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Prevenira violênciadoméstica"é quase" comoeducar de novo
CRIME
0 objectivo é travar o número devítimas. Projecto da Universidade do
Porto, atacou o problema da violênciadoméstica através dos agressores
CATARINA ALMEIDA PEREIRA
Manda quem pode, obedece quemdeve. Mulher doente, mulher parasempre. Quem tem amores, tem do-res. E entre marido e mulher, nun-ca metas a colher. Os ditados popu-lares são o ponto de partidapara umdos exercícios que os psicólogos doGabinete de Estudos e Atendimen-to a Agressores e Vítimas (GEAV)fazem com os protagonistas de vio-lência doméstica Um trabalho que"é quase" como educar de novo.
"A maioria dos agressores comquem trabalhamos não tem qual-quer tipo de perturbação psicológi-ca ou de doença mental. E mesmoquando há alcoolismo a questão cul-tural é importantíssima", afirmaCelina Manita, coordenadora do ga-binete que existe há mais de umadécada
O interesse científico, aliado à
procura da comunidade, acabou pordistinguiroprojecto da Universida-
de do Porto, que desde cedo apostouna intervenção juntados agressores,e não apenas das vítimas. "Permite-nos ter uma compreensão maisaprofundada do problema. E temmais eficácia Se eu trabalho comuma vítimaposso protegê-la, mas sehouver uma ruptura na conjugali-dade não estou a proteger futurascompanheiras, porque não houve
mudança no agressor".C.8., 37 anos, passou de director
informático a estafeta, num percur-so de altos e baixos marcado porquatro anos de desemprego. As di-ficuldades no pagamento das con-tas da casa e do carro, a paralisia do
cão, a depressão "avançada" da mu-lher, as constantes discussões que ofaziam "ter vergonha de ir ao café"alimentaram uma espiral de tensãoe de agressões que se foram tornan-do cada vez mais explícitas. "Um diaela chegaacasae desata aos berros.Pedi-lhe um milhão de vezes parase calar, disse para falarmos... e elacada vez berrava mais. Foi quando
a esbofeteei". A mulher saiu de casa
e levou o filho, que tinha assistido à
cena Nunca mais voltou."Acho que a conjuntura, a 'nos-
sa' conjuntura, o desemprego, a fal-ta de dinheiro, levou a situações quegeraram muita tensão. E agora hámuitas casas onde não há pão e to-dos reclamam...", afirma, descre-vendo situações a que vai assistin-do nos bairros dos arredores deGondomar. "Não estou com isto a
justificar-me", acrescentaA responsabilização é uma dos
primeiros passos, diz Celina Mani-ta. "As crenças têm que ser altera-das e eles têm que se responsabili-zar. Há tendência para dizer que é
ela que provoca, que não sabe serboa mulher, que estava zangado".Para que o processo avance, os
agressores assinam um contrato te-rapêutico no qual se comprometema cessar os actos violentos. Autori-zam os psicólogos a contactar ter-ceiras pessoas e a quebrar o segre-do profissional, denunciando even-
tuais casos de agressões. Depois, otrabalho também passa por estra-tégias que partem do princípio de
que as pessoas agem em função da
percepção que têm da realidade. "Se
a leitura da realidade é distorcida aresposta também vai ser desade-quada", explica Celina Manita
"Não são pessoas dóceis e amá-veis. Mostram-nos os erros, masdão-nos força e formas de não os re-petir", diz C.B, que encontrou o ga-binete através da Comissão de Pro-
tecção de Crianças e Jovens. Outrossão enviados pelos tribunais. Mas amaioria dos cerca de vinte agresso-res que estão agora em acompanha-mento são voluntários.
Uma parte "significativa" das re-ceitas do gabinete é garantida pelaspessoas que o procuram. Outrapar-te provém de apoios a projectos de
investigação. "Não há verbas pró-prias para este tipo de intervençãoao nível das universidades", diz acoordenadora "Esse acaba por serum dos desafios".
"Não são pessoasdóceis e amáveis.Mostram-nos oerro, mas dão-nosforça e formasde não os repetir.C.B.
Protagonista de violência doméstica,
acompanhado pelo GEAV
A lenda diz que nasceu na Antiga Confeitaria pela mão dos monges, quando os liberais expulsaram as ordens
religiosas do Mosteiro dos Jerónimos. É o pastel de Belém conhecido em todo o mundo e feito com história. No
Remar contra a Maré, mostrando que é possível, no Porto concretiza-se um projecto de combater a violênciadoméstica com o agressor e não com as vítimas.
Os obstáculos
Travar sucessivosactos de violência
Como evitar que a mesma pessoacometa o mesmo acto de violência?
O trabalho directo com as vítimas
de violência doméstica ajuda as
pessoas em causa a ultrapassarsintomas e traumas, suavizando as
consequências do problema. Uma
actuação "que tem todo o mérito",salienta a coordenadora do
Gabinete de Estudos e Atendimento
a Agressores e Vítimas (GEAV)
acrescentando contudo que fica
algo por resolver. "Se trabalharmos
apenas a questão da vitimizaçãoestamos a deixar uma parte
significativa do problema de fora.
Mesmo que estes sujeitos cumpramuma pena de prisão, depois saem e
arranjam outra companheira. E aívão reproduzir os mesmos
comportamentos", afirma.
As soluções
Trabalhar a origemdo problema
"Durante anos pensou-se que o
trabalho com agressores eraineficaz e portanto seria um
desperdício de verbas. Isto foi uma
lógica dominante em vários países,
incluindo Portugal", explica a
investigadora da Universidade do
Porto, que participou em estudos
que mostraram o contrário.
Lançado em 1998, o GEAV começoua trabalhar com agressores de
violência doméstica - e não apenascom vítimas - dois anos depois. Por
interesse científico, e porque a
comunidade o pedia. Esta
abordagem permite "uma maior
compreensão" do problema,
garantindo "maior eficácia". Se o
trabalho com o agressor for bem
sucedido, previnem-se futuros
casos de violência.
