HJT"- 195409 rA

PROPOSTA^ QUE O DOUTOR

JOAÔCURVO SEMMEDO.

Medico, morador cm Lisboa faz aos amantes dá íaude , 6c con-

ciencias.

Obediência, pelo que tem de cega, piza rodos os obftaculos; efta he a razam, porque nem me reprimem as confíderações, que fe haõ de fazer i nem as caufas, que fe haõ de dar ao de- íignio, que tenho em publicar eíle papel. Man- daõ-meosmeus Confeífores expor as razões, porque confidero ao meu Bezoartico menos

effectivo, do que prometem as fuás propriedades, & as minhas experiências.

Três faõ as razões, porque o meu Bezoartico não obra tarn bôs etTeitos aplicado por outrem, como quando eu o aplico.

A primeira razão hc; porque ufaõ delle em muito menor quantidade, do que fe deve ufardeitãomcya oitava do dito Be- zoartico cm meya canada de aguas deíhlladas de papoilas, ou de azedas, ou quaifquer outras,que proveito pôde fazer, ou que efficaeia pode moflrar húa quantidade tam pequena contra hum inimigotamgrande, como he hua febre maligna ? O meu Bezoarticoconftadedezafeis ingredientes, eftes repartidos por meya oitava,cabem pouco mais dedousgrãos de trigo de pezo de cada ingrediente na tal meya oitava j & que effeito podem £a'

A ze .

zer o pezo de dous grãos i Faraó o mefmo effeito que faria hum punhado de aflucar cm quatro alqueires de farinha p3ra fazer bo- los doces; ou hum punhado de fal para falgar a carne de húa va- ca: eu coflumodeirar duas oitavas do meu Bezoartico em cada tres quartiihosde aguas deílilladas,ou (o que julgo por melhor) em cada tres quartilhos de agua ordinária cozida com cevada, pevides de cidra , & raizes de efcoríioneira, & deíra bebida bem vafcolejada,doumcyoquartilho,defeisemfeis horas, aos do- entes; os que deite modo o derem obfer varáõ húa quaíí milagrofa utilidade ,como eu tenho vifto infinitas vezes em trinta, & fetc annos, que exercito a medicina.

Afegunda razão, porque o meu Bezoartico obra menos bem nas mãos alheas do que obra nas minhas he porque o dão tam tarde, & tam fora de tempo,que he impoífi vel moltrar a fua grande virtude: que importa que o fal feja o melhor prefervativo da corrupção, fe o deitarem no peixe,ou na carne depois de cita- rem podres ? Eu coflumo ular do meu Bezoartico tanto que co- nheçoalgfis finaes de malignidade; & eita he a razaõ, porque experimento nellc os proveitos 5 que outros médicos não experi- mentão: podermehaõ dizer, que nem em todas as doença malig- nas convém purgar fem os humores eítarem cozidos, & que por eíta razão não dão o meu Bezoartico tam cedo, como eu o dou: os que feembaração com tila duvida item tão pouca noticia do meu Bezoartico, que ainda não fabem ,quedando-ofóperfinaò he purgativo porque para o fer, he necelTario , que aos tres quar« tilhos de aguas delliladas ou de cuzimento de cevada, pevides d< cidra ,& efcoríioneira lhe ajuntem tres oitavas de folhas de fenc^ com féis onças de aflucar rofado de Alexandria, ou tres oitavai de folhas de fene, com féis oitavas de polpa de tamarindos, ou de fal Policreflocriftalizado,& todas as vezes, que aos fobreditos cozimentos, ou aguas deflilladas fenão ajuntarem as folhas de fene com o aflucar rofado, ou com o fal Policrefto ,ou com apol- pa de tamarindos não purgará© dito Bezoartico coufa alguma porque elle dado fó per fi não tem virtude de purgar, a virtude, que tem, he Cordeal, Bezoartica, & contraria a todo o veneno, principalmente contra a qualidade venenoza das febres malig- nas , bexigas,ferampãos > & doençascontagiofas ,& fó he purga-

tivo.

