dela”. O óbvio não precisava ser dito. Nem por brincadeira, a alguém de 19 anos.

Tivesse aceitado o elogio e seguido em frente, não estaria aqui remoendo isso. E note-se, nem mencionei a pa-lavra morte, ainda que fosse a minha. E em evocação fugaz. Ou não?

A vida pode ser representada pela extensão entre os dois braços bem abertos antes de um abraço ou pela distância entre o indicador e o pole-gar, quando pedimos muito pouco de alguma coisa. E o resto da vida para um jovem traz futuro, sonhos e con-quistas. Já para alguém que passou dos sessenta, lembra amanhã, pres-sa e cuidados. Nos dois casos, se não há doença, a morte parece estar sob controle. Se estiver velho e com saúde, não morro já. Se estiver jovem e com saúde, não morres nunca.

A morte precisa ser conhecida, é apenas uma palavra, pode ser sole-trada, faz parte do cenário em que vivemos, mas quando realiza antes do tempo tem o doloroso efeito de encurtar a vida.

Elaborar, quando possível!IVAN ANTONELLO, nefrologista e professor da Faculdade de Medicina

Olho as estrelas, no céu das noi-tes claras de verão. Sua luz demora bilhões de anos para atravessar o cosmo, embora viaje em velocidade aproximada de 300 mil quilômetros por segundo. É a corrida pela imen-sidão. A estrela que vejo pode não estar mais lá, sua explosão já ocorreu e, no entanto, sigo vendo sua luz. E o que vejo existe... para mim. Acho até que saudade é mais ou menos a mesma coisa, é o brilho do passado que se faz presente. A luz dos queri-dos que transpõe o Universo.

Enfim, são assuntos que povoam o imaginário ao tentar entender, ou con-solar, perdas que não se entendem ou consolam. Dois mil e dezesseis será melhor, mas sempre que olhar-mos para o céu... 2015 estará lá.

FOTO: GILSON OLIVEIRA

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