A concretização
Homens,mulheres e casais
Quando chegam ao GEAV, os
agressores assinam um contrato
terapêutico no qual se
comprometem a não exercer mais
actos de violência. Dão ainda
autorização para que os psicólogos
conversem com familiares e
possam quebrar o segredo
profissional, denunciando eventuais
casos de agressões. Quando em
causa está um casal, é feita uma
primeira intervenção separada. Se
a violência tiver cessado e o
agressor tiver feito alguma
alteração comportamental o GEAV
pode avançar para terapia de casal.
Actualmente, o GEAV acompanhacerca de 25 agressores (cinco dos
quais sexuais), vinte mulheres
adultas e quinze crianças vítimas de
maus tratos.
» O Ministério da Saúde e a
Faculdade de Engenharia da
Univ. do Porto assinaram um
protocolo para o desenvolvi-
mento de um registo de saúde
electrónico.
PORTO
Registo de saúde
joAof.proença foi eleito di-
rector da Faculdade de Eco-
nomia da Universidade do
Porto. Ao serviço da institui-
ção desde 1999, o docente
exerceu várias funções em
empresas comerciais e in-
dustriais e como presidentedo Conselho de Administra-
ção da Alfatrade.
ELEIÇÃO
ALEGAÇÕES FINAIS
"Ainda há quem defenda que abarragem era melhor para Foz Côa"
MARINA MARQUES
m 1994, como foi rece-bida a notícia de que— havia no vale do Côa
gravuras de arte rupes-tre?
Na altura estava no 12.° ano e fazia
parte da comissão instaladora da
associação de estudantes, e a asso-
ciação reuniu-se para defenderaquilo que nos tinham ensinado naescola: o nosso património, as nos-sas memórias, que têm um valorinestimável e que era impensáveldeixar destruir. E acabou por sereste o sentimento generalizado den-tro da escola, que se tornou o cen-tro de operações, nacional e inter-nacional, do movimento de salva-
guarda das gravuras rupestres.Qual o momento mais marcante dessaluta?Para além da decisão da paragem das obrasda barragem e da classificação, em 1998,como Património da Humanidade das gra-vuras pela UNESCO, nunca esquecerei odia 20 de Fevereiro de 1995. Foi fabuloso.O então presidente da República, MárioSoares, visitou Vila Nova de Foz Côa. E a es-cola encheu-se de gente, não só com alu-nos daqui mas também de fora do conce-lho - também a Faculdade de Letras doPorto - e em toda a escola e na avenida emfrente reuniu-se uma multidão como nuncamais vi na minha vida, aqui em Foz Côa.E a cantarem o famoso sJogan"as gravu-ras não sabem nadar"?Sim, no momento em que o presidente da
República chegou todos cantámosesse slogan, uma adaptação damúsica dos Black Company feitapelo Nuno Saldanha, que na altu-ra era o presidente da associaçãode estudantes. Recolheram-se700 mil assinaturas por todas asescolas portuguesas para entre-gar a Mário Soares.Mas nem toda a população de FozCôa acompanhou esse movimen-to liderado pela escola?Não. Na altura houve uma divisãode gerações. Apopulação estudan-til defendia acerrimamente o pa-trimónio e apopulação activa viaa barragem como algo que a curtoprazo ia dar rendimentos à terra.Essa divisão ainda se mantém?Foi uma situação discutida deforma muito acesa pela popula-
ção local. Houve pessoas que se deixaramde falar e que ainda hoje não se falam. Aindahá um segmento da população que pensaque a barragem poderia trazer um futuromelhor para Foz Côa.Foi nessa altura que surgiu o seu interesse
pela arqueologia?O aparecimento da arte do Côa mudou em180° o rumo da minha vida. Como no I.°ano em que concorri para enfermagem nãoentrei, comecei a fazer o curso de guia do
parque, em Abril de 1996.A0 fim de uma se-mana estava fascinada. Acabei por desistirda área de ciências e tirar a licenciatura emArqueologia. Agora faço parte da equipaque estuda a arte rupestre no parque.
DALILA CORREIAArqueóloga do Museu do Côa.
Aluna da escola que liderou o
movimento de salvaguarda das
gravuras, em 1994
aHouve uma divisão de gera-ções. A população estudantildefendia acerrimamente opatrimónio e a população
activa via a barragem comoalgo que a curto prazo ia dar
rendimentos à terra"
A IS de Setembro
Estágios da AIESECestão de voltaOrganização gerida por estudantes volta a oferecer estágiosa portugueses fora do país e prepara recepção de estranegiros
ANA ISABEL [email protected]
O PRÓXIMO recrutamento da AIESEC,organização mundial gerida exclusiva-mente por estudantes - que lança todos
os anos um Programa de Estágios Inter-nacionais nas áreas de Gestão/Econo-
mia, Tecnologias da Informação, Enge-nharia, Educação e Desenvolvimento -,fazendo a ponte entre alunos do Superiore empresas de todo o mundo, ocorre de
15 de Setembro a 15 de Outubro. A orga-nização, presente em 107 países e terri-tórios, actualmente com 45 mil membros
de 1.700 universidades, explica Filipa Bri-
to, do escritório da AIESEC na Faculda-de de Economia do Porto (FEP), promovea «mobilidade e a celeridade».
Desde Janeiro, a AIESEC enviou 66 por-
tugueses para o estrangeiro e recebeu 21
alunos do exterior. A nível internacional,foram 7.709 as «trocas». Numa base de
dados internacional são registadas «asnecessidades especificas de cada em-
presa» que contacta a AIESEC, que de-
pois faz o matching de empresas e candi-
datos - que têm sempre a última palavra.Em Portugal, a Bolsa de Auxílio - re-
muneração do estagiário - varia entre 550
e 650 euros, segundo a região. Esta é umadas taxas que as empresas pagam à AIE-
SEC, que cobra ainda, no início da estadiado aluno, uma taxa única de 300 euros (150
euros pela angariação do estagiário e ou-
tros 150 para despesas relacionadas com a
sua recepção) e, depois, mensalmente,uma taxa entre 60 e 100 euros para orga-nizar, regularmente, actividades que vi-
sam uma melhor integração do estagiário.