tivo• quando lhe ajuntão coufas purgativas. A terceira razão, porque o meu Bezoartieo obra menos

bem nas mãos alheas do q nas minhas he porque algus Boticários defta Cidade ,& fora delia o falfíficaõ,& vendem com o nome de meu: naõ duvido que os feus inventos poíTaõ ler melhores; mas he certo que aífim o Bezoartieo, como algús outros remédios, que vendem com o nome de meus, o naô faõ, porque os verda- deiros feitos por minhas mãos fó fe achaõ em minha cafa, ou nas boticas de SãoDomingos,&deJoac Gomes Silveyra , morador ao Chiado ,& de Joaõ Baptilla, morador àCiuz de Cataquefa- ràs; porque efíes Boticários mos compraõ feitos, & todos os que fe vendem fora deflas boticas faõ falcificados, porque naõ revelei acompofiçãodellesaalguem, nem tenho tençaõ derevelalos fe- naõ por morte a minha molher ,oua meu filho.

Paraosquequizerem abraçar a verdade baflão cilas leves noticias, Separa os que por enveja, ouinterefe fe enfurdeferem aos brados das (uas conlciencias fam efeuzadas todas as teflifí- cacões.

Noticia de algús remédios mais finguiares, & ejfica^cs, que pre- paro com minhas mãos , & fio difeurfo de trinta, & oito

annos tenho experimentado comfelicijjimos fuccejfos.

BEzoartico, cordeal para todas as febres malignas, bexigas, icrampãos ,& outras doenfas cm que ouver anciãs de cora-

ção ,ou fofpeitas de veneno,cujas virtudes , quantidadeem que fe dà, & modo com que fe aplica fe acharàõ na minha Po! yantnea Medicinal,no tratado2.capit. 95. folhas639. atè 649. aonde nomeyo trinta doentes,que depois de citarem ungidos , & algus delles com o officio da agonia rezado, me chamarão , & dando- lhesodito Bezoartieo efeaparaõ da morte, vejam também as fo- lhas 6$6. do numero 50. atè 52. também vejaõ as folhas 8)2. def- de o numero 12. atè 17. & as folhas Ó51. do numero 1. atè o nu- mero 15.6c as folhas 105. numero 7. o modo com que fe receita o Bezoartio cordial quando convém que feja purgativo, fe achará na fobredira Polyantea tratado 3. cap. 4. foi. 813. num. 15. & 1 ó.

A ij o modo

o modo com que fe receita o Bezoartico cordeal quando quero que naõ purgue, fe achará na fobredica Poiyantca folhas 814. nu- mero 17-0 modo com que fe receita quando he para bexigas, & ferampaô fe achará nas folhas 814. num. 18. & 19. vai cada onça dotal Bezoartico 1600. reis, &fc fazem comei la 4. cordiais de ires quartilhos cada hum, conferva a fua virtude, em quanto efiá inteiro, quatro annos; mas depois que fe miílura com as aguas ef- tiladasjoucomoscoíimentosdurafó três dias.

TrocifcosdeFioravanto .cujas virtudes, quantidade, em que fe daõ, & o modo , com que fe aplicaõ, fe acharão na Polyan- í/;?tfrracl$.cap.4.fol.8i5.donum. 20. até22. Vai cada onça 800. reis, & fe fazem com cila 6. purgas confervaõ a fua virtude 6. annos.

Pirolasabforbenresantefebriles cujas virtudes,quantidade em que fe daõ, & modo, com que fe applicão fe podem ver na Polyantea rra<ft.$. cap. 4. foi. 8i 6. & 817. do numero 22. atê 20. Veja-fc também na foi. 60. n. 52. Vai cada onça 800. reis confer- vaõ a fua virtude 8. annos.

Extracto Alcaeft, cujas virtudes, & modo, com que fe ap- plica , feacharáõna Polyantea trad. 5. cap. 4. foi. 817. defde a numero 29. ate 40. vai cada onça 2400. &fef3zcm datai onça 24. purgas, confervaõ a fua virtude 6. annos.

Olco que fecca o leite dos peitos efficaíiflimamente cuja vir- tude , & modo com que fe applica fe achará no tracl. 2. cap. 4. foi. 2i8. Vai cada onça 150. reis dura vinte annos.