«Quando o estagiário parte para umestágio internacional, o comité local,em conjunto com o de recepção, aju-da-o na obtenção dos documentos ne-cessários à sua partida», explica. «Nosentido inverso garantimos que os es-
tagiários trarão o que precisam paraa sua estadia e asseguramo-nos queterão uma casa segundo as preferên-cias. Recebemos os estagiários no ae-
roporto e ajudamo-los em todos os
processos burocráticos», acrescenta.
Estes estágios duram, em média, seis
a 12 meses. Há ainda uma modalidademais curta, em regime de voluntariado,os estágios Summer Abroad, com a du-
ração média de dois meses, na área da
responsabilidade social, em países emvias de desenvolvimento.
A AIESEC, que conheceu membros
como Cavaco Silva, Murteira Nabo e
Abel Câmara, tem mais de 800 mil alum-ni (antigos membros) e conta com maisde quatro mil parcerias a nível mundial.
A maior procura de estagiários vem de
empresas da Europa de Leste e do LesteAsiático. Os estagiários de língua por-tuguesa são sobretudo procurados porempresas de países da América Latina.
Os interessados deverão dirigir-se às
universidades onde a AIESEC tem es-
critórios, nas faculdades/pólos de eco-
nomia e/ou gestão: universidades do
Porto, Portucalense, de Aveiro, de Coim-
bra, Nova de Lisboa, ISEG, Católica e
ISCTE, em Lisboa, universidade da Bei-
ra Interior (Covilhã) e de Faro. Interes-sados de outras regiões podem inscre-ver-se em www.aiesec.pt.
AIESEC já enviou 66 portugueses para fora desde Janeiro
Director de Finanças trocacâmara pela universidade
• O director municipal de Finançase Património da Câmara do Porto,José Branco, vai abandonar o cargoem Setembro. Branco, que perten-ce aos quadros da Universidade doPorto (UP), aceitou o convite para seradministrador desta instituição.
O responsável pelas finanças da
autarquia acompanha Rui Rio desde2004 (com uma breve passagem pelogoverno, em 2006). Branco vai ser oadministrador do conselho de gestãoda UP, substituindo Manuel Silva Pin-
to, que se irá aposentar. P.C.
TERÇA 20
Nadir Afonso, histórias devida, Braga e ainda cromos
NADIR AFONSO. Doutoramento ho-noris causa. Na Universidade Lu-síada. Feliz. E sempre bem-hu-morado. O tempo passa. Mas não
por ele.
CASACHBAde académicos. Mas tam-bém o casal Eanes e Maria Barro-so. Entre muitos mais convidados.
COLOQUIAL. O estilo de resposta do
novo Doutor. Contando exemplosde como a arte obedece às leis ma-temáticas intuídas. Uns 40 minutosinteressantes e evocativos.
CURRÍCULO. E como não parar umpouco para admirar aquele jovemde quase 90 anos. Que em 1938 en-trava em Belas- Artes, no Porto, econcorria ao I Concurso da Moci-dade Portuguesa, e, dois anos de-
pois, participava na primeira de
múltiplas exposições de indepen-dentes e heterodoxos. Entre 1946 e
1948, trabalhava com Léger e Le
Corbusier, regressando ao ateliêdeste último em 1951. De 1951 a1954, colaborava com Niemeyer. Econvergia com Vasarely, Morten-sen, Herbin e Bloc. Arquitecto até
1965, não pararia a sua posterior ac-
tividade de pintor e teórico ensaís-
ta, com prémios e consagraçõesconsecutivas até hoje...
HISTÓRIAS DE VIDA I. Casamento de
filho de bom amigo. Em Azeitão. Nomeio de muita conversa variada,duas histórias de vida. Uma criança,familiar da noiva, veio falar-me, alu-
dindo aos domingos na TVI. Pedi-lhe
se me arranjava uma caneta para dar
um endereço electrónico. Fê-10, logo,solícito e divertido. Perguntei-lhe ida-
de e ano de escola. Resposta rápida,simples, sem drama: «Devia estarno 7." ano. Mas passei para o 6.°
porque tive um cancro, que me fez
perder um ano». E a conversa se-
guiu, debatendo o tema, ele e eu com
a maior naturalidade do mundo, sem
ponta de emoção, antes com a citaçãode exemplos de remissão e projectos
futuros de vida. Mais tarde soube o
que aquela ainda criança de 11 anos
recém-feitos tinha sofrido, e pasmeimais, se possível, com a serenidade,a maturidade com que lidava com arealidade passada, presente e futura.E tentei imaginar o que teria sido, em
1959, uma cena similar. E aumentounovamente a minha admiração pelomeu novo amigo.
HISTÓRIAS DE VIDA 11. Ao jantar, ameu lado está sentada uma avó de 21
netos. Que me conta como, em 1961,
ficou - terceira filha de cinco, entre
os 17 e os 10 anos de idade - órfã de
mãe, depois de já o ser de pai. E, como
aqueles cinco filhos, três raparigas e
dois rapazes, mais novos, formaramuma verdadeira república para se
auto-governarem, durante anos. Ecomo a mais velha de 17 largou estu-
dos para ir trabalhar como secretá-
ria, para pagar a família, até que as
duas seguintes se formassem e aju-dassem ao pagamento. Em Lisboa.Num tempo em que não era propria-mente usual três raparigas de 17, 16 e
15 anos assumirem publicamente o
comando de uma casa, com regraspor elas definidas e sem qualquer de-
pendência de parente próximo ou re-moto. Ouvir narrar essas regras e
como era garantido o seu cumpri-mento foi um momento inspirador.Dava uma novela. Novela mesmo,não telenovela. Ou mesmo um ro-
mance, se se contasse toda a sequên-
cia da história...
BRAGA. Ainda no casamento. A fa-mília da noiva era de Braga e do meu
Braguinha. Então, foi ver a cara dos
lisboetas banzados com as nossasdiscussões sobre Fernando Couto,Carlos Freitas, Eduardo, Quim ma-
goado, e por aí adiante. Com senho-
ras de provecta idade tão ou mais
agitadas... e conhecedoras do que as
e os mais jovens...
CROMOS DO MUN-DIAL Netos andam
nisso, comigo, hámeses. Ainda fal-tam duzentos cro-
mos. Ora bolas,
que nunca maisacaba a colecção. E
a Liga já aí vem, com mais cromos...
TESES. Comecei releitura de teses
moçambicanas para mestrados emSetembro. E terminou o seu per-curso tese de doutoramento em So-
ciologia Política, área internacio-nal, de uma orientanda que vaiprestar provas na Universidade Ca-
tólica. Bom ritmo de trabalhos.
QUARTA 21
Cavaco emAngola, AlbertoAmaral e menos900 cursosCAVACO. Grande sucesso a visita a Angola. Boa
para o Presidente. E, também, para José Eduar-do dos Santos.
PARCERIA ESTRATÉGICA económica. Entre Por-
tugal e Angola. Proposta, clara e insistente-
mente, pelo Presidente português.
ANOS de convergência entre Cavaco e José
Eduardo, agora pagantes... Apoios em momen-tos difíceis nunca se esquecem...
DISCURSOS concretos e bem direccionados de
Cavaco. Desde o papel da democracia e do Par-lamento às relações empresariais e aos angola-nos que vivem e trabalham em Portugal.
MUrTO ELUCIDATIVO. De como num ano baixaramde mais de 5 mil para pouco mais de 4.100 esses
cursos. Menos 900! De como certas universidadesmais pequenas ofereciam mais doutoramentos do
que as maiores. De como havia curso de doutora-mento sem doutorados da casa na área, contra-tando-se de fora em caso de aparecer aluno. E poraí adiante. Eu compreendi bem, habituado ao des-
porto favorito de alguns que é, todos os anos, pro-
por catervas de novos mestrados e doutoramen-tos com o mesmo pessoal docente, para compen-sar os cortes financeiros do Orçamento do Estado
com as sonhadas propinas dos potenciais alunos...
ARTIGOS E CITAÇÕES. Sobre algum exagero no uso
do critério - em si bem importante, em múltiplasáreas científicas - dos artigos em revistas e, so-
bretudo, das citações por terceiros desses artigos,uma história real e picaresca. Num ano recente,
em certo domínio das ciências sociais, o autormais citado era um sul-africano e, mais especifi-
camente, um seu artigo. Um dia, descobriu-se queo artigo, além de racista, era indigente e as cita-
ções eram todas de escacha-pessegueiro. E como
os computadores ainda não chegam ao requintede distinguir citações positivas e citações não só
críticas como achincalhantes, o autor em causa
tinha o aparente palmares de recordista na pro-jecção internacional. Claro que esta deve ser a ex-
cepção à regra.
ALBERTO AMARAL. Jantarcom o responsável máximoda Agência encarregada da
acreditação e avaliação dos
cursos do ensino superior.
QUINTA 22
Revisãoconstitucional,stressebancárioe Bethânia
REVISÃO CONSTITUCIONAL Continua
a controvérsia estival. Injusta, a meuver, embora esperável, na parte eco-
nómica e social. Porque é que o PSDnão há-de poder fazer propostas não
estatistas, em particular com o esta-
do financeiro do Estado que temos?
Goste-se ou não delas - e eu não sou
um liberal económico -, é ridícula ahisteria contra o exercício democrá-tico de proposta de revisão constitu-cional. Já a eliminação de qualquerreferendo sobre a regionalização -pense-se o que se pensar sobre ela - eem especial as alterações de poderespresidenciais, em vésperas de elei-ções presidenciais, contraditórias emal explicadas são amplamente ques-tionáveis. E criam um caldinho paramatar a revisão constitucional antes
mesmo de começar. Pelo menos, umarevisão que se veja.
MARIA JOÃO PIRES nos ConcertosPromenade da BBC. Parabéns!
KÁTIA GUERREIRO. Imparável. Traz,em 16 de Setembro, a Orquestra daBaixa Normandia, ao Centro da Se-
nhora da Boa Hora, no Estoril.
MARIA BETHÂNIA.
Conversa na Casa
Fernando Pessoa,ontem. Concerto,hoje. A abarrotar.Lá estivemos, aminha filha Sofia- fanática de
Bethânia e de música brasileira emgeral - e eu. Um grande espectáculo!
REFLEXÕES. Notável a forma comoMaria Bethânia aguentou em palcoum vendaval desfeito, que formavaturbilhão e acentuava o fresco da noi-te. A repensar o local - o Hipódromode Cascais, lindíssimo mas com pou-cas condições para o desejado. Gélidoo público, que só aqueceu no final de
tudo, para os encores, e aí frenetica-mente. Mas tarde... Dizia uma brasi-leira: «Os portugueses são uns tris-tes...». Verdade. E os tempos não vão
para excessivas alegrias, emboraBethânia merecesse mais animação.
SEXTA 23 E SÁBADO 24
Jardim, mais revisão,banca e automóveis
JARDIM indignado com chumbo na-cional de proposta de revisão do PSD--Madeira. Mais uma dor de cabeçapara Passos Coelho.
MAIS REVISÃO. Alegre quer que Ca-
vaco fale sobre aquilo que, muito pos-
sivelmente, ninguém lhe comunicouantes e, menos ainda, achou que me-receria a sua opinião prévia. Até poristo, o PSD criou um mini-sarilhodispensável ao candidato que diz
querer apoiar.
PS. Recusa e aproveita para fazer ba-
rulho e disfarçar a falta de governa-ção. Outro efeito colateral perverso,a menos que o PSD saiba como des-
montá-10.
AUTOMÓVEIS. Para quem adora (o quenão é o meu caso). Exposição dos car-ros dos sucessivos Presidentes da Re-
PADRE JOAQUIM TAVEIRA. Parte dos
Salesianos do Estoril. Após umavida dedicada à escola. Homenagem,justa, dia 30, com missa e jantar de
despedida. Iniciativa da Comunida-de Vida e Paz e dos antigos alunos.Um deles foi meu filho Nuno, nosanos 80. E não esqueço aquilo que o
padre Taveira contribuiu, à sua ma-neira, para anos essenciais de for-
mação.