Caflelinhos,oufegrcdodeeftancar fangue de roda aparre que fahir, cujas virtudes, & modo, com que fe applicaõ , fe acha- ráõnotracl 5. cap. 4. foi. 819. defde o numero 39. até 40. Vai cada onça 1600. reis,ôcfe fazem da tal onça 10. partes iguais duraõ 8. annos.

Agua chamada Luíítana, cujas virtudes, & modo com que •fe applica, feacharáõ no trad.^. foi. 811. n. 8. Vejaõ também as foi. 820 n.4i.atè4?._tambem vejaõ as foi. 649. ate 651. Vai cada canada, que he húa cura 2oco. dura com a lua virtude três annos.

Pirolas contra as alporcas cujas virtudes, & modo com que fe receitão, & condições com que fe applicão, fe podem ver nas

foi.

•

foi. 820. & 821. do numero 44. até 47. Vai cada onça i6oc.durà a Tua virtude 4. annos.

Pirolas contra accidenres de gota coral, & vagados, cujas virtudes, & modo com que fe aplicáo fe podem ver na Polyantea Medicinal tracl. 3.6ap. 4. foi. 821. n. 48.Val cada onça íjoo.du- rão4- annos.

Troíifcoqueenxugão, & defecáo todas as purgações, & humildadesdamadre,de qualquer cor, & condição que fejaõ romando cada dia huma oitava miflurada com huma clara de ovo bem batida , bebendolhe emriba mcyo quartilho de agua co- zida com limaduras de marfim , & de pao de aroeira, cont inuan- do cite remédio 80. ou 100. dias comendo íempre carne afiada, & alimentos defecantes. Vai cada onça 1600. reis, & duraõ 6. annos.

Lenimento contra toda a forte de almorreimas, fejão por dentro, ou por fora , tenhão dor, ou a náo tenhão, fejão húmi- das, ou fecas, tenhão inflamação, ou a náo tenhão, o modo de aplicar efle remédio he lavando primeiro as almorreimas com a- gua cozida com folhas verdes de fabugueiro ,011 com folhas de verbafeo, & enxugandofe a parte com brandura fe fomente o lu- gar como fobredito lenimento repetindo efia diligencia duas ve- zes no dia ,&fe as almorreimas efti verem por dentro fe untará húa mecha de fios com o tal lenimento, & fe repitirà da mefma forte duas vezes no dia, & brevifíimamente fe achará o doente faô. Vai cada onça 1600. reis com húa onça fe podem curar dous doentes, dura a fua virtude 4. annos.

Partilhas contra rodas as camarás; o modo com que fe recei- tão, hedifferente conforme a qualidade de humor: fe o humor hefanguc tam defeorado, como lavaduras de carne, a que os Doutores çhamão camarás Epaticas, fe receitão do modo fcguin- te: Com húa onça de xarope de rofas fecas,ou de forvas, fe mif- ture húa oitava das ditas paflilhas pulverizadas, bebendolhe em riba meyoquartilho dafeguinte agua : Cozereis em panella de barro três canadas de agua com duas oitavas de lafquinhas de Sândalos vermelhos, &meya oitava de pò de alquctira branca, &duasduzias de folhas de agrimonia,&não bebendo o doente outra, confeguirá brevemente a faude. .

Sc o humor he tuJofanguc,& efíe bem vermelho» fe cha« mão as taes camarás Defintericas, fe receita o remédio na forma feguinte: em meya onça de xarope de rofasfecas, ou de forvas, fcmiílurehúa oitava das fobrediras paílilhas , bebendolhe em riba meyo quartilho da feguinte agua: em três canadas de agua fe cozão duas oitavas de pò de raiz de Pentafilaõ, a que os Erbo- larioschamãofolda,& outras duas oitavas delimaduras deoílb de Veado,com roeya oitava depò de alquetira branca } & não bebendo o doente outra , reconhecerá brevemente o que defeja.