STRESSE BANCÁRIO. Antes mesmodos dados oficiais dos testes de stres-
se bancário, promovidos a nível eu-
ropeu, uma certeza: não há situaçõesde risco de insolvência ou análogosna banca portuguesa. Haja Deus!Crédito difícil e caro, mas não riscos
como os rumores infundados puse-ram a correr...
pública. Ao longo de 100 anos. No Mu-seu da Electricidade. Dizem os en-tendidos que vale a pena!
PERGUNTAS para a TVI. São centenasde e-mails diários. Começou um com-
plemento agradável das noitadas de
trabalho. Agora, são horas e horas de
leitura. Perguntas à portuguesa. Isto
é, com linhas e linhas, cada...
LAURINDA ALVES.
Para Setembro, sé-
rie de programasna RTP, sobre su-
cessos de portu-gueses por esse
mundo fora.
DOMINGO 25
Hipers, Mexia,SCUT e quaseférias
HIPERS. Ganharam o braço de ferrocom o pequeno e médio comércio. Si-
nais dos tempos: a Confederação doComércio pesa hoje muito menos do
que pesava no final dos anos 80. Parajá não dizer com Manuel Gamito.
MEXIA. Pedro Mexia saiu de director- competente - da Cinemateca Na-cional. Mais um episódio da teleno-vela 'A ministra incompatível'. A mi-nistra da Cultura, claro. Mais a difi-culdade em manter os responsáveiscimeiros do seu Ministério.
SCUT. Há lei a impor portagens. Nãohá lei para dizer como se paga. Por-
tugal no seu melhor! Todos podemdizer que ganharam, mas ninguémganhou definitivamente nada. E Por-
tugal só perde com este misto de in-
definição e equívoco.
QUASE FÉRIAS dos deputados. Ter-minados os trabalhos parlamentares.E dos políticos, em geral. Bem preci-sam, que vem aí um ano repleto de
razões de animação ou agitação.
DOUTORAMENTOS HONORIS CAUSA de Eanes, Soares e Sampaio. Pela Universida-de de Lisboa. Já aprovados e a formalizarna abertura do ano lectivo. Lisboa adereà tradição coimbrã dos doutoramentos ho-
noris causa políticos. Nada como seguira alma mater.
OUTRAS HISTÓRIAS. CMVM investigaFrancisco Bandeira e Armando Vara. Tri-bunal confirma coima de CMVM a BCP porfactos de outros tempos e Jardim Gonçal-ves acusa actual BCP de não ter cuidado da
sua defesa (dele, Banco). Felizmente, tudoserá esclarecido em devido tempo. Isto é,
uma década depois das alegadas ocorrên-
cias, com vários recursos de permeio.
CONTAS PÚBLICAS. PSD quer saber o por-quê da evolução nada famosa expressa norelatório de execução orçamental.Comtoda a pertinência.
SEGUNDA 26
Kosovo, trêsPresidentese mais históriasde encantarKOSOVO. Tribunal Internacional de Justiçadeu razão ao Kosovo. Sérvia assegura quevai resistir. Veremos c0m0... Mas que a de-
cisão do Tribunal é muito criticável, pareceindiscutível para a maioria esmagadora dos
juristas internacionalistas.
CALCULADORA UNIVERSAL
MÃES PORTUGUESAS CADA VEZ MENOS JOVENS
Cada vez nascem menos crianças em Portugal, cada vez as
mulheres têm menos filhos e cada vez mais as portugue-sas optam por ter o seu primeiro bebé mais tarde.No último meio século, a idade média das mulheres ao
nascimento do primeiro filho era de 25 anos, enquanto hojeé de 28,6 anos. Mas não se pense que foi uma evoluçãolinear. Entre 1960 e 1983, até houve uma juvenilização da
maternidade, com a idade média ao nascimento do
primeiro filho a chegar aos 23,5. Mas em meados da décadade 1980 a tendência inverteu-se e aceleradamente, quase a
um ritmo de um ano a cada lustro: 23,8 em 1985, 24,7 em
1990, 25,6 em 1995, 26,5 em 2000, 27,8 em 2005 e os tais
28,6 em 2009, últimos dados disponíveis no INE. É umfenómeno global, sentido sobretudo na Europa, que tem
muitas explicações, sendo a do aumento da formação das
mulheres a principal. Afinal,
com o sexo feminino a ser já maioritário no ensino superiore as mulheres a lançarem-se de corpo e alma numa carreira
profissional, o adiar da idade do primeiro filho surge como
natural, tanto mais que os incentivos à natalidade e as
estruturas de apoio (leia-se infantários) são deficitários. Os
progressos da medicina e o aumento da esperança média de
vida desdramatizam a maternidade acima dos 30 anos, cada
vez mais vista como normal, sobretudo entre mulheres que atécerto momento tiveram outras prioridades, mas que sentemvontade de ser mães. Em Portugal, são famosos os casos da
cantora Adelaide Ferreira ou da actriz Cristina Homem de Melo.
Como elas, muitas mulheres não se deixam assustar por teremo seu primeiro bebé mais tarde que a maioria. Nada têm que vercom casos extremos como o da espanhola Maria dei Carmen
Bousada de Lara, que foi mãe de gémeos aos 66 anos, mas
graças a um tratamento de fertilidade nos Estados Unidos
conseguido através de uma falsificação da idade.
Calendário das árvoresconta evolução do climaAnéis de crescimento revelam secas e anos chuvosos ao longo do tempo
Um anel, um ano, é assim que se conta o tempo, diz a investigadora Sofia Leal
EDUARDA FERREIRA
Amostras de carvalhos
e cedros funcionam
como registos de temposmuito antigos
Dendrocronologia. A palavra pode pa-recer difícil de pronunciar, nas suas raí-
zes gregas, nascidas de "tempo" e "ár-
vore". Ela define o ramo da ciência quedata acontecimentos a partir dos anéisde formação de um tronco. Essa pes-quisa começa a florescer no país.