Se o humor for taõ amarelo, como açafrão_, & não a pare- cer fangue miíluradocomelle,fechamão as taes camarás Diar- rhea ; daremos hua oitava do fobredito remédio pulverizado com meya onça de xarope de rofas fecas, bebendolhe cm riba meyo quartilho de agua de beldroegas, fervida primeiro com quinze grãos de alquetira.

Se as camarás forem puxos, fe dará o remédio domefmo modo, ôc fe meterá na via (todas as vezes, que tiver puxo) húa mecha de fios remolhada em pò de alvayade miilurado cõ agua de tãchagem,& clara de ovo.Vai cada onça iooo.reis duraô ^.annos.

Maffa, que provoca muito as conjunções menfaes, defopila as veas, desfaz os firrhos, & durezas do baço, os caroços dos peitos , cura o canfaço,& faz aborrecer o barro, & dà granda alivio aos que fentem palpitações do coração, ou baques na ca- beça ;dá-fecííe remédio hum dia , & outro não, em quantidade de huma oitava ,&fe toma em jejum vinte,& 4. dias bebendo o doente ( em quanto durar a cura ) agua cozida com raizes de gramma , ou folhas de avenca. Vai cado onça 800. reis duraõ 8. annostomaõ-feemdias alternados.

Ouro orizonral, cujas virtudes principaes faõ para as pal- pitações do coração, para purificar o fanguc,confortar o eftama- go, & todos os nervos, para as parlezias, para todos os danos quecaufouoazouguenos que tomàraõ unturas, & naõ baba- raõ,& fobre tudo faõ eftes pôs admirável remédio para as hydro- pezias, principalmente para as do peito, o modo de uzar defle re- médio he que cfteja o corpo bem purgado , ôc quando fe der o tal remédio para algum hydropico.fc lhe ajuntão vinte grãos de cro- cus martis feico com efuiritos deflitro^a quantidade, que fe dá de

ouro

ouro orizontal, quando fc dáfó, fe daõ oito grãos, até nove,flc fe reperc dez, ou doze dias, miftuiado em hum b*. cadinho de do- ce, ou em húa colher de vinho. Vai cada oitava 4. mil reis, dura dous mil annos porque he feito de ouro que he incurruptivel.

Agua contra as Idericias, por mais rebeldes, & antigas, que fejáoftf modo com que fe ufa, he, depois do doente purga- do, & a pozemado , darlhe nove dias afiados em jejum meyo quartilho, não comendo, nem bebendo coufaalgúa as primeiras tjuacro horas; nem em quanto durar a cura fe bebe vinho, nem fe comem ervas, nem legumes, nem peixe, nem carne de porco: algúas vezes ( ainda que raras) foi neccífario repetir cite ir.efmo remédio outros nove dias, guardando omefmo regimento} mas de trinta , & oito annos a eira parte, ainda naõ achei remédio maisefficazdoqueeíte, de que agora dou noticia. Vai húa ca- nada que he húa cura 3. mil reis, dura hum mes.

Elcctuario contra rodas as maleitas, ou fejaõ quartas, ou terçãs,ou enrremcom frio,ou fcmellc,obra com mais feguran- ça que a quina quina porque facilita todos os dias dous, & três curços, &não impede o comer doces,nem azedos, com tanto quelejãoempoucaquantidade. Dafcdccada vez húa oitava,& fc repete7. ou 8. dias. V*1 "-«U onça i'—«o. reis dura 6. annos.

Arcano contra os accidentes uterinos, deite Arcano feito cm pò fe dà húa oitava cada dia deitada cm mcya onça de arrobe de bagas de fabugueiro bebendolhe cm riba duas , ou três onças de agua de erva cidreira deflilada,por lambique de vidro, ou co- zida com a dita erva cidreira. Vai cada onça 1500. reis dura 7. annos.

Pirolas de Querutano para os deitalicidos, dores de eílama- go, caroços dos peitos, & azedumes, íaôadminaveis.Daõ-fe ca- da dia quatro cfcropulos.Val cada onça 800. reis duraõ 9. annos.

Eftes faõ os remédios que a minha curioíidade, & zelo da faude dos enfermos propõem, o uze he tão livre com o for acre; ença de cada qual. , IL/

foao Curto Semmedo;

vi.