Foi já inaugurado o Laborató-rio de Dendrocronologia e Aná-lise de Imagem, que vai funcio-nar no Instituto Superior deAgronomia, em Lisboa, e servi-rá projectos de investigação, umdeles em colaboração com o gru-po da Faculdade de Ciências deLisboa que faz pesquisas sobrealterações climáticas. O labora-tório fica associado ao Centro deEstudos Florestais e, segundo a
sua coordenadora, Helena Perei-ra, também vice-reitora da Uni-versidade Técnica de Lisboa, po-derá analisar dados com aplica-ção a estudos climáticos, ar-queologia, hidrologia, fogos flo-restais e património histórico ouartístico.
Cada anel de um corte emtronco de árvore equivale a umano se o exemplar analisado se ti-ver desenvolvido em clima tem-perado como o nosso. Já em zo-nas onde as estações não são tãomarcadas e com chuva mais
abundante, as marcas nos troncostornam-se mais irregulares. A ex-plicação é dada por Sofia Leal, in-vestigadora principal do labora-tório que, aos 33 anos, acumuladois doutoramentos, um em den-droclimatologia e outro em ciên-cia e tecnologia da madeira.
D Marcas nos troncos podem ajudar a previsões
CICLOS DO PASSADO
A observação e análise dos estrei-
tos cilindros extraídos de árvores
antigas fornece indícios de secas e
outros episódios climáticos. 0efeito dos fogos no crescimento
das árvores também é objecto de
estudo.
EFEITOS EVIDENTES DE SECA
A equipa de dendrocronologia temestudado o efeito da seca na
floresta de carvalhos portuguesa.|á constatou que o ano de 1976 foi
penalizador para o carvalho
negral: os anéis são mais estreitos.
RECUAR SÉCULOS
Os métodos de análise seguidos
pela dendrocronologia permitemsaber do clima em séculos muitoanteriores ao nosso. Os registoscom instrumentos são relativa-mente recentes, não indo além
dos 150 anos.
NEM SÓ NA FLORESTA
A dendrologia também tem
expressão na recolha de vestígiosem glaciares, antigos lagos e
zonas de corais. Esses meios natu-rais preservaram informaçõesdatadas sobre o passado.
A procura das mais antigas
A árvore mais antiga de solo por-tuguês analisada por Sofia Lealtem cerca de 200 anos. Esta en-genheira florestal de formaçãobase tem procurado por Portu-gal exemplares antigos que pos-sam contar a história do nossoclima. Oliveiras ou sobreiros,ainda que com espécimens cen-tenários, não ajudam muito porserem de tronco irregular. Por
isso, a equipa de Sofia Leal con-centra-se na procura de carva-lhos, de que sabe existirem nú-cleos plantados há 400 anos. Sónão localizaram onde, mas Trás-os-Montes é uma possibilidade.Neste Verão serão tiradas amos-tras nessa região e ainda perto daSerra da Estrela e do Buçaco. Os
cedros, além dos carvalhos, se-rão as espécies eleitas para os es-tudos.
O método para recolha deamostras não danifica as árvo-res: é feita uma perfuração e ex-traído um magro cilindro de ma-deira. Essa pequena amostra é
depois analisada ao microscó-pio, onde é feita a contagem dosanéis. Os pormenores de umdado ano são também reveladosatravés de fragmentos minúscu-
los, observados num outro mi-croscópio. Indícios de que hou-ve fogos ou poluição podemconstar nos resultados.
Diz Sofia Leal que as aplica-ções da dendrologia podem exi-gir que se saia do domínio flores-tal vivo. Os investigadores retro-cedem no tempo também através
da análise de material usado emconstruções, por exemplo, travesde madeira. A disciplina está ca-pacitada para ajudar na dataçãode casas, vestígios de naus ou ou-tros elementos lenhosos.
O projecto que agora arrancatem a designação "dendro-PORT" e é apoiado em 200 mileuros pela Fundação para aCiência e Tecnologia. Os gruposdo Instituto Superior de Agro-nomia e da Faculdade de Ciên-
cias da Universidade de Lisboatêm tarefas distintas. O primei-ro reconstrói o passado climáti-co observando o calendário ins-crito nas árvores, enquanto o se-
gundo fornece os dados climáti-cos que existem em registo, paraque seja testada a relação entreclima e as árvores. A partir daí,o Laboratório de Dendrocrono-logia e Análise de Imagem poderecuar para épocas mais remo-tas. ¦
Projecto é apoiado
em 200 mil euros
pela Fundação para
a Ciência e Tecnologia
Uma oportunidade perdidaPEDROPIMENTELSecretário GeralANIL
A aprovação em Conselhode Ministros do diplo-ma que 'transfere' para as
autarquias a responsabilidade de
autorização da abertura aos do-
mingos à tarde dos espaços co-merciais com mais de 2000 m
2
parece ter surpreendido mesmo
alguns daqueles que são consi-derados os mais directamenteafectados.
O diploma, que quando estas
linhas são escritas não havia sidoainda publicado, vai aparente-mente mais longe do que a taldecisão de abertura nas tardes de
domingo, a qual, recorde-se, an-dava a ser ponderada com 'luvasde seda' há quase 15 anos e quechegou a motivar a demissão do
primeiro Ministro da Economiada era Guterres, Daniel Bessa. Onovo decreto-lei acaba por permi-tir que os espaços comerciais pos-sam passar a estar abertos de 2 a a
Domingo, das 06h00 às 24h00,sendo que os municípios onde
essas lojas estiverem instaladas
podem "em casos devidamente
justificados alargar ou restringiros limites dos horários fixados".
Esta decisão, quer do pontode vista da concorrência entre
lojas (e entre insígnias), quer do
ponto de vista dos interesses do
consumidor, parece ajustada e
corresponderá aos anseios de uns
(pelo menos dos detentores dos
espaços comerciais sujeitos àque-las limitações) e de outros.
A APED veio, como é já usual,
agitar a bandeira' dos milharesde postos de trabalho cuja cria-
ção tal decisão permitirá, rece-bendo de imediato a bênção e
o eco do Secretário de Estadodo Comércio, Fernando Serras-
queiro, o qual, aparentemente,não teve tempo de coordenardiscursos com o seu Ministro,Vieira da Silva, que na mesmaocasião remetia a justificação dadecisão para o campo da concor-rência, referindo que não antevia
impacto da decisão ao nível do
emprego.Do lado dos fornecedores, o
impacto do novo diploma pa-rece igualmente positivo, poisaumentará o 'tempo' disponí-vel para a realização do acto de
consumo, podendo resultar numaumento do volume de vendas...
mas é também verdade que a de-cisão oferece 'de mão beijada' umacréscimo de quota de mercado a
alguns dos principais operadoresa actuar no mercado portuguêsda distribuição.
Mas se o impacto deste diplomaé quase unanimemente encaradode forma positiva - descontandoos habituais protestos do peque-no comércio, o qual, em boa ver-dade e na maioria dos casos, nãosoube ou não quis aproveitar a
vantagem que lhe foi conferida
pelo condicionamento criado às
grandes superfícies - então por-que manifestar fortes reservas nasua direcção?...
Essencialmente, por causa do
momento em que este diplomafoi aprovado e por causa da for-ma como o processo que levou a
esta decisão foi conduzido...
Porque será que este diplomafoi aprovado 'a correr' em Con-selho de Ministros, exactamentenesta altura, não havendo sequertempo de o colocar em consulta
junto dos principais "stakehol-ders" (entre os quais, refira-se, do
ponto de vista das nossas autori-dades, as empresas fornecedorasnão se incluem) e, ao que pare-ce, apenas com a cumplicidadeda ANMP, em representação das
autarquias?
Será porque está a dias de
ser publicada a versão final doestudo da Autoridade da Con-corrência sobre as relações en-tre a moderna distribuição e os
seus fornecedores, aguardadocom grande expectativa e que— espera-se — seja fortementecrítico sobre as práticas dos prin-cipais grupos retalhistas e sobre
o correspondente impacto nas
empresas a montante?Era sabido que esta decisão
mais cedo ou mais tarde surgiria,mas em especial nos dois últimos
anos, repetimos até à exaustão
junto do poder político — querjunto da nossa tutela, o MADRP,quer junto do Ministério daEconomia — e dos vários gru-pos parlamentares que a adop-ção de alterações aos horários de
funcionamento dos hipermerca-dos e outras áreas comerciais de
dimensão superior a 2000 m
2
deveria ser acompanhada da ob-
tenção de contrapartidas juntodos grupos da distribuição, em
especial no que se refere à adop-ção de práticas comerciais mais
transparentes e com menor im-pacto negativo junto do respec-tivo tecido fornecedor!
Bem pode vir o ministro da
Agricultura publicamente decla-
rar a sua preocupação em relaçãoao discurso (e, depreende-se, em
relação ao comportamento) da
Grande Distribuição a operarem Portugal, avançando até com
propostas para, por exemplo,comprimir legalmente os prazosde pagamento aos seus fornece-dores, quando, ao mesmo tem-
po, o Governo, de que faz parte,aprova este tipo de alteraçõessem qualquer tipo de salvaguar-das ou contrapartidas ou quandoalguns dos seus membros fazem
declarações que não são mais do
que o abençoar pelo poder po-lítico das tais práticas abusivas
da distribuição, como aconteceurecentemente com a implemen-tação dos aumentos do IVA.
Não tenhamos, pois, ilusões:
a aprovação 'a correr' deste di-ploma é mais uma oportunida-de perdida por parte do nosso
poder político de, no legítimoexercício do seu poder reguladore em benefício de fornecedores e
consumidores, introduzir altera-
ções de comportamento e limitara sensação de impunidade queatravessa a nossa distribuição.
EquívocosQuando me desloco ao es-
trangeiro, sou questionado fre-
quentemente sobre a forma dealternância no Poder dos nossos
partidos políticos. Quem gover-na à direita e quem governa à
esquerda.Com alguma dificuldade, ten-
to explicar que em Portugal nãoé bem assim, já que os partidosque se sucedem no Poder são
muito parecidos. Existe uma flu-tuação de menos de 20 por centode eleitores que por desconten-
tamento, ou protesto, e não porconvicção ou ideais, confere a
vitória aos partidos.Se até há bem pouco tempo, e
na sequência do acordo entre os
líderes dos dois principais gru-pos políticos, tudo parecia estar
como sempre, com o anúncio de
uma proposta de revisão cons-titucional, por parte do PSD,ficamos na expectativa de poder-
mos vir a ter um cenário políti-co onde cabem diferentes ideias
e diferentes formas de estar. Noque respeita à Saúde e ao Ensino
Superior, a exclusão do seu ca-rácter tendencialmente gratuito
passará a evitar o recurso siste-
mático à inconstitucionalidade,
sempre que surge uma alternati-va ao estado actual das coisas.
De imediato vieram a terreirovozes contra a anunciada inten-ção de proposta de alteração da
Constituição, referindo alguns
que se trata de propostas "aven-tureiras" que fariam recuar o Es-tado Social à condição de EstadoMínimo e iriam fazer com queos desvios públicos sofressem
uma "brutal" transferência de
recursos para o sector privado.Primeiro equívoco: a perda de
gratuitidade não é sinónimo de
a actividade passar a ser realiza-da pelo sector privado. Em boa
verdade, o que acontece é que o
financiamento das instituiçõespúblicas prestadoras de serviçosde saúde e de ensino deixa de serexclusivamente suportado pe-los impostos e passa a ser pago
A.ALMEIDADIAS
Presidentedo Grupo CESPU
directamente pelos utentes dos
serviços. Isto é, paga quem con-some.
Obviamente que, acreditando
que o sistema fiscal é fiável, seráfácil de determinar quem são os
que necessitam de apoio para po-derem usufruir destes serviços.
Segundo equívoco: a aberturaao privado de sectores como a
Saúde e o Ensino é encarada pormuitos como um risco elevado de
redução da qualidade dos meios.Ora, isso não é verdade, pois a
sociedade civil sempre soube res-
ponder com qualidade aos desa-
fios que lhe são permitidos.Se fizermos as contas aos gas-
tos na Saúde ou no Ensino nosector público e os comparar-mos com o observado no sector
privado, percebemos que, pararesultados semelhantes, o custoda produção no sector público é
tradicionalmente superior. Neste
sentido, poderemos admitir queum serviço de igual qualidadepode ser colocado no mercado a
preços inferiores pelo sector pri-vado, o que poderá induzir umapreferência por este sector.
Fica-nos a sensação que a
implementação de um merca-do onde exista para os mesmos
serviços uma concorrência lealcria receios naqueles que queremmanter, a todo o custo, sistemasde produção pouco eficientes e
pouco eficazes.
Senão vejamos, a propósitodo Serviço Nacional de Saú-de, o que o próprio Dr. Antó-nio Arnaut, um dos principais
responsáveis pela sua criação,refere no seu discurso «A Luci-dez da Ousadia»: "O acréscimo
progressivo de despesas com a
saúde, decorrente de causas co-nhecidas, pode pôr em risco asustentabilidade financeira do
nosso modelo de SNS." "...OSNS gasta um sexto do orça-mento do Estado, equivalentea 10 por cento do PIB, o quenos coloca, neste plano, acimada média europeia.
Mas já ficamos no fundo databela se considerarmos a despe-sa per capita." ..."O que é ne-cessário e urgente é, em primei-ro lugar, reduzir o desperdícioque alcança a fasquia escanda-losa dos 25 por cento, ou seja,de um quarto do orçamentoconforme verificou o Tribunalde Contas."
Este sentimento, de algumaforma colectivo, tem levado aoinevitável encerramento de ser-
viços de saúde públicos e à im-plementação por parte do Minis-tério da Saúde do denominadoPEC da Saúde, assente em dezmedidas estratégicas de formaa reduzir, dentro do possível, o
custo exagerado do SNS, numatentativa de evitar a sua rupturaimediata.
Contrariamente, no que res-
peita ao Ensino e apesar do en-cerramento de algumas escolas
públicas, tem-se assistido a umaconsolidação do modelo públicoe ao desmantelamento da oferta
privada. Resta saber a que preço.
Road-show já contactoucom milharesde estudantes
Terminado mais um ano lectivo, o "road-show" da ANJE- Associação Nacional de Jovens Empresários dá por con-cluído o plano de actividades do primeiro semestre. Duranteeste período, o projecto itinerante passou por 17 escolas, re-gistando um total de 1290 participantes nos seminários de
empreendedorismo que contemplam a vertente de exposiçãodo "road-show".
Sublinhe-se, porém, que o público do roteiro promovidopela associação não se limita aos participantes no seminá-rio, uma vez que o certame também promove uma exposiçãoaberta a toda a escola, a qual chega mesmo a ficar disponí-vel para a comunidade escolar durante dois dias.
A adesão dos jovens estudantes aos seminários informa-tivos revela o crescente interesse dos mais novos relativa-mente à carreira empresarial e à criação do negócio próprio.Analisando a participação por regiões, é possível concluir
que o contacto dos alunos com o empreendedorismo é maisexpressivo a Norte (44%), seguindo-se a região de Lisboa eVale do Tejo (30%), o Centro (20%) e o Alentejo (6%).
Existente desde 1997, o "road-show" da ANJE tem pormissão promover o espírito empreendedor nas instituiçõesde ensino nacionais, procurando dar a conhecer aos alunos o
mundo real das empresas e estimular-lhes as característicasidiossincráticas normalmente atribuídas a um líder, como a
predisposição para o risco, o dinamismo, a criatividade e a
capacidade de inovação. Para melhor desenvolver nas esco-
las massa crítica nestas áreas temáticas e ajustar os conteú-dos ao nível de estudos dos participantes, são desenvolvidosdois modelos de road-show: um destinado aos estudantes doensino secundário e profissional e outro aos estudantes doensino superior.
O projecto encontra-se a cargo da Academia dos Empre-endedores, marca da ANJE responsável pela promoção do
empreendedorismo, sendo também desenvolvido em estreitacolaboração com os núcleos regionais da associação, queasseguram a distribuição geográfica do road-show.
"Arrisca Coimbra 2010"inclui um Prémio ANJE
0 Prémio ANJE é um dos 13 galardões a atribuir no âm-bito da competição de empreendedorismo "Arrisca Coimbra2010". O concurso de ideias apresenta este ano um valorglobal de 38.500 euros em prémios, contando para tal comuma extensa lista de promotores e parceiros, entre eles a
ANJE - Associação Nacional de Jovens Empresários.Atribuído ao vencedor na categoria de projecto inovador de
base tecnológica, o Prémio ANJE tem o valor de 4000 eurose corresponde a 80 horas de consultoria, tendo em vista a
elaboração do plano de negócios. O Prémio Inovcapital, o
Prémio lEFP, o Prémio lAPMEI, o Prémio I PJ/Fi n icia Jovem,o Prémio Caixa Geral de Depósitos e o Prémio IPN-Incuba-dora são alguns dos demais galardões.
À ANJE caberá ainda a promoção dos projectos vencedoresjunto dos seus associados e do universo empresarial de ummodo geral, no sentido de encontrar eventuais parceiros e
investidores, que possam apoiar os mais jovens na imple-mentação das suas ideias de negócio.
Para além da associação, são promotores do «ArriscaCoimbra 2010» a Universidade de Coimbra, a AssociaçãoAcadémica de Coimbra, o Instituto Politécnico de Coimbra,a IPN Incubadora, o Coimbra iParque e o Clube de Empre-sários de Coimbra. As candidaturas estão abertas a estudan-tes e recém-diplomados do ensino superior de Coimbra edecorrem até 18 de Outubro de 2010, a partir do site www.arriscacoimbra.pt.